APRENDIZAGEM E TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA - TEA: experiências vivenciadas através do projeto ABC do TRATE Myllenna de Oliveira Santos1; Jaqueline da Cruz Zacarias2; Amanda Magalhães Barbosa3 Eixo Temático: Práticas Educativas e Inclusão RESUMO O desenvolvimento da aprendizagem de crianças com transtorno do espectro autista - TEA é um tema, hoje, muito importante e que precisa ser discutido, em virtude do processo de inclusão escolar. Entretanto, algumas lacunas são evidenciadas nas instituições formadoras, referentes à inclusão e a aprendizagem de alunos com TEA, que tem influenciado negativamente na prática adotada pelos professores frente a essa problemática. Essa realidade educacional impulsionou o surgimento de um projeto entre a Universidade Estadual de Alagoas - Uneal e o Centro de Reabilitação e Reintegração de Crianças com Autismo - Espaço Trate Autismo, buscando possibilitar novas oportunidades de aprendizagem para crianças com TEA e através disso, contribuir na formação dos futuros professores, através de um aprofundamento teórico e prático. Assim, os objetivos desse trabalho são: relatar as experiências acerca do desenvolvimento da alfabetização de alunos com TEA, vivenciadas pelas graduandas do curso de Pedagogia da Uneal- Campus I por meio do projeto “ABC do Trate” e mostrar o quanto é importante o uso de atividades especificas que se adequem as especificidades de cada criança. Utilizamos como metodologia, a pesquisa bibliográfica usando a abordagem qualitativa, através de um relato de experiência. Os resultados apontam que tanto as estagiárias, quanto as crianças atendidas pelo projeto vêm sendo beneficiadas com o seu desenvolvimento, pois de acordo com as necessidades de cada aluno, as estratégias alfabetizadoras estão sendo desenvolvidas, tornando a experiência muito satisfatória. Assim, pode-se dizer que quando são usadas estratégias diferenciadas de ensino é possível alfabetizar os alunos com TEA. Palavras-chave: Alfabetização. Aprendizagem. TEA. INTRODUÇÃO A partir do ano de 2012, o Curso de Pedagogia tem desenvolvido pesquisas nas escolas da rede pública e privada, situadas no município de Arapiraca - AL. Essas pesquisas, em sua 1 [email protected] - Universidade Estadual de Alagoas [email protected] - Universidade Estadual de Alagoas 3 [email protected] - Universidade Estadual de Alagoas 2 maioria de caráter qualitativo, sempre visaram delinear como o processo de inclusão escolar de crianças com deficiência e transtornos do espectro autista está sendo colocado em prática, na perspectiva de identificar os desafios enfrentados e as conquistas alcançadas, bem como evidenciar o papel da Universidade, do Munícipio e Estado frente a esse processo. De acordo com Carbonari (2011, p. 345): A articulação entre as atividades de pesquisa e extensão com o ensino está diretamente relacionada com as necessidades e com as demandas do entorno social contribuindo para o desenvolvimento local/regional e para a formação e capacitação de discentes e docentes. Com isso, diante da percepção de que o processo de inclusão e a aprendizagem de crianças com TEA é um tema pouco explorado na formação inicial, principalmente no que se refere às práticas pedagógicas, começamos a pensar e discutir ideias que pudessem solucionar ou amenizar esse aspecto que consideramos problemático, a partir da realização da extensão universitária, que é entendida como prática social, com objetivo educativo, que beneficia os futuros profissionais ao mesmo tempo em que presta serviços à comunidade, um papel fundamental na construção de um novo paradigma da gestão do ensino superior e na ampliação de seus vínculos com a sociedade (CARBONARI, 2011 p.346). Assim, a partir do encontro entre a Uneal com o Centro de Reabilitação e Reintegração de Crianças com Autismo - Espaço Trate Autismo, que está situado no município de Arapiraca -AL, foi possível discutir as possibilidades de uma ação interventiva das estudantes do curso de Pedagogia para com as crianças que ali são atendidas e que estão na fase escolar. Foi desse modo, que surgiu o projeto ABC do Trate com a intenção de potencializar a formação docente com ênfase na alfabetização de crianças com TEA e ao mesmo tempo, contribuir na ampliação das possibilidades de acesso e permanência dessas crianças nas escolas regulares. Dessa maneira, os objetivos desse trabalho são: relatar as experiências acerca do desenvolvimento da alfabetização de alunos com TEA, vivenciadas pelas graduandas do curso de Pedagogia da Uneal- Campus I por meio do projeto “ABC do Trate” e mostrar o quanto é importante o uso de atividades especificas que se adequem as especificidades de cada criança. METODOLOGIA Para o desenvolvimento deste trabalho, nós utilizamos a pesquisa descritiva, que, segundo Selltiz et al. (1965), procura expor em detalhes situações e fenômenos que estão em curso. Com isso é possível compreender as especificidades de um indivíduo, uma situação, ou um grupo, bem como desvendar a relação entre os eventos, com eficácia. A abordagem utilizada foi à pesquisa qualitativa, uma vez que buscamos a compreensão do objeto investigado. Conforme Botelho; Cruz (2013, p. 54) a pesquisa qualitativa é basicamente aquela que busca entender um fenômeno específico em profundidade. Ao invés de estatísticas, regras e outras generalizações, ela trabalha com descrições, comparações, interpretações e atribuições de significados possibilitando investigar valores, crenças, hábitos, atitudes e opiniões de indivíduos ou grupos. Permite que o pesquisador se aprofunde no estudo do fenômeno ao mesmo tempo em que tem o ambiente natural como a fonte direta para coleta de dados. A coleta dos dados foi feita com base nos relato das estagiárias do projeto, acerca de suas vivências. RESULTADOS E DISCUSSÃO Realizamos atividades e desenvolvemos estratégias que promovessem melhorias no desenvolvimento e na aprendizagem das crianças com TEA de acordo com suas necessidades e especificidades. Segundo Freire (1993), “o processo de alfabetização é muito mais do que reconhecer símbolos e letras, é saber interpretar o que está a sua volta com a leitura de mundo.”, ou seja, os métodos que foram utilizados na alfabetização de um dos alunos, talvez não sirvam para os outros, pois há peculiaridades na aprendizagem de cada um em decorrência a forma de compreensão e ao nível de autismo que cada criança tem. Devido à resistência a mudança de rotina da criança que tem TEA, tivemos muito cuidado ao lidar com essa situação. Para que nosso aluno não se desorganizasse, tentamos trabalhar em nossas aulas, o que lhe era passado na escola em relação a conteúdos, ou seja, dando sequência a eles, pois essa rotina situa e orienta a criança no espaço e no tempo. Para que esse método da sequência fosse válido, pedíamos as mães dos alunos que nos trouxessem seu caderno da escola e nos comunicássemos como estava sendo passado tal assunto em sala de aula, dessa forma ficaríamos por dentro dessas informações, e as mães se tornariam mais presentes na educação escolar de seus filhos. Segundo Kirk; Gallagher (1996), as crianças com TEA podem ser educadas, e suas deficiências podem ser compensadas, em parte, por programas educacionais estruturados, com sequências especificadas de aprendizagem e intensificação de estímulos reforçadores. (...). Uma experiência que podemos relatar em relação a como passar em pequenas porções o conteúdo proposto a essas crianças foi a de uma das estudantes que deu assistência a um jovem de 17 anos que tinha TEA. Nesse caso, é importante destacarmos que ele tinha autismo do nível leve, que já sabia ler e escrever e seu comportamento era excelente, porém é na memória que ele apresenta comprometimento. Nas vezes em que a estudante lia um pequeno texto e lhe perguntava questões simples como “como se chamavam os personagens da história?”, mesmo ele tendo acabado de ler o texto, juntamente com a estudante, ele não conseguia responder com êxito a pergunta, pois havia esquecido. Com isso, foi necessária a realização de estratégias metodológicas. Foram impressas imagens que representassem cada personagem da história, e coladas na cartolina na mesma sequência que apareciam na história, assim ao ler e olhar na cartolina, o aluno ia identificando cada personagem e suas características. Segundo Gauderer (1997, p.108) “[...] é útil dividir a tarefa em pequenas etapas e, vagarosamente, construir o todo”. Com isso, fica evidente que durante o desenvolvimento das atividades propostas pelo professor, cada conteúdo a ser passado aquela criança, tem que ser disponibilizado em pequenas porções para que haja uma compreensão satisfatória, pois sua capacidade de assimilação, como já dissemos, tem um processo lento, e que precisa ser cuidadosamente dosado. Um de nossos alunos não conseguia memorizar a sequência correta das letras do alfabeto, então a estudante que lhe atendia fez um “varal alfabetizado”, como funcionava esse varal? Em um cordão de estender roupas, que pode ser comprado em qualquer mercado, grampeou as letras do alfabeto e pediu a mãe do aluno que colocasse em uma parte da casa onde a criança mais gostasse de frequentar, assim, sempre que o visse iria treinar a fala e a memória, e consequentemente, iria aprender a sequência correta, graças à exposição daquele objeto em uma área de seu interesse. Segundo Gauderer (1997, p.108), “Deve-se aproveitar ao máximo as situações do dia a - dia, transformando-as em oportunidades de ensino de forma a encorajar a criança a usar na prática os conhecimentos adquiridos.”. Existem atividades que podem ser desenvolvidas em sala de aula e também em casa, visando o desenvolvimento cognitivo da criança em um modo amplo, utilizando em ambas, objetos e adereços de fácil acesso a qualquer nível financeiro. É importante compreender o modo como às pessoas aprendem e as condições necessárias para a aprendizagem, bem como identificar o papel do professor nesse processo. E foi isso, que durante nossa estadia do Espaço Trate Autismo, que buscamos fazer, analisar as dificuldades, capacidades e especificidades de cada criança com o TEA, e assim desenvolver atividades e estratégias que amenizassem essas dificuldades e possibilitassem o ensinoaprendizagem das nossas crianças. CONCLUSÃO Com base no que foi exposto, compreendemos que o projeto “ABC do Trate” trouxe grandes oportunidades de aprendizagem para todos os envolvidos, tanto para as crianças, que vivenciaram um ambiente inovador de alfabetização, com estratégias metodológicas diversificadas e adaptadas, quanto para as graduandas do curso de Pedagogia da Uneal- Campus I, que realizaram ações de planejamento, intervenção e avaliação. A metodologia utilizada nos permitiu o envolvimento direto e significativo com as crianças com TEA, alvo de nossas ações, viabilizando o conhecimento das reais necessidades das mesmas e nos permitindo agir de modo positivo sobre elas. As características comportamentais e necessidades de aprendizagem se diferenciavam, de acordo com cada criança atendida, fator que muito contribuiu para a nossa formação, pois ampliou nossa percepção acerca do processo de inclusão e alfabetização de crianças com TEA, além disso, forneceu os subsídios necessários para a aquisição e construção de referencial teórico e prático, necessário ao atendimento das necessidades sociopedagógicas de alunos com TEA. Desse modo, concluímos que o desafio de alfabetizar alunos com TEA vem sendo superado, à medida que as estratégias de ensino são adaptadas conforme as necessidades evidenciadas, sendo este um aspecto que vem refletindo positivamente no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças atendidas. REFERÊNCIAS BOTELHO, J. M.; CRUZ, V. A. G. da. Metodologia científica. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2013. CARBONARI, M. E. E. Gestão da responsabilidade social. In: COLOMBO, S. S.; RODRIGUES, G. M (Org.). Desafios da gestão universitária contemporânea. Porto Alegre: Artmed, 2011. p. 337-360. FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo. Cortez, 2003. GAUDERER, C. Autismo e outros atrasos do desenvolvimento. Guia Prático para Pais e Profissionais. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 1997. KIRK, S.; GALLAGHER, J. J. Educação da criança excepcional. 3ª ed., São Paulo: Martins Fontes, 1996. SELLTIZ, C.; WRIGHTSMAN, L. S.; COOK, S. W. Métodos de pesquisa das relações sociais. São Paulo: Herder, 1965.