A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL
MODALIDADE A DISTÂNCIA
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO
A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL NOS CONSELHOS
MUNICIPAIS DE ARARUNA: Exercício de Cidadania?
Ednia Patricia Silvestre dos Santos
Pós-graduando lato sensu Gestão Pública Municipal – UFPB
Rosângela Palhano Ramalho
Professor do Departamento de Economia - UFPB
RESUMO
A Constituição de 1988 propiciou a ampliação dos espaços de participação popular,
permitindo a esse segmento um papel de destaque na gestão das políticas públicas. O
presente artigo aborda a participação da sociedade civil nos Conselhos Municipais de
Araruna, na perspectiva de conhecer como vem se constituindo a representação da
sociedade civil nesses conselhos. Além disso, o trabalho tem como objetivos específicos:
Investigar os métodos utilizados para inserção dos representantes da sociedade civil,
averiguar se existe capacitação para esse segmento e analisar se há uma participação efetiva
por parte desses representantes. Utilizou-se a metodologia de estudo de caso na linha
qualitativa, o instrumento para coleta de dados foi à entrevista semiestruturada, com a
participação de 08 conselheiros representantes da sociedade civil, que atuam no Conselho
de Assistência Social, Conselho de Saúde, Conselho dos Direitos da Criança e do
Adolescente e Conselho de Educação. Constatou-se que a inserção desses ocorre
basicamente por indicação. Verificou-se ainda que poucos representantes da sociedade civil
receberam capacitação para exercerem suas atribuições, e que a maioria não participa
ativamente nesses espaço. Tendo em vista que os conselhos são um dos principais
instrumentos de participação democrática, afirma-se a importância de representantes
capacitados, escolhidos de forma democrática e que participem efetivamente dos debates e
decisões para o exercício de uma cidadania ativa que priorize a defesa dos interesses
coletivos.
Palavras-chave: Participação, Sociedade civil, Conselhos Municipais, Cidadania.
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1 – INTRODUÇÃO
Com os avanços obtidos com a Constituição de 1988 houve a intensificação da
participação da sociedade civil na gestão das políticas públicas. Os conselhos municipais,
como as conferências e os fóruns representam um espaço privilegiado para a participação
popular na elaboração, implementação e fiscalização das ações governamentais, além de
permitirem o fortalecimento da relação Estado e Sociedade.
Esses conselhos têm como base a participação social, a democracia, a
universalização dos direitos e a ampliação da cidadania. Entretanto, para que esse
mecanismo funcione efetivamente como órgão de controle social é preciso que a sociedade
civil seja atuante, conhecedora de suas atribuições e que se imponha diante das situações
que exijam sua intervenção. Os representantes da sociedade civil devem trazer legitimidade
as decisões tomadas nesses espaços, e dessa forma, construir uma representação que
contribua para o atendimento das necessidades e interesses dos diversos segmentos sociais.
Nesse sentido, a proposta desse artigo é conhecer como vem se constituindo a
participação da sociedade civil nos conselhos municipais do município de Araruna- PB no
intuito de responder a seguinte pergunta: Será que essa participação está reproduzindo e
fortalecendo o exercício da cidadania? Assim, pretende-se investigar o método utilizado
para inserção dos representantes da sociedade civil, se este acontece por meio de eleição,
indicação, ou seja, quais são os critérios de escolha. Averiguar se ocorrem capacitações
para esse segmento, de modo que suas atribuições sejam desempenhadas com clareza,
responsabilidade e transparência visando o interesse da coletividade. E analisar o
envolvimento desses representantes nos debates e discussões, enfim, verificar se há uma
participação efetiva.
O texto está dividido em quatro partes, a primeira trata da participação social, do
seu processo de ampliação após a Constituição Federal de 1988, do controle social como
exercício de cidadania e dos Conselhos Municipais como espaços democráticos que
permitem a intervenção da sociedade civil nas ações da gestão municipal. A segunda
apresenta os procedimentos metodológicos utilizados para realização desse estudo:
métodos, instrumentos de pesquisa e análises de dados. A terceira parte do trabalho expõe a
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análise dos resultados, demonstrando como foram formados os Conselhos Municipais de
Araruna e os principais resultados do estudo de caso realizado junto a esses conselhos. Por
fim, apresentam-se as conclusões acerca das questões abordadas.
2 - FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 Participação Social
Participar é se envolver, discutir, propor e compartilhar ideias. Como afirma Demo
(1996) participação é um processo de conquista que “supõe compromisso, envolvimento,
presença em ações por vezes arriscadas e até temerárias”. (DEMO,1996, p. 19- 20)
A participação social exige iniciativa, pois é essencial que o cidadão opine e
participe efetivamente das políticas, ações e serviços públicos dos quais são beneficiários.
De acordo com Bravo (2007) a participação social é entendida como a gestão nas políticas
por meio do planejamento e fiscalização desenvolvidos pela sociedade civil organizada em
órgãos e serviços do Estado responsáveis pela elaboração e gestão das políticas públicas.
Valla citado por Presoto e Westphal (2005, p. 2) afirma que a participação é o instrumento
de governo mais adequado para construir um regime democrático, cabendo ao Estado
instituir mecanismos participativos no intuito de introduzir a população nos programas de
governo local.
Foi no período ditatorial no Brasil, em meio à repressão e o autoritarismo que a
população organizada passou a reivindicar pelo fim da opressão e por um regime
democrático. Movimentos sociais, ONG’s, sindicatos e outros segmentos populares
começaram a se mobilizar pela redemocratização do país. O processo de participação social
evidenciado na década de 1970 se estendeu até a década de 1980, quando houve a
ampliação da participação social com o processo de redemocratização do país, resultando
na construção e aprovação da Carta Constitucional de 1988. No período mencionado,
setores populares se uniram com o mesmo propósito de que a Constituição Federal de 1988
conferisse questões de interesse das classes populares. (FERREIRA, 2005)
Para Ciconello (2008) apesar do controle e das restrições à liberdade de expressão
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vivenciada na ditadura militar no Brasil onde a participação da população era limitada e
desencorajada, floresceu uma pluralidade de experiências participativas e emancipatórias,
experiências estas que ganharam amplitude após a promulgação da Constituição de 1988.
Esta instituiu uma série de princípios e diretrizes sobre a participação dos cidadãos,
regulamentado e operacionalizando diversos mecanismos nas três esferas (União, Estados e
Municípios).
Com a Constituição Federal de 1988 a participação social no sistema político
brasileiro tornou-se um fato, a sociedade civil organizada pode participar da implantação e
gestão das políticas públicas, assumindo uma interlocução com o governo, não apenas para
garantia de direitos, mas para dividir as responsabilidades nas decisões públicas.
A
“Constituição Cidadã” como ficou conhecida possibilitou a instituição de mecanismos de
participação e da ampliação de espaços democráticos. Simões (2007) afirma que a
participação popular é um meio de controle social, desempenhado pela sociedade civil, para
assegurar os direitos sociais e superar os mecanismos tradicionais de controle técnicoburocrático, sendo condição fundamental para a descentralização.
2.2 Controle Social e Cidadania
Segundo Carvalho citado por Oliveira (1999, p. 9) o exercício do controle social
está intrinsecamente ligado ao modelo de gestão da política. Somente por meio de uma
gestão participativa e descentralizada ocorre o exercício pleno do controle social. Para
Oliveira “o controle social é exercido sobre e na esfera pública, entende-se então, que todos
os cidadãos são, a princípio, detentores do poder de controlar. Isso supõe apropriação tanto
pelo conhecimento quanto pela participação das decisões e ações públicas”. (OLIVEIRA,
1999, p.9)
Contudo, para que os cidadãos exercitem o poder de controlar, precisam e devem
ser conhecedores dos seus direitos. Marschall citado por Amorim aponta três tipos de
direitos:
Os direitos civis, aqueles direitos que asseguram as liberdades individuais;
os direitos políticos, aqueles que garantem a participação dos cidadãos no
exercício do poder políticos; e os direitos sociais, aqueles que asseguram
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o acesso a um mínimo de bem-estar material. (MARSCHALL apud
AMORIM, 2007, p. 2)
Para o autor a ideia de cidadania refere-se à consolidação desses direitos,
caracterizando uma condição de inclusão e pertencimento dos cidadãos a comunidade
política. Diante desse pressuposto, entende-se que o cidadão tem o direito de se organizar,
de expressar sua opinião e interesses, de participar das decisões políticas, exercitando
plenamente sua cidadania. Entretanto, para uma construção contínua da cidadania é
fundamental que haja estimulo e condições favoráveis de participação social.
(MARSCHALL apud AMORIM, 2007).
Um dos principais espaços para construção e efetivação da participação social são
os conselhos municipais. Esses conselhos conforme Salles:
Dizem respeito à dimensão da cidadania, à universalização de direitos
sociais e à garantia ao exercício desses direitos, zelando pela vigência
desses direitos, garantindo sua inscrição ou inspiração na formulação das
políticas e seu respeito na sua execução (SALLES, 2010, p. 49).
O autor destaca a amplitude dos conselhos e como estes interferem para a garantia
dos direitos sociais. Os conselhos são importantes espaços democráticos que permitem a
sociedade civil ser protagonista do processo de consolidação da democratização no país e
da luta pela efetivação da descentralização das políticas sociais.
2. 3 Os Conselhos Municipais como espaços democráticos
Baseada nos princípios de descentralização e de democracia, a Constituição de 1988
propiciou a criação de mecanismos de participação popular na gestão municipal. Um desses
mecanismos são os conselhos gestores de políticas públicas, órgãos que permitem que a
sociedade civil participe da formulação, implementação e controle das políticas públicas.
Segundo Gerschman (2004) esses conselhos foram incorporados à Constituição, com o
propósito de se tornarem canais efetivos de participação da sociedade civil e como formas
inovadoras de gestão pública, a fim de possibilitar o exercício de uma cidadania ativa.
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Os conselhos gestores de políticas públicas apresentam-se como espaços públicos
de composição plural e paritária entre Estado e sociedade civil, de natureza deliberativa e
consultiva. Nesses espaços, a população assume o papel de co-gestor da administração
pública, à medida que pode opinar, discutir e deliberar sobre as ações da gestão municipal.
A participação contínua da sociedade civil na gestão pública é um direito garantido
constitucionalmente, possibilitando ao cidadão não apenas sua participação na formulação
das políticas públicas, mas a fiscalização rigorosa da aplicação dos recursos públicos.
(PORTAL DA TRANPARÊNCIA DO GOVERNO FEDERAL)
Para Reichelis “Os conselhos são canais importantes de participação coletiva e de
criação de novas relações políticas entre governo e cidadãos, e, principalmente, de
construção de um processo continuado de interlocução pública”. (REICHELIS, 2008, p.83)
Nos conselhos, a população de forma conjunta com o órgão gestor, mas com autonomia,
pode atuar na formulação, monitoramento, avaliação e deliberação das políticas públicas.
Como expressa Bravo, os Conselhos Municipais:
Devem ser visualizados como locus do fazer político, como espaço
contraditório, como uma nova modalidade de participação, ou seja, a
construção de uma cultura alicerçada nos pilares da democracia
participativa e na possibilidade de construção da democracia de massas
(BRAVO, 2007, p. 47 - 48).
Como preconiza a autora, os conselhos municipais devem assumir-se como espaço
de contradições que busca interagir com o governo de forma construtiva. Behring e
Boschetti citado por Faquin e Paulilo (2009, p. 10) enfatizam que os conselhos apesar de
apresentarem potencialidades como arenas de negociação de propostas e ações, enfrentam
dificuldades de realização dos mecanismos de participação e para atuarem de forma efetiva.
Percebe-se que a atuação efetiva dos conselhos está diretamente relacionada à
capacidade de representação dos conselheiros frente aos interesses da coletividade e a
interlocução com os segmentos representados e com o poder público. Cabe destacar que os
conselheiros que atuam nesses espaços devem desenvolver sua prática e discurso voltado
para o compromisso com a cidadania, dando assim, mérito ao seu poder de intervenção
frente à esfera pública. (ARRUDA E KOCOUREK, 2008)
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Os representantes da sociedade civil têm papel de destaque nos conselhos, pois
como salienta Presoto e Westphal:
A participação da sociedade civil organizada em conselhos permite o
exercício do controle social sobre as políticas governamentais, a
formulação e proposição de diretrizes, o estabelecimento de meios e
prioridades de atuação voltadas para o atendimento das necessidades e
interesses dos diversos segmentos sociais, a avaliação das ações e a
negociação do direcionamento dos recursos financeiros existentes
(PRESOTO e WESTPHAL, 2005, P.3).
Entretanto, para concretização dessa potencialidade que é a representação da
sociedade civil nos conselhos, esses representantes devem ser eleitos de forma democrática,
em fórum ou assembléia especialmente instituídos para esse fim, suas atribuições não
devem ser impostas pelas instituições as quais representam, esses precisam desenvolver
suas ações com autonomia tendo clareza sobre a importância social de sua função para não
banalizá-la.
Como explicita Arruda e Kocourek (2008) há uma extrema necessidade de
formação continuada para esses conselheiros, orientando a estes em suas ações e nos
princípios democráticos e éticos, despertando-os para um posicionamento político e
consciente já que esses ocupam o lugar de representantes.
3 - PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A pesquisa foi realizada em Araruna, município com 18.886 habitantes, localizado
na microrregião do Curimataú Oriental do Estado da Paraíba, entre os meses de setembro a
novembro de 2011, com os representantes da sociedade civil que participam dos Conselhos
Municipais, especificamente, os Conselhos dos Direitos da Criança e do Adolescente,
Conselho de Assistência Social , Conselho de Educação e Conselho de Saúde. A ideia
inicial era investigar apenas um conselho, porém, depois de constatarmos que nos
conselhos do município havia poucos representantes da sociedade civil, uma média de três
representantes por conselho, decidimos em ampliar a pesquisa investigando quatro
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conselhos municipais, a fim de obtermos dados mais precisos sobre a participação dos
representantes da sociedade civil.
Para viabilizar o presente estudo, foi feita uma pesquisa bibliográfica e o estudo de
caso a fim de conhecermos com profundidade a realidade que envolve o processo de
participação social nos conselhos municipais, como também, a pesquisa documental
centrada na análise das atas e arquivos dos conselhos municipais. Como instrumento de
pesquisa, empregamos a entrevista semiestruturada previamente elaborada para obtenção
das informações necessárias ao estudo de caso. Utilizamos uma abordagem qualitativa, haja
vista que “a abordagem qualitativa de um problema além de ser uma opção do investigador,
justifica-se, sobretudo, por ser uma forma adequada para entender a natureza de um
fenômeno social.” (RICHARDSON, 1991, p.79) No entanto, fez-se necessário a utilização
de dados quantitativos para organização de informações.
O grupo de sujeitos da pesquisa foram 08 conselheiros representantes da sociedade
civil que atuam no Conselho de Assistência Social, Conselho de Saúde, Conselho dos
Direitos da Criança e do Adolescente e Conselho da Educação da cidade de Araruna – PB.
Estes foram escolhidos através de amostra do tipo aleatória e intencional. As amostras
intencionais são utilizadas “quando o pesquisador quer obter a opinião de certas pessoas,
não necessariamente representativas do universo todo, mas de parte dele”. (Capacitação em
Serviços Social e Política Social, 2001, p. 25) Foram escolhidos dois representantes de cada
conselho, os que estavam disponíveis a contribuir com o presente estudo e atendendo os
pressupostos conceituais da pesquisa.
Para a elaboração das informações qualitativas, utilizamos a análise de conteúdo,
visando à compreensão dos depoimentos dos sujeitos pesquisados, relacionamos os dados
obtidos com os objetivos da pesquisa e com a teoria de sustentação no intuito de
realizarmos as conclusões e recomendações relevantes. Para a organização do estudo,
primeiramente, realizamos pesquisas referentes ao tema, seleção e leitura de bibliografia
pertinente, em seguida, levantamento dos dados com aplicação de entrevista e a análise
desses e por último, ajustes e conclusão do texto.
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4 - ANÁLISE DE RESULTADOS
4.1 Os Conselhos Municipais de Araruna
Os Conselhos Municipais de Araruna foram criados entre os anos de 1997 e 2007, o
Conselho de Saúde através da Lei nº 05/1997, o de Assistência Social pela Lei nº 70/1997,
já o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente foi instituído pela Lei nº 22/1999 e
o Conselho de Educação por meio da Lei nº 17/2007. De início, foram constituídas
comissões para discussão e elaboração de proposta de anteprojeto de criação de conselho,
apresentada ao Prefeito que encaminhou o anteprojeto ao Poder Legislativo para após
discussão, ser transformado em lei. Depois da criação, houve a formação da composição
dos conselhos, elaboração e aprovação do Regimento Interno. Em relação à escolha dos
representantes governamentais e da sociedade civil, esta ocorre em sua grande maioria por
meio de indicação. De acordo com informações repassadas pelos conselhos municipais, a
escolha dos representantes da sociedade civil se dá por meio do envio de ofício para as
entidades que, por sua vez, indicam seus representantes.
Atualmente todos os conselhos existentes no município encontram-se instalados em
um único lugar, chamado de casa dos conselhos. A instalação fixa foi cedida pelo Poder
Público Municipal, apresenta boa estrutura física com condições básicas para o
funcionamento dos conselhos municipais.
4.2 Constatações da Pesquisa
A seguir são apresentados os resultados da pesquisa realizada no município de
Araruna com 08 representantes da sociedade civil que participam dos conselhos municipais.
Em relação ao perfil dos representantes da sociedade civil, o estudo demonstrou que
62,5% dos entrevistados são do sexo masculino e 37,5% do sexo feminino, sendo que 25%
possuem idade entre 20 e 29 anos; 12,5%, entre 30 e 39 anos; 37,5% estão na faixa etária
compreendida entre 40 e 49 anos; 12,5% entre 50 e 59 anos; e 12,5% possuem idade acima
de 60 anos.
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Referente ao nível de instrução, 50% dos entrevistados possui 3º grau incompleto;
12,5% possui 3º grau completo; 12,5% possui especialização e 25% afirmaram terem 2º
grau completo. Os conselheiros apresentam um bom nível de escolarização, visto que todos
os entrevistados possuem a conclusão do 2º grau, não sendo identificado nenhum caso de
nível de instrução inferior a esse.
No quesito profissões evidenciou-se a diversificação: estudante com 25% e
autônomo, também com o percentual de 25% são as mais encontradas. Os 50% restantes
estão distribuídas em profissões diversas.
Quanto à instituição representada no conselho: 50% afirmaram ser representantes de
associações; 37,5% de igrejas evangélicas e católicas e 12,5% de sindicatos. Observa-se
que a representação das entidades religiosas nos conselhos foi maior que a representação
sindical.
No tocante ao tempo de participação dos representantes da sociedade civil nos
conselhos municipais, 37,5% dos conselheiros participam há 2 anos; 37,5% há 3 anos;
enquanto 12,5% estão há 4 anos e 12,5% há cinco anos. Nota-se a pouca renovação de
conselheiros, porém, cabe ressaltar que alguns dos conselhos pesquisados realizarão
renovações de conselheiros até o ano de 2012. Essa pouca rotatividade dos representantes
da sociedade civil apresenta aspectos positivos e negativos.
Como afirma Silva, Bredemeir e Valenzuela (2006) o aspecto positivo seria as
experiências adquiridas nos conselhos que ampliam as possibilidades de participação ativa
desses representantes. E o aspecto negativo é a potencialização de ações burocráticas e
conservadoras. Observamos ainda com que a participação desses representantes ocorre
mais internamente nas reuniões dos conselhos. Além disso, há pouca articulação entre os
conselhos e destes com a política local.
“Quase não existe articulação entre conselhos e gestão municipal.”
(Entrevistada A)
Concernente à forma de escolha dos conselheiros, os resultados mostram que 87,5%
dos entrevistados foram indicados e 12,5% ocorreram por outra forma, não revelada pelo
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entrevistado. Constata-se que não existem critérios definidos para escolha dos
representantes da sociedade civil e que a inserção desses não ocorre de forma democrática,
sendo a indicação o método predominante de escolha.
Sobre o quesito capacitação, 87,5% dos entrevistados afirmaram que não
participaram de nenhuma capacitação antes de sua inserção no conselho, enquanto 12,5%
disseram ter realizado capacitação. Quando indagados se receberam capacitação durante o
período de atuação no conselho, 75% relataram que não receberam e 25% disseram ter
recebido, mas apenas uma até a presente data.
Quando questionados sobre o que entendiam por controle social, alguns dos
entrevistados demonstraram clareza sobre o assunto em suas respostas, como por exemplo:
“Controle Social é poder opinar sobre os problemas que afetam a
sociedade”. (Entrevistada A).
“É o exercício da cidadania, é o controle dos recursos públicos”.
(Entrevistada E)
“O Controle Social passa pelo funcionamento dos Conselhos, porém,
esse controle só funciona com representação da sociedade”.
(Entrevistada G)
“É a avaliação da sociedade”. (Entrevistado C)
Enquanto outros conselheiros demonstraram pouco conhecimento sobre o
significado de controle social, consequências das poucas ou nenhuma capacitação
realizadas por estes conselheiros:
“Eu entendo que controle social são os conselhos”. (Entrevistado D)
“São Políticas Públicas direcionadas para problemas sociais”.
(Entrevistado H)
Quando solicitamos para os entrevistados avaliarem sua participação e
envolvimento no conselho, a minoria avaliou positivamente:
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“Acredito que contribuo e participo dos debates”. (Entrevistado C)
“Tenho participado expressando minha opinião”. (Entrevistado H)
“Contribuo para formação de ideias e de projetos”.( Entrevistado D)
Para a maior parte dos respondentes não houve participação efetiva desses no
conselho, como confirma as falas seguintes:
“Participava das discussões, mas como não via a concretização das
propostas debatidas, deixei de lado”. (Entrevistada A)
“Não participo efetivamente, por falta de conhecimento de minhas
atribuições, ainda não participei de nenhuma capacitação”.
(Entrevistado B)
“Não participo, acho que poderia me envolver mais nos debates”.
(Entrevistada G)
“Tenho dado minha contribuição nas discussões, mais acredito que
poderia participar mais”. (Entrevistado F)
Evidencia-se com os relatos que a falta de capacitação dos conselheiros, de
conhecimento sobre suas atribuições compromete a capacidade de representação desses,
além disso, observamos o desestimulo de alguns entrevistados em relação a sua atuação.
No entanto, todos os representantes afirmaram que os conselhos municipais são
importantes espaços para o exercício da cidadania. Como expresso nos relatos:
“É o único espaço onde podemos lutar pelos nossos direitos”.
(Entrevistada E)
“Nos conselhos a sociedade se faz presente nos assuntos do
município”. (Entrevistado H)
“São importantes para o exercício da cidadania, porém, devem
funcionar de fato”. (Entrevistada G)
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Nota-se com as falas, que os conselheiros acreditam serem os conselhos
fundamentais para o exercício da cidadania, apesar da maioria avaliar negativamente sua
representação nesses espaços, ou seja, são importantes para o exercício da cidadania, mas
os próprios conselheiros não exercitam plenamente essa cidadania, à medida que a
participação desses é limitada. Arruda e Kocourek afirma que a prática e o discurso dos
conselheiros devem “articular pressupostos de cidadania, valorizando seu poder de
intervenção na esfera pública”. (ARRUDA E KOCOUREK, 2008, p. 6)
Nesse sentido, entende-se que o exercício da cidadania nos órgãos de controle social
só ocorre plenamente quando há compreensão por parte dos conselheiros sobre a relevância
social de sua participação, à medida que esses conhecem seus direitos e deveres, expressam
suas opiniões e atuam com compromisso e responsabilidade.
A pesquisa procurou conhecer também a opinião dos representantes da sociedade
civil sobre os desafios encontrados para efetivação e participação do órgão de controle
social, esses destacaram:
“A falta de conscientização da população e divulgação dos órgãos de
controle social”. (Entrevistado F)
“O fato desses órgãos não remunerarem e falta de conscientização
da população”. (Entrevistado B)
“Burocracia nas ações, falta de mobilização social”. (Entrevistado
C)
“Falta de estimulo para participar”. (Entrevistada G)
Os relatos demonstram que um dos principais desafios seria a falta de conhecimento
da população sobre esses órgãos e conscientização popular sobre a relevância da
participação social. “Só nos tornamos conscientes à proporção que obtemos informações
para reflexões críticas e continuas”. (ARRUDA E KOCOUREK, 2008, p. 7)
Ainda foram citados como desafios a não remuneração dos conselheiros a questão
da burocracia nas ações a serem realizadas pelos conselhos e a falta de estimulo dos
cidadãos em participar.
Percebe-se claramente, que os avanços obtidos com a instituição dos órgãos de
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controle social, como os conselhos municipais, foram fundamentais para que houvesse o
envolvimento direto da sociedade civil organizada nas ações da política local, entretanto,
evidencia-se ainda algumas limitações como: a falta de conscientização da população sobre
os órgãos de controle social, representantes da sociedade civil descrentes com sua atuação
nesses espaços e sem incentivo para propor e buscar mudanças, escassas iniciativas do
poder público para mobilizar, estimular e valorizar a participação social, entre outras.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nos últimos anos temos presenciado a ampliação de práticas participativas, com o
envolvimento direto dos cidadãos nas ações da esfera pública, na perspectiva que as
questões de interesse coletivo sejam priorizadas e atendidas. É em nível municipal que
essas práticas ocorrem com maior intensidade, visto que, é nesse âmbito onde os problemas
enfrentados pela sociedade podem ser melhor visualizados.
Os Conselhos Municipais são espaços primordiais para consolidação dessa
participação social, como também, para reprodução e fortalecimento da cidadania. São
nesses espaços que a população pode e deve lutar pela efetivação dos seus direitos, porém,
essa deve ser também conhecedora de seus deveres e em conjunto com o governo local ser
responsável pela gestão das políticas públicas. Uma atuação ativa dos representantes da
sociedade civil nos conselhos significa exercitar a cidadania. Por meio de uma
representação democrática e comprometida é possível estabelecer mudanças para
transformar a realidade vivenciada por diversos segmentos sociais.
Com o estudo realizado com os representantes da sociedade civil que participam dos
Conselhos Municipais de Araruna, podemos identificar situações que comprometem a
efetivação da participação desses conselheiros.
A escolha dos representantes da sociedade civil não vem ocorrendo de modo
democrático, por meio de eleição, em quase todos os casos é feita por indicação. Constatouse também que são poucos os conselheiros que participam de cursos de capacitação, fato
preocupante, pois a falta de conhecimento sobre suas atribuições, como também, sobre
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assuntos pertinentes a cada conselho prejudica a atuação desses. Verificou-se ainda que a
maioria dos representantes da sociedade civil não participa efetivamente nos conselhos,
mesmo acreditando na importância destes para o exercício da cidadania.
Para superar os problemas mencionados, é preciso primeiramente que haja
conscientização por parte da sociedade civil e da relevância de sua participação nos
Conselhos Municipais. Cabe à esfera pública ampliar a divulgação desses órgãos, como
também, dos demais mecanismos de controle social, para que a população seja conhecedora
do seu direito e dever de participar como beneficiária direta das ações municipais.
A inserção dos representantes da sociedade civil nos conselhos deve ser assegurada
e definida de forma democrática, a fim de impor comprometimento aos conselheiros, já que
estes representam diversos segmentos sociais. É fundamental também a realização de
cursos de capacitação no intuito dos conselheiros terem acesso a informações pertinentes a
cada conselho e conhecimento sobre suas atribuições, para desempenhá-las com clareza e
responsabilidade.
A interlocução entre conselheiros, segmentos representados e poder público, deve
ser permanente, com diálogo e trocas de conhecimentos, a fim de proporcionar objetividade
e legitimidade às decisões.
Além disso, faz-se necessário que os conselheiros reflitam sobre a prática
desenvolvida nesses espaços. A ideia é que se estabeleça uma renovação dessas práticas,
que haja o despertar para uma participação efetiva, com discussões conscientes e críticas,
transparência nas decisões e posicionamento democrático, conduzindo os conselheiros ao
exercício e fortalecimento da cidadania.
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MINICURRÍCULO
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Ednia Patricia Silvestre dos Santos
Graduada em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba
(UFPB-2009); e especialista em Gestão Pública Municipal pela
Universidade Aberta do Brasil - UAB/UFPB virtual (2011).
Atualmente é Assistente Social do Centro de Referência de
Assistência Social - CRAS no município de Araruna-PB.
Email: [email protected]
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REFERÊNCIAS
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Nacional sobre Movimentos Sociais, Participação e Democracia, 2007, Florianópolis- SC.
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http://www.sociologia.ufsc.br/npms/maria_amorim.pdf
ARRUDA, Marina Patrício. KOCOUREK. Sheila. O Conselho Municipal de Direito da
Criança e do Adolescente como Espaço de Construção de Cidadania. Revista texto &
contextos, v. 7, n.1, Porto Alegre, 2008. Disponível em:
http://revistaseletronicas.pucrs.br/ojs/index.php/fass/article/viewFile/3939/3203 acesso 24
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BRAVO, Maria Inês Souza. Gestão Democrática na Saúde: o potencial dos conselhos.
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SIMÕES, Carlos. Curso de direito do serviço social. São Paulo: Cortez, 2007. (Biblioteca
básica de serviço social; v.3.
19
APÊNDICES:
TERMO DE CONSENTIMENTO DO (A) USUÁRIO (A)
Caro (a) Senhor (a)
Solicito sua participação nesta pesquisa a ser realizada no Município de Araruna,
cujo título é “A Participação da Sociedade Civil nos Conselhos Municipais de Araruna:
Exercício de Cidadania?” sob a orientação da Professora Rosângela Palhano Ramalho do
Departamento de Economia da Universidade Federal da Paraíba –UFPB.
Esta pesquisa não lhe expõe a qualquer risco e tem por objetivo identificar como
vem se constituindo a participação da sociedade civil nos conselhos municipais de Araruna.
Para o levantamento de dados desta pesquisa, foi elaborada uma entrevista semi-estruturada
com a proposta de conhecer a sua opinião sobre o assunto.
Durante a pesquisa o (a) senhor (a) terá toda liberdade de fazer qualquer pergunta ou
questionamento referente à metodologia utilizada, assim como a outros assuntos
relacionados à pesquisa. Caso queira desistir, poderá vetar sua participação na pesquisa sem
constrangimento, terá ainda, a garantia do acesso aos benefícios conquistados a partir desta
pesquisa e principalmente a garantia do sigilo de sua identidade e das informações
fornecidas.
Sua participação é voluntária. Conto com sua colaboração
Concordo em participar desta pesquisa, dando as informações que forem necessárias.
______________________________________________
Assinatura do (a) participante da pesquisa
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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIBA - UFPB VIRTUAL
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE ECONOMIA
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM GESTÃO PÚBLICA MUNICIPAL
Projeto de Pesquisa: A participação da sociedade civil nos Conselhos Municipais de
Araruna: exercício de cidadania?
Local da Pesquisa: Município de Araruna
Pesquisadora: Ednia Patrícia Silvestre dos Santos
ROTEIRO DA ENTREVISTA
1. Gênero: Masculino ( )
Feminino ( )
2. Idade: __________________
3. Escolaridade: _____________________________
4. Profissão: _________________________________________
5. Instituição Representada no Conselho: _______________________________
6. O que você entende por controle social?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
___
7. Há quanto tempo participa desse Conselho? Participa também de outro Conselho no
município? Se sim, qual?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
8. Como ocorreu sua inserção nesse conselho?
( ) Indicação ( ) Iniciativa própria ( ) Outra forma
9. Você participou de alguma capacitação para conselheiros antes de sua inserção nesse
conselho? ( ) Sim ( ) Não
10. Tem recebido capacitação continuada? ( ) Sim ( ) Não
Se sim, de quantas capacitações você participou? _________________________
11.Como você avalia sua participação nesse conselho? Você tem se envolvido nos debates,
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nas discussões? Tem contribuído com sua opinião?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
12. Você considera os conselhos municipais como espaços importantes para o exercício da
cidadania? Por quê?
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
_________________________________________________________________________
13. Quais os desafios encontrados para a efetivação e participação do órgão de controle
social?
_________________________________________________________________________
__________________________________________________ ____________________________
__________________________________________________________________________________
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