A Artigo Original Tomazini APB et al. Estado nutricional de pacientes internados em um Hospital Escola de Vitória, ES Nutritional status of patients hospitalized in a Teaching Hospital in Vitória, ES Ana Paula Batista Tomazini1 Álvaro Armando Carvalho de Morais2 Danielle Cabrini3 Unitermos: Estado nutricional. Desnutrição. Avaliação nutricional. Key words: Nutritional status. Malnutrition. Nutritional assessment. Endereço para correspondência: Ana Paula Batista Tomazini Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória/ Centro de Pesquisa Avenida Nossa Senhora da Penha, 2190 - Santa Luiza - Vitória, ES - CEP 29045-402. E-mail: [email protected] Submissão 22 de setembro de 2009 Aceito para publicação 2 de maio de 2010 1. 2. 3. Nutricionista, Especialista em Nutrição Hospitalar. Médico, Mestre em Cirurgia Abdominal. Nutricionista, Mestre em Ciência da Nutrição, Doutoranda em Saúde da Criança e da Mulher. RESUMO Introdução: A elevada prevalência de desnutrição hospitalar a torna um problema significante em todo o mundo, embora ainda seja frequentemente não detectada e, consequentemente, não tratada adequadamente. Objetivo: O presente trabalho teve por objetivo avaliar o estado nutricional de pacientes internados nas clínicas médicas e na clínica cirúrgica de um hospital escola de Vitória, ES. Método: O estudo foi retrospectivo, por meio da consulta aos prontuários dos pacientes internados durante o mês de maio de 2008 nas clínicas médica e cirúrgica do hospital estudado (n=103). Foram coletados dados da Avaliação Subjetiva Global (ASG) e avaliação antropométrica (peso, altura e IMC) dos pacientes. Os dados foram expressos por meio de estatística descritiva e foram aplicados os testes de correlação de Spearman e concordância de Kappa, adotando significância <0,05. Resultados: Na população estudada encontrou-se prevalência de desnutrição de 33,9%, de acordo com ASG, e de 20,6%, de acordo com IMC. O teste de concordância de Kappa encontrou concordância moderada entre estes dois métodos diagnósticos. Dos pacientes avaliados, 41,7% relataram perda de peso nos últimos 6 meses, sendo que 27,9% destes apresentaram perda ≥10% em relação ao peso habitual. O exame físico mostrou perda de gordura subcutânea em 15,5% dos pacientes e perda muscular em 23,3%. Conclusão: Encontrou-se elevada prevalência de desnutrição nos pacientes avaliados, sendo a prevalência detectada pela ASG superior a detectada pelo IMC. ABSTRACT Introduction: The high prevalence of hospital malnutrition has become an important worldwide problem, although it is not often detect and consequently treated. Objective: This study had as objective to assess the nutritional status of patients hospitalized in medical clinics and a in a surgery clinic of a teaching hospital in Vitória, ES, Brazil. Methods: A retrospective study was done by consulting medical records of patients hospitalized in May 2008 in the clinics of the studied hospital (n = 103). A subjective global assessment (SGA) and an anthropometry evaluation (weight, height and BMI) data of the patients were collected. The data were expressed by descriptive statistics as well as by Spearman correlation and Kappa agreement, using a significance level of 0.05. Results: In the studied population, it was found prevalence of malnutrition of 33.9% according to SGA and of 20.6% based on BMI. The Kappa agreement test showed moderated agreement between these two methodologies. Among the assessed patients, 41.7% reported lost of weight in the last six months, and among these patients 27.9% showed lost ≥10% of their body weight. A physical test showed lost of subcutaneous fat in 15.5% and muscular lost in 23.3% of the patients. Conclusion: It was observed high prevalence of malnutrition in the evaluated patients, the prevalence of malnutrition according to SGA was larger than the prevalence based on BMI. Rev Bras Nutr Clin 2010; 25 (2): 130-5 130 Estado nutricional de pacientes de um Hospital Escola de Vitória, ES INTRODUÇÃO Desde a década de 70, a elevada prevalência de desnutrição hospitalar em todo o mundo, sua gravidade e diagnóstico precário têm sido descritos por diversos autores1-3. Entretanto, apesar de todos os avanços nas ciências e técnicas diagnósticas, a situação pouco mudou até os dias atuais1,3,4. Vários estudos de investigação do estado nutricional de pacientes hospitalizados têm sido realizados, demonstrando prevalência de desnutrição hospitalar, que pode variar de 15% a 75%, dependendo do método diagnóstico utilizado e da população estudada2,5-9. No Brasil, o Inquérito Brasileiro de Avaliação Nutricional Hospitalar (IBRANUTRI) avaliou 4000 pacientes de 25 hospitais no ano de 1996 e encontrou prevalência de desnutrição de 48,1%10. A elevada prevalência de desnutrição hospitalar a torna um problema significante5, embora ainda seja frequentemente não detectada e, consequentemente, não tratada adequadamente5,11. De acordo com Kinosian e Jeejeebhoy, citados por Norman et al.5, a desnutrição é o resultado do desbalanço entre o consumo e requerimento do organismo, promovendo alteração do metabolismo, prejuízo das funções corporais e perda de peso. Num estágio mais avançado, alterações nos tecidos e forma corporal podem ser percebidas. A causa da desnutrição geralmente é multifatorial, sendo a doença um importante fator de risco para desenvolvê-la ou agravá-la5,6. Diversos motivos podem justificar a relação entre desnutrição e doença, tais como: os efeitos metabólicos da doença (aumento das necessidades protéicas e energéticas, e aumento das perdas associadas à inflamação); resposta ao trauma; alteração no apetite e na absorção de nutrientes; dificuldade no consumo alimentar devido à presença de náuseas e/ou vômitos, dor ou desconforto na passagem do alimento e efeitos colaterais relacionados ao uso de medicamentos5. Efeitos adicionais, como idade avançada, nível educacional e condições de moradia podem aumentar o risco de desenvolver deficiências nutricionais5,6. A desnutrição hospitalar possui efeitos clínicos e econômicos importantes, uma vez que está associada com aumento da morbidade e mortalidade, maior tempo de internação, complicações pós-operatórias, além do aumento dos custos hospitalares e de reabilitação e de índices de readmissão hospitalar2,4,6-9,12-16. Diversos métodos, objetivos ou subjetivos, podem ser utilizados para avaliar o estado nutricional de pacientes hospitalizados17. Atualmente, a Avaliação Subjetiva Global (ASG) tem sido muito utilizada em pacientes de diversas situações clínicas e cirúrgicas para detectar desnutrição ou risco da mesma18-22. Proposta por Baker e Detsky, em 1982, a ASG é um guia para avaliação nutricional baseado na história clínica e exame físico do paciente9. Utilizada como método de triagem nutricional na admissão hospitalar18, tem se mostrado bastante precisa e uma poderosa preditora de complicações durante a internação9,14,23. O bom estado nutricional é um pré-requisito para um ótimo efeito do tratamento específico oferecido aos pacientes4. Dessa forma, a avaliação e o começo do tratamento de pacientes desnutridos no início da internação têm demonstrado boa relação custo-benefício12, já que, além de contribuir para uma recuperação mais rápida e eficiente do paciente, reduz os gastos hospitalares. Assim, o presente trabalho teve por objetivo avaliar o estado nutricional de pacientes internados nas clínicas médicas e na clínica cirúrgica de um hospital escola de Vitória, ES. MÉTODO O presente trabalho se trata de um estudo retrospectivo, realizado por meio de consulta ao arquivo de prontuários de todos os pacientes internados no mês de maio de 2008 nas clínicas médicas e cirúrgica do hospital da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, ES, e submetidos à avaliação nutricional. A casuística correspondeu a cerca de 40% dos leitos totais do hospital (n=103). Foram coletados dados da ASG e avaliação antropométrica do paciente (peso, altura e IMC). Tais avaliações fazem parte da rotina da equipe de Nutrição deste hospital, que é adequadamente capacitada para tal. A ASG foi aplicada em todos os pacientes internados maiores de 18 anos, de ambos os gêneros, até 72h após a internação, conforme preconizado por Baker e Detsky (1982). Pacientes obstétricos, pediátricos, em coma e aqueles que não podiam responder à entrevista, nem tinham acompanhantes aptos para tal, não foram avaliados por este método. Inicialmente, foram coletadas informações que identificavam o paciente (nome, gênero, data de nascimento, idade, data de internação e diagnóstico). Posteriormente, realizou-se a história clínica e o exame físico do paciente, mediante perguntas que investigavam mudanças no peso nos últimos 6 meses e nas últimas 2 semanas, alterações no consumo alimentar, sintomas gastrintestinais nas últimas 2 semanas, capacidade funcional e avaliação física (presença de edemas, ascite, perda de tecido muscular e gordura subcutânea). Os pacientes também foram avaliados pela aferição do peso e altura, naqueles capazes de deambular. Os pacientes que não eram capazes de deambular foram excluídos apenas dos cálculos referentes a essas medidas. Os pacientes foram pesados com auxílio de balança digital (Marca Tanita, modelo 2001 w-B, capacidade máxima de 136 kg, precisão de 100g) usando o mínimo de roupa possível e descalços. A altura foi aferida por estadiômetro vertical milimetrado (Marca Alturaexata, com extensão de 213 cm e precisão de 1 mm). Os indivíduos permaneciam descalços, formando um ângulo de aproximadamente 45° entre os pés, em posição ereta, olhando para o infinito, com as costas e a parte posterior dos joelhos encostados no equipamento24. A partir do peso e altura aferidos, foi calculado o índice de massa corporal (IMC) de cada paciente para classificá-los de acordo com recomendação da Organização Mundial da Saúde (OMS)25. Para adultos, os pontos de corte de IMC utilizados são: baixo peso quando IMC abaixo de 18,5 kg/m2, eutrofia quando IMC entre 18,5 e 24,9 kg/m2, sobrepeso quando IMC maior ou igual a 25 kg/m2, sendo obeso grau I quando IMC maior ou igual a 30 e menor que 35 kg/m2, obeso grau II quando IMC entre 35 e 39,99 kg/m2 e obeso grau III quando IMC maior ou igual a 40 kg/m2. Para idosos são necessários pontos de corte mais sensíveis, sendo: baixo peso quando IMC menor que 22 kg/m2, eutrofia IMC de 22 a 27 kg/m2 e obesidade quando IMC maior que 27 kg/m2. Rev Bras Nutr Clin 2010; 25 (2): 130-5 131 Tomazini APB et al. Durante a aplicação da ASG, aqueles pacientes que não souberam informar se houve perda de peso recente e a quantidade de quilos perdida tiveram estes dados acrescentados na avaliação após a pesagem. As informações coletadas nos prontuários foram armazenadas em banco de dados criado no programa Microsoft Office Excell. A análise estatística foi conduzida com o auxílio dos programas estatísticos EpiInfo versão 6.04d e Sigma Statistic for Windows versão 2.0. Os dados foram submetidos à análise e os resultados expressos em médias e frequências de distribuição de todas as variáveis. Aplicaram-se os testes estatísticos correlação de Spearman para verificar a correlação entre postos e a intensidade desta associação, e o teste de concordância de Kappa para avaliar a concordância entre o diagnóstico nutricional encontrado pela ASG e o encontrado pela antropometria. Considerouse significância estatística quando p<0,05. A correlação de Spearman foi avaliada qualitativamente quanto à intensidade de correlação a partir do valor do coeficiente de correlação produtomomento (r). Valores negativos de r indicam uma correlação do tipo inversa, isto é, quando uma variável aumenta, a outra diminui. Valores positivos para r ocorrem quando a correlação é direta, isto é, as duas variáveis analisadas variam no mesmo sentido. A concordância de Kappa foi interpretada segundo os valores de Kappa encontrados. O trabalho foi realizado após aprovação do Comitê de Ética da Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, ES (protocolo número 063/2008). RESULTADOS A população estudada foi composta por 103 indivíduos, sendo 51,5% (n=53) do sexo feminino. A Tabela 1 apresenta a caracterização destes pacientes. O diagnóstico principal dos pacientes foi classificado em categorias e apresentado na Tabela 2. Alguns pacientes não possuíam diagnóstico definido no momento da avaliação, sendo, portanto, excluídos da avaliação referente ao estresse metabólico da doença. A prevalência de desnutrição determinada pela ASG no presente estudo foi 33,9% (n=35), sendo 1,9% dos pacientes classificados como gravemente desnutridos, conforme apresentado na Figura 1. De acordo com a avaliação objetiva, 20,6% (n=14) dos pacientes avaliados pelo IMC foram classificados como desnutridos, 47% (n=32) eutróficos, 28% (n=19) sobrepeso e 4,4% obesos (n=3). Dos pacientes avaliados, 41,7% (n=43) relataram perda de peso nos últimos 6 meses, sendo que em 27,9% destes (n=12) a perda foi maior ou igual a 10%. Dentre os pacientes que relataram perda de peso, 30,2% (n=13) continuaram perdendo peso nas 2 semanas anteriores à avaliação. Em relação à ingestão alimentar, 18,4% (n=19) relataram alterações. O consumo de alimentos sólidos em menor quantidade foi a alteração mais frequente, relatada por 78,9% destes pacientes (n=15). Os sintomas gastrintestinais persistentes por mais de duas semanas foram mencionados por 21,4% (n=22) dos pacientes avaliados. A Figura 2 mostra a presença destes sintomas. A alteração da capacidade funcional foi detectada em 14,6% dos pacientes (n=15), sendo o trabalho subótimo a alteração funcional mais relatada dentre estes (80%, n=12). Em relação ao estresse metabólico, oito (7,8%) pacientes não tiveram esse dado coletado, uma vez que não possuíam diagnóstico conclusivo no momento das avaliações. Dessa forma, 62,1% (n=59) dos indivíduos apresentaram baixo estresse, 31,6% (n=30) estresse moderado e 6,3% (n=6) alto estresse. Os pacientes foram submetidos a exame físico para investigar alterações na composição corporal e presença edemas e ascite. A Tabela 3 expõe os resultados desta avaliação. A análise da correlação de Spearman indicou correlação significante (p≤0,05) entre alguns parâmetros, conforme demonstrado na Tabela 4. A maioria das correlações encontradas foram positivas e fracas ou regulares. Com exceção do IMC, que apresentou correlações negativas regulares, indicando que a piora do estado nutricional, segundo a avaliação antropométrica, compromete fatores investigados na avaliação subjetiva, e a ASG, que apresentou correlação forte com a quantidade de peso perdida, tempo de disfunção e perda muscular. A correlação de Kappa indicou correlação moderada entre o diagnóstico encontrado pela ASG e pela antropometria (Kappa=0,509, p<0,001, Intervalo de 95% de confiança). DISCUSSÃO O presente estudo demonstrou prevalência de desnutrição hospitalar de 33,9%, sendo 1,9% dos pacientes avaliados classificados como desnutridos graves, de acordo com ASG. Tais Tabela 1 - Caracterização dos pacientes submetidos à ASG em um hospital-escola de Vitória, ES, 2008. Idade Parâmetro Peso atual IMC Peso habitual Perda de peso (kg) % perda de peso N Mínimo Máximo Média ± DP Mediana 103 18 88 46,6±16,57 48 68 45,2 110 66,4±12,3 66 68 17 33,95 23,71±3,64 23,82 97 43 125 67,35±11,93 65 43 1,6 20 6,32±4,09 5,5 38 2 29,4 9,38±6,43 8,75 Tempo de alterações alimentares (dias) 19 3 150 23,74±33,84 10 Tempo de alteração da capacidade funcional (dias) 15 2 365 48,86±102,84 3 Rev Bras Nutr Clin 2010; 25 (2): 130-5 132 Estado nutricional de pacientes de um Hospital Escola de Vitória, ES Tabela 2 - Diagnóstico principal dos pacientes submetidos à ASG em um hospital-escola de Vitória, ES, 2008 (N=95). Diagnóstico Principal n % Pacientes cirúrgicos Doenças do trato gastrintestinal 50 9 52,6 9,5 Neoplasia 8 8,4 Doenças hematológicas Pacientes ginecológicos Pacientes sem diagnóstico Outros 4 4 8 12 4,2 4,2 8,4 12,6 Tabela 4 - Correlação de Spearman entre diferentes parâmetros avaliados nos pacientes submetidos à ASG em um hospital-escola de Vitória, ES, 2008. Parâmetros r (p<0,05) Idade Estresse Metabólico 0,25 Perda de Gordura Subcutânea 0,25 Perda Muscular 0,40 IMC* 1,9% Alteração na Ingestão Alimentar -0,41 Inapetência -0,35 Perda de Gordura Subcutânea -0,42 Perda de peso 32% 66% Alteração na Ingestão Alimentar 0,31 Sintomas Gastrintestinais 0,28 Perda de Gordura Subcutânea 0,45 Perda Muscular 0,47 Quantidade de peso perdida** Sintomas Gastrintestinais 0,46 Bem Nutrido Presença de Vômitos 0,33 Moderadamente desnutrido/risco de desnutrição Presença de Náuseas 0,33 Gravemente Desnutrido Inapetência 0,48 Perda de Gordura Subcutânea 0,41 Figura 1 - Classificação do estado nutricional dos pacientes submetidos à ASG em um hospital-escola de Vitória, ES, 2008 (N=103). 8,7% Inapetência 91,3% 1,9% Diarreia 98,1% 14,6% Náuseas 85,4% 11,7% Vômitos Alteração na Ingestão Alimentar 0 20 Não 60 80 100 Sim Figura 2 - Alterações gastrintestinais dos pacientes submetidos à ASG em um hospital-escola de Vitória, ES, 2008 (N=103). Tabela 3 - Exame físico dos pacientes submetidos à ASG em um hospitalescola de Vitória, ES, 2008 (N=103). Parâmetro Perda de gordura subcutânea Perda muscular Edema de tornozelo Edema sacral Ascite 0,55 Inapetência 0,47 Disfunção 0,23 Tempo de Disfunção 0,54 Perda de Gordura Subcutânea 0,21 Edema de Tornozelo 0,3 ASG 88,3% 40 Sintomas Gastrintestinais Ausente + 84,5% (87) 10,7% (11) ++ 3,9% (4) +++ 1% (1) 76,6% (79) 14,6% (15) 91,3% (94) 3,9% (4) 100% (103) 0 96,1% (99) 1% (1) 8,7% (9) 4,9% (5) 0 1,9% (2) 0 0 0 1% (1) Idade 0,21 IMC* -0,49 Perda de Peso 0,44 Quantidade de Peso Perdida** 0,67 % de Perda de Peso 0,55 Alteração na Ingestão Alimentar 0,38 Sintomas Gastrintestinais 0,40 Presença de Vômitos 0,34 Presença de Náuseas 0,31 Inapetência 0,32 Tempo de Disfunção 0,78 Demanda Metabólica 0,47 Perda de Gordura Subcutânea 0,45 Perda Muscular 0,63 N=103, *n=68, **n=43 Rev Bras Nutr Clin 2010; 25 (2): 130-5 133 Tomazini APB et al. resultados corroboram com a maioria dos encontrados na literatura atual. Estudo multicêntrico realizado no Brasil detectou algum grau de desnutrição em 48,1% dos pacientes avaliados, sendo que a desnutrição grave estava presente em 12,5% dos pacientes10. Wakahara et al.18 encontraram 47% de algum grau de desnutrição e 16,4% de desnutrição grave em pacientes com doenças do trato gastrintestinal em um hospital universitário no Japão. Kyle et al.14, em estudo populacional com adultos internados na Suíça, encontraram prevalência de desnutrição de 39%. Estudo realizado com pacientes cirúrgicos no Vietnã encontrou prevalência mais elevada de desnutrição, 55,7%17. Estudo em 13 hospitais alemães realizado por Pirlich et al.6 diagnosticou desnutrição em 27,4% dos pacientes avaliados. Na América Latina, estudo realizado por Barreto Penié26, em 12 hospitais cubanos, demonstrou que quatro em cada 10 pacientes avaliados apresentavam sinais de desnutrição ou elementos clínicos para risco nutricional. Em relação à avaliação antropométrica, o presente estudo também apresentou resultados condizentes com os encontrados na literatura, uma vez que a prevalência de desnutrição identificada por esse método foi menor do que a encontrada pela ASG. Pirlich et al.6 encontraram 4,1% de desnutrição pela avaliação do IMC. Edington et al.3, em estudo em quatro hospitais ingleses, encontraram prevalência de desnutrição de 20% na admissão a partir da avaliação do IMC. Diversos motivos podem justificar a relação entre desnutrição e doença, tais como: os efeitos metabólicos da doença (aumento das necessidades protéicas e energéticas, e aumento das perdas associadas à inflamação); resposta ao trauma; alteração no apetite e na absorção de nutrientes; dificuldade no consumo alimentar devido à presença de náuseas e/ou vômitos, dor ou desconforto na passagem do alimento e efeitos colaterais relacionados ao uso de medicamentos5. Efeitos adicionais como idade avançada, nível educacional e condições de moradia podem aumentar o risco de desenvolver deficiências nutricionais5,6. A desnutrição possui inúmeras implicações clínicas, podendo-se destacar a redução da força muscular, da função respiratória, da força cardíaca, e da função imune, prejuízo nas trocas gasosas e na cicatrização, maior risco de ocorrência de eventos sépticos, formação de abscessos e desenvolvimento de broncopneumonia1,17,26. Recentemente, estudos têm demonstrado que a desnutrição é um importante determinante dos custos hospitalares, já que implica em maior tempo de internação e tratamento mais intenso5,28. Além de maiores gastos, o aumento do tempo de internação também pode prejudicar ainda mais o estado nutricional do paciente5. No estudo de Pirlich et al.6, o tempo de internação foi cerca de 40% maior entre os pacientes desnutridos. Amaral et al.12, em estudo realizado em dois hospitais públicos de Porto, Portugal, encontraram aumento médio de 20% nos custos hospitalares de pacientes com desnutrição. Tais estudos sugerem que a intervenção nutricional, geralmente de baixo custo, seria muito mais adequada do ponto de vista econômico, além do benefício na recuperação da saúde do paciente6. O melhor método para avaliar o estado nutricional de pacientes hospitalizados ainda é controverso10. Entretanto, a ASG tem sido muito utilizada atualmente por possuir muitas vantagens. É uma técnica simples, com boa reprodutibilidade, não-invasiva, rápida, fácil e econômica de identificar pacientes em risco de desnutrição ou em diferentes graus de desnutrição, além de possuir boa correlação com métodos objetivos9,15,28. Dentre os parâmetros avaliados pela ASG, a perda de peso recente é um marcador sensível do estado nutricional, perdas maiores que 10% em relação ao peso habitual em 6 meses têm se mostrado clinicamente significantes1, uma vez que estão correlacionadas com maior incidência de comprometimentos fisiológicos e complicações hospitalares15. Barreto Penié26 detectou perda de peso em 56,5% dos pacientes avaliados em sua pesquisa. O presente estudo encontrou média de porcentagem de perda de peso de 9,38 ± 6,43% e 27,9% (n=13) dos pacientes com perda ≥10%. Sacks et al.21, em estudo com pacientes geriátricos de casas de cuidado no Mississipi, encontraram porcentagem média de perda de peso entre os desnutridos de 12,5±9,65%. Kyle et al.14 encontraram perda de peso >10% em 7% dos pacientes avaliados em seu estudo. Norman et al.9, em estudo em hospital comunitário em Berlim, encontraram 12,9% dos pacientes nesta situação. Embora tenha se observado elevada prevalência de perda de peso passada e recente entre os pacientes avaliados, essa alteração não foi detectada, de maneira tão eficiente, pela avaliação do IMC. Dessa forma, a prevalência de desnutrição encontrada pelo método subjetivo foi superior à detectada pelo método objetivo. A alteração na ingestão alimentar isenta de qualquer intencionalidade29 tem sido descrita como importante fator para comprometimento do estado nutricional30. Kyle et al.14 encontraram redução do apetite em 32% dos pacientes avaliados em seu estudo. Barreto Penié26 detectou alteração na ingestão alimentar em 43,7% dos pacientes estudados, enquanto no presente estudo 18,4% dos pacientes relataram alterações alimentaresOs sintomas gastrintestinais podem estar presentes na maioria dos pacientes hospitalizados, porém serão considerados significativos apenas caso ocorram diariamente por mais de duas semanas, pois dessa forma indicam perdas que podem comprometer o estado nutricional29. Barreto Penié26 encontrou presença de sintomas gastrintestinais em aproximadamente 53% da população estudada. Dentre os pacientes avaliados neste estudo, 21,4% relataram a presença de sintomas gastrintestinais, sendo a náusea o sintoma mais citado. A avaliação da capacidade funcional se faz muito importante, uma vez que avalia modificações funcionais que acontecem conjuntamente com alterações antropométricas e dietéticas29. No presente estudo, encontrou-se prevalência de disfunção em 14,6% dos pacientes avaliados, ao contrário de Barreto Penié26, que identificou 60,7% dos pacientes com redução da capacidade funcional. O exame físico, além da observação dos sinais de deficiência de nutrientes específicos, envolve a realização da inspeção e palpação do paciente, buscando identificar perda de gordura, massa muscular e presença de líquido no espaço extravascular30. Os resultados encontrados neste trabalho para este parâmetro contradizem alguns resultados encontrados por Barreto Penié26. Dos pacientes avaliados, 15,6% apresentaram algum grau de perda de gordura subcutânea vs. 44,2% no estudo de Barreto Penié26. Em relação à perda muscular, 23,3% dos pacientes estudados apresentavam algum grau de comprometimento, enquanto Barreto Rev Bras Nutr Clin 2010; 25 (2): 130-5 134 Estado nutricional de pacientes de um Hospital Escola de Vitória, ES Penié26 encontrou 41,1%. Nenhum paciente avaliado neste estudo apresentou edema sacral, já no estudo de Barreto Penié26 4,5% dos pacientes apresentavam. Os resultados encontrados neste estudo para edema de tornozelo e ascite se assemelham aos encontrados por tal autor, 8,8% e 3,9%, vs. 14% e 3,8%, respectivamente. Pham et al.17 encontraram coeficiente de correlação positiva, elevada e significante entre perda de gordura subcutânea, tecido muscular, perda de peso, capacidade funcional e a presença de sintomas gastrintestinais com a ASG. Tais resultados confirmam os encontrados no presente estudo. CONCLUSÃO No presente estudo encontrou-se elevada prevalência de desnutrição nos pacientes avaliados, sendo a prevalência detectada pela ASG superior à detectada pelo IMC. O relato de perda de peso passada e recente foi frequente na população estudada, fato que tem relação importante com o estado nutricional. Sabe-se que a desnutrição é um fator de risco para aumento da morbidade e mortalidade de pacientes hospitalizados. Dessa forma, a avaliação nutricional adequada e precoce é essencial para possibilitar a intervenção nutricional adequada, prevenindo assim complicações futuras. REFERÊNCIAS 1. DeLegge MH, Drake LM. Nutritional assessment. Gastroenterol Clini North Am. 2007;36(1):1-22. 2. Singh H, Watt K, Veitch R, Cantor M, Duerksen DR. Malnutrition is prevalent in hospitalized medical patients: Are housestaff identifying the malnourished patient? Nutrition. 2006;22(4):350-4. 3. Edington J, Boorman J, Durrant ER, Perkins A, Giffin CV, James R, et al. Prevalence of malnutrition on admission to four hospitals in England. Clin Nutr. 2000;19(3):191-5. 4. Planas M, Audivert S, Pérez-Portabella C, Burgos R, Puiggrós C, Casanelles JM, et al. Nutritional status among adult patients admitted to an university-affiliated hospital in Spain at the time of genoma. Clin Nutr. 2004;23(5):1016-24. 5. 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