O SR. OSMÂNIO PEREIRA (PTB-MG) pronuncia o seguinte discurso: Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, os historiadores, inclusive norte-americanos, referem-se ao período que vai do final do século dezenove ao início do século vinte como “a era do imperialismo.” Vários acontecimentos históricos ilustram – repitamos – a “era do imperialismo”. Em 1846, os Estados Unidos provocaram uma gerra com o México e se apoderaram da metade do seu território, inclusive o Texas e a California. Em 1853, o Presidente dos Estados Unidos demandou do Japão concessões comerciais. Os Estados Unidos tentavam contrabalançar os britânicos, que, à época, já controlavam Hong Kong e Cingapura. A carta com as exigências foi levada em mãos por uma fragata e o Comandante exigiu pronta decisão japonesa, sob pena do Império do Sol Nascente responder por “seu ato insultuoso.” Coagido, o Japão aquiesceu. Algum tempo depois, em 1898, o Congresso norte-americano aprovou o tratado de anexação do Havaí. O ato político sacramentou a completa dominação econômica da ilha pelos empreendedores norte- americanos. No mesmo ano, os EUA ganharam em guerra contra a Espanha o controle de Porto Rico, Guam e Filipinas. Em 1903, os Estados Unidos encorajaram a independência do Panamá, antes território colombiano, com o propósito de assumir o controle do estratégico canal do Panamá. Em 1912, os estadunidenses invadiram a Nicarágua. A ocupação se manteve, intermitente, até 1933. Na verdade, nunca abriram mão, dalí para frente, do “direito” de interferir nos negócios internos da Nicarágua. Parece que esse vezo intervencionista criou nos norte-americanos o gosto para se imiscuir nos assuntos internos alheios. Em 1905 eram tidos como a “Polícia do Caribe.” Quase cem anos depois empenham-se, de modo frenético e feroz para conquistar o título de “donos do mundo.” Tudo em nome da paz, desde que seja a “paz americana”. Qualquer desafio à ordem mundial que teimam em implantar deve ser prontamente eliminado. E a ordem mundial é tecida ao seu exclusivo sabor e conveniência. Pode ser qualque coisa, desde que atenda aos interesses economicos e políticos da Casa Branca. Na atualidade a ordem mundial se traduz num processo de escancarado assenhoreamento das riquezas naturais – ou seja, petróleo – iraquianas. O mundo inteiro sabe que a guerra apelidada de “operação para o combate ao terrorismo”, foi deflagrada com mentiras acerca da existência de armas nucleares e químicas no Iraque. Um livro publicado recentemente nos Estados Unidos mostra que o Presidente Bush já havia mandado preparar os planos da invasão do Iraque antes do atentado de 11 de setembro. Aliás, a guerra começou bem antes. Não podemos nos esquecer de que o antecessor de Bush, Bill Clinton, ordenava a intensificação dos bonbardeios no Iraque na mesma proporção em que os detalhes de seus casos extraconjugais ganhavam incômoda notoriedade pública. Bush esquentou a guerra, talvez com o intuito de ampliar as oportunidades de negócios rendosos para as empresas norte-americanas quando da reconstrução do Iraque. A guerra atendeu aos interesses da indústria bélica e, obviamente, deu aos Estados Unidos maiores condições de poder sobre as cobiçadas reservas de petróleo no Oriente Médio. Os dados e números disponíveis revelam que não existe a mais leve intenção de se diminuir o ritmo de invasões e guerras. Em 2003, o programa de defesa de mísseis balísticos, criado no Governo Reagan e chamado de “guerra nas estrelas”, foi retomado. Para 2004, o orçamento militar do país é de quase quatrocentos bilhões de dólares, com 380 bilhões para o Departamento de Defesa e dezenove bilhões para o Departamento de Energia, que cuida das armas nucleares. É o maior orçamento do mundo. Compare-se o gasto com esforço bélico americano com o do segundo colocado, a China, que prevê em seu orçamento, para a mesma finalidade, algo em torno de cinquenta e um bilhões. Para 2005, o pedido de orçamento é de quatrocentos e vinte bilhões. A previsão é de gastos superiores a dois trilhões de dólares em cinco anos, só nesse polêmico item. Está óbvio que não se pode explicar gastos tão fabulosos pela necessidade de dissuasão de eventual inimigo, até porque não existe à vista, inimigo capaz de competir com esse poder e com essa dinheirama. Aí estão embutidas outras altas prioridades, como a de moldar o mundo de acordo com as necessidades americanas e a de se apoderar das riquezas alheias. Emprega-se, também, a desculpa de que os Estados Unidos garantirão a segurança internacional para, na verdade, ocultar a intenção malévola de assegurar proteção aos setores poderosos dentro do país. A invasão do Iraque, com toda a colossal tragédia que isso representa, pode ser entendida como passo importante para dominar a região do Oriente Médio e estancar as influências e pretensões de outros países, especialmente Rússia e China. Nós, latino-americanos, sabemos bem das ameaças e riscos dos planos estadunidense. A América Latina, há muito, sofre com os efeitos da dominação norte-americana. Antes, o combate ao comunismo era a escusa para sufocar qualquer regime, ainda que democrático, que parecesse ameaçador aos interesses norte-americanos. Agora, o combate ao narcotráfico transforma-se no símbolo da luta dos norteamericanos na América Latina. O narcotráfico corrói as bases da sociedade e o apoio norte-americano no combate é bem-vindo. Contudo, a subjugação é vendida como cooperação, pois os norte-americanos querem decidir inclusive sobre as leis que cada país deve adotar para combater o tráfico de drogas. E o Brasil? Nossas respostas têm sido adequadas diante desse cenário? Ao nosso ver, as escolhas da política externa brasileiras têm sido acertadas. Em primeiro lugar, destacamos a decisão do Presidente da República em buscar novas parcerias com a Africa do Sul, Índia, Rússia e China. Esse é um caminho correto para se contrabalançar o poderio norteamericano, no campo político e econômico. Só a economia chinesa tem crescido as taxas a mais de nove por cento ao ano. De fato o Brasil precisa agregar forças no campo político. Não podemos nos mostrar desunidos, enfraquecidos por conflitos internos, sob pena de nos fragilizarmos e tornarmos-nos, assim, presas fáceis nesse tenebroso processo de dominação. Sofremos ataques de todos os lados. É impressionante a proteção amerciana ao seu agronegócio. Isso ficou visível no curso das negociações da Área de Livre Comércio das Américas. As resistências brasileiras à implantação desse Sistema nos moldes desejados pelos Estados Unidos são plenamente justificáveis. A tentativa americana é sempre de obter abertura de mercados aos seus produtos, oferecendo a mínima contrapartida possível. Aliás, o Brasil tem procurado, de forma corajosa e inteligente, os foros multilaterais cabíveis para se libertar dessa pressão. Há que se louvar a recente vitória do Brasil na Organização Mundial do Comércio. A Organização decidiu contrariamente aos subsídios norte-americanos aos produtores de algodão daquele país. Todavia, fica difícil manter o curso da política externa quando há tantos obstáculos a se enfrentar. Nossos acordos com o Fundo Monetário Internacional proíbem-nos de realizar os investimentos públicos dos quais o Brasil tanto carece para voltar a crescer. Com os Estados Unidos como o maior quotista, o FMI é o espelho das preferências econômicas norteamericanas, bem como a instituição que as trasnforma em exigências para que o mundo em desenvolvimento tenha acesso ao crédito. E dentro de tais preferências econômicas figura com destaque o desmantelamento do Estado. Quer dizer, nossa economia também sopra em última análise. De acordo com os ventos da vontade americana. Nesse importante item das ameaças a que o brasil está sujeito, nesso contexto diabólico, é preciso atentar para o caso da Amazônia. A dadivosa região, junto com Minas Gerais, detém considerável parcela da água potável do universo. Armazena em seu sub-solo riquezas extraordinárias. Riquezas minerais incalvuláveis ainda por explorar. Riquezas provenientes de incomparável biodiversidade. Os “donos do mundo” estão de olho gordo na Amazônia. Al Gore, Margareth Tacther, Gorbachov e muito outros líderes mundiais, tantas vezes surpreendidos em procedimentos políticos divergentes, foram flagrados, em mais de uma ocasião, em perfeita consonância de idéias quanto a Amazônia. Acham que ela carece de ser internacionalizada. Consta que a preparação remota das futuras lideranças americanas para o reconhecimento desse absurdo já está sendo feita com a inserção, em livros didáticos distribuídos em escolas do país, de mapas mundiais que mostram a Amazônia como território sob a égide internacional. Em historietas de quadrinhos, o super heroi Capitão Marvel “tem sido visto” a combater, na Amazônia, “bandidos brasileiros” envolvidos em ações criminosas contra a humanidade. A problemática amazônica é de tamanho significado político e econômico para o Brasil que não pode deixar de figurar entre as prioridades nacionais de maior relevância, como aliás, sensatamente, vêm constantemente propondo nossas lúcidas lideranças militares. Com suas advertências e alertas, essas lideranças atuam como a própria consciência cívica da Nação. Despontam, todavia, nos horizontes, algumas evidências, que nos animam à imaginar que a hegemonia norte-americana pode começar a desmoronar. A recente denúncia das torturas aplicadas nos iraquianos pelos soldados norte-americanos não só ilustra que a estratégia, as motivações e a liderança dos Estados Unidos começam a ser colocadas em xeque, como também mostra que, finalmente, a máscara caiu. Os Estados Unidos são tão ou mais bárbaros do que aqueles povos que são apontados como bárbaros pelos americanos, de forma a serem subjugados politicamente e espoliados economicamente. Senhores deputados, Os registros e observações que trago à apreciação desta Casa encerra o claro sentido de uma conclamação. Temos que os manter, os brasileiros, independentemente de nossas filiações partidárias e crenças diversificadas no campo das idéias, atentos ao desdobrar dos acontecimentos no plano mundial e, notadamente, nos aspectos que dizem respeito diretamente aos sagrados interesses nacionais. A arrogância imperial da hora presente impõe uma atitude de alerta, não podemos nos deixar surpreender pelas vozes falaciosas de negação dos valores humanísticos e espirituais que conferem dignidade à pessoa humana e nem nos deixar envolver pelas alegações e pretextos fajutos de uma ordem de coisas desumana e cruel, de cunho materialista e ambição expansionista. Mesmo e sobretudo quando o santo nome de Deus, todo poderoso, seja invocado, como tem acontecido, para explicar o inexplicável, justificar o injustificável.