PERSPECTIVAS DO ENFERMEIRO NA INTERVENÇÃO AO POLITRAUMATIZADO: UM ENFOQUE NA TEORIA DE WANDA HORTA 1 Milca Correia Marinho de Araújo 2 Ana Carla de França Silva³ Jank Landy Simoa Almeida4 Jacquelane Silva Santos5 Mahaynna Carvalho Sá6 RESUMO INTRODUÇÃO: Indivíduos acometidos por politraumatismos necessitam de um processo de reabilitação que o ajude a atingir seu melhor potencial físico, psicológico e social, vocacional e educacional, compatível com seu déficit fisiológico anatômico, limitações ambientais, desejos e planos de vida. O enfermeiro é profissional importante neste processo, como membro da equipe interdisciplinar, instruindo intervenções, que podem determinar de forma decisiva as capacidades funcionais e psicossociais preservadas para serem trabalhadas na sua reabilitação, sendo ações estas fundamentadas a partir de teorias de enfermagem. OBJETIVO: Analisar a produção cientifica nacional sobre a assistência de enfermagem ao politraumatizado com base na teoria de Wanda Horta. METODOLOGIA: Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, desenvolvida em maio de 2014, a partir de artigos complilados na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), na base de dados Scientific Eletronic Library online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). eleitos pelos descritores “traumatismo”, “enfermagem” e “teoria de enfermagem”. Como critérios de inclusão de artigos cita-se: artigos completos sobre o tema investigado no idioma português. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O atendimento ao paciente politraumatizado tem como principal objetivo a diminuição e, se possível, a abolição de sequelas do trauma evitando assim as complicações que levam ao óbito. O enfermeiro, por sua vez, deve coordenar a sua equipe visando cuidados específicos e qualitativos a fim de proporcionar um tratamento eficaz com ausência de complicações, proporcionando segurança, atendimento rápido e eficaz, além de um efetivo apoio emocional ao cliente e a sua família. CONCLUSÃO: O enfermeiro precisa conhecer as limitações do paciente politraumatizado para assim planejar uma assistência de qualidade, traçando metas e objetivos a serem alcançados. Dessa forma, o conhecimento e aplicabilidade da teoria das necessidades humanas básicas de Wanda Horta é fundamental, pois prepara o enfermeiro para prestar um atendimento humanizado, gerando qualidade de vida ao paciente. Descritores: Traumatismo; Enfermagem; Teoria de Enfermagem 1 Revisão Integrativa ² Graduanda em Enfermagem pela UEPB.Membro do Programa de Educação pelo Trabalho em Saúde/Vigilância – PET-Saúde/VG. E-mail: [email protected] ³ Graduanda em Enfermagem pela UEPB. E-mail: [email protected] 4 Enfermeiro. Mestre. Professor da Universidade Federal de Campina Grande. E-mail: [email protected] 5 Graduanda em Enfermagem pela UEPB. E-mail: [email protected] 6 Graduanda em Enfermagem pela UEPB. E-mail: [email protected] INTRODUÇÃO A teoria de Wanda Horta foi desenvolvida através da teoria da motivação humana, de Maslow, que se fundamenta nas necessidades humanas básicas. Está embasada e engloba leis que regem os fenômenos universais, tais como: - Lei do equilíbrio (homeostase ou hemodinâmica): todo universo se mantém por processos de equilíbrio dinâmico entre os seus seres; - Lei da adaptação: todos os seres do universo interagem com o seu meio externo, buscando sempre formas de ajuste para se manterem em equilíbrio; - Lei do holismo: o universo é um todo, o ser humano é um todo, a célula é um todo, esse todo não é mera soma das partes constituintes de cada ser (LEOPARDI, 1992). Wanda Horta descreve também as necessidades humanas básicas do ser humano como estados de tensões, conscientes ou inconscientes, resultantes dos desequilíbrios hemodinâmicos dos fenômenos vitais. Em estados de equilíbrio dinâmico, as necessidades não se manifestam, porém estão latentes e surgem com maior ou menor intensidade, dependendo do desequilíbrio instalado. São aquelas condições ou situações que o indivíduo, família e comunidade apresentam decorrentes do desequilíbrio de suas necessidades básicas que exijam uma resolução, podendo ser aparentes, conscientes, verbalizadas ou não. São exemplos de necessidades psicobiológicas: oxigenação, nutrição, sono e repouso, abrigo, integridade física, sexualidade, locomoção e eliminação. São exemplos de necessidades psicossociais: segurança, amor, liberdade, lazer, auto-estima, comunicação, independência, entre outras. (SANTOS, 1985). A grande maioria das pessoas acometidas pelo politraumatismo, agora em cadeira de rodas, necessita passar por um processo de reabilitação que o ajude a atingir seu melhor potencial físico, psicológico e social, vocacional e educacional, compatível com seu déficit fisiológico anatômico, limitações ambientais, desejos e planos de vida. De acordo com Delisa J.A et al, 2002 reabilitação é um conceito que deve envolver todo o sistema de saúde e integrar ou reintegrar na sociedade ativamente a pessoa cuja capacidade esteja diminuída. Dentre os objetivos desejados através da reabilitação estão: aumento da independência, diminuição do tempo de internação e, principalmente, melhora na qualidade de vida. Observa-se que o enfermeiro tem papel fundamental neste processo, como membro da equipe interdisciplinar, sempre considerando o paciente como um ser individual com uma história de vida própria, com características próprias, que podem determinar de forma decisiva as capacidades funcionais e psicossociais preservadas para serem trabalhadas na sua reabilitação. Através da reabilitação, pessoas com incapacidades físicas são capacitadas para mobilizar recursos, decidir o que elas desejam, o que são capazes de ser e alcançar metas mediante seus próprios esforços, em seus próprios caminhos. No entanto, para que a enfermagem atue eficientemente neste processo, necessita desenvolver sua metodologia de trabalho fundamentada no método científico (Alfaro-Lefreve, 2000). Há um esforço, nos dias presentes, no sentido de empregar uma metodologia científica que leva a uma assistência individualizada, planejada, qualificada e científica (Thomaz VA, Guidardello EB, 2002). A investigação científica deve ser guiada pela teoria e pelo conhecimento, entendido como um processo. As teorias de enfermagem são importantes para o desenvolvimento da profissão como ciência, porque são um guia para novas buscas, por mais claras e apuradas visões do mundo, substituindo as visões fornecidas pelo senso comum. Por isso é importante que os enfermeiros trabalhem, buscando apoio nas teorias previamente elaboradas por estudiosos que marcaram a história da enfermagem, a fim de embasar o cuidado que prestam no processo do cuidar. As teorias cumprem a função de descrever, explicar e fazer previsões sobre fenômenos específicos. Já o modelo conceitual é análogo ao projeto arquitetônico de uma casa. É um grupo de conceitos inter-relacionados que se encaixam em virtude de sua relevância para um tema ou molde comum. Os marcos conceituais oferecem subsídios para a prática profissional e a aplicabilidade de uma teoria de enfermagem que permite explicitar os propósitos, contextos, variáveis, explicações teóricas, evidência empírica e a utilização de novas abordagens na prática de enfermagem que determinam a natureza dos seus elementos descritivos. Os significados das teorias para a profissão de enfermagem suscitam uma postura alerta e comprometida com a intenção científica que se volta para uma auto compreensão, retroalimentação e análise de pressupostos e das bases teórico-filosóficas de afirmação da enfermagem como corpo de conhecimento posto a serviço da formação, exercício e atualização profissional e em benefício da humanidade (LANDIM FLP et al, 2001). Há necessidade de novos conceitos compatíveis com a cultura brasileira no que se refere ao ambiente, ao homem, ao processo saúde-doença, à enfermagem e ao cuidado. Quando se fala em assumir um marco conceitual, o enfermeiro está buscando uma cientificação profissional e a melhora na qualidade da assistência prestada ao ser humano, por isso é importante escolher um marco para utilização na prática assistencial. A utilização deste é importante também como um meio para esclarecer propósitos, orientar funções e assegurar resultados. Muitas vezes, teoria e prática percorrem trajetórias conflitantes, no entanto, necessitam estar inter-relacionadas, pois toda prática está atrelada à teoria, e esta sem a prática, se torna estéril. Neste contexto, o cuidado de enfermagem baseado em modelos assistenciais é fundamental, pois, além de nortear a dinamização de recursos humanos e materiais, facilita a avaliação da assistência prestada. Dessa forma, é possível verificar o alcance de padrões mínimos de assistência, oferecendo subsídios aos indicadores de custos e rendimentos, indicando também áreas que requeiram aprimoramento. Este processo pode ser alcançado através do estudo das teorias já existentes, para que seja traçado um modelo próprio, peculiar de cada Instituição. Muitas vezes, uma única teoria é levada à prática, porém, dependendo da característica da população atendida, pode ser necessário que se utilize, numa mesma instituição, mais de uma teoria, ou ainda que se crie uma nova. Diante do exposto, a pesquisa tem como objetivo analisar os artigos que tratam sobre o tema, e a partir destes realizar uma abordagem sobre a perspectiva do enfermeiro na intervenção ao politraumatizado, com base na teoria de Wanda Horta. METODOLOGIA Trata-se de uma pesquisa integrativa da literatura pertinente ao tema. A pesquisa foi desenvolvida em maio de 2014 por meio de uma busca eletrônica na Biblioteca Virtual da Saúde (BVS), na base de dados Scientific Eletronic Library online (SCIELO) e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Os descritores em ciências da saúde selecionados para coleta de dados foram “traumatismo”, “enfermagem”, “cuidado” e “teoria de enfermagem”. A seleção dos artigos obedeceu ao seguinte critério de inclusão: artigos completos sobre a temática investigada no idioma português. RESULTADOS E DISCUSSÃO Nas últimas décadas, estudos epidemiológicos brasileiros indicam a progressão das taxas de mortalidade, morbidade e invalidez causadas por trauma, o que o configura como grave problema social no país. Graves também são suas repercussões econômicas, uma vez que pode não só prejudicar a capacidade de trabalho das vítimas, como demandar alto custo com a reabilitação, em virtude das incapacidades temporárias ou permanentes, dele decorrentes. Além disso, entre as possibilidades de prejuízos ocasionados pelo trauma estão expressivos déficits físicos, mentais e cognitivos, com comprometimento da qualidade de vida das vítimas e de seus familiares (MELIONE, 2008). O aumento do número de sobreviventes e a melhora dos resultados funcionais têm levado à maior preocupação com avaliação da qualidade de vida de pacientes com traumas múltiplos. Contudo, o enfoque dessas avaliações está predominantemente centrado na mensuração de aspectos objetivos, sem, muitas vezes, considerar a experiência daqueles diretamente afetados pelo trauma.O trauma pode afetar todas as partes do corpo e suas sequelas podem diferir de forma substancial, da mesma forma que a experiência da pessoa vítima de trauma é única. Assim, a avaliação da qualidade de vida tem que considerar essas diferenças (PAIVA, 2009). O atendimento ao paciente de politraumas tem como principal objetivo a diminuiçãoe, se possível, a abolição de sequelas do trauma evitando assim as complicações que levam ao óbito. A experiência da condição crônica, desencadeada pelo trauma, é representada por quase todos como ruptura biográfica, que modifica radicalmente estilo e qualidade de vida, trabalho e condição social, dados os problemas materiais com que se defrontam. Segundo Paiva (2009), em seu trabalho desenvolvido ele afirma que somente um dos participantes relata que a vida melhorou após o trauma; os demais participantes referiram sentimento de vulnerabilidade, associado ao agravamento do quadro clínico e ao surgimento de novas doenças, dependência física, incapacidade para trabalhar e uso de medicações. Na avaliação da qualidade de vida após o trauma, os participantes ressaltam a redução da renda mensal, decorrente da incapacidade para a continuidade do trabalho, diminuição da mobilidade física, problemas crônicos e amnésia ligada ao trauma. Destaca, por outro lado, a importância da família no apoio emocional e no resgate do equilíbrio da vida financeira. A despeito das consequências do trauma (incapacidades físicas, mudanças nas relações sociais, mudanças no estilo de vida), vários sujeitos assumem que a experiência redundou em melhor convívio familiar e reconhecem que a melhora do relacionamento familiar foi fator importante no processo de reabilitação. Os familiares foram considerados como importantes cuidadores no processo de adoecimento e no atendimento de suas necessidades básicas. No trabalho de SALOME (2009), a condição de inválido que eles se atribuem caracterizada pela perda de mobilidade corporal, relaciona-se, invariavelmente, a duas qualidades concebidas por eles como essenciais a seres humanos plenos: capacidade de trabalho e autonomia. De autonomia, se veem privados até mesmo nas atividades simples e cotidianas. A incapacidade para trabalhar desponta como principal empecilho ao bem-estar familiar e à concretização de projetos de vida. Assim, nós percebemos o quão é modificada a vida do ser humano que é submetido a essa circunstância de politraumatismo, além da total dependência de cuidados e auxílios, eles são sujeitos que vivem um luto pela perda de algum membro ou incapacidade funcional. A assistência deve ser de modo holístico de forma que haja uma preocupação também com a reabilitação psicossocial do individuo, através de uma equipe multiprofissional habilitada para tal comprometimento. Situações de emergência estão presentes a todo o momento no cotidiano da população. Sendo assim, as unidades de emergência devem estar preparadas para receber o cliente vítima dos mais variados tipos de acidente, além de possuírem profissionais capacitados para que seja prestado o atendimento adequado em cada caso e iniciado o tratamento de modo rápido e eficiente (SILVA 2006). Embora possa haver uma diversidade de situações que acometem o ser humano e que com frequência chega às unidades de emergência, procuramos avaliar as dificuldades experimentadas pelo enfermeiro no setor de politrauma durante a assistência ao cliente vítima de politraumatismo. A presença do enfermeiro é de fundamental importância na assistência direta às vítimas, na capacitação técnica das equipes, na elaboração de protocolos de atendimentos e material didático e na supervisão do pessoal. Proporciona atendimento mais rápido, organizado, seguro e tranquilo, sendo considerado um ponto de apoio para as equipe (ROMONZINE, 2010). Para Tashiro e Murayama (2001), a vítima do trauma é considerada parcialmente grave, pois seu estado poderá se deteriorar rapidamente atingindo varias partes do organismo e colocando o individuo em risco de vida. Portanto, uma equipe bem estruturada em uma situação de total desespero para o traumatizado, é de extrema importância. Não poderíamos esquecer que dentro de uma grande emergência a utilização de tecnologias por parte da equipe de saúde é bastante freqüente. A presença de máquinas mais complexas como os ventiladores respiratórios, bombas de infusão, e monitores cardíacos é fundamental, garantindo melhor qualidade da assistência ao politraumatizado em estado grave. Porém é possível listar algumas dificuldades enfrentadas pelos profissionais, principalmente enfermeiros em um APH (atendimento pré-hospitalar) aos politraumatizados, tais como: Falta de material permanente (macas, colchonete, lençol, bombas infusoras, oximetros, monitores, colar cervical, marcapasso externo; falta de profissionais qualificados para o atendimento; Superlotação; equipamentos obsoletos, desorganização do setor, rotinas que não são cumpridas, falta de sistematização do atendimento ao cliente politraumatizado, falta de pessoal de apoio, falta de agilidade no atendimento, e atendimento a pacientes que não são de emergência. O enfermeiro deve coordenar a sua equipe visando cuidados específicos e qualitativos a fim de proporcionar um tratamento eficaz com ausência de complicações. No atendimento ao politraumatizado nas unidades de urgência e emergência, o profissional de enfermagem deve usufruir conhecimentos técnico-científicos para que o trajeto terapêutico, juntamente com uma conduta ideal a esse paciente chegue ao resultado esperado. Com isso, é indispensável que uma postura eficiente e atenciosa de toda a equipe de enfermagem com esse tipo de paciente seja introduzida nas unidades de urgência e emergência para repelir, ao máximo, desabonos ao tratamento. Quando se fala no papel do enfermeiro em politraumatizados em hospitais de urgência/emergência, o mesmo está pautado em concepções da administração e da psicologia e em referenciais da sociologia e outros, por se compreender a sua prática como prática social a partir de um processo dinâmico que envolve uma rede de relações, interações, associações e significados. O trabalho do enfermeiro, atende, portanto, a dois aspectos básicos. O primeiro é o de preservar, respeitar e conhecer a particularidade, a individualidade e a variabilidade das situações e necessidades dos pacientes politraumatizados; o segundo, por sua vez, é o de estar em conformidade com determinadas regras, regulamentos e valores gerais, além de inserir/integrar, permanentemente as atividades multiprofissionais. Para exercer sua atividade, o enfermeiro necessita inserir-se nos mais variados espaços relacionais e interacionais, seja junto ao paciente, seja junto à equipe de saúde, de forma consciente e direcionada às necessidades específicas dos sujeitos para que sejam cuidados de forma humana e integral (RIBEIRO, 2001). A enfermagem é considerada uma profissão que sofre o impacto total, imediato e concentrado do stress, que advém do cuidado constante com pessoas doentes, situações imprevisíveis, execução de tarefas, por vezes, repulsivas e angustiantes, o que é comum nas unidades de pronto socorro. Os profissionais que atuam em unidades de atendimento de emergência devem ser capazes de tomar decisões rápidas e precisas e capazes de distinguir as prioridades, avaliando o paciente como um ser indivisível, integrado e inter relacionado em todas as suas funções. Além disto, uma das características mais marcantes do pronto socorro é a dinâmica intensa de atendimento, assim, agilidade e a objetividade se tornam requisitos indispensáveis aos profissionais, pois o paciente grave não suporta demora na tomada de decisões ou mesmo falhas de conduta (GATTI, 2005). Estas exigências tornam-se também fontes de stress para os profissionais destas unidades, o que muitas vezes dificulta o cuidado humanizado (MENZANI; BIANCHI, 2009). Atuar de forma humanizada em serviços de urgência e emergência nos hospitais é um desafio ao enfermeiro e sua equipe. Nesse contexto, espera-se estar oferecendo segurança, atendimento rápido e eficaz, além de um efetivo apoio emocional ao cliente e a sua família, aliados a uma atitude orientada para o aproveitamento dos recursos tecnológicos existentes (SALOME; MARTINS; ESPOSITO, 2009). Segundo o mesmo autor a Unidade de Emergência presta assistência ao enfermo hemodinamicamente grave que muitas vezes chega neste setor inconsciente e acompanhado pelos familiares. Este cuidado deve ser realizado por meio de um relacionamento interpessoal, cujo instrumento se dá por via da comunicação verbal ou não verbal e o toque, contribuindo para amenizar a ansiedade e o medo do desconhecido desses enfermos. No Brasil, as unidades de urgência e emergência são cada vez mais procuradas. Ao conviver com essa realidade, sobressai a precariedade desses serviços: corredores aglomerados de pacientes em macas sem colchões, sem privacidade, conforto ou segurança, à espera de atendimento e, ainda, vulneráveis a infecções cruzadas. Nesse ambiente, encontram-se, também, os familiares, geralmente desinformados quanto aos procedimentos adotados em relação ao paciente e à própria situação deste (ANDRADE et al, 2009). Os recursos para humanização do trabalho e do cuidado parecem estar mais associados a propostas de investimentos na estrutura física dos prédios, na alta e moderna tecnologia e a outros processos que não, necessariamente, impliquem mudanças na cultura organizacional. Sem dúvida, tais medidas podem ser relevantes numa instituição. Contudo, não podem descaracterizar a dimensão humana que necessita estar na base de qualquer processo de intervenção na saúde, principalmente, no que diz respeito à pretendida humanização de um hospital. (Backes, Lunardi e Lunardi Filho 2006). Segundo Gallo e Mello (2009), há certa dificuldade por parte dos trabalhadores para atuar na política de humanização, certa desmotivação, uma vez que o processo desumanização no trabalho da enfermagem é uma questão a ser refletida, pois a maioria dos profissionais enfrenta situações difíceis em seu ambiente de trabalho, tais como baixas remunerações, pouca valorização da profissão e descaso frente aos problemas identificados pela equipe, especialmente quanto ao distanciamento entre o trabalho prescritivo, o preestabelecido institucionalmente e aquele realmente executado junto ao cliente. O setor de urgência e emergência é um ambiente estressante, não se podendo descuidar da equipe. Para a equipe executar uma assistência dentro dos valores éticos, além do conhecimento das técnicas e da tecnologia utilizada no setor, a instituição deve também reconhecer que o profissional é um ser humano e investir na sua capacitação, reconhecendo o seu potencial e limitações. Assim, estará fornecendo um suporte para que a profissão seja executada com humanidade (SALOME; MARTINS; ESPOSITO, 2009). Gallo e Mello (2009) afirmam que a temática da humanização da saúde é muito importante principalmente quando se fala da integralidade da assistência, equidade e participação social do usuário, pois a valorização da dignidade do trabalhador é imprescindível neste processo. É importante que o profissional esteja técnica e humanamente treinado para atender seu cliente. Assim, o atendimento humanizado, principalmente nos setores de urgência e emergência, é um ato a ser seguido, mas que requer certo tempo de adaptação. Trata-se de treinamento dos profissionais de saúde, principalmente aqueles que possuem muitos anos de serviço e que estão acostumados com uma rotina, muitas vezes fria, centrada somente no cuidar, deixando de lado a função de assistir integralmente o doente e seus familiares. Desta forma, acredita-se que é viável que se implante um processo de atendimento humanizado nessas unidades, principalmente pela melhoria vista em longo prazo, tanto nas relações interpessoais entre profissionais como na melhoria da qualidade da assistência ao paciente/cliente e também aos seus entes envolvidos neste processo (GALLO; MELLO, 2009) CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante da necessidade crescente de pesquisa e de melhores serviços gerais e específicos para pessoas vítimas de politraumatismo, vimos à necessidade de realizar essa pesquisa que faz uma análise crítica com relação à assistência prestada ao paciente politraumatizado. Assim faz-se necessário um estudo mais detalhado no que diz respeito a promover informação precisa a cerca da utilização da teoria de Wanda Horta para com o paciente politraumatizado. É de grande importância o esforço por parte da enfermagem em trabalhar, unindo teoria à prática porque, quando se cuida de seres humanos, devem ser observados não apenas os aspectos etiológicos, patológicos e clínicos, mas analisa-se também a total consequência das limitações do indivíduo na realidade psicossocial de sua família. A identificação destas incapacidades, que é a consequência da lesão funcional ou anatômica secundária ao trauma ou doença, que acarreta dificuldades ou mesmo impede o desempenho de uma determinada função, é de suma importância para a reabilitação. A partir do momento em que se conhecem estas limitações, pode-se planejar a assistência, traçando objetivos e metas a serem alcançados, que deverão ser dirigidas à independência nas capacidades preservadas, treino familiar se necessário e a prevenção de sequelas, o que determina a efetivação do processo de reabilitação. Trabalhar tendo estabelecido um marco conceitual, auxilia e orienta o percurso a ser feito, impõe parâmetros e nos deixa mais seguros. A eficácia e continuação do processo de reabilitação na vida cotidiana dependem da soma de conhecimentos e decisões do paciente, sua família e equipe interdisciplinar que o assiste. O enfermeiro, especificamente busca nas teorias, subsídios para realizar esta tarefa da melhor maneira possível e, é possível observar que a teoria selecionada se aplica ao processo de reabilitação em todas as suas etapas, pois no momento do trauma, praticamente todas as necessidades humanas básicas são alteradas, visto que os pacientes apresentam distúrbios da oxigenação, nutrição, sono e repouso, integridade física (principalmente cutânea), sexualidade, locomoção e eliminação vesical e intestinal. Nesta fase, é de responsabilidade também do enfermeiro suprir estes desequilíbrios, promovendo o esvaziamento vesical e intestinal, mediante cateterismos ou estímulos, realizar mudança de decúbito no leito, higiene corporal e outras atividades. No entanto, já nesta fase o enfermeiro deve enxergar o potencial deste paciente para o autocuidado. Além disso, outras necessidades psicossociais também se alteram como a segurança, liberdade, lazer, autoestima, independência, entre outras, as quais devem ser supridas com a ajuda do enfermeiro, quando a pessoa é incapaz de promover o autocuidado e devem ser fornecidas em quantidade e qualidade necessárias. Todas as necessidades estão intimamente inter-relacionadas, uma vez que fazem parte de um todo: o ser humano. É claro que se pode perceber a inter-relação mais estreita entre algumas necessidades e o distanciamento de outras, mas em maior ou menor intensidade todas elas sofrem alterações quando qualquer uma se manifesta, seja por desequilíbrio causado por falta ou excesso de demandas. Sendo assim, a teoria das Necessidades Humanas Básicas se aplica ao processo de reabilitação visto que as necessidades psicobiológicas e sociais estão afetadas após um politraumatismo, daí a importância do enfermeiro na reconstrução do equilíbrio orgânico e mental, auxiliando e incentivando o autocuidado, conforme potencial do paciente para tal. Dessa forma, fundamentada na teoria de Wanda Horta, o enfermeiro deve estar preparado para prestar uma assistência embasada cientificamente, servindo como base para a implantação da SAE (Sistematização da Assistência de Enfermagem), visando uma melhor qualidade na assistência de enfermagem ao paciente politraumatizado. 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