OS ELEMENTOS QUÍMICOS E A SUA INFLUÊNCIA NA SAÚDE HUMANA: INVESTIGAÇÕES SOBRE O CONHECIMENTO DE ALUNOS DO ENSINO TÉCNICO DO INSTITUTO FEDERAL DE RONDÔNIA, CAMPUS JI-PARANÁ Maria Stella Nunes de Oliveira 1 - IFRO Grupo de Trabalho - Didática: Teorias, Metodologias e Práticas Agência Financiadora: FAPERO Resumo Apesar de a Química ter se tornado uma das ciências que mais tem contribuído para o bemestar da humanidade, a imagem que o cidadão comum – e invariavelmente, os educandos tem da Química é bastante negativa. O conhecimento sobre as funções dos elementos químicos no organismo humano e na natureza é renegado aos educandos na maioria das escolas de Ensino Médio. Também é possível notar a ausência deste tema em grande parte dos livros didáticos deste nível de ensino, fazendo com que a Química em sua vertente biológica se torne praticamente inexistente nos conteúdos educacionais do Ensino Médio. Este trabalho apresenta as observações e os dados obtidos a partir da aplicação preliminar de projeto submetido à Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero), na turma do 3º ano do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio do Campus Ji-Paraná do Instituto Federal de Rondônia. As observações realizadas demonstram que os educandos correlacionam de maneira limitada os elementos químicos e sua função biológica, indicando uma intervenção importante e necessária na realidade observada. Palavras-chave: Elementos químicos. Saúde. Contextualização. Introdução A escola é o espaço social que tem como função fundamental possibilitar aos educandos a apropriação de conhecimentos científicos, filosóficos e sociais, sistematizados ao longo da história. Desta maneira, torna-se imprescindível a compreensão dos entraves que permeiam e envolvem a prática pedagógica cotidiana, com a intenção de superá-los. A escola só se torna democrática na medida em que colabora para a formação de sujeitos críticos e 1 Doutoranda em Química: Instituto de Química da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia. E-mail: [email protected]. ISSN 2176-1396 29361 conscientes de seu papel na sociedade, capazes de aplicar e transformar o conhecimento adquirido na escola de forma a potencializar suas práticas diárias (NEVES, 2002). Entende-se que o conhecimento, de um modo geral, acontece na interação constante entre o educando e o objeto a ser conhecido, tendo o docente como mediador deste processo (NEVES, 2002). O professor precisa, no entanto, contextualizar a sua prática de ensino, considerando o discente um sujeito concreto, com uma identidade que, além de individual, é também coletiva e que precisa ter desenvolvida a percepção de que o conhecimento adquirido na escola permeia a sua vida individual e social indistintamente (BERNARD & ÁVILA, 1997). Infelizmente, na prática pedagógica diária, observa-se, quase invariavelmente, que muitas disciplinas presentes no currículo do Ensino Médio adquiriram aspecto fundamentalmente técnico, hermético e mecanicista. Uma disciplina que poderia ser elencada nesse contexto é a Química. Apesar de a Química ter se tornado uma das ciências que mais tem contribuído para o bem-estar da humanidade, a imagem que o cidadão comum – e invariavelmente, os educandos - tem da Química dificilmente poderia ser pior. Uma prova desse discurso pode ser aludida aos tão bem aceitos produtos cujos ‘slogans’ publicitários prometem isenção total de química na composição. Como se algo no universo pudesse ser isento de química! É possível que a orientação do ensino de Química para uma reflexão mais crítica acerca dos processos de produção do conhecimento científico-tecnológico e de suas implicações na sociedade e na qualidade de vida de cada cidadão, modifique a visão deturpada que os educandos têm a respeito desta disciplina. É preciso, na verdade, preparar os educandos para que sejam capazes de compreender as transformações que ocorrem nesse campo do conhecimento, já que, em geral, são disposições que afetam de forma intensa a vida de todos (SANTOS, 2007). A inserção de temas alternativos para a aprendizagem de Química pode conferir à prática docente, a adesão e o interesse do educando, tornando a Química uma disciplina menos abstrata, simbólica e representacional, e mais próxima às observações do cotidiano (MORTIMER, 2002 apud LEMOS e LEITE, 2005). O desenvolvimento do pensamento científico cria possibilidades para a formação de cidadãos conscientes e críticos (BERNARD & ÁVILA, 1997). As atividades propostas neste trabalho buscam proporcionar ao educando ambiente motivador para investigação, análise e 29362 descoberta de princípios e conceitos de Química, relacionando os elementos químicos presentes na tabela periódica – tão temida pelos estudantes – com aspectos que relacionam a saúde humana. O interesse pelo projeto que originou o presente trabalho surgiu após observações de que o tema ‘a importância dos elementos químicos para a saúde humana’ não era comumente abordado em sala de aula e nem em livros didáticos do Ensino Médio. Nestas circunstâncias, sob submetido à Fundação Rondônia de Amparo ao Desenvolvimento das Ações Científicas e Tecnológicas e à Pesquisa do Estado de Rondônia (Fapero) projeto que propõe inicialmente uma avaliação dos conhecimentos dos alunos do Ensino Básico do Município de Ji-Paraná e, posteriormente, a introdução no Ensino Médio do conhecimento de como os elementos químicos constantes da Tabela Periódica influenciam na saúde humana, utilizando-se de projetos e de novas ferramentas didáticas, como jogos. Este trabalho apresenta as observações e os dados obtidos a partir da aplicação preliminar do projeto submetido à FAPERO, na turma do 3º ano do Curso Técnico em Química Integrado ao Ensino Médio do Campus Ji-Paraná do Instituto Federal de Rondônia. Desenvolvimento Aspectos da importância da contextualização da Química no Ensino Médio A ciência é antes de mais nada um mundo de ideias em movimento – o processo para a produção do conhecimento – e busca descobrir a unidade existente nas diferentes facetas da experiência do homem com o seu meio (ZACAN, 2000). A Química não é um assunto trivial e nem se apresenta de modo simplista. O estudo desta disciplina envolve conceitos que requerem maturidade intelectual, bem como vocabulário e linguagem próprios para a formulação dos conceitos inerentes a essa disciplina (ZACAN, 2000). Possivelmente, se fosse proposto aos educandos, nos anos iniciais do Ensino médio, um curso interessante e com significado, em que a aproximação da Química fosse realizada por meio de disciplinas relacionadas com a sua interação com o cotidiano do educando e sua realidade social, maior seria o número dos que prosseguiriam os estudos em ciência; os outros sairiam seguramente com uma boa experiência e uma melhor compreensão da grande 29363 importância da Química em todos os aspectos da sua vida. Teria, assim, a Química no Ensino Médio uma maior adesão e efeitos mais duradouros e eficazes na vida dos alunos (CALLAPEZ e MATA, 2001). Muitos educandos demonstram dificuldades em aprender Química, nos diversos níveis do ensino, por não perceberem o significado ou a validade do que estudam. Quando os conteúdos não são contextualizados adequadamente, estes tornam-se distantes, assépticos e difíceis, não despertando o interesse e a motivação dos educandos (ZACAN, 2000). Observações a respeito da ausência de contextualização na Química no Ensino Médio Muitos professores de Química, formandos em um contexto que prima pelos conteúdos simbólicos, representacionais e abstratos, tendem, invariavelmente, a repetir em sua prática docente no Ensino Médio, os conhecimentos recebidos ao longo dos anos na Universidade. Não é raro encontrar docentes que apresentam dificuldades em relacionar os conteúdos específicos com eventos da vida cotidiana (ZANON e PALHARINI, 1995; MORTIMER, 2002 apud LEMOS e LEITE, 2005). Desta maneira, a Química vem sendo cotidianamente resumida a conteúdos estanques da vida diária do educando, o que tem gerado uma carência generalizada de familiarização com a área, uma espécie de analfabetismo químico que deixa lacunas na formação dos cidadãos e cidadãs (ZANON e PALHARINI, 1995). Nesse contexto vale ressaltar MORTIMER, 2002: Vale lembrar que muitas das situações cotidianas que a ciência poderia explicar são na verdade, complexas e envolvem a articulação de vários conceitos científicos, algo a que o professor muitas vezes não está acostumado. Qualquer química do cotidiano é muito mais difícil de ser ensinada do que a química tradicional, propedêutica (MORTIMER, 2002 apud LEMOS e LEITE, 2005, p.02). Os docentes, como mediadores desse saber, precisam ter consciência de que a Química não é apenas um conjunto de conhecimentos, mas sim um modelo pelo qual se vê o mundo. O educador deve ser orientador de seus alunos no processo da descoberta e da reflexão crítica, sabendo que ensinar não é transferir conhecimentos, mas criar possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção (FREIRE,1996). 29364 Necessidade de mudança na realidade atual da Química no Ensino Médio Os dias atuais exigem um outro jeito de ensinar, novos tempos, novas exigências. Isso está longe daquele professor prostrado frente à sala de aula falando sem parar sobre assuntos completamente estanques da realidade do educando (GADOTTI, 2001). Gadotti conclui que: A informação está em todos os lugares: letreiros, outdoors, livros, internet, jornais, televisão... Mas como fazer o aluno analisar, sintetizar e interpretar todos os dados? Eis a competência que todo professor deve desenvolver. Somente assim, estarão formando pessoas que de fato serão participantes ativos de nosso tempo (GADOTTI, 2001). Dessa forma, o professor deixa de ser o centro das atenções e o detentor do conhecimento, utilizando métodos didáticos que originem ações a serem desenvolvidas pelos educandos, que aprendem, por meio de pesquisas, resolução de problemas ou de atividades propostas (GADOTTI, 2001). A importância para o indivíduo e para a sociedade de tópicos negligenciados da Química no Ensino Médio O estudo sobre os elementos químicos se inicia, de modo geral, no primeiro ano do Ensino Médio, com a inserção dos conteúdos vinculados à Tabela Periódica. Esta temida e negligenciada etapa curricular, é marcada essencialmente pela abstração e simbolismo. Os 118 elementos químicos constantes da Tabela Periódica são, na maioria das vezes, alvo de memorização irrestrita e correlações estanques da vida cotidiana, tornando esse importante conteúdo enfadonho, cansativo e pouco prazeroso de ser aprendido. A Tabela Periódica contém os elementos dos quais todas as coisas no universo são feitas. Muitos dos elementos químicos catalogados na Tabela Periódica são imprescindíveis para a nossa existência. Pode-se observar nesta representação, elementos químicos que desempenham um papel central na Química biológica e ambiental, participando desde a coleta de luz e fixação do nitrogênio nas plantas ao controle da respiração e do sistema muscular dos mamíferos (WILLIAMS, 2004; TOMA, 1984). Muitos elementos químicos elencados na Tabela Periódica são essenciais à vida, estando relacionados à processos biológicos essenciais à sobrevivência. Nesse sentido, é possível citar a importância dos íons metálicos, na qual apresentam atuação desde as proteínas 29365 e enzimas até a presença em fármacos fundamentais no tratamento de doenças como o câncer e a leishmaniose (KLEIN, 2007; SHRIVER e ATKINS, 2003). O conhecimento sobre as funções dos elementos químicos no organismo humano e na natureza é renegado aos educandos na maioria das escolas de Ensino Médio. Também é possível notar a ausência deste tema em grande parte dos livros didáticos deste nível de ensino, fazendo com que a Química em sua vertente biológica se torne praticamente inexistente nos conteúdos educacionais do Ensino Médio. Delimitação do ambiente de investigação e modificação da realidade observada O Campus Ji-Paraná do Instituto Federal de Rondônia oferece educação pública gratuita e de qualidade em nível Técnico integrado ao Ensino Médio e em nível Superior. Dentre os cursos técnicos integrados ao Ensino Médio ofertados pela Instituição, existe o curso de Química, onde os educandos após 4 anos de curso, além de obterem o Ensino Médio, formam-se Técnicos em Química. As observações e a metodologia descritas nesse trabalho foram realizadas durantes as aulas de Química Inorgânica, disciplina do núcleo profissionalizante, constante do 3º ano do Técnico em Química integrado ao Ensino Médio. A turma vinculada a esse trabalho contém 32 alunos, com idades entre 16 e 18 anos, e apresenta baixo índice de alunos com histórico de reprovação anterior. Realidade observada no Instituto Federal de Rondônia, Campus Ji-Paraná A disciplina de Química Inorgânica inicia-se anualmente com uma revisão dos conteúdos aprendidos pelos educandos na disciplina de Química Geral I, constante do 1º ano do curso e que se correlaciona à base nacional comum do Ensino Médio. Nesta revisão são contemplados conteúdos como Teoria Atômica, Tabela Periódica, Propriedades Periódicas, Ligações Iônicas e Ligações Covalentes, todos esses tópicos já desenvolvidos e avaliados na disciplina de Química Geral I. Ao iniciar o conteúdo vinculado à Tabela Periódica, os 32 anos constantes da turma foram avaliados com base em conversas, interação com o professor e respostas às perguntas realizadas e questionamentos levantados, nos quais respondiam levantando as mãos ou respondendo a questionados impressos. 29366 No primeiro dia de aula, os educandos foram questionados em relação à correlação dos elementos constantes na Tabela Periódica com à importância biológica e à sobrevivência. Obteve-se o seguinte resultado: Quadro 1: Correlação dos elementos com à importância biológica e à sobrevivência Número de alunos que Número de alunos que não conseguiram correlacionaram elementos à correlacionar os elementos à importância importância biológica biológica 24 (75,00%) 08 (25,00%) Fonte: os autores Quadro 2: Número de alunos que evidenciaram 1, 2, 3 ou mais elementos Número de alunos que Número de alunos que Número de alunos que correlacionaram 1 correlacionaram 2 correlacionaram 3 ou elemento químico elementos químicos mais elementos químicos 24 (75,00%) 12 (37,50%) 05 (15,62%) Fonte: os autores Os resultados obtidos demonstram que apesar de os educandos estarem submetidos a uma educação de alta qualidade, evidenciada pelos expressivos resultados obtidos nas últimas edições do Exame Nacional de Ensino Médio, e por demonstrarem bom conhecimento teórico a respeito do conteúdo trabalhado, não adquiriram competências didáticas para correlacionar adequadamente os elementos químicos à sua própria saúde. Desta maneira, observa-se que a contextualização foi deficitária durante o curso e que a intervenção nessa realidade se fazia necessária e urgente. Assim, foram desenvolvidas ações durante o primeiro semestre da disciplina de Química Inorgânica que incluíssem os educandos em um contexto contextualizado, integrando que integrasse o conhecimento de diversas outras disciplinas e que abrangesse a importância dos elementos químicos na saúde humana. Observou-se posteriormente ao trabalho que a postura dos alunos perante dos conhecimentos de Tabela Periódica foi bastante diferente do inicial, com a correlação de diversos íons metálicos, por exemplo, à ação de enzimas fundamentais à sobrevivência, bem como elementos cuja carência ou o excesso pode originar doenças comuns na sociedade, como a anemia e a hipertensão. 29367 Conclusão O objetivo geral deste trabalho foi propor um método alternativo para a aprendizagem de Química, com enfoque no conhecimento da função que os elementos químicos têm sobre a saúde humana. Para alcançar esse objetivo, inicialmente utilizou-se de um estudo acerca da importância da Química Inorgânica Biológica e Medicinal e suas aplicações no universo cotidiano. Em seguida, foram apresentados os principais elementos químicos de importância biológica que podem ser trabalhados de maneira interessante e proveitosa para o educando, apontando algumas de suas características e apresentando alguns alimentos cujo conteúdo mineral contivesse o metal. A introdução destes conhecimentos no Ensino Médio tem a pretensão de trazer uma mudança de postura a partir da resolução de situações didáticas significativas para o aluno, aproximando-o o máximo possível do seu contexto social, através do desenvolvimento do senso crítico, da pesquisa e da resolução de problemas. Acredita-se que, a introdução de conhecimentos básicos Química Inorgânica Biológica e Medicinal no Ensino Médio, através do estudo da Tabela Periódica, promoverá uma aprendizagem mais significativa. Nessa abordagem, a aprendizagem não será construída de forma mecânica, mas sim, a partir daquilo que tem significado para o educando e que está próximo a sua realidade. 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