Perimenopausa e Menopausa Lívia Maria Borges Amaral E1 Francisco Bandeira, MD, PhD, FACE Coordenador Menopausa Definição: é a ausência de menstruação por 12 meses em mulher com idade acima de 45 anos na ausência de outras causas biológicas, em conseqüência da falência ovariana fisiológica. A perimenopausa é um período de transição caracterizado pela irregularidade dos ciclos menstruais e presença de sintomas da menopausa (flushes, mudanças de humor, distúrbios do sono,ressecamento vaginal). ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Up to date Versão 19.1 Menopausa • A Nomenclatura para as diferentes fases da falência da função reprodutiva é muitas vezes confusa e inconsistente. • Antes o termo Climatério definia o período no qual a mulher sofre modificações orgânica e hormonal, como a falta de ovulação e déficit na síntese de esteróides, sendo considerado a transição entre o período reprodutivo (menacme) e o não reprodutivo (senectude) • A definição leva em conta marcadores clínicos e bioquímicos. • Em 2001, um workshop definiu Estágios da Idade reprodutiva para facilitar a nomenclatura. ________________________________________________________________________________________________________________________ Up to date Versão 19.1 Menopausa ____________________________________________________________________ * Stages most likely to be characterized by vasomotor symptoms,↑: elevated. Adapted from Soules, MR et al. Fertil Steril 2001; 76:874. Up to date Versão 19.1 Menopausa Fisiologia • A produção ovariana sofre um progressivo declínio com a idade, atingindo uma falência completa na maioria das mulheres aos 50 anos. • O ovário primitivo, na vida intra-uterina, possui um número finito de células germinativas, que sofre declínio durante as fases reprodutivas da mulher. Na menarca estão presentes cerca de 400 mil folículos e apenas uma pequeno número persiste não funcionante após a menopausa. • Durante a vida, um pequeno número de óvulos é perdido pela ovulação, a maioria é por atresia, por volta dos 38 anos. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Fisiologia • O ovário é composto por três compartimentos: – Teca- folicular: síntese estrogênica; – Lúteo: síntese estroprogestogênica; – Estroma: síntese androgênica. • Com o avançar da idade, os compartimentos tecafolicular e lúteo vão se depletando e resta funcionalmente ativo o estroma, que produz basicamente andrógenos (androstenediona e testosterona), com níveis em torno de 20ng/mL. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Declínio dos folículos ovarianos com a idade A comparison of the relationship between age and primordial follicle number in Block's study of 44 girls and women aged 7 to 44 years with that of Gougeon's study of women aged 45 to 55 years. Follicle depletion appears to accelerate in the decade preceding menopause. Data from Block, E, Acta Anat 1952; 14:108 and Gougeon, A, Contraception Fertile Sexual 1984; 12:527. __________________________________________________________________________________________ Up to date Versão 19.1 Menopausa A A A A A A Mean daily levels of gonadotropins, sex steroids, and inhibins in older (ages 35-46 years; n=21), shown in red, and younger women (ages 20-34 years; n=23), shown in blue. Data from Welt, CK, McNicholl, DJ, Taylor, AE, Hall, JE. J Clin Endocrinol Metab 1999; 84:105. Up To Date 19.1 Menopausa Fisiologia • O alargamento do ciclo menstrual está ligado à queda dos níveis de inibina, que se inicia de 2 a 8 anos antes da menopausa. • O LH e o Estradiol permanecem dentro dos limites normais durante a Perimenopausa; entretanto, cerca de 6 meses antes da menopausa, o estradiol tende a declinar seus níveis. • Na fase ovulatória, os estrógenos apresentam-se predominantemente na forma de estradiol, principalmente nos ovários. E de estrona, a partir da androstenediona pela ação da aromatase nos tecidos extraglandulares. • Após a menopausa, o estrógeno é extra-ovariano, principalmente no tecido adiposo, representado pela estrona. -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Fisiologia • O declínio da função folicular leva a perda do feedback negativo na produção de gonadotrofinas e caracteriza um hipogonadismo hipergonadotrofico. Há aumento de FSH e queda do estradiol. • Os ciclos menstruais ficam mais curtos com níveis de FSH > 35mUI/mL e os níveis de estrogênio <20pg/mL. -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Idade da menopausa • Idade média aos 50 anos. • Em 5% das mulheres ocorre após os 55 anos (menopausa tardia) e em outros 5% ocorre entre 40 e 45 anos ( menopausa recente). • Antes dos 40 anos é considerada precoce ou prematura. • Fatores genéticos, étnicos, tabagismo e história reprodutiva estão envolvidos na determinação da idade da menopausa. ________________________________________________________________________________________________________________________ Up to date Versão 19.1 Menopausa Idade da menopausa • Mulheres com história familiar de menopausa precoce têm risco maior de menopausa mais cedo no que a média. – Bruin JP, et al. The role of genetic factors in age at natural menopause. Human Reprod 2001; 16:2014. • Tabagismo reduz a idade da menopausa em cerca de dois anos em mulheres que fumam. • Há uma tendência em mulheres nulíparas ou com ciclos curtos durante a adolescência (supondo níveis mais altos de FSH) de terem menopausa mais precocemente. – Cramer DW, et al. Determinants of early follicular phase gonadotrophin and estradiol concentrations in women of late reproductive age. Hum reprod 2002; 17:221. • Multiparidade, IMC elevado são associados com início tardio enquanto nuliparidade, tabagismo, antidepressivos, irradiação pélvicoabdominal estão associadas a início precoce. ________________________________________________________________________________________________________________________ Up to date Versão 19.1 Menopausa Manifestações Clínicas PRECOCES • Alterações do padrão de sangramento: oligomenorréia; hipermenorréia. – • • • a deficiência de progesterona leva a longos períodos de exposição aos estrógenos sem oposição e conseqüente sangramento anovulatório e hiperplasia endometrial. Ondas de calor/ sintomas vasomotores: 70 a 75% – Em geral duram 1 ano, mas podem se estender até 5 anos. – Iniciam-se na perimenopausa e são devido a sensibilização estrogênica prévia. Se caracteriza por sensação de calor centralizada na cabeça e no tórax, sudorese e vasodilatação, durando 10 a 20 min. – Mais comuns na transição menopausal e períodos iniciais. – Distúrbios do sono podem estar associados as ondas de calor. Sintomas geniturinários: atrofia urogenital, redução do muco vaginal; disfunção sexual, dispareunia. Sintomas urinários: cistite atrófica (favorece ITU). ______________________________________________________________________________________________ -Bandeira Fet al. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Up to date Versão 19.1 Menopausa Manifestações Clínicas • A associação Depressão e Menopausa vem sendo estudada porém os resultados dos estudos são conflitantes. Há dados que mostram um aumento dos sintomas depressivos no período de transição menopausal e um decréscimo na pós-menopausa. – Bromberger et al. Persitent mood symptoms in a multiethnic community cohort of pre- and perimenopausal women. Am J Epidemiol 2003; 158:347. • Um estudo de coorte prospectivo, the Study of Women´s Health Across the Nation (SWAN) mostrou maiores taxas de mudanças de humor na perimenopausa (14,9 a 18,4%) do que em mulheres na pré-menopausa (8 a 12%). Estes sintomas eram principalmente irritabilidade, nervosismo, mas não a depressão (feeling “blue”) e eram mais comuns em mulheres com baixo nível educacional. – Bromberger et al. Psychologic distress and natural menopause: a multiethnic community study. Am J Public Health 2001; 91: 1435. ________________________________________________________________________________________________________________________ Up to date Versão 19.1 Menopausa Manifestações Clínicas • Mudanças na pele: O conteúdo de colágeno na pele e ossos é reduzido pela deficiência de estrogênio podendo causar piora na aparência da pele e aparecimento de rugas. Essas mudanças poderiam ser reduzidas com o tratamento estrogênico. MANIFESTAÇÕES TARDIAS •Doença cardiovascular: deficiência estrogênica causa aumento da gordura central, da resistência insulínica, aumento dos níveis de LDL-c e oxidação em partículas mais aterogênicas e densas e das Lpa e VLDL-c. Há diminuição do HDL, das prostaciclinas e do fluxo sanguíneos nas câmaras cardíacas. ______________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Up to date Versão 19.1 Menopausa Manifestações Tardias • Efeitos no Osso: Diminuição da massa óssea pelo aumento da remodelação. Há diminuição de 2 a 5% ao ano nos primeiros 5 anos da menopausa e de 0,5 a 1% ao ano, nos anos seguintes. • Aumento na produção de IL-1, IL- 6 e IL-11, TNF α e fator estimulador de macrófagos, que recrutam os precursores do osteoclastos com ↑ reabsorção óssea. • Há com este recrutamento, maior relação ligante do ativador do receptor do fator nuclear KB/osteoprotegerina (OPG), com maior perda óssea. • O RANKL é estimulador dos osteoclastos produzido por linhagem de células osteoblásticas e é antagonizado pela osteoprotegerina. ____________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Diagnóstico • Clinicamente: amenorréia por 12 meses em mulher acima de 45 anos. • FSH elevado >35mUI/mL e estrógenos se tornam cada vez mais reduzidos, cerca de 10 a 20 pg/mL. • Diagnóstico diferencial deve ser sempre considerado na presença de manifestações clínicas: – Hipertiroidismo; Hiperprolactinemia; Gravidez; Medicações; Síndrome Carcinoide; Feocromocitoma ou Malignidade. ____________________________________________________________________________ -Bandeira F et al. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. -Up Date 19.1 Menopausa Quais o exames devem ser solicitados? • Exames bioquímicos: – Glicemia, colesterol total, HDL-c, LDLc,Triglicerídeos, hemograma, cálcio, albumina, fosforo, transaminases, FA, creatinina, eletrólitos, urianálise. • Exames especiais: – Mamografia – US pélvica e transvaginal – Colposcopia e citologia oncótica: não é essencial para início da TRH; – Densitometria óssea: perda óssea é maior nos 1ºs cinco anos. ____________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Quais o exames devem ser solicitados? • Exames adicionais (outras causa de perda óssea): – – – – – – – TSH PTH FSH, LH, Estradiol: não devem ser usadas para monitorar a TRH 25(OH)Vitamina D Calciúria Teste de supressão com dexametasona Eletroforese de proteínas ____________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Avaliação individual dos riscos e benefícios, junto com a paciente. • O objetivo é a melhora da qualidade de vida. • O tratamento é recomendado por curto período para controle dos sintomas vasomotores de moderado a severos. • A reposição hormonal a longo prazo para prevenção de doenças não é mais recomendado. Up To Date 19.1 Menopausa Via Oral ou Não Oral • Estrogênios por Via Oral sofrem metabolismo de 1ª passagem pelo fígado convertendo parte do estradiol em estrona, que tem menor atividade hormonal. As doses VO devem ser maiores que por outras vias. • A via oral leva ao aumento do HDL, redução dos níveis de LDL e Lp (a). Também aumentam os níveis de triglicerídeos e dos fatores de coagulação com maior risco de tromboembolismo venoso e aumento da viscosidade da bile, que pode causar colelitíase. • A via transdérmica não aumenta os fenômenos tromboembólicos, não altera os biomarcadores inflamatórios vasculares e reduz níveis de TG. INDICAÇÂO: história de litíase biliar, trombose venosa, hipertensão arterial, diabetes e tabagismo. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Mulheres histerectomizadas – Estrogênios Conjugados - 0,625mg/dia (VO ou TD) – Estradiol micronizado: 1,0mg/dia – Etinilestradiol: 5µg/dia – Valerato de estradiol: 2 mg/dia – 17 β-estradiol – 1,0 a 2,0 mg/dia • É recomendado usar doses mais baixas como 0,3mg de EEC e 0,5 mg de estradiol • Mulheres com útero – Esquema cíclico: estrógeno diário + MPA (5 a 10mg) ou noretindrona (0,35 a 1,0mg) ou NETA (0,3 a 1,0mg) ou progesterona micronizada (100 a 300mg) ou levonogestrel (30 a 250g) nos primeiros 10 dias do mês – Esquema contínuo: estrógeno diário + MPA 2,5mg contínuo ou equivalentes. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F et al. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Vias de administração • Estrogênios Não- orais: – Patches (adesivos) padrões (0,05 ou 0,1mg E2/dia)e baixas doses (0,025mg/dia). – Gel: 0,5 a 2mg/dia, não aplicar na face ou mamas. – Implantes subcutâneos: 25mg de 17β-estradiol, que liberam 50mcg/dia, trocados de 6/6meses. – Via vaginal: cremes, cápsulas ou anéis vaginais • • • • Cremes de EEC 0,15 a 0,625mg/dia Estriol creme (1,0 a 2,0 mg/dia), 16-hidroxiestrona (100mcg/dia) Promestiene (creme 10mg/dia ou cápsula vaginal 1,0 a 2g/dia) ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Vias de administração • Progesterona orais: – Acetato de medoxiprogesterona (MPA) – Progesterona micronizada: escolha por ser natural e desprovida de atividade androgênica. • Estudo Postmenopausal Estrogen/Prgestin Intervention Trial (PEPI) sugere progesterona micronizada 200mg/dia pois é mais benéfica em relação aos níveis de HDL. – Acetato de noretindrona (NETA) • Adesivos de progestágenos: – Acetato de noretindrona (125, 140, 170 ou 250mcg/dia); – Levonogestrel (20mcg/dia) ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Contra-indicações da TRH • RELATIVAS – História de Ca de endométrio; – História de Ca de mama; – História de tromboembolismo sem ser na vigência de estrogênio; – Doença hepática leve; – Enxaqueca. • ABSOLUTAS – Ca de endométrio em atividade – Ca de mama em atividade – Tromboembolismo na vigência de estrogênio – Doença hepática grave. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Efeitos colaterais: – Náuseas, cefaléia e edema. – Efeitos metabólicos: alterações na função hepática, nos metabolismos lipídicos e lipoprotéico, ppte hipertrigliceridemia. – Hipertrigliceridemia acentuada conra-indica TRH pelo rsico aumentado de pancreatite. Optar pela via transdérmica. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Segundo a FDA (Food and Drug Administration), as indicações para a TRH são: 1. Sintomas vasomotores moderados a graves associados com a menopausa; 2. Sintomas moderados a graves de atrofia vaginal e vulvar (como ressecamento, coceira e queimação). Quando esta for a única indicação podem ser usados estrogênios tópicos; 3. Prevenção de osteoporose pós-menopáusica em mulheres cujo risco substancial de osteoporose supere os potenciais riscos do medicamento, uma vez que para esta situação isolada há tratamentos não-estrogênicos aprovados. Up To Date 19.1 Menopausa Duração do Tratamento • Terapia por curto período para controle dos sintomas deve ser por 2 a 3 anos, não mais do que 5 anos. • Apenas para um pequeno número de mulheres em que a descontinuação do tratamento leva ao retorno dos sintomas a manutenção da TH pode ser considerada. Up To Date 19.1 Menopausa EFEITOS NO OSSO • Osteoporose e fraturas – Reifenstein and Albright documentaram há 60 anos a associação entre o declínio do níveis de estrogênio na menopausa e a rápida perda óssea, osteoporose e associação com maior risco de fraturas. – Muitos estudos documentaram que a reposição com Estrogênio ou E+P previne a perda óssea quando iniciados logo após o início da menopausa. – O primeiro estudo a documentar redução de fraturas com a TRH foi o WHI incluindo fraturas vertebrais e do quadril. – O estudo HERS (2001) com mulheres não histerectomizadas com doença coronariana falhou em demonstrar redução significativa na incidência de fraturas com E+P. ________________________________________________________________________________________________________________________ In Santen et al. Scientific Statement: Postmenopausal Hormone Therapy JCEM, July 2010, 95 (Suppl 1):S7-S66 Menopausa Am J Med. 2001 Apr 15;110(6):442-50. Effects of hormone replacement therapy on clinical fractures and height loss: The Heart and Estrogen/Progestin Replacement Study (HERS). Cauley JA, Black DM, Barrett-Connor E, Harris F, Shields K, Applegate W, Cummings SR. Source Department of Epidemiology (JAC), University of Pittsburgh, Pennsylvania 15261, USA. Abstract PURPOSE: To determine if estrogen plus progestin reduces the incidence of fractures or height loss in postmenopausal women with coronary disease. SUBJECTS AND METHODS: We enrolled 2,763 postmenopausal women with coronary disease and with an intact uterus into the Heart Estrogen/progestin Replacement Study, a randomized double-blind, placebo-controlled secondary prevention trial of cardiovascular disease. Radiographically documented clinical fractures were a prespecified secondary endpoint. Height loss was used as a surrogate for vertebral fractures. The average age of the women was 66.7 +/- 6.7 years, and fewer than 15% of the women had osteoporosis based on their bone density. Women were randomly assigned to either 0.625 mg of conjugated equine estrogens plus 2.5 mg of medroxyprogesterone acetate in 1 tablet daily (n = 1,380) or placebo (n = 1,383). Follow-up averaged 4.1 years; 82% of those assigned to hormone treatment were taking it at the end of 1 year, and 64% at the end of the study. RESULTS: During 10,554 person years of follow-up, 286 women experienced a fracture: 138 in the treatment group (26.3 per 1,000 person years) and 148 in the placebo group (28.0 per 1,000 person years); relative hazard, 0.94; 95% confidence interval 0.8 to 1.2, P = 0.61). These included 58 wrist fractures (1.01; 0.6 to 1.7); 27 hip fractures (1.09; 0.5 to 2.3); 32 spine fractures (0.69; 0.3 to 1.4), and 192 other fractures (0.91; 0.7 to 1.2). There was no difference in average height loss between the treatment and placebo groups or in the percent of women who lost more than 2 cm in height: 10.6% in the treatment group and 12.1% in the placebo group. CONCLUSIONS: There was no evidence of a reduction in the incidence of fractures or rate of height loss in older women not selected for osteoporosis. Randomized studies are needed to clarify the effect of hormone replacement therapy on fracture risk among women with and without osteoporosis. Menopausa EFEITOS CARDIOVASCULARES • Estudos epidemiológicos sugerem redução de DCV com a TRH. • Efeito cardioprotetor estaria ligado a ação dos estrógenos no metabolismo lipídico, com aumento nos níveis de HDL-c e redução nos níveis de LDL-c, além de restauração da função endotelial, aumento do rendimento cardíaco, aumento da velocidade de fluxo arterial e diminuição da resistência vascular. • Efeito pró-inflamatório com maiores níveis de proteína C reativa (PCR) aumentaria os eventos cardiovasculares. Então, sugere-se que doses mais baixas de estrogênios que também são efetivas sejam usadas. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Tratamento • Women´s Health Initiative (WHI) mudou o entendimento sobre os riscos e benefícios da terapia hormonal. Estudou os efeitos da terapia combinada e do estrogênio sem oposição em mulheres na pós-menopausa entre 50 e 79 anos. • Estudo tipo ensaio clínico de 1993 – 2004 com dois braços: – CEE/MPA : interrompido em 2002 pelo aumento do risco de Ca de mama, AVE, IAM e tromboembolismo. – CEE: interrompido em 2004 pelo maior risco de AVE embora não tenha havido risco aumentado de eventos coronarianos ou de Ca de mama. • WHI confirmou os benefícios na redução do risco para osteoporose e fraturas (34%), mas também confirmou o aumento do risco de câncer de mama previamente identificado em mulheres que usaram terapia combinada (E+P) que iniciaram TRH logo no início da menopausa. • Dados do WHI sugerem que a terapia combinada (CEE+MPA) não é efetiva para a prevenção primária de DAC. ________________________________________________________________________________________________________________________ In Prentice et al.Am J Epidemiol 2009; 170: 12-23 Menopausa •Prentice et al. Analizaram os resultados dos WHI (1993-2004) sobre o uso de CEE com ou sem MPA focando nos riscos e benefícios da TRH logo após o início da menopausa (< 5 anos). •Dados dos ensaios clínicos mostraram possíveis elevações no risco de AVC e tromboembolismo e mortalidade total no grupo com CEE com início até 5 anos, porém houve redução do risco de fratura de quadril. Menopausa • Também foram encontradas evidências de aumento de DCV e tromboembolismo no grupo que usou CEE+MPA até 5 anos do início da menopausa, bem como foi maior o risco para Ca de mama nessas mulheres (p=0,03). • A Hipótese do tempo não pôde ser bem defendida com relação ao risco cardiovascular do uso de estrogênios. • Em relação ao câncer de mama viu-se que o início da TH logo após a menopausa aumenta os riscos em comparação com o uso mais tardiamente. ________________________________________________________________________________________________________________________ In Prentice et al.Am J Epidemiol 2009; 170: 12-23 Kaplan-Meier estimates of cumulative hazard rates of CHD In the Women's Health Initiative, combined estrogen-progestin therapy was associated with a significant increase in coronary events. CHD included nonfatal myocardial infarction and death due to CHD. The overall hazard ratio for CHD was 1.24 (nominal 95 percent confidence interval, 1.00 to 1.54). Data from Manson, JE, Hsia, J, Johnson, KC, et al. Estrogen plus progestin and the risk of coronary heart disease. N Engl J Med 2003; 349:523. Kaplan-Meier estimates of cumulative hazard rates of stroke In the Women's Health Initiative, combined estrogen-progestin therapy was associated with a significant increase in stroke when compared with placebo. The intention-to-treat hazard ratio was 1.31, 95 percent CI 1.02 to 1.68. Data from Wassertheil-Smoller, S, Hendrix, S, Limacher, M, et al. Effect of Estrogen Plus Progestin on Stroke in Postmenopausal Women: The Women's Health Initiative: A Randomized Trial. JAMA 2003; 289:2673. HRT increases invasive breast cancer In the Women's Health Initiative, combined estrogen-progestin replacement therapy (red) was associated with a significant increase in invasive breast cancer (HR 1.24, unadjusted 95 percent CI 1.01 to 1.54) when compared with placebo (green). Data from Chlebowski, RT, Hendrix, SL, Langer, RD, et al. Risks and benefits of estrogen and progestin in healthy postmenopausal women: principal results from the Women's Health Initiative randomized controlled trial. JAMA 2003; 289:3243. Estrogen-progestin therapy reduces hip fracture In the Women's Health Initiative, combined estrogen-progestin replacement therapy was associated with significant reduction in hip fracture (5 fewer hip fractures per 10,000 person-years, HR 0.7, unadjusted 95 percent CI 0.4 to 1.0). Data from Risks and benefits of estrogen and progestin in healthy postmenopausal women: principal results from the Women's Health Initiative randomized controlled trial. JAMA 2002; 288:321. Menopausa Menopausa Tratamento Menopausa ELITE:Early Versus Late Intervention Trial With Estradiol • The purpose of this study is to examine the effects of oral 17B-estradiol (estrogen) on the progression of early (subclinical) atherosclerosis and cognitive decline in healthy postmenopausal women. • • • Study Type: Interventional Study Design: Allocation: Randomized Endpoint Classification: Efficacy Study Intervention Model: Parallel Assignment Masking: Double Blind (Subject, Caregiver, Investigator, Outcomes Assessor) Primary Purpose: Prevention Official Title: Biologic Response of Menopausal Women to 17B-Estradiol • Further study details as provided by University of Southern California: • Primary Outcome Measures: rate of change of distal common carotid artery (CCA) far wall intima-media thickness (IMT) [ Time Frame: Twice at baseline and then every 6 months on trial ] [ Designated as safety issue: No ] Secondary Outcome Measures: neurocognitive function [ Time Frame: Baseline and at 3 years and end of randomized treatment ] [ Designated as safety issue: No cardiac computed tomography [ Time Frame: End of randomized treatment ] [ Designated as safety issue: No ] measurement of coronary artery calcium and coronary artery lesions Enrollment: 643 Study Start Date: July 2004 Estimated Study Completion Date: July 2013 Estimated Primary Completion Date: December 2012 (Final data collection date for primary outcome measure) • • • • • Menopausa Menopausa Timing hypothesis • Essa teoria propôs que o início da TRH logo após o início da menopausa seria cardioprotetor. • WHI mostrou menores taxas de DCV em mulheres que iniciaram TRH até 10 anos da menopausa ou que tinham 50-59 anos no inicio do estudo. • No braço E+P, mulheres com até 10 anos de menopausa tiveram um HR para eventos cardiovasculares de 0,89, comparado com 1,70 naquelas com mais de 20 anos do inicio da menopausa. • No braço do CEE, aquelas com idade entre 50-59 a tiveram HR de 0,56 comparado a HR de 1 para as mulheres com idade mais avançada. Menopausa Timing hypothesis • Tromboembolismo: terapia oral leva ao aumento dos fatores de coagulação e triglicerídeos apesar do benefício sobre o aumento do HDL e redução do CT. O estudo KEEPS irá ajudar determinar se estas mudanças contribuem para maior risco de aterosclerose em mulheres recém-menopausadas. • Cancer – Mama: início da TH após 5 anos foi associado com redução do risco de ca de mama (RR 0,58) e começar imediatamente não mostrou benefícios. Menopausa Timing hypothesis • Cancer – Endométrio: TH com estrogênios sem oposição leva a hiperplasia endometrial e maior risco de câncer após três anos de uso. E + P reduziu o risco em 76% observado em 3 a 5 anos de uso. – Ovário: estudos mostraram pequeno mas significante aumento do risco de câncer ovariano epitelial em usuárias recentes de estrogênios. O risco declina após a cessação da terapia. – Ca de cólon: estudos observacionais encontraram redução no risco de câncer de cólon na TH com E +P. Menopausa Timing hypothesis • Cancer – Pulmão: houve aumento na incidência de ca de pulmão em mulheres em uso de E+P comparado ao placebo, ppte não pequenas células. E o risco não diminuiu após a interrupção do tratamento. • Osso: – E2 com ou sem progesterona é efetivo em prevenir perda óssea na menopausa recente e aumentar a massa óssea na pósmenopausa. Evidência: A WHI mostrou prevenção de fraturas de quadril e vértebras em mulheres não selecionadas (A). Menopausa Timing hypothesis • Acidente Vascular Cerebral: a incidência de AVC é idade dependente, o estudo observacional the Nurses Health Study mostrou aumento no risco de modo similar ao WHI. O risco encontrado foi semelhante com o início na transição menopausal e na menopausa tardia. Entretanto, em mulheres mais jovens o risco foi significativamente mais baixo. – Os estudos KEEPS e ELITE estão avaliando o IMT de carótida para predizer o risco cardiovarcular mas também de doença cerebrovascular e AVC. • Função Cognitiva: iniciar TRH no início da menopausa não foi associado a melhora na cognição e não houve redução significativa de demência. (WHIMS – subestudo com mulheres >65anos) Menopausa Regimes Alternativos de Tratamento SERMS – Moduladores Seletivos dos Receptores de Estrogênios. Menopausa Regimes Alternativos de Tratamento • Os primeiros SERMS a serem usados foram o clomifeno e o tamoxifeno que têm efeito no osso, no metabolismo lipídico e no útero com efeito antiestrogênico na mama. São opções para o tratamento de Ca de mama responsivos aos estrogênios. • Raloxifeno aumenta a massa óssea reduzindo a incidência de fraturas. O Estudo MORE (multiple Outcome of Raloxifene Evaluation) com 7705 mulheres com fraturas vertebrais osteoporóticas foram randomizadas para o uso de 60mg e 120mg ou placebo, havendo redução de 50% de fraturas em vértebras. • MORE – o raloxifeno mostrou proteção contra ca de mama em 76% dos casos por sua atividade antiproliferativa. ________________________________________________________________________________________________________________________ In Bandeira F et al. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Regimes Alternativos de Tratamento • • No estudo KEEPS em andamento, um regime transdérmico está sendo comparado com um regime oral para determinar se ambos tem a equivalência no efeito de progressão da aterosclerose. É preciso avaliar o uso de dose mais baixas de estrógenos com a mesma eficácia. • A suplementação de fitoestrogênios e isoflavonas, encontrados em grãos integrais, com a soja, em legumes e linhaça; tem sido reportada como protetora contra a osteoporose na menopausa, porém estudos mostraram poucos benefícios. • Um estudo recente, coorte prospectiva, Shangai Women´s Health Study, correlacionou o consumo de soja em 73 mil mulheres e a proteção contra o câncer de mama e viu uma redução significativa do risco ( RR, 0,41; CI 0,250,70) quando o consumo era feito na pré-menopausa. O redução do risco não foi significante com o uso na pós-menopausa. Menopausa Regimes Alternativos de Tratamento • TIBOLONA (TBL) – Atividade estrogênica, progestogênica e androgênica; – Usada para o tratamento dos sintomas da perimenopausa; a prevenção da osteoporose pós-menopausa. – Aumenta a massa óssea, melhora a lubrificação vaginal, ausência do sangramento vaginal, melhora do comportamento sexual em diversos estudos. – Estudo LIFT, com uso de TBL 1,25mg/dia, em mulheres idosas (60-69 anos) com osteoporose resultou em redução do risco de fraturas vertebrais e não vertebrais, ca de mama e ca de cólon. Porém, em comparação com o placebo, a TBL aumentou o risco para AVC (RR de 2,19); que levou a interrupção do estudo. – Tibolona aumenta o rsico de AVC em mulheres mais velhas, mas não em mais jovens. Nível de evidência A. Menopausa Regimes Alternativos de Tratamento • Tissue-Selective Estrogen Complex (TSEC) – É a combinação de CEE em baixas doses com um SERM – Estudos sugerem que seriam efetivos em reduzir sintomas da menopausa, aumentar a massa óssea, promover efeitos favoráveis sobre os lipídios sem elevar o risco de câncer de mama. Menopausa Deficiência Androgênica em Mulheres na Menopausa • A deficiência androgênica afeta a função sexual na pós-menopausa com redução da libido, redução da massa óssea, aumento da massa gorda e depressão. • A adição de baixas doses de Metiltestosterona oral (1,25 a 2,5mg/dia) ou testosterona micronizada (0,5 a 1mg/dia) a TRH melhora a atividade e a libido. A administração pode ser subcutânea, adesivos dérmicos. • A maior recomendação é quando a mulher continua com sintomas apesar da reposição de estrógenos. O diagnóstico de deficiência androgênica na pós-menopausa é difícil pela definição dos sintomas e pelas dificuldades técnicas laboratoriais. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Menopausa Alívio dos fogachos • Algumas drogas podem ser tentadas para alívios dos sintomas vasomotores quando está contra-indicado o uso dos estrogênios: – – – – Citalopran 30mg/dia Venlaflaxina 75mg/dia Fluoxetina 20mg/dia Clonidina 0,1mg a 0,2mg/dia ou 1 patch semanal. ________________________________________________________________________________________________________________________ -Bandeira F, Graf H, Griz L, Faria M, Lazaretti-Castro M, editors. Endocrinologia Básica e Diabetes. 2nd Ed. Rio de Janeiro: Medbook Editora, 2009. Conclusões • A Terapia Hormonal na Menopausa deve ser usada para alívio dos sintomas vasomotores e melhora da Qualidade de Vida, mas não para a prevenção de doenças crônicas. • TH deve ser usada por um período limitado de tempo devido ao aumento comprovado do risco para diversos tipos de câncer. • Prevenção de fraturas é um importante benefício da terapia de reposição hormonal, mas é rapidamente perdido com a interrupção da TH. O uso de SERMs ou bifosfonatos continuam os benefícios para as mulheres que precisam de tratamento para osteoporose. • Apesar do efeito cardioprotetor observado na TH no início da menopausa, prevenção de DCV não é indicação de tratar. • O início da TH após 10 anos de menopausa não é aconselhável pela elevação do risco de DCV e CA de mama devendo ser usadas terapias alternativas.