A INTERDISCIPLINARIEDADE NO TRATAMENTO DO RECÉM

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A INTERDISCIPLINARIEDADE NO TRATAMENTO DO RECÉM-NASCIDO
COM ICTERÍCIA
Grassele Denardini Facin Diefenbach1
Patrícia Bitencourt Toscani2
O avanço da tecnologia e da ciência tem causado mudanças na humanidade,
sendo também responsável pela insegurança e reavaliação da forma de pensar
e agir. Os cuidados ao recém-nascido vêm mudando, implicando em
treinamento especializado. Para melhor adaptação a estas condições, o
enfermeiro juntamente com a equipe interdisciplinar precisa pensar de modo
crítico, avaliar acuradamente e intervir com eficácia, além de ter consciência do
grau de complexidade e exigência destes pequeninos frente à equipe. Uma
situação comum em crianças, durante a primeira semana de vida, é a
hiperbilirrubinemia, exigindo cuidados especiais da equipe de enfermagem. As
hemácias são responsáveis por transportar oxigênio aos tecidos. Ao término de
sua vida são destruídas no baço e seus componentes são reaproveitados na
produção de novas hemácias. Nessa destruição, a hemoglobina é quebrada
em partes menores, onde uma de suas partes é convertida em bilirrubina, a
qual é capturada pelo fígado e, após sofrer alguns processos, é excretada
através da bile. Quando alguma parte de todo esse complexo sistema está
afetada, pode ocorrer icterícia. Quando a icterícia ocorre sem a presença de
alguma doença, é chamada fisiológica. Porém, em alguns, casos decorre de
alguma patologia, devendo ser corretamente identificada, para permitir o
tratamento adequado. A bilirrubina é um produto final do catabolismo dos
aminoácidos e hemoproteínas, sendo, sendo formada principalmente pelo
catabolismo da hemoglobina. Os locais de formação da bilirrubina são o baço e
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Enfermeira. Especialista em Interdisciplinariedade em Terapia Intensiva com ênfase em oncologia.
Professora da Universidade Federal de Santa Maria – RS e docente do curso de Graduação da
Enfermagem da Faculdade Santa Clara – FASCLA – Santa Maria - RS Endereço. Av. João Machado
Soares 1240 Bloco B3 ap. 115, Bairro Camobi, Santa Maria, RS. CEP: 97110-000. Endereço eletrônico:
[email protected]
2
Enfermeira. Especialista em Interdisciplinariedade em Terapia Intensiva com ênfase em oncologia.
Enfermeira do CAPSI da Secretaria de Saúde de Santiago-RS, e docente do curso Técnico de
enfermagem da Universidade Reginal Integrada – URI – Santiago – RS.
o fígado.Segundo Martin e Cloherty (2004), o nível sérico de bilirrubina no
adulto é menor que 1 mg/dl. O aparecimento da icterícia no adulto acontece
quando o valor da bilirrubina é maior que 2 mg/dl e em recém-nascidos, a partir
de 7 mg/dl. No entanto, uma parcela da icterícia neonatal se dá através de
desordens do metabolismo da bilirrubina, ou, secundariamente, as doenças
que dificultam a excreção de sua forma conjugada, por isso, a necessidade de
identificá-la como um sinal clínico, que, bem interpretado, levará ao diagnóstico
precoce de uma doença associada. Entre as muitas funções homeostáticas do
fígado, está a capacidade de excretar metabólitos, como amônia e bilirrubina.
Portanto se a maturidade enzimática encontrar-se comprometida, acumular-seão metabólitos surgindo assim a hiperbilirrubinemia. Normalmente o neonato
apresenta elevação da bilirrubina não conjugada nas primeiras 48/72 horas
após o nascimento, conhecida como icterícia fisiológica. Ao exame físico, a
icterícia é detectada comprimindo-se a pele com o dedo para observar sua cor
e a dos tecidos subcutâneos. Progride na direção cefalocaudal e os níveis mais
altos de bilirrubina estão associados à icterícia abaixo dos joelhos e nas mãos.
De acordo com Kunner (2004), a icterícia patológica pode se originar de
condições como incompatibilidade sanguínea ABO ou Rh; anormalidades
hepáticas; biliares ou metabólicas; ou infecção.Existe ainda a icterícia do leite
materno que, para Martin e Cloherty (2004), tem início tardio. Cabe ressaltar a
existência da icterícia da amamentação, onde se acredita que o principal fator
responsável pelo seu aparecimento, seja a ingestão diminuída de leite, que
intensifica a circulação entero-hepática.Portanto, ao cuidar de um recém
nascido, precisamos estar atentos a diversas informações, sintomas,
mudanças de comportamento, entre outras. Desde muitos anos, a preocupação
com a integração dos saberes vem sendo estudada, devido à proliferação do
conhecimento, se formar e transformar rapidamente, porém dividido em áreas
isoladas,
o
que
se
denomina
de
disciplinaridade.
O
conceito
de
interdisciplinaridade surgiu no século XX e só a partir daí começou a ser
enfatizado como necessidade de transcender o conhecimento fragmentado,
embora tenha existido sempre a idéia, em maior ou menor grau, da união do
saber. Nessa mesma época os profissionais da saúde trabalhavam com o
modelo fragmentador do conhecimento (VILELA; MENDES, 2003). No caso da
interdisciplinaridade para os profissionais da saúde, deve-se levar em
consideração a complexidade dessa área de atuação, pois apesar de não
possuir um sentido único pode ser caracterizada como a troca de saber entre
os especialistas e pelo grau de integração real entre os profissionais da área da
saúde, como também a reciprocidade, mutualidade, ou seja, substituição da
concepção fragmentária para unitária do ser humano. Um projeto de cunho
interdisciplinar envolve a colaboração entre os assistentes, visando um
conhecimento do todo; tal complexidade se acentua quando se procura
entender a saúde do paciente como um todo; portanto, é fundamental tomar a
interdisciplinaridade como um processo e também uma filosofia de trabalho,
que é tomada na hora de enfrentar problemas e questões que preocupam o
indivíduo. A visão do adoecer em vez de multi-fatorial, com a visão disciplinar,
passa a ter seu valor apenas como causalidade única. Para tanto a
interdisciplinaridade vem propor o questionamento nas relações, no sentido do
interagir, do comunicar, do trocar, do agir comunicativo e da suspeita crítica,
além de reafirmar a importância das diferenças, da individualidade e
especificidade nas relações profissional de saúde – paciente e interprofissional. A interdisciplinaridade, portanto, é um desafio, já que investe na
formação de vínculos e laços sociais, além de propor uma ação conjunta entre
os profissionais para que, na convivência, surja o aprendizado e, com isso,
uma mudança de referencial teórico prático de cada categoria profissional, que
com a articulação entre os saberes faz com que ocorra uma visão mais integral
e compreensiva do binômio saúde-doença, sendo também cobrada a
competência na área específica de atuação, porém, antes mesmo que a
interdisciplinaridade praticada no externo ocorra, ela tem que ser sentida dentro
do sujeito, pela presença na falta e, conseqüentemente, fazendo com que
busque no outro algo que possa completá-lo (CASTRO, 2007). Segundo
Santos e Sebastiani (2003), uma equipe interdisciplinar engloba: médicos,
residentes, acadêmicos, enfermeiros, assistentes sociais, fisioterapeutas,
nutricionistas, psicólogos, entre outros profissionais que devem atuar junto aos
pacientes e familiares, que por serem especialistas em suas áreas de atuação,
vem gerando um problema importante para o familiar, pois gera uma leitura
dicotomizada da pessoa enferma. A melhor maneira de um paciente cooperar
com a equipe de saúde depende da forma e do grau de respeito e confiança
que a mesma demonstra em relação ao paciente. Complementando com os
autores acima citados, Leão (2002) afirma que, o hospital é constituído por um
modelo que influencia a conduta de todos os profissionais que nele atuam, ou
seja, além daqueles que assistem diretamente o paciente, há também todo o
corpo de funcionários do hospital, que de certa forma proporcionam conforto e
bem estar aos enfermos. Quanto ao grau de confiança, essa deve ser adquirida
mediante conversa e disciplina da equipe, o enfermo deve ser abordado durante
todo o tratamento, e suas dúvidas discutidas constantemente entre a equipe, até
que suas dúvidas possam ser sanadas, e para obter melhores resultados a
família, que se num primeiro momento não se encontra com os profissionais, deve
ser convidada a participar e se reunir com a equipe em um segundo momento.
Sabe-se que à medida que o cliente se sente ameaçado, frente seus sinais vitais, a
dor, localização e tipo de sintomas determinantes da doença, tem seu
comportamento influenciado, esperando da equipe compreensão e respeito,
cabendo muitas vezes a equipe tomar a iniciativa de favorecer a comunicação com
o doente, contribuindo com este para o reconhecimento dos seus próprios
problemas, comunicando assim suas necessidades. “É através da interação que o
profissional poderá validar a hipótese para que suas atitudes não se tornem
automáticas” (LEÃO, 2002, p.142). É com o diálogo contínuo e a conduta
profissional comprometida com a ação, que se deve consertar algumas distorções,
permitindo que o cliente expresse suas fantasias e discuta suas expectativas. Para
muitos pacientes, nos quais a doença em si, o medo da evolução da
enfermidade e até mesmo da morte, além de todas suas angústias, a falta de
significado e do alívio da dor, podem evoluir para altos níveis de ansiedade e
até mesmo depressão. Toda a equipe deve rever suas condutas e avaliar suas
concepções, assumindo assim, sua responsabilidade frente ao paciente. É de
suma importância para equipe multidisciplinar, a interdisciplinaridade, a
disposição de tempo para compreender e interagir com o paciente. A relação
da equipe é considerada um veículo pelo qual a terapêutica será estabelecida.
“O aprimoramento técnico faz dos profissionais exímios detentores do saber;
mas é o paciente quem oferece oportunidade ímpar de particularização e de
fazer uso da técnica como instrumento útil de atendimento humanizador. Do
contrário, estaria se preconizando a morte também nas relações (LEÃO, 2002,
p. 147)”. Dessa forma podemos afirmar para os cuidadores de neonatos a
necessidade constante de atualização e interação entre os profissionais da
área, a fim da manutenção dos cuidados que devem ser dispensados a esses
pacientes, uma vez que, entre as características especiais que apresentam,
está a impossibilidade de comunicação, o que dificulta a tomada de decisão
ante os sinais que apresentam. Especialmente, no caso do diagnóstico de
hiperbilirrubinemia – o qual ocorre através de sinais de icterícia – torna-se
necessário, a interdisciplinariedade proporcionando mais segurança na
diferença de diagnósticos entre icterícia fisiológica ou patológica e ainda
conduz a um tratamento de acordo com as necessidades deste usuário,
possibilitando a soma de olhares das especialidades, resultando em uma
assistência mais humana e integral.
Palavras-chave:
Interdisciplinariedade,
Relações
de
trabalho,
hiperbilirrubinemia, icterícia
Área Temática: Relações de trabalho: ética e subjetividade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CASTRO, José R. Siqueira. Interdisciplinaridade na saúde. Associação
Brasileira de Medicina Psicossomática-ABMP. 2007. Disponível em:
<http://www.psicossomatica.org.br>. Acesso em: 7 mar. 2007
KUNNER, Carole. Enfermagem Neonatal. 2ª ed. Rio de Janeiro: Guanabara
Koogan, 2004.
LEÃO, Nilza. O Paciente Terminal e a Equipe Interdisciplinar. In: ROMANO,
B. Wilma (Org.). A Prática da Psicologia nos Hospitais. São Paulo: Pioneira,
2002
MARTIN, Camila R. & CLOHERTY, John P. Manual de Neonatologia. 5ª ed.
Rio de janeiro: Guanabara Koogan, 2004.
SANTOS, Cláudia T. dos; SEBASTIANI, Ricardo W. Acompanhamento
psicológico à pessoa portadora de doença Crônica. In: CAMON, Valdemar
A. Angerami (Org.). E a psicologia entrou no hospital. São Paulo: Pioneira,
2003.
VILELA, Elaine Morelato; MENDES, Iranilde José Messias. Interdisciplinaridade
e saúde: estudo bibliográfico. Rev. Latino-Am. Enfermagem., Ribeirão Preto,
v. 11, n. 4, 2003. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo>. Acesso em: 8
Mar. 2007.
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