Untitled - Faculdade Guararapes

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INFORMAÇÕES GERAIS
COPYRIGHT
A Revista Interdisciplinar em Saúde e Educação,
editada pela Escola de Saúde e Educação
da Faculdade dos Guararapes (Jaboatão dos
Guararapes, PE), com periodicidade semestral,
tem por finalidade publicar artigos originais
relacionados com as áreas de conhecimento
da saúde e da educação. Publica, também,
trabalhos de revisão crítica da literatura, quando
submetidos em forma de abstract para avaliação
quanto ao interesse. Na seção de publicações
novas compreende resenhas elaboradas por
especialistas, segundo sugestão do Conselho
Editorial. Suplementos temáticos e aqueles
relativos a eventos científicos podem ser publicados
mediante aprovação prévia do Conselho Editorial.
Manuscritos aceitos e publicados são de propriedade
da Revista, ficando os direitos autorais reservados
à mesma. A declaração de responsabilidade e
transferência dos direitos autorais será encaminhada
juntamente com a prova final do artigo, devendo
retornar no prazo estipulado.
A Revista se reserva o direito de efetuar, nos
originais, alterações de ordem normativa, ortográfica
e gramatical, com vistas a manter o padrão culto
da língua, respeitando, porém, o estilo dos autores.
As provas finais não serão enviadas ao autores,
ficando sua reimpressão parcial ou total, sujeita à
autorização expressa do editor desta revista.
A Revista Interdisciplinar em Saúde e Educação
foi criada em 2013, por iniciativa da Escola de
Educação e Saúde da Faculdade dos Guararapes,
e a abreviatura de seu título é RISE, que deve
ser usada em bibliografias, notas de rodapé e em
referências bibliográficas.
Editor executivo
Leandro de Albuquerque Medeiros - Faculdade dos
Guararapes
Conselho Editorial
Aline Alves Barbosa da Silveira - Faculdade dos
Guararapes
Alyne Cristine da Silva - Faculdade dos Guararapes
Carla Fabiana da Silva Toscano Macky - Faculdade
dos Guararapes
Emmanuelle Christine Chaves da Silva –
Universidade Federal Rural de Pernambuco
Fernando Ramos - Faculdade dos Guararapes
Gisela Rocha de Siqueira – Universidade Federal
de Pernambuco
Letícia Scorsi - Faculdade dos Guararapes
Manoela de Lira Malta Araújo – Faculdade dos
Guararapes
Marcela Soutinho Flórido - Faculdade dos
Guararapes
Michaelle Moraes - Faculdade dos Guararapes
Paulo André da Silva – Universidade Federal de
Pernambuco
Ricardo Alexandre Guerra Vieira - Faculdade dos
Guararapes
Shalom Pôrto de Oliveira Assis - Faculdade dos
Guararapes
Editor de criação
Rodrigo Diniz
Apoio técnico e administrativo
Biblioteca – Faculdade dos Guararapes
MISSÃO
O objetivo da Revista Interdisciplinar em Saúde
e Educação, é contribuir para o desenvolvimento
técnico-científico do Estado, buscando a ampliação
dos saberes na área da saúde e da educação,
auxiliando com a formação de uma massa crítica
voltada para atender aos anseios dos cidadãos
pernambucanos.
INDEXAÇÃO
A Revista Interdisciplinar em Saúde e Educação
está em processo de indexação.
ACESSO LIVRE À
INFORMAÇÃO CIENTÍFICA:
A política editorial da revista é a do acesso livre
e gratuito na disseminação, recuperação da
informação e visibilidade científica. Para tanto,
todos os artigos publicados podem ser baixados
integralmente e gratuitamente, sendo que não é
cobrada do autor a publicação do artigo.
CORPO EDITORIAL
PERIODICIDADE
A Revista possui periodicidade semestral.
PATROCINADORES
A Revista recebe financiamento da Faculdade dos
Guararapes.
DIRETRIZES PARA AUTORES
Os trabalhos submetidos à Revista Interdisciplinar
de Saúde e Educação devem enquadrar-se na
linha editorial da revista que aborda a temática
do desenvolvimento humano com ênfase nas
questões relacionadas às necessidades humanas
como saúde e educação. A RISE publica artigos e
resenhas, assim como reedita trabalhos clássicos
e documentos históricos relacionados com os
objetivos da revista. Os artigos e resenhas devem
ser inéditos e não podem ser simultaneamente
submetidos a outra (s) revista (s). Podem ser
submetidos trabalhos redigidos em português,
inglês, francês, espanhol.
Os artigos e resenhas encaminhados a RISE
deverão obedecer rigorosamente às instruções da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT),
notadamente as NBR 10520, 6022, 6023, 6024 e
6028. Os textos extraídos de relatórios técnicos ou
científicos, de trabalhos acadêmicos (monografias,
dissertações e teses) e de projetos de pesquisa
deverão ser convertidos, no que couber para as
regras da NBR 6022 da ABNT. Adicionalmente,
devem ser observadas as normas e orientações
indicadas a seguir.
Condições para Submissão
Como parte do processo de submissão, os autores
são obrigados a verificar a conformidade da
submissão em relação a todos os itens listados a
seguir. As submissões que não estiverem de acordo
com as normas serão devolvidas aos autores.
1.
Entrega do material
1.1
Os artigos não deverão ultrapassar
30 páginas com o título em português e inglês,
resumo e abstract e até cinco palavras-chave, em
português e outro idioma aceito pela revista. O
resumo e o seu correspondente em outro idioma
deverá ser estruturado de acordo com a NBR 6028
da ABNT em um único parágrafo com, no máximo,
250 palavras.
1.2
Deverão constar no final do artigo os
dados referentes ao autor, tais como: titulação
efetiva (mestrando ou doutorando não serão
considerados por não serem títulos), sua atividade
atual, instituição a que esteja vinculado, endereço
comercial e residencial, telefones e correio
eletrônico. Na editoração eletrônica existe um
campo específico para estas informações que
devem ser claras e precisas para todos os autores.
1.3
No caso de artigo escrito por mais de um
autor a RISE considerará, para fins administrativos,
automaticamente como responsável pelo artigo o
primeiro autor.
1.4
Os trabalhos devem ser enviados para
[email protected],
em formato “.rtf”, “.doc” ou .”docx
1.5
A RISE não aceita artigos enviados em
cópia física.
2.
Apresentação Gráfica do Texto
2.1 Especificações:
2.1.1 Tamanho do papel: A4
2.1.2 Tamanho das letras:
• Do corpo do trabalho 12
• Do título 16
• De subtítulos 14
•
2.1.3 Tipos de letras: Arial
2.1.4 Espaços:
• Entrelinhas: 1,5
• Superior: 3,0 cm
• Inferior: 2,0 cm
• Lateral direita: 3,0 cm
• Lateral esquerda: 3,0 cm
•
2.2 Formatação
2.2.1 O texto deve ser justificado.
2.2.2 Nunca separar as sílabas para evitar
desconfiguração do texto ao ser aberto em outro
computador.
4.3
Toda a ilustração deve iniciar após o título
a Fonte de informação. Quando de elaboração do
autor indicar: Fonte: O autor.
2.2.3 Usar somente a cor padrão do texto (preto).
5.
2.2.4 As páginas devem ser numeradas.
5.1 As tabelas apresentam informações
tratadas estatisticamente devem seguir as normas
da ABNT (padrão IBGE – 1993) e devem conter
título e serem numeradas sequencialmente.
Os títulos das tabelas devem estar sempre no
cabeçalho destas.
2.2.5 Os gráficos, tabelas e figuras e/ou ilustrações
deverão ser fornecidos em monocromia (em preto e
branco, com ou sem tons de cinza), apresentados
no corpo do texto enviando e, também, em anexo,
nos formatos originalmente produzidos.
3.
Primeira página do Texto
3.1
Título do artigo: Centralizado na página 3
cm da borda superior.
5.2
Todas as tabelas devem conter em seu
rodapé a respectiva fonte, indicada de forma a
permitir ao leitor verificar a autenticidade dos dados
apresentados.
6.
3.2
Títulos das seções e subseções: devem
obedecer ao que dispõe a NBR 6024. Não
ultrapassar a seção terciária (1.1.1)
3.3
Parágrafos: Cada parágrafo deve ter um
recuo de 0,5 cm na primeira linha e nenhuma linha
em branco entre eles, exceto para os subtítulos que
deverão ter apenas uma linha em branco depois do
parágrafo que o antecede.
4.
Ilustração
Referência
6.1
Devem seguir os padrões estabelecidos
pela NBR 6023 da ABNT.
6.2
A REG adota o sistema alfabético de
referências (Autor/Data). As referências deverão vir
no final do texto, em ordem alfabética. Não colocar
referências no rodapé.
7.
3.4
Notas de rodapé (não utilizar nota
explicativa no final do texto). As notas deverão ser
numeradas em algarismo arábico, devendo ser
únicas e consecutivas para cada artigo (o Word
oferece este recurso).
Tabelas
Responsabilidades
7.1
É responsabilidade do autor a correção
ortográfica e sintática, como a revisão de digitação
do texto, que será publicado conforme o original
recebido pela editoração.
7.2
O conteúdo dos textos assinados é de
única e exclusiva responsabilidade dos autores.
4.1
Deve ser encaminhada em arquivos
separados.
4.2
Qualquer que seja o seu tipo (desenhos,
esquemas, fluxogramas, fotografias, gráficos,
mapas, organogramas, plantas quadro, retratos
e outros) sua identificação aparece na parte
inferior, precedida da palavra figura seguida em
numeração em algarismo arábico. Exemplos:
Figura 1 – Organograma da empresa X; Figura 1
– Foto da Barragem de Xingó; Figura 1 – Esquema
simplificado do Pólo Industrial de SUAPE
8.
Procedimentos de Avaliação
8.1 Os trabalhos submetidos passarão
preliminarmente pelo exame da Editora Guararapes
quanto ao cumprimento integral destas normas
e das demais aplicáveis pelos critérios da ABNT.
Somente os aprovados serão avaliados no sistema
duplo cego por pareceristas, de instituições distintas
daquela à qual o(s) autor(es) está(ão) vinculados
(s).
8.2
O resultado da avaliação de artigos
RISE 2014; 1(1): pag inicio – pag final.
recusados será comunicado ao autor.
Editorial
9.
Estas normas seguem as disposições da
ABNT e IBGE (para tabulação) em vigor no mês de
maio de 2010.
É com muito orgulho que iniciamos as
atividades da Revista Interdisciplinar em Saúde e
Educação, de iniciativa da Escola de Saúde e Educação da Faculdade dos Guararapes / Laureaute
International Universities. Neste número de estreia,
trazemos revisões e artigos originais produzidos pelos pesquisadores da própria faculdade, como forma de valorização do fruto do trabalho acadêmico
produzido em nossa região.
Trata-se da primeira revista de cunho científico na área da saúde e educação produzida na
cidade do Jaboatão dos Guararapes, localizada na
Região Metropolitana do Recife, a qual apresenta
grandes problemas socioeconômicos relevantes,
assim como outras cidades do Nordeste brasileiro. Do ponto de vista pragmático, entendemos que
a revista pode ser uma ferramenta importante na
identificação e exploração de tais necessidades da
região, para a contribuição na formação de uma
massa crítica local e que dê base para iniciativas
para a transformação social.
O filósofo chinês Confúcio afirma que “a
essência do conhecimento consiste em aplicá-lo,
uma vez adquirido”. Esta afirmação é inspiradora
e nos mostra a relevância da realização da disseminação do conhecimento resultante de pesquisas
que sejam instrumentos, diretos e indiretos, para a
construção de saberes que levem ao atendimento das necessidades sociais mais importantes, as
quais dão condição para seu crescimento e desenvolvimento: a saúde e a educação. Isto nos inspirou, portanto, e que contribuiu na caracterização do
escopo desta revista.
Assim, convido-os a uma leitura periódica
e a celebrar o surgimento deste novo objeto de comunicação científica com a comunidade. Um feliz
2014 a todos.
Leandro de Albuquerque Medeiros
Editor-chefe
revisão
BETACaroteno e astaxantina características e importância: Uma revisão
Aline Alves Barbosa da Silveira2,1; Kaoru Okada2; Galba Maria de Campos-Takaki2
Resumo
Várias pesquisas vêm sendo desenvolvidas com β-caroteno e astaxantina utilizando
fontes alternativas de produção. A astaxantina é um carotenóide oxigenado, responsável pela coloração de
peixes, como o salmão, enquanto o β-caroteno está presente em vegetais, sendo também produzido por
microrganismos. Tanto o β-caroteno como a astaxantina são precursores de vitamina A, demonstrando um
alto poder antioxidante. Podem ser obtidos de fontes naturais e/ou sintetizados quimicamente. Este presente
artigo representa uma revisão bibliográfica sobre as características dos carotenoides, principalmente o
b-caroteno e a astaxantina.
Palavras-chave: Carotenóides; astaxantina; antioxidantes; β-caroteno; astaxantina
Abstract
Several researches have been developed with β-carotene and astaxanthin production
using alternative sources. Astaxanthin is a carotenoid oxygenated responsible for the coloration of fish,
such as salmon, while β-carotene is present in vegetables and is also produced by microorganisms. Both
β-carotene and astaxanthin are precursors of vitamin A, demonstrating a high antioxidant power. Can
be obtained from natural sources and / or synthesized chemically. This present article is a review on the
characteristics of carotenoids, mainly β-carotene and astaxanthin.
Key-words: Carotenoids, astaxanthin, antioxidants, β-carotene, astaxanthin
Introdução
A astaxantina é um carotenoide
oxigenado, pertencente ao grupo das xantofilas,
enquanto o β-caroteno ao grupo dos carotenos.
Suas fontes naturais principais são as microalgas e
os fungos. Os animais são inábeis em produzir estes
carotenóides e sua obtenção se dá a partir da dieta.
A astaxantina e o β-caroteno, como cerca de 10 %
dos carotenoides, são precursores da vitamina A e
por isso, possuem atividade antioxidante, capazes
de diminuir os radicais livres, formados pelo
estresse, má alimentação, doenças e responsáveis
pelo envelhecimento e morte celular. (NI et al., 2007;
LEE e LEE, 2010; PARK et al., 2010; FRASSET;
COOMBES, 2011; FREY;VOGEL, 2011;VÍLCHEZ,
et al., 2011; SAOUDI e FEI,2012)
Existem diversas fontes de astaxantina:
a sintética, derivada de carapaças de crustáceos
e a obtida por processos biotecnológicos, como
por exemplo, através dos microrganismos. Já
para o β-caroteno, as principais fontes são alguns
vegetais, microalgas e fungos filamentosos. Diante
da crescente busca por uma vida mais saudável, o
interesse por compostos naturais vem aumentando,
e com isso, a astaxantina e o β-caroteno extraídos
de microrganismos têm sido bastante pesquisados.
(CHOUBERT et al., 2005; KAEWPINTONG, et al.,
2006; KIM et al., 2006; KHANAFARI, et al., 2008;
MALDONADE et al., (2008); URIBE et al ., 2009;
MAOKA, 2011).
O entrave na produção microbiana de
carotenóides, como em qualquer bioproduto, são
os altos custos dos meios de cultura, por isso,
1. Curso de Ciências Biológicas, Faculdade dos Guararapes;
2. Núcleo de Pesquisa em Ciências Biológicas, Universidade Católica de Pernambuco.
email para correspondência: [email protected]
várias pesquisas vem sendo realizadas buscando
fontes alternativas de produção. Dentre essas
fontes alternativas, destacam-se os insumos
agroindustriais, tais como milhocina, melaço,
caldo de cana de açúcar, quirera e manipueira.
(HERNÁNDEZ et al., 2002; CHOCIAI et al., 2002;
NITSCHKE & PASTORE, 2004; BRANDÃO et al.,
2008; FONTANA et al., 2008; LIU; WU , 2008;
NOGUEIRA et al., 2009 ; CROP PRODUCTION,
2010; NING et al., 2012).
A produção microbiana de carotenóides,
como o β-caroteno e a astaxantina pode ser
influenciada por fatores extremos impostos aos
microrganismos durante o seu cultivo, para a
proteção de suas células. Dentre esses fatores,
destacam-se a deficiência de nutrientes, luz (tipo,
cor e tempo de exposição), faixas extremas de pH,
entre outros fatores. (LABABPOUR et al., 2004;
MARTINEZ-MOYA, et al., 2011)
Carotenóides
Tabela 1. Nomenclatura comercial e semi-sistemática de carotenóides comuns.
Nome trivial
Aleuraxantina
1´, 16´-Didesidro-1´, 2´-dihidro-β, ϕ - caroten- 21- ol
Astaxantina
3,3´- dihidroxi – 4,4´- diceto - β-caroteno
Cantaxantina
4,4´- Diceto - β-caroteno
α−Caroteno
β, ε−Caroteno
β−Caroteno
β, β−Caroteno
γ-Caroteno
β, ϕ −Caroteno
ε -Caroteno
ε , ϕ −Caroteno
δ -Caroteno
7,8,7´, 8´− Tetrahidro- β, β -caroteno
β−Criptoxantina
3,4-Didesidrolicopeno
Equinenona
Licopeno
Licoperseno
3 −Hidroxi, β, β -caroteno
3,4-Didesidro-ϕ, ϕ -caroteno
β, β−Caroten-4-ona
ϕ , ϕ −Caroteno
7,8,11,12,15,7´, 8´, 11´, 12´, 15´- Decahidro- ϕ, ϕ -caroteno
Neurosporaxantina
Ácido 4´- Apo-β - caroten- 4´- óico
Neurosporeno
Filipsiaxantina
7,8-Dihidro- ϕ , ϕ -caroteno
Fenicoxantina
3-hidroxi- β, β−Caroten-4,4´- diona
Fitoeno
7,8,11,12,15,7´,8´,11´,12´- Octahidro - ϕ , ϕ −Caroteno
Fitoflueno
7,8,11,12,7´,8´- hexahidro - ϕ , ϕ −Caroteno
Plectianaxantina
3´,4´- Didesidro-1´,2´-dihidro - β, ϕ −Caroteno-1´,2´-diol
Rodoxantina
4´, 5´- Didesidro – 4,5´- retro- β, β−Caroteno-3,3´-diona
Rubixantina
β, ϕ −Caroten-3-ol
7,8,11,12-Tetrahidrolicopeno
7,8,11,12-Tetrahidro- ϕ , ϕ −Caroteno
Torularodina
Ácido 3´,4´-Didesidro- β, ϕ -caroten-16´-óico
Toruleno
α-Zeacaroteno
β-Zeacaroteno
Zeaxantina
Fonte: Rodriguez-Amaya (2001).
Nome sistemático
1,1´-Dihidroxi-3,4,3´,4´-tetradesidro-1,2,1´,2´-tetrahidro- ϕ,
ϕ -caroteno-2,2´-diona
3´, 4´-Didesidro- β, ϕ -caroteno
7´, 8´-Dihidro- ε , ϕ −Caroteno
7´, 8´-Dihidro- β , ϕ −Caroteno
β,β −Caroteno-3,3´-diol
Os carotenóides são pigmentos presentes
em organismos vivos com cerca de 600 tipos
descritos, apresentando muitas variedades, de
acordo com suas estruturas e funções. Possuem
esta denominação por representarem a maior
parte dos pigmentos em cenouras (Daucus carota)
(PFANDER, 1992; ZEB; MEHMOOD, 2004; ZEB;
MEHMOOD, 2004; FUENTE et al., 2006; SILVA
FILHO, 2010; FARIA, et al., 2011; PEREIRA, 2011).
As estruturas dos carotenóides são constituídas
por cadeias de polienos isoprenóides (C40H56),
com oito unidades de cinco isoprenos unidos em
um esqueleto central de 22 átomos de carbono
e 2 caudas com 9 carbonos, resultando em
uma molécula simétrica (RODRIGUEZ-AMAYA;
KIMURA, 2004; FUENTE et al., 2006)
Quanto à composição, os carotenóides são
divididos em carotenos e xantofilas. Os carotenos
são compostos somente de carbono e hidrogênio
(ex: β-caroteno e licopeno). As xantofilas são
carotenóides oxidados que possuem hidroxilas
(ex. β- criptoxantina); grupos ceto (astaxantina,
cantaxantina); epóxi (violaxantina) e aldeído
(β-citraurina).
Na figura 1 são encontrados as estruturas
dos carotenos e das xantofilas. (RODRIGUESAMAYA, 2001; UENOJO; MARÓSTICA JUNIOR;
PASTORE, 2007; CERQUEIRA, et al., 2007;
FRASSET; COOMBES, 2011). A tabela 1 demonstra
a nomenclatura semi-sistemática e os nomes triviais
dos carotenóides comuns, entre eles, a astaxantina.
Astaxantina e β-caroteno
Fontes e biossíntese
A astaxantina (3,3´- dihidroxi -4,4´-dicetoβ− caroteno) é uma xantofila sendo o carotenóide de
maior valor econômico (U$$ 2500/Kg), responsável
por 28% das vendas de carotenóides. O interesse
pela astaxantina vem aumentando nos últimos anos
devido a sua utilização em indústrias de cosméticos
e de alimentos (como colorante para a criação de
peixes e aves domésticas) e também devido a sua
propriedade antioxidante (BCC RESEARCH, 2008;
PARK et al., 2010; SCHMIDT et al., 2011;).
A astaxantina pode ser extraída de
fontes naturais ou sintetizada quimicamente.
Dentre as fontes naturais destacam-se os peixes
(salmonídeos); os crustáceos (camarão e lagosta);
as flores da planta Adonis aestivalis e os fungos
X. dendrorhous; Saccharomyces cerevisae, M.
circinelloides e M. hiemalis (RODRIGUEZ-AMAYA,
2001; ANDRADE, 2002; CHOUBERT, et al., 2005;
KIM et al., 2006; KHANAFARI, et al., 2008; URIBE
et al ., 2009; MAOKA, 2011).
A astaxantina sintética é denominada de
Astaxantina disuccinato dissódio (DDA) formando
todos os três isômeros de astaxantina: (3-R,3′-R),
(3-R,3′-S) e (3-S,3′- S), nas proporções 1:2;1,
respectivamente (FASSETT e COOMBES, 2011).
A síntese química é conhecida por conter
carotenóides não tão eficientes como os naturais,
consequentemente, a produção microbiana tem
sido bastante investigada (CHOUBERT et al., 2005;
KIM et al., 2006; KAEWPINTONG, et al., 2006).
O β- caroteno (β, β−Caroteno) é o
carotenóide mais abundante na dieta humana e
um dos carotenóides precursores de vitamina A
(RODRIGUEZ-AMAYA et al., 2008). Está presente
em inúmeros vegetais e em microrganismos, tais
como os fungos Phycomyces blakesleeanus,
Blakeslea
trispora,
Mucor
circinelloides
(RODRIGUEZ-AMAYA, 1999; DUFOSSÉ, 2006,
ÁLVAREZ, 2006).
O β-caroteno é muito utilizado em
indústrias de alimentos e farmacêutica para conferir
cor alaranjada aos produtos, substituindo os
corantes sintéticos (GALLEGO, 2007)
Quanto à biodisponibilidade do β-caroteno
é um dos carotenóides que mais possuem a
capacidade de conversão em vitamina A e 1 mg
de β-caroteno equivale a 0,167 mg de vitamina A
(BRASIL, 2005).
A Via biossintética da produção de
astaxantina e β-caroteno para a levedura
Saccharomyces cerevisae é descrito na figura 2
e se assemelha a biossíntese de outros fungos
(URIBE et al ., 2009).
Propriedade antioxidante
Uma propriedade bastante pesquisada
dos carotenóides é a de precursora da vitamina A
(retinol). Esta vitamina combate os radicais livres,
através de sua ação antioxidante. Os animais não
a produzem, havendo a necessidade de obtêla a partir de alimentos derivados de animais ou
que contenham carotenóides (cerca de 10% dos
carotenóides possuem esta propriedade). (LEE e
LEE, 2010; PARK et al., 2010 FREY;VOGEL, 2011).
Devido a esta propriedade, os carotenóides
apresentam muitos benefícios à saúde humana, na
ação preventiva para problemas de saúde; atuando
na indústria de alimentos e farmacêutica como
conservante, colorante, antioxidante, aditivo e fonte
de vitamina. (LORENZ & CYSEWSKI, 2000; KIM,
et al., 2006; PARK et al., 2010; ROMERO et al.,
2010; FASSETT e COOMBES, 2011; MUELLER;
BOEHM, 2011; ZHONG et al., 2011, VÍLCHEZ, et
al., 2011).
Segundo Romero et al., (2010) a eficiência
de um antioxidante é determinada principalmente
por:
1.
A sua reatividade frente ao oxigênio livre;
2.
A quantidade de moléculas de oxigênio
livre que o antioxidante pode remover;
3.
Sua capacidade de atingir células lipídicas;
4.
A capacidade de gerar, após a reação
com oxigênio livre, produtos com baixa
reatividade para lipídios.
A capacidade antioxidante da astaxantina
é determinada pela sua estrutura química, pois em
termos de disposição espacial em membranas,
a astaxantina se distribui de uma forma quase
perpendicular em relação à superfície da membrana
(Figura 3), com as duas extremidades em contato
com a água. (FUJI HEALTH SCIENCES, 2012).
A administração de astaxantina pode
preservar a membrana celular, exercendo uma
proteção contra o estresse oxidativo e inflamação e
proporcionar uma proteção cardíaca e neurológica
(LEE; LEE; KNOW, 2010; FRASSET; COOMBES,
2011).
Em uma pesquisa com indivíduos
acima de 60 anos, foi administrado 1 ovo por dia
durante 5 semanas. Os resultados demonstraram
que tal consumo aumenta significativamente as
concentrações séricas de luteína e zeaxantina
sem elevar os lipídios séricos e as concentrações
de colesterol. Este perfil demonstra que a luteína
e zeaxantina presentes no ovo são antioxidantes
que contribuem na redução do colesterol oxidado.
(GOODROW et al., 2006).
Fontes alternativas de
produção
Os custos dos meios de cultura encarecem
a produção de carotenóides por microrganismos,
portanto, há a necessidade de se buscar fontes
alternativas de produção, buscando diminuir
os custos de produção deste bioproduto, como
citado por Yimyoo et al., (2011). Destarte, muitas
pesquisas são realizadas com diversos insumos e
resíduos agroindustriais.
Em muitas pesquisas com a levedura
X. dendrorhous são relatadas a produção de
carotenóides utilizando fontes diversas, tais como
derivados de fibras de milho, cascas de abacaxi,
resíduos de mandioca e caldo de cana de açúcar.
(CHOCIAI et al., 2002; NGHIEM, 2009, YANG et al.,
2011a).
Dentre
os
resíduos
citados
na
literatura, encontramos a manipueira, efluente
do processamento da mandioca (Manihot
esculenta). Muitas toneladas de manipueira
são produzidas na Região Nordeste do Brasil
e quando o seu descarte é realizado de forma
indevida pode levar a eutrofização dos corpos
d´água. A manipueira é composta principalmente
por amido, proteínas, celulose e outros nutrientes.
(CHOCIAI, 2002, NITSCHKE e PASTORE 2004;
CHOUBERT et al. 2005; KAEWPINTONG et al.
2006; VASCONCELLOS et al. 2009; CASULLO et
al. 2010; YANG et al. 2011b; YIMYOO et al. 2011,
SAOUDI e FEI, 2012). Fontana et al., (2008) citam
que a manipueira pode ser um importante insumo
na produção de astaxantina por fungos.
O caldo de cana é uma matéria-prima
barata e abundante em nosso país, maior produtor
de cana-de-açúcar do mundo, responsável por
25% da produção mundial. Considerando a riqueza
nutricional do caldo de cana, composto por sacarose,
glicose, frutose, fibra, celulose, minerais (Fe, K, P,
Na, Cu, Mg, Zn, Mn, Ca) e demais micronutrientes.
Representa uma excelente via alternativa para a
produção de carotenóides, em muitos trabalhos
são citados a produção de astaxantina utilizando
X. dendrhous em meio de cultura contendo caldo
de cana. (CHOCIAI et al., 2002; MORIEL, 2004;
MORIEL, 2005; FARIA, 2005; BRANDÃO et al.,
2008; NOGUEIRA, et al., 2009).
O melaço de cana-de-açúcar é utilizado
em meios de cultura para a produção de fungos,
pois possui uma composição bastante rica,
contendo em sua composição 17% de água; 66
% de açúcares, sendo 16% açúcares redutores
(glicose e frutose) e 50%, sacarose; 8% de cinzas,
4% de matéria nitrogenada e minerais (Fe, K, P,
Na, Cu, Mg, Zn Mn, Ca). (NOGUEIRA, et al., 2009;
HAULY; OLIVEIRA; OLIVEIRA, 2003). Na produção
de astaxantina com o melaço são citados os
microrganismos X. dendrorhous e a alga Chorella
zofingensis. (JIRASRIPONGPUN, et al., 2007; LIU,
2012).
A batata é cultivada em todo o mundo e
sua composição química é influenciada por muitos
fatores, tais como a área de produção, cultivar,
solo e clima. É composta por proteínas, fibras,
carboidrato, minerais (Fe, Zn e Ca), aminoácidos
(18,5% de ácido aspártico e 9,30% de ácido
glutâmico), vitaminas (retinol, ácido ascórbico,
tiamina, riboflavina, niacina, piridoxina, ácido
fólico) e alguns micronutrientes. (TAI-HUA, 2009;
ABUBAKAR, 2010; ABA, 2012). Meios de cultura
contendo batata inglesa ou batata-doce têm sido
utilizados no cultivo de diversas espécies de fungos.
Para a preparação destes meios a quantidade
de batata utilizada é variável e o meio preparado
a partir do cozimento do tubérculo, utilizando-se
apenas o extrato da batata, completando-se o meio
com água destilada (HANADA; GASPAROTTO;
PEREIRA, 2002; VISWANATH, 2008).
A milhocina é o efluente do processamento
do milho, formado a partir da embebição dos grãos
em uma solução de dióxido de enxofre. O líquido embebido é então separado dos produtos sólidos
formados (germe, farelo, amido, e glúten). A
milhocina é composta por proteínas, aminoácidos,
hidratos de carbono, ácidos orgânicos (por exemplo,
ácido láctico), vitaminas e minerais. Alguns autores
citam a milhocina como fonte para a produção de
astaxantina por X. dendrorhous (LIU; WU , 2008;
CROP PRODUCTION, 2010 ; NING et al., 2012).
O mercado de carotenóides
Os Estados Unidos e a Europa em conjunto
são responsáveis por uma parte importante das
vendas no mercado de carotenóides global de
carotenóides. As empresas DSM Nutritional
Products representa o maior produtor mundial
de carotenóides sintéticos, a BASF é o segundo
produtor e em conjunto, representam cerca
de 55% do mercado mundial de carotenóides.
(PRWEB, 2011). Devido a todas as características
apresentadas pelos carotenóides, o mercado
mundial destes compostos vem aumentando
anualmente. Em 2007, foi de 766 milhões de dólares e espera-se que haja um aumento anual de 2,3%,
chegando a 919 milhões de dólares em 2015, como
demonstrado na Figura 4 e de 1.3 bilhões de dólares
em 2017 (BCC RESEARCH, 2008; PRWEB, 2011).
Conclusão
Os carotenoides são importantes aliados
no combate aos radicais livres, produzidos
cotidianamente a partir das nossas atividades
diárias. O β-caroteno e a astaxantina são um
dos carotenoides principais no combate a esses
radicais, sendo que a astaxantina possui um
potencial superior aos demais carotenóides. A
via microbiana de produção dos carotenoides
astaxantina e β-caroteno vêm sendo cada vez
mais explorada, devido às facilidades deste tipo
de cultivo, porém o entrave da produção se dá
principalmente pelos custos dos meios de cultura.
Por isso, há a necessidade de se buscar fontes
alternativas de produção, garantindo assim, uma
produção mais eficiente, com menor custo e com
menos riscos para o consumidor, por se tratar de
uma fonte natural de produção.
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revisão
REAÇÕES ADVERSAS AOS
ALIMENTOS: ALTERNATIVAS DE BAIXO CUSTO
Alyne Cristine Souza da Silva ¹ Kellyane Correia da Cruz ²
RESUMO
A alta prevalência, em pediatria, de reações adversas aos alimentos como alergias ou intolerâncias alimentares, entre outros distúrbios gastrointestinais tem levado a restrições alimentares de fórmulas
infantis, em geral, à base do leite de vaca e de soja. Por consequência, são indicadas a utilização de formulações especializadas, de alto custo, como fonte alternativa de proteínas que atendam às necessidades
nutricionais e condições clínicas peculiares destes pacientes. Tendo em vista a dificuldade na obtenção da
fórmula industrializada, principalmente após alta hospitalar para manutenção adequada do estado nutricional, faz-se necessário, o aprofundamento de estudos e a busca por alternativas alimentares de acordo com
nossa realidade sócio-econômica.
Palavras chave: reações adversas aos alimentos, alternativas alimentares, custo
ABSTRACT
The high prevalence in children, adverse reactions to food as food allergies or intolerances, and
other gastrointestinal disorders has led to dietary restrictions of infant formula, usually based on cow’s milk
and soy. Consequently, are indicated using specialized formulations, high cost, as an alternative source of
proteins that meet the nutritional needs and medical conditions peculiar these patients. Given the difficulty
in obtaining the formula industrialized, mainly after hospital discharge for proper maintenance of nutritional
status, it is necessary, further studies and the search for alternative food according to our socio-economic
reality
Keywords: adverse reactions to food, food alternatives, cost
INTRODUÇÃO
Alimentação no 1 ano de vida
O aleitamento materno favorece o crescimento e o desenvolvimento da criança, tanto por
suas características nutricionais, imunológicas e
psicológicas, quanto por possibilitar o crescimento
harmonioso da face, promovendo a maturação das
funções do sistema estomatognático (FRANÇA,
2008).
No entanto, no século XX a prevalência e a
duração do aleitamento materno diminuíram difusamente e de forma mais intensa, com o conseqüente
aumento, principalmente nos países subdesenvolvidos, dos índices de mortalidade infantil.
Alguns fatores contribuíram para o aban1. Curso de nutrição. Faculdade dos Guararapes
2. Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira
Email para correspondência: [email protected]
dono da amamentação, como a industrialização
promovida pelo capitalismo, ocasionando a inserção da mulher no mercado de trabalho. Além disso,
a utilização de tecnologias modernas possibilitou a
produção e conservação de leites e alimentos infantis industrializados. Esses alimentos foram amplamente divulgados pela indústria como substitutos
eficazes do leite materno (Silveira FJF, Lamounier JA, 2006).
O leite de vaca é freqüentemente utilizado em substituição ao leite materno; logo, as suas
proteínas são os primeiros antígenos alimentares
com os quais o lactente tem contato, o que o torna
o principal alimento envolvido na gênese da alergia
alimentar nesta idade (Cortez A. P. B. et al, 2007).
A alimentação artificial tem sido descrita
como um dos importantes fatores de risco na incidência, duração e gravidade do processo diarréico.
As proteínas do leite de vaca e de soja durante a
diarréia aguda possibilitam, além do aumento do
risco de evolução para quadro persistente, o desenvolvimento de alergia (Ballester D, et al. 2002).
Reações adversas aos leites
A prevalência estimada de alergia às proteínas do leite de vaca é de 2 a 3% em crianças
menores de três anos, sendo a intolerância à lactose também frequentemente encontrada nesta faixa etária. Os sintomas mais freqüentes da alergia
manifestam-se no trato gastrointestinal, trato respiratório e pele. As manifestações clínicas incluem
urticária, prurido, vômito, diarréia, náusea, dor abdominal, angioedema, broncoespasmo e constipação intestinal, dentre outras (Cortez A. P. B. et al,
2007).
Nas hipersensibilidades não mediadas por
IgE e que apresentam manifestações como colites,
enterocolites ou esofagites, o risco de alergia simultânea à soja pode chegar a 60%, não sendo, portanto, rotineiramente recomendado o seu emprego
(TOPOROVSKI, 2007).
Há, na literatura, várias restrições ao uso
das fórmulas à base de soja nos casos não IgE mediados, não sendo recomendadas na terapia nutricional de lactentes tanto pela Sociedade Européia
de Alergologia Pediátrica e Imunologia Clínica (Espaci) quanto pela Sociedade Européia de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (ESPGHAN). A Academia Americana de Pediatria (AAP)
sugere considerar o uso de tal fórmula nas alergias
mediadas por IgE, em lactentes acima de seis meses.
Doenças diarréicas
Nos países em desenvolvimento a doença
diarreica continua sendo um importante problema
de saúde, principalmente para as crianças com idade inferior a 5 anos. No Brasil, esta mortalidade é
de 6,9%, sendo que uma proporção maior entre os
óbitos ocorre no Nordeste do país. (Ballester D,
et al. 2002)
A diarreia persistente, de etiologia prova-
velmente infecciosa, tem sido reconhecida por acometer de 3 a 20% de todos os episódios de diarreia
aguda em crianças menores de cinco anos tornamse persistentes e que mais de 50% das mortes provocadas por diarreia estejam associadas a episódios persistentes. (MATTOS, A.P et al 2009)
Na vigência do processo diarreico, ocorre agressão à mucosa e a bordadura estriada do
enterócito, alterando sua morfologia. As lesões do
intestino delgado favorecem a passagem de proteínas alimentares, intactas ou parcialmente hidrolisadas através da mucosa, tendo como consequência
alergia às proteínas da dieta (leite de vaca, proteína
da soja).(Andrade A.B.J et al, 2000)
Alternativas alimentares
Até o momento os estudos que tem enfatizado o manejo nutricional para Diarreia Persistente
tem usado uma variedade de dietas, que são baseadas em dietas tradicionais tal como o leite (com ou
sem lactose), proteína de soja, proteína de frango,
hidrolisado proteico e aminoácidos livres. No entanto, apesar de aceitar-se que o manejo nutricional, é,
de longe, o componente mais importante no tratamento da diarreia persistente, nenhuma abordagem
sistemática ou padronizada para a terapia nutricional tem sido estabelecida até agora. (MATTOS, A.P
et al 2009)
Já os princípios para a terapêutica da alergia à proteína do leite de vaca fundamentam-se na:
1) exclusão das proteínas do leite de vaca da dieta,
ou seja, não oferecer leite de vaca e seus derivados; 2) prescrição de uma nova dieta substitutiva
nutricionalmente adequada. Lactentes menores de
6 meses, em geral, recebem fórmula especial como
única fonte alimentar, por sua vez, a partir dos 6
meses de vida, o paciente com alergia ao leite de
vaca devem receber alimentos complementares
(WEBER, T.K. et al, 2007).
No entanto, além das proteínas do leite de
vaca, algumas crianças podem desenvolver alergia
às proteínas da soja, que, neste caso, devem também ser retiradas da dieta (Cortez A. P. B. et al,
2007).
Nestes casos a conduta nutricional baseiase na utilização de produtos industrializados com
fórmulas quimicamente definidas ou por formulações artesanais compostas por alimento in natura
e/ou processados. As dietas preparadas artesa-
nalmente podem possuir custo consideravelmente
menor do que as industrializadas (FERREIRA, R.S.
2009).
Um grande número de formulações comerciais com diversas aplicações está disponível no
mercado , entretanto, são de alto custo e, quando
administradas por longo período, leva os pacientes
a utilizar fórmulas caseiras, no entanto, há escassez
de dados nacionais referentes à análise da composição centesimal de dietas enterais artesanais e tais
informações são importantes principalmente para
o estabelecimento de parâmetros de avaliação da
qualidade nutricional de dietas (Atzingen, M. C.
V et al, 2007).
Hidrolisados protéicos
Fórmulas sintéticas com hidrolisados protéicos e aminoácidos livres têm sido usadas no
tratamento nutricional de indivíduos com limitações
para digerir proteínas intactas, em casos de hidrólise luminal prejudicada, falência gástrica ou hepática, má nutrição associada ao câncer, queimaduras
e traumas, má absorção, disfunções metabólicas
e alergias alimentares (Atzingen, M. C. V et al,
2007).
A aplicação mais comum de proteína hidrolisada foi em formulações para crianças com
hipersensibilidade alimentar, a fim de melhorar as
propriedades nutricionais e funcionais. Outras possíveis aplicações dos hidrolisados foram sugeridas
e incluem a elaboração produtos para geriatria, suplementos alimentares e dietas enterais. (ROSSI,
D. M, 2009)
Modificações químicas e enzimáticas têm
sido usadas para melhorar as propriedades funcionais das proteínas, no entanto, a hidrólise enzimática apresenta maiores benefícios e vantagens sobre
a modificação química porque inclui a especificidade da enzima em relação ao substrato, havendo
pouca probabilidade de ocorrer reações indesejáveis, que resultem na formação de produtos tóxicos,
além de se processar sob condições mais brandas.
A hidrólise enzimática da proteína resulta em: a)
diminuição do peso molecular, b) aumento do número de grupos ionizáveis, c) exposição de grupos
hidrofóbicos que estavam protegidos na estrutura
original da proteína (ROMAN & SGARBIERI, 2005).
O peso molecular do hidrolisado de frango preparado através de reação enzimática com a
bromelina é em média de 3,5 KDa, ou seja, dentro
do recomendado para ser considerado uma fonte
protéica de baixa alergenicidade (ATZGEN, 2005).
Além disso a carne de frango é considerada de
baixa alergenicidade, não sendo citada entre os alimentos que mais causam reações adversas (PENTERICH, 2006).
Em estudo experimental, o hidrolisado
protéico, na forma de ração, apresentou boa qualidade nutricional quando comparada com caseína, em ratos. Os parâmetros biológicos indicaram
que a proteína hidrolisada, além de ser de baixo
custo, apresentou boas propriedades nutricionais
de digestibilidade, eficiência alimentar e utilização
de proteína, sugerindo que os aminoácidos foram
prontamente disponível para a digestão, tornando
esta como fonte adequada (ROSSI, D. M, 2009).
Aspectos microbiológicos
A atividade de água (Aw) determina a concentração de solutos de um alimento. A capacidade
de desenvolvimento de microorganismos é reduzida numa Aw mais baixa. (JAY, 2000)
As taxas de crescimento e produção tanto
das bactérias quanto das toxinas por elas produzidas, tais como Salmonella spp e Stafilococcus aureu, são menores em condições anaeróbias. (CLIVER e RIEMAN, 2002)
As bactérias mais comumentes encontradas nas carnes de aves cruas são: coliformes totais
e fecais, Escherichia coli, Salmonella spp., Clostridium perfrigens, Yersinia enterocilitica, Listeria monocitogenes, Campylobacter spp., e Stafilococcus
aureus (SILVA JR, 2002)
O processo de desidratação tem sido
amplamente utilizado como uma das formas mais
eficientes de conservação de alimentos e minimização de crescimento microbiológico pela redução
da atividade de água do alimento (FRANCO; LANDGRAF, 2005).
Já os bolores e leveduras são aeróbios,
capazes de se desenvolver em Aw mais baixa e podem produzir metabólicos tóxicos quando se multiplicam. Por isso, a contagem de bolores e leveduras
é usada como parte do critério microbiológico em
todo o mundo. (NOVAK, et al 2002)
O valor de umidade de farinhas à base de
proteína animal obtido pelo controle de secagem
durante o processamento influencia na estabilidade
do produto (vida de prateleira) e conseqüentemente
na sua aceitação para comercialização, com umidade equivalente ao da farinha de frango, uma farinha
bem aceita. (COSTA, 2008)
Os hidrolisados proteicos são recursos
dietéticos de grande utilidade na prática clínica, no
entanto, em termos de terapia no mundo em desenvolvimento, as maiores limitações de dietas elementares, entre outras fórmulas classificadas como
hipoalergênicas, são custo proibitivo das fórmulas
industrializadas e viabilidade limitada em sua forma
artesanal. (FERNANDES, D. F. M.; FAGUNDESNETO, U. F, 2002)
Por tanto, se faz necessário a realização
de estudos no sentido de aprimorar o conhecimento e promover novas tecnologias que propiciem
melhores condições de obtenção, processamento,
estabilidade e utilização destas fórmulas, além de
garantir a preservação de suas propriedades funcionais.
Considerações Finais
Estudos sobre o aperfeiçoamento e desenvolvimento de técnicas para obtenção de proteínas
de alto valor biológico, advindas de outras fontes
alimentares que possam oferecer opções dietéticas
viáveis para o tratamento e manutenção do estado nutricional de indivíduos com as mais diversas
afecções do trato gastrointestinal, intolerantes e/ou
alérgicos, tem sido de extrema importância, visto
que o custo proibitivo, imposto pela comercialização
de fórmulas especializadas e industrializadas, com
frequência, representa a maior limitação para uma
adequada terapia nutricional em países subdesenvolvidos ou em desenvolvimento.
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ARTIGO
ORIGINAL
GORDURA DIETÉTICA E LIPÍDIOS SÉRICOS.
Alyne Cristine Souza da Silva ¹ Ana Célia Oliveira dos Santos ²
Resumo
A associação entre gordura dietética e hiperlipidemia é controvertida. Apesar de décadas de
pesquisa ainda é discutível se os níveis recomendados para o consumo de gorduras saturadas e colesterol
reduzem o risco de doenças cardiovasculares. O objetivo deste trabalho foi definir a associação entre o
consumo de gordura e lipídios plasmáticos. Foram selecionados 115 voluntários com idade acima de 21
anos, originados da livre demanda do ambulatório de nutrição do Hospital Universitário Oswaldo Cruz. O
consumo alimentar foi avaliado através de questionário para determinar a ingestão diária de energia total
e de gordura. Serum lipides determinations were measured using the Hitachi 912, performed according to
the manufacturer’s. A análise dos dados foi realizada ao final do período para descrição dos resultados
e geração das curvas de freqüência de distribuição. Diante da análise dos dados, não foi encontrado
correlação entre o consumo de gordura e os valores de Colesterol Total, C-HDL, C-LDL e Triglicerídeos
circulantes, com valores de R de 0.0939, 0.0946, 0.141 e 0.093, respectivamente. Este estudo enfatiza a
necessidade de uma reavaliação dos conceitos atuais sobre o consumo de gordura e sua relação com a
incidência de doenças cardiovasculares.
Palavras-chave: gordura dietética, lipídios séricos
Abstract
The association among dietary fat and consummate excessive of energy and hiperlipidemia is plenty
of controvertida. In spite of decades of research it is still a debatable proposition if the levels recommended
for the consumption of saturated fats, potentially it reduces the risk of cardiovascular diseases. This study
define the association among the fat consumption in the diet and lipídios plasmáticos This study included
115 volunteers of the free demand of the clinic of nutrition of the University Hospital Oswaldo Cruz were
selected. The alimentary consumption was evaluated through questionnaire to determine the daily ingestion
of total energy and of fat. The biochemical dosage was obtained using the apparel Hitachi 912 - Bioehringer
Mannheim. Data analysis was accomplished at the end of the period for description of the results and
generation of the curves of distribution frequency. Before the analysis of the data, we didn’t find correlation
among the fat consumption and the values of Total Cholesterol, C-HDL, C-LDL and circulating triglycerides.
The values of R (Coefficient of Regression) they were 0.0939, 0.0946, 0.141 and 0.093; respectively. The
severe restriction of the fat consumption defended by the current recommendations, they motivate the
increase of the carboidratos consumption that can provoke adverse effects. The present study emphasizes
the need of a reavaliação of the current concepts about the fat consumption and its relationship with the
incidence of cardiovascular diseases.
Key words: serum lipids, dietary fat
1. Curso de Nutrição. Faculdade dos Guararapes
2. Instituto de Ciências Biológicas. Universidade de Pernambuco.
E-mail para correspondência: [email protected]
Introdução
A relação entre gordura dietética e doenças
cardiovasculares tem sido tópico de diversas
pesquisas e considerável debate em boa parte do
século XX (Macnamara, Howell. 1997; Macnamara
2000). Diversos estudos têm demonstrado a
importância da dieta no controle e prevenção
de doenças crônico-degenerativas. Os hábitos
alimentares têm sido relacionados com alterações
no perfil lipídico, cardiopatias, hipertensão,
diabetes, dentre outros (Fornes et al. 2000; Martins
et al. 1994; Hooper et al. 2001). Por outro lado, a
maior discussão atualmente na nutrição humana é
a melhor proporção entre carboidrato e gordura na
dieta (Grundy, 1999).
Mais de 61 milhões de americanos
tiveram no último ano alguma forma de Doença
Cardiovascular (hipertensão, infarto, doença
cardíaca
reumática
ou
falência
cardíaca
congênita). Em adultos, a prevalência de Doenças
Cardiovasculares é mais alta em negros nãohispânicos (40% para homens e mulheres), seguido
por brancos não - hispânicos (30% para homens
e 24% para mulheres) e americanos de origem
mexicana (29% de homens e 27% de mulheres)
(Willet, 1998). No Brasil, é a principal causa de
mortalidade, ou seja, cerca de 300.000 brasileiros
por ano são vítimas de doenças cardiovasculares.
Comparando-se as taxas de mortalidade ajustadas
por idade, nas principais metrópoles brasileiras,
com as de alguns países, nota-se que na faixa etária
de 45-64 anos várias cidades apresentam valores
elevados, sobretudo entre as mulheres (Costa et al,
2000).
Os programas de educação em
alimentação e nutrição incentivam o baixo consumo
de gordura sugerindo que o excesso provocaria
elevação dos níveis de lipídios circulantes, bem
como da reserva do tecido adiposo (Stallones,
1983). Porém, uma restrição severa de gordura pode
provocar um comprometimento do crescimento,
atraso no desenvolvimento e risco elevado para
deficiência de micronutrientes. Além disso, não
resulta em redução da ingestão calórica, desde que
os carboidratos, principalmente, açúcares simples,
tem substituído as calorias provenientes da gordura
(Lichtenstein, 1998).
A eficácia das modificações dietéticas
propostas à população é bastante controvertida. A
existência de mecanismos precisos de feedback
são responsáveis pelo balanço da entrada do
colesterol dietético (exógeno) e síntese de colesterol
(endógeno) na maioria dos indivíduos (Howell et
al, 1997). Portanto, o retrocontrole da biossíntese
hepática do colesterol total independe da fonte,
em conseqüência, o colesterol da dieta pode servir
também para reduzir sua biossíntese (Schroepfer,
1981). Esta é principal razão porque a redução do
colesterol dietético possui um efeito pequeno sobre
as concentrações do colesterol plasmático (Parks,
2001).
A atual recomendação dietética para
reduzir os níveis de lipídios séricos e prevenir a
progressão de doenças cardiovasculares submetem
aos pacientes uma restrição dietética muito severa,
no entanto, a redução dos níveis lipídicos não
responde na mesma proporção, a qual fica em
torno de 8 a 12%, em se tratando de pacientes
com hipercolesterolemia grave, esta redução pode
ser considerada insignificante. Tal afirmação não
condiz com a teoria de que a gordura dietética
aumenta os lipídios plasmáticos (Parks, 2001;
Swaddiwudhipong et al.1998; Macnamara 2000).
Desde que a hiperlipemia representa um grande
interesse para a Saúde Pública, o presente estudo
propõe-se fornecer subsídios para estabelecer uma
recomendação diária de lipídeos, que favoreça seu
controle.
Materiais e Métodos
Foram selecionados 115 voluntários,
com idade acima de 20 anos, originados da livre
demanda do ambulatório de Nutrição do Hospital
Universitário Oswaldo Cruz que estivessem
freqüentando o serviço pela primeira vez. O total
da amostra foi obtida através da análise periódica
dos dados, até que obtivesse uma significação
estatística.
O consumo alimentar foi avaliado
através de questionário de freqüência alimentar
semiquantitativo e registro diário para determinar
a ingestão de energia total e de gordura. O
questionário foi aplicado em entrevista individual
após a consulta do ambulatório de Nutrição. Para
cálculo do consumo de energia e macronutrientes
foi utilizado o softwere Excel for Windows 98 e
tabelas de composição de alimentos.
A determinação dos lipidios séricos foi
realizada em amostras de sangue venosos coletado
em EDTA após 12- 14 h de jejum. Colesterol e
triglicerides foram medidos pelo método enzimático
(Roche Diagnostica) em um anailsador Hitachi
912 Bioehringer Mannheim Clinical Chemistry
Analyzer. O valor de LDL-c foi calculado pela
fórmula de Friedewald: LDL-C= CT - (HDL-C+TG/5)
(Friedewald; Fredrickson, 1972), que é exata para
amostras cujas concentrações de triglicerídeos
não ultrapassem 400 mg/dL.Antes do início das
dosagens foram avaliados controles de qualidade
interno e externo para a verificação quanto ao
funcionamento do sistema de análises.
A análise dos dados foi realizada ao
final do período para descrição dos resultados e
geração das curvas de freqüência de distribuição.
Foi utilizado o Programa estatístico Statgrafics
(Wilkinson, 1990) para avaliar a correlação entre
os dados.
Este estudo foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa com seres humanos do Hospital
Universitário Oswaldo Cruz , da Universidade de
Pernambuco, UPE, sob o no 90/05.
Resultados e Discussão
Tabela 1 - Análise de Regressão do Perfil Lipídico
e Gordura Dietética
Diante da análise dos resultados podemos
observar que o consumo de gordura da população
estudada foi de 23,96% ± 6.57, o percentual
de gordura animal foi de 15,56% ± 6.53, o de
gordura vegetal observado foi de 8,86% ± 4.,43. O
percentual de hidrato de carbono foi de 57,69% ±
8.13; As calorias consumidas ficaram em torno de
2579,46 Kcal ± 1178.63 . As calorias provenientes
das proteínas foram de 18,18% ± 4.11.
Com relação ao perfil lipídico, 37,83% do
total de voluntários avaliados apresentaram valores
de triglicerídeos (TG) acima de 150mg/dL; 61,2%
apresentaram colesterol total (CT) acima de 200
mg/dl; 18,0% apresentaram valores de HDL-C
menores que 40 mg/dl e 46,8% valores de LDL-C
maior ou igual a 130mg/dl (Tabela 1 and Figure 1).
De acordo com o sexo: 63.7%(CT), 13.18%(HDL),
46.15% (LDL) e 37.3%(TG) apresentaram alterações
entre o sexo feminino e 50%(CT), 40%(HDL),
50%(LDL) e 40%(TG) para o sexo masculino.
O alto consumo de gordura tem
sido associado com a incidência de doenças
cardiovasculares e aterosclerose. Os programas
para prevenção dessas enfermidades incentivam a
redução do consumo de gordura na dieta habitual
((Lichtenstein, 1998). Porém, diversos estudos
têm demonstrado um avanço das dislipidemias,
principalmente entre crianças e jovens (Friedewald;
Fredrickson, 1972, Wilkinson, 1990), sendo
considerado como um preditor do perfil lipídico na
vida adulta (Seki, et al. 2003). Apesar de décadas
de pesquisa ainda é uma questão discutível se os
níveis recomendados para o consumo de gorduras
saturadas e colesterol, potencialmente reduz o risco
de doenças cardiovasculares (Moura et al, 2000).
Os resultados mostram um consumo de
gordura dentro dos níveis recomendados (23,96%
± 6.57), apesar da população estudada não ter
recebido nenhum tipo de aconselhamento antes da
aplicação do questionário. Foi evidenciado o efeito
da atenção nutricional sobre a mudança dos hábitos
alimentares de pacientes submetidos a terapia
(Brotons et al, 1998).
Por outro lado, o consumo médio de
carboidratos encontrado foi em torno de 58 a
65% das calorias totais, ou seja, a dieta habitual
da população analisada demonstrou um alto
consumo de alimentos glicídicos. A clientela que
freqüenta ambulatórios de hospitais públicos é
em sua maioria, de classe social mais baixa. Num
estudo realizado na área metropolitana da região
Sudeste do Brasil, sobre os hábitos alimentares da
população e classe social, foi encontrado um maior
consumo de proteína de origem animal por parte
da camada mais favorecida. A participação calórica
das gorduras (G%) e proteínas (P%) foi diretamente
proporcional ao poder aquisitivo da classe, ao passo
que a dos carboidratos (HC%) apresentou relação
inversa (Martins et al. 1994). Desta forma, o baixo
custo deste nutriente favorece seu amplo consumo
por parte das camadas menos favorecidas.
Figura 1 – Consumo de gordura total e valores de colesterol sérico
Estudos anteriores demonstraram não
haver correlação entre a gordura dietética e os
valores de lipídios séricos (Taubes, 2001), os dados
do presente estudo, em concordância com os
anteriores, demonstraram não haver uma relação
causa efeito entre essas duas variáveis, ou seja, a
correlação entre o consumo de gordura e os lipídios
séricos é inexistente à nível intrapopulacional. O
que reforça a necessidade de uma reavaliação nos
conceitos existentes sobre a contribuição da variável
dietética no desenvolvimento desta enfermidade
(Batista, 2003).
Muitos dos conhecimentos correntes
sobre o metabolismo dos lipídeos e aterogênese
não podem ser acomodados em estudos
epidemiológicos, ainda que estes estudos sejam
economicamente possíveis e os procedimentos
empregados sejam aceitáveis para a saúde das
pessoas. Portanto, a forma como esta hipótese
tem sido avaliada epidemiologicamente é muito
simplificada em termos bioquímicos, no entanto, tem
sido utilizada na formulação de programas dietéticos
para prevenção de doenças cardiovasculares
(Stallones, 1983).
Ravnskov, em sua exaustiva revisão da
literatura não encontrou nenhuma associação
consistente entre o consumo de gordura total ou
ácidos graxos saturados e causas de morte por
doenças cardiovasculares, em vários países.
Usando dados da FAO (Food and Agriculture
Organization) das Nações Unidas e da Organização
Mundial de Saúde (OMS). Segundo ele, numa
tentativa de reconstruir o diagrama do estudo dos
sete países, não foi encontrada a mesma correlação.
A razão é que haviam sido excluído dados de 16
países na formulação da hipótese Dieta-Coração
(Ku, et al. 1998).
A base da hipótese Dieta-Coração
(Varela, 1986) é a correlação observada entre o
consumo de gordura e a incidência de doenças
cardiovasculares, porém esta correlação é
significativa apenas à nível interpopulacional e
inexistente a nível intrapopulacional (Stallones,
1983). Talvez porque em estudos populacionais as
variações intraindividuais não são consideradas ou
são mascaradas quando reunidas em grupos ou
classes. (Ravnskov, 2002).
Além disso, se avaliarmos esta hipótese
do ponto vista bioquímico certamente, chegaremos
a conclusão que sua base científica é frágil.
Pois, em condições normais, existe uma relação
inversa entre a ingestão de colesterol na dieta e
a biossíntese do colesterol. Esta relação sustenta
um suprimento diário relativamente constante de
colesterol e isso explica porque a restrição deste na
dieta somente garante uma redução de no máximo
15% nas concentrações de colesterol circulante
(Mann, 1977).
Estudos têm demonstrado que os
pacientes com hipercolesterolemia são submetidos
a uma restrição dietética muito severa para prevenir
a progressão de doenças cardiovasculares,
no entanto, a redução dos níveis lipídicos não
respondem na mesma proporção, chegando a
ser insignificante em se tratando de pacientes
com hipercolesterolemia grave (Parks, 2001;
Swaddiwudhipong et al.1998; Macnamara 2000 ).
Em estudo experimental com ratos, foi
demonstrado que uma dieta com 60% de gordura
apresentou menor capacidade aterogênica que
uma dieta com menor proporção de gordura
(25%) da mesma origem, além de não ter afetado
os níveis circulantes de colesterol, colesterol em
α-lipoproteínas e glicose ((Batista, 2003).
Observações prévias sobre o metabolismo
dos lipídeos demonstram que os níveis de
triglicerídeos circulantes diminuem potencialmente
em resposta a uma dieta hiperlipídica e os níveis
de colesterol plasmático permanecem inalterados
em indivíduos adultos normais e em ratos (Araújo,
1975; Medeiros, 1982).
Os resultados sugerem a necessidade de
mais estudos a nível experimental para analisar de
forma mais precisa a relação da gordura dietética
sobre os lipídios séricos e o desenvolvimento de
doenças cardiovasculares. Na análise dos dados
não foi encontrada correlação entre o consumo de
gordura e o perfil lipídico da população estudada.
Nos guias anteriores da Sociedade
Americana de Câncer e outras organizações, a
redução do consumo de gordura total foi enfatizada.
No entanto, a hipótese da associação com câncer
não tem sido confirmada em estudos recentes e
a evidência é conclusiva agora de que a redução
no consumo de algumas formas de gordura
insaturada poderá aumentar o risco para doenças
cardiovasculares. A respeito do consumo excessivo
de gordura na dieta contribuir para a obesidade, o
super consumo de carboidratos poderá provocar
o mesmo efeito. Desta forma, o limite de calorias
provenientes de todas as fontes alimentares e
o gasto energético através da atividade física,
associada ao consumo adequado de fibras, parece
ser a recomendação mais apropriada (Keys, 1953).
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ARTIGO
ORIGINAL
ESTUDO COMPARATIVO DA FORÇA DOS MÚSCULOS
ERETORES DA COLUNA LOMBAR EM INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS
E PACIENTES COM LOMBALGIA.
Carla Fabiana da Silva Toscano Macky ¹; Simone Braz de Araújo Magalhães ¹
RESUMO
A lombalgia é uma das queixas dolorosas mais freqüentes na prática médica. Após a ocorrência
da dor lombar, os músculos eretores espinhais sofrem atrofia que persiste mesmo após a regressão dos
sintomas. O presente estudo teve como objetivo comparar a força muscular produzida pelos músculos
eretores da coluna lombar em indivíduos sedentários e indivíduos com dor lombar. Utilizou-se para
mensuração da força o aparelho Tesys da marca Globus através de uma célula de carga nele existente,
e um eletromiógrafo de superfície utilizando eletrodos de Ag/ AgCl. Os resultados mostraram diferença
significativa apenas quando comparadas às forças dos músculos extensores lombares entre os grupos
(controle e experimental) e quando comparadas às forças dos hemicorpos também intergrupos. Portanto,
estes resultados sugerem que há um déficit de força nos pacientes com lombalgia quando comparados aos
indivíduos quem não apresentam dor lombar, porém são necessários mais estudos para que os resultados
presentes tenham maior consistência.
Palavras chaves: Dor lombar, Força muscular, Eretores da coluna.
COMPARATIVE STUDY OF THE STRENGTH OF THE MUSCLES ERECTOR SPINAE MUSCLES OF THE
LUMBAR SPINE IN HEALTHY INDIVIDUALS AND PATIENTS WITH LOW BACK PAIN.
ABSTRACT
The low back pain is one of the more frequent painful complaints in the medical practice . After
the occurrence of lumbar pain, the muscles spinal erectors suffer atrophy that exactly persists after the
regression of the symptoms. The present study it had a goal to compare the muscular strenght produced by
the muscles erectors of the lumbar column in individuals sedentary and individuals with lumbar pain. The
Tesys device of the Globus mark was used for to measure of the strenght through a load cell in existing it
and a electromyography of surface using electrodes of Ag/AgCl. The when comparative results had only
shown to significant difference to the strenght of the muscles lumbar extensors between the groups (control
and group of with lumbar pain) and when compared with the forces of the also of the sides of the body
intergroups. Therefore, these results suggest that it has a deficit of strenght in the patients with low back
pain when compared with the individuals who they do not present lumbar pain, however are necessary more
studies so that the results gifts have greater consistency.
Keywords: Low back pain, muscle force, erectors spinal.
INTRODUÇÃO
A lombalgia é uma das queixas
dolorosas mais freqüentes na prática médica.
Aproximadamente 80% das pessoas experimentam
dor na região lombar ao menos em uma ocasião ao
longo da vida. As principais causas de dor lombar
são as mecânico-posturais ou degenerativas. Como
exemplo: discartrose, espondilolistese, prolapso de
disco, osteoartrose zigapofisária. Todavia, muitas
1. Curso de Fisioterapia. Faculdade dos Guararapes.
E-mail para correspondência: [email protected]
dessas anormalidades estruturais podem ser
encontradas em indivíduos assintomáticos, ficando
difícil fazer a correlação entre o sintoma doloroso e
a alteração estrutural (IKEDO & TREVISAN, 1998).
Gonçalves & Barbosa (2005) apresentam dados
obtidos de uma população de indivíduos jovens e
sugerem que a incidência de dor lombar é menor
em indivíduos ativos. Em adição, também tem
sido relatado que, em uma população de atletas, a
incidência de dor lombar é maior em atletas de elite.
Em termos biomecânicos, dependendo do tipo de
esporte, atletas freqüentemente tendem a absorver
carga repetitiva de baixa magnitude ou impactos
únicos de alta magnitude com maior freqüência
do que indivíduos ativos não atletas. De acordo
com Kujala, Salminen e Taimela (1992) tem sido
demonstrado que a força e a resistência isométrica
de músculos da coluna vertebral de atletas não
diferem significantemente na comparação com não
atletas.
Alterações da coordenação paravertebral
e do ritmo lombo-pélvico também têm sido
relacionadas à dor lombar crônica e à fadiga
precoce dos músculos (COSTA & PALMA, 2002),
modificações têm sido atribuídas ao desuso
secundário ao quadro álgico, compondo o processo
conhecido como “síndrome de descondicionamento”.
Gonçalves (1998) descreve o levantamento de
carga, através da eletromiografia integrada onde
demonstra que na posição inicial do levantamento,
estando o indivíduo inclinado para frente para pegar
a barra, os músculos multifído, longuíssimo do tórax
e iliocostal lombar estão em silêncio. Após elevar
a barra até a posição ereta, existe uma ação dos
extensores do quadril relatando particularmente a
atividade do glúteo máximo, assim como da ação
conjunta do grande dorsal e iliocostal lombar para
estabilizar a coluna lateralmente, porém suas
contribuições para o levantamento são menores que
o sistema ligamentar porterior por apresentarem
um braço mais curto que os últimos. Os multifído
só apresentam atividade após 25 graus de flexão
do tronco durante o levantamento. Ao atingir a
postura ereta, ocorre o aumento da lordose que
diminui a ação dos ligamentos e aumenta a ação
dos multifídios.
O músculo multífido tem sido destacado
como importante estabilizador dinâmico do
segmento lombar. A análise através de tomografia
computadorizada demonstrou hipotrofia seletiva
das fibras, presente em 80% dos pacientes com dor
crônica (DANNEELS et al, 2001).
Um dos testes de avaliação da fadiga nos músculos
da coluna lombar comumente proposto é o teste
de Sorensen, que consiste na extensão isométrica
da coluna lombar, partindo de uma posição de
decúbito ventral com estabilização de joelho e pelve
e com as mãos cruzadas sobre o tórax (BIERINGSORENSEN, 2003). Esse teste foi inicialmente
proposto apenas para a verificação do tempo de
resistência isométrica (TRI) para avaliar as variáveis
mecânicas, mas quando a atividade eletromiográfica
dos músculos lombares foi relacionada com a EMG
(eletroneuromiografia), uma relação curvilínea
(CLARK; MANINI; PLOUTZ-SNYDER, 1984) ou
linear foi encontrada (MANNION; DOLAN, 1994).
Silva & Gonçalves (2003) relatam que a contração
isométrica é uma forma estática de exercício que
ocorre quando um músculo se contrai sem mudança
apreciável no seu comprimento ou sem movimento
articular visível. Embora não seja realizado
trabalho físico, uma grande quantidade de tensão
e rendimento de força é produzida pelo músculo.
A partir do exposto a cima este estudo
propôs avaliar a força dos músculos eretores
da espinha lombar, usando captação do sinal
eletromiográfico durante contração isométrica
contínua desses músculos, no intuito de melhor
compreender o comportamento mecânico e
fisiológico desses músculos frente à dor lombar.
METODOLOGIA
Amostra: Este estudo foi realizado no
período de Janeiro a Junho Recife na cidade do
Recife, capital do estado de Pernambuco, foi estudo
de caráter descritivo transversal que envolveu
um total de 20 indivíduos do sexo feminino. Os
voluntários foram divididos em dois grupos: Grupo
controle que constava de 10 indivíduos sem
sintomas de lombalgia, e um grupo experimental
com e 10 indivíduos com sintomas de lombalgia.
Os participantes do grupo experimental
foram escolhidos mediante análise das suas
fichas de avaliação fisioterapêuticas presentes
nos prontuários da Clínica Escola de Fisioterapia
da FIR, e que obedeçam aos critérios de inclusão:
o voluntário deveria ter entre 18 a 45 anos e não
estar fazendo atividade física, e especificamente
para os voluntários do grupo experimental deveriam
apresentar dor lombar crônica.
Todos os voluntários que aceitaram
participar do estudo assinaram um Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido de acordo com
a Resolução 160/96 da Comissão Nacional de Ética
em pesquisa, do Ministério da Saúde. E o estudo
foi aprovado pelo comitê de ética em pesquisa do
Hospital Agamenon Magalhães.
Protocolo experimental: A análise do
padrão de força máximo foi medido através da
contração isométrica voluntária máxima (CIVM),
com uso do aparelho Tesys, da marca globus,
conectado a um computador. Após a instalação
do software, foram observadas as informações
referentes ao início do teste e os dados da atividade
captados pela célula de carga do equipamento. O
movimento realizado para a aquisição da CIVM, foi
o de extensão isométrica da coluna vertebral tendo
como resistência uma célula de carga fixa tanto a
um cinto utilizado pelos voluntários quanto à base
da mesa de teste na outra.
Com o objetivo de fornecer maior
estabilidade aos voluntários, três cintos foram
posicionados ao redor das articulações dos quadris,
joelhos e tornozelos fixando a pelve e os membros
inferiores à mesa de teste. Inicialmente, foi realizado
um teste de CIVM e após foram realizadas três
repetições com duração de cinco segundos e
intervalo de cinco minutos entre cada contração. A
CIVM de cada voluntário foi determinada por meio
da média dos três valores obtidos.
Os dados foram analisados utilizando a
estatística descritiva, com resultados apresentados
como média ± desvio padrão (MD ± DP) através de
gráficos elaborados no Microsoft Office Excel 2003.
Para análise comparativa da força muscular foi
utilizado o teste t-student para amostras pareadas,
através dos softwares SPSS 13.0 para windows.
Todos os testes foram aplicados com 95% de
confiança.
RESULTADOS
Tabela 1: Comparação da força dos músculos extensores da coluna lombar entre os hemicorpos direito e
esquerdo tanto do grupo controle quanto experimental.
Tabela 2: Comparação da força dos músculos extensores da coluna lombar entre o grupo experimental e o
controle a força bilateralmente e as forças de cada hemicorpo.
Fez parte do nosso trabalho um total de 20
indivíduos com idades entre 18 a 45 anos todos do
sexo feminino.
Ao serem analisados os dados de força
muscular dos eretores da coluna lombar de cada
hemicorpo e comparados dentro do grupo de
origem, foi verificado que não houve diferença
estatística significativa, como observamos na tabela
1.
A tabela 2 nos mostra que ao compararmos
a força muscular dos eretores da coluna lombar
entre o grupo controle e o experimental, obtivemos
diferença estatisticamente significativa, o mesmo
ocorreu quando a análise se deu entre as forças de
cada hemicorpo comparadas intergrupos.
DISCUSSÃO
No presente estudo, analisando a força
muscular dos extensores da coluna, foi possível
observar que não existiram diferenças significativas
entre a força dos músculos extensores da coluna
do hemicorpo direito e esquerdo tanto no grupo
controle quanto no grupo experimental (tabela
1). Entretanto, os valores de força do grupo
experimental (lombalgia) foram menores e com
diferença estatisticamente significativa quando
comparado com o grupo controle (tabela 2).
Uma boa postura é definida como um
equilíbrio de estruturas da coluna vertebral (ósseas
e musculares). Entretanto, diante das constantes
mudanças diárias da postura humana associada
à má postura torna essa uma tarefa difícil, e leva
ao aparecimento de desequilíbrios ósseos e
musculares.
O desequilíbrio muscular pode ser
explicado pela diferença entre a força e a
flexibilidade entre grupos musculares de uma
mesma articulação (KOLLMTIZER et al, 2000 e
KLEE et al, 2004). Tal condição só é perceptível ao
indivíduo quando estas começam a se manifestar
através da deformidade ou dor. (MORAES, 2000).
Estudos têm sugerido que a força
muscular de músculos da coluna vertebral flexores
e extensores desempenham importante papel
na manutenção da postura, e que em situações
patológicas como a lombalgia, poderiam se
encontrar fracos favorecendo ao desequilíbrio
muscular e aparecimento da dor lombar.
Os estudos de Hides, Richardson e Jull
(1997) demonstraram que episódios de dor lombar
levam a uma rápida atrofia dos músculos eretores
lombares mesmo depois a regressão dos sintomas.
Já os estudos de Wadell et al (1992) através do
estudo mioelétrico observou que a atividade dos
extensores da coluna estavam reduzidas quando
comparados com outros músculos do tronco em
indivíduos com dor lombar.
Os nossos achados corroboram os
achados de Suzuki e Endo (1983) que observaram
através da analise com dinamômetro isocinético
que os músculos do tronco eram mais fracos em
indivíduos com lombalgia, e sugeriram que a dor da
lombalgia inibiria a atividade muscular, favorecendo
assim a redução da força desses músculos.
Lee, Ooi e Nakamura (1995) através do
estudo isocinético da força dos músculos extensores
do tronco sugeriram que estes apresentaram
níveis reduzidos de força no grupo de lombalgia
e relacionou os resultados a fraqueza muscular
generalizada a fatores psicológicos, como o medo
da lesão. Já Ikedo e Trevisan (1998) observaram
que a musculatura extensora da região lombar
porção superior e inferior apresentaram deficiência
na força muscular maior no subgrupo com lombalgia
do que o subgrupo sem lombalgia.
Kuriyama e Ito (2005) em seus estudos
com eletromiografia de superfície viu que a atividade
dos extensores do tronco se encontrava com
atividade reduzida e que os indivíduos realizavam
uma proteção do movimento para evitar novamente
a lesão. Entretanto, os estudos de Balogun, Oladipo
e Olawoye (1991) utilizando análise da força dos
músculos extensores do tronco não observaram
diferenças significativas entre a força nos grupos
controle e com lombalgia.
Outros estudos justificam a redução
da força dos extensores do tronco a fatores
psicológicos como medo de realizar o movimento
que promoveu a lesão e com isso o indivíduo
com lombalgia restringiria o movimento da coluna
e levaria dessa forma a fraqueza muscular dos
músculos do tronco em especial dos extensores
do tronco mesmo depois da regressão da dor.
(SWINKELS-MEEWISSE et al, 2003; GROTE et al,
2004).
Através dos resultados deste estudo
pode-se sugerir que a força muscular no grupo
experimental lombalgia foi menor que o grupo
controle, entretanto, esses dados não podem
ser conclusivos devidos ao pequeno número da
amostra e, algumas variáveis que não puderam
ser analisadas nesse trabalho como: variáveis
antropométricas (peso; altura) e a relação entre a
força muscular entre os flexores e extensores do
tronco e sua relação com a lombalgia. Portanto,
mais estudos são necessários para que os
resultados sugeridos nesse trabalho possam ser
mais respaldados e conclusivos a respeito do
comportamento da força muscular em indivíduos
com lombalgia.
CONCLUSÃO
Os resultados deste estudo sugerem que
há um déficit de força da musculatura paravertebral
nos pacientes com lombalgia quando comparados
aos indivíduos que não apresentam dor lombar,
porém são necessários estudos com maior poder de
análise para que possam se aprofundar discussões
e debater ideias relacionadas ao comportamento da
força muscular em indivíduos com lombalgia.
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revisão
DA ARTE PARA A CURA: UM POSSÍVEL DIÁLOGO ENTRE
VYGOTSKY E NISE DA SILVEIRA
Título resumido: Da Arte para a Cura
Letícia Scorsi ¹ Ana Paula Monteiro Ferreira ² Maria da Conceição Diniz Pereira de Lyra ²
RESUMO
O presente artigo busca estabelecer percorrer algumas ideias pouco conhecidas de Vygotsky, elaboradas
em seu livro Psicologia da Arte, tais como: (i) a arte como fonte de equilíbrio entre indivíduo e meio; (ii) a
noção de catarse; (iii) a arte como técnica social do sentimento: “o social em nós”. A partir de um Vygotsky
que se apresenta diferentemente do que usualmente se costuma aprender com ele, iremos e estabelecer um
paralelo entre as propostas deste autor e o trabalho desenvolvido pela psiquiatra brasileira, Nise da Silveira,
com suas concepções acerca de tratamentos psicoterapêuticos a pacientes de hospitais psiquiátricos que
utilizam a arte como fonte de equilíbrio. A vida e obra do louco/artista Fernando Diniz são utilizadas como
exemplos bem-sucedidos desta utilização.
Palavras-chave: Psicologia da Arte. Vygotsky. Nise da Silveira
Abstract
This article aims to pursue some quite unknown ideas from Vygotsky formulated in his book The Psychology
of Art, such as: (i) the art as a source of balance between the individual and the environment; (ii) the
notion of catharsis; (iii) the art as a social technique of sentiment, “the social in us”. Through a different
Vygotsky from what is usually learnt from this author we will establish a parallel between his purposes
and the work of the Brazilian psychiatrist, Nise da Silveira, with her concepts about psychotherapeutic
treatments to hospitalized patients, which use the art as a source of balance. The life and work of the crazy/
artist, Fernando Diniz, are used as example of a successful use of this treatment.
Key-words: Psicologia da Arte. Vygotsky. Nise da Silveira
INTRODUÇÃO
Lev Semyonovich Vygotsky nasceu em
5 de novembro de 1896 na Rússia numa família
judaica de boas condições financeiras e de membros
bem instruídos. Durante a infância Vygotsky teve à
sua disposição uma biblioteca bastante enriquecida
e tutores particulares. Já na juventude, o teórico
demonstrou grande curiosidade por poesia,
literatura e teatro. Sua formação na universidade foi
em Direito, mas durante os anos de estudo sobre a
advocacia ele manteve seu gosto pela arte. Supõese que aí reside uma das fortes influências sobre
seu posterior interesse pela Psicologia (VAN DER
VEER & VALSINER, 1999).
Na adolescência, Vygotsky começou a
estudar Hamlet de Shakespeare. Em 1915, ele
escreveu a primeira versão de uma análise literária
desta obra, e um ano depois, a segunda versão
desta análise se transformou em sua dissertação
de Mestrado, sob o título A Tragédia de Hamlet,
Príncipe da Dinamarca, de Shakespeare. Em 1924,
Vygotsky voltou a este assunto no livro Psicologia
da Arte. E, como Van der Veer e Valsiner (1999)
afirmam, o discurso em cada um dos textos é
substancialmente diferente. Na análise de 1916
encontra-se um tom mais juvenil e recheado de
exclamações. Já em Psicologia da Arte, fica claro
o desenvolvimento do pensamento do autor em
direção a um nível mais geral, onde Hamlet se torna
parte deste quadro mais amplo.
Em tempo, é interessante notar que, já
na versão de 1916, pode-se verificar que Vygotsky
estava imerso num raciocínio dialético, descobrindo
1. Direção da Escola de Saúde e Educação. Faculdade dos Guararapes.
2. Departamento de Psicologia. Universidade Federal de Pernambuco
E-mail para correspondência: [email protected]
os lados opostos de um mesmo todo, raciocínio que
o acompanhou durante a elaboração de sua teoria.
De acordo com Bezerra (1999), Psicologia
da Arte é um livro polêmico, pois o autor mantém,
do início ao fim, uma atitude de estabelecer um
debate entre diferentes correntes e autores do
campo da psicologia e da estética. Influenciado por
um contexto pessoal/social de interesse constante
por assuntos relacionados à literatura, teatro, arte,
crítica literária (postura interdisciplinar que marca
a constituição de sua obra) Vygotsky enfatiza a
dimensão afetivo-emocional do funcionamento
psicológico de indivíduos e grupos sociais. Foi
dessa forma que ocorreu a passagem do autor
para o campo da psicologia, onde os problemas
relacionados a esta ciência foram emergindo a
partir de seu contínuo interesse por questões de
arte e literatura.
Em seu livro Psicologia da Arte, o autor
lança vários questionamentos e ideias a respeito do
olhar que a psicologia, enquanto ciência que busca
compreender o homem, deve ter a respeito desta
produção eminentemente humana chamada arte.
Este livro, entretanto não trata diretamente
da criação de uma obra de arte. O foco central de
sua análise é a estrutura psicológica da mensagem,
o reconhecimento da arte como “técnica social do
sentimento”, procurando estudar como mensagens
artísticas podem ser consideradas influentes na vida
do homem enquanto sujeito social, afirmando que a
arte é “o social em nós”, sendo fonte de equilíbrio
entre o indivíduo e o seu meio social.
Alguns dos objetos de estudo do presente
artigo são determinadas ideias principais de
Vygotsky que nortearam seus questionamentos em
Psicologia da Arte, tais como: a arte como fonte
de equilíbrio entre o indivíduo e o seu meio social;
a arte enquanto técnica social do sentimento e o
poder transformador da arte através da catarse.
Durante a leitura deste livro nos
deparamos com a grande coincidência entre as
reflexões de Vygotsky e as propostas daqueles que
trabalham com a arte como recurso terapêutico, ou
seja, a arte como forma de tratamento de pacientes
psicoterápicos, neuróticos ou psicóticos. Trata-se de
uma situação onde esta possibilitaria a expressão
de conteúdos inconscientes e conseqüentemente
a “cura”, onde haveria a transformação de
sentimentos contraditórios, angustiantes, em
algo útil e produtivo, revelando para o paciente
potencialidades até então desconhecidas (efeito
criador da arte através da catarse).
Vygotsky afirma que o inconsciente
influencia nossos atos, manifestando-se no
nosso comportamento através da obra de arte
(racionalizações; impressão ilusória; relação arte e
psicanálise), onde a arte seria um meio direto de
atender a desejos não satisfeitos e não realizados,
terapia para o artista e para o espectador; meio
para afastar o conflito com o inconsciente sem cair
na neurose.
Será estabelecido, portanto, um diálogo
entre as propostas de Vygotsky e as idéias de
Nise da Silveira. A proposta do trabalho de Terapia
Ocupacional desenvolvido por esta psiquiatra e
seus efeitos sobre seus pacientes serão utilizados
nesse artigo para ilustrar a aplicação de idéias
bastante próximas às de Vygotsky.
A seguir explicitaremos algumas idéias
principais desenvolvidas no seu livro Psicologia da
Arte.
NOÇÕES SOBRE A PSICOLOGIA DA
ARTE
No prefácio do livro Psicologia da Arte,
Bezerra (1999) aponta que Vygotsky compreende
a arte como fenômeno humano que decorre da
relação direta ou mediata do homem com um
cosmo físico, social e cultural, expressando as
relações de reciprocidade entre homem e mundo
e as representações que o homem faz do mundo
(pressuposto que vai fundamentar toda sua teoria
posteriormente). Daí podemos compreender
porque ele considera a arte como um instrumento,
um signo, que regula as ações sobre o psiquismo: a
arte como fonte de equilíbrio entre indivíduo e meio.
2.1. A arte como fonte de equilíbrio entre
indivíduo e meio
O estudo psicológico realizado por
Vygotsky (1999), nos mostra que a arte desempenha
um importante papel: “é a mais importante
concentração de todos os processos biológicos e
sociais do indivíduo na sociedade, meio de equilibrar
o homem com o mundo nos momentos mais críticos
e responsáveis da vida” (p.329).
Sendo assim, a verdadeira natureza da
arte, sempre implica algo que se transforma, que
supera o sentimento comum, o medo, a dor, a
inquietação, eliminando e transformando esses
sentimentos opostos, equilibrando o organismo com
o meio, onde o biológico se transforma no social. O
sentimento é inicialmente individual e, através da
obra, de arte torna-se social ou generaliza-se.
É essa possibilidade de superação de
sentimentos que não encontram vazão na vida
normal, através da catarse na arte, que constitui o
fundamento do seu campo biológico:
“(...) todo nosso comportamento não
passa de um processo de equilíbrio do
organismo com o meio. Quanto mais
simples e elementares são as nossas
relações com o meio, tanto mais elementar
é o transcorrer do nosso comportamento.
Quanto mais complexa e delicada se
torna a relação entre o organismo e o
meio, tanto mais ziguezagueantes e
confusos se tornam os processos de
equilibração. Nunca se pode admitir que
essa equilibração se realize até o fim de
maneira harmoniosa e plana, sempre
haverá oscilações de nossa balança,
sempre haverá certa vantagem da parte
do meio ou do organismo. Nenhuma
máquina, mesmo a mecânica, jamais
conseguirá funcionar até o fim usando
toda a energia exclusivamente em ações
úteis. Sempre existem estímulos de
energia que não podem encontrar vazão
em trabalho útil. Neste caso surge
a necessidade de descarregar de quando
em quando a energia não utilizada,
dando-lhe vazão livre para equilibrar a
nossa balança com o mundo” (p. 311).
Ao promover o equilíbrio entre o indivíduo
e o meio, ordenando sentimentos e restabelecendo
a harmonia psíquica, a arte revela potencialidades
desconhecidas, liberando nossa criatividade.
Perante essa necessidade de reequilibrio, o
indivíduo-artista recorre à transformação da
matéria, criando sua obra. A criatividade no artista
é feita de associações de imagens (relação
entre opostos: fantasia x emoção; sentimento x
pensamento; consciente x inconsciente), onde cada
imagem está impregnada de uma determinada
emoção que será canalizada para a criação de
uma outra imagem e assim sucessivamente. Essa
associação de imagens repercute, então, numa
ação que chamamos de criatividade. Isto é que o
autor nomeia efeito catártico da arte. Cabe ressaltar
que nesta proposta também temos a arte como reconciliação do interno com o externo.
O psiquismo é visto aqui como palco
de contradições internas. Na mediação entre
os opostos e na conciliação das emoções daí
advindas, prevalece o papel da criatividade. A
psique do artista não se enquadra num desequilíbrio
insano, mas aproveita um desequilíbrio normal para
compensá-lo criando, modelando, buscando o
equilíbrio perdido, crescendo psicológica (processo
de individuação; autonomia) e socialmente (a arte é
o “social em nós”).
Para uma melhor compreensão das
colocações de Vygotsky referentes à psicologia da
arte, faz-se necessário explicitar suas idéias sobre
a catarse, uma vez que este conceito permeia todo
o pensamento do autor.
2.2. O efeito catártico da arte
O termo catarse usado por Vygotsky
é impreciso, conforme atesta o próprio autor,
mas segundo ele, nenhum outro termo dentre os
empregados na psicologia até então, traduz com
tanta plenitude e clareza o fato central para a
reação estética, de que as emoções angustiantes
e desagradáveis são submetidas a certa descarga,
à sua destruição e transformação em contrários. A
base desse processo seria a natureza contraditória
implícita à estrutura de toda obra de arte. Assim,
segundo o autor:
“Ainda sabemos muito pouco de fidedigno
sobre o próprio processo da catarse, mas
mesmo assim conhecemos o essencial,
isto é, sabemos que a descarga de
energia nervosa, que constitui a essência
de todo sentimento, realiza-se nesse
processo em sentido oposto ao habitual,
e que a arte assim se transforma em
um poderosíssimo meio para atingir as
descargas de energia nervosa mais úteis
e importantes” (VYGOTSKY, 1999, p.270).
Na busca de uma melhor compreensão
do que vem a ser catarse, Vygotsky cita vários
autores que também utilizaram o termo. Para
Aristóteles, esta seria a base da explicação da
tragédia, mencionando-a reiteradamente a respeito
de outras artes; enquanto para E. Muller, seria
a passagem do desprazer para o prazer. Já para
Bernays, essa palavra significa cura e purificação
no sentido médico, enquanto para Zeller, representa
uma tranquilização da emoção. Finalmente, para
Lessing, a catarse é a conversão das paixões em
inclinações virtuosas, “efeito moral da tragédia”,
concepção com a qual Vygotsky concorda (apud
VYGOTSKY, 1999).
Para desenvolver o raciocínio a respeito
da catarse Vygotsky também alude a Freud, e
numa série de aspectos ele concorda com o
psicanalista. Freud (1950), entretanto, utiliza o
termo catexia, para designar o processo pelo qual
a energia libidinal disponível na psique é vinculada
ou investida na representação mental de uma
pessoa, idéia ou coisa. A palavra original alemã
significa ocupar e investir; catexia é o processo de
investir energia. Uma vez liberada ou redirecionada
esta mesma energia está então disponível para
satisfazer outras necessidades habituais, temos
aí a necessidade de liberar energias presas. Para
Freud, não somos basicamente animais racionais,
mas somos dirigidos por forças emocionais
poderosas, cuja gênese é o inconsciente. As
emoções seriam as vias para o alívio da tensão e a
apreciação do prazer, concepção esta semelhante
à de Vygotsky. Elas também podem servir ao ego
ajudando-o a evitar a tomada de consciência de
certas lembranças e situações (traumas). Através
da observação de respostas emocionais, de suas
expressões adequadas ou inadequadas, Freud
encontrou as pistas que seriam as chaves para
descobrir e compreender as forças motivadoras do
inconsciente.
Neste sentido, podemos perceber que
Vygotsky concorda com uma série de pressupostos
colocados pela psicanálise. Entretanto há uma série
de outros com os quais ele discorda. É então que ele
faz críticas contundentes a esta teoria, por exemplo
a respeito da questão colocada pelos psicanalistas
de que o fundamento da arte é sempre constituído
de atrações e desejos inconscientes recalcados
que necessariamente se referem a questões
sexuais. A arte sempre se relaciona ao delitoso, ao
vergonhoso, ao rejeitável? A psicanálise, na visão
de Vygotsky, reduz o papel social da arte a um
antídoto que tem a função de salvar o homem dos
vícios. O poeta, como ele diz, passaria a ser apenas
um histérico que incorpora as vivências de uma
infinidade de pessoas estranhas, incapaz de sair de
seu círculo estrito criado por sua infantilidade.
Ele afirma que, para a psicanálise, é como
se o homem fosse escravo de sua tenra infância.
Exemplo disto é o efeito que o complexo de Édipo
terá sobre o indivíduo, fazendo com que o resto de
sua vida não tenha grande valor. Desta forma, os
artistas seriam sempre semelhantes uns aos outros,
dada a universalidade deste fenômeno e seu efeito
padronizador.
Parece-nos que, para Vygotsky aceitar a
psicanálise como base para análise da psicologia
da arte, esta teria de incluir a consciência com
papel mais ativo, inserindo outras fases da vida do
indivíduo, além da infância, como determinantes
em sua formação, além de dar mais destaque
ao papel do social e àquilo que é comum a todos
os indivíduos sem cair na generalização destes.
Assim, a arte estaria, de fato, sendo concebida
como técnica social do sentimento.
Compreender a arte como catarse, é
compreendê-la como o veículo adequado para
atingir o equilíbrio do organismo com o meio nos
momentos críticos do nosso comportamento.
São nesses momentos que nos voltamos para a
arte, desvelando-a como ato criador, pois além
de equilibrar o indivíduo, a arte amplia suas
possibilidades, superando sentimentos angustiantes
e contraditórios, elucidando, purificando o psiquismo,
revelando e explodindo para a vida potencialidades
até então desconhecidas. O ato artístico, criador,
não é constituído por meio de operações puramente
conscientes.
Este caráter de explosão e de descarga
não tira da arte o poder de estruturar e ordenar
nossos dispêndios psíquicos. Ela é capaz de
organizar nosso comportamento visando ao futuro,
a arte é vista, então, como fonte de equilíbrio entre
o indivíduo e o meio. Ao promover modificações
duradouras no nosso organismo e comportamento,
a arte pode ser considerada como um meio e
recurso da educação, daí o sentido educativo da
arte, elucidando seu efeito prático e vital.
Vygotsky assevera que a psicologia
não poderia explicar o comportamento humano
ignorando a reação estética suscitada pela arte.
Decorre daí a idéia central da psicologia da arte: a
arte como técnica social do sentimento ou “o social
em nós”, que carrega seu papel fundamental, o
poder transformador.
2.3. A arte como técnica social do sentimento:
“o social em nós”
Conceber a arte como técnica social
do sentimento, significa entendê-la como sendo
determinada e condicionada pelo psiquismo do
homem social, atividade de fundo social na qual o
homem se forma e interage com seus semelhantes
e com seu mundo numa relação intercomplementar
de troca. A arte é vista aqui como instrumento da
sociedade, expressando os aspectos mais íntimos
e pessoais do ser humano.
Na arte supera-se certo aspecto do
nosso psiquismo que não encontra vazão na vida
cotidiana. Ela parte de determinados sentimentos
vitais, mas realiza certa elaboração desses
sentimentos, através da catarse: descarga
indispensável de energia nervosa, estímulos
de energia que não podem encontrar vazão em
trabalho útil (prevalência da contradição emocional;
natureza contraditória que subjaz à estrutura de
toda obra de arte). Nesse sentido, a arte resolve
e elabora aspirações extremamente complexas do
organismo, tornando-se um veículo adequado para
atingir o equilíbrio com o meio nos pontos críticos
do nosso comportamento.
Quando a arte realiza a catarse, o seu
efeito é social, pois a transformação das emoções
fora de nós se realiza por força de um sentimento
social que foi objetivado, levado para fora de nós,
materializado e fixado nos objetos externos da
arte, que se tornaram instrumento da sociedade.
O sentimento não se torna social, ao contrário,
torna-se pessoal Quando cada um de nós vivencia
uma obra de arte, este sentimento se converte em
pessoal sem com isso deixar de continuar social
(interdependência das dimensões individual e social
na arte).
A arte recolhe da vida o seu material,
mas transforma esse material em algo que não
está em suas propriedades. Faz-se necessário o
ato criador de superação desse sentimento, para
então a arte se realizar. Por si só, nem o mais
sincero sentimento é capaz de criar a arte. A arte
nunca gera de si mesma uma ação prática, apenas
prepara o organismo para tal ação. Daí que ela não
pode ser considerada apenas como um “ornamento
da vida”, pois ao surgir da realidade e voltar-se para
esta mesma, a arte virá a ser definida pelo meio no
qual o indivíduo está inserido.
A emoção que a obra de arte comunica
é incapaz de traduzir-se em ações de modo
imediato e direto, o que liga diretamente ao fato
de ela ser considerada uma técnica social do
sentimento, ou o “social em nós”. Podemos inferir
que a arte é uma expressão ou continuidade do
biológico que se transforma em social; de signo em
atividade do psiquismo, correlacionando intelecto
e emoção. Através da catarse, processos a priori
inconscientes são transformados em conscientes,
já que as causas mais imediatas do efeito artístico
estão ocultas no inconsciente, exemplo disto é que
nunca conseguiremos dizer com exatidão porque
precisamente gostamos dessa ou daquela obra.
Como dito anteriormente, o inconsciente
influencia nossos atos através da arte. Portanto,
toda obra de arte suscita uma série de sentimentos
opostos entre si e provoca seu curto-circuito
e destruição, através da catarse. Esse seria o
verdadeiro efeito da obra de arte. Daí reside uma
questão basilar para a psicologia da arte: como
devemos considerar o sentimento – apenas como
dispêndio de energia psíquica ou lhe cabe o papel
economizador e preservador na economia da vida
do psiquismo?
Vygotsky, assim como Freud (apud
VYGOTSKY; 1999), concebe os sentimentos como
processos de dispêndio de energia, cuja expressão
final se percebe como sensação, onde as emoções
e paixões seriam as manifestações mais patentes e
elevadas do sentimento. Todas as nossas emoções
teriam uma expressão não só no corpo, mas também
na psique, ou seja, as emoções precisam de certa
expressão por meio de nossa fantasia. Diante disto
é que se compreende a relação entre sentimento
e fantasia: todas as nossas vivências fantásticas
e irreais transcorrem numa base emocional
absolutamente real. Assim, sentimento e fantasia
não são dois processos separados entre si, mas
essencialmente o mesmo processo, onde a fantasia
seria a expressão central da reação emocional.
Daí a diferença entre sentimento comum
e artístico: é o mesmo sentimento, sendo que
no artístico existe uma atividade intensificada
da fantasia. Por isso, o autor considera que as
emoções da arte são emoções inteligentes, ou seja,
em vez de se manifestarem “de punhos cerrados
e tremendo” (VYGOTSKY, 1999, p. 267), resolvemse principalmente em imagens da fantasia, o que
requer uma elevadíssima atividade do psiquismo (a
arte é o trabalho do pensamento, seja real ou irreal).
Os estudiosos da arte trabalham com
sentimentos híbridos, pois toda obra de arte
– referindo-se o autor mais especificamente à
fábula, novela, tragédia – encerra forçosamente
uma contradição emocional, suscita uma série
de sentimentos opostos entre si, provocando seu
curto-circuito e destruição, através da catarse.
Vygotsky chegou ao pressuposto acima
citado, ao estudar a tragédia de Hamlet, enfatizando
o aspecto pragmático dos textos literários, ou seja,
interpretados sob ponto de vista do receptor. A
estrutura psicológica da mensagem foi o foco central
da análise de Vygotsky em Psicologia da Arte, já que
não era possível a análise dos processos subjetivos
de codificar e decodificar a mensagem:
“(...) o aspecto mais relevante da arte é
que ambos os processos de sua criação e
de seu uso parecem não compreensíveis,
inexplicáveis e escondidos da consciência
dos que tem que lidar com eles”
(VALSINER & VAN DER VEER, 1999).
É com base nisto que os autores acima
citados afirmam que a arte esconde a arte.
Vale enfatizar que o receptor na análise
de Vygotsky às vezes assumia o papel do próprio
autor, mas outras vezes era apresentado no sentido
de um outro genérico. Isto se refere à idéia contida
na expressão “o social em nós”. A forma como
cada indivíduo reage à arte é subjetivamente
idiossincrática, mas todas as maneiras individuais
de reação estética estariam ligadas por alguma
estrutura fundamental fornecida pela estrutura
psicológica da mensagem. Explicitando melhor
essa idéia, podemos afirmar que a experiência de
sentimentos contraditórios encontrados na fábula,
tragédia, novela, seriam gradualmente gerados pela
estrutura psicológica da mensagem, que guiaria as
reações estéticas do receptor. Essa contradição
afetiva ou “catástrofe da fábula” desenvolve-se num
“curto-circuito” de cargas elétricas opostas, onde
essa contradição se resolveria numa explosão.
Foi dessa forma que Vygotsky (1999) elevou esse
desenvolvimento afetivo ao nível da lei geral de
reação estética (contradição emocional) culminando
no que chamou de catarse.
De acordo com os pontos levantados até
aqui, podemos perceber que Vygotsky compreende
a arte como algo que proporciona transformação.
Através dela há a superação do sentimento comum,
do medo, da dor, da inquietação. E esta superação
elimina, transforma sentimentos e proporciona
equilíbrio entre o organismo e o meio.
Como dito anteriormente, neste livro o
autor não fala diretamente da criação de uma obra
de arte (exemplo disto é o fato de ele afirmar que se
deve centrar a atenção no espectador), e para fazer
suas reflexões ele se concentra basicamente numa
forma de arte, a arte literária. Entretanto, o próprio
autor destaca que muitas de suas afirmações
podem ser levadas para o entendimento de outras
expressões artísticas, entre elas as artes plásticas. Podemos utilizar suas reflexões também para o
entendimento do veículo que move o artista.
Uma vez que Vygotsky propõe que a arte
tem o poder de estabelecer o equilíbrio entre o
indivíduo e o meio, e que há uma busca de novas
modalidades de intervenção social que visam
compreender os novos modos de subjetivação
individual, as novas expressões que o sofrimento
psíquico assume, podemos conceber a arte como
um recurso terapêutico.
Veículo de expressão social, a arte é
também demonstração da subjetividade humana,
onde cada símbolo ou reação estética tem um
significado particular para cada indivíduo. Este
significado só pode ser apreendido a partir da
história de cada um, que é absolutamente única e
singular. Conceber a arte como o “social em nós” é
considerar a interação das dimensões filogenética,
ontogenética, sociogenética e microgenética na
constituição do indivíduo, onde o passado, o
presente e o futuro estão imbricados.
Um paciente psiquiátrico, ao produzir arte,
tem a possibilidade de exprimir seu inconsciente,
retratar, por exemplo, em imagens a experiência
caótica que lhe invade a consciência, e assim, num
processo catártico, diminuir a carga energética
destas emoções, transformar-se e, possivelmente,
estabelecer um caminho em direção à cura. A arte
concebida como fonte de equilíbrio, através de seu
efeito catártico, passa então a se configurar como
instrumento terapêutico.
A ARTE COMO RECURSO
TERAPÊUTICO
Para a tarefa de tentar compreender a arte
como um recurso terapêutico faz-se necessário
buscar exemplos da aplicação deste conceito.
Será utilizada neste artigo a proposta do trabalho
de Terapia Ocupacional desenvolvido por Nise da
Silveira e seus efeitos sobre seus pacientes. Como
veremos adiante, estes pacientes, ao produzirem
materiais artísticos, elaboram e organizam a
desordem de suas psiques. Exemplo disto é a
produção de mandalas pelos esquizofrênicos, que,
além de se mostrar uma produção comum a vários
pacientes, possibilita-lhes organizar a dissociação
esquizofrênica.
Entretanto, antes de discutirmos os
efeitos da arte sobre os pacientes tratados por
Nise da Silveira devemos esclarecer as razões
pelas quais optamos por utilizar sua obra para
ilustrar tais aplicações. Faz-se indispensável
também compreender qual a visão desta psiquiatra
a respeito da esquizofrenia, doença mental mais
comumente tratada por ela através deste recurso.
3.1. Por que Nise da Silveira?
A obra de Nise da Silveira é forte e
grandiosa. São numerosas as referências a seu
nome e parece ser unânime uma admiração por
parte daqueles que optam por falar desta psiquiatra.
Os feitos de Nise da Silveira são inúmeros e em
variadas áreas, como pode-se verificar através
de sua biografia encontrada no website do
Museu de Imagens do Inconsciente (http://www.
museuimagensdoinconsciente.org.br/html/nise.
html).
Nise da Silveira nasceu em Maceió,
no estado de Alagoas, em 1905. Formou-se em
Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia em
1926. Em sua trajetória envolveu-se não apenas
com o exercício de sua profissão, mas também com
movimentos políticos e artísticos. Iniciou, em 1946,
a Seção de Terapêutica Ocupacional no Centro
Psiquiátrico Nacional, atualmente denominado
Instituto Municipal Nise da Silveira. Fundou, em
1952, uma das unidades mais famosas deste
instituto, o Museu de Imagens do Inconsciente,
com o material produzido nos ateliês de pintura e
modelagem da Seção de Terapêutica Ocupacional. Quatro anos mais tarde, com a colaboração
de amigos, fundou a Casa das Palmeiras, clínica de
reabilitação e reinclusão social para ex-pacientes
de instituições psiquiátricas. Entre 1957 e 1958
freqüentou o Instituto C. G. Jung em Zurique. Lá
apresentou uma exposição de obras produzidas no
Museu de Imagens do Inconsciente, sendo que foi
o próprio C. G. Jung quem abriu tal exposição em
reconhecimento ao trabalho de Nise da Silveira.
O Museu de Imagens do Inconsciente se
localiza no bairro de Engenho de Dentro, no Rio de
Janeiro e reúne atualmente cerca de 300 mil obras,
entre telas, pinturas, desenhos e esculturas. Este
museu também é um centro de estudos e pesquisas,
com grandes contribuições, sobre imagens que
povoam o inconsciente.
A Casa das Palmeiras, que foi reconhecida
como utilidade pública pelo governo da Guanabara,
trabalha em regime de externato e tem o anseio de
estabelecer uma ponte entre o hospital psiquiátrico
e a sociedade, além de servir como contraponto
às condições adversas a que se submetem os
pacientes de hospitais psiquiátricos. Para tal,
o trabalho terapêutico nesta instituição prima
por utilizar a expressão artística como forma de
tratamento; proporcionar um ambiente livre para
seus pacientes, onde portas e janelas se encontram
abertas; e estabelecer a ordem de uma maneira
inovadora, na qual pacientes e funcionários não são
diferenciados, por exemplo, pelo uso de crachás ou
jalecos (SILVEIRA, 1992).
De acordo com Dias (2004), Nise da Silveira
é reconhecida como aquela que revolucionou a
pesquisa e o tratamento da doença mental no
Brasil exatamente por utilizar a arte como recurso
terapêutico. A psiquiatra exibiu um pioneirismo ao
estabelecer a terapia ocupacional dos pacientes,
em especial sua expressão artística, com um papel
relevante no seu tratamento. Este pioneirismo se
evidencia também na sua capacidade de integrar
conceitos da teoria junguiana às atividades artísticas
de seus pacientes, e assim outorgar respeito à
chamada “arte dos loucos ou alienados”.
Vale ressaltar que, além da força dos atos
em si, tais feitos podem ser considerados pioneiros
também devido à época em que aconteceram. Na
década de 40 a psiquiatria brasileira se utilizava
basicamente de métodos violentos de tratamento,
entre eles a convulsoterapia pelo eletrochoque.
Assim sendo, a psicanálise se apresentava como
uma segunda opção para estes tratamentos.
Além disto, de acordo com a própria Nise da
Silveira (1992) e também com Mello (http://
w w w. m u s e u i m a g e n s d o i n c o n s c i e n t e . o r g . b r /
expos/arqueologia/arqueologia.html), a terapia
ocupacional era um método conhecido, mas de
pouco apelo, constituindo uma prática periférica aos
métodos mais utilizados.
Mello destaca que esta terapêutica
rapidamente se evidenciou como um bom
procedimento de tratamento, uma vez que as
melhoras clínicas se acumulavam. Em tempo,
vale observar que as formas de arte que mais
se destacaram nesta prática foram a pintura e a
modelagem.
Esta característica desbravadora de
Nise da Silveira se confirma, ainda, no fato de
que não havia muito interesse por parte da
comunidade científica nas práticas ocupacionais
e na arte dos alienados. Entretanto, a psiquiatra
buscou e encontrou apoio junto ao meio artístico
entre personalidades renomadas como Mário
Pedrosa, Almir Mavignier, Graciliano Ramos, Ivan
Serpa, Ferreira Gullar, Abraham Palatnik, Carlos
Drummond de Andrade e Leon Dégand (DIAS,
2004; FRAYZE-PEREIRA, 2003). É curioso observar este movimento da
arte em prol da arte, pois foi o meio artístico que
reconheceu a produção dos alienados como
expressão artística. Deste modo, podemos dizer
que os artistas foram grandes incentivadores desta
iniciativa de usar a arte como recurso terapêutico.
Dias (2004) afirma que, de um lado o
meio artístico, e de outro a ciência, na pessoa de
Nise da Silveira, unem-se e encontram formas
de mostrar que os indivíduos que compunham
as obras do Museu de Imagens do Inconsciente
eram duplamente singularizados, sendo ao mesmo
tempo artistas e loucos. Este status garantiu a
divulgação desta técnica terapêutica como uma
prática inovadora. Segundo esta autora, a arte dos
alienados começou a ser comparada à produção de
artistas modernos, o que lançou o questionamento
a respeito da distância entre normais e loucos.
Somando-se a isto o fato de que os desenhos dos
doentes mentais atestavam que sua capacidade
artística sobrevivia à perda da razão e das
habilidades sociais, acreditava-se que a distância
em questão poderia ser menor do que se julgava.
Frayze-Prereira (2003), em seu artigo a respeito
da obra de Nise da Silveira, também aponta que
o artista carrega um tanto desse marginal, desse
louco.
Esta discussão a respeito da distância
entre loucos e sãos também é tratada por
Vygotsky em Psicologia da Arte. O autor afirma
que os psicanalistas vêem a arte numa posição
intermediária entre o sonho e a neurose1. Teríamos
nestes três estados a manifestação do inconsciente,
que apesar de se tratarem de manifestações
diferentes são de mesma natureza. O artista estaria,
portanto, entre o sonhador e o doente mental, sendo
que o processo psicológico em cada um deles
seria o mesmo, diferindo apenas em grau. MüllerFreienfels, segundo Vygotsky, afirma que, de acordo
com a psicanálise, Shakespeare e Dostoiévski não
se tornaram criminosos pelo fato aliviarem suas
tendências criminosas ao representarem criminosos
em seus textos. Vygotsky desenvolve este raciocínio
colocando a arte como “alguma coisa como uma
terapia para o artista, e para o espectador” (p. 87),
sendo que ela representa uma forma de afastar o
conflito com o inconsciente sem que o artista caia
na neurose (ou na psicose).
O trabalho desenvolvido por Nise da
Silveira segue claramente esta tônica. Entretanto,
seu foco principal foi em pacientes esquizofrênicos.
Isto pode ser evidenciado na afirmação de FrayzePereira (2003) de que desde o início, o Museu de
Imagens do Inconsciente se constituiu como um
núcleo de pesquisa da esquizofrenia. Devemos,
então, conhecer como esta psiquiatra compreende
tal doença mental.
3.2. A esquizofrenia segundo Nise da Silveira
A psiquiatria dominante define que uma das
características mais importantes da esquizofrenia
é a cisão de diferentes funções psíquicas. Tal
definição é aceita por Nise da Silveira que coloca
também que a esquizofrenia pode ser definida
como o campo do consciente sendo invadido por
conteúdos emergentes de camadas profundas da
psique. O indivíduo esquizofrênico está, então,
envolto por um mundo diferente daquele do
cotidiano e tem, portanto, grande dificuldade em
exprimir seus pensamentos e emoções através das
palavras. Entretanto, existe neste indivíduo uma
necessidade imprescindível de se expressar, e o
que torna esta expressão possível são as imagens
(SILVEIRA, 1992).
As imagens retratadas nas produções
artísticas destes pacientes, conforme Nise da
Silveira define, vêm de estratos muito profundos
do inconsciente, que se encontram extremamente
distanciados do consciente, e assumem formas
arcaicas, estranhas, carregadas de energia.
Podemos incluir nesta definição duas idéias
encontradas nas afirmações de Vygotsky: tratam-se
de imagens carregadas de fantasia; trata-se de um
1 Neste trabalho concordamos com esta noção, porém a ampliamos, substituindo a neurose por todas as doenças mentais,o que inclui,
portanto, também a psicose.
processo catártico. O autor coloca que fantasia e
sentimento são duas faces de um mesmo processo,
no qual a fantasia seria a expressão central da
reação emocional. É aqui que ele diferencia o
sentimento comum do sentimento artístico, sendo
que este último é o “local” em que a atividade da
fantasia é intensificada. Ele coloca ainda que
as emoções da arte se resolvem em imagens da
fantasia. Com relação à catarse, já foi apontado
acima que apesar da imprecisão deste termo, esta
é vista pelo autor como descarga indispensável de
energia nervosa, e que carrega a possibilidade de
expressar a contradição de sentimentos opostos.
Nas imagens produzidas pelos pacientes
esquizofrênicos de Engenho de Dentro a cisão
da psique citada acima pôde ser visualizada.
Encontravam-se desenhos caóticos, representações
dissociadas da estrutura do corpo humano, árvores
cortadas em pedaços, entre outros exemplos do
despedaçamento da personalidade (http://www.
museuimagensdoinconsciente.org.br/pdfs/mundo_
imagens.pdf).
Porém, Nise da Silveira percebeu que
imagens circulares, ou que tendiam ao círculo se
impunham nas produções dos pacientes, imagens
que pareciam fazer clara alusão às mandalas
encontradas em textos sobre religiões orientais. A
psiquiatra, então, submeteu algumas das imagens
à apreciação de Jung, e obteve dele o retorno
de que aqueles desenhos que apresentavam tal
regularidade, “rara na produção de esquizofrênicos”
(p. 9) denotavam uma forte tendência do
inconsciente em buscar uma compensação à
dissociação esquizofrênica.
Encontra-se aí uma exemplificação da
proposta de Vygotsky de que a arte pode servir
de fonte de equilíbrio entre o indivíduo e o meio,
e, neste caso, de um bem-sucedido recurso
terapêutico. Esta busca por uma compensação à
dissociação esquizofrênica é, em outras palavras,
uma busca pelo equilíbrio mediada pela atividade
artística.
Podemos afirmar que a esquizofrenia
se configura num ataque ao equilíbrio da psique.
Tais imagens circulares, segundo Nise da Silveira,
exprimem movimentos instintivos de defesa desta
psique, tentativas de renovação. Poderíamos,
então, supor movimentos em direção à cura? Ou,
conforme as idéias de Vygotsky, novas formas de
comportamento?
Contrariando a grande maioria dos
psiquiatras, a autora sustenta que curar a
esquizofrenia é possível. Mas para isto certas
condições favoráveis devem ser mantidas. Ela
chama a atenção, entretanto, para o fato de que,
num hospital psiquiátrico, tais condições são quase
impossíveis de serem encontradas.
A cura, na proposta de Nise da Silveira, fica
condicionada à relação interpessoal, e sobre este
aspecto a autora afirma que, tanto para o indivíduo
esquizofrênico, quanto para aquele, considerado
normal, com quem o paciente deve estabelecer
uma troca, há uma dificuldade na comunicação.
Há um recuo recíproco de um em oposição ao
outro. Entretanto, esta cura só será possível se
for estabelecida uma ponte entre o esquizofrênico
e o outro (seja ele o terapeuta, o cuidador, ou
qualquer outro personagem), e cabe a este outro
ser paciente, afetuoso, e criar um ambiente livre de
qualquer coação. Como veremos a seguir, para a
psiquiatra, a volta à realidade será possível apenas
se o sujeito esquizofrênico puder estabelecer uma
relação de confiança com alguém.
Vemos aqui mais uma conformidade entre
as colocações acima e as propostas de Vygotsky.
Tanto em Psicologia da Arte como no restante de
sua obra, sempre fica clara a importância que o autor
confere ao social e aos parceiros com os quais os
indivíduos se deparam durante suas experiências.
O autor propõe a face social da arte (“o social em
nós”). Isto significa dizer que a arte é determinada
e condicionada pelo psiquismo do homem social, é
uma atividade de fundo social na qual o homem se
forma e interage com seus semelhantes e com seu
mundo numa relação intercomplementar de troca.
Ou seja, na visão de Vygotsky, assim como para
Nise da Silveira, a presença desse outro social é
transformadora e fundamental.
Vale destacar que se pode encontrar
nestas colocações a respeito do papel do outro uma
possível motivação da psiquiatra para estabelecer o
trabalho oferecido na Casa das Palmeiras.
Convém observar ainda que, conforme
Frayze-Pereira (2003) afirma, Nise da Silveira
deslocou a problemática da loucura do campo da
psicopatologia médica para o campo da cultura.
Entretanto é fundamental ressaltar que sua proposta
de trabalho não se destina a transformar pacientes
psiquiátricos em artistas, mas sim valer-se da
capacidade inerente ao ser humano de produzir
arte como um instrumento capaz de tirá-lo do
ostracismo em que a doença mental o coloca. Fazse necessário, portanto, compreender, a proposta
de trabalho de Nise da Silveira.
3.3. A proposta de Nise da Silveira
Em princípio, a arte pode ser utilizada
como uma opção de tratamento tanto de pacientes
psicológicos integrados à sociedade, quanto
daqueles considerados mais graves e que em
muitas vezes se encontram apartados do convívio
social. Contudo, conforme dito acima, o trabalho
desenvolvido por Nise da Silveira no Museu de
Imagens do Inconsciente se voltou mais a pacientes
esquizofrênicos.
De fato, segundo a psiquiatra, em todas
as atividades da Terapia Ocupacional por ela
coordenadas o ponto central foi o afeto. É com
base nisto que Nise da Silveira sustenta que a
volta à realidade só é possível se o esquizofrênico
puder estabelecer uma relação de confiança com
alguém (http://www.museuimagensdoinconsciente.
org.br/pdfs/mundo_imagens.pdf). Nesta proposta
de trabalho de Nise da Silveira, animais também
servem de recurso terapêutico. Ela, inclusive, lhes
confere o status de co-terapeuta. Cachorros, por
exemplo, não provocam frustrações, trazem calor à
relação, ofertam amor sem exigir uma reciprocidade.
Abelardo e Carlos são dois exemplos de
como este afeto catalisado pelos animais pode ser
transformador. Ambos eram pacientes que residiam
no hospital psiquiátrico em que Nise da Silveira
exercia suas funções. Abelardo era temido por sua
intensa agressividade, contudo se esmerava em
cuidados com cães e gatos abandonados. Carlos
falava uma língua própria, cheia de neologismos, os
quais tornavam quase impossível a compreensão
de suas mensagens. No entanto, quando precisou
cuidar de seu cachorro ferido, o afeto agiu sobre seu
pensamento e Carlos proferiu palavras concatenadas
em frases absolutamente compreensíveis (http://
www.museuimagensdoinconsciente.org.br/pdfs/
mundo_imagens.pdf).
Mas, uma vez que o propósito deste
trabalho é focar na proposta de que a arte pode
servir como recurso de tratamento a pacientes
psiquiátricos, centraremos nossa discussão a
respeito dos efeitos das atividades artísticas sobre
os pacientes de Nise da Silveira.
Esta psiquiatra encara a arte no ateliê de
um hospital psiquiátrico não como ponto de partida
para associações verbais, mas vê a importância da
imagem em si mesma. A arte, ou o simbolismo nela
embutido, compõe um tipo de linguagem. E cabe
ao terapeuta compreender esta linguagem. Não se
trata, portanto, de tentar traduzí-la, tampouco de ser
ela um meio de fazer com que materiais reprimidos
cheguem ao consciente. Ela ainda assevera que a
comunicação com esquizofrênicos em casos graves
tende a fracassar se pretender iniciar e/ou se pautar
pela interação verbal (1992)
A função da arte pode ser outra, diz Nise
da Silveira.
“A pintura pode ser utilizada pelo doente
como um verdadeiro instrumento para
reorganizar a ordem interna e ao mesmo
tempo reconstruir a realidade” (http://
www.museuimagensdoinconsciente.org.
br/pdfs/mundo_imagens.pdf, p. 5).
A arte serve de instrumento de
transformação da realidade interna e externa
do paciente, além de servir de meio de acesso
ao seu mundo interno (FRAYZE-PEREIRA,
2003). Um indivíduo considerado esquizofrênico
está mergulhado na dissociação de sua mente.
Diante disto, a possibilidade do paciente retratar
em imagens esta experiência caótica pode lhe
proporcionar a despotencialização destas vivências
e diminuir sua carga energética. Há uma tentativa
de reorganizar sua psique dissociada. Podemos
concluir que, tanto esta autora, quanto Vygotsky
encaram a arte como fonte de equilíbrio entre o
indivíduo e o meio.
Frayze-Pereira (2003) afirma que a arte
produzida pelos pacientes de Nise da Silveira foi
denominada por Mário Pedrosa como arte virgem,
um tipo de arte que não leva em consideração as
convenções acadêmicas. Segundo este autor, esta
denominação se baseia nas idéias de Jean Dubuffet
sobre art brutt também descritas por Nise da Silveira
(1992). Este conceito qualifica artisticamente as
produções dos não-profissionais, incluídos aqui os
psiquiatrizados. Ambos autores valorizam o caráter
transgressivo, e poderíamos dizer libertador, desta
forma de arte.
Nise da Silveira (apud FRAYZE-PEREIRA,
2003) vê no fato de ser a arte uma produção
impessoal a possibilidade de se considerar as
criações dos pacientes como obras de arte. Ou
seja, estas seriam expressões do inconsciente
coletivo. Neste enfoque, o artista é encarado com
um instrumento da arte, como homem coletivo que
carrega a alma inconsciente e ativa da humanidade.
Cabe fazer uma observação aqui
para explicar um pouco melhor esta noção de
inconsciente coletivo. Em vários pontos de sua
obra Jung se refere a este conceito. Para ele, os
conteúdos mentais inconscientes podem ser fruto
da repressão, como supõe Freud. Estes se referem
a assuntos pessoais. Mas o autor amplia esta noção
ao colocar que tais conteúdos também podem ser
impessoais ou coletivos. Ele diz considerar um erro
fatal o fato de se considerar a psique, e explicála meramente sob um ponto de vista pessoal. Tal
explicação só serviria às atividades cotidianas do
indivíduo (JUNG, 1988). Segundo o autor,
“O inconsciente pessoal caracteriza-se
pelo fato de que seus conteúdos são
formados pessoalmente e são ao mesmo
tempo aquisições individuais que variam
de pessoa para pessoa, tendo cada qual
o seu próprio inconsciente. O inconsciente
coletivo, porém apresenta conteúdos que
são formados pessoalmente apenas
em grau ínfimo e, no essencial, em grau
nenhum; não são aquisições individuais,
mas são essencialmente os mesmos em
toda parte e não variam de pessoa para
pessoa. Esse inconsciente é como o ar
que é sempre o mesmo em toda parte,
que é respirado por todos e a ninguém
pertence. Os conteúdos (chamados
arquétipos) são condições prévias ou
esquemas da constituição psíquica em
geral.” (JUNG, 2002, p. 13)
Essas formas pré-existentes ou originais,
os arquétipos, na visão de Jung, teriam uma
relação estreita com os instintos, de modo que
aqueles constituiriam imagens inconscientes destes
últimos. Em outras palavras, podemos dizer que os
instintos se referem ao biológico e os arquétipos ao
psicológico. Aqui encontramos uma característica
inerente ao inconsciente coletivo, seu caráter
hereditário e atemporal.
Veríssimo (1997) afirma que os arquétipos
se mostram sob o que Jung denominou imagens
arquetípicas do inconsciente coletivo. Tais imagens
são as vias de acesso que possibilitam a revelação
da dimensão suprapessoal do inconsciente.
A noção de inconsciente coletivo de Jung
não pressupõe de modo algum uma mente grupal.
2 Termo utilizado pelo próprio autor
Trata-se, ao contrário, daquilo que constitui um
elo entre o indivíduo e as experiências ancestrais.
Vygotsky afirma que “se o seu efeito [da arte]
se processa em um indivíduo isolado, isto não
significa, de maneira nenhuma, que as suas raízes
e essência sejam individuais” (p.315). O autor
ainda coloca que o social existirá mesmo onde haja
apenas um homem e suas emoções pessoais. O
sentimento não nasce no indivíduo e contagia aos
outros. O que ocorre é uma refundição das emoções
de fora deste indivíduo através e por força de um
sentimento social.
Portanto, assim como Jung, Vygotsky
também diferencia o social do coletivo, e apesar de
os dois autores utilizarem termos diferentes para
suas definições, podemos visualizar que ambos
seguiram a mesma linha de raciocínio e fizeram
uma distinção entre aquilo que é grupal e aquilo que
é comum a todos os indivíduos.
Vygotsky vê na arte mais funções do que
simplesmente o contágio de algum sentimento. Para
ele, a arte opera o “milagre”2 da transformação, o
qual ele relaciona ao milagre da transformação da
água em vinho. O autor coloca que
“a verdadeira natureza da arte sempre
implica algo que transforma, que supera
o sentimento comum, e aquele mesmo
medo, aquela mesma dor, aquela mesma
inquietação, quando suscitadas pela arte,
implicam o algo a mais acima daquilo
que nelas está contido. E este algo
supera esses sentimentos, elimina esses
sentimentos, transforma a sua água em
vinho, e assim se realiza a importante
missão da arte.” (p.307)
A arte recolhe seu material da vida, mas o
que produz é acima desse material, ou seja, a arte
se apresenta para a vida como o vinho para a uva.
Nise da Silveira se baseia nas concepções
de Jung sobre inconsciente coletivo e arquétipos
para analisar o material produzido por seus
pacientes. Ela admite que as imagens retratadas
por seus pacientes surgem do inconsciente coletivo.
As imagens arquetípicas não representam algo que
existiu num passado distante, mas também algo que
existe agora, onde o arquétipo não é um vestígio,
mas um sistema ativo que funciona no presente.
Tal atividade foi reconhecida pela psiquiatra, pois
os conteúdos inconscientes retratados por seus
pacientes se mostraram sujeitos a transformações.
O inconsciente, portanto, sofre e produz mudanças,
influencia e sofre a influência do ego. Tais mudanças
podem ser acompanhadas através do relato dos
sonhos, mas, uma vez que a comunicação verbal
com os esquizofrênicos é comprometida, as
imagens retratadas por eles também proporcionam
este benefício (SILVEIRA, 1992).
É interessante apontar também que outro
ponto em comum entre os autores citados se refere
às divisões entre diversos grupamentos: loucos
versus sãos; arte versus não-arte; primitivos versus
modernos, entre outros. Os autores parecem
ser unânimes ao apontar que tais linhas são
absolutamente tênues. Vygotsky usa estes exatos
termos para dizer da diferenciação entre arte e
não-arte. Ao falar da relação entre arte e trabalho,
Vygotsky, baseando-se nas colocações de Bucher,
aponta que inicialmente a música e a poesia
tiveram a função de resolver, através da catarse,
a tensão do trabalho, o que se refere aos povos
primitivos. Mas mesmo quando a arte se separa
do trabalho, ou seja, nas sociedades modernas,
ela mantém as mesmas funções de sistematizar
ou organizar o sentido social e dar vazão a uma
tensão angustiante. Desta forma, o papel primeiro
da arte é funcionar como o mais forte instrumento
na luta pela existência, seja por povos primitivos
ou modernos. Frayze-Pereira (2003) e Dias (2004),
ao retratarem a obra de Nise da Silveira, afirmam
que a arte transcende a distinção entre sanidade
e loucura. Frayze-Pereira ainda afirma que a arte
transcende a diferença entre primitivos e modernos.
3.4. Um exemplo
Um dos pacientes mais famosos de Nise da
Silveira é Fernando Diniz. Sua expressão plástica foi
acompanhada pela psiquiatra no setor de pesquisa
do Museu de Imagens do Inconsciente. Fernando
Diniz é reconhecido como grande artista dentro e fora
do Brasil, tendo participado de inúmeras exposições
(http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/
pdfs/FDiniz0.pdf). Mas mesmo assim, do ponto de
vista da psiquiatria tradicional, ele continuava sendo
considerado um paciente crônico, “sem nenhuma
perspectiva de trazer para a coletividade dons de
qualquer espécie” (SILVEIRA & BERNARDI, p.1)
A história deste louco / artista é conturbada.
Fernando nasceu pobre, mulato e órfão de pai. Ele
sempre sonhou em estudar Engenharia, e chegou
3 Antes de ser acolhido no Centro Psiquiátrico de Engenho de Dentro
a ser o primeiro de sua classe, mas o sonho do
terceiro grau nunca se concretizou. Sua infância foi
atormentada pelas condições sociais opressoras
em que viveu. Mesmo antes de a psicose se
apresentar à sua psique, sua auto-imagem já
havia sido lesada. Alguns métodos de tratamento
a que foi submetido antes de ingressar no Centro
Psiquiátrico de Engenho de Dentro somaramse a tais opressões. Um exemplo disto é o fato
de que, após ter principiado seu tratamento na
referida instituição com Nise da Silveira, onde já
havia iniciado seu trabalho com a atividade plástica
no Museu de Imagens do Inconsciente, num
determinado dia ele foi abruptamente transferido
para uma outra instituição. A motivação para tal
transferência, segundo Nise da Silveira, foi uma
prática comum para que se melhore as estatísticas
dos hospitais psiquiátricos brasileiros: altas mal
discriminadas, ou transferências para hospitais de
pacientes crônicos (SILVEIRA & BERNARDI).
Mas durante o tempo em que esteve
fora, Fernando recebeu o afeto de seus amigos
do Museu. Estes lhe visitavam com freqüência. E
dois anos após sua saída ele pôde voltar ao Centro
Psiquiátrico, aonde foi recebido festivamente, além
de demonstrar grande alegria por estar de volta.
Apesar de se encontrar num estado grave de saúde
física, após uma curta fase de pinturas caóticas,
este paciente reencontrou seu caminho em termos
da produção de suas imagens.
Ao definir a condição mental de Fernando, Nise
da Silveira afirma que as alterações na sua psique
não representaram cisões graves a ponto de
submeterem o consciente à invasão dos conteúdos
inconscientes. Seu ego não se espatifou, mas ficou
enfraquecido, incapaz de assumir seu papel e lhe
proporcionar alguma estabilidade. A psiquiatra faz
uma crítica contundente ao formato dos hospitais
psiquiátricos ao propor que a condição de Fernando
foi agravada pelas condições a que foi submetido
nestas instituições de tratamento3. Segundo
ela, estes locais serviram para massacrar ainda
mais sua auto-imagem e não alimentaram seus
movimentos de forças auto-curativas em direção a
uma reconstrução da psique dissociada.
Ao chegar ao ateliê, Fernando era um
sujeito cabisbaixo que mal podia se comunicar com
os outros, pois o volume de sua voz era tão baixo a
ponto de ser dificilmente ouvida, tal era o estado de
alienação em que se encontrava. Seu acervo conta
com mais de 20 mil trabalhos de pintura, escultura,
desenho, tapeçaria, móbiles, etc., que relatam sua
trajetória artística e psicológica. Foi graças a seu
trabalho artístico que Fernando conseguiu sair do
anonimato e conquistar a estima e o respeito dos
colegas e funcionários do Centro Psiquiátrico.
Contudo, mais do que sair do anonimato, a
possibilidade de retratar em imagens a desordem
de sua psique permitiu a Fernando encontrar seu
caminho, dar forma às perturbadas emoções que
lhe acompanhavam e estabelecer um processo de
auto-cura, onde novas direções se apresentaram
(http://www.museuimagensdoinconsciente.org.br/
pdfs/FDiniz0.pdf). No catálogo da exposição O Universo de
Fernando Diniz encontramos sua definição do que
é pintar:
“Pintar é procurar fazer as coisas por
meio do pincel. É uma riqueza, pois se
faz figuras e mais figuras até formar uma
fortuna. É uma riqueza que se aprende
tirando da fumaça do ar. A pintura vem por
meio das imagens.
Por
meio
da
pintura
acabei
aprendendo
tudo.”
(http://www.
museuimagensdoinconsciente.org.br/
pdfs/FDiniz0.pdf).
Ele define também o que são as mandalas:
“Pra mim uma mandala é uma porção
de coisas, tem tantas coisas em volta da
mandala... Alguém perguntou: Um ovo
estrelado é uma mandala? Cada pessoa
diz uma coisa, cada mandala é diferente
da outra.
Eu tava pensando que uma mandala
é uma roda grande com uma porção
de figurinhas de ouro em volta. Tava
pensando que era alguma coisa de
religião.”
(http://www.
museuimagensdoinconsciente.org.br/
pdfs/FDiniz0.pdf).
Fernando morreu em 5 de março de
1999 de cardiopatia e câncer, mas mesmo doente
fisicamente ele continuou com sua produção,
fazendo inclusive uma exposição no Museu Nacional
de Belas Artes no Rio de Janeiro em dezembro de
1998.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As contribuições de Vygotsky encontradas
em Psicologia da Arte nos despertaram uma
primeira emoção: de que se trata de um autor
diferente do que habitualmente se conhece, um
outro Vygotsky, que enfatiza a dimensão afetivoemocional do sujeito inserido em seu meio social.
O objetivo deste trabalho foi percorrer
algumas idéias pouco conhecidas de Vygotsky e
estabelecer um paralelo entre as propostas deste
autor e as concepções que permeiam atendimentos
psicoterapêuticos que optam por utilizar a arte
como fonte de equilíbrio. O trabalho desenvolvido
por Nise da Silveira e o louco/artista Fernando
Diniz foram utilizados aqui como exemplos bemsucedidos desta utilização.
O que está por trás de ambas as visões
é o funcionamento da pessoa humana em nossa
sociedade. O ponto de destaque está nessa
dimensão afetivo-emocional tanto dos indivíduos
quanto da sociedade em que estes vivem, e no
surgimento de novas formas de comportamento.
Van Geert (2003) coloca que num dado
processo o “novo” pode emergir. Entretanto, vale
ressaltar o que se compreende por este termo. Não
se trata de algo único, que jamais ocorreu, mas sim
aquilo que seja inovador diante da história daquele
processo. Idéias semelhantes a respeito do novo
surgindo como produto do próprio processo e da
não possibilidade de definição prévia do que vem
a ser este produto também são encontradas no
Dialogismo. Temos, por exemplo, a proposta de
Marková (1990) de que o diálogo é um processo
composto por três passos: 1) a comunicação inicial
de um dos parceiros, 2) a resposta do outro, 3) a
resposta do primeiro à resposta do segundo. Esta
noção carrega a idéia de interdependência entre
os parceiros, mas além disto, traz também o novo
emergindo como fruto do diálogo.
A concepção de que o novo pode surgir
como fruto de um processo que sempre envolve
duas ou mais pessoas que estabelecem uma
relação de diálogo, seja através das palavras
ou das imagens, também se faz presente neste
trabalho. A arte e a relação com o outro (que deve
ser necessariamente afetiva, de acordo com Nise
da Silveira) podem proporcionar o encontro dessa
transformação, desse novo.
A transformação de Fernando incluiu
a aceitação de si próprio como artista, e como
tal ele pôde definir seu ofício: “O artista é quase
um milagre. O artista já nasceu artista, gosta de
se apresentar, mostrar a beleza...” (http://www.
museuimagensdoinconsciente.org.br/pdfs/FDiniz0.
pdf)
O uso do termo “milagre” por Fernando
nos faz recordar Vygotsky ao estabelecer o
papel transformador da arte. É curioso observar
também como as poucas e precisas palavras
de Fernando estão em consonância com todo o
raciocínio desenvolvido por Vygotsky explicitado
anteriormente. Fernando, guiado por Nise da
Silveira, vivenciou este milagre. Sua reintegração
social, através da sua obra de arte, se deve à
transformação que a expressão artística lhe
proporcionou. Assim, sua arte lhe possibilitou
buscar novos caminhos, novas formas de viver e de
se reequilibrar. De uva, Fernando virou vinho.
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brasileira. In VIGOTSKI, L. S. Psicologia da Arte.
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VAN DER VEER, R. & VALSINER, J.
Vygotsky: uma síntese. São Paulo: Edições
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VERÍSSIMO, L. J. A experiência religiosa
como expressão do si mesmo: Um estudo a
partir do pensamento de C. J. Jung. Dissertação
de Mestrado Não-Publicada, Programa de PósGraduação em Filosofia, Universidade do Estado
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, RJ, 2000.
VYGOTSKY, L. Psicologia da arte. São
Paulo: Martins Fontes, 1999.
FROM THE ART TO THE CURE: A POSSIBLE
DIALOGUE BETWEEN VYGOTSKY AND NISE DA
SILVEIRA
ARTIGO
ORIGINAL
NÍVEL DE ESCOLARIZAÇÃO E OUTROS FATORES
RELACIONADOS AO PERFIL SOCIOPROFISSIONAL DE
JOGADORES DE FUTEBOL
Ricardo Alexandre Guerra Vieira ¹ Romero T. de Souza ² Franklin C. O. Melo ² Helton B. Holanda ²
RESUMO
O objetivo deste estudo foi descrever o nível de escolarização e outros fatores sociais e profissionais
apresentados por atletas de duas equipes de futebol do estado de Pernambuco. Foram avaliados 50
atletas, todos do sexo masculino e com idade variando entre 18 e 30 anos, através de um questionário
semi-estruturado elaborado pelos pesquisadores e aplicado individualmente aos atletas durante os dias de
treinamento. De acordo com os resultados encontrados verificou-se que apenas 02 (4%) dos entrevistados
possuem nível de escolarização superior e 96% (n=48) não completaram a 3ª série do ensino médio, sendo
que destes 40% (n=20) não completaram o ensino fundamental até a 8ª série e 16% (n=08) são analfabetos
ou não completaram o ensino fundamental até a 4ª série. Foi observado, ainda, que a totalidade dos
atletas avaliados treinava numa carga de trabalho semanal acima de 30 horas. Desta forma, conclui-se
destacando a necessidade de um maior conhecimento por parte dos dirigentes e dos próprios atletas sobre
a importância de investir na sua formação escolar e a importância de realização de estudos e projetos
que possam viabilizar a conciliação entre a vida profissional e a continuidade dos estudos por parte de
jogadores de futebol.
Palavras-chave: Esportes, futebol, atletas, escolaridade.
LEVEL OF ESCOLARIZAÇÃO AND OTHER FACTORS RELATED TO OCCUPATIONAL PROFILE OF
FOOTBALL PLAYERS
ABSTRACT
The objective of this study has been to describe the schooling level and other social and professional
factors presented by athletes from two soccer teams in the state of Pernambuco – Brazil. Fifty athletes
were evaluated, all of them of male sex and with ages varying from 18 to 30, through a semi-structured
questionnaire elaborated by researchers and individually applied to the athletes during the training days.
According to results found, it has been verified that only 02 (4%) of respondents have higher education and
96% (n=48) have not completed the 3rd year of high school, and from these 40% (n=20) have not finished
their basic course up to 8th grade and still from these 16% (n=08) are illiterate or have not completed their 4th
grade. It has also observed that the totality of athletes have trained on a weekly workload over 30 hours. This
way, it has been concluded that it is necessary a greater importance to be given by the clubs officers and the
athletes themselves to the necessity of investing in schooling formation and the attainment of studies and
projects that can enable the athletes to go on their studies without affecting negatively their professional life.
Key-words: Sports, Soccer, athletes, schooling level.
INTRODUÇÃO
O futebol é uma ocupação profissional que
não depende diretamente da escolarização, desta
forma, os jovens, principalmente os que advêm das
classes sociais menos favorecidas, apostam nesse
tipo de profissão muito precocemente e isto vem
determinando um histórico de abandono escolar
(LIMA; MATTA 2005; DAMO, 2005).
Amaral
e
colaboradores
(2007),
1. Curso de Educação Física. Faculdade dos Guararapes.
2. Curso de Educação Física. Faculdade Associação Caruaruense de Ensino Superior e Técnico.
E-mail para correspondência: [email protected]
afirmam que na caminhada para se chegar ao
profissionalismo, muitos jogadores enfrentam
problemas pessoais, familiares e sociais para
continuarem sua formação escolar e destacam
alguns fatores apontados pelos atletas de futebol
que exercem influência na freqüência e dedicação
dos mesmos ao estudo escolar, tais como grande
rotina de treinamentos e viagens para disputa de
competições.
Damo e Amaral (2005) observaram que,
além disso, a prática de futebol vem acontecendo
cada vez mais cedo no Brasil. E Rodrigues (2002) e
Vieira (2003) acreditam que a possibilidade de rápida
ascensão social que o futebol pode proporcionar
faz com que os atletas dêem prioridade a vida
profissional esquecendo, assim, os estudos.
Vieira (2003) identificou que, após seis
a oito anos de investimento no futebol, o jovem
atleta se encontra numa situação delicada devido
à negligência com relação aos estudos. Enquanto
Filgueira (2008) sugere que muitos dos fracassos
enfrentados pelos jogadores, na sua vida pessoal
e profissional, estão relacionados com o nível de
escolarização dos mesmos.
Portanto,
além
dos
problemas
socioculturais relacionados à dificuldade que atletas
de futebol têm para dar seqüência aos seus estudos,
também se discutem na comunidade científica,
as dificuldades que esses atletas encontram em
compreender e assimilar aspectos relacionados
à tática do jogo, bem como as demais tarefas
designadas pelo treinador (FILGUEIRA, 2008).
Desta forma, este estudo foi direcionado
no sentido de verificar qual o nível de escolarização
e outros fatores sociais e profissionais, como idade,
classe social e carga horária de treinamento de
atletas de futebol de dois Clubes da primeira divisão
desta modalidade em Pernambuco e têm suas
sedes baseadas na cidade de Caruaru.
METODOLOGIA
2.2 AMOSTRA
A pesquisa foi realizada de julho a agosto
de 2010 com duas equipes da primeira divisão
de futebol do estado de Pernambuco, onde,
através de um questionário, foi traçado o perfil
sociodemográfico dos atletas. Foram incluídos
neste estudo do tipo descritivo e transversal, 50
atletas, todos do sexo masculino.
A fim de obter permissão para a
apresentação e preenchimento dos questionários
todos os atletas assinaram um termo de
consentimento livre e esclarecido e a direção dos
clubes concedeu autorização, através de uma carta
de anuência, para a aplicação do questionário
e o uso de seus dados para fins de pesquisa e
publicação. A coleta de dados só foi iniciada após
o trabalho ter sido submetido, analisado e aprovado
pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade
ASCES.
2.2 QUESTIONÁRIO
A coleta de dados foi realizada através
de um questionário semi-estruturado aplicado
individualmente aos atletas durante os dias de
treinamento dos mesmos. Este instrumento
de avaliação foi composto por questões de
múltipla escolha e descritivas elaboradas
pelos pesquisadores e questões do critério de
classificação socioeconômica Brasil (ANEP, 2010),
nas quais foram registradas informações sobre os
perfis profissionais e sociodemográficos dos atletas
pesquisados.
2.3 ANÁLISE DOS DADOS
Para apresentação dos resultados foi
realizada uma análise descritiva dos dados e a
apresentação das variáveis mensuradas foi feita
através de tabelas. O software utilizado foi o Excel
2000.
2.4 RESULTADOS
Dos cinquenta praticantes de futebol
avaliados neste estudo, a maioria era casado, com
idade média de 22,26 anos tendo idade mínima de
18 anos, máxima de 30 anos e desvio padrão de
3,6 anos e com relação ao nível de escolarização
96% (n=48) não completaram a 3ª série do ensino
médio e 40% (n=20) não completaram o ensino
fundamental até a 8ª série, sendo que 16% (n=08)
são analfabetos ou não completaram o ensino
fundamental até a 4ª série. Conforme se observa na
Tabela 1.
Tabela 1: Tabela referente às características
sociodemográficas dos atletas de uma equipe
da primeira divisão de Futebol do estado de
Pernambuco
Quanto ao perfil profissional dos
esportistas, os entrevistados declararam não exercer
outro tipo de atividade profissional e apresentaram
uma grande variação quanto ao período de prática
do futebol, com um tempo de mínimo de 1 ano de
prática na modalidade, uma média de 4,58 anos
e 16% (n=8) acima de 10 anos de prática. E no
que diz respeito à carga de treinamento semanal
observou-se que a totalidade dos atletas treinava
acima de 30 horas por semana.
2.5 DISCUSSÃO
Neste estudo, que compreendeu somente
atletas do sexo masculino, na sua maioria casados
e com idade média de 22,26 anos, observou-se
que todos os atletas tinham uma carga horária de
treino acima de 30 horas semanais e apresentavam
baixo nível de escolarização, com 16% (n=08) dos
pesquisados declarando não ter completado o
ensino fundamental até a 4ª série.
Para Samulski e Marques (2009) o estudo da
trajetória esportiva de um atleta tem características
diferenciadas pelo perfil, pela cultura organizacional
da modalidade esportiva e pelo ambiente
socioeconômico no qual estes estão inseridos.
Desta forma, o futebol pode ser visto no Brasil
como um poderoso instrumento de ascensão social
e, neste sentido, Lima e Matta (2005) indicam que
fatores socioculturais e econômicos influenciam
diretamente na procura pela sua prática.
Quanto a fatores sociais e profissionais,
Stewien e Camargo (2005) em estudo realizado
com jogadores de futebol na cidade de ManausAM e Cohen et al (1997) analisando vários estudos
sobre características de perfil sócio-demográfico de
atletas de clubes de futebol, observaram números
bastante semelhantes aos encontrados na presente
pesquisa, principalmente no que se refere a alta
carga de treinamento semanal e o baixo nível de
escolarização dos atletas profissionais de futebol. E
um estudo realizado por Matta (2004) mostrou que
dos 43 jogadores analisados, só 33% concluíram os
estudos no ensino médio e apenas 2% conseguiram
chegar ao ensino superior, mas sem terminá-lo.
Para Amaral et al (2007) e Soares et al
(2009), os jogadores de futebol, seja no contexto
amador ou profissional, deixam de frequentar
as escolas porque não conseguem conciliar
com a programação puxada de treinos, viagens
e competições. E, apesar de não ter sido o caso
dos atletas avaliados no presente estudo, ainda
existem aqueles que realizam outras atividades
profissionais, o que prejudica ainda mais a sua
disponibilidade para estudar (BALLISTA, 2005).
Por outro lado, ainda é possível arrazoar
que a cobrança por resultados e a necessidade
dos clubes de negociarem atletas, cada vez mais
jovens, para o milionário mercado exterior, parece
ter relação direta com o aumento na sobrecarga de
trabalho destes atletas e o consequente abandono
escolar e baixo nível de escolarização que
apresentam.
Autores como Filgueira (2008) também
discutem sobre a dificuldade que esses atletas
encontram em compreender e assimilar aspectos
relacionados às tarefas designadas pelo treinador
e a tática do jogo, decorrentes da capacidade
cognitiva, como elemento de base também para
o desenvolvimento atlético. Mas, apesar dessas
evidências, o autor reconhece que não existe
consenso sobre quanto o aspecto sociocultural
dos jogadores pode influenciar no seu próprio
rendimento dentro de campo.
Já no que se refere à classificação social,
de acordo com dados do Departamento de Análise
de Situação e Saúde do Ministério da Saúde (ANEP,
2010), o quadro de extrema desigualdade existente
na sociedade brasileira tem estreita relação com a
falta de oportunidade de acesso da maior parte da
população a educação e isto ameaça fortemente
a realização do potencial dos jovens e determina
conseqüências negativas ao seu desenvolvimento
físico e intelectual, principalmente as crianças e
adolescentes.
Segundo dados do IBGE (2007),
aproximadamente um terço dos indivíduos
moradores de comunidades de periferia tem entre
um a quatro anos de escolaridade e, traçando um
paralelo entre o nível de ocupação da população
economicamente ativa e o grau de escolarização,
demonstram uma relação direta entre nível de
ocupação e anos de estudos.
Portanto, apesar da percepção dos jovens
quanto ao futebol ser a principal, senão a única,
opção de ascensão social e melhoria na qualidade
de suas vidas, as dificuldades encontradas após
a inserção no contexto de sua prática podem
prejudicar a sua formação escolar e influenciar de
forma negativa no processo de ascensão desejado
por estes atletas. Primeiro, porque de acordo
com documentos do Departamento de Registro e
Transferência da CBF, 82,17% dos atletas nacionais
recebem até dois salários mínimos e apenas um
percentual menor que 5% destes atletas recebem
acima de 20 (vinte) salários mínimos mensais. E,
segundo, porque aliado a este fato, a profissão de
jogador de futebol é bastante curta, com os atletas
encerrando a carreira logo após os 30 anos de
idade.
Assim, apesar da péssima distribuição
salarial no futebol não ser diferente da dos outros
trabalhadores brasileiros, já que, segundo dados
do IBGE (2007), apenas 1,6% dos trabalhadores
brasileiros recebem mais de 20 salários mínimos,
de acordo com Ballista (2005), o baixo nível de
escolarização apresentado pela maioria dos
jogadores de futebol ao encerrarem suas carreiras
dificultam a reinserção no mercado de trabalho
em outra atividade e determinam uma série de
transtornos de ordem social para estes indivíduos.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
De acordo com os resultados deste estudo,
verificou-se que o futebol se apresenta como uma
prática desportiva com uma realidade estrutural
que pode prejudicar a formação acadêmica dos
atletas e isto pode ter influência na sua vida pessoal
e profissional. Isto sugere a necessidade de um
maior conhecimento por parte dos dirigentes e dos
próprios atletas sobre a importância de investir
na sua formação escolar e indica a importância
de realização de estudos e projetos que possam
viabilizar a conciliação entre a vida profissional e
a continuidade dos estudos por parte de atletas de
futebol desde a época de iniciação na modalidade,
ainda no contexto do treinamento amador.
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revisão
Perspectivas no Estudo das Ftalimidas, 1,2,3-Triazóis
e Compostos Glicoconjugados como Fármacos
Hipolipidêmicos e Anti-inflamatórios
Shalom Pôrto de Oliveira Assis1, Ronaldo Nascimento de Oliveira2, Vera Lúcia de Menezes Lima3
Resumo
A aterosclerose é uma doença crônica caracterizada pelo acúmulo de lipídeos e de tecido conectivo
fibroso na parede arterial, que é uma das principais causas de doenças cardiovasculares, sendo também
considerada uma doença inflamatória. Tal doença é desencadeada por hipercolesterolemia e progride para
uma doença inflamatória. A busca por fármacos hipolipidêmicos e anti-inflamatórios, para serem utilizados
na aterosclerose é constante, uma vez que, aqueles disponíveis comercialmente apresentam seu uso
restrito, devido à ocorrência de efeitos indesejáveis severos. Existem classes de fármacos promissoras,
como é o caso das ftalimidas, 1,2,3-triazóis e compostos glicoconjugados. A presente revisão vem
apresentar a relevância em unir os três centros farmacofóricos citados anteriormente, na perspectiva de
serem sintetizados futuros candidatos a fármacos que apresentem potentes atividades biológicas, levando
à ocorrência de menos efeitos colaterais.
Palavras-chave: Ftalimidas. 1,2,3-Triazóis. Glicoconjugados. Atividade Hipolipidêmica. Atividade Antiinflamatória.
Abstract
Atherosclerosis is a chronic disease characterized by the accumulation of lipids and fibrous connective
tissue in the arterial wall, which is a major cause of cardiovascular disease, and is also considered an
inflammatory disease. This disease is triggered by hypercholesterolemia and progresses to an inflammatory
disease. The search for hypolipidemic and anti-inflammatory drugs, for use in atherosclerosis is constant,
since those commercially available have their use restricted due to severe undesirable effects. There are a
promising class of drugs, as in the case of phthalimides, 1,2,3-triazole compounds and glycoconjugates. The
present review is to present the importance of uniting the three pharmacophoric centers mentioned above,
the prospect of being synthesized future drug candidates that have potent biological activities, leading to the
occurrence of fewer side effects.
Keywords: Phthalimides. 1,2,3-Triazoles. Glycoconjugates. Hypolipidemic activity. Anti - inflammatory
activity.
INTRODUÇÃO
A aterosclerose é uma doença crônica
caracterizada pelo acúmulo de lípidos e de tecido
conectivo fibroso na parede arterial, que é uma das
principais causas de doenças cardiovasculares, tais
como infarto do miocárdio e derrame (TANDRA
& VUPPALANCHI, 2009), também é considerada
uma doença inflamatória (Gottlieb; Bonardi;
Moriguchi, 2005; Afiune Neto et al., 2006).
Aterosclerose também contribui significativamente
para a morbidade e mortalidade nos países
industrializados (Ginsberg & Stalenhof,
2003).
O aumento do risco de doença cardíaca
coronariana está associado com uma elevada
concentração de colesterol total, lipoproteína
de baixa densidade (LDL), triglicerídeos e baixa
concentração sérica de lipoproteína de alta
densidade (HDL). Aterosclerose, hiperglicemia,
insuficiência cardíaca congestiva e algumas outras
doenças estão fortemente integradas a distúrbios do
1. Coordenação da Área Básica da Escola de Saúde e Educação. Faculdade dos Guararapes.
2. Laboratório de Síntese de Produtos Bioativos. Departamento de Ciências Moleculares. Universidade Federal Rural de Pernambuco.
3. Laboratório de Química e Metabolismo de Lipídeos e Lipoproteínas. Departamento de Bioquímica. Universidade Federal de Pernambuco.
E-mail para correspondência: [email protected]
metabolismo de lípidos e lipoproteínas do plasma.
Uma vez que os lípidos são insolúveis
no sangue, seus transportes realizam-se em
associação com proteínas, o que permite o seu
transporte por todo corpo. Lipoproteínas presentes
no soro têm sido o foco de vários estudos, como
a etiologia de doenças cardiovasculares (ABDELAZIZ et al., 2011).
Os fármacos mais usados para tratamento
das hiperlipidemias são as estatinas. Utilizadas
ainda em prevenção primária e secundária, com
o propósito de diminuir os níveis de lipoproteínas
plasmáticas ricas em colesterol e reduzir os riscos
de doenças cardiovasculares.
Esses efeitos são resultantes da atividade
inibidora das estatinas sobre a enzima HMGCoA redutase (hidroximetilglutaril-CoA redutase),
com a propriedade de bloquear a conversão do
substrato HMG-CoA em ácido mevalônico, inibindo
os primeiros passos da biossíntese de colesterol
(CAMPO & CARVALHO, 2007) (Figura 1). Os
efeitos colaterais que acompanham o uso das
estatinas são relaconados à ação hepatotóxica,
com possível aumento das enzimas aspatato e
alanina transaminases; miopatias, com evolução
a rabdomiólises e insuficiência renal (CAMPO &
CARVALHO, 2007).
Figura 2 - Estrutura química da Ezetimiba.
b) niacina apresenta efeito antilipolítico diminuindo
os ácidos graxos livres no sangue e, como
consequência, resulta na redução do substrato
fornecido para a síntese hepática dos triglicerídeos
e mais especificamente partículas de VLDL, que
são precursores das LDL (HAMOUD et al., 2012)
(Figura 3);
Figura 3 - Estrutura Química da Niacina.
Figura 1 - Reação catalisada pela HMG-CoA
redutase. Fonte: Quintão (2011).
Altas
doses
de
estatinas
são
frequentemente associadas com o aumento de
efeitos adversos, portanto existe a necessidade de
uma opção de tratamento adicional e alternativo.
Existem algumas opções para o tratamento
de dislipidemias e aterosclerose, que não são
baseadas nas estruturas das estatinas (ROZMAN &
MONOSTORY, 2010).
As drogas não estatinas incluem:
a) ezetimiba que inibe seletivamente a absorção
do colesterol no bordo em escova do intestino bem
como no hepatócito (TAMAKI et al., 2012) (Figura
2);
c) inibidores da CETP (proteína transferidora de
colesterol éster), estas drogas, inibem a CETP
proteína que facilita o transporte dos ésteres de
colesterol e triglicerídeos entre as lipoproteínas,
levando ao enriquecimento das HDL em
triglicerídeos. Um bloqueio na função da CETP
resulta no aumento do colesterol-HDL com uma
diminuição no colesterol-VLDL e consequentemente
no colesterol-LDL (WHAYNE, 2009);
d) sequestradores de ácidos biliares (ex.
colestiramina) (Figura 4) são drogas que não são
absorvidas a partir do intestino para a corrente
sanguínea, e, geralmente, não têm a exposição
sistêmica, assim a droga, juntamente com os ácidos
biliares ligados, são excretados através das fezes
(JACOBSON et al., 2007);
Figura 4 - Estrutura Química da Colestiramina.
e) ativadores de PPAR (receptor ativador de
proliferação de peroxissomos), os receptores
nucleares PPARs controlam o metabolismo lipídico
e desempenham um papel central na manutenção
da homeostase dos lipídeos. Três PPARs foram
identificados PPARα (expressado no fígado, rim,
músculo ou tecido adiposo), PPARδ (expressado no
cérebro, tecido adiposo e pele) e PPARγ (expressado
em quase todos os tecidos). PPARα e PPARγ são
alvos moleculares de drogas comercializadas como
os fibratos (ativadores do PPARα) (Figura 5) e as
tiazolidinedionas (Figura 6) (ativadores do PPARγ)
(NICHOLLS & UNO, 2012);
Figura 5 - Estrutura Química do Clofibrato.
De fato, no que se refere à aterosclerose,
sugere-se que esta patologia esteja relacionada
com distúrbios lipídicos e inflamatórios, ou seja, dois
fatores fazendo parte de uma única patogênese e
que existem muitos fatores relacionados com sua
origem.
Portanto, a aterosclerose é desencadeada
por hipercolesterolemia e progride para uma
doença inflamatória (Steinberg, 2002; Libby
et al., 2011; Weber et al., 2011). A esse respeito,
as drogas que têm um efeito “pleiotrópico” (efeitos
anti-inflamatórios e hipolipidêmicos) são de grande
interesse. Embora existam várias drogas que são
utilizadas como hipolipidêmicas, como é o caso das
estatinas, e agentes anti-inflamatórios, ainda é de
grande valor encontrar compostos mais eficazes,
não tóxicos e que apresentem menos efeitos
colaterais e representem uma abordagem atraente,
inovadora e promissora para o tratamento de
hiperlipidemias e doenças inflamatórias.
Devido ao restrito número de drogas
hipolipidêmicas
disponíveis
comercialmente,
fazem-se necessárias contínuas investigações por
novos fármacos mais eficazes e que apresentem
menos efeitos colaterais. A estratégia das drogas
não estatinas pode ser uma valiosa perspectiva
para o tratamento das dislipidemias, seja como
terapia única ou como terapia combinada.
Esta
revisão
bibliográfica
visa
apresentar a classe das ftalimidas, 1,2,3-triazóis
e glicoconjugados, mostrando seus efeitos sobre
a redução nos níveis lipídicos e também atividade
anti-inflamatória. A ideia central deste trabalho
bibliográfico é que futuramente possa ser utilizado
para apresentar a estratégia da hibridação molecular
entre dois ou três centros farmacofóricos (ftalimidastriazóis, ftalimidas-triazóis-carboidratos e ftalimidastriazóis-ftalimidas), originando moléculas inéditas
com potência biológica e menos tóxicas.
Figura 6 - Estrutura Química das Tiazolidinedionas.
f) drogas que possuem como alvos moleculares
enzimas envolvidas na síntese do colesterol têm
sido submetidas a ensaios pré-clínicos ou clínicos
para o tratamento de dislipidemia ou contra vias
distintas que contribuem para o desenvolvimento da
aterosclerose (ROZMAN & MONOSTORY, 2010).
Figura 7 - Estrutura Geral de Interesse Futuro
Sintético e Biológico.
As bases teóricas necessárias à
compreensão de estudos futuros, sendo elaborada
de forma coerente e atualizada. Inicialmente,
serão apresentados os centros farmacofóricos,
que são as classes das ftalimidas, 1,2,3-triazóis e
compostos glicoconjugados. Para cada classe de
compostos, serão feitas abordagens importantes,
como definição de cada classe, algumas formas de
obtenção através da síntese orgânica, propriedades
farmacológicas e outras aplicações fora da biologia.
Desta forma, ficará mais fácil ser percebida a
importância das classes utilizadas neste estudo
como alvos farmacológicos.
Diversos grupos de pesquisadores vêm
sintetizando substâncias que apresentem prováveis
atividades biológicas. No início, os pesquisadores
limitavam-se a isolar determinadas substâncias
naturais a partir do extrato bruto de plantas com
eficácia conhecida. Porém, nos dias atuais, a
química - tendo como subárea a síntese orgânica
- passou não somente a criar análogos sintéticos e
derivados, mas também a criar substâncias inéditas,
que vieram se tornar fármacos (BARREIRO &
FRAGA, 2008).
Geralmente, os fármacos sintéticos são
aquirais e possuem mais de um heteroátomo
entre átomos de nitrogênio, enxofre e oxigênio,
predominantemente, além de cloro e flúor.
Classificando-os pelo tipo de mecanismo de ação,
observar-se-á que, em sua maioria, são substâncias
sintéticas com propriedades inibidoras de enzimas,
antagonistas de receptores e que atuam, em menor
número, no nível de canais iônicos (BARREIRO &
FRAGA, 2008).
O processo e o tempo requerido desde
a descoberta de um fármaco até a aprovação
do medicamento para comercialização pode ser
longo, porém bem definido e compreendido pela
indústria farmacêutica. Após a descoberta (p. ex.
síntese) de um fármaco novo, ele é biologicamente
caracterizado quanto a seus efeitos farmacológicos
e toxicológicos e avaliado quanto a sua aplicação
terapêutica potencial. Estudos de formulação são
então realizados para determinar as características
iniciais do produto ou a forma farmacêutica. Para
fornecer a evidência exigida quanto aos aspectos de
segurança e eficácia, uma sequência progressiva
de ensaios pré-clínicos (p. ex. culturas de células,
estudos em animais) e clínicos (humanos) são
realizados. Após a realização de todos os ensaios
clínicos e pré-clínicos, o responsável pelo produto
pode encaminhar uma petição para registro de
medicamento novo (NDA, new drug application)
para sua comercialização (ALLEN; POPOVICH;
ANSEL, 2007).
Quando uma substância promissora é
caracterizada quanto à atividade biológica, ela é
também avaliada em relação às suas propriedades
físicas e químicas que conduzem a estudos de
formulação bem-sucedidos e obtenção de uma
forma farmacêutica estável e eficaz. Dentre
as características a serem analisadas de uma
substância candidata a um novo fármaco, encontrase o coeficiente de partição (MCKARNS et al., 1997;
BRUNS & WATSON, 2012). Para produzir uma
resposta farmacológica, uma molécula de fármaco
deve primeiramente atravessar uma membrana
biológica constituída de lipídeos e proteínas, que
age como barreira lipofílica para muitos fármacos. A
capacidade do fármaco de penetrar essa barreira é
baseada, em parte, na sua afinidade pelos lipídeos
(lipofilia) versus sua afinidade por uma fase aquosa
(hidrofilia). Então, o coeficiente de partição de um
fármaco é a medida de sua distribuição em um
sistema lipofílico-hidrofílico e indica sua capacidade
de penetrar sistemas biológicos multifásicos
(PETRAUSKAS & KOLOVANOV, 2000; SHARMA
et al., 2010).
No que diz respeito à atividade biológica,
a literatura relata diversas informações sobre
substâncias ou drogas que têm diversas atividades
e apresentam pelo menos dois grupos químicos
distintos numa mesma molécula (NICOLAIDES;
FYLAKTAKIDOU; LITINAS, 1998).
Uma estratégia de modificação molecular
de fármacos e compostos-protótipos empregada
para o desenho estrutural de novos análogos-ativos
ou protótipos otimizados é a hibridação molecular.
Compreende a identificação das subunidades
farmacofóricas de dois protótipos/fármacos que são
acoplados em uma nova estrutura combinadas com
grupamentos espaçadores (spacers) ou grupos de
união (linkers), de tal maneira que os farmacóforos
sejam respeitados estruturalmente (BARREIRO &
FRAGA, 2008).
Observando essas informações, podemos
destacar as ftalimidas N-substituídas e também
os 1,2,3-triazóis como substâncias químicas com
amplas atividades biológicas e merecedoras de
destaque.
Ftalimidas
1.1 Definição
A ftalimida[1H-Isoindole-1,3(2H))-diona],
(Figura 8), nome adotado pelo Chemical Abstract
(CAS N 85-41-6), pertencente a família química das
imidas.
O
Esquema 2. Síntese de Gabriel de ftalimidas.
c)
Ciclização de uma variedade de derivados
bifuncionais tais como: ácido amídico, diamidas e
dinitrilas (Esquema 3) (GRAMMETT, 1979).
NH
O
Figura 8 - Estrutura Química da Ftalimida.
1.2. Métodos de Síntese de Ftalimidas
É considerada a ftalimida como sendo
derivada da reação do ácido ou anidrido ftálico e
amônia com eliminação de água. Embora esse
seja o método mais empregado na sua obtenção,
existem outros métodos não comuns que são
empregados com essa finalidade.
Na síntese, são consideradas como
compostos heteroaromáticos devido à viabilidade
da formação do anel imida através das reações
entre:
a)
aminas e compostos relacionados com
anidrido ftálico (GAWRONSKI et al., 1998)
(Esquema 1) e dicloreto ftálico (BUCKLES &
PROBST, 1957).
Esquema 3. Ciclização de derivados bifuncionais de
ftalimida.
d)
Síntese de ftalimidas N-substituídas
catalisada por 1,4-diazabiciclo[2,2,2] octano
[DABCO] em um sistema com menos solvente
(Esquema 4) (HERAVI; SHOAR; PEDRAM, 2005).
Esquema 4. Síntese de ftalimidas N-substituídas
catalisada por 1,4-diazabiciclo[2,2,2] octano
[DABCO].
1.3 Importância das Ftalimidas
Esquema 1. Síntese de ftalimidas partindo do
anidrido ftálico com aminas.
b)
Através da síntese de Gabriel, em que
o sal ftalimida de potássio reage com haletos de
alquilas para se obter N-alquilftalimidas (Esquema
2) (GIBSON & BRADSHAW, 1968).
Os derivados das ftalimidas constituem
uma
importante
classe
de
compostos
heteroaromáticos e são extensamente estudadas
dentro da química medicinal, por apresentarem
diferentes atividades biológicas, tais como,
hipolipidêmica (SRIVASTAVA et al., 2001; SENA et
al., 2003; ABDEL-AZIZ et al., 2011; EL-ZAHABI et
al., 2012), anti-inflamatória (COLLIN et al., 2001;
MACHADO et al., 2005; FALCÃO et al., 2006),
antitumoral (NAJDA-BERNATOWICZ et al., 2009;
HORVAT et al., 2012), antiviral (HOFFMAN et al.,
1992; VAN DERPOORTEN et al., 1997), analgésica
(ANDRICOPULO et al., 2000), antimicrobiana
(ORZESZKO et al., 2000) e anticonvulsivante
(BAILLEUX et al., 1994; KAMINSKI et al., 2011;
YADAV et al., 2012).
A talidomida, uma ftalimida utilizada
comercialmente, é um derivado sintético do ácido
glutâmico, consiste de um anel glutarimida e de um
anel ftalil. O seu desenvolvimento inicial foi como
um sedativo sem toxicidade e com o potencial dos
barbitúricos (LIMA et al., 2002), mas, após alguns
anos de uso como sedativo e agente antiemético,
essa substância foi retirada do mercado devido
às propriedades teratogênicas que se tornaram
aparentes, durante a década de 60. Entretanto,
durante esse tempo, foi verificado que a talidomida
era efetiva também no tratamento do eritema
nodular leprosário.
Ainda tem sido relatado que a
talidomida é usada clinicamente exercendo efeito
imunomodulador e anti-inflamatório em uma ampla
variedade de doenças (LIMA et al., 2002), dentre
as quais podemos destacar: infecções oportunistas
na síndrome da imunodeficiência adquirida
(AIDS), artrite reumatoide, lúpus eritrematoso
sistêmico, entre outras. A talidomida é reportada
como reguladora, também, da produção de várias
citocinas, incluindo o fator de necrose tumoral alfa
(TNF), interleucinas (ILs) 2, 4, 5, 6, 10 e 12, e do
interferon (KUMAR; WITZIG; RAJKUMAR, 2002).
Tendo sido mencionada a importância das ftalimidas
para a química medicinal, não se pode esquecer
de destacar suas aplicações na indústria como
monômeros na síntese de polímeros e copolímeros
termoestáveis (IM & JUNG, 2000).
1.4 Propriedades Farmacológicas das Ftalimidas
1.4.1 Atividade Hipolipidêmica
No plasma, as lipoproteínas funcionam
como vesículas que transportam os lipídeos
circulantes. Elas formam micelas globulares
que são constituídas de um núcleo não polar
formado de triglicerídeos e ésteres de colesterol
recorbertos por uma camada anfifílica de proteínas,
fosfolipídeos e colesterol livre. As lipoproteínas
são classificadas em ordem crescente de acordo
com suas densidades, que dependem do seu
conteúdo proteico: quilomícrons (QM), lipoproteína
de muito baixa densidade (VLDL), lipoproteína de
densidade intermediária (IDL), lipoproteína de baixa
densidade (LDL) e lipoproteína de alta densidade
(HDL) (QUINTÃO & NAKANDAKARE, 2011). Os
responsáveis pelo transporte dos lipídeos da dieta
são os QM. Quando são liberados pelas células da
mucosa intestinal são chamados de quilomícrons
nascentes. À medida que sofrem a ação de lipase
lipoproteica, enzima que hidrolosa os triglicerídeos
(TG), liberam os ácidos graxos nos tecidos
periféricos, constituindo assim os quilomícrons
remanescentes, os quais são ricos em colesterol
esterificado. Finalmente, são removidos por
receptores hepáticos para apoproteína E (apo-E),
sendo endocitados pelos hepatócitos, onde são
hidrolisados (KINDEL; LEE; TSO, 2010). A VLDL
produzida pelo fígado, com a função de transportar
os TG de origem endógena, também sofre ação
da lipase lipoproteica. O resultado desse processo
é a formação de uma lipoproteína de densidade
intermediária (IDL) a qual se transforma em LDL
após ação adicional da lipase lipoproteica (OOI
et al., 2012). A LDL é a principal responsável pelo
transporte de colesterol na circulação, podendo
ser endocitada por células do fígado ou de tecidos
extra-hepáticos por meio de receptores específicos
(MURTOLA et al., 2012); esses receptores
reconhecem e se ligam à apoproteína B-100 e a
apoproteína E da superfície lipoproteica. As HDL são
sintetizadas no fígado bem como no intestino e têm
como principal função captar o colesterol liberado
das membranas dos tecidos periféricos para ser
transportado para o fígado - este é chamado de
transporte reverso do colesterol. Nesse processo,
o colesterol é esterificado nas HDL, por ação da
lecitina: colesterol aciltransferase (LCAT), através
da transferência de resíduos de ácidos graxos da
fosfatidilcolina, produzindo lisofosfatidilcolina e
éster de colesterol. A LCAT é uma glicoproteína
sintetizada nos hepatócitos e secretada no plasma,
onde circula na forma livre ou complexada com as
lipoproteínas de alta densidade (BOGAARD et al.,
2012).
O aumento na concentração dos níveis
lipídicos plasmáticos acarreta em hiperlipidemias
primárias
ou
secundárias
(QUINTÃO
&
NAKANDAKARE, 2011).
O efeito hipolipidêmico da ftalimida e seus
derivados, como as ftalimidas N-substituídas, foi
inicialmente descrito em 1979 por Chapman et al.,
que relataram ser esta nova classe de compostos
efetiva na redução dos níveis de colesterol e
triglicerídeos em roedores, sendo administradas
doses relativamente baixas de 20 mg/Kg/dia durante
16 dias de tratamento (CHAPMAN; COCOLAS;
HALL, 1979). Anos mais tarde, Hall et al., 1983,
relataram o mecanismo de atuação de uma série
de N-fenilftalimidas, estando relacionada com a
redução dos níveis de colesterol e triglicerídeos,
atuando possivelmente de algumas maneiras:
a)
suprimindo a atividade de enzimas
importantes envolvidas na síntese do colesterol e
dos triglicerídeos (inibe a atividade da acetil CoAredutase em 50% e da enzima HMG-CoA redutase
em 26%);
b)
acelerando a excreção biliar do colesterol;
c)
bloqueando a absorção do colesterol pelo
intestino via circulação entero-hepática (HALL et al.,
1983).
Chapman et al., 1984, observaram em
uma série de derivados da N-arilftalimida que a
substituição no anel fenil afeta significativamente
a atividade hipolipidêmica dos compostos testados
(CHAPMAN et al., 1984). E ainda: quando um
substituinte etóxi é introduzido na posição orto do
anel fenil, a atividade hipolipidêmica é aumentada,
apresentando os níveis de colesterol e triglicerídeos
reduzidos em 57% e 44% após 16 dias de tratamento,
respectivamente. Já o grupo etil quase não afetou a
atividade hipolipidêmica. Dessa forma, foi mostrado
que substituições realizadas por grupos que retiram
elétrons, levam a drogas mais eficientes.
Após análises das observações realizas
por Chapman et al., 1984, os pesquisadores Ramos
e Neto (1990) estudaram a relação estruturaatividade (QSAR) em ftalimidas, sendo revelada,
através de índices eletrônicos, que a planaridade
e a introdução de um átomo eletronegativo eram
fatores importantes na atividade da ftalimida
(RAMOS & NETO, 1990).
Em 1996, Antunes e Srivastava relataram
a síntese de três novas ftalimidas ligadas a
oxadiazol e, através de cálculos semiempíricos
de orbitais moleculares, conseguiram prever que
tais compostos poderiam apresentar atividade
hipolipidêmica (ANTUNES & SRIVASTAVA, 1996).
No ano de 2001, Srivastava et al.
investigaram a ação farmacológica de derivados
da ftalimida e, neste trabalho, foram relatados
dois compostos que apresentavam carboidratos
nas suas estruturas, com grande efetividade para
reduzir o colesterol e triglicerídeos em camundongos
normolipidêmicos (SRIVASTAVA et al., 2001).
Sena et al., (2003), sintetizaram N-arile N-(1,2,4-triazol)ftalimidas e determinaram a
presença da atividade hipolipidêmica para todos os
compostos testados. O composto que apresentou
o átomo de cloro na posição para do anel fenil
reduziu os níveis de colesterol em 63% e os níveis
de triglicerídeos em 47% (SENA et al., 2003).
Recentemente, Abdel-Aziz et al., (2011),
idealizaram e, em seguida, sintetizaram algumas
imidas cíclicas com atividade anti-hiperlipidêmicas
e hipoglicemiante, retomando, dessa forma, os
estudos sobre o potencial em reduzir os níveis
lipídicos apresentados pelas ftalimidas e seus
derivados.
1.4.2 Atividade Anti-inflamatória
A inflamação é um processo que o
organismo utiliza como defesa para uma lesão
causada por agentes físicos (como o calor, o frio
ou o trauma), químicos (as substâncias de naturaza
irritante) e biológicos (como os microorganismos)
(CALIXTO et al., 2004). Durante o processo da
inflamação, células especializadas são ativadas e
atuam para inativar ou destruir o agente agressor,
iniciando, logo após, o processo de reparação
tecidual. Dependendo da persistência da lesão
inflamatória e dos seus sintomas clínicos, a
inflamação poderá ser classificada em aguda
ou crônica. A inflamação aguda é caracterizada
por apresentar curta duração e mostrar dilatação
das arteríolas, além de levar a um aumento da
permeabilidade vascular, acúmulos de leucócitos,
produção de proteínas de fase aguda e dor (LEVINE
et al., 1999; LIBBY; RIDKER; MASERI, 2002).
Perdurando esse processo, o agressor continua
ativo, o processo cronifica, ou seja, acontece o
mecanismo de destruição tecidual e, em seguida,
a tentativa de reparo celular. As células acionadas
são os macrófagos, linfócitos e plasmócitos que se
aderem aos vasos sanguíneos, promovendo uma
vasodilatação e também resultando na formação
de exsudatos e granulomas. Todo processo
inflamatório chegará ao fim, quando o agente
agressor for eliminado e os mediadores secretados
ou destruídos.
As reações inflamatórias são mediadas por fatores
químicos derivados de proteínas ou de células
plasmáticas. As citocinas, classificadas como próinflamatórias e anti-inflamatórias são moléculas de
natureza proteica, apresentando a capacidade de
sinalizar diferentes células de defesa e regular a
resposta inflamatória (CALIXTO et al., 2004). Essas moléculas podem ser enquadradas
em diversas categorias: interferon, interleucinas,
fator estimulador de colônias, fator de necrose
tumoral e fator de transformação de crescimento.
Dentre essas, há categorias que se destacam no
processo inflamatório agudo e crônico, bem como
no processo de reparo celular: as interleucinas 1, 6
e o fator de necrose tumoral. Destacam-se também
outros mediadores químicos como a histamina, as
prostaglandinas e a bradicinina.
O mecanismo da inflamação é iniciado
através da liberação de mediadores inflamatórios estes mediadores são formados no tecido lesado,
provocando danos nas membranas celulares e
promovendo a ativação da fosfolipase A2; como
consequência dessa ativação, ocorre à liberação
de ácido araquidônico, fator ativador de plaquetas e
enzimas lisossômicas. Esse processo fisiológico, de
formação do ácido araquidônico, origina substâncias
com um importante papel na inflamação, que são as
prostaglandinas, os tromboxanos, os leucotrienos,
as lipoxinas, os ácidos epoxieicosatetraenoicos
(EETs), os ácidos hidroxieicosatetraenoicos
(HETEs) e os ácidos hidroperoxieicosatetraenoicos
(HPETEs) (SHERWOOD & TOLIVER-KINSKY,
2004).
As drogas corticosteróides impedem a
atividade da fosfolipase A2, e, portanto, reduzem
a liberação do ácido araquidônico. Em outras
palavras, essas drogas inibem a formação de
prostaglandinas, leucotrienos e tromboxanos
(CARVALHO; CARVALHO; RIOS-SANTOS, 2004).
Por sua vez, as drogas anti-inflamatórias
não esteroidais (NSAIDs) inibem a produção de
prostaglandinas - um exemplo: o ácido acetilsalicílico
provoca uma acetilação irreversível da enzima
ciclooxigenase (VANE DER OUDERAA, 1980). Já a
indometacina e o ibuprofen produzem uma inibição
reversível na mencionada enzima, competindo com
o ácido araquidônico, pelo sítio ativo da enzima
(VANE, 1990). Existem três vias principais para a
síntese das prostaglandinas (Figura 9) a partir do
ácido araquidônico:
a)
via da ciclooxigenase 1 (COX-1), chamada
de constitutiva por ser produzida constantemente e
distribuída nos tecidos;
b)
via da ciclooxigenase 2 (COX-2),
denominada de induzida por ser formada frente a
estímulos inflamatórios;
c)
via da lipoxigenase, atuando na formação
dos ácidos hidroperoxieicosatetraenoicos ou
leucotrienos (CARVALHO; CARVALHO; RIOSSANTOS, 2004).
Apesar do potencial anti-inflamatório,
as drogas do tipo corticosteróides e não
corticosteróides apresentam efeitos colaterais, tais
como transtornos gastrointestinais (associados
pelos AINES diversos), alterações sanguíneas,
alterações cardiovasculares, cefaléia, entre outras
(CARVALHO; CARVALHO; RIOS-SANTOS, 2004).
A busca incessante por fármacos anti-inflamatórios
que apresentem menos efeitos colaterais é o que
movimenta a indústria farmacêutica nos dias atuais.
Como descrito anteriormente, as ftalimidas
também apresentam atividade anti-inflamatória
considerável dentro da biologia (COLLIN et al.,
2001; MACHADO et al., 2005; FALCÃO et al.,
2006), sendo alvo dos químicos sintéticos para
obtenção de moléculas eficazes para a terapêutica.
Antunes et al., (1996), relataram que
quatro derivados de ftalimida ligados a oxadiazol
por uma função alquila apresentaram atividade
analgésica e anti-inflamatória superior à atividade do
ácido acetilsalicílico em doses de 10 mg/Kg, e que
entre esses compostos praticamente não existiam
diferenças entre as atividades apresentadas,
quando comparadas entre si.
Lima et al., (2002), descreveram a síntese
e a determinação da atividade anti-inflamatória de
novas N-fenil-ftalimidas sulfonamidas e os isósteros
N-fenil-ftalimidas amidas, designados como híbridos
da talidomida e inibidores da fosfodiesterase. Os
compostos testados apresentaram efeito inibidor
para o TNF nesta mesma publicação, os autores
comprovaram a importância do grupo farmacofórico
da ftalimida para a atividade anti-inflamatória dos
derivados.
Figura 9 - Síntese de Prostaglandinas, Prostaciclina, Troboxano A2 e Leucotrienos. Fonte: ASSIS (2012).
Heterocíclicos 1,2,3 Triazólicos
2.1 Definição
São compostos heterocíclicos aromáticos
nitrogenados de cinco membros que contêm
um ou mais átomos de nitrogênio, pertencem à
classe de substâncias denominada genericamente
de azol, sendo que o mais simples deles é o
pirrol; mesmo os compostos heterocíclicos de
cinco membros contendo átomos de enxofre ou
oxigênio, adicionalmente a um átomo de nitrogênio,
recebem a denominação de azol, sendo chamados,
respectivamente, de tiazol (DE SOUZA et al., 2005)
e oxazol. Destacamos, os membros mais simples
da classe (HUDSON, 1992): pirazol, imidazol,
1,2,3-triazol, 1,2,4-triazol, tetrazol e pentazol.
Os triazóis encontram-se entre os mais
estudados sistemas heterocíclicos, eles têm
despertado o interesse pelo fato de apresentarem
um vasto campo de aplicações, que vão desde
usos como explosivos, até como agroquímicos
e fármacos (FERREIRA et al., 1999; AGALAVE;
MAUJAN; PORE, 2011).
Até o momento, sabe-se que todos os
triazóis são de origem sintética, não sendo estes
heterocíclicos encontrados na natureza (HUDSON,
1992).
2.2 Métodos de Síntese de 1,2,3-Triazóis através
da via de cicloadição 1,3-dipolar
Os 1,2,3-triazóis podem ser sintetizados por
diversas rotas, como as rotas clássicas (mais
antigas) ou por rotas mais recentes; iremos focar na
forma de obtenção, utilizando a via de cicloadição
1,3-dipolar, porém sem deixar de mencionar a rota
pioneira para obtenção desses compostos.
A síntese pioneira do heterociclo 1,2,3-triazólico foi a
preparação de 2-aril-1,2,3-2H-triazóis, desenvolvida
por Pechmann, em 1888, a partir do tratamento
da bis-fenil-hidrazona derivada de compostos
1,2-dicarbonílicos com ácido nítrico (FERREIRA et
al., 1999; MELO et al., 2006) (Figura 10).
Figura 10 - Síntese de 1,2,3-triazóis a partir da bisfenil-hidrazona.
As reações de cicloadição 1,3-dipolares
entre azidas e substâncias contendo ligações
duplas ou triplas são conhecidas e têm sido
estudadas desde 1893. A primeira reação deste
tipo foi realizada por Arthur Michael, que isolou
por destilação o produto formado pela reação
entre a fenil-azida (preparada em 1893) e o
acetilenodicarboxilato de etila (FERREIRA et al.,
1999).
De modo geral, as cicloadições entre
azidas e acetilenos ocorrem rapidamente, sendo
um dos métodos mais versáteis para preparação
de 1,2,3-triazóis. O uso de acetilenos simétricos,
de fácil obtenção, é o ponto de partida para
preparação de muitos outros derivados triazólicos.
Normalmente, o derivado acetilênico simplesmente
é aquecido juntamente com a azida, com ou sem
solvente.
Baseado nos estudos de Sharpless et
al., 2001, sobre a chamada clik chemistry, existe
um grande número de trabalhos publicados tendo
o cobre (I) catalisando a reação de cicloadição
1,3-dipolar envolvendo azida-alcino. Este tipo de
reação fornece condições brandas para o meio
reacional e os rendimentos finais das reações
são elevados, apresentando regioespecificidade
de 1,2,3-triazóis-1,4-dissubstituídos. A reação
catalisada por metal constitui uma melhoria
considerável da clássica cicloadição 1,3-dipolar
térmica de Huisgen, que proporciona a formação
de triazóis (KOLB; FINN; SHARPLESS, 2001;
HUISGEN, 1963; FREITAS et al., 2011).
Em 2011, Barbosa e Oliveira sintetizaram
novos compostos 1,2,3-triazóis ligados a
benzoheterocíclicos, utilizando a cicloadição
1,3-dipolar entre azida de ftalimida e alcino terminal;
os autores ainda utilizaram o iodeto de cobre
(CuI) como catalisador. Os produtos finais obtidos
apresentaram bons redimentos (BARBOSA & DE
OLIVEIRA, 2011).
Alguns 1,2,3-triazóis ligados à ftalimidas
foram obtidos empregando uma metodologia
baseada na click chemistry, utilizando a irradiação
de ultrassom, onde os compostos são obtidos de
forma rápida e com bons redimentos (SILVA, et al.,
2012) .
2.3
Propriedades
1,2,3-Triazóis
Farmacológicas
dos
O interesse em derivados 1,2,3-triazólicos
pela área farmacológica surgiu pelo fato destes
compostos serem bioisósteros dos anéis
heterocíclicos imidazólico, 1,2,4-triazólico e
tetrazólico, encontrados em substâncias com
atividades
farmacológicas
diversas,
como
antifúngica, antidepressiva, antiviral, antitumoral
e anti-hipertensiva. Podemos destacar a atividade
inibitória de esteroides ligados a 1,2,3 triazóis em
cultura de células humanas de câncer de próstata
(BÖHM; KAROV, 1981).
Os compostos 1,2,3-triazóis apresentam
ainda outras propriedades, como anti-histamínica,
anti-inflamatória e analgésica (RAJASEKARAN &
RAJAGOPAL, 2009; SHAFI et al., 2012).
A ação dos 1,2,3-triazóis contra fungos
e bactérias é geralmente menor que a dos
1,2,4-triazóis. Contudo Dzhuraev e colaboradores
(DZHURAEV; MKSHUMOV; KARIMUKOVA, 1992)
prepararam diversos 1,2,3-1H-triazóis que foram
testados como bactericidas, sendo que alguns
apresentaram pronunciada atividade. Por exemplo,
um derivado triazólico dibromado é cinco vezes
mais potente que a penicilina, o cloranfenicol e a
polimixina contra o Staphyllococus aureus.
Outros 1,2,3-triazóis glicosilados (HAGER;
MIETHCHEN; REINKE, 2000) foram sintetizados
e também apresentaram atividade inibitória do
crescimento de algumas linhagens de células
tumorais (leucemia, melanoma, câncer de útero, de
ovário, de próstata, renal, de mama, de cérebro e
de células pequenas de pulmão).
Menegatti et al., 2003, planejaram
racionalmente e posteriormente sintetizaram uma
nova família de compostos triazólicos contendo
a subunidade N-arilpiperazínica, sendo os novos
compostos candidatos a protótipos de agentes
neuroativos, pois se mostraram ligantes seletivos
para receptor dopaminérgico do subtipo D2
(MENEGATTI et al., 2003).
Os
Isonucleosídeos
1,2,3-triazólicos
foram sintetizados por cicloadição 1,3-dipolar entre
azidas derivadas de um carboidrato e alcinos. Estes
isonucleosídeos apresentaram significativa inibição
da enzima transcriptase reversa do vírus HIV-1
(LUTZ, 2008).
Cabe também destacar uma revisão
recente do Agalave e colaboradores, 2011
(AGALAVE; MAUJAN; PORE, 2011), em que os
autores destacam através da clik chemistry, de
1,2,3-triazóis como centros farmacofóricos, muitas
atividades farmacológicas para tais moléculas,
dentre as quais podemos mencionar anticâncer,
inibidora de proteases HIV-1, antituberculose,
antifúngica e antimicrobiana.
Como apresentado no tópico relacionado
sobre as ftalimidas deste trabalho científico, Sena
et al., (2003), sintetizaram N-aril- e N-(1,2,4-triazol)
ftalimidas e determinaram a presença da atividade
hipolipidêmica para todos os compostos testados,
mostrando que compostos triazólicos foram capazes
de reduzir os níveis de colesterol e triglicerídeos em
camundongos tratados com baixa concentrações
(20 mg/Kg/dia) dessas drogas; neste mesmo
trabalho, a maior eficiência dos compostos testados
foi para reduzir os níveis de colesterol total.
2.4 Outras Aplicações dos 1,2,3-Triazóis
Os 1,2,3-triazóis são excelentes ligantes
para ferro e para outros metais (SHARMA; KUMARI;
SINGH, 2010) e têm sido utilizados com sucesso
como inibidores de corrosão em radiadores e em
sistemas de refrigeração. Polímeros contendo o
2-(2-hidroxi)-benzo-2H-1,2,3-triazol são usados
como estabilizantes contra radiação ultravioleta
(GUPTA et al., 1983.). Esses produtos foram
desenvolvidos comercialmente desde a década
de 70 e continuam tendo aplicações até hoje. Nos
últimos anos, vários corantes contendo núcleo
triazólico foram introduzidos no mercado. Esses
corantes, em sua maioria, apresentam a principal
característica, que é a capacidade de realçar a
cor em fibras, como poliacrilonitrila e acetato de
celulose.
Compostos Glicoconjugados
Diversos
papéis
importantes
nos
processos biológicos desempenham os compostos
glicoconjugados, como mostrado na introdução
do presente estudo, eles apresentam papel no
reconhecimento celular nos casos de inflamação
(GIANNIS, 1994), metástase tumoral (FEIZI,
1993), reposta imune das infecções bacterianas
e virais (RUDD et al., 2001). Os glicoconjugados
sintéticos correlacionados com a estrutura de
superfícies celulares e com a função celular estão
em desenvolvimento como agentes terapêuticos
(BERTOZZI, 2001).
De Oliveira e Sinou, em 2006, utilizaram
uma forma viável de síntese de glicoconjugados.
A síntese foi de alguns 1,2,3-triazóis insaturados
ligados a glicoconjugados com bons redimentos,
utilizando cicloadição 1,3-dipolar (De OLIVEIRA &
SINOU, 2006).
Ainda no mesmo ano, Tiwari e
colaboradores (2006) sintetizaram novos derivados
glicosil-(1→3)-frutose com propriedades para tratar
desordens metabólicas, por exemplo, os casos
de hipercolesterolemia. Os autores mostraram
que, a presença da molécula de frutose na
extremidade redutora da D-rafinose e D-melezitose,
oligossacarídeos de frutose comercialmente
disponíveis, foi necessária para a atividade antihiperlipidêmica; as concentrações utilizadas dos
compostos testados no experimento foram na
ordem de 100 mg/Kg/dia (TIWARI et al., 2006).
O grupo farmacofórico ftalimido é um
grupo protetor comum para aminas e é amplamente
utilizado na química de carboidratos, exatamente
por apresentar diversificadas atividades biológicas,
como mostradas ao longo desta revisão da
literatura. Os derivados do N-ftalimidometil 2,3,4,6
tetra-O-acil-α-D-manopiranosídeos
mostraramse excelentes agentes hipolipidêmicos, quando
administrados em concentrações relativamente
baixas. (SRIVASTAVA et al., 2001).
A fração ftalimido é insolúvel em água,
porém, quando conjugada com açúcares, apresenta
grupos hidroxílicos livres, que podem aumentar
a sua solubilidade em água, tornando assim
toda a estrutura mais semelhante à das drogas
comerciais. Com esta ideia em mente, Meng et al.,
2007, sintetizaram uma série de N-ftalimidametil
2,3-dideoxi-açúcares e glicosídeo 2,3-insaturado
que apresentou atividade anti-inflamatória aguda
significativa, quando administrada em uma
concentração de 100 mg/Kg (MENG et al., 2007).
Toda a revisão bibliográfica, descrita
sobre o tema central deste estudo, mostrou que
os centros farmacofóricos (ftalimida, triazol e
carboidrato), contidos neste trabalho, quando
analisados separadamente, são bons agentes
anti-infamatórios e hipolipidêmicos. Partindo dessa
ideia, poderão ser realizados trabalhos que reúnam
os três centros com o intuito de potencializar o efeito
farmacológico de tais compostos, proporcionando
a busca por fármacos cada vez mais potentes,
que atuem sobre os níveis lipídicos e combatam a
inflamação, apresentando menos efeitos colaterais.
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