Hospital do Servidor Público Municipal - BVS SMS-SP

Propaganda
1
Hospital do Servidor Público Municipal
RUPTURA TARDIA DO BAÇO APÓS TRAUMA INICIAL: RELATO DE
CASO
GEORGE AUGUSTO SILVA BITTENCOURT E SOUZA
Rua Castro Alves, 60 – Aclimação – CEP 09071-000
São Paulo/SP
Tel: (11) 32082211
2
GEORGE AUGUSTO SILVA BITTENCOURT E SOUZA
Ruptura Tardia do Baço após Trauma Inicial: Relato de
Caso
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Comissão de Residência Médica
do Hospital do Servidor Público Municipal,
para obter o título de Residência Médica
Área: Cirurgia Geral
Orientador: Dr Rodrigo Biscuola Garcia
São Paulo
2011
3
GEORGE AUGUSTO SILVA BITTENCOURT E SOUZA
RUPTURA TARDIA DO BAÇO APÓS TRAUMA INICIAL
Banca Examinadora
_______________________________________
HSPM - SP
_______________________________________
HSPM - SP
________________________________________
HSPM - SP
4
AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE E
COMUNICADO AO AUTOR A REFERÊNCIA DA CITAÇÃO.
SÃO PAULO, 30 DE AGOSTO DE 2011.
Assinatura do Autor:
___________________________________________________
E-mail: [email protected]
AUTORIZO A INCLUSÃO INTEGRAL DO TCC DE MINHA AUTORIA NA
BIBLIOTECA VIRTUAL EM SAÚDE DO MÚNICIPIO DE SÃO PAULO.
SÃO PAULO, 30 DE AGOSTO DE 2011.
Assinatura do Autor:
___________________________________________________
E-mail: [email protected]
5
Dedicatória
Dedico este trabalho a minha família, especialmente aos meus pais, Nalva e Joacir,
fonte de esperança e força na minha jornada. Isto tudo é também para vocês.
6
Agradecimento
Agradeço a Deus que sempre orientou meus caminhos para que por ele passasem
pessoas especiais, que somaram para meu eterno aprendizado, fazendo de mim ora
um aluno, ora um professor, mas sempre um amigo. Agradeço a minha querida
namorada Fernanda, que demonstrou imensa paciência e compreensão nos
momentos mais árduos desta caminhada. Agradeço ainda meu orientador, Dr.
Rodrido, que aceitou meu ajudar neste objetivo. A todos meu sincero obrigado.
7
RESUMO
Introdução: As lesões esplênicas são produzidas pela desaceleração rápida,
compressão, transmissão de energia através da parede torácica póstero-lateral
sobre o baço, ou pela punção proveniente de uma fratura de uma costela adjacente.
A Ruptura tardia de baço ocorre após trauma inicial sendo uma entidade cirúrgica
que ocorre 48 horas ou mais após um trauma, sendo incomum na literatura e de
difícil diagnóstico já que nem sempre os pacientes lembram do trauma. Os sinais e
sintomas são diversos e por vezes incomuns, contudo espera-se na maioria dor
abdominal. O diagnóstico é realizado pelo USG e Tomografia computadorizada,
sendo o tratamento cirúrgico ou não. Relato de Caso: Homem de 36 anos, com dor
abdominal há 24 horas, após náuseas e vômitos desencadeados pela ingesta de
feijão enlatado. Ao exame físico possuía sinais de irritação peritoneal e
hipocoloração da mucosa. Ao USG havia líquido em grande quantidade
intraperitoneal e coleção esplênica, sendo indicado cirurgia por abdome agudo
hemorrágico. Realizado esplenectomia. Conclusão: Devido a alta mortalidade desta
entidade cirúrgica, à evolução rápida para o choque hemorrágico por vezes e ao fato
de ser incomum na literatura, devemos nos atentar aos sinais e sintomas mais
comuns, lembrar que existem os incomuns, e investigar todo trauma abdominal
fechado com exames de imagem adequado, tendo a ruptura esplênica tardia como
um possível diagnóstico diferencial, naqueles pacientes inicialmente estáveis
hemodinamicamente que degeneram quadro clínico.
Palavra Chave: Ruptura tardia; Baço; tratamento
8
ABSTRACT
Introduction:
Splenic
lesions
are
produced
by
rapid
deceleration,
compression and transmission of energy through the posterolateral chest wall to the
spleen, or by puncture from an adjacent fracture of a rib. The delayed rupture of the
spleen occurs after the initial trauma and is a surgical entity that occurs 48 hours or
more after a trauma. It is uncommon in the literature and difficult to diagnose
because patients do not always remember the trauma. Signs and symptoms are
diverse and sometimes unusual, however it is expected in most abdominal pain. The
diagnosis is made by ultrasonography and computed tomography. The treatment is
clinic or surgical . Case Report: A man of 36 years, with abdominal pain for 24 hours
after nausea and vomiting caused by the ingestion of baked beans. On physical
examination he had signs of peritoneal irritation and pale mucosa. On USG there
was fluid in large quantities and splenic collection. A Splenectomy was performed.
Conclusion: Due to high mortality of this surgical entity, the rapid evolution to
hemorrhagic shock and the fact that sometimes it is uncommon in the literature, we
should pay attention to the signs and symptoms, remember that there are unusual,
and investigate all blunt abdominal trauma with appropriate imaging studies. Late
splenic rupture is a possible differential diagnosis in those patients initially
hemodynamically stable clinical condition that degenerate.
Key Words: Delayed rupture; spleen; Treatment
9
SUMÁRIO
RESUMO ----------------------------------------------------------------------------- 07
ABSTRACT -------------------------------------------------------------------------- 08
1 INTRODUÇÃO -------------------------------------------------------------------- 10
2 OBJETIVO ------------------------------------------------------------------------- 19
3 METODOLOGIA ------------------------------------------------------------------ 19
4 RELATO DE CASO ------------------------------------------------------------- 20
5 DISCUSSÃO ---------------------------------------------------------------------- 24
6 CONCLUSÃO --------------------------------------------------------------------- 29
10
1 INTRODUÇÃO
O baço é o maior órgão do sistema linfático, medindo em 12 x 7 x 3 cm e
pesando entre 100 a 250g. É um órgão móvel, de coloração púrpura escura,
encapsulado, localizado intraperitonealmente na porção posterior do hipocôndrio
esquerdo, posterior ao estômago, anterior ao rim esquerdo e inferior ao diafragma.
1-1Histórico
Aristóteles, há mais de dois mil anos, observando pacientes asplênicos terem
vida aparentemente normal, concluiu que o baço não era essencial para a vida. Os
antigos gregos já demonstravam interesse na remoção do baço, pois os
maratonistas sentiam desconforto em hipocôndrio esquerdo devido às dores da
esplenocontração(FREIRE, 2001).
Christopher Wren, no século XVII, e Morgagni, no século XVIII, reafirmaram
esta teoria com trabalhos experimentais em animais, até que Morris e Bullock (1919)
concluíram que o corpo humano desprovido do baço seria mais suscetível a
infecções(GERRITSEN,G.P.&MADERN1980).
Em 1549 Zacarelli realizou a primeira esplenectomia com sucesso em um
trauma aberto. (FREIRE, 2001).
Em 1590 Viard realizou a primeira esplenectomia parcial. (FREIRE, 2001)
Em 1670, Nicolaus Mahias realizou uma esplenectomia bem-sucedida, em
um paciente com ferimento no flanco esquerdo, que apresentava evisceração do
baço.
Riegner, em 1892 realizou pela primeira vez, em um trauma fechado, uma
esplenectomia sem complicações. (FREIRE, 2001).
Em 1895, Zikoff fez a primeira esplenorrafia(2)com êxito, porém, ainda no início
do século XX, o tratamento para as lesões esplênicas era a observação clínica, que
levava ao êxito letal quase 100% dos casos.(03).
Em 1929 O’DONNEL descreveu o primeiro caso de sepse fatal pós
esplenectomia por doença de Banti. (MARQUES, PETROIANU, 2003)
Com o advento da esplenectomia logo após, e já com base no dogma de que
"todo baço lesado deve ser retirado", não houve contestação, já que se acreditava
que a remoção do baço não produziria efeitos deletérios. Apesar disso, em 1930,
11
Dretzka(04)já tratava as lesões esplênicas com esplenorrafia e tamponamento com
relativo êxito.
King e Shumacher, em 1952,(05) provaram a relação entre esplenectomia e
septicemia fatal em crianças. Em estudos subseqüentes, foi confirmada plenamente
a existência da chamada síndrome pós-esplenectomia (PEARSON, H).
Os primeiros estudos anatômicos sobre a vascularização e segmentação
esplênica foram em Minas Gerais (CHRISTO, 2005), na década de 50, quando
foram realizadas as primeiras esplenectomias parciais anatômicas.
No início do século XX a mortalidade em pacientes esplenectomizados
variava de 30% a 40%, enquanto no tratamento conservador a mortalidade era em
torno 90%. (MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
A primeira descrição de uma ruptura tardia de baço foi de Baudet, em 1902.
Ele determinou que o período mínimo para ser uma ruptura tardia era de 48 horas e
este período de quiescência clínica era referido como período latente de Baudet.
1-2 Anatomia
A vascularização arterial é realizada pela artéria esplênica, que é um vaso
tortuoso que provém do tronco celíaco percorrendo a borda superior do pâncreas e
alimentando ramos pancreáticos, artérias gástricas curtas, artéria gastroepiplóica
esquerda e ramos esplênicos terminais(TOWNSEND et al., 2004).
A polpa branca é uma bainha de tecido linfático que acompanha os vasos e
os seus ramos até que eles se dividem em capilares. (TOWNSEND et al., 2004).
A zona marginal é a interface entre a polpa branca e a polpa vermelha,
também conhecida como zona marginal(TOWNSEND et al., 2004).
A polpa vermelha é composta de vasos sanguíneos de ramificações grandes,
paredes finas, chamados seios esplênicos e sinusóides(TOWNSEND et al., 2004).
A vascularização venosa é realizada pelos sinusóides venosos que esvaziamse nas veias da polpa vermelha, e estas veias drenam de volta ao longo das veias
trabeculares que se esvaziam em pelo menos cinco tributárias principais, por fim
unindo-se para formar a veia esplênica no ligamento esplenorrenal(TOWNSEND et
al., 2004).
12
1-3 Fisiologia
Durante o desenvolvimento fetal o baço tem uma importante função
hematopoiética, na produção de células vermelhas e brancas. A partir do quinto mês
de gestação essa função vai diminuindo e o baço continua a funcionar como um filtro
devido ao exclusivo sistema circulatório e linfático(TOWNSEND et al., 2004).
O baço é perfundido em até 200 ml / min de sangue, exercendo importante
função na resposta imunológica, tanto específica quanto inespecífica, facilitada
devido à microcirculação exclusiva(MATTOX, FELICIANO, MOORE,2005).
A função esplênica está interligada com sua estrutura e ao sistema
circulatório
exclusivo,
imunologicamente
onde
ativas,
o
sangue
tendo
funções
é
filtrado,
variadas,
e
exposto
removendo
a
células
hemácias
senescentes, depurando partículas rígidas do sangue como corpúsculos de Heinz,
Howell-Jolly, transformando linfócitos em plasmócitos, passando a produzir
anticorpos, retendo parasitas intracelulares das hemácias, fagocitando bactérias
encapsuladas, como meningococos e pneumococos e a produção imunológica como
Imunoglobulina G (IgG), Imunoglobulina M (IgM), properdina e tuftsina(RODRIGUEZ,
FERRADA, 1997).
Essa microcirculação resulta em 10% de sangue arterial esplênico que irá para
os seios venosos, e o restante (90%) vai para a “circulação aberta” da
polpa vermelha, que é induzido para os seios esplênicos(MATTOX, FELICIANO,
MOORE, 2005).
1-4 O trauma
O baço é o órgão intra abdominal mais comumente afetado em
politraumatizados segundo Von Bathen, et al, em (58%).
Embora bem protegido pelo gradil costal, o baço é o órgão lesado com maior
frequência quando o hipocôndrio esquerdo é acometido por fortes contusões,
podendo levar a hemorragia intraperitoneal intensa e choque, sendo esta a principal
causa de morte por traumatismo abdominal fechado em crianças do sexo
masculino(TOWNSEND et al., 2004).
A lesão ao baço é a indicação mais comum para laparotomia após
mecanismos de lesão por trauma fechado. As colisões de veículos motorizados
13
continua a ser a principal fonte de lesão nas nações industrializadas. Outros
mecanismos comuns incluem colisões com motocicletas, quedas, incidentes entre
pedestres e veículos , acidentes com bicicletas e esportes. Uma dor abdominal
significativa produzida no contexto de um trauma fechado não relacionado com
veículos está associado a uma elevada incidência de lesão intra-abdominal, com
baço sendo o órgão mais comumente lesado (TOWNSEND et al., 2004).
As lesões esplênicas são produzidas pela desaceleração rápida, compressão,
transmissão de energia através da parede torácica póstero-lateral sobre o baço, ou
pela punção proveniente de uma fratura de uma costela adjacente. Devido às suas
características estruturais sólidas e à sua densidade, a transferência de energia para
o baço é relativamente eficiente. Em geral, as lesões causadas por pancadas diretas
sobre a parte inferior da parede torácica inferior, com a transmissão de energia
resultando em laceração e fraturas do baço(TOWNSEND et al., 2004).
1-5 Diagnóstico
A história e o exame físico continua a ser a base a partir da qual se deve
diagnosticar a lesão esplênica. Detalhes concernentes ao mecanismo da lesão,
delineados na seção prévia, devem ser procurados. No exame físico, evidências de
irritação peritoneal(dor,defesa, rebote), algumas vezes são aparentes. No entanto, o
sangue recém-extravasado é um irritante peritoneal razoavelmente benigno e
grandes quantidades de sangue podem ser contidos na cavidade peritoneal livre,
com achados físicos mínimos. Na era antes da lavagem peritoneal diagnóstica(LPD)
constatou-se que o exame físico era acurado em apenas 42% a 87% das vezes.
Talvez mais útil do que exame direcionado para a cavidade abdominal seja aquele
que seja enfocado para o quadrante superior esquerdo. A dor
a percussão ou
evidências de contusões e contusão de tecidos moles costumam estar presentes
quando pancadas diretas produziram lesão esplênica. Queixas de dor no quadrante
superior esquerdo ou uma dor referida ao ombro esquerdo(sinal de Kher) estão
altamente relacionadas com lesão. Pelo menos um quarto dos pacientes com
fraturas nas costelas inferiores esquerdas apresenta lesão associada no
baço(MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
Uma lesão significativa produzindo hemorragia está indicada pelo estado
hemodinâmico do paciente. A hipotensão ou taquicardia devem alertar o médico
14
quanto ao potencial para uma lesão esplênica. Na avaliação inicial do trauma,
devem ser notadas lesões aparentes que possam levar a uma perda sanguínea
suficiente, individualmente, ou em agregado para produzir alterações fisiológicas na
hemodinâmica. Se a perda de sangue não pode ser atribuída a fraturas de osso
longos, ou pélvicos, ou a perdas externas por lacerações , precisa-se presumir uma
fonte intra-abdominal e o baço é a sua principal fonte. Na verdade, desde o estudo
clássico de West e colaboradores de mortes preveníveis que contribuíram
diretamente para o desenvolvimento de sistemas de trauma nos Estados Unidos, a
mortalidade por um não-reconhecimento, ou um reconhecimento tardio de
hemorragia esplênica, permaneceu próximo ao topo da lista de causas de morte
prevenível.
Assim, possuímos um arsenal de exames complementares que nos auxiliam
num precoce diagnóstico. O lavado peritoneal diagnóstico(LPD) é um exame de
pouca especificidade, pois não indica o órgão lesado, porém é rápido, barato e
mostra seguramente a presença de hemoperitônio segundo Freire em 2001.
Segundo Mattox em 2005, o raio x possui uma indicação limitada no trauma, sendo
maior para identificar corpos estranhos, determinar fraturas e diagnosticar
pneumoperitônio. A ultrassonografia(USG) tem como objetivo mostrar lesões em
órgãos sólidos e mostrar líquido em cavidade. A tomografia adiciona especificidade
e sensibilidade ao diagnóstico(> 97% em ambos), em relação ao USG, no momento
que constata com vantagens lesão em órgãos sólido, tanto intra quanto
retroperitoneal, bem como a presença e quantificação de líquido livre em cavidade
peritoneal. Contudo, o custo é mais elevado, havendo também a necessidade de
transportar o paciente ao setor de radiologia e haver estabilidade hemodinâmica do
paciente.
1.6 Classificação das Lesões Esplênicas
As lesões esplênicas foram classificadas para orientar o tratamento e avaliar
os resultados. A mais atual e aceita é a escala de classificação de lesões da
American Association for the Surgery of Trauma (AAST), revisada em 1994 (Tabela
2). Esta escala atribui a cada lesão um grau correspondente a Classificação
Internacional de Doenças, 9ª revisão (CID-9) e Escala de Lesões Abreviadas de
1990 (AIS – 90) (MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
15
O emprego desta escala auxilia no manejo do tratamento da lesão esplênica,
visto que é um método que pode determinar a necessidade ou não de
laparotomia(MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
1.7 Tratamento das Lesões Esplênicas
1.7.1 Tratamento Não Cirúrgico
O tratamento não cirúrgico teve origem na cirurgia pediátrica, sendo em
adultos ainda um pouco controverso, contudo já com aceitação cada vez maior
conforme dados que se acumulam.
Atualmente 70 a 90% das crianças com lesão esplênica são tratadas com
sucesso, sem operação e 40 a 50% dos pacientes adultos com lesão esplênica são
tratados não cirurgicamente, nos centros de trauma de maior
16
movimento. A menor percentagem de lesão esplênica tratada não-cirurgicamente
em adultos do que em crianças tem sido uma fonte de especulações.
Uma regra fundamental para considerar-se um tratamento não cirúrgico é a
necessidade do paciente estar hemodinamicamente estável. Adicionalmente, os
recursos institucionais devem ser tais que o paciente possa ser monitorizado em um
ambiente de cuidados críticos e que instalações de salas de equipamentos de
operação estejam disponíveis no evento de um sangramento súbito que exija uma
esplenectomia. A maioria das lesões graus I e II pode ser tratada nãocirurgicamente;estas são responsáveis por aproximadamente 60 a 70% dos casos
de tratamento não cirúrgico. Apesar de a TC ser a medida fundamental para a
seleção do tratamento não cirúrgico, ela possui limitações que devem ser levadas
em consideração(TOWNSEND et al., 2004).
Lesões grau III, IV e V ainda possuem indicação cirúrgica embora cada vez
mais, principalmente na classe III estável, há indicação não operatória inicialmente.
1.7.2 Tratamento Cirúrgico
A laparotomia está indicada em pacientes hemodinamicamente instáveis, com
sinais clínicos difusos, sintomas de hemorragia intraperitoneal, testes por imagens
indicando a intervenção cirúrgica, e não apresentam indicação para tratamento não
operatório ou quando ocorre falha do tratamento não operatório. (MATTOX,
FELICIANO, MOORE, 2005).
1.7.2.1 Esplenorrafia
A preservação do baço, tenta diminuir a ocorrência de sepse fulminante pós
esplenectomia. (RODRIGUEZ, FERRADA, 1997).
O grau de lesão é que determina a técnica a ser utilizada (MOORE, 2005).
Hemorragia persistente em lesão de grau II e lesões variadas em grau III
poderão ser tratadas por esplenorrafia. (MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005)
A percentagem reduziu-se substancialmente nos anos de 1990 e é provável
que seja responsável por não mais que 10%. Uma elevada percentagem de
esplenorrafias era composta de simples técnica de reparo para as lesões graus I a II.
17
A maioria deste tipo de lesões está agora sendo tratada de forma não cirúrgica. Uma
maior percepção do risco de transmissão de doenças virais, especialmente da
hepatite, com transfusão de sangue também amorteceu o entusiasmo quanto ao
reparo esplênico. (TOWNSEND et al., 2004).
1.7.2.2 Esplenectomia
A
esplenectomia
total
está
indicada
nos
pacientes
que
estão
hemodinamicamente instáveis ou com lesões associadas como um trauma grave,
uma disfunção pulmonar, mediastino alargado e lesões ortopédicas ou pélvicas
significativas. Também deve se pensar em fazer a esplenectomia em pacientes que
não apresentam capacidade de realizar cirurgias prolongadas, como coagulopatias,
doença pulmonar, cardíaca ou hepática (MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
Em lesões variadas de grau IV e V a indicação é de esplenectomia total.
Rotineiramente a drenagem da cavidade abdominal não é indicada, tanto para
esplenectomia como para esplenorrafia. Caso exista lesão pancreática associada
pode ser usado um sistema de drenagem de sucção fechada. A vacina
antipneumocócica
polivalente
deve
ser
usada
em
todos
os
pacientes
esplenectomizados (MATTOX, FELICIANO, MOORE, 2005).
1.8 Ruptura tardia do baço
A ruptura tardia do baço é uma lesão rara e que ocorre em tempo variável,
segundo a literatura mundial, após um trauma esplênico inicial, trazendo uma
morbidade adicional importante a lesão inicial. Há na literatura dados que mostram
uma mortalidade de 5 a 15%, em comparação com 1% de ruptura esplênica em
trauma agudo.
A fisiopatologia do processo possui hoje diversas teorias, contudo ainda não
há um entendimento completo a respeito desta entidade cirúrgica.
Na revisão da literatura são encontrados apenas relatos de casos e séries
relatadas com pequeno número de casos, exemplificando a raridade dita acima. Em
todos estes relatos a lesão inicial varia desde um politrauma até traumas fechado
simples em hipocôndrio esquerdo, como exemplo o trauma contra uma cadeira,
18
evoluindo geralmente após dias, mas há relato de meses, com hipotensão e queda
hematimétrica, além de dor em todo abdome.
O relato de caso em questão discorre sobre um homem de 36 anos com uma
história passada de 2 meses, de um trauma em hipocôndrio esquerdo por taco de
sinuca, durante uma partida, de maneira inadvertida, evoluindo 24 horas antes da
entrada no hospital com dor abdominal difusa, com maior intensidade em
hipocôndrio esquerdo, desencadeada após ingesta alimentar.
Em todos os casos revisados foi evidenciado a importância de um diagnóstico
precoce do sangramento, visto a piora progressiva do paciente, ocorrendo a morte
deste em alguns casos da literatura.
Verificou-se, contudo, que a suspeita associada a observação clínica, bem
como orientação do paciente, corrobora para um diagnóstico precoce, possibilitando
uma intervenção salvadora por vezes.
19
2 OBJETIVO
Relatar um caso de ruptura esplênica tardia após trauma inicial, revisando a
literatura quanto ao diagnóstico e tratamento instituído, demonstrando e discutindo
as várias formas que esta lesão se apresenta ao médico cirurgião.
3 METODOLOGIA
Estudo descritivo baseado no relato de caso de um paciente atendido no
Pronto Socorro do Hospital do Servidor Público Municipal (HSPM), pela equipe
cirúrgica.
Utilizaram-se as normas do manual para Normatização de Monografias da
Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT) de 2007.
Não houve termo de consentimento livre e esclarecido, pois nem o nome,
nem o registro do paciente foram mencionados, bem como o paciente era morador
de rua e faleceu por outros motivos ainda na mesma internação, há alguns meses. O
projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa do HSPM (anexo A), onde foi
inteiramente realizado.
20
4 RELATO DE CASO
Paciente, 36 anos, atendido no serviço de Urgência do Hospital do Servidor
Público
Municipal
de
São
Paulo,
sem
residência
fixa
pela
ficha
de
atendimento(embora relatou possuir casa), natural de São Paulo capital, procedente
de São Pulo capital, com queixa há 24 horas de dor abdominal, em cólica, localizada
em epigástrio e mesogástrio, remitente, iniciada minutos após episódio de náusea
que se seguiu de vômito alimentar pois havia ingerido no mesmo dia(não especifica
horário) uma lata de feijão pequena. Nega irradiação da dor, relatando outros 07
episódios náuseas seguidos de vômitos no decorrer das 24 horas que antecederam
a entrada no serviço hospitalar. Negou outras queixas quaisquer. Negava história de
trauma abdominal recente. Nega história de alcoolismo atual(usava aguardente em
quantidade variável, tendo parado há 08 anos), nega uso de droga. Ao exame físico
apresentava-se em regular estado geral, corado, desidratado++/+4, anictérico,
acianótico e com fácies de dor. Abdome plano, ruídos hidroaéreos presentes e
normais, com dor a palpação profunda em todo abdome(mais em epigástrio) e
descompressão brusca positiva também difusamente. Ao toque retal não havia
alterações palpatórias, tendo fezes, sem sangue, em dedo de luva. Aventado
primeiramente a hipótese de abdome agudo perfurativo, sendo solicitado exames
laboratoriais e de imagem. O resultado dos exames laboratoriais mostraram:
Amilase
ALT
LDH
AST
Uréia
Creatinina
Glicose
Sódio
29
57
207
23
51
0,7
109
132
Hemoglobina
Hematócrito
Plaquetas
Leucócitos
Bastões
Segmentados
Linfócitos
Tempo
Potássio
4,2
protombina
Atividade
protombina
Os Rx’s foram os que se seguem:
7,5
23,3
189000
8500
6%
76%
10%
14,2
de 88%
21
Fora descartado pneumoperitonio pelo raio x e realizado usg de abdome
devido opacificação difusa em raio x. Ultrassom abdominal com liquido espesso em
cavidade livre, num volume calculado de 1,5litros e coleção peri-esplênica.
Indicado laparotomia exploradora por Abdome Agudo Inflamatório por
Abscesso em loja esplênica e secundariamente em Abdome agudo hemorrágico,
pelo achado de imagens.
O achado cirúrgico foi de 2 litros de sangue a abertura da cavidade, além de
uma laceração de 10cm em baço, no pólo inferior, com acometimento extenso do
parênquima, não quantificado, porém sem acometer o hilo esplênico. Após revisão
de toda cavidade, não haviam outras lesões. Realizado esplenectomia e não
colocado dreno abdominal. O resultado do anatomo-patológico foi de hemorragia
secundária a lesão traumática, com baço medindo 16x11x7,5 cm, com área de
ruptura em superfície que media 7 cm, sendo vinhoso aos cortes.
22
Evoluiu no primeiro pós operatório com taquidispnéia, sonolência, contudo
lúcido e colaborativo. Ao exame respiratório apresentava murmúrio vesicular
diminuído em bases, com estertores crepitantes em ápice direito e subcrepitante em
ambas as bases, com freqüência respiratória de 28 incursões respiratórias por
minuto, saturando 60% ao ar ambiente. No abdome notava-se cicatriz cirúrgica em
bom aspecto com abdome normotenso e dor discreta a palpação difusamente.
Membros superiores e inferiores sem alterações. Aventada a hipótese de
pneumonia, pedido avaliação da clínica que tomou medidas não invasivas e inicio de
antibiótico. Ao RX de tórax, infiltrado em base de hemitórax direito e peribronquiolar
esquerdo.
2° dia de internação(DI) : transferência para UTI devido piora da saturação,
taquidispnéia e roncos difusos na ausculta pulmonar. Evoluiu na UTI com
insuficiência respiratória sendo intubado com sucesso e colocado em ventilação
mecânica. Fora tentado no mesmo dia acesso venoso em jugular interna, acesso
anterior, sem sucesso, evoluindo o paciente com queda da saturação de oxigênio e
hipertimpanismo à percussão de hemitórax esquerdo. Chamado equipe de cirurgia
do pronto socorro que prontamente drenou o tórax esquerdo com sucesso, havendo
melhora da saturação de oxigênio.
4° DI : iniciada dieta enteral com boa aceitação, tendo alcançado meta caloria
máxima no dia 14-02-2011.
18° DI :
devido boa evolução cirúrgica, com abdome em bom aspecto,
normotenso, com boa aceitação alimentar enteral(2000 kcal/dia), já sem dreno
torácico em com boa expansibilidade pulmonar, resolve-se em visita médica da
equipe cirúrgica do pronto socorro dar alta cirúrgica aos cuidados da equipe da UTI
devido manutenção do quadro de sepse de foco pulmonar(pneumonia bilateral), com
dificuldade no desmame ventilatório.
19° DI :
resultado de anti HIV Elisa confirmado por Western Blot(pedido
devido infecção não responsiva aos antibióticos empregados).Pedido Carga viral e
CD4. Iniciado associado aos antibióticos já empregados, Sulfametoxazol e
Trimetoprima e Fluconazol que foram utilizados até D14.
46° DI : Até a presente data, vários ciclos de antibiótico foram utilizados sem
melhora absoluta do paciente, mantendo-se sob ventilação mecânica(traqueostomia:
21-02-2011). Nesta data, nova lesão iatrogênica, agora em hemitórax direito, ao se
23
tentar acessar veia jugular interna direita. Drenado tórax a direita devido
pneumotórax.
51° DI : Avaliação da cirurgia torácica quanto a necessidade do dreno torácico
direito já que não estava funcionante. A equipe em questão olhou rx de tórax e
solicitou tomografia de tórax com suspeita de hemotórax septado.
55° DI : diagnóstico de empiema pleural septado a direita. Re-drenado com
sucesso.
64° DI : piora do padrão ventilatório do paciente, com FiO2 de 60% e imagem
opacificada em hemitórax direito, sendo indicada cirurgia.
66° DI :
toracotomia com decorticação pulmonar e drenagem de tórax a
direita, com saída de pus.
71° DI : Paciente mantem saída de pus pelo dreno torácico, com picos febris
mesmo em uso de antibióticos(no momento em D10 de Polimixina B), piora do
estado geral, evoluindo para morte durante o período noturno.
24
5 DISCUSSÃO
A ruptura do baço tardia após trauma inicial, frequentemente é discutida na
literatura, contudo poucos são os casos relatados com baço normal. E devido esta
raridade todo relato serve de fonte de conhecimento para os profissionais que
desejam uma melhor acurácia em seus diagnósticos, principalmente nesta entidade
que apresenta uma alta mortalidade segundo Sarathchandra Kodikara em 2009, de
5 a 15%, contra uma mortalidade de 1 a 5% de ruptura esplênica imediata após
trauma, segundo mesma autora. Soma-se aqui, em importância, o fato de muitas
vezes o trauma inicial ter ocorrido até anos antes, sem ao menos o paciente
lembrar-se, dificultando ainda mais o diagnóstico à chegada do paciente. Os relatos
da incidência da ruptura tardia são incertos mas McIndoe AH em 1932 citou o valor
de 14% de todas as rupturas esplênicas(15 de 111), sendo que mais recentemente
outros autores com métodos imaginológicos mais apurados tem chegado a valores
que se aproximam de 2%(1,7).
Verifica-se na literatura os mais variados tipos de trauma que levaram a uma
ruptura, dos mais simples e banais aos politraumatizados. Isso corrobora o que
Townsend , em 2004 dissera, que devido às características estruturais sólidas e à
sua densidade, a transferência de energia para o baço é relativamente eficiente,
fazendo muitas vezes os traumas considerados tolos, serem o iniciador de um
processo letal. Principalmente em um baço previamente doente. O relato em
questão é sobre ruptura de baço sem alterações prévias, mas há de se falar que um
baço alterado ultraestruturalmente possui uma maior chance de ruptura visto caso
relatado por Mohamed Ali Peera, em 2004, onde uma queda da cama, com colisão
de área coccígea, tenha gerado ruptura esplênica, por provável desaceleração do
órgão.
Quanto ao hiato de tempo do trauma até os sinais e sintomas de uma ruptura,
Baudet em 1902 definiu que para ser considerado uma ruptura tardia, o hiato de
tempo deveria ser de no mínimo 48 horas entre o trauma inicial e os sintomas
relativos a ruptura esplênica. Sarathchandra Kodikara em 2009 relata hiato de 03
dias. T. Clark Gamblin e Charles E. Wall,em 2005, relatam em dois casos, tempo de
13 dias e de 03 dias, sendo que estes autores comentam que há na literatura relatos
enganadores pois deveriam-se confirmar radiologiamente um baço de tamanho
normal para se falar em ruptura tardia. Vladmir Spack e Paver Jandik, em 2002,
25
relatam 21 dias. Todd L. Allen e colaboradores, em 2002, relataram um caso com 21
dias entre a lesão e a ruptura. Em outro artigo, Sarathchandra Kodikara, em 2002,
relata um tempo de 03 dias. No caso em questão o paciente relatou após a cirurgia
(esplenectomia), um trauma 02 meses antes, em hipocôndrio esquerdo por um taco
de sinuca em uma partida comum. Entre os artigos pesquisados é o maior hiato
existente, porém há relatos de até 5 anos e meio segundo Deva AK, em 1996.
Quanto a topografia, o mais comum é que os traumas sejam diretos no
hipocôndrio esquerdo, contudo deve-se lembrar que segundo Towsend em 2004, as
lesões esplênicas são produzidas pela desaceleração rápida, compressão,
transmissão de energia através da parede torácica póstero-lateral sobre o baço,
assim outros mecanismos podem estar presentes, como foi o relato do autor
Mohamed Ali Peera, 2004, de uma senhora de 81 anos que caiu sentada no chão, a
partir da queda da cama. Neste caso houve um trauma contuso com parte mais
romba do taco de sinuca em hipocôndrio esquerdo. Townsend corrobora com a
informação de que pancadas direito em abdome alto a esquerda e tórax baixo
esquerdo podem causar laceração e fratura do baço.
A fisiopatologia mais aceita para a ruptura tardia do baço após trauma inicial é
de Baudet, em 1902. A ruptura é definida como um processo lento que inicia-se com
um trauma que não consegue lesar a cápsula mas lesa estruturas vasculares
intraparenquimatosas. Há então um sangramento contínuo que certamente variável
em fluxo de acordo com a lesão vascular subjacente. Assim, há a formação de um
hematoma subcapsular, com aumento progressivo, aumentando a pressão na
cápsula esplênica, gerando então a ruptura com conseqüente sangramento. Kluger
et aL, 1994 . Concorda com o postulado acima. Dessa maneira, é plausível imaginar
o porque de traumas diferentes gerarem rupturas esplênicas, por vezes
semelhantes. Com raciocínio semelhante lesões pequenas possuem maior chance
de evoluírem para ruptura tardia e isso é relatado por diversos autores pesquisados.
Não distando muito desta teoria, Sarathchandra e col, 2002, descreveu um caso e
aventou a hipótese ruptura tardia de um hematoma subcapsular previamente
formado, devido alterações dinâmicas na parede gástrica em contato com o baço,
durante uma refeição copiosa. De primeira mão poderia se pensar que o paciente do
presente relato poderia ser mais um participante desta teoria visto apresentar nítida
dor abdominal após ingesta de feijão que o levou ao vômito ( em numero de 7
episódios). Sabe-se que ao vômito há forte contração abdominal e do estômago
26
havendo mobilidade importante de sua parede, podendo estar ai a causa da ruptura
de baço, já com um hematoma subcapsular pós trauma (no caso há dois meses), do
paciente. No entanto, a parte lacerada, embora extensa, era no pólo inferior, indo
contra a teoria levantada acima, pois não haveria contato direto.
A idade diverge na literatura. No caso é citado o paciente de 36 anos, do sexo
masculino, contudo na literatura há relato que varia de 23 anos a 81 anos. Já a
revisão de literatura de T. Clark Gamblin et al., 2005, fala de 64% de homens e 36%
de mulheres, sendo a idade variável entre 30 e 83 anos, sendo condizente com a
idade do paciente e com os artigos revisados neste tratalho.
Os sintomas relatados pelos pacientes vítimas de ruptura esplênica, segundo
os artigos relatados são semelhantes, sendo a dor abdominal a mais referida.
Sarathchandra Kodikara, em 2009, relatou ainda um sinal de Kher, que é a dor
referida em ombro esquerdo pelo paciente, além da dor abdominal. Outros também
já relataram tal sinal, devido irritação do nervo frênico, contudo não se deve esperar
tal sinal visto não ser tão comum. Entretanto, Bauer e col.1981, descreve uma
freqüência de 65% nos pacientes de baço normal.
Mohamed A. Peera e col., 2004, descreve como possíveis sintomas a náusea,
vômitos, síncope, hipotensão, irritação peritoneal, febre e anemia, em freqüências
variáveis. No relato em questão, o paciente iniciou o quadro com náuseas e vômitos
que se sucederam a dor abdominal importante. Não haviam sinais de trauma
abdominal ou hematomas visíveis, segundo orienta observar, Townsend num bom
exame físico. Não houve síncope, embora a hemoglobina na entrada já se
apresentasse baixa, mas estava presente a irritação peritoneal. A respeito do
peritonismo, Mattox, e col, 2005, consideram o sangue como um irritante peritoneal
benigno, nem sempre gerando irritação. No caso, o paciente apresentava sinais de
irritação peritoneal, com um achado cirúrgico de 2 litros de sangue intraperitoneal,
Houve ausência de peritonismo nos artigos revisados. Embora não houvesse
sintomas a respeito da queda hemoglobinêmica, a hemoglobina em 7,5 mg/dl, vem
de encontro com dados de outros autores, no momento em que paciente apresentase com a ruptura. Sarathchandra Kodikara, 2002, relatou 6,4mg/dl, T Clark Gamblin
e col., 2005, relatou 5,7. Sarathchandra Kodikara e col., 2009 relataram 7,2mg/dl.
Vladimir Spacek, et al, 2002, relatou a possibilidade de ruptura esplênica que
manifestaram-se inicialmente com um hematoma de escroto, ou imitando uma
apendicite, ou ainda um quadro que iniciou-se após uma colonoscopia(pelo contato
27
próximo no ângulo esplênico). Há ainda o relato de uma ruptura manifestar-se como
uma angina pectoris e ao se tratar como tal, medicando entre outros com heparina,
houve piora do quadro, quando então ocorreu dor abdominal e iniciou-se
investigação para ruptura esplênica, segundo descreve Todd L Allen e col., 2002. T
Clark Gamblin e col, 2005, num de seus relatos, discorre sobre paciente que 13 dias
após o trauma inicial, retorna ao hospital com equimose em seu abdome e tórax a
esquerda. Mohamed Ali Peera e col., 2004, também descreve o hematoma
abdominal, no caso ao redor da cicatriz umbilical. Este comemorativo não havia no
paciente do relato.
Diferença de conduta foi verificado entre o presente trabalho e o artigo escrito
por Mohamed Ali Peera, 2004, quando observaram a paciente por 12 horas e então
por não melhorar com sintomáticos e apresentar hematoma abdominal, então
investigou-se o abdome com algum exame de imagem. No relato atual, ao se
verificar que embora não houvesse alterações nítidas no raio x de abdome, verificouse uma perda de definição da imagem como um todo que denotou líquido em
cavidade, sendo o paciente encaminhado ao setor de USG pois não havia FAST,
sendo feito o diagnóstico 3 horas após a entrada ao hospital, o que em relação ao
relato de caso anteriormente citado foi notoriamente mais eficaz ao tratamento
definitivo do paciente.
De qualquer maneira, segundo Sarathchandra Kodikara, 2002, o diagnóstico
de lesão esplênica deve ser considerado como diagnóstico diferencial em todo
paciente com trauma abdominal ou torácico esquerdo, principalmente quando
apresenta estabilidade hemodinâmica, sendo importante um controle imaginológico
para estabelecer o diagnóstico. Mesmo assim, segundo mesma autora, um USG ou
TC normal, não excluem uma ruptura tardia, devendo haver uma vigilância por parte
do paciente, segundo orientações ao receber alta.
Quanto ao diagnóstico, é consenso entre todos autores revisados que a TC é
o melhor exame, principalmente porque quantifica a lesão esplênica, podendo-se
classificá-la e ditando muitas vezes o tratamento instituído. No paciente relatado,
não se realizou tal exame pois segundo cirurgião não mudaria a conduta visto ter no
USG um volume que quantificaram em 1,5 litros de líquido espesso. Acima disto, a
abertura a cavidade não determinaria previamente a esplenectomia, porém ao se
visualizar o órgão lesado, poderia muito mais do que numa TC, ditar o tratamento
ideal para o paciente, que seria a esplenorrafia ou esplenectomia. No caso, devido
28
não saber das sorologias do paciente, também ao fato de ser morador de rua e de o
paciente instabilizar na mesa cirúrgica, foi optado pela esplenectomia. Segundo
Mattox, 2005, “a esplenectomia total está indicada nos pacientes que estão
hemodinamicamente instáveis ou com lesões associadas como um trauma grave,
uma disfunção pulmonar, mediastino alargado e lesões ortopédicas ou pélvicas
significativas. Também deve se pensar em fazer a esplenectomia em pacientes que
não apresentam capacidade de realizar cirurgias prolongadas, como coagulopatias,
doença pulmonar, cardíaca ou hepática”.
Segundo J.G. West, 1979, a mortalidade por um não-reconhecimento, ou um
reconhecimento tardio de hemorragia esplênica, permaneceu próximo ao topo da
lista de causas de morte prevenível. Assim sendo e analisando que alguns pacientes
desta revisão obitaram em decorrência da ruptura esplênica tardia, o diagnóstico
precoce empregado no paciente do presente relato foi satisfatório, tendo o paciente
recebido alta do centro ciúrgico para enfermaria mesmo tendo perdido por volta de 2
litros de sangue.
29
6 CONCLUSÃO
Embora rara, mas pela possibilidade de ruptura tardia do baço, deve-se
considerar este diagnóstico em todos os traumas fechados do hipocôndrio esquerdo,
mesmo naqueles que inicialmente estão estáveis hemodinamicamente, pois
podemos ter um hiato cronológico variável e os sinais e sintomas da ruptura são
abruptos muitas vezes e também mortal se não tratado. Sendo assim, o rastreio com
exames de imagem é de fundamental importância para selecionar os pacientes com
maior chance de ruptura devido hematoma subcapsular, sendo estes observados
mais criteriosamente. O tratamento nem sempre será cirúrgico, no entanto devemos
atentar ao paciente quanto sua evolução, intervindo precocemente ao primeiro sinal
de aumento importante do sangramento pelos exames de imagem ou ainda
instabilidade hemodinâmica.
Sendo assim, este relato soma conhecimento para um diagnóstico mais
precoce de uma doença mórbida e possivelmente mortal.
30
7 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
GERRITSEN,G.P.; MADERN, G.G. Neth J. Surg.,32(2):62, 1980.
SHERMAN. R.Surg. Clin. of N. Am. 61(1):127, Feb. 1981.
SHANDLING, B. S. Ar. Med. J. 57(16):655, 1980.
DRETZKA, L. Rupture of the spleen.Surg. Gynecol. Obstet. 51:258,1930.
KING, H.; SCHUMACHER, Jr. H.B.Ann. Surg., 136:239,1952.
PEARSON, H. Hosp. Pract. 15(8):85,92, Aug. 1980.
SHANDLING, B. S.Ar. Med. J. 57(16):655, 1980.
VON BAHTEN, L.C.; et al. Rev. Col. Bras. Cir. Vol 33 no. 6 RJ Nov/Dec. 2006.
GAUNT, WT; et al. Traditional criteria for observation of splenic trauma should
be challenged. Am Surg. 1999;65(7):689-91; 691-2.
CHRISTO, MC. O estado da arte da cirurgia do baço, no início do século XXI.
Rev. Col. Bras. Cir., Rio de Janeiro, v. 32, n. 5, 2005.
FREIRE, E. Trauma a doença do século. São Paulo: Atheneu, 2001. 3075 p
MATTOX, KL.; FELICIANO, DV.; MOORE, EE.; Trauma. 4ª. ed. Rio de Janeiro:
Revinter, 2005. 1494 p
MOORE KL.; DALLEY, AF. Anatomia orientada para a clínica. 4ª.ed. Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 2001. 1023 p.
TOWNSEND, CM.; et al. Sabiston Textbook of Surgery. 17ª. ed. Philadelphia,
31
Pennsylvania: Elsevier, 2004. 2388 p.
WEST, JG; TRUNKEY, DD; LIM, RC. Systems of trauma care: A study of two
counties. Arch. Surg 114:455-460, 1979.
NORONHA, BR, et al. Colégio Brasileiro de Radiologia. Supl. 1 Vol. 42 – 2009.
LUCCHESI, FR; et al. Diagnóstico por imagem no trauma abdominal. Medicina,
Ribeirão Preto, 32: 401-418, out./dez. 1999 –12.
MCINDOE, AH. Delayed hemorrhage following traumatic rupture of
the spleen. Br J Surg 1932;20:249–68.
KLUGER, Y; et al. Delayed rupture of the spleen-myths, factsVand their
importance: case reports and literature reviews. J Trauma.1994;36:568–71.
BAUER, TW; HASKINS, GE; ARMITAGE, JO. Splenic rupture in patients
with hematologic malignancies. Cancer 1981;48:2729-33.
Download