Polimorfismos de genes do sistema imune aspectos evolutivos e susceptibilidade ao pênfigo foliáceo Introdução Diversas moléculas desencadeiam sinais inter- e intracelulares coestimuladores ou inibidores para células de função imunológica relevante (figura 1). O sinal antígeno-específico é fornecido pela interação entre o receptor da célula T (TCR) com o peptídeo antigênico associado à molécula MHC(HLA) de classe I (para T CD8+) ou de classe II (T CD4+) (painel roxo). As interações entre os correceptores CD28, CTLA-4 e PD-1 com os ligantes da família B7 (CD80, CD86 e PD-Ls) nas células apresentadoras de antígeno (APCs), assim como das moléculas BLYS e CD40L com seus receptores, fornecem sinais secundários essenciais para a modulação da resposta imunológica. As citocinas são moléculas sinalizadoras igualmente críticas na manutenção da homeostase e indução da resposta imunológica. Os genes que codificam essas moléculas podem, portanto, influenciar a patogênese de doenças autoimunes. Vários estudos de associação caso-controle realizados no LGMH demonstraram que polimorfismos dos genes que codificam essas moléculas podem afetar a susceptibilidade/resistência ao pênfigo foliáceo (PF). Os mesmos polimorfismos foram também extensamente analisados em investigações de diversidade genética em populações, microevolução e de sua relevância funcional. ............................................................................................................... Estudos de associação e análises de expressão gênica IL4 e IL6 CD28, CDTLA4, CD80 e CD86 O alelo C do polimorfismo IL4-590C>T e o genótipo C/C de IL6-174C>T foram associados com diminuição da susceptibilidade ao PF(1). O genótipo T/T de IL4-590C>T apresentou associação positiva com a doença. CD28 e CTLA4 são genes parálogos intimamente ligados na região 2q33, assim como CD80 e CD86, em 3q21. Associações do PF foram encontradas com os polimorfismos CD86 1057G>A, CTLA4-1722T>C, CTLA4-318C>T, CTLA4+6320G>A, CTLA4(AT)n, CD28 (CAA)n, e D2S72(CA)n (5,6). PDCD1 O alelo PD1.6A foi associado com maior susceptibilidade ao PF em eurobrasileiros(2). DSG1 Foi observada tendência de aumento da frequência do genótipo DSG1 809 C/C em PF (P=0,078), consistente com os resultados de estudos nas populações da Tunísia (P=0,046) e da França (P=0,03)(7). Portanto, polimorfismos genéticos do autoantígeno desmogleína 1 podem ter um papel secundário no PF. Análises de expressão gênica CD80 e CD86 Os polimorfismos nas regiões promotoras e 5’UTR dos genes CD80 e CD86 alteraram significativamente a atividade do promotor e a expressão proteica, provavelmente em razão da alteração da afinidade de ligação de fatores de transcrição a regiões reguladoras(3). CD40, CD40L e BLYS BLYS e CTLA-4 Os níveis de BLYS e de seu RNAm assim como de CTLA-4 foram maiores em indivíduos BLYS-871C/C e CTLA4-318T+, respectivamente(4). Figura 1. Moléculas coestimulatórias das células T e APCs. Fonte: HUANG & YANG, 2011. Frontiers in Microbial Immunology, v.28. Os alelos CD40L-726C, CD40-1T e BLYS871T estão associados com menor susceptibilidade ao PF. Interessantemente, o efeito protetor de CD40L-726C e de CD40-1T somente se manifestou na presença de BLYS-871T e vice versa(8). Estudos populacionais Polimorfismos da região promotora do gene CD80 e da região codificadora de CD86(9) • Foram analisados brasileiros de ancestralidade predominantemente europeia, japonesa e mista afro-europeia, 5 populações ameríndias e africanos. • Todas as variantes estão presentes em africanos, o que sugere que foram originadas na África antes das migrações humanas para fora do continente. • Cinco novos alelos do promotor de CD80 foram identificados. • O nucleotídeo -79 é monomórfico em 4 populações ameríndias, nas quais a presença do alelo -79G é provavelmente resultante de fluxo gênico. • Foi observada evidência de seleção balanceadora em descendentes de japoneses, nos quais todos os alelos apresentaram frequências elevadas. Painel elaborado por: Carolina Maciel Camargo e Marcia Holsbach Beltrame. Laboratório de Genética Molecular Humana – 25 anos www.lgmh.ufpr.br Brasileiros de ancestralidade predominantemente europeia e africana apresentam pouco diferenciação na região 2q33(10) •Foi analisada a diversidade de 10 polimorfismos dos genes CD28 e CTLA4 em duas amostras populacionais, de ancestralidade predominantemente europeia e africana. • Apenas o SNP CTLA4 1577(G>A) e o microssatélite CTLA4 (AT)n apresentaram frequências alélicas significativamente diferentes entre as duas amostras. • A similaridade entre as duas amostras pode ser resultado de: (i) similaridade de frequências alélicas e haplotípicas entre os grupos fundadores europeus e africanos; (ii) intenso fluxo gênico entre os descendentes de europeus, de africanos e ameríndios durante os últimos 400-500 anos. Referências 1. 2. 3. 4. 5. PEREIRA et al., 2004. Cytokine, v.28, p.233-241. BRAUN-PRADO & PETZL-ERLER, 2007. Genet ics and Molecular Biology, v.30, n.2, p.314-321. BELTRAME, 2012 (Tese de Doutorado). ALMEIDA & PETZL-ERLER, 2013. International Journal of Immunogenetics, v.40, 178-185. DALLA-COSTA et al., 2010. Human Immunology, v.71, p.809-817. 6. 7. 8. 9. 10. PINCERATI, 2006 (Dissertação de Mestrado). PETZL-ERLER & MALHEIROS, 2005. Journal of Autoimmunity, v. 25, p.121-125. MALHEIROS & PETZL-ERLER, 2009. Genes and Immunity, v.10, p.547-558 BELTRAME et al., 2012. Human Immunology, v. 73, p. 111-117. PINCERATI et al., 2010. International Journal of Immunogenetics, v. 37, p. 253-261.