UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE INSTITUTO DE BIOLOGIA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS JOSIE ANTONUCCI DI CARVALHO ANÁLISE DA INFORMAÇÃO DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO-MG NO PERÍODO DE 2007 A 2010 NITERÓI 2011 1 JOSIE ANTONUCCI DI CARVALHO ANÁLISE DA INFORMAÇÃO NOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO-MG Monografia apresentada ao curso de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel. Orientador: Sávio Freire Bruno Co-Orientador: Claudio Machado NITERÓI 2011 2 JOSIE ANTONUCCI DI CARVALHO ANÁLISE DA INFORMAÇÃO DOS ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS OCORRIDOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO-MG NO PERÍODO DE 2007 A 2010 Monografia apresentada ao curso de graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal Fluminense, como requisito parcial para obtenção do Grau de Bacharel Aprovada em_________de__________. BANCA EXAMINADORA Sávio Freire Bruno-Universidade Federal Fluminense (Presidente) José Mário d’Almeida-Universidade Federal Fluminense (membro) Flávio Moutinho-Universidade Federal Fluminense (membro) Cáthia Serra-Universidade Federal Fluminense (membro suplente) Niterói 2011 3 A meu Pai e à minha mãe Por sempre apoiarem as minhas escolhas 4 Aos meu amigos Por estarem sempre ao meu lado 5 AGRADECIMENTOS Ao Dr. Sávio Freire Bruno, por me orientar e sempre se preocupar com o que seria melhor para mim. Ao mestre Cláudio Machado, por ter sido meu co-orientador, me ajudando profundamente na construção deste trabalho. Aos Funcionários da Secretaria Municipal de Saúde do município de Visconde do Rio Branco, pela ajuda em conseguir os dados importantes para a pesquisa. À Inês Slaibi, Secretária de Saúde do município vizinho, Ubá, por me ajudar a conseguir as fichas de notificação necessárias. À Camila, funcionária da Secretaria Municipal de Visconde do Rio Branco, pela ajuda em conseguir o banco de dados. À Pricila, funcionária da Secretaria Municipal de Ubá, pela paciência na minha insistência em conseguir os dados. Aos amigos da faculdade, especialmente, Roberta, Tatiana, Aryana, Pedro, Igor, Raquel, Patrícia e Mariana, pelo incentivo e amizade. Àos meus amigos de infância, especialmente, Laís, Marina, Karen, Anna Júlia, Fernanda, Lourenzo e Alexandre, por mesmo de longe, estarem ao meu lado. À minha família, pelo apoio e carinho. Ao meu namorado, Igor Turturro, por sempre me dar força e proporcionar momentos de alegrias. Aos pacientes que foram atendidos no Hospital São João Baptista em Visconde do Rio Branco, pois foram eles que me deram a possibilidade de realizar a pesquisa. 6 RESUMO Este trabalho representa um estudo dos aspectos epidemiológicos dos acidentes por animais peçonhentos no município de Visconde do Rio Branco, Minas Gerais, Brasil, no período entre 2007 e 2010. Comparando-se os dados dos acidentes no Sistema de Informação e Agravos de Notificação (SINAN) com os dados da Secretaria Municipal de Saúde, diferenças no número de notificações registradas foram encontradas. Os acidentes envolvendo escorpiões foram predominantes, ocorrendo principalmente na área urbana. O sexo masculino foi mais atingido nos acidentes com serpentes e escorpiões, mas os acidentes com aranhas afetaram mais o sexo feminino. A maioria dos acidentes, 90 do total de 158, foi classificada como leve e todos evoluíram para a cura. Palavras-chave: Animais peçonhentos, acidentes. Informação 7 ABSTRACT This work represents a study of the epidemiology of accidents with venomous animals in the city Visconde do Rio Branco, Minas Gerais, Brazil, between 2007 and 2010, that features public health problem. Comparing the data on accidents and Information System and Grievances Notification (SINAN) with data from the Municipal Health Secretariat, differences in the number of reported cases were found. Accidents involving scorpions were dominant, occurring mainly in the urban area. Men were most affected by accidents with snakes and scorpions, but with spiders accidents, women were most affected. Most accidents, 90 of 158, was classified as mild and all pacients evolved for healing. Key-words: Venomous animals, accidents. Information 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE FIGURAS Figura 1: Réplica da Ficha Individual de Notificação (Ministério da Saúde, 2011). Os campos circulados de vermelho, , representam os dados analisados e repassados à ficha construída a partir da FIN.......................................................................................16 Figura 2: Localização do município de Visconde do Rio Branco em Minas Gerais.....17 Figura 3: Ficha construída para análise das fichas individuais de notificação...............22 Figura 4. Porcentagem de acidentes causados por animais peçonhentos no período de 2007 a 2010 em Visconde do Rio Branco.......................................................................24 Figura 5. Porcentagem dos acidentes distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.....................................25 Figura 6. Porcentagem dos acidentes por animais peçonhentos de acordo com a zona de ocorrência do município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010..............25 Figura 7. Porcentagem dos acidentes escorpiônicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010............26 Figura 8. Distribuição dos acidentes escorpiônicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010..............................................................................................................................27 Figura 9. Distribuição dos acidentes escorpiônicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................................................................................................................................27 Figura 10. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes escorpiônicos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010...........................................................................28 Figura 11. Gráfico representando a classificação dos acidentes escorpiônicos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.....................29 9 Figura 12. Acidentes por picadas de escorpião classificados como leves em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010......................................................................30 Figura 13. Acidentes por picadas de escorpião classificados como moderados em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010......................................................31 Figura 14. Acidentes por picadas de escorpião classificados como graves em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010......................................................................32 Figura 15. Porcentagem dos acidentes ofídicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................33 Figura 16. Distribuição dos acidentes ofídicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................................................................................................................................34 Figura 17. Distribuição dos acidentes ofídicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................................................................................................................................34 Figura 18. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes ofídicos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010..................................................................................35 Figura 19. Gráfico representando a classificação dos acidentes ofídicos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.............................36 Figura 20. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes ofídicos classificados como leves, por número de pacientes........................................................36 Figura 21. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes ofídicos classificados como moderados, por número de pacientes...............................................37 Figura 22. Porcentagem dos acidentes aracnídicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010............38 Figura 23. Distribuição dos acidentes aracnídicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................................................................................................................................39 10 Figura 24. Distribuição dos acidentes aracnídicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.................................................................................................................................39 Figura 25. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes aracnídeos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010...........................................................................40 Figura 26. Gráfico representando a classificação dos acidentes aracnídeos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.....................41 Figura 27. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como leves, por número de pacientes........................................................42 Figura 28. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como moderados, por número de pacientes...............................................43 Figura 29. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como graves, por número de pacientes......................................................44 Figura 30: Número de acidentes por animais peçonhentos registrados no município de Visconde do Rio Branco nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010.....................................45 LISTA DE TABELAS E QUADROS Tabela 1: Distribuição dos acidentes escorpiônicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 à 2010..................................33 Tabela 2: Distribuição dos acidentes ofídicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010................................................38 Tabela 3: Distribuição dos acidentes aracnídicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010..................................44 Quadro 1: Comparação entre os dados que são disponibilizados pelo SINAN-Web e os dados das fichas de notificação que são disponibilizadas pelas Secretarias Municipais de Saúde............................................................................................................................................46 11 LISTA DE ABREVIATURAS ABP: Aprendizagem Baseada em Problemas CCI: Centro de Controle de Intoxicações CNCZAP: Coordenação Nacional de Controle de Zoonozes e Animais Peçonhetos DATASUS: Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde FIN: Ficha Individual de Notificação HCFMRP-USP: Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão PretoUSP HVB: Hospital Vital Brazil IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística OMS: Organização Mundial de Saúde SAAr: soro antiaracnídico SAB: soro antibotrópico SABC: soro antibotrópico-crotálico SABL: soro antibotrópico-laquético SAC: soro anticrotálico SAEEs: soro antiescorpiônico SAEL: soro antielapídico SAEsc: soro antiescorpiônico SALon: soro antilonômico SALox: soro antiloxoscélico SES: Secretarias Municipais de Saúde SIA-SUS: Sistema de Informações Ambulatoriais SIH-SUS: Sistema de Informações Hospitalares do Sistema Único de Saúde SIM: Sistema de Informações sobre Morbidade 12 SINAN: Sistema de Informação e Agravos de Notificação SINITOX: Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas SISNAC: Sistema de Informações de Nascidos Vivos SNABS-MS: Secretaria Nacional de Ações Básicas em Saúde do Ministério da Saúde SUS: Sistema Único de Saúde UNICAMP: Universidade Estadual de Campinas USP: Universidade de São Paulo 13 SUMÁRIO Resumo............................................................................................................................VI Abstract..........................................................................................................................VII Lista de ilustrações.......................................................................................................VIII Lista de abreviaturas........................................................................................................XI 1. Introdução..............................................................................................................1 1.1. Animais peçonhentos......................................................................................1 1.2. Os escorpiões e o escorpionismo....................................................................1 1.3. As serpentes e o ofidismo...............................................................................4 1.4. As aranhas e o araneísmo...............................................................................9 1.5. Acidentes por animais peçonhentos como um problema de saúde pública..11 1.6. Sistemas de informação................................................................................13 1.7. Ficha individual de notificação.....................................................................14 1.8. Visconde do Rio Branco...............................................................................17 2. Objetivo...............................................................................................................19 2.1. Objetivo geral...............................................................................................19 2.2. Objetivos específicos....................................................................................19 3. Metodologia.........................................................................................................20 3.1. Área do estudo..............................................................................................20 3.2. Ficha costruída para análise da ficha individual de notificação...................20 3.3. Coleta dos dados...........................................................................................22 3.4. Análise das fichas.........................................................................................23 3.5. Comparação dos dados.................................................................................23 4. Resultados............................................................................................................24 4.1. Análise geral dos acidentes registrados no município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010................................................................24 4.2. Análise dos acidentes escorpiônicos registrados no município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010....................................................26 4.3. Análise dos acidentes ofídicos registrados no município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010................................................................33 14 4.4. Análise dos acidentes aracnídeos registrados no município de visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010.........................................................38 4.5. Análise das fichas de notificação e dos dados do SINAN..........................45 5. Discussão.............................................................................................................48 5.1. Acidentes escorpiônicos...............................................................................48 5.2. Acidentes ofídicos........................................................................................50 5.3. Acidentes aracnídeos....................................................................................52 5.4. SINAN e as fichas de notificação.................................................................53 6. Conclusão............................................................................................................55 7. Bibliografia..........................................................................................................56 15 1. INTRODUÇÃO 1.1. ANIMAIS PEÇONHENTOS Animais peçonhentos são todos aqueles capazes de inocular peçonha. A peçonha é composta de uma mistura complexa de enzimas e outras substâncias e quando inoculada, pode matar a presa e facilitar sua digestão. Já os animais venenosos são diferentes dos animais peçonhentos. Os venenos são de origem animal, vegetal ou mineral e quando animal são produto final do metabolismo, causando mal por ingestão ou simples contato. A peçonha pode ser definida como todo tipo de substância tóxica animal produzida por uma glândula especializada (Pough et al., 1993). Dentre os animais peçonhentos, alguns artrópodos de importância médica destacam-se por sua diversidade, abundância e pelos acidentes provocados que causam irritações, queimaduras locais e até o óbito da vítima (Freitas et al., 2006). Os animais peçonhentos que serão abordados nesse estudo pertencem ao grupo dos artrópodes, escorpiões e aranhas, e ao grupo dos répteis, as serpentes. 1.2. OS ESCORPIÕES E O ESCORPIONISMO Os escorpiões pertencem à classe Arachnida e à ordem Scorpiones. São animais ativos à noite e durante o dia se escondem em abrigos podendo ser confundidos com o ambiente ou até parecerem mortos, o que aumenta o risco de uma pessoa ser ferroada. O manuseio com materiais de construção ou entulhos aumentam a possibilidade de acidentes ocorrerem em ambientes urbanos (Soares et al., 2002). Aproximadamente 95% das espécies se reproduzem sexuadamente (Lourenço, 1995). Animais partenogenéticos se reproduzem sem a contribuição gênica paterna e não há fecundação, já os hermafroditas possuem os dois sexos e podem ou não, dependendo da espécie, realizar a autofecundação (Pough, 1993). Dentre os escorpiões, existem espécies que são partenogenéticas e que diferem das hermafrofitas por possuírem uma forte habilidade de dispersão e um potencial reprodutivo muito maior (Lourenço, 1995). 16 Segundo Lourenço (1995), os escorpiões são divididos em duas categorias ecológicas: os “oportunistas” e os chamados “em equilíbrio”. As espécies em equilíbrio vivem em um ambiente estável, natural, produzindo poucos ovos, com baixas densidades populacionais e são altamente endêmicos. Já as espécies oportunistas, como as pertencentes aos gêneros Centruroides, Tityus e Isometrus, invadem ambientes deturpados, produzem múltiplos ovos de uma só vez. Além disso, o desenvolvimento embrionário é curto, possuem alta densidade populacional, rápida mobilidade e são amplamente distribuídos (Lourenço, 1995). São 1.400 espécies de escorpião conhecidas atualmente e a família Buthidae é a maior e mais amplamente distribuída tanto no Brasil quanto em todo o mundo (Soares et al., 2002). Possuem uma grande importância epidemiológica para a população, incluindo 25 espécies que são consideradas perigosas para o homem (Soares et al., 2002). Segundo Pardal et al. (2003), todas as espécies de escorpião possuem glândula de veneno e uma similaridade na composição de sua peçonha. Estas possuem uma mistura complexa de aproximadamente 70 aminoácidos e suas manifestações clínicas possuem efeitos principalmente parassimpáticos ou simpáticos, devido a liberação de catecolaminas e acetilcolinas pelas terminações nervosas pós-ganglionares cujas consequências serão neurotoxidade e cardiotoxidade (Pardal et al., 2003). Os primeiros estudiosos sobre a peçonha dos escorpiões e seus efeitos de envenenamento foram Murano em 1915 e Vital Brazil em 1918, seguidos por Magalhães e Tupinambá, todos na região Sudeste (Pardal et al., 2003; Lira-da-Silva et al., 2000). O envenenamento por escorpiões ocorre pela inoculação de veneno através do ferrão ou aguilhão, localizado na cauda de todos os escorpiões (Alcântara, 2009). A estimulação de terminações nervosas sensitivas determina o aparecimento do quadro local, de instalação imediata e caracterizada por dor intensa, edema e eritema discretos, sudorese localizada em torno do ponto de picada e piloereção (Alcântara, 2009). Segundo Pardal et al. (2003), os sintomas de uma pessoa que foi picada por um escorpião no Brasil são semelhantes entre si, sendo o quadro principal constituído de dores locais, náuseas, vômitos, dor abdominal, sialorréia, arritmias cardíacas, 17 hipertensão ou hipotensão, choque, edema agudo de pulmão, tremores e confusão mental (Horta et al., 2007). Mas, dependendo da gravidade do acidente, esses sintomas podem se constituir principalmente de manifestações locais e autonômicas, com raro comprometimento neurológico. A gravidade depende de fatores como a espécie e o tamanho do escorpião, a quantidade de veneno inoculado, a massa corporal do acidentado e a sensibilidade do paciente ao veneno (Lira-da-Silva et al., 2000). Os acidentes escorpiônicos representam um grande problema de saúde pública para os países tropicais e subtropicais como o Brasil, México, Tunísia, Marrocos, África do Sul, Egito e Estados Unidos da América, principalmente na zona urbana, devido à grande densidade demográfica e possibilidade de confronto (Pardal et al., 2003; Soares et al., 2002). Segundo Cupo et al. (1994), picadas de escorpião no Brasil são importantes não só pela sua incidência, mas também pela sua capacidade em causar acidentes graves e até fatais, principalmente em crianças. O agravo dos acidentes por picadas de escorpião no mundo se deve, entre outros fatores, à alta incidência e à gravidade dos casos, assim como à dificuldade de gestão da área de saúde, ultrapassando 1.200.000 casos anuais com mais de 3.250 mortes no mundo (Albuquerque et al., 2009). Somente no Brasil, mais de 6.000 acidentes escorpiônicos com mais de 100 mortes foram relatados durante um período de três anos (Lourenço, 1995). Segundo Pardal et al. (2003), todos os escorpiões de interesse médico no Brasil estão agrupados no gênero Tityus e suas espécies representam 60% da fauna escorpiônica neotropical. Podem causar acidentes graves e é provável que todas as espécies deste gênero apresentem um veneno ativo contra homem. As principais espécies são o T. serrulatus, T. bahiensis e T. stigmurus (Pardal et al., 2003; Lira-daSilva et al., 2000; Soares et al., 2002). Segundo Albuquerque et al. (2009), após estudo realizado nas cidades de Paudalho e São Lourenço da Mata, Pernambuco, a espécie Tityus pusillus deve ser incluída na lista de espécies de importância médica no Brasil. Segundo Soares et al. (2002), a espécie T. serrulatus ocorre na Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Pará e Goiás. Algumas características dessa espécie são: coloração amarelada, o que originou o nome popular de escorpião 18 amarelo; medem até 7cm de comprimento; suas populações são formadas apenas por fêmeas que são partenogenéticas, sendo que cada fêmea pode ter três, quatro ou mais parições e cerca de 70 filhotes durante a vida. Além disso, possuem uma fácil adaptação em ambiente urbano e, quando se encontram em boas condições, proliferam muito (Soares et al., 2002). Segundo Pardal et al. (2003), São Paulo e Minas Gerais compreendem 50% das notificações de acidentes envolvendo animais peçonhentos. Foram estimados cerca de 6.668 acidentes anuais provocados por Tityus serrulatus e T. bahiensis, incluindo 237 óbitos antes da soroterapia, nesses Estados (Pardal et al., 2003; Lira-da-Silva et al., 2000; Soares et al., 2002). A espécie que causa os acidentes de maior gravidade na América do Sul é a T. serrulatus (Pardal et al., 2003). Apesar da maioria dos acidentes escorpiônicos no Brasil serem classificados como leves, há casos de mortes e de sequelas que podem ocasionar incapacidade temporária para o trabalho e para outras atividades habituais (Soares et al., 2002). 1.3. AS SERPENTES E O OFIDISMO As serpentes pertencem à classe Reptilia e à ordem Squamata, com maior diversidade em florestas Neotropicais. Devido à sua natureza de caça, algumas espécies de serpentes podem ser agressivas para se defender, o que induz, na maioria da vezes, atitudes humanas de extermínio desses répteis (Waldez & Vogt, 2009). Existem aproximadamente 3 mil espécies de serpentes em todo o mundo, sendo que apenas 410 são consideradas perigosas para o homem (Feitosa et al., 1997). O Brasil apresenta diversas famílias de serpentes, mas dentre estas, somente duas abrangem as serpentes consideradas peçonhentas. A família Viperidae, destacando-se a subfamília Crotalinae, à qual pertencem o gêneros Crotalus (Cascavel), os gêneros que pertencem ao grupo botrópico e o gênero Lachesis (Surucucu). Todos possuindo dentição solenóglifa com dentes anteriores maiores e móveis, altamente especializados para a injeção de peçonha (Waldez & Vogt, 2009). E a família Elapidae, que engloba o gênero Micrurus, cujas espécies são conhecidas popularmente por corais verdadeiras e possuem dentição proteróglifa, com dentes anteriores maiores, fixos e 19 especializados na injeção de peçonha (Lemos et al., 2009; Azevedo-Marques et al., 2003; Waldez & Vogt, 2009). Recentemente, considerando o parafiletismo do gênero Bothrops, dados morfológicos e moleculares sugeriram a criação de um novo táxon e a reclassificação de algumas espécies. Segundo Oliveira et al. (2010), o novo gênero é chamado Bothropoides e possui onze espécies conhecidas. Essa nova classificação é aceita pela Sociedade Brasileira de Herpetologia (Oliveira et al., 2010), e então, após essa nova classificação, Bothrops e Bothropoides pertencem à um grupo denominado grupo botrópico. Segundo Nicoleti et al. (2010), nove gêneros de serpentes venenosas são reconhecidas no Brasil: Bothrops, Bothropoides, Bothriopsis, Bothrocophias, Rhinocerophis, Crotalus, Lachesis, Leptomicrurus e Micrurus. Devido as manifestações clínicas e os tratamentos com antivenenos serem os mesmos, os primeiros cinco gêneros são agrupados no chamado Bothrops sensu lato. 86,9% dos acidentes são causados por Bothrops sensu lato, 8,7% por Crotalus, 3,6% Lachesis e 0,8% por Leptomicrurus e Micrurus (Nicoleti et al., 2010). As serpentes do grupo botrópico compreendem 26 espécies, distribuídas por todo o território nacional (Sociedade Brasileira de Herpetologia, 2011). Possuem cauda lisa e as suas cores variam muito, dependendo da espécie e da região onde vivem. São popularmente chamadas de jararaca, ouricana, jararacuçu, urutu-cruzeira, jararaca-dorabo-branco, malha-de-sapo, patrona, surucucurana, combóia e caiçaca (Pinho & Pereira, 2001). A peçonha botrópica possui três atividades principais. Proteolítica ou necrosante, que determina edema inflamatório na região da picada, com lesões locais e destruição tecidual; coagulante, alterando a coagulação sanguínea, ativando a cascata da coagulação podendo induzir incoagulabilidade sanguínea por consumo de fibrinogênio; e hemorrágica, que promove liberação de substâncias hipotensoras e provoca lesões na membrana basal dos capilares por ação das hemorraginas, que associada às alterações na coagulação, promovem hemorragia (Pinho & Pereira, 2001; Ribeiro & Jorge, 1990; Azevedo-Marques et al., 2003; Martins et al., 2006; Oliveira et al., 2003). 20 Entre os sintomas de uma pessoa que foi picada por uma serpente do grupo botrópico estão as manifestações locais que podem variar entre um leve edema, equimose ou até um edema grave acompanhado de equimose, necrose e abscesso que podem levar à amputação do membro (Ribeiro & Jorge, 1990). As manifestações podem incluir ainda sangramento, insuficiência renal, choque e alteração na coagulação sanguínea, que caracterizam manifestações sistêmicas (Ribeiro & Jorge, 1990). As serpentes do gênero Crotalus são popularmente conhecidas como cascavel, cascavel-quatro-ventas, boicininga, maracambóia, maracá e são representados no Brasil por uma única espécie, Crotalus durissus, que tem uma ampla distribuição geográfica (Pardal et al., 2007). As serpentes do gênero Crotalus distribuem-se de maneira irregular pelo país, determinando as variações com que a frequência de acidentes humanos é registrada. As espécies Crotalus durissus terrifiuos e Crotalus durissus collilineatus são as mais estudadas no Sudeste brasileiro (Azevedo-Marques et al., 2003). A peçonha crotálica é uma mistura complexa de proteínas e polipeptídeos, responsáveis pelas ações neurotóxica, miotóxica e coagulante (Pardal et al., 2007). A ação neurotóxica é produzida pela crotoxina, crotamina, giroxina e convulxina. A crotoxina é a responsável pela maior toxidade do veneno. É uma neurotoxina présináptica que atua nas terminações nervosas motoras inibindo a liberação de acetilcolina pelos impulsos nervosos. Essa inibição é responsável pelos sintomas de paralisias motoras e respiratórias apresentadas pelas vítimas. A ação miotóxica é atribuída a crotoxina e mesmo a crotamina que produz lesão nos tecidos musculares. A ação coagulante é atribuída a um componente tipo trombina, capaz de alterar a coagulação sanguínea (Pardal et al., 2007; Azevedo-Marques et al., 2003). As serpentes do gênero Lachesis são popularmente conhecidas por surucucu, surucucu-pico-de-jaca, surucutinga e malha-de-fogo (Pinho & Pereira, 2001). Segundo Pinho & Pereira (2001), essas serpentes também são animais de importância médica no Brasil e são mais encontradas em áreas florestais como Amazônia, Mata Atlântica e alguns enclaves de matas úmidas do Nordeste. O veneno laquético possui ação proteolítica, produzindo lesão tecidual; ação coagulante, causando afibrinogenemia e incoagulabilidade sanguínea; ação 21 hemorrágica, pela presença de hemorraginas e ação neurotóxica com alterações de sensibilidade no local da picada, da gustação e da olfação (Pinho & Pereira, 2001). Outro gênero importante para a saúde pública é o Micrurus. As serpentes desse gênero compreendem 24 espécies distribuídas em todo o território brasileiro (Sociedade Brasileira de Herpetologia, 2011). São conhecidas popularmente como cobra coral ou cobra coral verdadeira (Centro de Informações Toxicológicas SC, 2011). As espécies mais comuns são a M. corallinus, encontrada na região sul e litoral da região sudeste; M. frontalis, também encontrada nas região sul, sudeste e parte do centro-oeste e M. lemniscatus, distribuídas nas regiões norte e centro-oeste (Pinho & Pereira, 2001). Segundo Pinho & Pereira (2001), o veneno elapídico possui constituintes tóxicos denominados de neurotoxinas. Essas substâncias possuem baixo peso molecular e são rapidamente absorvidas e difundidas para os tecidos, o que explica o rápido aparecimento dos sintomas de envenenamento (Pinho & Pereira, 2001). As serpentes peçonhentas representam um problema de Saúde Pública, principalmente em países tropicais, pela frequência com que ocorrem e pelas mortes que ocasionam (Pinho et al., 2004). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) (2011), 2.500.000 acidentes por serpentes peçonhentas e 125.000 mortes ocorrem anualmente no mundo. Na África o sistema de informação é impreciso e não se pode ter um número certo de acidentes com animais peçonhentos, mas dos 500.000 ofidismos notificados, 40% não são hospitalizados, resultando em 20.000 óbitos por ano (Pinho et al, 2004). Na Ásia, principalmente na Índia, no Paquistão e na Birmânia, os acidentes com serpentes ocasionam 25.000 a 35.000 mortes por ano. Já no Japão a letalidade é de menos de 1% ao ano e a incidência de 1 para 100.000 habitantes (Pinho et al, 2004). Segundo o Ministério da Saúde (2011), ocorrem entre 19.000 a 22.000 acidentes ofídicos anualmente no Brasil e a letalidade é de 0,45% aproximadamente. Segundo a Coordenação Nacional de Controle de Zoonozes e Animais Peçonhentos (CNCZAP) do Ministério da Saúde (2011), ocorreram 81.611 acidentes no período de 1990 a 1993, com maior ocorrência na região Centro-Oeste do Brasil, e a maioria desses acidentes foi por serpentes do grupo botrópico e pelo gênero Crotalus (Brasil, 2001). Segundo Ribeiro et al. (1998), os fatores prognósticos para a ocorrência 22 das mortes causadas por picadas de serpentes peçonhentas ainda são mal estabelecidos, mas os resultados indicam que a maioria dos acidentes é causada pelo grupo botrópico e são mais freqüentes as mortes por Crotalus. O diagnóstico da pessoa que sofreu um acidente com serpente é realizado com base nas alterações clínico-laboratoriais e na identificação do animal envolvido (Machado et al., 2010; Azevedo-Marques et al., 2003). O tratamento consiste na soroterapia e medidas que visam a manutenção da normalidade do paciente, além da prevenção do agravamento dos sintomas do acidente. O conhecimento atual da composição dos venenos e seus principais efeitos no organismo humano permitem que o médico descubra o gênero da serpente envolvida e selecione o tratamento com o antiveneno adequado (Azevedo-Marques et al., 2003). Em 14 de agosto de 1901, Vital Brazil começou a disponibilizar os primeiros tubos de soros antipeçonhentos para serem utilizados no tratamento de acidentes ofídicos. Passou então a distribuir, junto com as ampolas de soro, o Boletim para observação de Accidente Ophidico, para ser preenchido com as informações de cada acidente (Bochner & Struchiner, 2003). O soro antibotrópico começa a agir logo após a sua aplicação, neutralizando as toxinas do veneno da serpente encontradas no sangue. A soroterapia precoce constitui o fator mais importante para o sucesso do tratamento do acidente botrópico (Machado et al., 2010). Apesar da importância dos acidentes ofídicos para a saúde pública de vários países latino-americanos, aspectos relacionados à pesquisa epidemiológica, ao acesso ao tratamento e à qualificação de profissionais em saúde ainda são negligenciados pelas políticas públicas nacionais (Waldez & Vogt, 2009). 23 1.4. AS ARANHAS E O ARANEÍSMO As aranhas são animais que pertencem ao Filo Arthropoda, à classe dos aracnídeos e à ordem Araneae. Algumas espécies possuem grande importância médica no Brasil por causarem acidentes, às vezes graves, ao homem (Isbister, 2011). São 40 mil espécies de aranhas conhecidas, distribuídas em 109 famílias em todo o mundo, das quais aproximadamente 70 famílias possuem registros no Brasil (Carvalho & Avelino, 2010). Segundo Carvalho & Avelino (2010), os trabalhos sobre a incidência das aranhas nas regiões do Brasil, ainda são escassos. Segundo Isbister (2011), as aranhas de maior interesse médico no Brasil pertencem aos gêneros Loxosceles (aranha-marrom), Phoneutria (aranha-armadeira) e Latrodectus (viúva-negra). O gênero Loxosceles (aranha-marrom) pertence à família Sicariidae. Segundo Isbister (2011), são mais de 100 espécies distribuídas por todo o mundo, mas a maior ocorrência é na América do Sul, onde se tornaram um grave problema de saúde pública. A aranha-marrom tem hábitos noturnos e são encontradas em ambientes secos, em baixo de pedras e em árvores. A picada da aranha-marrom possui algumas manifestções como dor, eritrema que pode se desenvolver para necrose, e pode ainda causar manifestações sistêmicas como hemólise intravascular e falência renal (Isbister, 2011). As aranhas do gênero Phoneutria, popularmente chamadas de “armadeiras”são restritas à América do Sul e, no Brasil, quatro espécies são mais comuns: P. fera e P. reidyi encontradas na Amazônia, e P. keyserlingi e P. nigriventer amplamente distribuídas (Bucaretchi et al., 2000). A aranha-armadeira pode atingir até 15 cm, não constrói teia geométrica e tem hábito agressivo, podendo saltar a uma distância de 40 cm. Essas espécies comumente podem ser achadas dentro de sapatos, escondidas em materiais de construção, assim como em cachos de banana, o que explica a grande frequência de picadas nos dedos e nas mãos (Bucaretchi et al., 2000). Segundo o Ministério da Saúde (2011), esse gênero é o segundo mais importante causador de acidentes no Brasil. Os sintomas são representados por um quadro bastante semelhante ao do escorpionismo, com dor local, acompanhada de edema e eritema discretos e sudorese na região da picada (Isbister, 2011). 24 O gênero Latrodectus é representado pela viúva-negra, uma aranha pequena que constrói teia irregular e vive em vegetações arbustivas e gramíneas, podendo apresentar hábitos domiciliares e peridomiciliares (Isbister, 2011). A pessoa envenenada por essa aranha apresenta como sintomas: dor local e pápula eritrematosa no local da picada, acompanhados de hiperrexia, tremores e contrações musculares espasmódicas (Portal São Francisco, 2011). Esse gênero é amplamente distribuído pelo mundo e ainda migra entre os continentes. São 30 espécies reconhecidas presentes nas Américas, África, Europa, Ásia e Australasia (Isbister, 2011). Entre os sintomas das picadas por aranhas, o mais comum é a dor, podendo evoluir para edema, sudorese, hiperemia, parestesia e fasciculação muscular, ou em casos mais graves, para taquicardia, hipertensão, sudorese, vômitos e priapismo (Freitas et al., 2006). Na América do Sul, o loxoscelismo (acidente por aranha do gênero Loxosceles) é a forma mais severa de envenenamento por aranha, caracterizada por ser uma síndrome hemolítica-necrosante, cutânea ou cutâneo-visceral (Freitas et al., 2006; Marques-da-Silva et al., 2006). A epidemiologia dos acidentes com aranhas dependem do encontro entre o animal e o ser humano, da ecologia da aranha e do ambiente. O diagnóstico dos acidentes é feito clinicamente e também com base na história do acidente, e na identificação da espécie envolvida, quando possível (Isbister, 2011). Segundo Marques-da-Silva et al. (2006), a maior incidência de acidentes por picadas de aranha no Brasil ocorre no Estado do Paraná. Isbister (2011) afirma que as síndromes mais importantes resultantes de picada de aranha, são o Latrodectismo (acidentes com aranhas do gênero Latrodectus) e o Loxoscelismo (acidentes com aranhas do gênero Loxosceles). A sorologia é o melhor tratamento para as síndromes aracnídicas e o soro existe para muitos grupos de aranhas. Entretanto, a sorologia para o ofidismo é mais eficiente do que para os acidentes com aranhas (Isbister, 2011). Segundo Isbister (2011), o soro para Phoneutria raramente é usado, mas para Loxosceles a sorologia é sempre aplicada. A indicação do tratamento com soro é baseada na gravidade do envenenamento (Isbister, 2011). 25 Segundo Freitas et al. (2006), a classificação das picadas de aranhas como um problema de saúde pública se agrava quando a ocupação urbana acontece de forma desorganizada e o habitat desses animais se modifica. Assim como os escorpiões, as aranhas encontram boas condições de sobrevivência no ambiente urbano como: abrigo e alimentação em entulhos, lixo, obras, bueiros, além do desmatamento ao redor das cidades que estimula a migração desses animais, facilitando o contato com seres humanos (Freitas et al., 2006). A melhor maneira de prevenir os acidentes, é tentar diminuir o contato entre ser humano e aranha, e isso pode incluir o uso de produtos químicos para controlar a população dos aracnídeos nos ambientes, sendo que o sucesso pode variar entre as espécies. Repelentes químicos tem sido manufaturados em muitos países para a prevenção do loxoscelismo, mas não tem sido efetivo (Isbister, 2011). 1.5. ACIDENTES POR ANIMAIS PEÇONHENTOS COMO UM PROBLEMA DE SAÚDE PÚBLICA A OMS (Organização Mundial de Saúde) estima que cerca de mais de 5,4 milhões de acidentes por animais peçonhentos ocorrem a cada ano. Só no Brasil, isso equivale a quase 100.000 acidentes anualmente (Portal da Saúde SUS, 2011). Hoje em dia, os acidentes por animais peçonhentos constituem um sério problema de saúde pública, tanto pelo número de casos registrados, quanto pela gravidade apresentada, podendo levar à morte ou à seqüelas permanentes (Brasil, 2001). Um estudo do Centro de Controle de Intoxicações (CCI), na Unidade de Emergência do HCFMRP-USP, demonstrou que 46,5% do total de atendimentos no período de 1995 a 2000, foram por animais peçonhentos (Azevedo-Marques et al., 2003). Segundo (Azevedo-Marques et al. (2003), o tratamento do paciente que foi envenenado por animal peçonhento utilizando a sorologia, deve seguir alguns princípios básicos, para que o soro tenha sua máxima eficiência e cause o mínimo de riscos e reações adversas. A indicação da sorologia deve levar em conta: a especificidade em relação ao animal agressor; a presteza, rapidez na administração; a dosagem única, ou seja, não parcelar o total a ser administrado; doses iguais para adultos e crianças. A 26 aplicação do soro deve ser sempre intravenosa, o quanto antes for diagnosticado o acidente (Azevedo-Marques et al., 2003). Para o tratamento correto dos acidentes por animais peçonhentos, os profissionais da saúde têm acesso à um manual denominado “Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde” puplicado em 2001. Esse trabalho resulta da revisão e fusão do Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes Ofídicos (1987) com o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos (1992) e tem por objetivo fornecer subsídios técnicos para identificação, diagnóstico e conduta desse tipo de agravo à saúde (Brasil, 2001). Segundo o manual (2001), o tratamento de acidentes escorpiônicos pode ser de dois tipos: sintomático ou específico. O tratamento sintomático consiste no alívio da dor por infiltração da lidocaína a 2% sem vasoconstritor no local da picada ou uso de dipirona. O tratamento específico consiste na administração de soro antiescorpiônico (SAEEs) ou antiaracnídico (SAAr) aos pacientes com formas moderadas e graves de escorpionismo. Acidentes leves não necessitam ser tratados com sorologia, os moderados devem receber de 2 a 3 ampolas e os graves, 4 a 6 ampolas de soro antiescorpiônico (Brasil, 2001). Os pacientes que forem picados por serpentes do grupo botrópico, devem ser tratados com soro antibotrópico (SAB) ou soro antibotrópicocrotálico (SABC) por via intravenosa. Se o acidente for classificado como leve, o paciente deve receber de 2 a 4 ampolas. Se for classificado como moderado, deve receber de 4 a 8 ampolas. E se for um caso grave, deverão ser aplicadas 12 ampolas de soro (Brasil, 2001). Os acidentes por aranhas classificados como leves não devem ser tratados com sorologia. Os moderados devem receber de 2 a 4 ampolas e os casos graves devem ser tratados com 5 a 10 ampolas de soro antiaracnídico (Brasil, 2001). 27 1.6. SISTEMAS DE INFORMAÇÃO O Brasil possui uma longa tradição no campo do Ofidismo, mas só em junho de 1986, e em decorrência da morte de uma criança em Brasília devido à crise de produção de soro no país, é que foi implantado o Programa Nacional de Ofidismo na antiga Secretaria Nacional de Ações Básicas em Saúde do Ministério da Saúde (SNABS-MS), com o objetivo de iniciar uma nova etapa no controle dos acidentes por animais peçonhentos (Bochner & Struchiner, 2002). Segundo Bochner & Struchiner (2002), nessa época, os acidentes ofídicos passam a ser de notificação obrigatória, e dados sobre escorpionismo e araneísmo começam a ser coletados a partir de 1988. Essa obrigatoriedade das notificações visava a obtenção total dos soros pelo Ministério da Saúde e o estabelecimento de cotas de soros antiofídicos para as Secretarias de Saúde, de acordo com a demanda estimada para cada região (CNCZAP, 1991). Em 1993, foi implantado o Sistema de Informação de Agravos de Notificação, o SINAN, com o objetivo de acompanhar as doenças e agravos que constam na lista nacional de doenças de notificação compulsória, além de quatro outros agravos considerados de interesse nacional: acidentes por animais peçonhentos, atendimento anti-rábico, intoxicações por agrotóxicos e varicela (Fiszon & Bochner, 2007). A adoção desse sistema em 1995 pela Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos (CNCZAP) gerou uma reação negativa por parte dos municípios e estados, os quais se mostraram resistêntes à adoção do novo método, acabando por não enviar seus dados ao sistema, tendo como conseqüência a quebra da passagem da informação (Bochner & Struchiner, 2002; Fiszon & Bochner, 2007). Segundo Fiszon & Bochner (2007), a utilização efetiva desse sistema contribui para a democratização da informação, visto que todos os profissionais de saúde têm acesso aos dados, tornando-os disponíveis à população. Outra conseqüência do uso sistemático do SINAN é a possibilidade de diagnosticar a ocorrência de um caso na população, permitindo indicar os riscos aos quais as pessoas estão sujeitas, além de contribuir para a investigação epidemiológica de determinada área geográfica (Fiszon & Bochner, 2007). 28 A maioria das notificações é registrada nas Secretarias Municipais de Saúde. O registro de cada acidente é realizado através do preenchimento de uma Ficha Individual de Notificação (FIN) pelas unidades assistenciais para cada paciente. Esse instrumento é então encaminhado para as Secretarias Municipais, que devem repassar semanalmente os arquivos para as Secretarias Estaduais de Saúde, SES (Ministério da Saúde, 2011). Em julho de 2006, o banco de dados do SINAN começou a ser disponibilizado na internet, o que tornou possível o acesso da população às informações referentes aos acidentes no país a partir de 2001. Esse sistema passa então a estar no mesmo nível dos demais sistemas nacionais de informação do DATASUS (SIM, SINASC, SIH-SUS, SIA-SUS), que são as principais ferramentas dos estudos de epidemiologia, de planejamento e de avaliação em saúde (Fiszon & Bochner, 2007). As notificações de acidentes registradas pelas Secretarias Estaduais de Saúde e não registradas no SINAN em um mesmo ano são denominadas subnotificações anuais. Como as duas bases são independentes, não se pode assegurar que todos os casos registrados nas Secretarias Estaduais de Saúde sejam os mesmos contidos na base do SINAN (Fiszon & Bochner, 2007). 1.7. FICHA INDIVIDUAL DE NOTIFICAÇÃO A Ficha Individual de Notificação (FIN) é um material que deve ser preenchido pelos profissionais de saúde quando um paciente chega ao hospital com suspeita de problema de saúde decorrente de picada por animal peçonhento. Este instrumento deve ser repassado às unidades responsáveis das Secretarias Municipais de Saúde, e estas devem, semanalmente, repassá-los às Secretarias Estaduais de Saúde (Portal da saúde SUS, 2011). A figura 1 representa uma réplica da FIN para acidentes por animais peçonhentos e os campos circulados de vermelho representam as informações que foram analisadas e utilizadas na construção de uma nova ficha para servir como material de estudo para o trabalho. 29 30 Figura 1: Réplica da Ficha Individual de Notificação (Ministério da Saúde, 2011). Os campos circulados de vermelho, , representam os dados analisados e repassados à ficha construída a partir da FIN. 31 1.8. VISCONDE DO RIO BRANCO O município Visconde do Rio Branco (Figura 2) está localizado na região da Zona da Mata mineira delimitando uma área de 241,2 Km2, distando da capital Belo Horizonte aproximadamente 292 Km (Visconde do Rio Branco, 2011). Figura 2: Localização do município de Visconde do Rio Branco em Minas Gerais Segundo dados do IBGE (2011), em 2010, a população total de Visconde do Rio Branco era de 37.942 habitantes. De acordo com o censo demográfico do IBGE em 2000, a população urbana cresceu entre os anos de 1970 e 2000, ao contrário da população rural, que decresceu entre esses anos, indicando a crescente existência de emigração do ambiente rural. A população urbana, no ano de 2000, foi maior do que a rural, atingindo aproximadamente 79,4% do total (Visconde do Rio Branco, 2011). 32 Nenhum trabalho de análise envolvendo acidentes por animais peçonhentos nesse município foi encontrado, o que nos motivou a realizar o presente estudo. Além disso, a facilidade em conseguir os dados necessários para a pesquisa, contribuiu para a escolha dessa cidade. 33 2. OBJETIVO 2.1. Objetivo geral O presente trabalho tem por objetivo analisar as informações de acidentes causados por animais peçonhentos no município de Visconde do Rio Branco ocorridas no período de 2007 a 2010. 2.2. Objetivos específicos Comparar os registros de informação produzidos pelo(s) pólo(s) de atendimento para acidentes por animais peçonhentos no Município de Visconde do Rio Branco com os dados disponibilizados no SINAN. Além disso, analisar a exatidão do SINAN na identificação dos acidentes por animais peçonhentos, contribuindo para o aperfeiçoamento dos processos de captura e disponibilidade das informações sobre acidentes por animais peçonhentos em nosso país. 34 3. METODOLOGIA 3.1. ÁREA DO ESTUDO Visconde do Rio Branco, localizado em Minas Gerais, na Zona da Mata, foi o município escolhido para a realização da pesquisa. Os critérios que basearam essa escolha foram a facilidade em conseguir os dados na Secretaria de Saúde do município devido à minha naturalidade ser riobranquense, e, além disso, a ausência de trabalhos nessa área em Visconde do Rio Branco. 3.2. FICHA CONSTRUÍDA PARA ANÁLISE DA FICHA INDIVIDUAL DE NOTIFICAÇÃO A ficha a seguir, foi construída a partir da Ficha Individual de Notificação (FIN) que é usada pelos médicos para o preenchimento dos dados do acidente. Os campos considerados mais importantes foram repassados à seguinte ficha (figura 3) e todos foram preenchidos novamente à mão de acordo com as fichas originais. 35 Ficha construída para análise das fichas individuais de notificação 36 Figura 3: Ficha construída para análise das fichas individuais de notificação. 3.3. COLETA DOS DADOS Primeiramente foi feito um levantamento nas fichas de notificação dos acidentes por animais peçonhentos no município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Esses dados foram cedidos pela Secretaria Municipal de Saúde através de uma planilha do EXCEL contendo todas as informações das fichas, excetuando-se os dados de identificação do paciente. Em seguida, o banco de dados do SINAN com as informações sobre os acidentes por esses animais no município de Visconde do Rio Branco, no mesmo período, foi também levantado. 37 3.4. ANÁLISE DAS FICHAS As fichas de notificação dos acidentes com escorpião, aranha e serpente, foram analisadas quanto ao sexo do paciente, à zona de ocorrência do acidente, se rural ou urbana, e depois, foram separadas quanto ao tipo de acidente (escorpião, aranha e serpente). Em seguida, algumas variáveis foram analisadas e quantificadas, resultando em gráficos demonstrativos para cada tipo de acidente. Essas variáveis foram: o sexo do paciente; a zona de ocorrência do acidente relacionada com o sexo do paciente; o tempo decorrido entre a picada e o atendimento no hospital; a gravidade do acidente (leve, moderado ou grave); o número de ampolas de soro utilizadas no tratamento; e a faixa etária do paciente. 3.5. COMPARAÇÃO DOS DADOS As informações que podem ser acessadas na internet através do SINAN foram comparadas, quanto à existência ou ausência de alguns campos das fichas, com as notificações geradas pela Secretaria Municipal de Saúde de Visconde do Rio Branco. As variáveis analisadas nas fichas foram, o tipo de acidente (escorpião, serpente ou aranha); a zona de maior ocorrência (rural ou urbana); o sexo do paciente; a gravidade do caso (leve, moderado ou grave); a sorologia (se foi ou não aplicada e quantas ampolas foram utilizadas); e a faixa etária (distribuída de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde). 38 4. RESULTADOS 4.1. ANÁLISE GERAL DOS ACIDENTES REGISTRADOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO NO PERÍODO DE 2007 A 2010. O número de acidentes por animais peçonhentos incluindo escorpião, aranha e serpente, ocorridos no município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010, resultou em 158 casos. Desses, a maioria foi por picadas de escorpião atingindo 121 casos, os acidentes aracnídicos foram apenas 15 e os ofídicos foram 21 casos. Além desses, somente um acidente foi ignorado, ou seja, não foi especificado o tipo de animal envolvido. Esses dados podem ser observados na figura 4. Escorpião Serpente Aranha Ignorado 1% 9% 13% 77% Figura 4. Porcentagem de acidentes causados por animais peçonhentos no período de 2007 a 2010 em Visconde do Rio Branco. Desses acidentes, a maioria é representada por picadas em pacientes do sexo masculino, com 96 dos 158 casos, como mostra a figura 5. 39 Masculino Feminino 39% 61% Figura 5. Porcentagem dos acidentes distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Além disso, os acidentes foram analisados de acordo com a zona de ocorrência na cidade. O preenchimento desse campo da ficha variou entre zona rural e zona urbana, além de fichas que apresentaram o campo não preenchido. De acordo com a figura 6, pode-se observar que a maior parte dos acidentes ocorreu na zona urbana. Rural Urbana Não preenchido 4% 41% 55% Figura 6. Porcentagem dos acidentes por animais peçonhentos de acordo com a zona de ocorrência do município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. . 40 4.2. ANÁLISE DOS ACIDENTES ESCORPIÔNICOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO NO PERÍODO DE 2007 A 2010. De acordo com as análises feitas nas fichas de notificação dos acidentes escorpiônicos, foi possível observar que a maioria dos casos ocorreu em pacientes do sexo masculino. Esses dados podem ser verificados no gráfico da figura 7. Masculino Feminino 39% 61% Figura 7. Porcentagem dos acidentes escorpiônicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Pôde-se ainda observar que a maior parte dos casos ocorreu na zona urbana, tanto em casos do sexo masculino como em casos do sexo feminino. Esses dados estão presentes na figura 8 e 9, respectivamente. 41 Rural Urbana Não preenchido 3% 36% 61% Figura 8. Distribuição dos acidentes escorpiônicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Distribuição dos acidentes escorpiônicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Rural Urbana Não preenchido 4% 30% 66% Figura 9. Distribuição dos acidentes escorpiônicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. O tempo decorrido entre a picada pelo animal peçonhento e o atendimento pelo médico variou de 0 a 12 horas, sendo que a maioria ocorreu entre 0 e 1 hora, além de um caso que foi ignorado e 10 casos que tiveram esse campo não preenchido. Esses dados podem ser observados na figura 10. 42 Número de acidentes escorpiônicos 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Tempo de atendimento Figura 10. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes escorpiônicos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Os acidentes escorpiônicos foram classificados como leve, moderado e grave. Nenhum caso foi ignorado, porém dez fichas não classificaram o acidente, ou seja, tiveram o campo não preenchido. A maioria dos casos foi classificada como leve, com 77 dos 121 casos e a minoria foi classificada como grave, com apenas 6 dos 121 casos, como pode ser observado na figura 11. 43 Número de acidentes escorpiônicos 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Leve Moderado Grave Ignorado Não preenchido Classificação do acidente Figura 11. Gráfico representando a classificação dos acidentes escorpiônicos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. De acordo com o manual de diagnóstico, os acidentes classificados como leves não necessitam de sorologia (Brasil, 2001). Através da análise das fichas, o número de ampolas para essa classificação de acidente variou de 2 a 8. Dos 77 acidentes classificados como leves, somente cinco não foram tratados com soro, e na maior parte dos casos, 40 em 77, foram utilizadas 4 ampolas de soro antiescorpiônico. Esses dados podem ser observados na figura 12, na qual as barras amarelas marcam o número de ampolas utilizadas incorretamente (Brasil, 2001). 44 40 Número de pacientes 35 30 25 20 15 10 5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 12. Acidentes por picadas de escorpião classificados como leves em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Os pacientes que tiveram seus acidentes classificados como moderados devem receber de 2 a 3 ampolas de soro antiescorpiônico (Brasil, 2001). Dos 28 casos moderados, cinco pacientes receberam 2 ampolas e seis receberam 3 ampolas. A maior parte, 13 pacientes, recebeu 4 ampolas, o que está fora do recomendado pelo manual. Além disso, duas pessoas receberam 5 ampolas, uma recebeu 6 ampolas e uma recebeu 8 ampolas de soro antiescorpiônico. Esse dados podem ser verificados no gráfico da figura 13, no qual as barras amarelas marcam o número de ampolas que foi utilizado incorretamente. 45 14 Número de pacientes 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 13. Acidentes por picadas de escorpião classificados como moderados em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. O número de ampolas que devem ser utilizadas em casos classificados como graves varia de 4 a 6 (Brasil, 2001). Na análise das seis fichas, quatro pacientes receberam 4 ampolas de soro antiescorpiônico e dois pacientes receberam 6 ampolas. Ou seja, todos os casos graves receberam o número de ampolas correto de acordo com o manual de diagnóstico. Esses dados podem ser observados na figura 14. 46 4 Número de pacientes 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 14. Acidentes por picadas de escorpião classificados como graves em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Analisando ainda as 121 fichas, dez tiveram o campo de classificação da gravidade do acidente não preenchido. Dessas, em seis acidentes os pacientes foram tratados com 4 ampolas de soro antiescorpiônico e um paciente foi tratado com 7 ampolas do mesmo soro, sem que o acidente tenha sido classificado como leve, moderado ou grave. Além disso, um paciente foi tratado com 4 ampolas de soro antibotrópico e dois foram tratados com sorologia, mas não foi especificado o tipo nem a quantidade de soro utilizada. A idade média das vítimas se dividiu entre 5 a 14 anos, representando 24,8 %, de 25 a 49 anos, representando 25,6 % dos casos e maiores de 50 anos representando 24%. Esses dados estão representados na tabela 1. 47 Tabela 1: Distribuição dos acidentes escorpiônicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 à 2010. Faixa etária (anos) <1 1a4 5 a 14 15 a 24 25 a 49 > 50 Não preenchido Total Número de acidentes 3 12 31 16 30 29 0 121 4.3. ANÁLISE DOS ACIDENTES OFÍDICOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO NO PERÍODO DE 2007 A 2010. As fichas de notificação que classificaram o tipo de acidente como ofídico totalizaram 21 casos. Todos, com exceção de uma ficha que teve esse campo marcado como ignorado, foram classificados como botrópico, que são os acidentes causados pelas serpentes do grupo botrópico. Segundo o Ministério da Saúde (2011), 90% do acidentes ofídicos no Brasil são botrópicos. A maioria dos acidentados nesse período foi do sexo masculino, com 15 pacientes dos 21, como pode ser observado na figura 15. Masculino Feminino 29% 71% Figura 15. Porcentagem dos acidentes ofídicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. 48 Além disso, pode-se notar, através das figuras 16 e 17, que a maioria dos acidentes com serpentes ocorre na zona rural, tanto nas análises feitas com o sexo masculino, quanto nas análises feitas com o sexo feminino. Esses dados são contrários aos acidentes por escorpiões, nos quais a maioria ocorre na zona urbana. Dos seis acidentes classificados como femininos, uma ficha teve o campo de identificação da zona de ocorrência do acidente não preenchido. Rural Urbana 0% 27% 73% Figura 16. Distribuição dos acidentes ofídicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Rural Urbana Não preenchido 17% 50% 33% Figura 17. Distribuição dos acidentes ofídicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. 49 Nos 21 casos classificados como ofídicos, o tempo decorrido entre a picada pelo serpente e o atendimento pelo médico variou de 0 a 24 horas ou mais, sendo que a maior parte do atendimento ocorreu entre 0 e 1 hora, assim como nos casos escorpiônicos. Nenhum caso teve o campo ignorado ou não preenchido. Esses dados Número de acidentes ofídicos podem ser observados na figura 18. 14 12 10 8 6 4 2 0 Tempo de atendimento Figura 18. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes ofídicos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. De acordo com a classificação do acidente em leve, moderado ou grave, a grande maioria dos acidentes por serpentes foi classificada como leve, representando 14 casos dos 21. Nenhuma ficha foi marcada como acidente grave. Além disso, um caso foi ignorado e um outro teve o campo não preenchido. Esses dados pedem ser analisados na figura 19. 50 Número de acidentes ofídicos 14 12 10 8 6 4 2 0 Leve Moderado Grave Ignorado Não preenchido Classificação do acidente Figura 19. Gráfico representando a classificação dos acidentes ofídicos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Analisando o gráfico da figura 20 podemos notar que na maioria dos casos leves foram utilizadas 4 ampolas, o que está de acordo com o manual, com exceção de um Número de pacientes caso, no gráfico destacado pela barra amarela, em que foram utilizadas 5 ampolas. 12 10 8 6 4 2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 20. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes ofídicos classificados como leves, por número de pacientes. 51 Dos seis casos classificados como moderados, a maioria dos pacientes recebeu 4 ampolas. Somente o caso que utilizou 10 ampolas para tratar o paciente não estava de acordo com o manual. Esse caso aparece na barra amarela no gráfico da figura 21. 4 Número de pacientes 3.5 3 2.5 2 1.5 1 0.5 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 21. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes ofídicos classificados como moderados, por número de pacientes. Os acidentes ofídicos foram ainda analisados quanto a faixa etária. As classes de idade foram distribuídas de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos do Ministério da Saúde (Brasil, 2001). A maior parte dos acidentes ocorreu entre 25 a 49 anos, representando 52,4% dos casos, onde se concentra a força de trabalho. Esses dados estão presentes na tabela 2. 52 Tabela 2: Distribuição dos acidentes ofídicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Faixa etária (anos) <1 1a4 5 a 14 15 a 24 25 a 49 > 50 Não preenchido Total Número de acidentes 0 1 0 8 11 1 0 21 4.4. ANÁLISE DOS ACIDENTES ARACNÍDEOS REGISTRADOS NO MUNICÍPIO DE VISCONDE DO RIO BRANCO NO PERÍODO DE 2007 A 2010. Os acidentes por aranhas foram a minoria, somente 15 casos dos 158 no total. Analisando essas fichas, a maior parte dos pacientes picados foi do sexo feminino, o que pode ser observado na figura 22. Esses dados diferem dos analisados nas fichas de acidentes escorpiônicos e ofídicos, nos quais a maioria dos pacientes picados foi do sexo masculino. Masculino Feminino 47% 53% Figura 22. Porcentagem dos acidentes aracnídicos distribuídos de acordo com o sexo do paciente no município Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. De acordo com a zona de ocorrência do acidente no município de Visconde do Rio Branco, os acidentes aracnídicos tiveram mais frequência na zona rural quando 53 ocorridos em pacientes do sexo masculino. Já os acidentes com o sexo feminino tiveram igual frequência, tanto na zona rural quanto na zona urbana. Além disso, nos oito acidentes classificados como femininos, dois não especificaram a zona de ocorrência. Esses dados são observados nas figuras 23 e 24. Rural Urbana 0% 29% 71% Figura 23. Distribuição dos acidentes aracnídicos com o sexo masculino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. . Rural 25% Urbana Não preenchido 37% 38% Figura 24. Distribuição dos acidentes aracnídicos com o sexo feminino de acordo com a zona de ocorrência do município de Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. 54 Nos 15 casos classificados como aracnídicos, o tempo decorrido entre a picada pela aranha e o atendimento pelo médico variou de 0 a 12 horas, sendo que a maior parte do atendimento ocorreu entre 0 e 1 hora, assim como nos casos escorpiônicos e ofídicos. Três fichas não apresentaram o preenchimento desse campo. Podemos Número de acidentes aracnídeos observar esses dados no gráfico da figura 25. 6 5 4 3 2 1 0 Tempo de atendimento Figura 25. Gráfico representando o tempo decorrido entre a picada e o atendimento do paciente no hospital, pelo número de acidentes aracnídeos ocorridos em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. De acordo com a classificação do acidente em leve, moderado ou grave, a grande maioria dos acidentes por aranhas foi classificada como leve, representando onze casos dos 15 no total. Dois acidentes foram classificados como moderados e um como grave. Além disso, um caso teve o campo não preenchido e nenhum foi ignorado. Esses dados pedem ser analisados na figura 26. 55 Número de acidentes aracnídeos 12 10 8 6 4 2 0 Leve Moderado Grave Ignorado Não preenchido Classificação do acidente Figura 26. Gráfico representando a classificação dos acidentes aracnídeos de acordo com a gravidade em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. A identificação do acidente aracnídico de acordo com o tipo de aranha, ou seja, se foneutrismo, loxoscelismo ou latrodectismo, teve maior número de preenchimento do campo ignorado, 11 acidentes em 15 do total. Desses onze, quase todos os pacientes foram tratados com sorologia utilizando o soro antiaracnídico (SAAr) e somente um foi aplicado o soro antiloxoscélico (SALox). Dois casos identificaram o acidente como loxoscelismo, mas aplicaram o soro antiaracnídico (SAAr). E em dois pacientes que tiveram seu acidente classificado como foneutrismo, um recebeu soro antiaracnídico (SAAr) e o outro recebeu soro antiloxoscélico. Analisando os casos leves, todos receberam soro como pode ser observado no gráfico da figura 27. No gráfico, todas as barras foram amarelas, o que indica o uso da sorologia incorreto de acordo com o manual. A maioria recebeu quatro ampolas. 56 Número de pacientes 7 6 5 4 3 2 1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 27. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como leves, por número de pacientes. Os dois casos classificados como moderados utilizaram soro, mas somente em um paciente a sorologia foi adequada. No outro acidente, cinco ampolas de soro antiaracnídico foram aplicadas no paciente, enquanto que o manual sugere o uso de duas a quatro ampolas por acidente classificado como moderado. A figura 28 contém essas informações mostrando a barra amarela que indica o uso de sorologia inadequado. 57 Número de pacientes 1 0.9 0.8 0.7 0.6 0.5 0.4 0.3 0.2 0.1 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampola Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Número de ampolas utilizadas de forma incorreta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 28. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como moderados, por número de pacientes. Dos 15 acidentes aracnídicos, somente um caso foi classificado como grave. A sorologia foi usada com a aplicação de dez ampolas de soro antiaracnídico, como pode ser observado na figura 29. Esse caso está de acordo com o manual que sugere o uso de cinco a dez ampolas para casos classificados como graves. 58 Número de pacientes 1 0.8 0.6 0.4 0.2 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 Número de ampolas Número de ampolas utilizadas de forma correta de acordo com o Manual de Diagnóstico e Tratamento dos acidentes com animais peçonhentos. Figura 29. Distribuição do número de ampolas utilizadas nos acidentes aracnídicos classificados como graves, por número de pacientes. Os 15 casos classificados como aracnídicos foram analisados quanto a faixa etária. Dos acidentes, a maior parte ocorreu em pessoas com mais de 50 anos, representando 46,6% dos casos. Os dados são observados na tabela 3. Tabela 3: Distribuição dos acidentes aracnídicos de acordo com a faixa etária do paciente em Visconde do Rio Branco no período de 2007 a 2010. Faixa etária (anos) <1 1a4 5 a 14 15 a 24 25 a 49 > 50 Não preenchido Total Número de acidentes 0 2 0 1 5 7 0 15 59 4.5. ANÁLISE DAS FICHAS DE NOTIFICAÇÃO E DOS DADOS DO SINAN A análise do número de notificações registradas no SINAN de acordo com o ano de ocorrência dos acidentes resultou no gráfico da figura 30. O ano de 2008 e de 2009 foram os que tiveram o maior número de casos e em 2010 foram registrados o menor número de acidentes. Número de acidentes por animais peçonhentos 60 50 40 30 20 10 0 2007 2008 2009 2010 Ano de ocorrência dos acidentes Número de acidentes Figura 30: Número de acidentes por animais peçonhentos registrados no município de Visconde do Rio Branco nos anos de 2007, 2008, 2009 e 2010. As fichas de notificação foram comparadas com dados disponibilizados na base do SINAN, local onde toda a população tem acesso. No quadro 1 é possível observar os campos que estão presentes nas fichas de notificação e os que estão ou não presentes no site do SINAN. 60 Quadro 1: Comparação entre os dados que são disponibilizados pelo SINAN-Web e os dados das fichas de notificação que são disponibilizadas pelas Secretarias Municipais de Saúde. Campos das fichas Número da Secretaria Municipal de Saúde SINAN V X Data do acidente V V Faixa etária V V Sexo V V Raça V V Gestante V V Escolaridade V X V V V X V V Local da picada V X Manifestações locais V X V X Tipo de acidente V V Tipo de serpente V V Tipo de aranha V V Classificação do caso V V Soroterapia V X Número de ampolas V X Complicações locais V X V X notificação Município de ocorrência Zona de ocorrência Tempo picadaatendimento Manifestações sistêmicas Complicações sistêmicas 61 Acidente relacionado ao trabalho Evolução do caso V X V V Legenda: V: Campo presente X: Campo ausente : Indica a existência de diferença entre os dados do SINAN e os dados das FINs da Secretaria Municipal de Saúde. 62 5. DISCUSSÃO 5.1. ACIDENTES ESCORPIÔNICOS Analisando o tipo de acidente ocorrido em Visconde do Rio Branco entre 2007 e 2010, o maior número de casos envolveu os acidentes escorpiônicos, atingindo 76,6% do total. Segundo um levantamento da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, o número de acidentes com animais peçonhentos dobrou na última década no Estado e os escorpiões tem sido os principais causadores desses ataques, alcançando 46,5% do total (Agência FAPESP, 2011). Segundo Cupo et al. (1994), picadas de escorpião no Brasil são importantes não só pela sua incidência, mas também pela sua capacidade em causar acidentes graves e até fatais, principalmente em crianças. Em nosso estudo, a faixa etária de 5 a 14 anos representou 24,8% dos casos, uma parcela relevante dos acidentes, corroborando com os resultados de Cupo et al. (1994). O sexo masculino teve maior frequência representando 61% dos casos. Esses resultados obtidos estão de acordo com Pardal et al. (2003) no qual 83,3% dos 72 acidentes por escorpiões atendidos no Hospital Municipal de Santarém foram acometidos no sexo masculino. Segundo Soares et al. (2002), a ocorrência maior de acidentes com o sexo masculino pode estar relacionada com o tipo de profissão que é exercida pelos homens, ou seja, pessoas que trabalham em serrarias ou depósitos de madeira, em construções com tijolos, em pedreiras ou marmorarias estão mais propensas a serem ferroadas. Com relação a zona de ocorrência dos acidentes, a zona urbana foi o local de maior frequência. Dos 121 casos escorpiônicos ocorridos entre 2007 a 2010, 76 foram na zona urbana. Segundo Soares et al. (2002), o escorpião amarelo, embora tenha vindo do cerrado e de campos abertos, se adaptou muito bem à vida domiciliar urbana, possivelmente em decorrência da rápida e desorganizada colonização pelo homem das regiões antes ocupadas pelo aracnídeo. Outros fatores que favoreceram essa adaptação foram as condições oferecidas pelas moradias humanas, com muitas possibilidades de abrigos, como lixo, entulhos, pilhas de tijolos e telhas, e uma alimentação farta, com baratas e outros insetos (Soares et al., 2002). Além disso, a falta de competidores e de 63 predadores como macacos, quatis, seriemas, sapos e rãs, são fatores de grande importância no controle populacional das espécies de escorpião (Soares et al., 2002). O tempo de atendimento dos pacientes no presente estudo ocorreu entre 0 a 1 hora, o que difere do trabalho realizado no Hospital Municipal de Santarém, Pará, no qual o tempo de atendimento foi superior, aproximadamente de 3,2 a 4,6 horas após a picada (Pardal et al., 2003). De acordo com Pardal et al. (2003), a maioria dos acidentes escorpiônicos no Brasil são classificados como leves, e nos casos graves a letalidade chega a 0,58% dos casos. Esses dados corroboram com os resultados do nosso estudo em Minas Gerais, no qual 77 dos 121 casos, aproximadamente 63,6%, foram classificados como leves e em nenhum caso ocorreu o óbito. Além disso, um estudo feito no Estado da Bahia possui resultados semelhantes, no qual 94% dos envenenamentos foram classificados como leves e todos evoluíram para a cura (Lira-da-Silva et al., 2000). Diferente do estudo feito em Santarém, no Pará, no qual a soroterapia específica foi realizada em 67,3% dos casos moderados e em 92,5% dos casos em geral não foi aplicado o soro, no presente estudo, em somente cinco pacientes, classificados como leves, a sorologia não foi aplicada, ou seja, em aproximadamente 96% dos acidentes classificados tanto como leves, moderados ou graves, a sorologia foi aplicada (Lira-daSilva et al., 2000). Relacionando-se o número de ampolas com a gravidade, observou-se a utilização de 4 ampolas em média para os casos leves, moderados e graves. Esses dados não estão de acordo com o trabalho de Lira-da-Silva et al. (2000) no qual os acidentes leves receberam de 7,5 a 3,5 ampolas em média, 4 a 1,7 ampolas para os moderados e 6,5 a 2,1 nos casos graves. A utilização de soro em 93,5% dos casos leves nos quais 4 ampolas foram aplicadas, assim como nos casos leves de Lira-da-Silva et al. (2000) nos quais também fizeram uso da sorologia, demostram a necessidade de uma melhor avaliação do diagnóstico do caso e indicação de soroterapia, já que não é recomendada a utilização de soro para os acidentes leves e somente para os moderados (2 a 3 ampolas) e graves (4 a 6 ampolas); (Brasil, 2001). A parcela dos pacientes que tiveram o acidente classificado como moderado e que foi tratada com quantidade de soro inadequada 64 representa: 46,4% que receberam 4 ampolas, 7,14% que receberam 5 ampolas, uma pessoa que recebeu 6 ampolas e outra, 8 ampolas. Dos casos graves, nenhum teve a aplicação de soro inadequada. Com relação a faixa etária, a classe mais acometida foi entre 5 a 14 anos com 31 casos, seguida da classe de 25 a 49 anos, com 30 casos e depois a classe dos maiores de 50 anos, com 29 casos. Esses dados diferem do trabalho de Soares et al. (2002) no qual a faixa etária de maior frequência dos acidentes foi de 25 a 65 anos, representando 53,4% dos casos, e corroboram com outros trabalhos como o realizado em Montes Claros, MG (Horta et al., 2007). Segundo Horta et al. (2007) as picadas de escorpião na infância são mais comuns entre os animais peçonhentos, isso se deve à biologia de vida desses artrópodes e as frequentes exposições das crianças. 5.2. ACIDENTES OFÍDICOS No período de 2007 a 2010 foram notificados 21 acidentes ofídicos. Todos esses acidentes relatados à Secretaria de Saúde de Visconde do Rio Branco foram botrópicos, com exceção de um caso no qual o tipo de serpente não foi identificado. Segundo Ribeiro & Jorge (1990), no Brasil 80% dos acidentes por serpentes são ocasionadas por serpentes do grupo botrópico. Esses resultados foram os mesmos em vários outros trabalhos realizados no Brasil (Pinho et al., 2004; Waldez & Vogt, 2009; Ministério da Saúde, 2001; Martins et al., 2006). A porcentagem dos pacientes do sexo masculino foi maior do que o sexo feminino, representando 71,4% dos acidentes, assim como nos acidentes escorpiônicos. Esses resultados obtidos estão de acordo com um estudo feito no Hospital Vital Brazil em São Paulo, sendo 80% de pacientes do sexo masculino, e também com o estudo no Estado de Goiás, no qual 78,5% dos pacientes eram do sexo masculino (Pinho et al., 2004). Ou seja, a maior ocorrência dos acidentes com o sexo masculino tem sido referida em muitos trabalhos nacionais e provavelmente deve-se à maior frequência de homens que trabalham no campo (Ribeiro & Jorge, 1990; Oliveira et al., 2010; Feitosa et al., 1997; Ribeiro et al., 1998; Waldez & Vogt, 2009; Martins et al., 2006; Vieira, 2008). 65 Com relação a idade dos pacientes, a faixa etária mais atingida no nosso estudo foi entre 25 a 49 anos. Segundo Pinho et al. (2004), as idades mais afetadas foram as primeiras e segundas décadas de vida e os indivíduos acima de 50 anos também representaram uma boa parcela da população picada. Esses resultados corroboram com o estudo feito no Estado de São Paulo e com outros trabalhos nacionais, onde a maioria dos acidentados tinham 50 anos ou mais (Ribeiro et al., 1998; Martins et al., 2006). Já de acordo com Feitosa et al. (1997), a maior frequência de acidentes está entre os indivíduos com 10 a 49 anos, onde se encontra a maior força de trabalho. Podemos notar que não é possível definir com clareza uma faixa etária específica que seja mais propensa aos acidentes escorpiônicos. O tempo decorrido entre a picada e o atendimento no hospital oscilou entre 0 e 24 horas ou mais, sendo que em aproximadamente 62% dos casos o atendimento ocorreu entre 0 e 1 hora após o acidente. Os resultados de um estudo feito no Estado de Goiás diferem dos encontrados por nós. Segundo Pinho et al. (2004), 69,5% dos pacientes foram atendidos num intervalo de tempo menor que 3 horas, 13,8% entre 3 e 6 horas após a picada, e 80% foram atendidos em menos de 6 horas. Em outro trabalho realizado no Hospital Vital Brazil do Instituto Butantan, o tempo de atendimento foi dito curto, menor que 3 horas (Oliveira et al., 2003). E ainda no Estado do Amazonas, em 2005, a média de atendimento foi de 33,14 horas após o acidente, sendo que em 67,85% dos casos, os vitimados utilizaram outras formas de terapia, como o uso de antibióticos injetáveis, do fitoterápico “específico-pessoa” e também de práticas tradicionais que envolveram elementos da fauna e da flora local na fabricação de “antídotos” (Waldez & Vogt, 2009). Com relação à gravidade do acidente, em três anos nenhum caso foi classificado como grave, e a maioria foi classificada como leve. Todos os pacientes foram tratados com antiveneno. A maioria dos acidentes leves recebeu 4 ampolas, de acordo com o manual do Ministério da Saúde (2 a 4 ampolas) (Brasil, 2001). O tratamento dos casos moderados também foram de acordo com o manual (4 a 8 ampolas), porém um paciente recebeu 10 ampolas, contrariando o recomendado. Em um estudo realizado no Estado do Amazonas em 2005, somente em 25% dos acidentes ofídicos, a sorologia foi aplicada (Waldez & Vogt, 2009). 66 A ausência de casos que levaram o paciente ao óbito pode ser indicativa da baixa gravidade do veneno botrópico. Segundo dados da notificação dos acidentes ofídicos em todo o Brasil, a letalidade da picada por Bothrops é de aproximadamente 0,5% (Ribeiro & Jorge, 1990), com exceção do maior Estado brasileiro, o Amazonas, onde a mortalidade atinge 1% (Waldez & Vogt, 2009). Analisando a zona de ocorrência dos acidentes, a zona rural foi a mais acometida, tanto em acidentes com o sexo feminino quanto em acidentes com o sexo masculino. Esses dados estão de acordo com outros trabalhos, inclusive com Feitosa et al. (1997) que realizou um estudo no Estado do Ceará e os acidentes ofídicos foram mais frequêntes em trabalhadores rurais. De acordo com o site do Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas (SINITOX) (2007), no Brasil mais de 20.000 acidentes são registrados anualmente, com uma mortalidade de 0,45% (cerca de 90 pessoas por ano), com maior frequência na zona rural. Segundo uma revisão bibliográfica realizada por Bochner & Struchiner (2003) no Brasil, neste mesmo ano, os acidentes ofídicos tiveram um perfil inalterado ao longo de 100 anos, com maior incidência no início e final do ano, maior frequência em pessoas do sexo masculino, em trabalhadores rurais, na idade entre 15 a 49 anos, e a maioria é causada por serpentes do grupo botrópico. Esses dados estão de acordo com os resultados obtidos em Visconde do Rio Branco no período estudado. 5.3. ACIDENTES ARACNÍDEOS Com relação a zona de ocorrência, a diferença entre zona rural e zona urbana quando associadas ao sexo feminino, não foi grande, já quando associadas ao sexo masculino, a zona rural foi o local de maior ocorrência. Esses dados diferem dos obtidos com relação aos escorpiões, onde a frequência de acidentes foi muito maior na zona urbana. Os resultados de um estudo realizado no Estado do Paraná por Marques-daSilva et al. (2006) mostraram uma maior incidência de acidentes na zona urbana, assim como os resultados obtidos em São Paulo, na UNICAMP (Bucaretchi et al., 2000). O sexo feminino foi predominante representando 53% dos acidentes, o que difere dos resultados com escorpião e serpente. No trabalho de Freitas et al. (2006) que analisou os acidentes em Recife-PE, os resultados também foram diferentes, 62,7% dos 67 acidentados foram do sexo masculino, assim como os resultados de um trabalho realizado na UNICAMP (Bucaretchi et al., 2000). Com relação à idade da vítima, a maior parte dos acidentados tinha mais de 50 anos (46,6%), o que difere de Marques-da-Silva et al. (2006) mostrando um resultado de crianças menores de 7 anos sendo mais atingidas no Estado do Paraná. A classificação do caso variou entre leve, moderado ou grave, mas os acidentes considerados leves representaram 76,3% do total, sendo somente dois casos moderados e um grave. No Paraná, resultados semelhantes foram obtidos quanto aos acidentes graves, com 2,1%, já os moderados representaram 50,4% e os leves somente 5,738% (Marques-da-Silva et al., 2006). A utilização de soro no tratamento dos acidentes aracnídeos não foi adequada para os casos leves, pois todos os pacientes foram tratados com antiveneno e segundo o manual de diagnóstico do Ministério da Saúde, casos leves não devem ser tratados com soro (Brasil, 2001). Em um acidente moderado foram usadas 4 ampolas, de acordo com o manual (2 a 4 ampolas) e no outro foram usadas 5 ampolas, fora do recomendado. O caso grave foi tratado corretamente, com 10 ampolas. Esses resultados obtidos sugerem uma superutilização de soro, assim como nos casos escorpiônicos. O Paraná mostrou ser o estado do Brasil que utiliza menos quantidade de soro antiaracnídico (Marques-daSilva et al., 2006). 5.5. SINAN E AS FICHAS DE NOTIFICAÇÃO De acordo com a análise dos dados disponibilizados pelo SINAN para o município de Visconde do Rio Branco, o número de acidentes por animais peçonhentos registrados pela Secretaria de Saúde Municipal aumenta de 2007 para 2008 (15 acidentes a mais), de 2008 para 2009 permanece o mesmo número (53 acidentes) e de 2009 para 2010 tem um decaimento significativo (menos 38 acidentes). Segundo dados do Ministério da Saúde, no Brasil, o número de acidentes registrados foram de 34.218 em 1995 (quando foi implantado o SINAN), passando para 19.624 em 1996, 5.744 em 1997 e 7. 119 em 1998 (Bochner & Struchiner, 2002). Esses dados sugerem a perda da informação e a carência dos dados que são repassados ao SINAN. Segundo Fiszon & Bochner (2007) é prematuro dizer que os acidentes por animais peçonhentos 68 permaneçam estáveis ao longo do tempo, pois as condições ambientais e as ações do homem sobre a natureza estão em constante mudança. Esses autores afirmam ainda, com base na análise das notificações realizadas no Estado do Rio de Janeiro entre 2001 e 2005, que houve uma crescente captação de notificações pelo SINAN nesse período, mas que esse aumento não impede a permanência de grandes diferenças entre os números registrados nas fichas de notificação e os dados disponibilizados pelo SINAN. A contagem das fichas difere dos números que são disponibilizados pelo site do SINAN (2011). O total de acidentes contabilizados no site é de 161, enquanto que são 158 fichas de notificação disponibilizadas pela secretaria de Saúde de Visconde do Rio Branco no mesmo período. Os casos ofídicos têm o mesmo número, 21, mas os escorpiônicos são 124 no site e 121 nas fichas, e os aracnídeos contabilizam somente um a mais no site, 16 acidentes. A comparação das informações disponibilizadas no site do SINAN com os campos que estão presentes nas fichas individuais de notificação, resultou em 11 campos ausentes, ou seja, aproximadamente 47,8% da informação não se torna pública, para a visualização de todos. Os campos ausentes no SINAN-Web são: número da notificação; escolaridade; zona de ocorrência; local da picada; manifestações locais; manifestações sistêmicas; soroterapia; número de ampolas; complicações locais; complicações sistêmicas; acidente relacionado ao trabalho. Alguns problemas que envolvem a educação médica brasileira, como por exemplo, a identificação dos animais peçonhentos, são fatores que têm induzido implementar, de forma mais duradoura, transformações no processo de formação do profissional da saúde. A Associação Brasileira de Educação Médica já estabelece mudanças nos currículos das faculdades de medicina, com a implementação do método chamado aprendizagem baseada em problemas (ABP). Esse método visa uma aprendizagem mais significativa, a indissociabilidade entre teoria e prática, o respeito à autonomia do estudante, o trabalho em pequeno grupo, a educação permanente e a avaliação formativa (Siqueira-Batista, 2009). Esse pode ser um fator que melhore a atuação dos profissionais da saúde, melhorando também os problemas que estão envolvidos. 69 6. CONCLUSÃO O estudo realizado permite concluir que as pessoas mais atingidas por picadas de animais peçonhentos são as do sexo masculino, sugerindo que esses acidentes estão relacionados ao trabaho. Visando diminuir esse problema, melhores condições incluindo, principalmente a proteção do trabalhador com o uso adequado de uniformes, são sugeridas. A faixa etária mais frequentemente acometida varia bastante, não sendo possível eleger uma classe de idade que se destaca. Com relação à zona de ocorrência dos acidentes, conclui-se que picadas de escorpião são mais frequentes na zona urbana sugerindo que esses animais estão muito adaptados à esses ambientes, e isso pode ser uma causa das ações humanas. Essa grande relevância de acidentes escorpiônicos no município de Visconde do Rio Branco, implica na adoção de uma política de controle desses animais, além de conscientizar a população dos perigos propostos e de como se prevenir dos acidentes. Pôde-se concluir que a sorologia está sendo utilizada, em muito casos, de forma indevida. Como consequência, além do perigo que o paciente pode passar por não estar sendo tratado adequadamente, o fornecimento de soro à região fica prejudicado. Ou seja, não há como obter uma estatística correta da quantidade de soro que o município necessita, podendo este receber mais ou menos do que realmente precisa. Para que essa situação melhore, sugere-se que o Manual de Diagnóstico e Tratamento disponibilizado pelo Ministério da Saúde seja seguido pelos profissionais da saúde e palestras sejam aplicadas para conscientizar os médicos sobre a importância de usar esse material. A queda de registros no SINAN entre 2007 e 2010 pode sugerir uma recusa por parte dos municípios em adotar esse tipo de sistema de informação. As informações coletadas, se repassadas ao SINAN de forma precária, podem conduzir a falhas na avaliação global dos acidentes. Além disso, FIN e SINAN não são estruturas dentro de um mesmo padrão prejudicando o fluxo de informação entre eles. Ou seja, os dados não são passados integralmente para o SINAN e isso impede que pesquisas sejam realizadas por aqueles que só tem acesso às informações da internet. A disponibilização de todos os dados das fichas, excetuando-se a identificação do paciente, no SINAN, possibilitaria uma melhor conscientização da população que teria acesso à toda informação do acidente. 70 7. BIBLIOGRAFIA 1. AGÊNCIA FAPESP. Ataques com animais peçonhentos dobram em dez anos. Notícias, 2011. Disponível em: <http://www.agencia.fapesp.br/Noticias>. Acesso em: 23 out. 2011. 2. ALBUQUERQUE, C. M. R.; PORTO, T. J.; AMORIM, M. L. P.; NETO, P. L. S. Escorpionismo por Tityus pusillus Pocock, 1893 (Scorpiones; Buthidae) no Estado de Pernambuco. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 42, n. 2, Abr. 2009 . 3. ALCÂNTARA, A. S.. Mecanismo venenoso. Agência FAPESP, 2009. Disponível em: <http://www.agencia.fapesp.br/Especiais>. Acesso em 23 out. 2011. 4. AZEVEDO-MARQUES, M. M.; CUPO, P.; HERING, S. E. Acidentes por Animais Peçonhentos: Serpentes Peçonhentas. Medicina. Ribeirão Preto, 36. Abr-dez 2003. 5. BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J. Acidentes por animais peçonhentos e sistemas nacionais de informação. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 18, n. 3, Jun. 2002 . 6. BOCHNER, R.; STRUCHINER, C. J. Epidemiologia dos acidentes ofídicos nos últimos 100 anos no Brasil: uma revisão. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 19, n. 1, Fev. 2003 . 7. BRASIL. Ministério da Saúde. Ofidismo: Análise epidemiológica. Brasília; 1991. 8. BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Fundação Nacional de Saúde,1998 9. BUCARETCHI, F.; DEUS REINALDO, C. R.; HYSLOP, F.; MADUREIRA, P. R.; DE CAPITANI, E. M.; VIEIRA, R. J. A clinicoepidemiological study of bites by spiders of the genus Phoneutria. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, São Paulo, v. 42, n. 1, Fev. 2000 . 10. CARVALHO, L. S.; AVELINO, M. T. L. Composição e diversidade da fauna de aranhas (Arachnida, Araneae) da Fazenda Nazareth, Município de José de Freitas, Piauí, Brasil. Biota Neotrop., Campinas, v. 10, n. 3, Set. 2010 . 71 11. CENTRO DE INFORMAÇÕES TOXICOLÓGICAS SC. Serpentes. Disponível em: <http://www.cit.sc.gov.br/index.php?p=serpentes>. Acesso em: 08 nov. 2011. 12. CNCZAP (Coordenação Nacional de Controle de Zoonoses e Animais Peçonhentos), 1991. Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes Ofídicos. Brasília: CNCZAP, Centro Nacional de Epidemiologia, Fundação Nacional de Saúde, Ministério da Saúde. 13. CUPO, P.; JURCA, M.; AZEVEDO-MARQUES, M. M.; OLIVEIRA, J. S. M.; HERING, S. E. Severe scorpion envenomation in Brazil: clinical, laboratory and anatomopathological aspects. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, São Paulo, v. 36, n. 1, Fev. 1994. 14. FEITOSA, R. F. G.; MELO, I. M. L. A.; MONTEIRO, H. S. A. Epidemiologia dos acidentes por serpentes peçonhentas no Estado do Ceará - Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 30, n. 4, Ago. 1997 . 15. FISZON, J. T.; BOCHNER, R. Subnotificação de acidentes por animais peçonhentos registrados pelo SINAN no Estado do Rio de Janeiro no período de 2001 a 2005. Rev. bras. epidemiol., São Paulo, v. 11, n. 1, Mar. 2008 . 16. FREITAS, G. C. C.; OLIVEIRA, A. E. J.; FARIAS, J. E. B.; VASCONCELOS, S. D. Acidentes por Aranhas, Insetos e Centopéias Registrados no Centro de Assistência Toxicológica de Pernambuco (1993 a 2003). Departamento de Zoologia, Centro de Ciências Biológicas, Universidade Federal de Pernambuco, Recife. Ago. 2006. 17. HORTA, F. M. B.; CALDEIRA, A. P.; SARES, J. A. S.. Escorpionismo em crianças e adolescentes: aspectos clínicos e epidemiológicos de pacientes hospitalizados. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 40, n. 3, Jun. 2007. 18. IBGE. Cidades@. Minas Gerais. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1 >. Acesso em: 07 nov. 2011. 19. ISBISTER, G. K.. Spider Bite, Newcastle, Austrália. Disciplina de Pharmacologia Clínica, Jul. de 2011, publicado online. 72 20. JORGE, M.T., RIBEIRO, L.A.. Acidentes por serpentes peçonhentas do Brasil. Rev Ass Med Bras. 1990; 36: 66-77 21. KAMIMURA, H. M., PAIVA, B. S. R., AYRES, J. A.. Sistematização da Assistência de Enfermagem: acidentes por Loxosceles gaucho. Rev. bras. de Enfer. Universidade Estadual Paulista. Botucatu, SP. Out. 2009 22. LEMOS, J. C.; ALMEIDA, T. D.; FOOK, S. M. L.; PAIVA, A. A.; SIMÕES, M. O. S.. Epidemiologia dos acidentes ofídicos notificados pelo Centro de Assistência e Informação Toxicológica de Campina Grande (Ceatox-CG), Paraíba. Rev. bras. epidemiol., São Paulo, v. 12, n. 1, Mar. 2009 . 23. LIRA-DA-SILVA, R. M.; AMORIM, A. M.; BRAZIL, T. K.. Envenenamento por Tityus stigmurus (Scorpiones; Buthidae) no Estado da Bahia, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 33, n. 3, Jun. 2000 . 24. LOURENÇO, W. R. Scorpions, Escorpionism, Life History Strategies and Parthenogenesis, J. Venom. Anim. Toxins., Botucatu, v. 1, n. 2, 1995. 25. MACHADO, A. S.; BARBOSA, F. F.; MELLO, G. S.; PARDAL, P. P. O.. Acidente vascular cerebral hemorrágico associado à acidente ofídico por serpente do gênero bothrops: relato de caso. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 43, n. 5, Out. 2010. 26. MARQUES-DA-SILVA, E.; SOUZA-SANTOS, R.; FISCHER, M. L.; RUBIO, G. B. G.. Loxosceles spider bites in the state of Paraná, Brazil: 1993-2000. J. Venom. Anim. Toxins incl. Trop. Dis, Botucatu, v. 12, n. 1, 2006 . 27. MARTINS, C. B. G.; ANDRADE, S. M. ; PAIVA, P. A. B.. Envenenamentos acidentais entre menores de 15 anos em município da Região Sul do Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, Fev. 2006 . 28. MELGAREJO, A. R. Serpentes Peçonhentas do Brasil. In: Cardoso, LC et al. Animais Peçonhentos no Brasil: biologia, clínica e terapêutica dos acidentes. São Paulo: Savier; 2003, p. 33-61 73 29. MINISTÉRIO DA SAÚDE. 2001. Manual de diagnóstico e tratamento de acidentes por animais peçonhentos. Fundação Nacional de Saúde (FUNASA), Brasília, DF. 120pp. 30. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SINAN. Disponível em: <http://dtr2004.saude.gov.br/sinanweb/>. Acesso em: 18 ago. 2011. 31. NICOLETI, A. F.; MEDEIROS, C. R.; DUARTE, M. R.; FRANÇA, F. O. S.. Comparison of Bothropoides jararaca bites with and without envenoming treated at the Vital Brazil Hospital of the Butantan Institute, State of São Paulo, Brazil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 43, n. 6, Dez. 2010. 32. OLIVEIRA, F. N.; BRITO, M. T.; MORAIS, I. C. O.; FOOK, S. M. L.; ALBUQUERQUE, H. N.. Accidents caused by Bothrops and Bothropoides in the State of Paraiba: epidemiological and clinical aspects. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 43, n. 6, Dez. 2010. 33. OLIVEIRA, R. B.; RIBEIRO, L. A.; JORGE, M. T.. Fatores associados à incoagulabilidade sangüínea no envenenamento por serpentes do gênero Bothrops. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 36, n. 6, Dez. 2003 . 34. PARDAL, P. P. O.; CASTRO, L. C.; JENNINGS, E.; PARDAL, J. S. O.; MONTEIRO, M. R. C. C.. Aspectos epidemiológicos e clínicos do escorpionismo na região de Santarém, Estado do Pará, Brasil. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 36, n. 3, Jun. 2003 . 35. PARDAL, P. P. O.; SILVIA, C. L. Q.; HOSHINO, S. S. N.; PINHEIRO, M. F. R.. Acidente por cascavel (Crotalus sp.) em Ponta de Pedras, Ilha do Marajó, Pará - Relato de caso. Rev. Para. Med., Belém, v. 21, n. 3, set. 2007 . 36. PINHO, F. M. O.; OLIVEIRA, E. S.; FALEIROS, F.. Acidente ofídico no estado de Goiás. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 50, n. 1, 2004 . 37. PORTAL DA SAÚDE SUS. Sistemas de Informação. SINAN. Disponível em: < http://portal.saude.gov.br/portal/saude/visualizar_texto.cfm?idtxt=21383 >. Acesso em: 07 nov. 2011. 74 38. POUGH, F. H., HEISER, J. B., MCFARLAND, W. N. A Vida dos Vertebrados. 1 ed. São Paulo: Atheneu, 834 pg. 1993 39. RIBEIRO, L. A.; ALBUQUERQUE, M. J.; CAMPOS, V. A. F. P.; KATZ, G.; TAKAOKA, N. Y.; LEBRÃO, M. L.; JORGE, M. T.. Óbitos por serpentes peçonhentas no Estado de São Paulo: avaliação de 43 casos, 1988/93. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v. 44, n. 4, Dez. 1998 . 40. RIBEIRO, L. A.; JORGE, M. T.. Epidemiologia e quadro clínico dos acidentes por serpentes Bothrops jararaca adultas e filhotes. Rev. Inst. Med. trop. S. Paulo, São Paulo, v. 32, n. 6, Dez. 1990 . 41. SAÚDE ANIMAL. Acidentes por animais peçonhetos. Disponível em: <http://www.saudeanimal.com.br/acidentes_animais_peconhentos.htm>. Acesso em: 16 ago. 2011. 42. SINITOX, 2007. Estatística Anual dos Casos de Intoxicação e Envenenamento de 2005. Ministério da Saúde do Brasil, Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), Sistemas Nacionais de Informação TóxicoFarmacológicas (SINITOX). Rio de Janeiro, Brasil. (http://www.fiocruz.br/sinitox). Acesso em: 23 out. 2011. 43. SIQUEIRA-BATISTA, R.; SIQUEIRA-BATISTA, R.. Os anéis da serpente: a aprendizagem baseada em problemas e as sociedades de controle. Ciênc. saúde coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 4, ago. 2009. 44. SOARES, M. R. M.; AZEVEDO, C. S.; DE MARIA, M.. Escorpionismo em Belo Horizonte, MG: um estudo retrospectivo. Rev. Soc. Bras. Med. Trop., Uberaba, v. 35, n. 4, ago. 2002 . 45. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HERPETOLOGIA. Lista de Répteis. Disponível em: < http://www.sbherpetologia.org.br/> Acesso em: 30 out. 2011. 46. VIEIRA, J. L. R.. Análises de Atendimentos de Emergência a Trabalhadores Rurais num Hospital de Nova Friburgo-RJ. Fundação Oswaldo Cruz. Dissertação de Mestrado. Rio de Janeiro. Outubro de 2008. 47. VIGILÂNCIA Compulsória. EPIDEMIOLÓGICA. Agravos Disponível de Notificação em 75 <http://www.charqueadas.rs.gov.br/vigilancia/vig_epi/agravos/acidente.h tm>. Acesso em: 18 Ago. 2011. 48. VISCONDE DO RIO BRANCO. Localização. Disponível em: < http://www.viscondedoriobranco.mg.gov.br/portal1/municipio/localizaca o.asp?iIdMun=100131852>. Acesso em: 18 out. 2011. 49. WALDEZ, F.; VOGT, R. C.. Aspectos ecológicos e epidemiológicos de acidentes ofídicos em comunidades ribeirinhas do baixo rio Purus, Amazonas, Brasil. Acta Amaz., Manaus, v. 39, n. 3, Set. 2009. 76