o desenvolvimento cognitivo infantil a partir da ótica piagetiana

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O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO INFANTIL A PARTIR DA ÓTICA
PIAGETIANA
RESUMO: O texto apresenta algumas considerações a partir da teoria piagetiana sobre o desenvolvimento
cognitivo infantil, tendo como perspectiva analisar de forma crítica o processo de ensino-aprendizagem de
acordo com as implicações de Piaget. A teoria piagetiana começou a partir das observações sobre o
comportamento infantil, explicando os estágios que decorrem desde o nascimento até a consolidação por volta
da adolescência. O desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo, no qual a criança evolui de um estágio
para outro, e as interações físicas e sociais vividas pela mesma na escola tem um papel fundamental no seu
comportamento intelectual. Para Piaget, o aprendizado infantil ocorre através de experiências vivenciadas.
PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento. Teoria. Estágio.
1. INTRODUÇÃO
Este trabalho tem como objetivo analisar de forma crítica a teoria piagetiana, no
processo de ensino-aprendizagem, explicando os termos de esquema, assimilação,
acomodação e equilibração, e, também os estágios que o biólogo Jean Piaget destacou acerca
do desenvolvimento cognitivo da criança.
Para explicar o desenvolvimento cognitivo da criança Piaget criou estágios, sendo: o
primeiro é o da inteligência sensório-motora, no qual a criança ainda não “pensa”
conceitualmente e o comportamento é basicamente motor; o segundo estágio do pensamento
pré-operacional é caracterizado pelo desenvolvimento da linguagem e outras formas de
representação; no terceiro estágio das operações concretas, a criança desenvolve a habilidade
de aplicar o pensamento lógico a problemas concretos; e no quarto estágio das operações
formais, as crianças tornam-se capazes de aplicar o raciocínio lógico a todas as classes de
problemas.
Com base em, Barry (1989), na sua obra Inteligência e afetividade da criança na teoria
de Piaget, vamos tentar entender a teoria piagetiana, quem foi Jean Piaget, e suas implicações
no processo de ensino-aprendizagem e a importância de sua teoria para a fundamentação
histórica pedagógica.
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2. BREVE BIOGRAFIA SOBRE O AUTOR
Piaget foi um jovem intelectualmente precoce, que aos 10 anos publicou seu primeiro
artigo sobre a descrição de um pardal albino que observava num jardim público. A sua
formação universitária foi em ciências naturais. Estudou o desenvolvimento dos moluscos,
analisando a adaptação destes ao serem transferidos de um ambiente para outro. Neste
estudo, descobriu que o desenvolvimento biológico não era devido apenas à maturação e
hereditariedade, mas também as variáveis do ambiente, ou seja, as conchas dos moluscos
eram afetadas pela água calma e agitada do lago, suas estruturas mudavam à medida que o
ambiente mudava.
Embora Piaget tenha tido sua formação acadêmica na área de biologia e filosofia,
trabalhou em Zurich como psicólogo experimental onde se preocupava em descobrir as
mudanças do desenvolvimento que ocorrem no indivíduo no funcionamento cognitivo do
nascimento à adolescência. Ele passou a combinar a psicologia experimental, ou seja, um
estudo formal e sistemático com métodos de psicologia como entrevistas, conversas e
análises de pacientes.
Piaget lecionou em diversas universidades européias, sendo convidado para lecionar
na Universidade de Sorbonne, onde permaneceu até 1963. Piaget fundou e dirigiu o Centro
Internacional para Epistemologia Genética até o seu falecimento. Durante sua carreira, Piaget
escreveu mais de 75 livros e vários trabalhos científicos.
3. O DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA, SEGUNDO A VISÃO DE
PIAGET
Para explicar porque as crianças apresentam respostas mais ou menos estáveis aos
estímulos e aos fenômenos associados à memória, Piaget utilizou esquemas, assimilação,
acomodação e equilibração.
Esquemas são estruturas mentais ou cognitivas pelas quais os indivíduos
intelectualmente se adaptam e organizam o meio, ou seja, estruturas que se adaptam ou se
modificam com o desenvolvimento mental. Por exemplo, quando um menino logicamente
chama uma vaca de cachorro, para ele as características da vaca se apresentam muito
próximas as de um cachorro. No momento do nascimento os esquemas são de natureza
reflexa. O reflexo de sugar é um exemplo, os bebês quando nascem sugam o bico do seio da
mãe, a mamadeira, ou o dedo.
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Assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa integra um novo dado
perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de comportamento já existentes.
Usando o exemplo acima sobre esquema, podemos agora usar para a assimilação: para a
criança, o objeto vaca tem todas as características de um cachorro, ele se encaixa no esquema
cachorro e assim a criança conclui que aquele objeto era um cachorro.
A acomodação é a criação de novos esquemas ou a modificação de velhos esquemas,
a criança quando confrontada com um novo estímulo, ela tenta assimilá-lo a esquemas já
existentes. Porém, algumas vezes isto não é possível. Quando isto não acontece, a criança
pode criar um novo esquema, adaptando a um novo estímulo, ou então, ela pode modificar
um esquema prévio de modo que o estímulo seja incluído.
Nenhum comportamento é só assimilação ou só acomodação, todo comportamento
reflete ambos os processos, embora alguns expressem mais um processo que o outro.
O que nós, geralmente, conhecemos como jogo infantil
é tipicamente mais assimilação do que acomodação.
Por outro lado, os esforços da criança de imitação dos
outros é, usualmente mais um ato de acomodação do
que de assimilação. (Piaget, 1962)
Piaget denominou o “cálculo” entre assimilação e acomodação de equilíbrio.
Equilíbrio é o balanço entre assimilação e acomodação, enquanto que o desequilíbrio é um
estado de não balanço entre assimilação e acomodação, no qual pode ser considerado como o
“conflito cognitivo”. O conflito cognitivo é o resultado de expectativas que são confirmadas
pela experiência, ou seja, é quando a criança espera que alguma coisa aconteça de certa
maneira, e isto não acontece, ocasionando o desequilíbrio.
A equilibração é a passagem de desequilíbrio para o equilíbrio, é o processo autoregulador entre assimilação e acomodação. Quando o desequilíbrio ocorre, proporciona
motivação para que a criança busque o equilíbrio, e assim ocorra a assimilação e
acomodação.
A motivação ativa o comportamento e na teoria de Piaget, a maior fonte de motivação
no que se refere ao desenvolvimento intelectual, é o desequilíbrio que ativa a equilibração
entre assimilação e acomodação.
4. O ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR (0 A 2 ANOS)
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No nascimento o comportamento do bebê é puramente reflexo. A partir de reflexos
neurológicos básicos, o bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar
mentalmente o meio. Os reflexos básicos com os quais o bebê nasce são: sugar, agarrar,
chorar, os movimentos do braço, troco e cabeça. Logo, o bebê pega o que está em sua mão,
chupa o que é posto em sua boca, então o bico do seio é sugado quando lhe é oferecido.
Também, “vê” o que está diante de si, aprimorando esses esquemas é capaz de ver um objeto,
pegá-lo e levá-lo a boca.
No segundo mês de vida, o bebê já faz diferenciações primitivas entre os objetos em
seu ambiente imediato, vários comportamentos novos aparecem como chupar o dedo polegar,
o movimento dos objetos começa a ser seguidos pelos olhos e a cabeça movimenta-se em
direção aos sons. Entre o quarto e o oitavo mês de vida, a criança pega o que vê pela frente,
pois antes era incapaz de distinguir outros objetos e de coordenar os movimentos de suas
mãos com a visão, agora ela pega e manipula os objetos que pode alcançar exercitando a
visão e o tato.
No final do primeiro ano de vida, a criança começa a desenvolver noções de
permanência do objeto, por exemplo, procura objetos que vê desaparecer. No início do
segundo ano de vida, o verdadeiro comportamento inteligente da criança surge, quando
através da experiência, constrói novos meios para solucionar problemas.
No fim do segundo ano, ela torna-se capaz de representar objetos e eventos
internamente, tal capacidade libera a criança da inteligência sensório-motora, evoluindo para
um novo estágio, o do pensamento pré-operacional.
5. O ESTÁGIO DO PENSAMENTO PRÉ-OPERACIONAL (2 A 7 ANOS)
Também denominado estágio da Inteligência Simbólica, o pensamento préoperacional caracteriza-se principalmente pela interiorização de esquemas de ação
construídos no estágio anterior, sendo caracterizado pela linguagem.
É no jogo simbólico que a criança constrói símbolos, que representam qualquer coisa
que deseja, por exemplo, é possível observar uma criança brincando com uma vassoura como
se fosse um cavalo, e dando-lhe todos os atributos.
“Sua função (jogo simbólico) é satisfazer o eu pela
transformação do que é real naquilo que é desejado”.
(Piaget 1967, p.23)
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O uso precoce da criança pré-operacional com o lápis e o pincel resultam nas
garatujas. No início a criança não tem a noção de desenhar, ou seja, a representação de
alguma coisa, embora possam ocorrer formas no processo de rabiscar.
A criança agora é egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se colocar,
abstratamente no lugar do outro. Acredita que todos pensam como ela, e que todos pensam as
mesmas coisas, não esquecendo que a criança não tem a consciência de que é egocêntrica.
A linguagem é adquirida muito rapidamente entre as idades de dois a quatro anos, o
comportamento na fase inicial do estágio é predominantemente egocêntrico e não social.
Estas características tornam-se menos dominante à medida que o estágio avança, e em torno
dos seis ou sete anos, as conversas infantis se transformam comunicativas e sociais.
6. ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS (7 A 11 ANOS)
O estágio das operações concretas é um período de transição entre o pré-operacional e
o pensamento formal. Durante este o estágio, o processo mental das crianças torna-se lógico,
desenvolve noções de tempo, espaço, velocidade, ordem e causalidade.
No estágio operacional concreto, a criança desenvolve o processo de pensamento
lógico que pode ser aplicado a problemas reais. Ao contrário do estágio anterior, o
pensamento da criança operacional concreta não é egocêntrico, tem a consciência de que os
outros podem chegar a conclusões diferentes da sua.
Neste estágio a criança não se limita a uma representação imediata, mas ainda
depende do mundo concreto para chegar à abstração, desenvolvendo a capacidade de
representar uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a transformação
observada, ou seja, a criança alcança a reversibilidade das operações mentais. Por exemplo:
despeja-se água em dois copos de formatos iguais, depois de formatos diferentes, para que a
criança diga se as quantidades continuam iguais, a resposta será positiva uma vez que a
criança já diferencia aspectos e capaz de refazer a ação.
7. ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES FORMAIS (12 ANOS EM DIANTE)
A criança não se limita mais a representação imediata, pois é capaz de pensar em
todas as relações possíveis, buscando soluções a partir de hipóteses e não apenas pela
observação da realidade. A criança desenvolve o raciocínio e a lógica necessária à solução
de todas as classes de problemas.
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As crianças das operações formais podem raciocinar sobre problemas hipotéticos
totalmente simbólicos, construindo em suas mentes e deduzindo conclusões lógicas.
Nesta fase, o comportamento do adolescente é motivo de preocupação dos pais,
educadores e psicólogos. Para Piaget, os fatores que moldam a adolescência são o
desenvolvimento cognitivo e afetivo.
Do ponto de vista da integração da sociedade (cuja
importância psicológica predomina sobre sua
importância biológica), adolescência é essencialmente
caracterizada pelo fato de que o indivíduo não se
considera mais uma criança. Ela deixa de se sentir
como inferior ao adulto e começa a achar que ele é
igual ao adulto, ele se imagina tornando-se um membro
da sociedade, desempenhando um papel e seguindo
uma carreira. A crise da adolescência, como todos os
fenômenos de desenvolvimento, inclui ao mesmo
tempo os fatores intelectuais e afetivos. (Piaget 1963,
p.20-21)
O egocentrismo também é visto nesta fase, agora como a incapacidade de distinguir
entre eventos perceptivos e construções mentais. O egocentrismo do adolescente consiste na
incapacidade de diferenciar entre o seu mundo e o mundo do “real”.
8. A TEORIA DE PIAGET NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM
Piaget não direcionou sua pesquisa para a educação e o ensino, a teoria piagetiana
envolve o desenvolvimento cognitivo das crianças, sobre como elas adquirem o
conhecimento e se desenvolvem. A teoria pode ser usada na educação como instrumento para
educadores na compreensão dos alunos, se eles conseguem aprender ou não na escola.
O desenvolvimento intelectual está ligado ao processo de construção dos esquemas,
no qual consistem as interações da maturação, experiência, interação social e equilibração.
Entretanto para os piagetianos, a aprendizagem envolve sempre construção e compreensão.
A experiência segundo Piaget tem um papel fundamental no desenvolvimento da
criança. As interações físicas e sociais permitem a construção do conhecimento e são
entendidas como o fator escolar mais importante para o desenvolvimento cognitivo. Por
exemplo: as dramatizações, jogos, brincadeiras entre outras estimulam a interação entre os
colegas na escola.
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9. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A teoria de Piaget é uma forma de compreender o desenvolvimento humano. São
observadas mudanças a partir da aplicabilidade da teoria piagetiana, ou seja, a criança evolui
de um estágio para outro, no qual o seu desenvolvimento cognitivo é um processo contínuo.
Os estágios são úteis para conceituar o desenvolvimento e para refletir as características de
raciocínio das crianças. Já no processo de ensino-aprendizagem, Piaget não direcionou seus
estudos para a educação, mas para ele a educação consistia nas interações físicas e sociais
para a construção do desenvolvimento.
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10. REFERÊNCIAS
BARRY, J. Wadsworth. Inteligência e Afetividade da Criança na Teoria de Piaget. 3ed.
São Paulo: Pioneira, 1989.
Piaget. Disponível em: http://penta.ufrgs.br/~marcia/piaget.htm#tab. Acesso em: 30 de junho
de 2011
Teorias da aprendizagem. Disponível em:
http://PT.wikipedia.org/wiki/teoriasdaaprendizagem. Acesso em 30 de junho de 2011.
PIAGET, Jean. A formação do símbolo na criança. 3ed. Rio de Janeiro: LTC,1990.
Jean Piaget (1896-1980)
Um pioneiro no estudo da inteligência infantil. Disponível em:
http://www.psicopedagogiabrasil.com.br/biografia_jean_piaget.htm. Acesso em 30 de junho
de 2011
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