em função da época de plantio

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Desenvolvimento e produtividade de grãos do sorgo
de Guiné “Gigante” em função da época de plantio
Gustavo Pavan Mateus *, Carlos Alexandre Costa Crusciol **
* Eng. Agr., M.Sc., Departamento de Produção Vegetal – Agricultura, Faculdade de Ciências
Agronômicas, Unesp. E-mail: [email protected]
**
Autor para correspondência. Departamento de Produção Vegetal – Agricultura, Faculdade de
Ciências Agronômicas, Unesp. Caixa Postal 237, CEP 18603-970, Botucatu (SP), Brasil. Bolsista do
CNPq. E-mail: [email protected]
Resumo
A falta de culturas alternativas para o cultivo de outono-inverno é um entrave para os sistemas de
produção agrícola, principalmente em regiões de inverno seco. Desta maneira, objetivou-se verificar a
capacidade do sorgo de Guiné “Gigante” quanto ao desenvolvimento e à produção de grãos em
função da época de plantio. O experimento foi conduzido em condições de campo, em Botucatu (SP).
O delineamento experimental utilizado foi o de blocos casualizados, com quatro repetições. Os
tratamentos foram constituídos por seis épocas de plantio (25-9-2000, 25-10-2000, 24-11-2000, 2212-2000, 22-2-2001 e 3-4-2001). Plantou-se Sorghum bicolor subsp. bicolor raça guinea. Na maturidade
fisiológica, avaliaram-se os dados fenológicos e fenométricos da cultura. Verificou-se antecipação dos
estádios de desenvolvimento da planta, à medida que atrasou o plantio, em virtude de essa espécie
apresentar sensibilidade ao fotoperíodo. Com o atraso do plantio, há redução no desenvolvimento da
planta, tendo como conseqüência menor produção de grãos.
Palavras-chave adicionais: Sorghum bicolor; crescimento.
Abstract
MATEUS, G. P.; CRUSCIOL, C. A. C. Plant development and grain yield of “gigantic guinea” sorghum as
a function of the planting time. Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004.
The lack of alternative crops for the fall-winter season represents a serious drawback for the agricultural
production systems in Brazil. Thus, sorghum cv. “gigantic guinea” had its capacity for plant development
and grain production evaluated in function of planting time. The experiment was carried out in Botucatu,
state of São Paulo, Brazil. The experimental design was the randomized complete blocks, with four
replications. The treatments consisted of six planting times: September 25, 2000, October 25, 2000,
November 24, 2000, December 22, 2000, February 22, 2001, and April 3, 2001. Sorghum bicolor
subsp. bicolor, guinea race was planted. At the moment of physiological maturity, phenological and
phenometric data were evaluated. With exception of stem fertility, all the other parameters were
significantly affected by the planting time. “Gigantic guinea” sorghum is sensitive to photoperiod;
thus late plantings reduce the plant development and consequently grain yield.
Additional keywords: Sorghum bicolor; plant growth.
Introdução
A diversificação de espécies nos atuais sistemas de
produção de grãos tem estimulado o setor agropecuário
a integrar a agricultura com a pecuária, visando à
melhoria das pastagens degradadas e à utilização do
sistema de plantio direto em rotação de culturas
(HECKLER, 2002).
A prática da rotação de culturas durante o período
de entressafra, geralmente no inverno, é recomendável
em sistemas que objetivem uma agricultura sustentável,
visando à diversificação das atividades na propriedade
(AMBROSANO et al., 1997; CHAVES & CALEGARI, 2001),
com conseqüente melhoria da qualidade do solo (FIORIN,
164
1999).
No sistema de plantio direto, há necessidade de
gerar quantidades de matéria seca suficientes para
manter o solo coberto durante todo o ano, o que significa
que áreas destinadas às culturas de primavera-verão não
devem permanecer em pousio durante o inverno
(CERETTA et al., 2002).
Assim, o cultivo de plantas produtoras de grãos na
“safrinha” tem sido uma alternativa para aumentar a
rentabilidade do produtor e, conseqüentemente,
proporcionar adição de resíduo vegetal para formação
de palhada. Contudo, em regiões de inverno seco, a
partir do mês de março, a distribuição das chuvas é
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
irregular, e sua quantidade é baixa, tornando a safrinha
inviável economicamente, principalmente quando da
utilização das culturas do milho e do feijão.
A planta de sorgo adapta-se a uma ampla variação
de ambientes e produz sob condições desfavoráveis à
maioria dos outros cereais (MAGALHÃES et al., 2000).
Em razão da sua resistência à seca, o sorgo é considerado
como um dos cultivos mais aptos para as regiões semiáridas. Suas características permitem ampliar a época
de plantio, que se estende desde o mês de setembro
até março, para as condições do Centro-Sul brasileiro,
despertando muito interesse pela semeadura em
sucessão às culturas precoces de verão (ZAGO, 1997).
Além disso, a planta de sorgo produz grande
quantidade de palhada, com elevada relação C/N, o
que torna a sua decomposição mais lenta, dando
sustentabilidade ao sistema de plantio direto. Nesta
cultura, existem genótipos que, por sua vez, se
comportam de maneira diferenciada, seja na
produtividade de grãos, seja no ciclo vegetativo, ou em
outras características (HECKLER, 2002).
Com relação ao comportamento e à utilização do
Sorgo de Guiné de pericarpo vermelho, conhecido
vulgarmente por Sorgo de Guiné “Gigante” (Sorghum
bicolor subsp. bicolor raça guinea), as referências são
escassas (BAIRRÃO, 1989; PACE et al., 1999; LIMA et
al., 2000). No entanto, é uma planta que possui
crescimento radicular vigoroso mesmo em solos
compactados (PACE et al., 1999), desenvolvimento
inicial lento (LIMA et al., 2000) e grande produção de
matéria seca, quando manejada no estádio de
florescimento (BAIRRÃO, 1989).
Nesse contexto, o presente trabalho objetivou
avaliar a capacidade do sorgo de Guiné “Gigante” quanto
ao desenvolvimento e à produtividade de grãos em
função da época de plantio em região de inverno seco.
Material e métodos
O experimento foi instalado na Fazenda
Experimental Lageado, pertencente à Faculdade de
Ciências Agronômicas, Câmpus de Botucatu – Unesp,
na área do Departamento de Produção Vegetal, tendo
como coordenadas geográficas 22º51’S e 48º26’W, e
altitude de 740 m.
O solo do local é um Nitossolo Vermelho Estruturado
(EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA,
1999), cuja análise química, segundo métodos descritos
por RAIJ et al. (2001), mostrou os seguintes atributos:
pH (CaCl2) de 5,1; 24 g dm-3 de M.O.; H+Al de 38 mmolc
dm-3; 16 mg dm-3 de P (resina); 1,5; 31 e 17 mmolc dm-3
de K+, Ca2+ e Mg2+, respectivamente; CTC de 87 mmolc
dm-3 e V de 56%. Nesse solo, aplicou-se calcário para a
correção da saturação por bases a 70% (PRNT 75%),
fazendo-se, em seguida, aração e gradagem de
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
destorroamento.
O delineamento experimental utilizado foi o de
blocos ao acaso, com seis tratamentos e quatro
repetições. Os tratamentos constituíram-se de seis épocas
de plantio (E1 = 25-9-2000, E2 = 25-10-2000, E3 = 2411-2000, E4 = 22-12-2000, E5 = 22-2-2001 e E6 = 3-42001) de sorgo de Guiné “Gigante”. Cada parcela foi
constituída por oito linhas com 20 m de comprimento,
espaçadas de 0,6 m. Para as avaliações, foram
consideradas as 6 linhas centrais, sendo que 0,5 m da
extremidade de cada linha de plantas e as duas linhas
externas constituíram a bordadura, perfazendo uma área
útil de 68,40 m2.
A espécie utilizada foi classificada como Sorghum
bicolor subsp. bicolor raça guinea (HARLAN & DE WET,
1972), apresentando em sua constituição panículas
grandes e abertas, com grãos fortemente duros e vítreos.
No dia anterior a cada plantio, efetuou-se nova
gradagem de nivelamento, servindo também de controle
mecânico às plantas daninhas. A operação de plantio,
em todos os tratamentos, foi realizada por meio de
semeadora-adubadora com quatro linhas espaçadas de
0,60 m, visando a atingir a densidade populacional de
200.000 plantas ha -1 . A adubação de plantio
correspondeu à aplicação de 300 kg ha-1 do fertilizante
formulado 8-28-16.
Os diásporos, aqui chamados de sementes, foram
previamente tratados com fungicida à base de Thiram,
na dose de 140 g i.a. (100 kg)-1 de sementes. Para o
controle de plantas daninhas, aplicou-se, logo após o
plantio, herbicida pré-emergente à base de Atrazine +
Simazine, na dose de 1.500 g i.a. ha-1 de ambos os
compostos.
A emergência das plântulas ocorreu, em média,
oito dias após o plantio, em todos os tratamentos.
Para a determinação do ciclo, contaram-se os dias
desde a emergência das plântulas até a maturidade de
50% das panículas de cada parcela (Estádio 9 da escala
de VANDERLIP & REEVES, 1972). Nesta fase, contou-se
o número de colmos e panículas contidos em 8,0 m de
fileira de cada parcela, sendo estes valores extrapolados
por hectare, tornando possível a obtenção da variável
fertilidade de colmos (100 no de panículas/no de colmos).
Realizou-se, também, uma coleta de 10 plantas
em cada parcela para a obtenção da altura da planta,
diâmetro do colmo, número de internódios por planta e
comprimento de panícula.
A colheita do sorgo foi efetuada manualmente,
colhendo-se todas as panículas na área útil de cada
parcela. A seguir, foi realizada a trilha mecânica e
determinado o peso dos grãos colhidos, sendo calculada
a produção de grãos por hectare. A massa de 1.000
grãos foi determinada por meio de coleta ao acaso e da
pesagem de oito amostras de cada parcela. Tanto nas
amostras de 1.000 grãos como na produtividade de grãos,
o peso foi corrigido para 13% de teor de água (BRASIL,
1992).
165
Dos grãos colhidos para determinar a produtividade,
coletaram-se amostras de 100 gramas, as quais foram
secas em estufa de circulação forçada de ar a 60 ºC até
peso constante. Posteriormente, realizaram-se a moagem
desses materiais e a determinação do teor de nitrogênio,
segundo método descrito por MALAVOLTA et al. (1997).
Todos os dados de cada variável determinada foram
submetidos à análise de variância. Realizou-se análise
de regressão, na qual se adotaram valores 0, 30, 60, 88,
150 e 190 para os plantios de 25-9-2000, 25-10-2000,
24-11-2000, 22-12-2000, 22-2-2001 e 3-4-2001,
respectivamente. De posse dos resultados da análise de
regressão, optou-se pela equação mais adequada,
levando-se em consideração, primeiramente, o efeito
significativo dos modelos obtidos e, em seguida,
verificando-se o de melhor ajuste com base no maior
valor do coeficiente de determinação (R2).
Figura 1 – Precipitação pluvial e temperaturas máximas e mínimas mensais
durante a condução do experimento com sorgo de Guiné “Gigante”.
Botucatu (SP), 2000-2001. Figure 1 – Rainfall (mm), and monthly
maximum and minimum temperatures during the experiment with
sorghum plants cv. “gigantic guinea” Botucatu, São Paulo, Brazil, 20002001.
Resultados e discussão
Em todas as datas de plantio, as condições
climáticas foram favoráveis à germinação das sementes
e à emergência das plântulas, com disponibilidade de
água e temperatura adequadas. Essas condições
permaneceram em todas as épocas de plantio na fase
inicial de crescimento da cultura. Somente a partir do
mês de abril, ocorreu diminuição das temperaturas e da
precipitação pluvial (Figura 1).
Na Figura 2, observa-se antecipação dos estádios
de desenvolvimento da planta com plantios mais tardios,
tendo como conseqüência a redução da fase vegetativa,
refletindo no tempo de duração para as plantas entrarem
em florescimento. Essa constatação permite inferir que
a espécie de sorgo utilizada apresenta sensibilidade ao
fotoperíodo, uma vez que, em baixas temperaturas, a
tendência é aumentar o ciclo em função da redução do
metabolismo da planta, o que não ocorreu no presente
trabalho. Verificou-se que, nos plantios de setembro,
166
Figura 2 – Tempo para ocorrência do florescimento (Fl) e da maturidade
fisiológica (MF) do sorgo de Guiné “Gigante”, em função da época de
plantio. Figure 2 – Time for flowering (FI) and physiological maturity (MF)
of “gigantic guinea” sorghum plants as a function of planting date.
outubro, novembro e dezembro, o florescimento ocorreu
simultaneamente no dia 25 de março, em virtude do
decréscimo do comprimento do dia, como constatado
também por PAUL (1990). No plantio de abril, o período
de desenvolvimento foi curto, e as plantas atingiram o
florescimento aos 76 dias após a emergência (DAE), em
função de já estarem submetidas ao fotoperíodo indutivo,
porém, não inferior ao observado em fevereiro, já que o
metabolismo foi menor em função da redução das
temperaturas (Figura 1). Assim, se as temperaturas
tivessem permanecido com valores semelhantes às dos
plantios de setembro a fevereiro, a redução do período
vegetativo teria sido maior na última época. A
sensibilidade da cultura do sorgo ao fotoperíodo também
foi relatada por NAKAGAWA et al. (1987), PAUL (1990)
e ALAGARSWAMY et al. (1998).
Ainda na Figura 2, constata-se que o número de
dias para as plantas atingirem a maturidade fisiológica
foi significativamente influenciado pela época de plantio,
verificando-se 250 e 119 dias para o plantio de setembro
e fevereiro, respectivamente, ou seja, ocorreu redução
do ciclo com os plantios mais tardios. Dessa forma, há
correlação entre o florescimento pleno e a maturação
fisiológica para as épocas de plantio. Isto se deve às
plantas terem alcançado a maturidade fisiológica com a
mesma duração de tempo após o florescimento.
Verificou-se, nos plantios de setembro, outubro,
novembro e dezembro, que a maturação fisiológica foi
atingida aos 68 dias após o florescimento. No plantio de
fevereiro, esse período foi de 50 dias. Os resultados são
superiores ao descrito por VANDERLIP & REEVES (1972),
que encontraram período de 35 dias entre o florescimento
e a maturação, para um cultivar de sorgo com ciclo de
100 dias; entretanto, as condições do experimento desses
autores foram diferentes. O aumento do período entre
florescimento pleno e maturidade fisiológica pode ser
atribuído às baixas temperaturas encontradas nesta fase
(Figura 1), o que também foi observado por HECKLER
(2002).
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
Tabela 1 – Valores de F da análise de regressão e
Coeficiente de Variação para número de colmos, número
de panículas, fertilidade de colmos, altura da planta,
diâmetro do colmo, número de internódios, matéria seca
da parte aérea, comprimento de panícula, massa de
1.000 grãos, produtividade e teor de nitrogênio nos grãos
do sorgo de Guiné “Gigante” na maturidade fisiológica,
em função da época de plantio. Botucatu (SP), 2001.
Table 1- F values of the regression analysis and Coefficient
of Variation for number of culms, number of panicles,
culm fertility, plant height, culm diameter, number of
internodes, dry matter of the aerial part, panicle length,
mass of 1000 grains, productivity, and nitrogen level in
grains of sorghum plants cv. “gigantic guinea” at the
physiological maturity as a function of the planting date.
Botucatu, São Paulo, Brazil, 2001.
Regressão/
Variáveis/
Variables
Linear/
Linear
Colmos/ Culms (nº ha-1)
Regression
Coeficiente de
Variação (%)/
Quadrática/
Coefficient of
Quadratic
Variation (%)
74,67**
24,28**
40,96
Panículas/ Panicles (n
ha-1)
265,74**
105,17**
20,24
Fertilidade/ Fertility (%)
1,83 ns
2,45 ns
16,58
Altura/ Plant height
(cm)
235,75**
3,86 ns
10,57
Diâmetro/ Diameter
(mm)
96,64**
3,27 ns
15,99
Internódios/ Internodes
192,29**
(nº)
0,41 ns
14,42
º
Matéria seca/ Dry
matter (kg ha-1)
81,89**
0,14 ns
26,31
Comprimento panícula/
Panicle length (cm)
14,91**
0,31 ns
10,46
Massa de 1.000/ Mass
of 1000 grains (g)
5,44*
0,56 ns
8,81
Produtividade/
Productivity (kg ha-1)
13,78**
9,82**
38,03
Teor de N no grão/
Grain N level (g kg-1)
20,83**
0,16 ns
9,93
**, * e ns, significativo a 1%, 5% e não significativo,
respectivamente.
**, * and ns: significant at 1%, 5% and non-significant,
respectively.
Com exceção da fertilidade de colmos, todas as
variáveis estudadas foram afetadas significativamente
pela época de plantio (Tabela 1).
Observa-se, na Figura 3A, que o número de colmos
aumentou nos plantios mais tardios, apresentando
resposta expressa por modelo positivo e quadrático. Este
efeito pode ser explicado em função de as plantas de
sorgo produzirem mais perfilhos em dias curtos e sob
temperaturas mais baixas (MAGALHÃES et al., 2000).
Conseqüentemente, ocorreu aumento do número de
panículas (Figura 3B), resultando em efeito não
significativo das épocas de plantio sobre a fertilidade de
colmos (Figura 3C).
Constata-se, pela Figura 4 (A, B, C), que os valores
de altura de plantas, diâmetro do colmo e número de
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
Figura 3 – Número de colmos (A), número de panículas (B) e fertilidade
de colmos (C) do sorgo de Guiné “Gigante”, em função da época de
plantio. Figure 3 – Number of culms (A), number of panicles (B), and
culm fertility (C) of “gigantic guinea” sorghum plants as a function of
planting date.
internódios por planta diminuíram linearmente à medida
que as épocas de plantio foram mais tardias. Este
resultado pode ser atribuído ao encurtamento do ciclo
biológico das plantas com o retardamento do plantio, o
qual refletiu em menor desenvolvimento da planta. Os
valores dessas variáveis atingiram redução de 67, 65 e
77%, respectivamente, para altura de planta, diâmetro
do colmo e número de entrenós, quando comparados o
plantio de setembro em relação ao de abril, corroborando
os resultados obtidos por MACHADO et al. (1987), que
trabalharam com sorgo sacarino.
A produção de matéria seca da parte aérea diminuiu
à medida que o plantio foi mais tardio (Figura 4D),
167
y = -1,7416x + 497,15
2
Altura (cm)
500
R = 0,94**
400
300
200
100
0
40
Comprimento de panícula (cm)
600
36
34
32
30
28
26
24
22
20
20
Diâmetro (mm)
14
12
y = -0,0486x + 14,19
2
R = 0,86**
10
8
6
4
2
M assa de 1000 grãos (g)
16
0
Produtividade (kg ha )
-1
15
-1
2
R = 0,98**
10
5
18
17
16
800
600
400
y = -0,0687x2 + 6,62x + 674,56
25/9 25/10 24/11 24/12
23/1
22/2
0
24/3
25/9
Data de plantio
23/1
22/2
24/3
25
y = -0,1445x + 32,1
R2 = 0,95**
24
25
Teor de N (g kg-1)
-1
25/10 24/11 24/12
Data de plantio
35
Matéria seca (Mg ha )
R2 = 0,97**
200
0
20
15
10
5
y = 0,0413x + 18,29
r2 = 0,97**
23
22
21
20
19
0
18
25/9 25/10 24/11 24/12 23/1
22/2
24/3
Data de plantio
Figura 4 – Altura da planta (A), diâmetro do colmo (B), número de
internódios por planta (C) e produção de matéria seca (D) do sorgo de
Guiné “Gigante’, em função da época de plantio. Figure 4 – Plant
heigth (A), culm diameter (B), number of internodes per plant (C), and
dry matter yield (D) of “gigantic guinea” sorghum plants as a function
of planting date.
168
y = -0,0156x + 18,52
R2 = 0,43*
1000
y = -0,0678x + 16,81
Internódios planta
19
15
20
30
y = -0,0776x + 38,68
R2 = 0,78**
38
25/9
25/10 24/11 24/12 23/1
22/2
24/3
Data de plantio
Figura 5 – Comprimento de panícula (A), massa de 1.000 grãos (B),
produtividade de grãos (C) e teor de nitrogênio no grão (D) do sorgo de
Guiné “Gigante”, em função da época de plantio. Figure 5 – Panicle
length (A), mass of 1000 grains (B), grain yield (C), and grain nitrogen
level (D) of “gigantic guinea” sorghum plants as a function of planting
date.
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
verificando-se valores de 32 a 4,6 t ha-1, respectivamente,
nos plantios de setembro e abril. No entanto, vale ressaltar
que, mesmo no plantio mais tardio, as plantas também
apresentaram boa capacidade de produção de matéria
seca, em período de precipitação pluvial e temperatura
baixas (Figura 1), sendo uma alternativa de cultivo para
outono-inverno na região.
Por meio da Figura 5A, observa-se que o
comprimento de panículas diminuiu à medida que o
plantio foi mais tardio. Esse resultado é semelhante aos
obtidos por MACHADO et al. (1987), que verificaram
panículas com 23,8 e 17,7 cm em sorgo plantado em
setembro e janeiro, respectivamente. Esse
comportamento também está relacionado à sensibilidade
do sorgo utilizado no presente trabalho ao fotoperíodo.
Assim, nos plantios mais tardios, há menor crescimento
da planta, e esse efeito influencia a formação da
panícula, resultando em plantas com esse órgão menos
desenvolvido.
Pela Figura 5B, constata-se que a massa de 1.000
grãos diminuiu linearmente à medida que os plantios
foram mais tardios. AZEREDO et al. (1975) também
verificaram tendência de decréscimo nesta variável em
plantios tardios. Tal efeito pode ser atribuído ao menor
tempo para a formação do grão e à menor disponibilidade
hídrica no solo na fase de enchimento de grãos, nos
plantios tardios.
Para a produtividade de grãos (Figura 5C),
constatou-se diminuição à medida que o plantio foi mais
tardio, demonstrada por uma função quadrática. Verificase que a maior produção de grãos foi alcançada com
plantio efetuado em novembro, com 824 kg ha-1, e a
partir desta, houve redução, chegando a 122 kg ha-1 no
plantio de fevereiro. A redução da produtividade de grãos
em função do atraso do plantio pode ter ocorrido,
principalmente, em virtude do menor tempo de
desenvolvimento das plantas, que acumularam menos
matéria seca e apresentaram menor comprimento de
panícula, em razão do fotoperíodo, além do possível
efeito da baixa disponibilidade hídrica e de baixas
temperaturas na fase de enchimento de grãos (Figura
1), que afetaram a massa de 1.000 grãos. No plantio de
abril, as condições climáticas no florescimento
propiciaram o aparecimento da doença açucarada do
sorgo (Claviceps africana), causando esterilidade das
espiguetas, com perda total da produtividade de grãos.
A baixa produtividade de grãos observada em todas
as épocas foi decorrente do intenso ataque de pássaros.
VIEIRA (1984) também destacou esse problema como
fator limitante à produção de sorgo.
No entanto, a redução da produtividade de grãos
na cultura do sorgo devida ao atraso do plantio foi
relatada por vários autores (AZEREDO et al., 1975;
AZEREDO et al., 1976; ASSIS et al., 1981; AVELAR &
MORAIS, 1986; MACHADO et al., 1987; NAKAGAWA
et al., 1987; GIOMO, 1996). Vale ressaltar que, para
Científica, Jaboticabal, v.32, n.2, p.164-170, 2004
este genótipo, em decorrência do porte das plantas, a
colheita mecânica de grãos torna-se viável apenas em
plantios tardios.
Quanto ao teor de N no grão (Figura 5D), verificouse aumento à medida que o plantio foi mais tardio,
mostrando resposta expressa por modelo positivo e linear.
Constata-se que o maior valor foi obtido no plantio de
fevereiro (24,7 g kg-1), e o menor valor, no de setembro
(18,3 g kg-1), o que pode estar relacionado ao efeito de
“diluição”, em função da maior produtividade no plantio
de setembro. Resultado semelhante foi obtido por
AZEREDO et al. (1976), verificando comportamento
inverso entre o teor de N no grão e a produtividade, em
função das épocas de plantio.
Conclusões
Por causa da sensibilidade do sorgo de Guiné
“Gigante” ao fotoperíodo, plantios tardios reduzem o
desenvolvimento da planta, tendo como conseqüência
menor produção de grãos.
Este genótipo torna-se uma boa opção de planta
para ser utilizada em sistemas de rotação de culturas,
principalmente nos sistemas de integração agricultura e
pecuária.
Referências
ALAGARSWAMY, G.; REDDY, D. M.; SWAMINATHAN,
G. Durations of the period-sensitive and insensitive
phases of time to panicle initiation in sorghum. Field
Crops Research, Amsterdam, v. 55, n.1-2, p.1-10,
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