Veículo: Folha de Pernambuco Editoria: Economia Coluna: Pág.: Data: Domingo, 10 de junho de 2012. Endividamento está no perfil dos brasileiros Medidas adotadas pelo Governo também “ajudam” e consumo começa a arrefecer Os recordes de consumo dos últimos anos começam a arrefecer. Se em 2010 o comércio festejava vendas, agora já olha para os lucros com mais cuidado, porque embora o dinheiro entre no caixa, já não vem na mesma velocidade. É um sinal claro de que o consumidor pode até querer comprar, mas as dívidas não deixam. Na verdade, é um resultado previsível: muitos daqueles que entraram em prestações nos últimos anos mantém-se nelas e, os que forem prudentes, não farão outras. De forma simples, essa é uma das causas desse momento de desaceleração. Professora de Economia do Grupo Ser Educacional, Silvana Silveira diz que o problema de endividamento vem do perfil de crescimento adotado pelo Governo brasileiro, baseado em medidas de estímulo ao consumo, como o “barateamento” do crédito, por exemplo. “Mas já há indícios que esse modelo chegou a um ponto de exaustão, justamente por causa desse endividamento tão alto”, explica, comentando que os débitos já comprometem, em média, entre 40% e 45% da renda anual do brasileiro. “As famílias estão endividadas, mas o Governo continua, insiste nesse modelo”. O mercado não deve responder às medidas governamentais como se espera, reflete Silvana. “Na minha visão, o Governo não vai conseguir alcançar o resultado que quer. A capacidade de consumo está reduzida. Uma compra financiada compromete a renda por tempos”, simplifica. Segundo a explicação da professora, mais reduções (de IPI, IOF, juros...) poderão ter reflexos positivos em curto prazo, “dar uma mexida” na economia, mas apenas como paliativo. “O PIB (Produto Interno Bruto) deste ano deve ficar muito abaixo da expectativa. Sabe por quê? Não é um crescimento sustentável”, conjectura. O resultado? Mais endividamento, mais inadimplência, maior exigência dos bancos para conceder crédito. Analisando o “fenômeno” do endividamento, o assessor econômico da Serasa Experian, Carlos Henrique de Almeida, enumera o que mais compromete hoje o orçamento das famílias brasileiras: financiamentos de automóveis e imobiliários e gastos com cartão de crédito. Os dois primeiros são longos; o segundo tem juros estratosféricos. “O que mais chama atenção é o comprometimento mensal da renda. No Brasil, a média é de 22% do salário destinado a pagar dívidas. Nos Estados Unidos, o índice é de 16%”, compara. Mas ele explica que, nessa questão, o ponto-chave está nos juros nacionais. “O custo dessa dívida é muito alto, principalmente porque a maioria está no cheque especial, no rotativo do cartão. É uma lógica. Não existe milagre em crédito”. Entre as saídas apontadas por Silvana e Almeida, está a educação financeira. “É fundamental. Em países desenvolvidos, ela está integrada à grade curricular. De outra forma, é necessário que haja uma melhora na análise de crédito e talvez a Lei do Cadastro Positivo, que está sendo regulamentada, ajude”, comenta Almeida. Para especialista, ideal seria estimular negócios Na opinião da professora de Economia do Grupo Ser Educacional, Silvana Silveira, um caminho economicamente mais saudável trilhado pelo Governo incluiria estímulo a negócios - bem diferente do atual de estímulo ao consumo. “Mas teriam que ser feitas mudanças tributárias, trabalhistas, na estrutura de logística do País. Isso leva tempo, requer reformas estruturais, mas são medidas sustentáveis”, afirma. Silvana toca no assunto da Reforma Tributária, que é um dos pontos do Governo Dilma, mas não crê que seja, de fato, efetivada. O principal alvo dessas políticas de estímulo ao consumo é a classe média, parcela da população, que, concorda Silvana, acaba sendo a mais “esmagada” por essas medidas. “O Governo conseguiu tirar muita gente da pobreza, de fato, mas a classe média não teve um crescimento de renda compatível com seu grau de endividamento”, analisa. E há outros pontos complicados, já bem debatidos, mas que devem ser sempre lembrados: a Fenabrave comemora as vendas de carros do mês de maio, que chegaram a 287,59 mil unidades. São muitos novos veículos para as mesmas ruas já engarrafadas e para um sistema extremamente focado no transporte individual, que calcula 1,5 pessoa por carro, segundo Silvana. E como ratifica a professora, esse caso ilustra bem a eficácia parcial desses planos do Governo. Há crescimento, mas sem infraestrutura. Falando sobre essas medidas da equipe de Dilma, o professor de Economia da Faculdade Boa Viagem (FBV), Roberto Ferreira, explica que elas são perigosas. “Esse estímulo gera pessoas endividadas. Se houver uma turbulência econômica, elas fatalmente se tornarão inadimplentes”, simplifica. Ferreira diz que há o estímulo ao consumo em alta e, em contrapartida, um número de empregos que não cresce como o Governo esperava. O Indicador Serasa Experian de Inadimplência do Consumidor comparou abril de 2012 com abril de 2011 e encontrou alta 23,7%. No fechamento dos quatro primeiros meses deste ano, o índice apontou crescimento de 19,6%. Ainda assim, o Banco Central (BC) mantém um discurso otimista e espera que o endividamento recue em breve, já que anda em um patamar mais alto que o desejado. E um dos meios é a redução das taxas de juros para quem se aventura a pedir crédito aos bancos. O porquê das cotações do Dólar Variedade de medidas da moeda americana pode confundir muitos brasileiros A cotação do Dólar é assunto todos os dias nos principais noticiários do Brasil. Em todo o mundo, acontece a mesma coisa. Isso porque as principais moedas são sempre cotadas em relação a uma moeda internacional. Em outras palavras, o valor de uma determinada moeda é estabelecido através da comparação com outra. Atualmente, o Dólar americano é utilizado como parâmetro mundial e, por esse motivo, o Euro, o Peso e o Real, por exemplo, são cotados em relação a essa moeda. No Brasil, existem três cotações: o Dólar comercial, o Dólar turismo e o Dólar paralelo. O Dólar comercial é a cotação utilizada pelas empresas, pela Bolsa de Valores e nas movimentações do Governo. “O Dólar comercial, ou oficial, é aquele utilizado em transações de comércio exterior, na entrada ou saída de recursos realizados por empresas de importação ou exportação. As transações oficiais, regulamentadas pelo BC (Banco Central), também trabalham com o Dólar comercial”, afirmou o professor de Economia da Faculdade Boa Viagem, Marcelo Barros. Este valor é, normalmente, o mais divulgado nos noticiários. Já o Dólar turismo é a cotação usada por pessoas físicas. Ele é utilizado nas operações turísticas, como compras de passagens aéreas, em estabelecimentos internacionais e para calcular a conta do cartão de crédito que for usado no exterior. “Este Dólar é um pouco mais caro do que o comercial, que tem seu valor controlado pelo Governo. Quando ele fica muito baixo, se torna barato viajar para o exterior e os turistas brasileiros aproveitam para fazer compras em outros países”, afirmou Barros. A última das classificações é denominada de Dólar paralelo, bastante utilizado em atividades ilícitas, por não ser controlado pelo Governo. “Esta cotação é a usada em transações não oficiais, que não são regulamentadas. Seu valor é determinado unicamente pelo mercado, e não existe a supervisão do Banco Central”, detalhou o professor de Economia da Faculdade Nova Roma, Fortunato Russo. Normalmente, o seu valor é mais baixo do que o comercial para quem quer vender, e mais alto, para quem quer comprar. Por ser uma cotação clandestina, a operação neste tipo de mercado de câmbio pode acarretar em penalidades. Para entender as tabelas relativas às cotações, imagine o Dólar como uma mercadoria. Como os preços de qualquer produto, o seu valor é determinado pela lei da oferta e da procura, o que gera a queda e a alta da moeda. Diariamente, nestas tabelas, aparecem os preços de compra e de venda. “O preço de compra é o valor pago pelo Dólar pelos bancos e instituições financeiras, quando vão adquiri-lo. Já o preço de venda é o valor pelo qual a mercadoria é revendida para a população. A diferença entre os dois valores é chamada de spread, e corresponde ao lucro conseguido”, completou Russo.