c onvidado COURRIER INTERNACIONAL 6 GENTE D’AMANHÃ VIKTOR LUKACHENKO WWW.COURRIERINTERNACIONAL.COM.PT Como o papá Pró-americanismo ção que o Congresso não tolerará o alargamento da guerra do virulência de alguns ataques contra mim, por causa da Iraque aos vizinhos. investigação sobre os voos da CIA em Portugal, não Sou pró-americana quando leio um extenso artigo no «Heme surpreende. Nem desanima. rald Tribune» (13/14 de Janeiro), do eminente especialista ameriComo aconteceu em 2003, quando me opus à invacano em questões de segurança e defesa Anthony Cordesman, são do Iraque — e merecerei algum crédito por ter que desconstrói o novo «plano para a vitória» no Iraque dos contribuído para essa posição do PS —, há duas acusaneoconservadores que restam a Bush. Cordesman sublinha que, ções que sempre são tiradas da cartola por quem tem falta de tendo em conta a negligência a que os EUA votaram o Afeganisargumentos: o meu passado maoísta entre 73 e 75 (que nunca tão e a Al-Qaeda a nível global, «a Administração Bush parece escondi); e um suposto «antiamericanismo». não ter nenhuma estratégia para a ‘outra’ guerra no AfegaOra a verdade é que, apesar de muito crítica e alarmada pela nistão, ou mesmo para a guerra global contra o terrorismo». catástrofe global em que a Administração Bush ajudou a merguSou pró-americana quando partilho a angústia do colunista lhar todo o mundo, «ich bin eine New Yorkerin», como escreFrank Rich («Herald Tribune», vi em 12 de Setembro de 2001 ao ANA GOMES 15 de Janeiro), sobre o perigo de meu colega e amigo Bob GelEurodeputada socialista e ex-dirigente do PS esta ofensiva de Bush no Iraque bard, então embaixador americacom Ferro Rodrigues, nasceu em Lisboa há 52 anos. só adiar o inevitável e visar pasno em Jacarta. Fui «americana» Diplomata formada em Direito, foi consultora sar a derrota para um próximo quando o horror de 11 de Setemde Eanes em Belém e representou Portugal Presidente — provavelmente, bro se abateu sobre Nova Iorna ONU, Tóquio e Londres. Destacou-se na secção um democrata. que, sentindo que aquele ataque de interesses de Portugal na Indonésia (e tornou-se Na minha última contribuiera não só contra os EUA, mas embaixadora), pela defesa do povo de Timor-Leste. ção para esta coluna (ainda em também contra a Europa e o 2006), reiterei aquilo que tenho mundo civilizado. por fundamental: «Os EUA precisam da Europa e vice-versa». Sou pró-americana quando leio as conclusões do Grupo de A Europa sozinha não consegue lidar com os desafios globais Estudo sobre o Iraque, liderado por James Baker e Lee Hamildefrontados pela nossa geração (terrorismo, proliferação e deton, que apela a uma ofensiva diplomática séria no Médio sarmamento de armas de destruição maciça, genocídio, crime Oriente, envolvendo o Irão, a Síria e o conflito israelo-árabe. organizado) e não vejo outras grandes potências, como a Rússia Em resposta, esta Administração fugiu para a frente e, tal como ou a China, mais dispostas a tomar decisões e acções acertadas. largou o Afeganistão para mergulhar no atoleiro iraquiano, atiGuantánamo, as «rendições extraordinárias», a invasão irra-se, agora, para uma perigosa escalada com o Irão. A imprenresponsável do Iraque e outros crimes desta Administração já sa israelita revelou, esta semana, que israelitas e sírios conduconstituem um capítulo negro na História dos EUA. E a Histózem há dois anos contactos informais para um acordo de paz ria julgará severamente aqueles que até ao fim pactuaram com sobre a questão dos Montes Golã, mas qualquer possibilidade eles. Só se os aliados dos EUA lhes falarem com franqueza e de negociações formais tem esbarrado na luz vermelha de Wasem subserviência acrítica é que os ajudarão a regenerar-se dos shington. tremendos erros desta Administração. Só assim se reforça a Sou pró-americana quando leio as declarações do senador Aliança transatlântica, só assim se defendem os valores em que Joe Biden, presidente da Comissão de Relações Externas, sobre ela se funda. E só assim é que a Aliança vale a pena. a escalada de confrontação com o Irão, lembrando à Administra- DR A OM apenas 31 anos, o filho primogénito do ditador bielorrusso está a ascender aos píncaros do poder, em Minsk. Acaba de ser cooptado para membro do Conselho de Segurança da República, obviamente presidido pelo seu pai, Alexandre Lukachenko. Embora haja quem pense que este jovem padece de uma confrangedora falta de carisma — não basta ter um bigode igual ao do progenitor —, a sua promoção não é uma verdadeira surpresa. É que o tirano, que governa a Bielorrússia desde 1994, começa a preparar a sua sucessão. Sabe-se muito pouco sobre a vida de Viktor. Formado na Faculdade de Relações Internacionais da Universidade de Minsk, prestou serviço militar nas unidades especiais encarregues de proteger as fronteiras e trabalhou como diplomata no Ministério dos Negócios Estrangeiros do seu país. Casou com uma amiga de infância, oriunda do mesmo «kolkhoze» [cooperativa agrícola soviética] onde Viktor viveu com os pais. Têm uma filha. Há anos, uma entrevista ao diário russo «Komsomolskaia Pravda» deu a conhecer um homem que afirmava ter uma vida simples, «como a maioria dos bielorrussos». Não, não tinha um automóvel próprio. Sim, as suas opiniões eram, por vezes, diferentes das do seu pai. Feitas as contas, porém, Viktor admitiu nessa ocasião que era sempre Alexandre quem acabava por ter razão... Gazeta Wyborcza, Varsóvia C MASSIMILIANO LUSTRI Para os sem-abrigo PALAVRAS DITAS l Paciente No Verão passado, o casal assistiu a um serviço religioso numa igreja de Barbados, cujo pastor veio agradecer a Tony Blair por este ter lido passagens Íx Ilustração da Bíblia. Reacção de Taylor Jones, EUA de Cherie: «Ele adora ouvir-se falar». The Independent on Sunday, Londres HANS-ULRICH WEHLER, historiador alemão l Sério «É preferível que personagens como Lenine, Estaline ou Hitler sejam objecto de estudos científicos do que de zombaria». Reacção ao filme humorístico sobre Hitler, Mein Führer, do realizador Dani Lévy, estreado na Alemanha a 11 de Janeiro. O filme suscitou uma intensa polémica ainda antes de estar em cartaz. Handelsblatt, Dusseldorf WALID JUMBLATT, líder druso libanês l Conceptual «O Presidente sírio Hafez al-Assad era um criminoso civilizado, que cumpria a sua palavra perante a opinião pública árabe e internacional. Quanto ao filho Bashar, não passa de um mentiroso. A Turquia não deve negociar com ele, porque ele só entende os argumentos da força». Palavras proferidas numa conversa com o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan, de visita a Beirute. An-Nahar, Beirute nomeação foi adiada. The Jerusalem Post, Jerusalém SYLVESTER STALLONE, actor e produtor de Hollywood l Inspirado DR CHERIE BLAIR, esposa de Tony Blair Nos comandos do país há cerca de 20 anos, está convencido de que ainda tem muito a fazer na política. É por isso que se recandidata ao cargo de primeiro-ministro «até aos 90 anos». Cambodge Soir, Phnom Penh O futebolista britânico David Beckham vai passar a viver em Los Angeles e isso agrada a Stallone: «Não o conheço pessoalmente, mas posso pô-lo a representar o Rambo e persegui-lo na selva durante meses». The Independent, Londres ESTERINA TARTMAN, deputada israelita de extrema-direita ZBIGNIEW ZIOBRO, ministro da Justiça da Polónia (direita) l Profética l Demagogo «A destruição do povo judeu começará por este acto». Reacção da representante do movimento Israël Beitenu [Israel, a nossa casa, direita nacionalista], que agrupa a comunidade russófona, à nomeação do deputado árabe israelita Ghaleb Majadlé como novo ministro das Ciências, Cultura e Desporto. Este devia ter tomado posse no passado dia 14 de Janeiro, mas a sua «Sou a favor da pena de morte no caso dos crimes mais horríveis». Reacção do ministro à descoberta do corpo de uma menina assassinada. Sabendo-se, porém, que a pena de morte não pode ser reinstituída nos países da União Europeia, o governante propõe «prisão perpétua, sem possibilidade de libertação». Fakt, Varsóvia HUN SEN, primeiro-ministro cambojano l De pedra e cal considerado o benfeitor dos sem-abrigo italianos. O diário madrileno El Mundo não o compara a um Dom Quixote com filhos [ver Courrier n.º 92, de 5 de Janeiro], antes a Robin dos Bosques. Audaz, desafia a lei sem pestanejar e infiltra-se em casas desabitadas, para oferecer alojamento aos mais desfavorecidos. Massimiliano Lustri deu início a este combate solitário há dez anos. O herói do bairro popular de Testaccio, em Roma, sabe o que significa a pobreza. Estreou-se na vida profissional a roubar, para satisfazer as necessidades mais básicas. Em 2001, depois de ter conseguido um emprego de restaurador de móveis, decidiu tomar a seu cargo a resolução dos problemas de habitação das pessoas sem recursos. Os preços do imobiliário não param de aumentar na capital italiana. A actividade de Lustri, embora certamente popular, não está livre de riscos. Em 2003, foi detido por ter entrado pela janela de um apartamento onde vivia uma pessoa de idade: enganara-se! Profissional da militância, Massimiliano não está, aos 33 anos, disposto a desistir da sua batalha. Longe disso! «Já consegui instalar 15 famílias e sinto-me orgulhoso disso», garante. É Íx Ilustração de Nicola Jennings, Londres