Icterícia Definida como coloração amarelada da pele, escleróticas e mucosas: consequente a deposição de pigmento biliar (hiperbilirrubinemia). Clinicamente detectável – concentração sérica de bilirrubina: ultrapassa 2 a 3mg/100ml, sendo o normal: 0,3-1mg/100ml. Reflete perturbações na produção e/ou em passos do metabolismo/excreção (hemólise, anemias hemolíticas, talassemias, sepse) da bilirrubina. (Negros tem tendência de ter coloração amarelada da esclera sem ser icterícia) Diversas causas hepáticas (alterações de metabolismo, hepatites, cirroses, hereditárias) e não hepáticas( obstrução de via biliar extra hepática). A maioria dos RN’s tem icterícia por fazerem hemólise da Hb fetal ;) Fundamental examinar o paciente com luz natural!!!(luz artificial pode alterar a percepção). Local mais frequentemente percebido é a conjuntiva ocular. Devido a afinidade da bilirrubina por tecido elástico. A localização pode ser importante para a distinção clínica entre causas de pigmentação amarelada.( deve ser na mão e esclera, não pode ser apenas na mão, a esclera indica a presença de icterícia principalmente). A bilirrubina pode impregnar a urina, o suor, o sêmen e o leite. Pode impregnar o fluido ocular e determinar xantopsia (visão amarelada – Van Gogh – uso de digoxina pode levar a xantopsia). Metabolismo da bilirrubina Pigmentos biliares = é o principal produto de degradação do grupo heme cujas fontes são: hemoglobina, mioglobina, hemoproteínas. Em adultos são quebrados diariamente 35g de hemoglobina, resultando em 30mg de bilirrubina. Dentro das células fagocíticas, ocorre lise dos eritrócitos e a degradação da hemoglobina. A molécula globina é degradada, o anel é quebrado parcialmente e o ferro parcialmente reutilizado para síntese do heme. O produto tetrapirrólico resultante é a biliverdina. Biliverdina é convertida em bilirrubina pela enzima biliverdina redutase. Essa primeira bilirrubina formada é chamada de bilirrubina não conjugada (lipossolúvel). A bilirrubina não conjugada( indireta) liga-se reversivelmente a albumina – transportada no plasma.( necessita da albumina!...não é eliminada pelo rim devido a albumina). A bilirrubina não conjugada tem afinidade pelo tecido nervoso e, quando em concentrações elevadas no sangue em recém-nascidos impregna os gânglios da base causando KERNICTERUS. ( Por ser lipossolúvel consegue atravessar a barreira hematoencefálica que é ainda imatura) A bilirrubina atinge primeiro a pele, depois esclera, depois mucosas. Fígado – papel central no metabolismo da bilirrubina – captação, conjugação e excreção. A bilirrubina não conjugada é rapidamente captada e metabolizada pelo fígado e preparada para ser eliminada. Uma vez dentro dos hepatócitos a bilirrubina se liga pelo menos em parte a ligandina, o que impede o efluxo da bilirrubina para o plasma. No retículo endoplasmático a bilirrubina não conjugada, que é lipossolúvel, é convertida pela ação da enzima UDP-glicoronosil transferase em compostos solúveis em água. Esses compostos (bilirrubina conjugada) são passíveis de rápido transporte através da membrana canalicular para bile. O processo de excreção de bilirrubina para o canalículo biliar requer energia, sendo um dos passos mais susceptíveis de comprometimento quando a célula hepática é lesada.(momento em que pode diminuir a eliminação de bilirrubina pelos hepatócitos) Quando esse passo do metabolismo da bilirrubina é comprometido, ocorre diminuição da excreção de bilirrubina para a bile e regurgitação para o sangue.(a bilirrubina voltando para o sangue leva a icterícia). Uma vez excretada do hepatócito, a bile é transportada dos canalículos biliares, passando pela árvore biliar até desembocar no duodeno.(estudar anatomia do fígado). A bilirrubina conjugada é polar e não absorvida pelo intestino delgado. A maioria é eliminada pelas fezes. Uma vez no íleo terminal e colón, a bilirrubina é hidrolisada por enzimas bacterianas (beta-glicuronidases). Somente uma pequena parcela de urobilinogênio é absorvida no cólon, ele é quem dá a cor característica das fezes. Será novamente excretada pelo fígado na bile... Em condições normais essa parcela de urobilinogênio é reexcretada pelo fígado na bile 90% e pelos rins 10%. Em situações de disfunções hepáticas, a reexcreção biliar de urobilinogênio pode diminuir, aumentado a parcela eliminada na urina. (Assim a urina começa a escurecer, colúria). Em condições que há diminuição da bilirrubina excretada ao intestino ou diminuição de flora intestinal (uso de antibiótico) pode haver diminuição de urobilinogênio. As fezes normais contém mistura de urobilinogênio e seu produto de oxidação correspondente a urobilina. A diminuição ou ausência de excreção de bilirrubina na luz intestinal provoca alterações na cor das fezes – hipocolia ou acolia (fezes em massa de vidraceiro). A bilirrubina conjugada, por ser solúvel em água, penetra mais facilmente em fluidos corpóreos e é capaz de provocar graus mais acentuados de icterícia que a bilirrubina não conjugada.* Em condições normais, a urina contém somente traços de bilirrubina. Aumento de bilirrubina conjugada altera a cor da urina – colúria (cor de CocaCola). HIPERBILIRRUBINEMIA: Hiperbilirrubinemia não conjugada = icterícia Hiperbilirrubinemia conjugada = icterícia, colúria, hipocolia fecal ou acolia (pode ou não aparecer). Concentração plasmática de bilirrubina depende da taxa de produção e o clareamento (clearance) hepático; Aumento de produção; Alterações do metabolismo e/ou excreção. Fisiopatologia: A)Hiperbilirrubinemia não conjugada: A1. Aumento da produção de bilirrubina A) Hemólise (esferocitose, anemia falciforme, etc.) B) Eritopoiese ineficaz: Geralmente, acompanhada de hiperbilirrubinemia leve (até 4mg/100ml) e os níveis de urobilinogênio fecal e urinário podem estar aumentados. A2. Diminuição da captação hepática/transporte de bilirrubina: a) Drogas (Rifampicina - tuberculose, probenecide ,entre outras) b) Jejum c) Sepse A3. Distúrbio da conjugação da bilirrubina ( atividade diminuída da enzima glicuronosil transferase): A) Deficiência hereditária: a1. Síndrome de Gilbert (leve diminuição da atividade da enzima, níveis séricos de bilirrubina menores que 6mg/100ml). a2. Sindrome de Crigler-Najjar tipo II (moderada diminuição da atividade da enzima; níveis séricos maiores que 6mg/ml) a3. Sindrome de Crigler-Najjar tipoI (ausência da atividade da enzima; níveis séricos maiores que 20mg/ml). B. Deficiência adquirida: drogas, doença hepatocelular, sepse. Hiperbilirrubinemia conjugada: Defeito na excreção da bilirrubina (defeito intra-hepático): Doenças hereditárias ou familiares: - Síndrome de Dubin-Johnson e Síndrome de Rotor. Desordens adquiridas: - Doenças hepatocelular= problema na conjugação e na hora de excretar, dificuldade de sair do hepatócito. - Drogas(AntiConcepcional Oral) - Obstrução biliar extra-hepática = Obstrução mecânica: cálculos, neoplasias. Multifatorial(defeito em mais de uma fase do metabolismo) a) Doença hepatocelular ( cirrose, hepatites): em geral as funções de captação, conjugação e excreção estão prejudicados, sendo a excreção a mais comprometida, o que faz que predomine a hiperbilirrubinemia conjugada. b) Sepse: funções de captação, conjugação e excreção comprometidas. c) Icterícia neonatal Abordagem do Paciente Historia clinica: 1. Idade: câncer de vias biliares em idosos, hepatite A em crianças. 2. Profissão: exposição a infecções virais. Exposto a tóxicos, álcool. 3. Procedência/viagens: regiões endêmicas para hepatites, esquistossomose, febre amarela, leptospirose, entre outras. 4. Raça( etnia): anemia em negros. 5. Hábitos: etilismo, risco de infecção hepatite Be C. 6. Antecedentes: transfusão sanguínea , historia familiar de icterícia, etc. 7. Uso de medicamentos: inúmeras drogas podem causar icterícia. Sintomas: Pródomos de hepatite: febre, dor no corpo, astenia. Febre baixa sem calafrio (hepatite aguda viral), febre com calafrio (indica infecção bacteriana. Ex: colangite). Quando a bactéria cai na corrente sanguínea ocorre o calafrio. Manifestações de anemia Colúria: bilirrubina conjugada na urina – Hiperbilirrubinemia às custas de fração conjugada. Acolia/hipocolia fecal: acolia persistente sugere obstrução biliar extrahepática. Dor abdominal: - Cólica biliar - Dor ou desconforto no Hipocôndrio Direito: aumento rápido do volume do fígado como nas hepatites agudas e congestão hepática. Abscesso hepático – febre e comprometimento do estado geral. - Dor pancreática: Prurido cutâneo: Comum em doenças hepáticas. Perda de peso: Comum em doenças hepáticas, principalmente fase final de doença maligna. Vesícula biliar palpável Manifestações de hipertensão portal: Circulação colateral, esplenomegalia e ascite. Manifestações de insuficiência hepática: Aranhas vasculares, eritema palmar, atrofia testicular, ginecomastia, distúrbios da coagulação, encefalopatia hepática. Manifestações de esplenomegalia: hipertensão portal e hemólise. Lesão dos Hepatócitos (ruptura) --> (aumentam)TGO, TGP! Função da Coagulação --> TAP, TTP