UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA FACULDADE DE EDUCAÇÃO UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ –UESC MESTRADO EM EDUCAÇÃO MOTIVAÇÃO, A CHAVE DO INTERESSE PELO SABER O que pensam e como agem alunos e professores (des)motivados Daisy Claret Geraes Bürkle Profa. Dra. Alda Muniz Pêpe Orientadora Ilhéus – Bahía 2001 ii MOTIVAÇÃO, A CHAVE DO INTERESSE PELO SABER O que pensam e como agem alunos e professores (des)motivados Daisy Claret Geraes Bürkle Ilhéus – Bahía 2001 i Burkle, Daisy Claret Geraes A motivação, chave para o mobilização/envolvimento do aluno para a aprendizagem em sala de aula. Alunos e professores (des)motivados na prática em sala de aula nas 4ªs. séries do Ensino Fundamental. Equívocos e acertos. Ilhéus: Editus. Ed. da Universidade Estadual de Santa Cruz 2000. Bibliografia 1- Burkle, Daisy Claret Geraes, 1936 – 2- Ensino – Processo motivacional – Análise da sua utilização em sala de aula. 1- Prática Pedagógica 371.3 ii Dissertação de Mestrado Daisy Claret Geraes Bürkle MOTIVAÇÃO, A CHAVE DO INTERESSE PELO SABER . O que pensam e como agem alunos e professores (des)motivados APROVADA PELA COMISSÃO EXAMINADORA Em 15 de agosto de 2001 Profª Drª Alda Muniz Pepe – UFBA- BA Profª. Draª. Marli Geralda Teixeira – UFBA - BA Profª. Drª. Nádia Hage Fialho – UESB – BA iii “Mobilizar interesses, ativar a participação, desafiar o pensamento, instalar o entusiasmo e a confiança, possibilitar acertos, valorizar os avanços e melhorar a auto-estima passam a ser diretrizes da atuação do professor, numa busca de tornar significativo o processo de ensino-aprendizagem”. (BAHÍA (Estado) Secr. Educação, Classes Aceleradas, in: Proposta Pedagógica, 1998, p.10) iv Agradeço a meus pais pela oportunidade da formação cuidadosa tanto no lar como na escola. Agradeço aos meus filhos pelo incentivo. Agradeço a orientadora e amiga professora Drª Alda Muniz Pêpe pela oportunidade da construção deste trabalho de pesquisa. Agradeço aos colegas do Curso Mestrado em Educação pelo companheirismo e amizade. Agradeço aos colegas professores Fundamental pela confiança. do Ensino v SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................01 2. DETALHAMENTO DO TEMA CENTRAL.........................................................07 2.1. O PROBLEMA............................................................................................07 2.2. HIPÓTESE .................................................................................................09 2.3. OBJETIVOS ...............................................................................................09 2.3.1. OBJETIVO GERAL ..........................................................................09 2.3.1. OBJETIVOS ESPECÍFICOS ...........................................................09 3. REVISÃO DE LITERATURA ...........................................................................10 3.1. UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA...........................................................10 3.2. ELUCIDANDO A TEMÁTICA.....................................................................17 3.3. OS MOTIVOS E SUA CATEGORIZAÇÃO.................................................21 3.4. CONDIÇÕES BIO-PSICO-SOCIAIS DA MOTIVAÇÃO .............................28 3.5. A PESQUISA E SEUS TEMAS ESPECÍFICOS ........................................41 3.6. INTRODUZINDO A QUESTÃO METODOLÓGICA ...................................51 4. ESQUEMA OPERACIONAL .............................................................................72 4.1. CONCEITOS BÁSICOS .............................................................................72 4.2. METODOLOGIA.........................................................................................73 4.2.1. UNIVERSO E TIPO DE AMOSTRAGEM .........................................77 4.2.1.1. Amostra estratificada proporcional ...............................78 vi 4.2.2. SUJEITOS DA AMOSTRA ................................................................80 4.2.3. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA .................................................80 4.2.4. PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS...................................85 4.2.4.1. Elaboração de formulários ...................................................85 4.2.4.2. Sistemática de observação direta.......................................85 4.2.5. ORGANIZAÇÃO E TABULAÇÃO DOS DADOS ................................85 5. ANÁLISE DOS DADOS ....................................................................................88 5.1. ANÁLISE DOS DADOS DA AMOSTRA ....................................................88 5.1.1. OS PROFESSORES........................................................................88 5.1.2. OS ALUNOS ....................................................................................90 5.2. ANÁLISE DOS DADOS - formulário dos professores e observações Diretas .......................................................................................................93 5.3.ANÁLISE DOS DADOS - formulário dos alunos e observações diretas .......................................................................................................146 6. RESULTADOS .................................................................................................197 7.CONCLUSÕES .................................................................................................214 8. RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES ...................................................234 9. ANEXOS ..........................................................................................................238 9. 1. ANEXO 1 - Formulário para o aluno ......................................................239 9. 2. ANEXO 2 – Formulário para o professor ...............................................242 9. 3. ANEXO 3 – Ficha de Observação ...........................................................247 vii 10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..............................................................249 11. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ...................................................................257 viii LISTAS DE TABELAS 1 - Nº de alunos/turmas das 4ªs séries das escolas estaduais que oferecem apenas da 1ª à 4ª séries do Ensino fundamental, zona sul 2 - Nº de alunos/turmas das 4ªs séries das escolas estaduais que oferecem apenas da 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental, zona norte 3 - 84 Carga horária semanal dos professores de 4ªs séries das escolas estaduais do Ensino Fundamental – zona norte 9 - 83 Carga horária semanal dos professores de 4ªs séries das escolas estaduais do Ensino Fundamental – zona sul 8 - 82 Nº de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes) das 4ªs. séries do Ensino Fundamental, escolas estaduais da zona centro 7 - 82 Nº de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes) das 4ªs. séries do Ensino Fundamental, escolas estaduais da zona norte 6 - 81 Nº de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes) das 4ªs. séries do Ensino Fundamental, escolas estaduais da zona norte 5 - 81 Nº de alunos/turmas das 4ªs séries das escolas estaduais que oferecem apenas da 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental, zona centro 4 - 80 84 Carga horária semanal dos professores de 4ªs séries das escolas estaduais do Ensino Fundamental – zona centro 84 10 - Conceito de motivação (informação do professor) 93 11 - O que pensa o aluno sobre o que é motivação (opinião do professor) 94 12 - Fonte de consulta do professor sobre motivação (informação do pro-fessor) 95 13 - Aspiração do aluno sobre o futuro profissional (informação do professor) 95 ix 14 - Momento da motivação no período da aula (informação do professor) 96 15 - Estratégias de motivação eficazes (opinião do professor) 99 16 - Reação do aluno à motivação (informação do professor) 101 17 - Evidências que permitem inferir se o aluno está motivado (informação do professor) 102 18 - Grau de estimulação exigido pelos alunos para realizar as atividades (informação do professor) 104 19 - Ação do professor no caso de falta de motivação do aluno (informação do professor) 105 20 - Facilitadores de motivação (informação do professor) 106 21 - Matéria dispensa / não dispensa motivação (opinião do professor) 107 22 - Recursos utilizados pelo professor para motivar (informação do professor) 108 23 - Influência do dia da semana na motivação do aluno (opinião do professor) 112 24 - Preferência do aluno por determinada aula (opinião do professor) 113 25 - Razões do aluno não gostar da aula (opinião do professor) 115 26 - Sentimento do aluno diante da possibilidade de errar nas aulas (informação do professor) 27 - Acertos como motivação para o aluno (opinião do professor) 118 120 28 - Comportamento do aluno ao acertar/errar o dever (informação do professor) 121 29 - Possibilidade de acerto, pelo aluno, nas atividades propostas pelo professor (informação do professor) 122 x 30 - Pedido de ajuda, pelo aluno, quando em dificuldade 126 31 - Uso do elogio, pelo professor, para motivar o aluno (informação do professor) 127 32 - Clima socio-afetivo da classe como motivador positivo (opinião do professor) 128 33 - Relação professor – aluno (opinião do professor) 130 34 - Relação aluno – aluno (opinião do professor) 131 35 - Recursos motivadores considerados adequados pelos professores caso voltassem a ser alunos 132 36 - Qualidade das recordações do professor sobre a motivação utilizada pelos seus professores na época em que eram estudantes 135 37 - Atividade/tratamento que os professores gostariam de ter feito/ tido, para motivá-los quando eram alunos 137 38 - Recursos motivadores utilizados pelos professores no período do seu estágio (curso de formação para o magistério) 138 39 - Recursos motivadores utilizados pelo professor durante o estágio e que aplica hoje 40 - O afeto professor – aluno motiva-o à aprendizagem 139 140 41 - Ocorrência de estudo do tema motivação no curso de capacitação freqüentado pelo professor 142 42 - Opinião do professor sobre motivação como sinônimo de estar a fim 142 43 - Disposição do professor para responder o formulário 143 44 - Conceito de motivação (opinião dos alunos) 146 45 - Motivações para freqüentar a escola (informação dos alunos) 148 46 - Dia da semana preferido pelo aluno (informação dos xi alunos) 150 47 - Disposição para desenvolver as atividades em classe (opinião dos alunos) 151 48 - Ações do professor que interferem para motivar os desatentos/ desligados (percepção dos alunos) 152 49 - Indicadores de interesse da maioria da classe em participar das aulas (percepção dos alunos) 158 50 - Interferência do colega no comportamento do aluno desinteressado (opinião dos alunos) 159 51 - Interferência do comportamento desinteressado do colega sobre a disposição do aluno interessado (opinião dos alunos) 160 52 - Profissões desejadas pelo grupo (informação dos alunos) 161 53 - A que serve/servirá o saber escolar (opinião dos alunos) 164 54 - Matérias preferidas (informação dos alunos) 167 55 - Melhor momento no período da aula (opinião do aluno) 168 56 - Forma pessoal de enfrentar dificuldades no estudo (informação dos alunos) 169 57 - Influência dos acertos na disposição/motivação para estudar (informação dos alunos) 170 58 - Medo de errar (razões dos alunos) 171 59 - Formas de enfrentar as situações de erro (informações dos alunos) 172 60 - Elogio ao aluno como motivação (opinião dos alunos) 174 61 - Sentimento do aluno ao receber elogio (informação dos alunos) 176 xii 62 - Evidências de ter/não ter sucesso na escola percebidas pelo próprio aluno (informação dos alunos) 178 63 - Evidências de ser querido/não querido pelos colegas (percepção dos alunos) 180 64 - Evidências de ser querido/não querido pelos professores (percepção dos alunos) 182 65 - Disciplinas/aulas da preferência do aluno e razões da preferência (opinião dos alunos) 184 66 - Desagrado do aluno por determinada aula e razões do desagrado (informação dos alunos) 187 67 - Gostar da sua classe e suas razões (voz do aluno) 189 68 - Como sou diante da classe (informação dos alunos) 191 69 - Comparecer/não comparecer às aulas, como escolha (informação dos alunos) 192 70 - Reação do aluno diante da possibilidade de substituir a escola por outra atividade (informação dos alunos) 193 71 - Atividades fora da escola, preferidas pelos alunos, a serem incorporadas à escola (opinião dos alunos) 194 xiii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Fig. 1 – Hierarquia das Necessidades Básicas segundo Maslow 23 Fig. 2 – Desenho esquemático do Sistema Límbico Ref.: MACHADO, Angelo; Neuroanatomia Funcional; Atheneu; SP; 1998; p.280 29 Fig 3 – As escolas da pesquisa no zoneamento do Mun. de Ilhéus (Adap.) Ref.: Projeto Diagnóstico Ambiental da Cidade de Ilhéus 76 Fig. 4 – Sala de Aula 1 Ref.: ALMEIDA, Paulo Nunes de; Dinâmica Lúdica; Loyola; 1981; p.78 87 Fig. 5 – Sala de Aula 2 Ref.: ALMEIDA, Paulo Nunes de; Dinâmica Lúdica; Loyola; 1981; p.73 92 Fig. 6 – Sala de Aula 3 Ref.: ALMEIDA, Paulo Nunes de; Dinâmica Lúdica; Loyola; 1981; p.82 145 Fig. 7 – Sala de Aula 4 Ref.: Revista Veja, out.99 p.88/89 Fig. 8 – Vista panorâmica de Ilhéus 213 267 xiv LISTA DE QUADROS Quadro 1 – A extensão da significação típica de termos afetivos comumente usados, medida em comparação ao continuum Ref: Taxionomia dos objetivos educacionais- Domínio Afetivo; Bloom e colaboradores, 1974, p.36 54 xv RESUMO Pesquisamos a presença da motivação na prática docente, em classes da escola fundamental (4ª série) visando interessar/estimular os alunos a participarem das atividades, identificando os recursos de motivação utilizados pelo professor e aqueles que os alunos consideram como aceitáveis e que os mobilizam para a aprendizagem intencionada. O estudo realizado, tanto nos autores como empiricamente, está mostrando que o modo como são propostas as tarefas, a maneira de organizar as atividades, as mensagens dos professores ao aluno e a avaliação, está sendo ações aleatórias que, algumas vezes, motiva os alunos e outras vezes não, não sendo intencionais nem sistemáticas. O referencial teórico foi buscado nos autores que se preocuparam com o desenvolvimento dos processos mentais superiores (Piaget, Vygotsky, Wallon), na seleção e hierarquização das necessidades básicas do ser humano (Maslow) e em estudos sobre os aspectos cognitivos e afetivos da aprendizagem (Bloom), pois o processo de escolarização envolve estas duas dimensões. Nosso estudo se enquadra como pesquisa descritivo–explicativa, tendo sido utilizado, para o levantamento de dados, o formulário e a observação direta e sistemática das classes. A amostra foi selecionada, a partir do conjunto de professores e alunos das 4ªs. séries do Ensino Fundamental da rede pública estadual em Ilhéus, respeitando o critério de zoneamento geográfico das escolas. xvi ABSTRACT We have researched the presence of the motivation in the teaching practice in the fundamental school classes (4th level) aiming stimulating/bringing interest to de students to participate in the activities, identifying the motivation sources used by the teacher and the ones that the students consider as acceptable and that mobilize them to the intended apprenticeship. The study that was done, of the authors as well as empirically, show us that the way the tasks are proposed, the way of organizing the activities, the teachers’ messages to the students and the evaluation, they are actions being done at random that sometimes motivate the students and many other times do not do it, being neither intentionally nor systematically done. The theory referential was researched among the authors that have been worried about the superior mind processes development (Piaget, Vygotsky, Wallon), in the selection and the hierarchical organization of the human being basic needs (Maslow) and in studies about the cognitive and affective apprenticeship aspects (Bloom), since the school apprenticeship process relate these two dimensions. Our study fits in as a descriptive – exploitative research type and there were used a questionnaire and classes systematic and direct observation for the data collection. The sample was selected from de whole group of the 4th level’s teachers and students of the State public network Fundamental School of Ilhéus, respecting the criteria of the schools geographic zone. 1. INTRODUÇÃO O processo motivacional, apesar de ser uma preocupação dos professores quando estes pretendem estabelecer estratégias para conseguir a cooperação dos seus alunos, não se expressa/traduz como ação concreta e eficaz na prática pedagógica. Neste estudo, foram detectados aspectos surpreendentes e complexos sobre a motivação humana, enquanto buscou, se não elucidar (no absoluto), pelo menos clarear as questões relativas à motivação do aluno, produzindo conhecimento, a partir do que pensam/ fazem/desejam professores e alunos, quando o assunto é motivar, o que significa querer/desejar/aceitar o outro e/ou as propostas/ desejos/ quereres do outro. É desconcertante, quando se verifica que certas ações desenvolvidas pelos professores são motivadoras para alguns alunos, deixam-nos mobilizados e propensos a responder positivamente às atividades propostas, enquanto que, para outros, não parece ter qualquer significado, pois estes alunos parecem não se esforçar ou mostrar interesse algum pelo que lhes é oferecido na escola. É forçoso reconhecer que, embora importante, muito pouco se sabe sobre o real significado que a atividade escolar tem para o aluno. O que se tem notícia é sobre o que seria desejável que os estudos significassem para os escolares, e como único indicador, uma nota expressa por um número que, em sua concretude, é o discurso que resulta ao fim do processo, e por ele se aceita que o aluno tenha trabalhado como desejavam o professor e a escola e assim, está aprovado; ou não trabalhou como era desejado e está reprovado. Devido a essas atitudes díspares dos alunos, alguns motivados e outros desmotivados diante da mesma situação de convite à aprendizagem, é freqüente encontrarmos na escola, entre os professores, uma postura de incredulidade sobre o mérito do uso da motivação. É possível encontrar-se, entre os professores, aqueles que consideram demérito do aluno, o fato de não querer estudar, sendo o professor quem carrega sozinho esta frustração que lhe é imposta pelo aluno, um verdadeiro desgosto, um desejo contrariado, o desejo de que o aluno faça o que o professor quer. 2 Do ponto de vista do aluno, entretanto, o que o professor quer, é o desejo do outro (professor) e a expectativa que ele cria torna-se conflitante quando, como educador, percebe que o seu convite ao estudo, considerado algo apetitoso, diante da reação apresentada, pode levar a inferir que não é considerado assim pelo aluno. Os mais recentes estudos sobre a motivação da aprendizagem escolar, dos quais podemos destacar os de Tapia & Garcia-Celay (1996), Moscovici (1982), Bergamini (1977), dentre outros, têm mostrado que o modo como são propostas as tarefas, a maneira de organizar a atividade, as mensagens oferecidas pelos professores e a avaliação, algumas vezes motivam os alunos e outras vezes não. Cada um desses tópicos foi questionado junto aos alunos, e puderam trazer alguma informação sobre a influência que estes aspectos tiveram sobre eles. Isso ajudou a compor uma idéia sobre suas motivações ao buscar a escola, e a possibilidade de levá-los a interessarse ou não pela aprendizagem escolar. Dada a complexidade do tema decidimos realizar este estudo sobre a motivação em sala de aula, relativo, pois, a um aspecto do processo de ensino. Apesar de reconhecer que a estrutura física, os funcionários, os técnicos e a interação social estabelecida na escola são aspectos importantes, nosso estudo priorizou outros aspectos da motivação como, por exemplo, o papel da relação aluno – professor, a relação entre os alunos, individualmente ou em grupo, como mobilizadores da atenção e da aprendizagem do aluno, como também, em que medida o modo como são propostas as tarefas, a maneira de organizar as atividades, as mensagens oferecidas pelos professores, podem funcionar (ou não) como motivadores para o aluno em sala de aula, e com isto, favorecer sua postura de aceitação ou rejeição diante das tarefas escolares, influindo no grau de atenção e persistência na realização das mesmas e, portanto, na sua motivação para a aprendizagem escolar, obtendo pistas de que ele acatou a provocação e demonstra estar motivado. Estamos conscientes de que as pessoas não fazem as mesmas coisas pelos mesmos motivos; assim, estudar a motivação dos alunos, temos que reconhecer, não é tarefa fácil de ser cumprida. Buscamos, na literatura, muitos autores que discutiram este tema – motivação. Foram várias as informações às quais pudemos ter acesso: foi discutido o conceito de 3 motivação ou a sua importância na formação da personalidade, etc. dependendo do interesse do pesquisador/autor pelo tema. Na concepção e definição de motivação, nos detivemos nas contribuições de autores que visualizassem a possibilidade de análise e compreensão do processo motivacional em sala de aula, pois o nosso objeto de interesse é a motivação quando desencadeada pelo professor, objetivando sensibilizar os alunos para o estudo . Ficou claro, seguindo a linha freudiana (Bergamini, 1991, p.48), que os objetos do mundo exterior são o excitante, e os desejos são as excitações, e enquanto a excitação não tenha encontrado um excitante que provoque uma reação, o desejo permanece como uma tensão interior, uma possibilidade latente. As reações do indivíduo, observáveis, se constituem no produto final de todo um processo de motivação ao longo do tempo. É preciso, pois, mobilizar as forças de pulsão do aluno, provocando-o e convidando-o, para que vá em busca do prazer (pulsão pelo prazer), representado pelo estudo, que é a forma de conhecer o mundo, despertando-lhe a curiosidade, sendo exigência inicial fazê-lo valorizar (para priorizar), certos motivos , tais como o conhecer, que irão dirigir suas ações em busca da satisfação das necessidades criadas/despertadas por terem sido aceitas a provocação, o convite, a exacerbação da sua curiosidade. Dos autores consultados inicialmente para desenvolver este estudo, constatamos que Maslow foi bastante citado em várias obras. Dentre eles destacamos Moscovici (1982), Hersey (1986), Harrison (1975), Pêpe (1995), Penna (1988). Maslow foi comsiderado, por eles, como o que ofereceu um bom referencial para a compreensão da motivação humana. Por este motivo, Maslow se constituiu em uma referência para o nosso trabalho, tanto no encaminhamento do olhar sobre o tema, como também na elaboração dos instrumentos de levantamento de dados da pesquisa, além de oferecer elementos para a análise das respostas/observações dos sujeitos da amostra. O modelo analógico apresentado por ele, “Pirâmide de Maslow” (p.23), propõe vários tipos de motivação (motivos de ação), estabelecendo relação entre eles, tendo na 4 base as necessidades básicas do homem. Organizou-as por categorias, estabelecendo uma hierarquia entre elas, com um relativo predomínio de umas sobre as outras; elegeu as necessidades fisiológicas como as primordiais, pois são motivos ligados aos requisitos básicos para a sobrevivência, colocando no ápice da pirâmide, as necessidades estéticas ou a busca do belo (motivos estéticos). Maslow ressalta também que o homem não é um ser que responde mecanicamente aos estímulos, ou que seja dominado apenas por impulsos. Acredita que as pessoas se esforçam para exercer suas capacidades, de modo a usarem ao máximo seus potenciais, os quais vão permitindo seu crescimento, criando condições favoráveis para alcançar um estado final de desenvolvimento/satisfação psicológica. Mas Maslow ressalta que o indivíduo somente se mobilizará para atender às necessidades de nível superior na medida em que as necessidades de ordem inferior vão sendo satisfeitas. Somente dessa forma uma nova categoria de necessidade-motivo pode ser mobilizada. Ganha força e precisa ser atendida. Seguindo esta trajetória, na medida em que as necessidades de ordem inferior vão sendo satisfeitas, outras surgem. O indivíduo se constrói, refletindo seu estágio de desenvolvimento. Colaborando ainda para delimitar a problemática do nosso estudo, consideramos outra questão, também abordada por Maslow, que diz respeito à frustração de necessidades como elementos importantes na teoria da motivação. Isto porque uma necessidade satisfeita nem sempre é um elemento mais motivador que uma frustração: um homem frustrado em algumas de suas necessidades básicas, poderá ficar muito motivado na obtenção do que deseja. Assim, tanto a satisfação quanto a privação podem apresentar condições semelhantes de mobilização motivacional. Também nos ajudaram nesta configuração inicial da problemática motivacional, os estudos de Piaget , cujo interesse foi elucidar como o sujeito aprende. A obra de Piaget foi relevante para o desenvolvimento de nosso trabalho, por esclarecer muitas questões relacionadas com a aprendizagem, pois como já dissemos anteriormente, foi nossa preocupação central, a motivação em situação escolar. 5 Piaget (Goulart, 1997) mostra a estreita ligação entre as funções cognitivas e afetivas, e ao apresentar o processo de equilibração majorante, explica como se dá o desenvolvimento dos processos mentais enquanto a criança aprende. É preciso destacar, também, o fato de Piaget ter enfatizado o papel do significado atribuído às experiências, pelo sujeito, para que estas favoreçam/acelerem o seu desenvolvimento intelectual, distinguindo os vários estágios já consagrados. Piaget (1973) observou que o processo de incorporação do novo conhecimento aos esquemas existentes se dá através de dois movimentos: o de assimilação e o de acomodação, que ocorrem continuamente. Durante este processo há um estado de desconforto – desequilíbração – que (teoricamente) desencadeia o processo motivacional para o sujeito ir em busca do equilíbrio – criando novos esquemas ou modificando-os. Na teoria de Piaget, a passagem do desequilíbrio (estado de desconforto) para o de equilíbrio é denominado equilibração. Este é um conceito essencial para a compreensão de todo comportamento em que estejam envolvidos os processos de desenvolvimento e crescimento, pois é ele o responsável pela auto-regulação. Piaget usou o conceito de equilibração (retomada do conforto), para explicar a coordenação dos fatores (maturação, experiência, interação social) e a regulação do desenvolvimento em geral, reconhecendo que nenhum deles, sozinho, é suficiente para assegurar o processo desencadeante da dinâmica necessária dentro e entre os estágios de desenvolvimento. Outra questão importante na teoria de Piaget é a explicação dada por ele ao desenvolvimento intelectual. Destaca dois componentes, um cognitivo e outro afetivo, que se desenvolvem paralelamente. Assim, “para uma estrutura de conhecimento funcionar, algo deve acioná-la, originar (desencadear) o esforço a ser desenvolvido a cada momento e desligá-la” (Brown & Weiss, 1987, p.63 apud Wadsworth, 1996, p.22). Piaget valoriza muito a influência exercida pelo afeto sobre o desenvolvimento cognitivo, pois o interesse gerado pela avaliação afetiva do sujeito frente à 6 experiência que está sendo vivenciada, pode acelerar ou diminuir o ritmo de desenvolvimento e, pela seleção, estabelecer a necessidade de partida em busca do resultado final, que é o conhecimento. Foi necessário, também, rever nos autores, principalmente Carvalho (1982) e Nérici (1981) por se dedicarem à Didática, elementos que pudessem categorizar, em linguagem adequada, as estratégias de ensino, os recursos, os materiais, as técnicas de que o professor pode lançar mão para desenvolver o seu trabalho docente. Estes subsídios foram utilizados, inicialmente, na elaboração dos formulários e, após a sua aplicação, na organização dos dados obtidos e na análise dos mesmos, tendo sido, esses dados, apresentados em tabelas. 7 2. DETALHAMENTO DO TEMA CENTRAL 2.1. O PROBLEMA A partir das considerações feitas até aqui, já se pode vislumbrar que o tema motivação, no processo ensino-aprendizagem, é bastante complexo, pois, por um lado, trata da mobilização do sujeito, no sentido de fazê-lo vislumbrar a possibilidade de prazer, de satisfação nas atividades e/ou condições oferecidas pela escola (através do professor) e, por outro, que há um leque de alternativas que o professor pode lançar mão a fim de motivá-lo. É possível vislumbrar, também, que o professor, ao conhecer melhor o tema, tão delicado, poderá ver diminuída ou até aumentada a sua tensão diante da opinião positiva ou negativa dos alunos sobre as atividades escolares, por ele oferecidas, pois é um processo que concerne a professores e alunos e não depende apenas de um ou de outro para que a motivação chegue a bom termo, isto é, que o aluno queira aprender em situação de sala de aula. Pode-se afirmar, então, que a problemática do nosso estudo foi caracterizada pela busca das razões que levam os alunos a aceitar ou rejeitar as tarefas escolares, como também, em que condições está sendo possível ao professor mantê-los mobilizados e canalizando suas energias para o processo de aprendizagem - querer aprender. Tivemos como problema central elucidar se o (des)interesse dos alunos nas aulas e a conseqüente (in)eficácia do processo de ensino-aprendizagem dependem de haver coincidência entre os padrões motivacionais utilizados pelos professores e aqueles requeridos pelos alunos. As investigações se encaminharam para clarear algumas questões bastante amplas, tais como: ♦ há concordância entre o que o professor utiliza para motivar os alunos e o comportamento favorável dos alunos para aprender? ♦ os professores estão atentos para os indicadores de (des)interesse do aluno durante o processo de aprendizagem, no sentido de interferir e procurar manter o interesse dos alunos para aprender? 8 ♦ quais as razões que levam os alunos a aceitar ou rejeitar as tarefas escolares e em que condições é possível mantê-los mobilizados/atentos canalizando suas energias para o processo de aprendizagem (querer aprender)? Estas idéias nortearam a organização dos instrumentos que foram utilizados para levantamento das informações necessárias e para as discussões sobre o tema central – a motivação. Nosso estudo sobre a motivação procurou, portanto, responder, pelo menos em parte, usando dados coletados por formulários aplicados a alunos e professores, como também a partir das observações em classe, se os professores se preocupam com este aspecto importante do processo ensino-aprendizagem – a motivaçãoidentificando quais os recursos de motivação mais utilizados por eles e a forma de sua utilização, e se há coincidência entre as idéias que os alunos fazem do que é estar motivado e em que circunstâncias se consideram mobilizados/ impulsionados a querer participar das atividades escolares, pois se sentem dispostos e satisfeitos ao realizar as tarefas oferecidas pelos professores, e as idéias dos próprios professores a esse respeito. Este estudo também permitiu conhecer sobre os recursos de motivação considerados adequados pelos autores consultados para utilização em sala de aula, cuja clientela se encontra na 4ª série do ensino fundamental, tendo como referência inicial os estudos de Maslow sobre as necessidades básicas, cujo modelo analógico, em forma de pirâmide, já foi citado anteriormente, e que poderá colaborar com o professor quando do enfrentamento da problemática vivida por eles referente ao (des)interesse dos alunos nas aulas, e as conseqüências sobre o processo específico da aprendizagem escolar, amplamente explicitada por Piaget e seus colaboradores/seguidores e objeto de referência na revisão de literatura, neste documento. 9 2.2. HIPÓTESE Para encaminhar nossas ações estabelecemos por hipótese que, se não há coincidência entre os padrões motivacionais que os professores consideram como eficazes e aqueles requeridos/aceitos pelos alunos, quando se trata do processo ensino – aprendizagem, então isto explica, pelo menos em parte, o baixo nível de aprendizagem, bem como a insatisfação dos professores pela ineficácia do processo de ensino, e de outro lado, o desinteresse dos alunos nas aulas. 2.3. OBJETIVOS Os objetivos que nortearam as nossas ações foram: 2.3.1. OBJETIVO GERAL Identificar os recursos de motivação utilizados pelos professores/escola e aqueles que os alunos consideram como aceitáveis e que os mobilizam para a aprendizagem intencionada. 2.3.2. OBJETIVOS ESPECÍFICOS Levantar, na literatura, padrões de motivação a serem utilizados pelos professores em classes das 4ªs séries do ensino fundamental, considerando sua adequação a este nível de escolaridade/faixa etária. Detectar, nessas categorias motivacionais, aquelas consideradas eficazes/desejadas pelo grupo pesquisado. Verificar a convergência entre o que o professor utiliza, como estratégia e recursos motivadores na sua prática em sala de aula, e o que pensam/aceitam os alunos como estratégias e recursos motivadores. 10 3. REVISÃO DE LITERATURA 3.1. UMA EXPLICAÇÃO NECESSÁRIA Nosso contacto com os autores, motivada pela busca de melhor conhecer e entender o tema motivação, nos mostrou que há teorias bem estruturadas que explicam o fenômeno, como também estudos isolados que, sem lhes negar a relevância por não ser a motivação o objeto dos seus estudos, nos guiaram também, pois ofereceram pistas para o estabelecimento de alguns nexos e nos ajudaram a criar condições de coerência interna no nosso trabalho quando por ocasião da discussão dos vários aspectos do fenômeno, objeto desse estudo. É preciso reconhecer também que as teorias, por percorrerem diferentes caminhos, trazem embaraços se tentamos integrálas, pois os enfoques, interpretações e modelos são muito particulares a cada uma delas, como é o caso do behaviorismo, da “gestalt” ou da psicanálise, embora todas elas aspirem proporcionar um quadro explicativo para a educação e uma base para abordar e solucionar os problemas educacionais prioritários ( Leite, 1995, p. 168). Em nossa análise, verificamos que nenhuma das teorias possui os elementos suficientes, que possam responder a todas as questões que se referem à motivação. A leitura dos textos recentes de Piaget, por exemplo, mostram que também ele não estava desatento a esta questão, e nos reportaremos a isso oportunamente. A psicologia está, em grande parte, organizada em escolas, isto é, há grupos de investigadores que se dedicam ao estudo de uma certa idéia ou ao estudo de um determinado conjunto delas e possuem seu acervo de fatos. Heidbreder (1969, p.372) afirma que, se há lugar para ressaltar as características pelas quais se distingue cada sistema, é relevante constatar que, apesar das diferenças, todos estão orientados para a mesma classe de fatos e estas divergências provêm de uma zelosa preocupação para que essa classe de fatos seja corretamente observada, a fim de evitar a aderência de sentidos. Isto pode ocorrer quando certas concepções, ao serem transportadas da área da Psicologia para a área da Educação e, mais ainda, quando transportadas da Psicanálise para a Educação via Psicologia, podem sofrer mutilações ou desvios de sentido. A 11 Psicanálise, por exemplo, não é um ramo da Psicologia, mas um método para o tratamento das doenças psíquicas com fundamento teórico muito bem estruturado a fim de oferecer condições aos psicanalistas de compreender o comportamento inconsciente, e suas implicações na relação com o paciente, a nível consciente. É, portanto, uma técnica analítica que, à media que se desenvolve, apresenta conceitos basilares que delimitam o seu trabalho. Dessa forma é que a malha teórica foi sendo tecida. Freud sempre insistiu em dar um cunho científico à sua área de estudo, verificando suas hipóteses no plano empírico das observações e no terreno acidentado da clínica ( apud Mezan, 2001, p.152). As leituras que fizemos, em autores que se ocuparam ou se ocupam, especificamente, do estudo do comportamento humano, nos levaram a entender a motivação como fenômeno tanto da área cortical quanto de áreas mais profundas do cérebro. Tomemos, por exemplo, a Pirâmide de Maslow . Este modelo de hierarquização das necessidades humanas tem, em sua base, as necessidades classificadas como fisiológicas (aquelas que garantem a sobrevivência biológica do sujeito). São todas elas instintivas, tendo sua origem/comando independente do córtex e, portanto, não são apreendidas, quando muito são aprimoradas, no que se refere aos seus meios e modos de execução. Mas, no topo da pirâmide, estão necessidades que, pela sua natureza, são corticais, portanto, são fruto de aprendizagem. Por tal razão, não nos ativemos apenas aos autores que se ocupam dos fenômenos da aprendizagem e ousamos, por absoluta necessidade, nos referir às pulsões, isto é, às ações instintivas, aquelas que têm, como motivo, uma necessidade de enraizamento não cortical, e outras que estão no córtex, embora tenham raízes também em áreas mais profundas do cérebro. Concluímos pois, que o fenômeno/processo motivação, para ser entendido o mais amplamente possível, deve recebe contribuições várias, carecendo mesmo de pontos de vista da Psicanálise e, portanto, necessita dos conceitos estabelecidos por Freud. Assim, a pulsão foi se impondo neste estudo à medida que outros conceitos foram sendo introduzidos. Freud concebeu a pulsão como sendo um termo situado na 12 fronteira do somático com o psíquico, constituindo-se no representante mental das forças orgânicas e, por esta razão, inconscientes (Piaget, apud Evans,1980). Outra contribuição de Freud a que recorremos é relativa à existência do ego como uma unidade a ser construída como fruto dos contactos do sujeito com o meio. Mezan (2001,p.163), revisitando os conceitos da psicanálise, conclui que, segundo Freud, o ego possui também suas próprias pulsões, cuja energia é denominada interesse e que se alinham sob a rubrica das pulsões de auto-conservação. Algumas pulsões são, portanto, inconscientes, e outras, ao serem trazidas para o consciente, permitem que se reflita sobre as possíveis escolhas do sujeito e, dessa forma, direcionem a ação. Telford, embora se expressando de outra forma, explica o comportamento humano enquanto aprende. Afirma este autor que o organismo pode ser ativado para o aprender. À partir daí, então, pode-se pensar em estímulos produtores de impulsos e que o organismo aprende como estes impulsos poderão ser atenuados, isto é, quando liga o impulso ao objeto de satisfação. Assim, o impulso, tanto desperta quanto ativa o organismo. Este movimento resulta num motivo que estabelece o nexo entre o estímulo e a sua meta, que é a satisfação da necessidade. Telford aceita, pois, o fato de que a direção do comportamento é a principal função da aprendizagem ( Telford, 1980, p.373 e 394). Para Piaget (Evans, 1980 p.56), a reação circular pela qual um esquema é desenvolvido faz parte do genoma. Isto explica as ações repetitivas do bebê, quando um comportamento, ou é extinto, ou é fortalecido e consagrado (gravado), como resultado de reforço interno e externo. Ao gravar, marca o procedimento e ele se repete. Piaget está mais interessado na construção do esquema, do que propriamente na aprendizagem resultante deste processo. Dolle (1995, p.39) nos chama a atenção para o que afirma Piaget sobre a inteligência humana e que se constitui em uma das formas de adaptação que a vida assumiu em sua evolução. Ele considera que o impulso básico para a atividade cognitiva está no próprio aparelho cognitivo, constituindo-se no alimento para o seu funcionamento. 13 Ainda em entrevista a Evans (1980), Piaget pode mostrar seu posicionamento com relação às idéias freudianas sobre o desenvolvimento psicossexual e inconsciente. Inicialmente, fala do modelo homeostático tradicional de motivação que, resumidamente, seria aquele em que a necessidade cria tensões e a maior parte do comportamento é dirigida no sentido de reduzi-las. Prosseguindo em sua argumentação, Piaget se reporta também ao inconsciente. Afirma que, em qualquer área da função cognitiva, todos os processos são inconscientes. O que existe é a consciência do resultado e não do mecanismo pelo qual ocorre a função cognitiva. Afirma que, quando se trata da área emocional, há uma ausência de abstração e de conceitualização. Ao sintetizar o desenvolvimento bio-psicossocial, explica que todo fenômeno é sempre biológico em suas raízes, e em sua extensão final é social. Entre os dois, ele é mental. Portanto, considera a afetividade o motor de qualquer conduta. Entretanto, esclarece que este fato não permite interferir na estrutura cognitiva, modificando-a. Dessa forma, é possível perceber, mais claramente, como a motivação e os motivos podem ou não ser colocados como propulsores do comportamento. No modelo homeostático de motivação, a homeostase é básica, pois oferece equilíbrio dinâmico ao curso do desenvolvimento. Ocorrendo um desvio, a autoregulação (homeostase) entra em cena. Assim, pode-se concluir que, no desenvolvimento cognitivo, todo progresso é resultado de auto-regulação. Para compreender melhor esta questão, é bom recorrermos ao papel das emoções na vida mental, pois estas são motivos orientadores de comportamentos. Segundo Cavalcanti (neurologista da UFRJ), o cérebro pode controlar reações e emoções violentas como a raiva e o medo e pode-se perceber a influência do sistema límbico sobre o comportamento agressivo de um modo geral. ( Diálogo Médico, p.28 a 34). O controle é possível de acordo com a Teoria da Superposição, de Harlings Jackson, porque as funções novas inibem as mais antigas. Na evolução do homem, o desenvolvimento de novas regras, que são registros corticais, segue uma hierarquia 14 funcional, permitindo ao indivíduo realizar a crítica social e manter sob controle o que tem como instintivo/límbico. Cavalcanti afirma que cada uma das partes do cérebro tem uma função específica, entretanto, para a emoção não há apenas uma área envolvida, havendo um resíduo de emoções mais primitivas (agressividade) e límbicas, fundamentais para a preservação da própria espécie. O estudo da depressão, que está relacionado com o comportamento agressivo, levou alguns psiquiatras, dentre eles Del Porto (UNIFESP) e Codás (USP), a afirmarem que a falta de motivação ou dificuldade de concentração é resultante da depressão (Diálogo Médico, p.28 a 34). O comportamento apático traz como conseqüência a falta de reação a qualquer estímulo; o sujeito tem dificuldade em prestar atenção, ou se concentrar em qualquer tipo de atividade, ou seja, tem um tal comportamento que nada/ninguém consegue interessá-lo. O sujeito comporta-se como se não tivesse motivos para a ação, nega-se mesmo a reconhecer os estímulos. Destacamos, em nosso estudo, as teorias de Maslow e Rogers que vêem o homem e como este ser fixa suas metas e luta por alcançá-las; ele auto-produz motivos. Estes autores têm como característica considerar o homem como o ser único em seu grau de conscientização e liberdade de escolha, e desenvolvem suas pesquisas considerando um homem inserido no seu meio e não no laboratório psicológico, e assim os seus estudos se referem ao homem no seu contexto natural. Neste ponto concordam com Erik Fromm, quando afirma que o principal desafio a ser enfrentado é que A compreensão da motivação humana deve partir da compreensão da situação humana ( In Bergaminni, 1999, p.21). Este posicionamento dos psicólogos humanistas permite o aparecimento de teorias da personalidade que sugerem que as pessoas se esforçam por exercer suas capacidades, de modo a usar ao máximo seus potenciais, isto é, esforçam-se por crescer e desenvolver-se. 15 Estas teorias são conhecidas como teorias do crescimento pessoal. Elas sugerem que cada um de nós está continuamente empenhado num comportamento individuante. Embora uma pessoa esteja motivada por necessidades específicas de segurança, filiação e poder, cada uma dessas necessidades está submetida ao motivo supremo de individuação (Maslow, In Harrison, 1975, p.261). Mas as tendências à individuação só ocorrerão quando estiverem satisfeitas certas necessidades básicas deficitárias (alimentação, conforto, segurança). Caso contrário, a pessoa permanecerá ansiosa, apreensiva e incapaz de realizar seu potencial humano. Este ponto de vista tem sido contestado quanto a uma ordenação rigorosa das necessidades básicas, de modo que as deficitárias sejam requisito prévio da individuação. Em nosso estudo, a importância de sua proposta de categorização das necessidades apresentada por Maslow se restringe ao fato de permitir uma referência para a análise das situações escolares. Sob este mesmo prisma, queremos ressaltar a importância da contribuição do psicólogo humanista Rogers, contemporâneo de Maslow. Rogers (Piaget apud Evans, 1990) é conhecido como o teórico do “eu”. Acredita que a maioria dos problemas pessoais está na busca do eu real. Acredita que o crescimento pessoal se dá na busca de tornarmo-nos nós mesmos e esta busca é instigada por um impulso de dentro para fora. Este impulso é na direção de sentirmos e atuarmos de um modo compatível com o eu íntimo e real que está escondido pelos nossos papéis sociais, nas exigências da situação e no sentimento de dever. Esta circunstância cria uma tendência de tornarmo-nos nós próprios ( busca do eu real – impulso poderoso) que, apesar das características gerais do ser, permite que cada um de nós seja único. 16 Ele é considerado gestaltista, por se preocupar com o ser humano como um todo – gestalt. Gestalt é concebida como a compreensão repentina de uma situação que se dá ao penetrar na essência de um problema ou ao traduzir figura-fundo reversíveis, fatores estes relevantes que se ajustam em relação ao todo. Segundo Piaget (In Evans, 1980), a escola Gestáltica da Psicologia enfatiza a totalidade da natureza da percepção. Considera que o todo é maior que a soma das partes, chamando a atenção para as tendências organizadoras inatas da percepção. Assim, estuda as totalidades, mas não as considera compostas de elementos mas sim compostas de relações entre os elementos. Tanto Maslow quanto Rogers, por considerarem o ser humano em sua totalidade, enfatizando que há integração dinâmica dos aspectos biológicos, psicológicos e sociais, comungam as idéias de Piaget. Assim, consideramos que os estudos de Maslow seriam adequados para compor nossa sustentação teórica. Outra contribuição importante na construção de nosso trabalho de pesquisa, foi relativa aos estudos de Bloom e seus colaboradores. A Taxionomia dos objetivos educacionais, tanto no domínio cognitivo quanto no afetivo, foi elaborada contando com um grupo expressivo de acadêmicos, com a principal finalidade de facilitar a comunicação e um método para favorecer a troca de idéias e materiais entre especialistas em avaliação, pesquisa educacional e desenvolvimento dos currículos. A classificação de resultados educacionais não partiu de uma fantasia individual, mas teve o intuito de facilitar a utilização de termos razoavelmente familiares com definições precisas e práticas, de forma coletiva Em nosso estudo, foi necessário um momento de reflexão sobre o fenômeno motivação, quando, então, buscamos, no conhecimento disponível, aquele que nos pareceu mais adequado e que goza de maior respeito nos meios acadêmicos quando equacionamos o fenômeno motivação. Quando da apresentação do trabalho, o próprio Bloom e seus colaboradores reconhecem que a proposta é, de algum modo, arbitrária (p.12, 1972), “pois nesse 17 particular poderia haver um número quase infinito de modalidades para dividir e denominar os domínios dos resultados educacionais”. Ao reconhecer isto, ele esclarece que certos princípios orientadores serviriam como guia para o estabelecimento de um sistema simples de classificação, tanto quanto possível compreensível e utilizável nos seus planos curriculares, materiais e métodos de ensino. A taxionomia procurou manter a coerência interna de forma que pudesse se articular também com os demais estudos sobre o fenômeno da aprendizagem. Deve-se também entender que a taxionomia pouco serve como esquema de classificação de todos os fenômenos psicológicos, mas foi elaborada para permitir a inclusão de uma variedade de comportamentos encontráveis em situação escolar. Bloom (1972, p.15), citando Hilgard, esclarece que aceita “com certa relutância “o fato de que cada teoria da aprendizagem explica muito bem determinados fenômenos, mas não é tão apropriada para explicar outros. Em nosso estudo, em particular, deve ficar entendido que as taxionomias constituíram-se apenas numa referência para entender e nos permitir falar da prática educativa desenvolvida em sala de aula sem o rigor de procedimentos científicos exaustivos. 3.2. ELUCIDANDO A TEMÁTICA Quando se está preocupado em conhecer melhor as razões pelas quais é freqüente encontrarmos alunos que não se esforçam ou nem parecem mostrar interesse pelo que lhes é oferecido na escola e, da mesma forma, encontrar outros que, sob a influência das mesmas estratégias, respondem positivamente ao processo de ensinoaprendizagem, certamente se faz necessário aprofundar a compreensão sobre o processo de motivação humana, pois trata-se de fenômeno que se refere a um certo aspecto do comportamento afetivo dos escolares, que diz respeito à disposição do aluno para aceitar o estímulo representado pelo convite/proposta do professor, 18 supondo a possibilidade, a expectativa interior de satisfazer uma necessidade a ser despertada pelo respectivo estímulo. A discussão do tema MOTIVAÇÃO com professores e alunos das 4ªs. séries do ensino fundamental, seja através de entrevista, tipo formulário, que embora direcionado, permite ao entrevistado colocar-se à vontade frente às perguntas, ou através da observação direta, em classe, permitiu testar empiricamente o conhecimento que pudemos reunir da literatura consultada. Alguns autores consultados foram, inicialmente, Tápia & Garcia-Celay (1996), Penna (1980), Bergamini (1977/1991), Telford (1980), Pêpe (1995), Moscovici(1982), Lindsey et al(1977), Campos(1971) ( alguns, já citados anteriormente) dentre outros. É importante ressaltar que não é nossa intenção nos posicionarmos sobre a motivação, segundo as várias doutrinas, ou estabelecer comparações entre elas apontando semelhanças e diferenças, mas nos valer das contribuições de algumas delas para elucidar a temática que nos propusemos estudar. Campos (1971) encaminhou a revisão dos seus estudos para a problemática da motivação citando Young (Campos, 1971.p.86), que apresenta o processo motivacional enquanto amplamente concebido. Considera que a motivação é uma tentativa de explicar o que determina as ações do homem e dos animais. Quando se refere às ações humanas, considera que parte da análise dos seus propósitos, intenções, atitudes, interesses, impulsos, estimulações ou energias são canalizadas para satisfazer determinadas necessidades. Entretanto, para o nosso estudo, a sua melhor contribuição é aquela que afirma que estas necessidades podem ser modificadas pela experiência individual acumulada na interação organismo-meio. Campos (1971), na tentativa de suavizar a complexidade do tema, propõe examiná-lo sob três enfoques: • Do ponto de vista da energia despendida, a atividade é uma descarga de energia, de tensões que o organismo produz que podem ser inferidos, por exemplo, pelas contrações do estômago vazio, ou a necessidade de liberar energia diante de um auditório numeroso ao qual se tenha que dirigir a palavra. • 19 Do ponto de vista dos fins (teleológico), a característica principal da motivação é a capacidade de dirigir as ações do indivíduo para alcançar determinados fins, seja água, alimento, etc. ou certos estados ideais como segurança, êxito profissional, aceitação social, liderança, expressão criadora. • Do ponto de vista da origem (genético), sempre considera os motivos como resultado da experiência individual, isto é, embora admitindo que os comportamentos procedem de impulsos, sua origem sofre modificações na interação social. A aprendizagem desempenha, assim, papel inestimável, responsável pelo arca-bouço das motivações atualizadas num sistema de dimensões renováveis, que explicaria a atividade pelo contexto da experiência individual. Nenhuma dessas explicações consegue abarcar, isoladamente, a complexidade da estrutura dinâmica do comportamento do ser humano. Elas se complementam. Um exemplo bastante elucidativo demonstra esta dinâmica de inter-relações, que passamos a relatar ( Young, apud Penna, 1998, p.129). O sistema biológico garante o estado químico interno de excitação e reação. O sujeito fica sob tensão quando privado dos elementos básicos de sobrevivência, por exemplo, quando sedento, só se sentirá aliviado quando satisfizer esta necessidade, pondo-se em movimento. Mas, pode-se acrescentar a isto, que o sujeito se mobiliza, direcionado para um fim específico, o líquido, que pode ser a água natural, a água de coco, a água mineral, um tipo de suco, um tipo de refrigerante; e mais, o líquido pode ser servido na concha da mão, num copo (de plástico, de vidro, de alumínio, descartável), na garrafa, na lata, no próprio coco, com um canudinho, ou não; em qualquer lugar, ou num ambiente requintado. As exigências na esfera da sofisticação social serão requeridas, dependendo da maior ou menor tensão resultante do nível de privação e dos limites de tolerância e dos padrões culturais dos grupos, que interferem também e podem evidenciar padrões motivacionais próprios a esses grupos, mas não garantem, por esta circunstância, comportamentos robotizados. Há uma autonomia dos motivos, uma direção e aplicação funcional própria de cada pessoa. E, mais ainda, uma atividade, expressão de um motivo específico, pode vir a 20 tornar-se motivadora por si mesma, quando o motivo original desaparece. Por exemplo: se um homem que escolhe a vida de marinheiro, por uma questão de sobrevivência, pode, ao se aposentar, continuar a ir para o mar, pelo “gosto de ir”. Segundo Allport (Penna, 1980, p.142), à medida que o indivíduo cresce, muda o caráter da motivação. Se, inicialmente, os impulsos primitivos da criança se caracterizam pelo restabelecimento do equilíbrio homeostático, à medida que vai se tornando adulto, os impulsos primitivos ganham características mais complexas e diferenciadas, se constituindo em interesse, sentimento, valor, ambição, gosto ou inclinação. Outros autores preferem utilizar outras categorias de comportamento, desejos, impulsos, instintos, necessidades, vontade, intenção, termos estes que, de uma forma ou de outra, subentendem movimento ou ação – uma certa força que impele as pessoas a agir, buscando ou fugindo de determinadas situações. Freud (Bergamini, 1977) estabelece como princípio capital da motivação, a busca do prazer, a satisfação da libido. O processo desencadeante tem origem em um estado de tensão que desagrada e a sua resolução – anulação da tensão – ocorre pela fuga da dor ou produção do prazer. As formas de resolver o estado de tensão no adulto e na criança apresentam diferenças substanciais. Segundo Freud (Bergamini, 1977), na infância o princípio do prazer domina e exige a satisfação imediata de impulsos e desejos, ao passo que a forma de reação do adulto é baseada no princípio de realidade. O adulto tem a capacidade de adiar o prazer, pois, suportando o desconforto transitório da espera, conta com a possibilidade de recompensas futuras a serem alcançadas. Toda a força do comportamento, portanto, está sempre dirigida para um alvo. Segundo Bergamini, o estudo dinâmico da motivação pressupõe o estudo dessas duas variáveis – forças de impulsão, e objeto ou condição para a qual se orientam essas forças. 21 Estes fatores dinâmicos, ao entrarem em ação, envolvem a personalidade como um todo, isto é, colocam a inteligência, as emoções, os instintos, as experiências vividas, os dados já incorporados ao psiquismo e os determinantes morfológicos e fisiológicos da conduta (Bergamini, 1977, p.85). O estudo dos motivos humanos revelam que a importância deles é imputada pela pessoa que se motiva. À medida que o indivíduo valoriza seus motivos, mobiliza maior ou menor quantidade de força para obtê-los. Portanto, há forças com diferentes intensidades, dependendo da valorização, do grau de importância do motivo imputado pelo sujeito. Logo, nem sempre o mesmo estímulo produz a mesma resposta, quando se trata de indivíduos diferentes ou de diferentes circunstâncias. Estes aspectos foram destacados por nós, no sentido de pontuar nossa certeza quanto à complexidade do tema. David Birch e Joseph Veroff foram felizes ao se expressar: O estudo da motivação é uma busca de explicações para alguns dos mais intrincados mistérios da existência humana – suas próprias ações. Considere-se praticamente qualquer ação humana isolada e perguntese quais os seus determinantes. Por que um jovem pretende decidir-se a propor casamento? Por que um escolar cuida do seu cachorro? (Birch & Veroff apud Bergamini, 1977, p.84). Em nosso caso, em particular, vamos nos deter nas teorias que melhor se adequam às nossas preocupações, isto é, aquelas que poderão oferecer pistas para compreender os motivos pelos quais alguns alunos acatam e outros rejeitam as atividades de aprendizagem propostas pelos professores. 3.3. OS MOTIVOS E SUA CATEGORIZAÇÃO Embora as teorias, de uma forma ou de outra, falem sobre a necessidade da redução de tensões, Maslow (Moscovicci, 1982, p.40) apresenta duas ordens de motivos para este fato: motivos de déficit e motivos de crescimento. 22 Os motivos de déficit são os que reclamam a redução de tensão e a restauração do equilíbrio. Os motivos de crescimento, ao contrário mantêm a tensão no interesse de objetivos que serão ou não atingíveis a curto prazo, permanecendo por longo prazo e, por esta circunstância, sofrendo a influência dos ideais, dos valores subjetivos das aspirações prefixadas pelo sujeito e em função das quais se vive. Moscovici (1982) aprofundou mais esta questão esclarecendo que as carências oriundas de necessidades de déficit precisam ser supridas de fora ( condições externas ao sujeito) e por outros indivíduos, por exemplo, para conservar a saúde, evitar ou curar doenças. As necessidades de crescimento estão relacionadas ao próprio desenvolvimento humano: tendência à criatividade, capacidade e talentos especiais, potencialidades. Mas esta espécie de motivação só pode ser desenvolvida à partir da satisfação razoável das necessidades básicas ou de deficiência, que passam a constituir, assim, um pré-requisito para a motivação de crescimento ou de abundância (Moscovici, 1982, p.40). Estes dois tipos de motivação não se contrapõem. Ocorre apenas que as necessidades básicas de carência se constituem em condição prévia para as necessidades de crescimento se manifestarem. A distinção se dá apenas do ponto de vista emocional, quando os indivíduos que agem para satisfazer as necessidades de deficiência se diferenciam, quanto ao comportamento, dos que são motivados pelas necessidades de crescimento. Os primeiros acham o desejo ou impulso direcionado para alcançar determinado alvo, desagradável, e tendem a livrar-se dele para sentir alívio, equilíbrio, ausência de dor, tensão ou insatisfação. Para atender às necessidades de crescimento, é necessário liberar energia num processo incessante, cuja direção já é satisfatória e tem um fim em si mesma. Neste caso, o significado da satisfação deixa de ser alívio para significar aumento de tensão de tipo agradável, por estar ligada ao aqui e agora, sem a sensação de meio para se atingir um fim/preparação para o futuro. Assim, o equilíbrio é necessário como base para preservar o status quo mas, insuficiente, quando se pensa em progresso. O desequilíbrio é igualmente 23 necessário, pois permite mudanças inovadoras e criativas que determinam um movimento para frente e para cima. Maslow, ao apresentar as necessidades básicas, que são motivos da espécie humana, organizadas por categorias em uma hierarquia de predomínio relativo, priorizou as necessidades fisiológicas, aqueles motivos de sobrevivência instintivos. Para acompanhar melhor nossa explanação, apresentamos abaixo o modelo analógico que expressa esta hierarquização das necessidades humanas, proposto pelo estudioso. HIERARQUIA DAS NECESSIDADES BÁSICAS SEGUNDO MASLOW VI – ESTÉTICAS V – AUTO-REALIZAÇÃO IV – ESTIMA III – AFETIVO-SOCIAIS II - SEGURANÇA I - FISIOLÓGICAS NECESSIDADES BÁSICAS Fig. nº 1- Hierarquia das Necessidades Básicas segundo Maslow (ampliada) In. Moscovici, 1982, p.44 Maslow sustenta que o organismo humano, quando está dominado por uma determinada necessidade fisiológica, tende a mudar até mesmo a sua filosofia em relação ao futuro. Um homem faminto, relega tudo em favor do alimento e a satisfação é tão importante quanto a privação, pois permite o aparecimento de outros motivos. Pode-se afirmar que a motivação humana é constante, infinita, flutuante e complexa. A motivação atinge o indivíduo como um todo e não apenas como parte dele. Por este motivo é difícil que um desejo possua uma só motivação determinante. 24 Maslow sustenta, também, que há compatibilidade entre as necessidades dominantes e as aspirações que se formulam em função das quais se vive e que a ordem das necessidades hierarquizadas na sua proposta não são obrigatoriamente a mesma para todos os indivíduos ou se revelará atendendo à seqüência proposta pelas diferentes faixas de idade. As necessidades básicas, segundo o modelo de Maslow, são representadas pelas necessidades fisiológicas, de segurança, afetivo – sociais, pelas necessidades de auto-estima e respeito próprio, de auto – realização. Após as necessidades fisiológicas, ou de 1ª ordem, que se encontram na base da pirâmide, seguem-se as necessidades de 2ª ordem, as de segurança, como a tranqüilidade e a liberdade sem ameaças. O amor, a afeição, a aceitação por outros, fazem parte das necessidades de afiliação que vêm no 3º patamar. O indivíduo tem necessidade de pertença, isto é, precisa sentir-se fazendo parte de um grupo para encontrar raízes comuns. A solidão, a rejeição podem provocar um sofrimento com a intensidade do sofrimento físico de uma pessoa faminta. Já as necessidades de respeito vêm no 4º patamar. Envolvem questões relativas às expectativas em atingir um determinado status ou êxito profissional, ou seja, dizem respeito à auto-estima do sujeito e a estima dos outros, consideradas por Maslow como necessidades fundamentais de todos os seres humanos, pois abarcam os sentimentos de autoconfiança, de ser útil e necessário ao mundo. A ausência dessas necessidades gera sentimentos de inferioridade, de fraqueza e de desencorajamento. Quanto à necessidade de auto-realização, só será atendida à medida em que as demais estejam relativamente satisfeitas – é o desejo de desenvolver seu potencial, e vem em 5º lugar. Estas necessidades dependem de certa dose de curiosidade natural que engloba o desejo de compreender, de sistematizar, de analisar e de procurar relações e significados, como também construir um sistema de valores. 25 Maslow, ao apresentar sua pirâmide (Hierarquia das Necessidades Humanas) indica as necessidades estéticas ou a busca do belo e do estético, como aquelas que vêm depois de todas as demais, ocupando o ápice da pirâmide. Maslow ressalta, também, que o homem não é um ser que responde mecanica-mente aos estímulos ou dominado por impulsos destrutivos. As pessoas se esforçam para exercer suas capacidades, de modo a usarem ao máximo seus potenciais, permitindo seu crescimento e alcançando um estado final favorável de desenvolvimento psicológico, mas este somente será mobilizado se as necessidades que vêm antes desta, estiverem satisfeitas. À medida que as necessidades de 1ª ordem vão sendo satisfeitas, uma nova categoria de necessidades surge, até atingir a mais elevada que é a tendência de atualizar suas potencialidades, com um sentido de plenitude do ser: a busca do belo, do esteticamente aceitável. Assim, um indivíduo tende a ser o que pode ser na medida da satisfação das suas necessidades, superando frustrações na busca de suas metas. Este é o significado da necessidade superior de auto – realização e de harmonia estética. Mas o surgimento de uma nova necessidade não se dá, de repente, de modo espontâneo, e sim através de um processo gradativo, e à medida que as necessidades vão sendo satisfeitas, o indivíduo se constrói, reflete, aspira. Consideramos como contribuição muito especial e complementar de Maslow, sustentar que há compatibilidade entre as várias necessidades, e que a motivação pode ser oriunda de vários motivos, ao mesmo tempo, com predominância ora de uma ora de outra necessidade, segundo as circunstâncias, e que as aspirações que o sujeito se formula, em função das quais ele vive, podem permanecer como foco inspirador da mobilização desse indivíduo como um organismo total. Esta é a referência principal, portanto, quando se pensa no sujeito inserido no mundo. Da nossa exposição até aqui, fica caracterizado que há um grande número de teorias que procuraram disciplinar o conjunto de fatos observados sobre a motivação humana. 26 Por ser muito conhecida, não poderíamos deixar de citar também a do drive ou impulso, que explica a aprendizagem pelo sistema de estímulo – resposta e o papel do reforço, ligada, portanto, à linha behaviorista. Várias são as objeções colocadas pelos autores sobre este posicionamento, pois consideram que o comportamento humano é complexo demais para ser explicado de uma forma tão simples. Segundo Penna (1980), os autores puderam detectar atividades que nominaram apetitivas e outras aversivas. As primeiras encaminhariam o sujeito para a aproximação ao estímulo considerado adequado e as últimas o levariam a um afastamento do estímulo nocivo. Assim, os estímulos teriam função discriminatória, distinguindo umas atividades das outras, aproximando ou retraindo o sujeito, ao ser provocado pelas atividades que a ele fossem apresentadas. O conceito de valência, segundo Lewin (Penna, 1998, p.156), explica a direção assumida pelo comportamento, afirmando que o campo que nos envolve nunca se compõe de objetos neutros. Assim, os objetos podem despertar condutas de aproximação ou aversivas, de afastamento. Por outro lado, Allport (Penna, 1980, p.142) se preocupa com a tensão provocada pela motivação e coloca, por exemplo, que há certos motivos que, em lugar de guiar o comportamento para a redução das tensões criadas, caracterizam-se pelo empenho de elevá-las. A este respeito, quando Maslow (Penna, 1980, p.142) analisa a questão de se poder constatar uma certa oposição na direção do comportamento do sujeito, diante da variedade de motivações que o levam à ação, distingue motivos de déficit e motivos de crescimento e sob esta ótica reúne as categorias propostas. Para ele, os motivos de déficit reclamam a redução de tensão e a restauração do equilíbrio. Os motivos de crescimento, ao contrário, mantêm a tensão interna e o interesse por objetivos distantes e muitas vezes inatingíveis. Ele lembra que os ideais que o sujeito elege acabam norteando o seu processo de desenvolvimento, como também os seus valores subjetivos ou ainda os objetivos de longo alcance. Quando ocorre a tensão oriunda de motivos muito distantes ou ainda não atingíveis, a restauração do equilíbrio original vai se dar através do processo de sublimação. 27 Sublimação, no contexto dos impulsos, significa socializado exatamente como o real, no contexto do conhecimento e da realidade, significa socializado (Furth, 1995, p.160). Segundo a teoria psicanalítica, Freud, juntamente com Thorndike e Pavlov (Penna, 1980, p.143), considera o reflexo como protótipo e modelo do comportamento. Segundo este esquema, o estímulo é concebido como um fator de produção de energia que rompe o nível ótimo em que deve permanecer o organismo, através da elevação do potencial de energia. Assim, o excesso de energia produzido deve ser escoado através da resposta adequada, para que se recomponha a condição de equilíbrio original. Na verdade, há a fuga do desprazer provocado pela atuação do estímulo, concebido como fator de elevação do nível de tensão interna. Freud (Penna, 1980, p.144), ao considerar as formas superiores de comportamento, explica que o mecanismo da sublimação permite a desviação da resposta de sua meta original (objetivo inatingível) para outra, socialmente mais aceitável. Na teoria psicanalítica, o conceito de sublimação desempenha papel relevante para explicar como o impulso sexual ou o agressivo podem ser reprimidos, quando existem incentivos negativos como o medo da punição, o que confirma a eficácia da repressão social. Outra teoria que, ao oferecer explicação sobre os processos comportamentais põe em discussão a problemática motivacional, é a teoria gestáltica de motivação, onde os termos tendência, força, direção, meta, tensão, surgem empregados em íntima conexão com os fenômenos perceptivos, considerando a pregnância (boa forma) como condição básica para desenvolver estes estudos. Heider ( Penna, 1980.p.152), para explicar o conceito de pregnância, comenta que uma estrutura exibe boa forma ou será pregnante quando todos os componentes que nela se integram ocupam as posições decorrentes de sua participação no todo e que decorrem de seus desenhos funcionais. Outros estudos que foram desenvolvidos a partir de análise da atividade lúdica, característica da criança nas primeiras fases do seu desenvolvimento, permitiram estabelecer um corpo teórico denominado teoria da atividade intrinsecamente 28 motivada. Constatou-se que a atividade lúdica ou atividade de jogo é autotélica e autogratificadora. Joga-se por jogar, e o prazer experimentado se encontra na ação de jogar e não nos resultados auferidos. O mesmo pode-se dizer da atividade exploratória. A simples execução da atividade de busca é suficiente como fator de reforçamento, pois a informação produz os níveis de incerteza instalados no sujeito, níveis que se exprimem por dificuldades de resposta. 3.4. CONDIÇÕES BIO-PSICO-SOCIAIS DA MOTIVAÇÃO Se, num primeiro momento, é importante a compreensão do conceito de motivação, a compreensão dos motivos que levaram os autores a utilizar certos termos para compor uma e outra proposta de definição, a compreensão dos eixos que norteiam estas propostas, ou ainda, a categorização apresentada pelos autores e suas razões, há também a necessidade de se compreender em que circunstâncias o processo motivacional ocorre e quais são os suportes bio-psico-sociais que garantem ao sujeito o tipo de comportamento apresentado. Ao discutir as funções do Sistema Límbico, um dos setores do cérebro, Marino Junior (1975) vai, exaustivamente, comprovando que todos os setores do cérebro estão envoltos pela emoção. Acatando a proposta de Reid (Marino Jr.1975.p.4), considera a emoção, propriamente dita, um todo intimamente relacionado, que compreende a sensação, o comportamento que a expressa, bem como a resposta fisiológica interna à situação-estímulo, e que os maiores estímulos emotivos em nossa sociedade são as outras pessoas. Ao relacionar emoção e motivação, considera que ambas encontram-se estreitamente relacionadas e que a emoção seria o ponto final de um comportamento motivado, seja ele atingido ou frustrado. Marino Junior (1975) diz ainda que, somente há algumas décadas, se chegou à conclusão de que o Sistema Límbico poderia representar um elo entre mente e corpo, pois reúne as condições necessárias para promover as modificações necessárias no 29 meio ambiente a fim de controlar as relações entre o corpo e o mundo externo, apresentando um “comportamento emocional” por intermédio do qual o organismo procura ou evita esses estímulos, o que significa apresentar reações de prazer ou desagrado. Na conclusão de sua assertiva, o autor compara o sistema límbico a uma torre de Babel, pelos múltiplos comandos emitidos/executados, chamando a atenção para o fato de que os fenômenos da atividade nervosa superior não ocorrem apenas mecanicamente, ou que os componentes funcionariam como um maquinário. A presença da inteligência humana se faz necessária para interpretar seus resultados, para controlá-los ou transformá-los em atos de vontade para resolver a situação que se apresenta ao sujeito. DESENHO ESQUEMÁTICO DO SISTEMA LÍMBICO Fig. nº 2 . Desenho esquemático do Sistema Límbico, in. Machado, Angelo; Neuroanatomia Funcional; Atheneu, SP; 1998; p. 280. Papez (Marino Jr. 1975.p.12) foi um cientista que teve seu trabalho muito respeitado nas rodas acadêmicas, ao estabelecer a existência das relações entre as estruturas 30 límbicas e as emoções, abrindo perspectiva de novas pesquisas para ampliar estes resultados. A função mais conhecida do sistema límbico é de regular os processos emocionais e, por via de conseqüência, o sistema nervoso autônomo e os processos motivacio-nais instintivos, essenciais à sobrevivência do indivíduo, como a fome, a sede e o sexo. Os estudos realizados até aqui, mostram que alguns componentes do sistema límbico estão ligados aos mecanismos de memória e aprendizagem, como, também, participam da regulação do sistema endócrino. Constatou-se que isto se dá pelo fato de que as mesmas áreas encefálicas que regulam o comportamento emocional, também regulam o sistema nervoso autônomo. As pesquisas nessa área mostram também que há uma quantidade significativa de substâncias ativas agindo nesses setores do cérebro que compreendem o sistema límbico, por possuírem receptores para captar os hormônios circulantes, tornando-se capazes de modular a atividade dos neurônios e influenciar os processos emocionais e motivacionais de sua competência, regulando-os. Estudos de Izquierdo, publicados em 1986 (Machado, 1998), mostram a ação moduladora dessas substâncias sobre a memória, facilitando/inibindo o processo de memorização, competência importante e necessária em todo processo de aprendizagem. Ao colocarmos estes aspectos que a Fisiologia oferece para compreender a relação entre a estrutura bio-físiológica apresentada, com o nosso tema, a motivação, abre-se espaço para apresentarmos os estudos realizados por Wallon (1998) e a sua contribuição, pois na base de seus estudos se encontra a EMOÇÃO. Da leitura de seus textos depreende-se que as disposições iniciais do comportamento emocional são orgânicas e, ao se desenvolverem, sofrem um processo de transição, recebendo influência do meio através dos acontecimentos vivenciados pelo sujeito, que lhes atribui um significado. 31 A linguagem oferece um exemplo apropriado para esclarecer esta circunstância, pois não é preformada nos centros nervosos. É do meio que depende o sistema lingüístico. Da mesma forma, a emoção possui profundas raízes na vida orgânica e nela os órgãos dos sentidos e os hormônios desempenham função preponderante no período inicial da existência do sujeito e sofre transformações que passam despercebidas, enquanto as necessidades cotidianas vão sendo atendidas através dos comportamentos práticos, e assimilados no enfrentamento das situações. Da etapa orgânica do ser, há, então, a transição para a etapa cognitiva pela mediação do social, segundo Wallon (1998). Dantas (Wallon, 1998), ao afirmar que a razão nasce da emoção e vive da sua morte, sintetiza esta transformação proposta por Wallon, colocando em destaque a função emocional, e considerando este processo de transformação paradoxal. Consideramos importante destacar que, no desenvolvimento psíquico, pela proposta walloniana, a primeira forma de compreensão entre indivíduos é dominada pelo interesse do momento e se expressa na reciprocidade de atitudes. Segundo Wallon, A atração que a criança sente pelas pessoas que a rodeiam é uma das mais precoces e das mais poderosas (1995, p.161). A sua atividade é dirigida, inicialmente, para a imitação de modelos. Este movimento que inicialmente é irrefletido, poderá tornar-se mais deliberado, criando o sentimento de pertença. À medida que consegue, pela conscientização, entender a importância de sentir-se parte de um grupo, pode distinguir-se do grupo e até opor-se a ele. É que não pode ocorrer a pertinência sem a cooperação, como também esta não se alcança sem a pertença (Visca, 1987, p.39). Wallon entende que o conformismo dá lugar à imitação e o sentimento de pertença, à individuação. Segundo Wallon, a criança só imita as pessoas que exercem sobre ela atração profunda, ou ações que a cativam. Na base das suas imitações, afirma ele, está o amor, a admiração e também a rivalidade. Logo, a significação inicial dada pela criança, ao mundo que a rodeia, é de cunho afetivo emocional e para influir no processo de aprendizagem de forma eficaz, é preciso oferecer experiências 32 prazerosas, portanto, emocionais, que conduzirão a concepções positivas da realidade, fortalecendo a relação pelo afeto. Se Wallon se detém nas características individuais que permitem ao sujeito se apropriar do que o mundo tem para lhe oferecer, contribuindo para o seu desenvolvimento e aperfeiçoamento pessoal, Vigotsky toma outro caminho. Uma das maiores contribuições de Vigotsky foi sugerir os mecanismos pelos quais a cultura torna-se parte da natureza de cada pessoa (1998, p.8). Foi um dos primeiros estudiosos a considerar os métodos e princípios do materialismo dialético como importantes para o estudo das funções psicológicas superiores. O ponto central dessa proposta metodológica é pretender que todos os fenômenos sejam estudados como processos em movimento e em mudança. Vigotsky, quando tratou da mediação que se estabelece na interação homemambiente que, na origem, se dá pelo uso de instrumentos, estendeu este conceito também ao uso dos signos, ambos criados pelas sociedades ao longo do curso da história humana e mudam a forma social e o nível de seu desenvolvimento cultural. Dessa forma, é possível estabelecer um elo de ligação entre as formas iniciais e tardias do desenvolvimento individual (Vigotsky, l998, p.8 e 9). Vigotsky trata sempre das funções psicológicas, do ponto de vista de um sistema dinâmico de comportamento. Cita os estudos de Lewin (Vigotsdy, 1998) sobre a motivação, nos quais, ao descrevê-los, aponta para o fato de que novas motivações, quando socialmente enraizadas e intensas, ao serem incluídas em qualquer tarefa, levam a uma reorganização de todo o sistema voluntário e afetivo da criança, pois estas motivações se transformam em quase-necessidades. Freqüentemente, quando se discorre sobre o desenvolvimento da criança no que se refere às funções intelectuais, por se ignorar as necessidades da criança e os incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de entender o seu avanço, de um estágio de desenvolvimento para outro, porque todo avanço está conectado com uma mudança acentuada nas motivações, tendências e incentivos (Vigotsky 1998, p.9). 33 A obra de Piaget também esclarece muitos aspectos relacionados com a aprendizagem, quando se trata da motivação, pois, para explicar o processo de desenvolvimento psíquico do indivíduo, através dos vários estádios, mostra a estreita ligação entre as funções cognitivas e afetivas. Os que se preocupam com a melhoria do ensino, encontram nas obras que tratam da teoria piagetiana valiosas contribuições para entender como a criança aprende. É preciso assumir que este fenômeno – a motivação – tem como característica a complexidade e, em alguns casos, o conhecimento oferecido sobre motivação apresenta boa dose de dificuldade de compreensão. Brearley & Hitchfield ( 1973, p.14), dentre outros autores, através de exemplos bem escolhidos, têm amenizado a complexidade e facilitado o entendimento dos estudos de Piaget. Em suas considerações, os autores citados afirmam que, para trabalhar adequadamente, utilizando-se da motivação, é preciso que o professor seja um bom observador. Quando o professor pode aliar a uma boa formação profissional a habilidade de observador atento, é possível fazer fluir uma ação consciente que permitirá o estabelecimento das convergências entre a teoria e a prática, abstraindo o que é importante. Estes autores reconhecem que isto não é aprendido a curto prazo e que todos precisamos de orientação e treinamento, tanto na observação quanto na análise das diversas situações, para que elas se transformem em experiências passíveis de aplicação prática. Os estudos de Piaget (1973), quando analisam os processos mentais superiores, distinguem várias funções: as funções cognitivas, as funções de representação e as funções afetivas que, isoladamente ou se intercomplementando, colaboram para que o sujeito atinja a plenitude do desenvolvimento da vida mental, desde o estágio embrionário. 34 O maior número de seus estudos é relativo à função cognitiva, cujos resultados têm sido aplicados amplamente na educação. Enfatizou o papel do significado que é dado pelo sujeito às pessoas, aos objetos e aos acontecimentos ocorridos à sua volta e que, somente através desse processo, passam a fazer parte de sua vida psíquica. Esclarece também porque o uso de significantes ( palavras, gestos, desenhos) favorece/acelera o desenvolvimento psíquico e ao fazer uso da imitação, do jogo e principalmente da linguagem este desenvolvimento é ampliado, alcançando níveis superiores de desempenho. A este grupo, Piaget denominou funções de representação. As suas análises sobre os resultados obtidos nas suas pesquisas à respeito de desenvolvimento psíquico têm como parâmetro a relação do indivíduo com o outro, condição para o desenvolvimento da consciência moral. Neste processo, distinguiu várias etapas que vão desde a anomia (ausência de regras morais para limitar o que é permitido fazer), passam pela heteronomia (regras impostas pelo outro) até atingir a autonomia moral. Piaget pontua que as funções afetivas estão em absoluta relação com o desenvolvimento cognitivo, sendo o seu motor. Goulart destaca a seguinte afirmativa de Piaget, para esclarecer os motivos pelos quais ele considera que as funções afetivas se constituem no motor do desenvolvimento cognitivo. O aspecto cognitivo das condutas consiste na sua estruturação e o aspecto afetivo (das condutas) na sua energética. Esses dois aspectos são, ao mesmo tempo, irredutíveis, indissociáveis e complementares; não é, portanto, muito para admirar que se encontre um notável paralelismo entre as suas evoluções ( Goulart, 1997, p.56). Nas suas explicações, Piaget, inicialmente, distingue os estádios de desenvolvimento psíquico, do ponto de vista cognitivo: 35 • estádio sensório – motor ( de zero a 18/24 meses) • estádio objetivo – simbólico ( de 2 a 6/7 anos) • estádio operacional concreto ( de 7 a 11/12 anos em diante), (fazendo parte deste estádio, a fase das operações lógico-matemáticas e as operações infralógicas) • estádio operacional abstrato (de 11/12 anos), (do qual faz parte, a fase das operações lógicoformais). Para Piaget, estes estádios são válidos, tanto para o plano cognitivo quanto para o plano afetivo, embora apresente nomenclatura que os agrupa, se expressando apenas em termos de fases, sensório-motor, pré-operacional e nível operatório, quando se trata do desenvolvimento afetivo. Para explicar os aspectos relativos à afetividade, Piaget distingue 6 subestágios que ocorrem no nível sensório-motor. Afirma que, nos subestágios I e II, não existe nenhuma consciência do eu , isto é, não há nenhuma fronteira entre o mundo interior ou vivido e o conjunto das realidades exteriores (In Goulart, 1997, p.56). Freud chama este momento vivido pela criança de momento narcísico, mas um narcisismo sem Narciso, pois não há consciência do eu e do outro. Anna Freud, ao falar a respeito, se expressa em termos de “narcisismo primário” para explicar esta não diferenciação entre o eu e o alheio (In Goulart, 1997, p.56). Entretanto, para explicar este mesmo fato, Piaget (apud Goulart, 1997, p.56) afirma que “o sorriso infantil, quando reforçado pelo sorriso do parceiro, torna-se instrumento de troca que permite inferir que há um processo de diferenciação das pessoas e das coisas, embora inconscientemente”, ao que Baldwin chamou de dualismo inicial quando o afeto da criança é expresso nesse nível (Goulart, 1997, p.56). Nos estádios subseqüentes, a criança passa a reagir às pessoas de modo cada vez mais específico, apresentando até uma relativa relação de causalidade entre as pessoas enquanto esta aproximação proporcione prazer, conforto, sossego, segurança, etc.. 36 Escalona (Goulart, 1997, p.56), colaborando nas explicações sobre esta classificação, diz que nos sub-estágios III e IV há a passagem do contágio para um momento de comunicação, pois a presença do outro, pelas experiências vividas, pode provocar sentimentos de inquietude, predileção e até estranheza. Já nos subestágios V e VI, há a escolha do objeto afetivo quando, segundo Freud (apud Goulart, 1997, p.57), há a transferência de libido do eu narcísico para a pessoa dos pais. Fica evidenciado, aqui, a possibilidade de se estabelecer relação entre Freud e Piaget, quando expõem suas idéias sobre o plano afetivo. Segundo Goulart (1997), Este período é marcado pela constituição de um eu diferenciado do alheio e de um alheio que se torna objeto de afetividade, isto é, a criança apresenta condições (intelectuais) de centrar a atenção em um objeto fora dela mesma, distinguindo o eu-mundo, adquirindo condições (afetivas) de amar este objeto exterior. Segundo Piaget, quando as relações estabelecidas entre a criança e o eu-mundo se referem às pessoas, o que permeia tais relações são os sentimentos e quando a relação é entre coisas, criam-se interesses variados. A passagem para um novo estágio é caracterizado pelo fato de o sujeito apresentar um comportamento em que se acham embutidos a linguagem, a imagem mental e o jogo simbólico, permitindo que o objeto afetivo esteja sempre presente e sempre atuante, mesmo na sua ausência física. Assim é que surgem simpatias e antipatias duradouras e, ainda, a valorização ou consciência duradoura de si, que numa primeira fase apresenta um comportamento caracterizado pelo egocentrismo infantil. Esta é uma situação complexa em que o eu quer, simultaneamente, ser livre e estimado por outrem. As atividades são, ao mesmo tempo, sociais e centradas na atividade própria da criança – é o nível pré-operatório. Os chamados jogos de regras, as ações em comum e as trocas verbais se constituem em exemplos adequados a esta fase. Zazzo (Apud Goulart, 1997, p.60), ao analisar a linguagem egocêntrica, conclui com muita propriedade que ...a criança não fala para ela, mas segundo ela, isto é , em 37 função de suas limitações, bem como de suas possibilidades, tocando no ponto fundamental para o entendimento do que se passa com a criança neste período de desenvolvimento. O egocentrismo se caracteriza, pois, por uma visão da realidade que parte do próprio eu. Na sua concepção de mundo, em cada situação, sente-se parte, confundindo-se com objetos, pessoas, atribuindo a eles seus próprios pensamentos e sentimentos. Em seu processo de desenvolvimento psíquico, a criança deve apresentar um nível superior de comportamento em suas relações interindividuais, para poder ser considerada ao nível das operações concretas. Seu comportamento deve ser de natureza cooperativa e as trocas devem ocorrer tanto no plano cognitivo como também e, principalmente, no afetivo. Nas atividades cooperativas, que se tornam possíveis neste estágio, existe subentendido um sentimento de obrigação, de respeito, fundado na reciprocidade da estima entre os membros do grupo ao qual fazem parte a criança e o “outro”. Ao explicar a formação da consciência e dos sentimentos morais como resultado da relação afetiva entre a criança e os pais, Freud popularizou a noção de superego. Baldwin (apud Goulart, 1997, p.60) acrescenta, por sua vez, que o eu dos pais não pode ser imitado imediatamente e, por este motivo, torna-se um eu ideal, fonte de modelos coativos, fazendo parte da consciência moral. Esta situação traz como conseqüência, a criança respeitar o pai como indivíduo superior, fonte das coações e das leis, mas não se caracterizando como legítimo representante da lei ou do grupo social, por este fato. Este respeito unilateral gera, na criança pequena, uma moral de obediência, característica do comportamento heterônomo que, paulatinamente, vai cedendo lugar à autonomia, própria do respeito mútuo. É possível entender-se, então, que, inicialmente, o poder das instruções está ligado à presença material de quem as deu e, na sua ausência, pode provocar o enfraquecimento e até a sua violação. Aos poucos, este poder se torna duradouro, 38 pela assimilação sistemática dos mecanismos cognitivos relacionais e dos processos de socialização universais. É o realismo moral, segundo o qual as obrigações e valores são determinados pela lei ou pelas instituições em si mesmas, independentemente do contexto das intenções e relações (Piaget, 1968). Nos estudos realizados por Moreno sobre a escolha de líderes por grupos de crianças, ficam compreensíveis os motivos invocados pelos membros: os pequenos apresentam razões heterônomas (apreciação feita pelos professores, boas notas, etc.) e os grandes, colocam critérios de autonomia como: ser justo, saber guardar segredo, não delatar. Assim, a afetividade, a princípio, centrada nos complexos familiares, amplia sua escala na medida em que se multiplicam as relações sociais. A compreensão deste processo que avança da hetoronomia para a autonomia e que se expressa pelo comportamento desejável, isto é, que atenda às expectativas sociais vigentes numa determinada sociedade sobre o comportamento de seus membros, é de suma importância para todos os que, de uma forma ou de outra, têm a responsabilidade do processo educacional. Nathan Isaacs (apud Brearley & Hitchfield, 1973, p.15) afirma que a criança é o principal arquiteto de seu crescimento intelectual e isto só ocorre quando há o desenvolvimento de adequadas habilidades de pensamento e bom julgamento. À princípio, portanto, o processo de crescimento cognitivo depende da ação e da percepção, e à medida que a criança constrói estruturas mentais que permitem contar mais com o pensamento, e menos presa ao “aqui e agora”, alcança novos estádios de desenvolvimento. Piaget chama a isso de “processo de descentralização”. Este processo se desenvolve lentamente, partindo de um ponto de vista limitado e subjetivo para um ponto de vista objetivo e amplo. Assim, a criança vai organizando seu pensamento através do esforço pessoal para chegar a um acordo com a realidade, incorporando-a e organizando-a em estruturas mentais (Brearley & Hitchfield, 1973, p.81). 39 A mera percepção de um acontecimento após outro, embora semelhantes, não é suficiente para criar seqüências causais que estabeleçam esquemas de ação com uma certa organização, pois, para Piaget, é preciso que a criança se torne agente ativo da experiência e, dessa forma, possa generalizar as experiências acumuladas transformando-as num conceito. Quando o resultado da experiência não satisfaz à criança, no momento, por não compreendê-lo, há o abandono temporário do problema e retorno mais tarde.Portanto, todo alicerce do conhecimento que uma criança tem do mundo, reside em suas próprias ações, que ela internaliza para formar o material de seu pensamento (apud Brearley & Hitchfield, 1973, p.195). Piaget, nas suas explicações, parte do princípio de que o indivíduo está sempre buscando um estado de equilíbrio melhor, tanto orgânico quanto mental. Este pro-cesso, chamado por ele de processo de equilibração, é bastante complexo e seus aspectos básicos se prendem aos movimentos de assimilação e acomodação que ocorrem continuamente ( Rappaport, 1981, p.62). Um reducionismo conceitual levaria a se pensar que o processo se restringiria à organização das estruturas cognitivas num sistema coerente, interdependente, que permitiria ao sujeito algum tipo de adaptação à realidade pois, a todo momento, as pessoas são solicitadas a solucionar novas situações- problema. A cada solicitação, este equilíbrio é rompido, ocorrendo a movimentação das estruturas mentais no sentido de solucionar este desequilíbrio e atingir novamente o estado de equilíbrio, à medida em que o problema for sendo solucionado. Se, num primeiro momento, é verdadeiro o fato de que este processo favorece o desenvolvimento mental, quando a criança aprende novas formas de lidar com a realidade e novas formas de raciocinar, consideramos permitido dizer que este processo de assimilação-acomodação conduz a um estágio de equilíbrio sempre superior, pois a criança, a cada nova experiência, terá desenvolvido uma maneira eficiente ( mais inteligente) de lidar com o ambiente. Podemos, pois, concluir que o processo de equilibração é a motivação natural da inteligência pois, através dele, são satisfeitas as necessidades (próprias deste componente) de resolver situações-problema através do raciocínio formal, utilizando para isso os processos mentais superiores. E ainda concluir-se, então, que os 40 esquemas mais simples vão se integrando a outros esquemas transformando-os em esquemas complexos que, por sua vez, vão compor esquemas integrados, dando origem às estruturas mentais de que falamos. Portanto, quando este processo está presente na organização mental do sujeito, é denominado equilibração das estruturas cognitivas. É um processo contínuo que busca atingir formas de equilíbrio cada vez melhores e ao se desenvolver atinge, na forma final, a aquisição do pensamento operacional formal. Neste estágio o indivíduo utiliza, predominantemente, esta forma de raciocínio para lidar com o ambiente, compreendendo a realidade e atuando sobre ela de modo lógico. Os mecanismos funcionais comuns a todos os estágios responsáveis por todo tipo de ação, quer seja movimento, pensamento ou sentimento, corresponde a uma necessidade que é sempre a manifestação de um desequilíbrio (Claparède, apud. Piaget, 1973, p. 14). É importante entendermos que, em toda conduta, as motivações e o dinamismo energético provêm da afetividade, enquanto que as técnicas e o ajustamento dos meios empregados constituem o aspecto cognitivo (senso-motor ou racional). Nunca há ação puramente intelectual ou puramente afetiva. Mesmo o amor supõe a compreensão. Outra questão que se deve levar em conta, quando se pretende entender a vida mental, é que um objeto, ao ser incorporado à vida psíquica, cria uma necessidade e é isto que o torna interessante. O interesse é o prolongamento das necessidades e precisa de regulações baseadas num sistema de valores que, por sua vez, dependem também de um outro sistema de regulações. O interesse é, então, a orientação própria de todo ato de assimilação mental. O interesse mobiliza reservas internas de força e desencadeia a ação, funcionando como regulador de energia. Quando um trabalho interessa, parece fácil, e a fadiga diminui. Piaget afirma que ... os escolares alcançam um rendimento infinitamente melhor quando se apela para seus interesses e quando os conhecimentos propostos correspondem às suas necessidades (1973 p.39). 41 O interesse implica em um sistema de valores porque o número de interesses apelativos para o sujeito é muito grande e é preciso criar critérios de prioridade para o atendimento/encaminhamento das ações do sujeito. 3.5. A PESQUISA E SEUS TEMAS ESPECÍFICOS Autores como Wallon, Vigotsky, Piaget, além de trazerem preciosas contribuições para o entendimento do funcionamento da mente e suas competências, trazem à discussão certos temas, mais específicos, de suma importância para os que têm a incumbência de desenvolver suas atividades na esfera educacional. Dentre eles se destacam as idéias sobre o brinquedo, que esclarecem alguns equívocos quanto ao verdadeiro papel do brinquedo como elemento motivador do comportamento infantil. Vários autores têm abordado a temática do brinquedo como elemento a ser utilizado na prática escolar para tornar a atividade em sala de aula, prazerosa. Entretanto, Vigotsky considera incorreto pensar assim, pois os jogos que podem ser ganhos ou perdidos, proporcionam desprazer quando o resultado é desfavorável ao participante. O jogo é importante pelo seu processo, pelas regras internas e pelo desempenho, pelo papel do sujeito no jogo. É preciso ter em vista que tudo aquilo que é motivo para a ação, preenche as necessidades da criança e o gosto e competência para desenvolver determinada atividade variam de acordo com o seu avanço nos vários estágios de desenvolvimento mental. A passagem de um para outro estágio provoca mudanças nas motivações, tendências, incentivos, e não se pode esquecer que as necessidades têm um caracter especial: quando despertadas, precisam ser satisfeitas. Vigotsky acredita que os brinquedos foram inventados quando certos desejos não puderam ser realizados imediatamente. A criança, quando se encontra nesta situação, lança mão de um processo psicológico, a imaginação, do qual faz parte o mundo ilusório, imaginário. 42 Segundo Vigotsky (1998, p.123), a imaginação é o brinquedo sem ação. A característica definidora do brinquedo em geral, portanto, é a situação imaginária. A criança que se imagina como mãe, tendo a boneca como criança, deve obedecer regras do comportamento maternal, próprios da comunidade em que vive. Somente aquelas ações que se ajustam a estas regras são aceitáveis para a situação de brinquedo, portanto, ligadas ao conceito que a criança tem do papel que deve desempenhar na situação de brinquedo. Assim, um brinquedo envolvendo uma situação imaginária é um brinquedo baseado em regras. O mais simples jogo com regras transforma-se numa situação imaginária, pois ao ser regulamentado, inviabiliza várias ações, logo de começo. Pode-se dizer, então, que uma situação imaginária possui regras ocultas, da mesma forma, os jogos com regras ocultam uma situação imaginária. Lewin, ao realizar um estudo sobre a natureza motivadora dos objetos para uma criança muito pequena, conclui que os objetos ditam à criança o que ela tem que fazer: uma porta, pede que a abram e fechem; uma escada, que a subam; uma campainha que a toquem (Vigotsky, 1998). Pode-se afirmar, então, que toda percepção é um estímulo à atividade. Mas, no brinquedo, os objetos perdem a sua força determinadora. Para Vigotsky ( 1998, p.127), A criança vê um objeto, mas age de maneira diferente em relação àquilo que vê. Assim, é alcançada uma condição em que a criança começa a agir independentemente daquilo que vê. A liberdade de ação atingida nas idades mais avançadas da criança, ou quando adultos, é adquirida após um longo processo de desenvolvimento. Na idade pré-escolar, um cabo de vassoura torna-se um cavalo. Neste caso, a ação surge das idéias e não das coisas: o brinquedo cavalinho de pau. O significado atribuído ao cabo de vassoura dirige a ação e não a percepção que o sujeito pode ter deste objeto. 43 A criança manifesta sua emancipação em relação às restrições que as situações lhe impõem, criando uma situação imaginária e, dessa forma, consegue fazer o que gosta. A situação de brinquedo também exige que a criança aja contra o impulso imediato, porque precisa se subordinar às regras e é obrigada a renunciar e submeter-se ao que foi estabelecido, para viver o prazer da situação de brinquedo. Assim, o atributo essencial do brinquedo é que uma regra torna-se um desejo e pode se transformar numa fonte de prazer – uma nova forma de desejo – quando se submeter às regras. A subordinação restrita às regras é quase impossível na vida, no entanto, torna-se possível no brinquedo. A criança sempre se comporta além do comportamento habitual de sua idade no brinquedo, como se ela fosse maior do que é na realidade. O jogo e suas regras, e o eu fictício, gerado pelo papel desempenhado no jogo, tornam-se, no futuro, o nível básico de ação real e moralidade. A escola costuma trazer à discussão questões ligadas ao futuro, estabelecendo um discurso com o aluno em que é colocado, como justificativa primordial, que ele se dedique ao estudo, a responsabilidade pessoal de cada estudante com relação a seu futuro. Os estudos de Piaget mostram que, para a criança chegar à concepção de futuro, necessariamente precisa se tornar capaz de se descentrar, isto é, partindo de uma realidade que se lhe apresenta, e que está circunscrita apenas ao aspecto particular que está vivenciando, ter condições de levar em consideração outros elementos que poderiam equilibrar e compensar os efeitos sobre o seu raciocínio que, sob uma única ótica, ficaria distorcido, pois incompleto. É que a imagem concreta da realidade, de um certo modo, é estática e se assemelha à conduta manifesta do momento. Por este motivo a criança não consegue reorganizar, esquematizar, dar nova forma aos fatos, mas apenas repetir aspectos irreversíveis da realidade. É preciso que a criança chegue ao pensamento reversível, isto é, seja capaz de percorrer uma trajetória, seguindo uma série de raciocínios e 44 transformações e, logo em seguida, percorrer o caminho inverso, voltando ao ponto de partida. A capacidade de descentração, que não está restrita apenas ao universo físico, mas ao interindividual/social, permite a cooperação entre iguais. Aliada à capacidade reversível de uma organização cognitiva, permite à criança avançar para um novo estádio de desenvolvimento. Piaget reconheceu que as operações lógico-matemáticas, cuja estrutura se assenta no abstrato, seguem a organização das estruturas mentais. Segundo Goulart (1997), a semelhança entre elas só não é maior, porque falta, às últimas, a perfeição do modelo teórico ideal. Na comparação que Piaget estabeleceu entre um tipo de operação e outro, percebeuse que há uma hierarquia entre as operações, pois, para uma delas se manifestar, depende da que a precedeu. Segundo Piaget, apenas as operações de classificação e seriação ocorrem simultaneamente. No estádio das operações concretas, estas ainda se baseiam nos objetos e não em hipóteses enunciadas. Esta competência, entretanto, só é revelada no estádio operacional abstrato. No estádio das operações concretas, Piaget distinguiu as consevações físicas (quantidade de matéria, peso, volume) e as operações constitutivas do espaço (comprimento, superfície, etc.). Neste período, a representação através da imagem concretizada começa a ser excluída. A noção de quantidade, ligada ao conjunto de coisas, ganha um significado independente. Piaget denominou esta noção de esquema de conservação, pelo fato de haver a conservação dos comprimentos, superfícies, perímetros, apesar de ser possível mudar a forma de um objeto, da mesma forma que seu volume ou quantidade de massa. As crianças sentem dificuldade de se desligar das configurações perceptivas, isto é, do concreto oferecido pela percepção do real. Segundo Rogers, para que tal aconteça, a criança precisa experienciar ( Pelletier et al 1877) várias atividades para 45 chegar a entender o sistema de transformações possíveis, apesar da conservação de quantidade da massa. O exemplo clássico citado por Goulart (1997) é o transvasamento de um determinado volume de líquido de um recipiente, fino e alto, para um largo e baixo. Para Piaget, a noção de tempo depende da capacidade que a criança apresenta de realizar uma seriação de acontecimentos que se sucedem numa ordem temporal: antes que, depois que, ao mesmo tempo que. É esta que permite seqüenciar situações que tiveram determinada duração. Há pouca atenção dada à velocidade. Ela julga o tempo em função do conteúdo físico ou psicológico da situação, mas sua avaliação é intuitiva. No estágio das operações lógico formais, o adolescente apresenta como característica essencial, a distinção entre o real e o possível. Ganha competência em prever todas as relações que poderiam ser válidas e logo procura determinar, através da análise da situação vivida, a possível validez do real. Segundo Piaget, descobrir o real em meio ao possível, supõe que se possa considerar o possível como um conjunto de hipóteses que devem ser confirmadas ou refutadas sucessivamente ( apud Goulart, 1997, p. 47). Para que isto exista, é preciso enunciar/propor esses dados estabelecendo entre eles vínculos lógicos. Para reunir todas as relações possíveis, se utiliza da análise combinacional que permite o inventário completo do possível. Neste período, ele revela que é capaz de trabalhar com o possível, isto é, algo que poderá ocorrer, no futuro. Inicialmente, tateia para fazer uma lista de fatores (hipotéticos) e estuda as possibilidades de vir a ser confirmado, ou negado. Dessa forma, o sujeito está trabalhando em cima do que pode ocorrer, no futuro, estabelecendo uma prospecção, imaginando, prevendo os prós e contras, isto é, procurando saber quais as possibilidades que poderá enfrentar ao fazer as suas escolhas no presente. Um outro tema instigante é o que diz respeito às estratégias para que os alunos apresentem comportamento condizente com o esperado. 46 No resgate do passado, quase recente, como parte do ideário escolar, vamos encontrar uma prática comum entre os professores, que é a de colocar os alunos em destaque na sala de aula com um chapéu-cartucho na cabeça com os dizeres “burro”, ou serem submetidos à famosa palmatória e outros castigos corporais por não realizar a atividade de acordo com o esperado ou por não aceitar participar das atividades propostas, distraindo-se com outras coisas que lhes parecem, no momento, mais interessantes. Esta situação, tão constrangedora, foi ou está sendo, aos poucos, abolida porque os professores estão sendo alertados para deixar esta prática e outras análogas, hoje, consideradas inadequadas e ineficazes. Os estudos de Piaget não deixam dúvida que o processo de emancipação do homem depende de sua liberdade de escolha, tornando-os aptos à cooperação, portanto, a exercer a autonomia. Quando sob “coação”, serão transformados em seres submissos, incapazes de justificar suas escolhas – um heterônomo. Piaget (apud Puig, 1998) chegou a estas conclusões através de pesquisa com crianças em que utilizou narrações breves que envolviam certos temas fundamentais: as regras de jogo, as normas morais de origem adulta e a noção de justiça, estabelecendo análise desses diálogos. Concluiu que a moral é constituída por um sistema de regras que os indivíduos devem respeitar, resultante do desenvolvimento cognitivo e sobretudo das relações sociais que as crianças estabelecem com os adultos e com seus iguais – relações interpessoais. As regras (como/quando estudar-aprender; fazer o que é proposto; não ir, não vir) chegam a se constituir num sistema, quando a criança compreende os motivos pelos quais estas lhes foram impostas pelos adultos e, dessa forma, podem ser reconhecidas por elas como necessárias. O adulto costuma utilizar as sanções como o meio mais comum para gravar as regras exteriores na consciência das crianças. Mas é necessário que estas regras surjam da cooperação e, assim, venham a ser obedecidas pelo respeito aos demais e não por obrigação, como é o caso da sanção. Assim, compreender o ponto de vista alheio e argumentar pela própria opinião é fator indispensável para a evolução de um juízo moral heteronômico em direção a um juízo moral autônomo, fruto do respeito mútuo e da solidariedade. Isto também vale entre 47 as crianças e depende de todo um amadurecimento não evolutivo, conforme exposto anteriormente, pois competência afetivo-cognitiva é um par que interdepende. Segundo Kolberg, o desenvolvimento do juízo moral requer uma série de capacidades psíquicas sem as quais não é possível a passagem de um estágio moral ao seguinte... É necessário que o sujeito seja capaz de diferenciar o certo do errado e saber se utilizar das concepções de igualdade e eqüidade (Apud Puig, 1998, p.54). Ao expor suas idéias sobre a construção da consciência moral, Kolberg (Puig, 1998) afirma que os fatores que permitem este salto, esta evolução, é tanto o desenvolvimento cognitivo ou intelectual, como também a perspectiva social que permite ao sujeito chegar a assumir o papel do outro. La Taille é um dos autores no Brasil que, na atualidade, discute o tema da construção da consciência moral. No seu texto A educação moral: Kant e Piaget (In: Macedo, 1996), parte das idéias de Kant e, sempre que possível, faz uma conver-gência com as idéias de Piaget. Neste texto, LaTaille, considerando indispensável ter em vista que estes autores escreveram em diferentes épocas, Kant, século XVIII e Piaget, século XX, diz que a diversidade cultural é considerada como responsável por posicionamentos diferenciados com relação aos procedimentos morais aceitáveis, mas ao mesmo tempo, afirma que pode-se encontrar posturas básicas que permanecem através dos tempos. Apresentando fatos extraídos de textos de Kant sobre a educação moral, La Taille destaca, dentre outras questões, que já àquela época, século XVIII, as crianças ouviam: Você não tem vergonha, isto é indecente!. Este tipo de censura é considerado por Kant inadequado, não devendo ser empregado na educação, pois a criança não tem concepção de vergonha ou decência. Diante do que é ouvido, ficará embaraçada, não pelo que fez, mas pelo que não sabe/ignora e se tornará tímida, dissimulada. Faz exceção à mentira, pois acredita que isto ela é capaz de compreender, e censurá-la vai fazê-la entender a 48 49 mensagem de que está perdendo a estima de alguém que lhe é cara (o professor) em função de seus atos e não interpretando como uma atitude agressiva, pois exposta à humilhação, por este alguém que a censurou e de cujo afeto ela necessita. Coloca, também, que é um princípio dominante nos meios educacionais, a idéia de que o processo educativo não deve se restringir à socialização da criança, pois ela não está pronta, mas em processo de crescimento e desenvolvimento, e o principal é faze-la evoluir. Segundo Werneck (1996, p.15), a educação é um processo permanente de correção de rumos no aprimoramento do homem enquanto pessoa. Afirma também que a educação levaria à postura de busca do essencial em todas as situações, de modo que, pela escolha cada vez mais livre, possa o indivíduo autodeterminar-se. Para nortear esta evolução, segundo Kant, o objetivo final em vista, deve estar assentado sobre a questão da dignidade humana, conseguida através do respeito. Afirma que, inicialmente, é preciso respeitar-se a si mesmo como ser humano, pois, por extensão, poderá manter este respeito como membro da humanidade. Realça a necessidade de ser trabalhado o caracter, para a construção da personalidade do indivíduo, quando se objetiva o auto-respeito. Este será inferido quando, na tomada de decisões, demonstrar firmeza, capacidade de dominar suas paixões, ou ainda honrar sua palavra, isto é ser digno. Do ponto de vista das sanções, o comportamento digno é livre, independentemente dos vários tipos de punição, até mesmo de um olhar de desprezo que revela perda da estima alheia; funcionando como perda, fica subentendido como punição. Ao explicar esta situação, La Taille, utilizando as idéias de Kant, assim se expressa: A estima moral dos outros é a fonte da estima de si, do respeito de si enquanto ser humano (In: Macedo, 1996, p.147). Pode-se inferir destas colocações, que o desenvolvimento moral tem como ponto central o sentimento do respeito do e ao outro. Quando um sujeito comete alguma falha no seu comportamento com o outro, esta situação criará um sentimento de vergonha, principalmente a vergonha consciente que o sujeito tem da distância que o separa da perfeição moral. Daí ser um equívoco, utilizar-se do sentimento da 50 vergonha como punição, pois isto só funcionará como elemento para abater, desanimar, rebaixar o sujeito que cometeu uma falta e nunca como incentivo para chegar à sua superação. Piaget ( La Taille, in Macedo, 1996), ao refletir sobre a questão do sujeito alcançar níveis cada vez mais altos de desenvolvimento, tendo como modelo o ser ideal, digno, respeitável, se reporta a duas situações indispensáveis: a socialização e a educação. Justificando a relevância dessas situações, põe em evidência o processo de descentração como responsável pela aquisição, por parte do sujeito, da capacidade de raciocinar de forma operatória, ao estabelecer a comunicação social. La Taille, seguindo na sua comparação entre as idéias de Kant e Piaget, encontra similaridades e divergências entre eles, pois ambos dão ênfase ao processo de socialização; mas, para Kant, o tipo de socialização que leva ao aperfeiçoamento humano, é a relação adulto-criança; para Piaget, o mais importante são as experiências oriundas do convívio das crianças entre si. Piaget acredita, pois, que é nas situações de conflito que reside a possibilidade de evolução. Pensa num homem de fato, responsável pela construção do conhecimento em todos os níveis e pelas suas próprias escolhas e isto é uma conquista possível quando, desde a fase inicial, convive com outras crianças, livre da situação de submissão imposta pela autoridade do adulto. Esta circunstância permite que as crianças aprendam pela cooperação entre seus pares e não pela autoridade, pois, neste caso, alguém manda e alguém obedece e se submete, ao passo que na cooperação se pensa em ação, em poder de decisão. Há, portanto, a liberdade de escolha que compreende o reconhecimento de direitos e a capacidade (alicerçados no conhecimento) que é o poder efetivo de exercer os direitos, implicando aí, o poder de decisão. Segundo Piaget, este é o verdadeiro sentido da autonomia, que liberta o sujeito das coerções do grupo social no qual vive e que são fortíssimas, principalmente quando se trata das questões relativas à área moral. 51 3.6. INTRODUZINDO A QUESTÃO METODOLÓGICA Consideram os autores consultados que a pesquisa permite conhecimento no sentido de desvelar os fenômenos, explicando em que circunstância eles ocorrem, entretanto, não resolve os problemas. Há, portanto, a necessidade de reorganizar as informações de modo que haja possibilidade da sua utilização por aqueles que trabalham nas áreas em que estas informações são relevantes. Dentre os autores que desenvolveram estudos sobre o domínio afetivo, na perspectiva educacional, se destaca Benjamin S. Bloom, que coordenou, nos USA, o Projeto de Taxionomia. Ele declara, com muita humildade, quão difícil foi descobrir um princípio ordenador simples e difundido que garantisse a clareza quando da enunciação de objetivos afetivos, até pela complexidade que reveste o tema em questão. Segundo Bloom, os professores, de um modo geral, ficam atentos para os indícios de interesse e atitudes desejáveis por parte do aluno, mas devem também estar atentos para determinar de que forma vem se desenvolvendo a personalidade do aluno no que tange ao seu caráter. Nos seus estudos, Bloom afirma que há indícios de diminuição ou desaparecimento quase completo de esforços de avaliação do crescimento do estudante no domínio afetivo. Certas circunstâncias, entretanto, ao colocar em evidência estes aspectos, exigem uma intervenção imediata da parte dos professores, de forma não planejada, pois fortuita. Estaria faltando, então, um esforço sistemático para a atuação do educador nesta área - a afetiva, tão significativo quanto o que vem sendo despendido para a área cognitiva ( Bloom, 1974, p.14). Para explicar os motivos pelos quais isto ocorre, Bloom apresenta uma questão ética que nos parece adequado trazer aqui. Bloom parte da afirmação de que o aproveitamento cognitivo é considerado como um jogo limpo. Aceita-se que um estudante possa receber menção de A a F, escala que o classifica e o posiciona de tal forma que adquire o direito de receber recompensas/honras, como por exemplo, a atenção do professor, direito a posições de prestígio na classe, etc. Entretanto, 52 procedimento análogo não tem a mesma acolhida quando se trata do plano afetivo. Segundo Bloom, isto ocorre porque o aproveitamento, competência, produtividade, etc. são considerados como fatores públicos, ao passo que as questões relativas às crenças, atitudes, valores e características da personalidade, são consideradas como assuntos pessoais e por isso devem ficar a salvo de avaliações de terceiros. Outra questão que, provavelmente, vem retardando uma ação mais efetiva no campo afetivo, é que informações e habilidades, mesmo muito específicas, são aprendidas com relativa rapidez, ao passo que interesses, atitudes e características de personalidade se desenvolvem relativamente devagar e a manifestação desses comportamentos, quando são esperadas mudanças, somente são detectadas após longos períodos de intervenção. Embora os estudos de Vygotzky (1998) deixem evidenciado que a aprendizagem se dá no coletivo, isto é, passa pelo crivo do social, para Bloom ainda perdura a concepção baseada na tradição judaico – cristã, que assim se expressa: “Esta condição pública - privada de comportamentos cognitivos vs. (versus) comportamentos afetivos está profundamente enraizada na religião judaica – cristã e é um valor altamente acalentado nas tradições democráticas do mundo ocidental” (Bloom, et al, 1974, p.16). Outra questão, também colocada por Bloom, é sobre a crença de que, se forem desenvolvidos objetivos cognitivos, haverá o desenvolvimento correspondente de comportamentos afetivos apropriados, mas nem sempre isto acontece. Ao conhecer os princípios da verdade, não significa que o sujeito adotará um comportamento pautado na verdade. Consideramos válido acrescentar, a título de elucidação das justificativas apresentadas, que, por exemplo, ao se executar com perfeição, ao piano, uma obra de Vila Lobos, não significa que se esteja adotando uma postura positiva à respeito das obras de Vila Lobos. Muitas vezes, conhecer pode produzir aversão ou ainda apresentar baixo nível de interesse. Diante destas questões apontadas, Bloom, embora reconhecendo a estreita relação entre as três instâncias do comportamento humano, o cognitivo, o afetivo e o psicomotor, descarta a crença no desenvolvimento automático de comportamentos 53 afetivos. Para que estes se desenvolvam, faz-se necessário proporcionar experiências de aprendizagem apropriadas, da mesma forma que para os comportamentos cognitivos. Segundo Bloom , há quem diga que o comportamento afetivo faz parte do folclore, e este fato tem criado uma certa erosão/desgaste nas tentativas de ação educativa direcionada para esta área. No momento em que haja uma compreensão mais precisa de como os comportamentos afetivos evoluem, de como e quando podem ser modificados, esta situação poderá se reverter. O trabalho de Bloom e seus colaboradores muito auxiliará a todos quantos queiram se dedicar à elucidação do quanto a escola pode ou não atuar nesse sentido. Para Bloom, é inegável a estreita ligação entre os domínios cognitivo e afetivo, se constituindo num problema-chave em educação detectar que experiências de aprendizagem produzem mudança no domínio afetivo, ou avaliar a influência do ambiente total tanto dentro quanto fora da escola. Cita Maslow (1959), quando este levanta a hipótese de que uma única experiência poderosa (culminante) pode ter muito mais impacto no indivíduo do que muitas experiências menos poderosas, reconhecendo, pois, que nem todas as horas de interação material-professor- estudante são de igual valor e permitem um alto índice de retenção por um período de tempo relativamente longo, o que permitiria serem reforçados/internalizados. Bloom, nos seus estudos, levanta questões profundas que vão além dos problemas mais operacionais e psicológicos. Estes dizem respeito tanto ao posicionamento por parte do indivíduo, como pessoa/profissional, sobre que mudanças são desejáveis e apropriadas, como também da parte da sociedade que vem permitindo e mesmo encorajando um projeto educativo numa determinada direção. Não é possível ignorar a pressão exercida pelas forças políticas e sociais sobre a escola com respeito a alguns objetivos afetivos adotados. Esta situação permite compreender o motivo pelo qual as equipes das escolas preferem refugiar-se no domínio cognitivo, talvez um campo menos perigoso ou polêmico, segundo Bloom. A educação, por outro lado, não é a memorização mecânica de conteúdos sem significação. No momento em que há a construção da significação, este processo está envolto em emoção e isto é impossível negar/ignorar. 54 Por estarmos buscando os motivos pelos quais o resultado do comportamento afetivo específico da aprendizagem escolar, em sala de aula, apresenta diferenças substanciais quando se observa um aluno e outro sob a interferência de uma determinada atividade comum a todos, tomamos por base os passos a serem vencidos na mudança de atitude segundo as categorias e suas subdivisões tão bem apresentadas por Bloom e seus colaboradores, pelo cuidado em contemplar os vários aspectos que envolvem o fenômeno educativo, estabelecendo um continuum. Bloom é, com toda razão, conhecido como um categorizador por excelência, e este trabalho prova esta adjetivação. Os passos a serem vencidos na trajetória da aprendizagem, segundo Bloom, foram assim enunciados: Entretanto, todo este processo que resulta na mudança de atitude, depende, num primeiro momento, de que o indivíduo se sujeite/aceite a influência do estímulo (motivação), desencadeando o processo num continuum, que vai proporcionar um meio de ordenar e relacionar os diferentes tipos de comportamento afetivo. 55 No esquema, Bloom relaciona alguns termos que expressam certos tipos de comportamentos mais característicos aos vários passos do processo no continuum: interesse, apreciação, atitude, valor e ajustamento, pois reconhece que não houve possibilidade de encontrar um único termo que pudesse corresponder e ser generalizado para todos eles. Para que o indivíduo chegue à internalização dos valores, deve vencer os passos propostos que passamos à explicitar no quadro a seguir. Quadro 1 - EXTENSÃO DE SIGNIFICAÇÃO TÍPICA DE TERMOS AFETIVOS, COMUMENTE USADOS, MEDIDA EM COMPARAÇÃO AO CONTINUUM 1.0 – ACOLHIMENTO 2.0 – RESPOSTA 3.0 – VALORIZAÇÃO 4.0 – ORGANIZAÇÃO 1.1. PERCEPÇÃO 1.2. DISPOSIÇÃO PARA RECEBER 1.3.ATENÇÃO CONTROLADA OU SELETIVA 2.1. AQUIESCÊNCIA À RESPOSTA 2.2. DISPOSIÇÃO PARA RESPONDER 2.3. SATISFAÇÃO NA RESPOSTA A J U S T 3.1. ACEITAÇÃO DE UM A VALOR M 3.2. PREFERÊNCIA E POR UM VALOR N 3.3. COMETIMENTO T O 4.1.CONCEITUALIZAÇÃO DE UM VALOR 4.2. ORGANIZAÇÃO DE SISTEMA DE VALORES 5.0-CARACTERIZAÇÃO 5.1.DIREÇÃO POR UM COMPLEXO GENERALIZADA DE VALORES 5.2. CARACTERIZAÇÃO Quadro 1. Taxionomia de objetivos educacionais; Bloom e colaboradores;1974, p.36). V A L O R A T I T U D E A P R E C I A Ç Ã O I N T E R E S S E 56 A primeira categoria proposta por Bloom, ACOLHIMENTO (1), é fundamental. Aquele que está em processo de aprendizagem vai ficar sensibilizado, ou não, pela existência de certos fenômenos e estímulos e presta atenção, ocorrendo o que ele denomina de PERCEPÇÃO (1.1.) Um dos estímulos mais utilizados, os recursos audiovisuais, simplificam esta situação e fica claro para o estudante, a ênfase que se pretende dar a um determinado tema. Avançar ou não para um novo patamar vai depender da orientação apropriada em direção à seqüência de instrução, dada, no caso, pelo professor. Para que isto se efetive, isto é, para que o professor possa tirar o melhor partido da situação, é importante o conhecimento que ele tenha da experiência prévia (formal ou informal) trazida pelo estudante, pois, dessa forma, conseguirá, mais rápida-mente, predispô-lo à aprendizagem, uma vez que tomará como ponto de partida (ancoragem para resultado), este conhecimento que o aluno traz. Assim, após ser captada, a atenção do aluno tenderá a dirigi-lo para os estímulos de sua preferência, num nível semiconsciente. Se compararmos o nível de consciência do sujeito no domínio cognitivo e no domínio afetivo, vamos encontrar uma diferença que será fundamental para a compreensão da distinção entre ambos. No domínio cognitivo existe um alto nível de consciência em todos os estágios do processo, ao passo que, no domínio afetivo, o nível de consciência aumenta, gradativamente, até um alto grau de especificidade, para decair em intensidade à medida que o processo de internalização assume a direção. Por exemplo, terminar logo para se dedicar a outra coisa que traga mais prazer; ou ter a percepção do grau de satisfação que experimenta ao realizar bem a prova e tirar boas notas, mesmo que não goste do assunto tratado, mas por ser um meio de gozar de prestígio, de ser considerado pelo grupo. Prosseguindo na proposta de Bloom, há uma segunda subcategoria – DISPOSIÇÃO PARA RECEBER (1.2.) – quando se espera que o sujeito se dê conta do fenômeno e a ele dedique a sua atenção. Nesta fase, os recursos audiovisuais são também de 57 grande utilidade, pois ajudam a predispor o aluno a ouvir os outros, professores e/ou colegas; a aceitar participar do grupo; a aceitar fazer revisão antes do teste. Neste momento, o aluno se encaminha para alcançar uma terceira subcategoria – ATENÇÃO CONTROLADA OU SELETIVA (1.3.). Neste estágio, o sujeito apresenta controle da atenção sobre determinado fenômeno apesar da existência de outros estímulos que poderiam distraí-lo. A percepção ainda é sem tensão/avaliação, mas há a diferenciação de um certo estímulo num nível consciente ou semiconsciente. Nesse momento, ele se destaca de outros elementos subjacentes. O estímulo é mais claro e conscientemente percebido. Há disposição do sujeito de experimentar esta atividade, movido pela curiosidade. É possível, inclusive, haver a contaminação da atenção pela recordação de ocorrências similares/convergentes que passarão/não passarão a ser consideradas importantes pelo sujeito. O estudante passa da ATENÇÃO, fruto da PERCEPÇÃO (1.1.) do fenômeno, para um comportamento de maior nível, pois se concentra no percebido – ATENÇÃO CONTROLADA OU SELETIVA (1.3.) e pode apresentar o comportamento desejável RESPOSTA (2.0). É quando o sujeito começa a se submeter ao processo de aprender, assumindo, paulatinamente, mais responsabilidade pelo início da ação. Segundo Bloom, a maioria dos professores reconhece este momento como INTERESSE, indicativo do envolvimento do estudante com a atividade proposta. Bloom faz, neste momento de sua apresentação, um alerta sobre as conseqüências da obediência e submissão por parte do aluno. Reconhece que esta circunstância, envolvendo uma boa dose de comportamento condescendente, pode bloquear o progresso do sujeito nas etapas posteriores do continuum. Mas fala também que, uma influência externa experiente ( do professor) , pode fazer com que o estudante chegue a um comportamento mais internalizado e mais auto – dirigido, ou seja, a disposição para se obrigar a participar com os outros; a completar sua tarefa de casa; a observar regras. 58 Neste caso, então, o que Bloom chama de AQUIESCÊNCIA (2.1.) - o próprio estudante estará disposto a fazer/agradar/evitar o desprazer, por interferência de outra pessoa. A falta de aquiescência pode ser notada no devaneio, pois o sujeito começa a fazer coisas diferentes do esperado no momento, ou ainda, faz a apresentação de trabalhos sem entusiasmo, realizando a atividade só quando não tem outro jeito. Pode-se dizer que, neste caso, o aluno está desmotivado, quando o esperado, o ideal é apresentar um comportamento que corresponde à DISPOSIÇÃO PARA RESPONDER (2.2.), isto é, o consentimento, por escolha própria, e receber a recompensa esperada, aprendendo ou recebendo elogio, o que é auto – reforçador . Percebe-se que há disposição para aprender quando o aluno é capaz de conservarse quieto quando a situação exige silêncio, se dispõe a contribuir para o grupo, tentando ser útil numa festa, distribuindo ou recolhendo o lanche, por exemplo, ou ainda, coopera para a produção de algo pela classe, escrevendo um bilhete. Estes são exemplos de consentimento espontâneo. O professor pode/deve fazer uso de sua influência como um fator positivo para que o aluno chegue à SATISFAÇÃO NA RESPOSTA (2.3.). Mas, muitas vezes, pode-se dar o inverso, quando as respostas emocionais são de repulsa, choque, aversão. A satisfação na resposta, tanto quanto a aversão, estão, portanto, envoltas em emoção e revelam a DISPOSIÇÃO PARA RESPONDER (2.2.). Tanto um tipo quanto outro de resposta revelam um certo nível de internalização e prevêem uma categoria superior do continuum – a VALORIZAÇÃO (3.0), que corresponde ao terceiro Estágio. Um comportamento revelador deste estágio é quando o aluno demonstra que encontra prazer em fazer contas no quadro, atividade proposta por ele próprio, como recreação, ou brinca de escolinha, ou ainda quando ri, e comenta depois sobre um jogo de matemática. O sujeito, ao atingir a etapa de VALORIZAÇÃO, passa a dar valor às coisas, fenômenos ou comportamentos. 59 Num primeiro momento, a sensação que se tem é de que, na VALORIZAÇÃO, há uma forte conotação subjetiva, própria de um sujeito determinado. Mas, quando atentamos para o processo de internalização do valor que está sendo utilizado e realçado, percebe-se que se constitui num produto social que foi aos poucos aceito, sendo adotado como critério de valor e acreditado como tal pelo próprio sujeito/estudante. Nesta etapa de VALORIZAÇÃO, é possível distinguir três níveis de internalização, que vão desde a menos até a mais profunda, pelo fato de determinado valor ter sido assimilado como critério. Inicialmente, há a ACEITAÇÃO DE UM VALOR (3.1.) pelo fato do sujeito acreditar no critério adotado a priori, até chegar à crença, que corresponde a um alto nível de convencimento, sobre a qual, não há sombra de dúvida. Este nível, Bloom denominou COMETIMENTO (3.3.). Quando o sujeito atinge a plenitude do estágio de valorização, fica evidente que ele é o resultado do desenvolvimento do seu processo de socialização, o qual o capacita para viver e conviver segundo os critérios aceitos pela sociedade ou grupo. Assim, há um conjunto de valores hierarquizados, ponto de partida para o sujeito controlar, de forma consciente, seu comportamento e o da própria sociedade. Os comportamentos, dentro de padrões ideais, que dizem respeito à responsabilidade pelo estudo, honestidade ao se submeter a provas, assumir suas fraquezas, evitar acusações para diminuir sua culpa, levam a supor que o indivíduo estabeleceu critérios em alto nível de internalização, pois todos e cada um ganham complexidade quando o sujeito precisa conviver com valores divergentes tais como COMPETIÇÃO X COOPERAÇÃO, dando um caráter de inconsistência à escala estabelecida, pois fica à mercê das circunstâncias e dos papéis desempenhados pelo sujeito, além das normas culturais vigentes em determinados grupos. Por este motivo, o autor afirma que as crenças têm vários graus de certeza, desde um baixo nível de valorização – quando há uma disposição para reavaliar as posições adotadas diante dos fatos, até os níveis mais altos, quando a crença, num nível de internalização profunda, não sofrerá abalos, tendendo a permanecer como tal. 60 Quando se trata de um estudante, pode-se afirmar que seu comportamento revela o que Bloom categoriza como ACEITAÇÃO DE UM VALOR (3.1.) ao se expressar/verbalizar o grau de importância que dá ao estudo, se interessando mais por metas de aprendizagem (M.A.) que por metas de execução (M.E.). Por exemplo: depois de ter se submetido a uma prova, consulta os apontamentos para ver se acertou, ou quando diz que considera o estudo importante para a sua vida. Quando o sujeito procura os colegas para estudar ou tirar dúvidas, ele está mostrando preferência por um valor ( o estudo) e se mostra comprometido com este valor que ele aceitou como importante. Em Tápia e Garcia-Celay (1996) vamos encontrar, além da explicação sobre a diferença entre metas de aprendizagem e metas de execução, estudos das pesquisadoras Dweck & Elliot sobre estes temas. Estas colocam que a concepção de cada sujeito sobre a inteligência pode vir a se constituir num possível elemento determinante para escolher M.A. ou M.E. ao enfrentarem as tarefas escolares. Quando os alunos têm sua atenção centrada em metas de aprendizagem, ele está em busca de incrementar a própria competência. Ao se dedicar a metas de execução, entendidas como metas relacionadas com o eu, o estudante quer estar bem diante dos outros, portanto, ter êxito, evitando o fracasso. Segundo as pesquisadoras, a busca de um ou outro tipo de meta faz com que o modo de enfrentar as tarefas varie. Assim, diante de uma atividade qualquer, os sujeitos que buscam M.A., questionam: Como posso fazê-lo?. Ao passo que os sujeitos que buscam M.E., têm como ponto de partida: Posso fazê-lo?. Na interpretação dos erros, os sujeitos em M.A. consideram algo natural, que a partir dali, podem aprender. Os sujeitos em M.E. percebem a situação como fracasso. Outro ponto assinalado pelas pesquisadoras é sobre as justificativas dadas por um e outro sobre as suas conquistas. 61 Os sujeitos com M.A. atribuem os êxitos à competência e esforço ( causas internas ). Já os sujeitos com M.E. explicam através de causas externas e não se consideram capazes de controlar a execução das metas que perseguem. Estes achados são importantes para os educadores, pois fica constatado que há formas de estar motivado, pautadas na valorização feita pelo aluno sobre a atividade escolar em sua vida, que encaminham o seu modo de atuar na sala de aula. Por outro lado, no nosso entender, estes estudos complementam adequadamente a proposta explicativa de Bloom sobre a categoria ACEITAÇÃO DE UM VALOR (3.1.). Segundo Bloom, quando um estudante, que normalmente vem atuando em M.A., apresenta um relatório executado com desleixo, esta situação pode revelar que o aluno está passando por alguma dificuldade emocional e pode ter havido regressão do afeto. Outro exemplo característico é quando os estudantes só respondem quando continuamente lembrados. Na verdade, estão em busca de atenção da parte dos professores e, por esta razão, estão atuando em M.E. A PREFERÊNCIA POR UM VALOR (3.2.) pode ser percebida quando o estudante procura uma pessoa da família para ajudá-lo nos estudos, por exemplo, e é também indicador de que atingiu este estágio, demonstrando preferência por determinado tipo de estudo, por considerá-lo importante. Para a categoria ACEITAÇÃO DE UM VALOR (3.1.), no caso de estudante, ele verbaliza ou expressa o grau de importância que dá ao estudo. Nesta fase de VALORIZAÇÃO, ele ainda pode chegar ao COMETIMENTO (3.3.), o mais alto nível a ser atingido nesta fase. COMETIMENTO nunca é um entusiasmo momentâneo e ocasional a ser substituído por outra paixão temporária. O fenômeno valorizado vem carregado de energia, tornando-se, assim, tão perseverante que o sujeito o relaciona com muitos outros assuntos. Esta circunstância permite que um agrupamento de estudantes se constitua de acordo com o bom desempenho escolar de seus membros, por exemplo, mais do que de acordo com a classe social ou etnia. Pode-se observar este fenômeno pela 62 freqüência, tempo em que o sujeito realiza determinada atividade, ou quando protesta por se sentir injustiçado ou perceber que alguém do seu grupo foi injustiçado nas competições escolares, por exemplo; luta por seus pontos de vista ou ainda solicita atividade numa determinada área: brincadeiras, por exemplo. Uma quarta etapa ainda deve ser alcançada. Ela diz respeito à ORGANIZAÇÃO (4.0.) do conjunto de referências disponíveis. O sujeito, para fazer uso dos valores internalizados, de acordo com o que ele considera relevante devido a circunstância que está vivenciando, necessita possuir seus valores organizados num sistema para que fiquem claras as inter-relações entre eles e possa haver o destaque para os valores dominantes e universais assimilados por ele até ali. A ORGANIZAÇÃO vai sendo construída gradualmente, e na incorporação de novos valores, muitas vezes, há modificações no sistema como um todo. Assim, num estágio avançado de organização, em decorrência de alcançar mais idade, a organização se torna mais rígida e menos aberta para a incorporação de outros valores que não estejam compatíveis com os já abrangidos. Convém destacar que o fato de o sujeito ter-se submetido à doutrinação também cristaliza as escolhas realizadas durante este processo. .A dificuldade de se encontrar a paz no Oriente Médio, talvez se prenda ao fato de que, entre povos de crenças diferentes, o entendimento só será possível tendo por base critérios mais universais; isto revela que o processo de doutrinação é pernicioso, pois induz ao fanatismo, onde os valores universais de respeito e solidariedade, por exemplo, ficam condicionados aos dogmas. Daí a importância da formação escolar que trabalha no sentido de proporcionar à criança uma base que permita escolhas conscientes, pois passíveis de serem defendidas segundo critérios organizados num sistema de valores que sofre alterações, à medida em que as diversas situações vão se modificando. Segundo Bloom, aí reside a possibilidade de distinção feita entre educação e doutrinação. A educação dá acesso às possibilidades de livre escolha e decisão 63 individual, pois, ao explorar muitos aspectos do mundo, o sujeito consegue se assenhorear do poder exercido pelos seus sentimentos e emoções sobre o seu comportamento e dessa forma criar melhores condições de escolha consciente, o que significa, exercer certo controle comportamental. Já na doutrinação, a escolha e decisão estão atreladas ao poder de persuasão de terceiros, seja pela argumentação ou omissão de outras opções possíveis e suas conseqüências, compelindo o indivíduo a aceitar como única verdade um ponto de vista ou crença. Na categorização apresentada nos estudos de Bloom, o estádio de ORGANIZAÇÃO (4.0.)está subdividido em dois níveis: um deles é a CONCEITUALIZAÇÃO (4.1.), que funciona como pré-requisito do segundo, a ORGANIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE VALORES (4.2.). Tomando-se como pressuposto que, na escola, está acontecendo um processo educacional para atender este momento do continuum, o conceito de valor, ao ser trabalhado através da análise e diferenciação de um conceito particular, torna possível isolar, deste conceito, certas características e, à partir daí, reconhecer estas características num conjunto mais amplo de fenômenos. A capacidade demonstrada de fazer convergências buscando descobrir e compreender características comuns, são comportamentos cognitivos com muito envolvimento afetivo, demonstrando o grau de interesse sobre o assunto. Assim, pode-se afirmar que a base é o conhecimento numa forma abstrata, atendendo ao objetivo que é a generalização, mas é o interesse sobre o assunto, PERCEPÇÃO (1.1), que estabelece a conexão com a instância afetiva. No Quadro 1, observa-se que esta atitude é pertinente desde a fase inicial até o momento em que o sujeito mostra PREFERÊNCIA POR UM VALOR (3.2.). O autor apresenta como comportamentos nesta instância, reconhecer como suas as dificuldade/qualidades alheias, ou prever as possibilidades de escolhas e conseqüências, ou ainda reconhecer, em que as pessoas são semelhantes/ diferentes na forma de conduzir sua vida. 64 Ao estabelecer uma relação ordenada de valores distintos, mas harmoniosos e integrados, revelando um equilíbrio dinâmico, desvela o nível subseqüente, a ORGANIZAÇÃO DE UM SISTEMA DE VALORES (4.2.). Podem ocorrer, assim, combinações que, à primeira vista, podem ser interpretadas como incoerência, mas que, uma análise cuidadosa mostrará a possibilidade de harmonia. É o caso de unir recreação e trabalho, muito comum na escola, isto é, aprender brincando. Claro que, no caso, se espera que o valor dominante seja aprender e a posição mais periférica seria ocupada pela brincadeira. Os estudantes que conseguem fazer humor diante de uma situação séria, revelam um alto nível de organização. Para realizar suas opções, o estudante, primeiramente, tenta levantar suas possibilidades de escolha, avaliando vantagens e desvantagens de cada uma, passando a compará-las para chegar à escolha final ou estabelecer prioridades de modo consciente. Nesta etapa final já existe um alto nível de internalização do valor ou complexo de valores e o sujeito, naturalmente, vai recorrendo a esse referencial para controlar/pautar seu comportamento , até que um fato novo venha provocar mudanças no sistema quando o indivíduo é ameaçado ou desafiado, por exemplo. Os valores estabelecidos têm um grau de consistência tão alto, que passa a caracterizar a personalidade do sujeito, revelando sua filosofia de vida ou seu modo de ver o mundo. Segundo os autores, é difícil, durante a educação formal que o sujeito atinja este nível, pois requer muita maturidade e integração pessoal, além de muita reflexão e esforço intelectual. Nesta etapa, é possível prever e compreender o comportamento dos indivíduos dependendo, portanto, do grau de consistência do seu sistema de valores. Nesta etapa, também, a solução de problemas ficará resguardada do perigo que representa a solução pela via emocional descontrolada. À primeira vista, pode parecer que o comportamento é destituído de afeto, mas os autores esclarecem que 65 o emocional apenas está sob controle e,se descontrolado,aflora prontamente nos casos do sujeito se sentir ameaçado ou desafiado. É comum encontrar pessoas que se comprazem ou usam como estratégia desestruturar seus interlocutores mais centrados, provocando-os, tirando-os do sério. Daí ser comum ouvirmos: Fulano passou dos limites... Por este motivo, é necessário que os problemas sejam resolvidos com cuidado, objetividade e confiança e se possa prever as conseqüências. A etapa final é a CARACTERIZAÇÃO (5.).), quando a internalização chega ao ponto culminante. Princípios éticos, conscientemente aceitos, norteiam o comportamento da vida pessoal e cidadã. É revelada uma consistência interna que abarca grupos de atitudes, comportamentos, crenças e idéias que se desligam do objeto original e permitem a generalização, transformando-se em código que direciona todo o comportamento do sujeito e expressa a educação geral por ele alcançada. Este sujeito é aquele que possui uma integração interior, estabilidade e firmeza (relatório da Harvard, in Bloom, 1974, p.170). As pesquisas em torno da motivação se orientam no sentido de estabelecer uma estimativa sobre a sua influência na organização de outros processos comportamentais. A utilização desses achados no processo de aprendizagem exigiu algumas adaptações e reformulações. Considerando-se a afirmação de Young ( apud Penna, 1998) como válida, a de que todo comportamento é motivado, aceitamos que os motivos representam um dos prérequisitos mais importantes para a aprendizagem na escola. É voz corrente, nos meios educacionais, a necessidade de se respeitar os motivos individuais e os da comunidade em que vive o educando e, para tal, é necessário conhecê-los. O professor, embora mediador do processo de ensino–aprendizagem em sala de aula, é quem propõe para intervir. Assim, ele propõe objetivos a serem alcançados, mas quem deve desejar alcançá-los é o aluno. 66 Provavelmente, a origem das dificuldades da escola está no fato de não se diagnosticar os interesses e necessidades dos alunos, pois, pela falta de motivação relacionada à aprendizagem, haverá dificuldades para o professor em controlar as tensões que estarão multidirecionadas, portanto, fora de foco, resultando, a nosso ver, no que, inadequadamente, é chamado de problemas disciplinares e de aprendizagem nula ou pouco eficiente. O professor, além de proponente/orientador das atividades de aprendizagem dos alunos, funciona como mediador entre os motivos individuais e os alvos perseguidos, e por ele legitimados, tendo também a incumbência de operar como agente socializador, quando se torna responsável pela utilização de determinados padrões de comportamento que garantem um ajustamento social eficiente, mas que, no mais das vezes, não fazem parte do repertório de entrada dos alunos e, portanto, devem ser adquiridos – estes novos motivos – próprios dos padrões culturais vigentes. A motivação, para ser eficiente, precisa estabelecer conexões entre o que o professor pretende que o aluno realize e os interesses deste. Em última análise, é preciso levar o educando a se aplicar no que ele precisa aprender e, para que tal aconteça, o aluno precisa estar disposto a despender esforços, de forma voluntária, para atingir a aprendizagem. É importante ressaltar que o resultado da aprendizagem funciona também como elemento modificador no campo dos motivos – criando novos motivos, novas necessidades – interferindo em comportamentos futuros O pensamento dos diversos autores aqui citados mostra que considerar a atenção do aluno, a gama de seus interesses, a estrutura mental que ele apresenta em dado momento é de suma importância para a aprendizagem, devendo nortear o processo ensino – aprendizagem, dando sentido à relação professor - aluno. O professor, antes considerado o único capaz de definir o que deve ser feito, deixa de se posicionar acima de quem aprende e uma nova configuração surge na relação professor-aluno: a cooperação. Segundo Piaget (1973), quando se acredita na construção, pelo sujeito, de sua própria aprendizagem, estamos dando ênfase à resposta elaborada por ele. Isto não significa, entretanto, que o indivíduo isolado chegue a construir seu próprio 67 conhecimento. O papel da cooperação é de suma importância, pois, na interação com o ambiente, quanto mais ricas forem as trocas verbais e outras formas de comunicação, mais possibilidades tem o indivíduo de desenvolver o raciocínio lógico. Nem sempre é fácil parar e discutir com a criança, numa relação igualitária, principalmente, como administrar sua vida (da criança). O que o adulto tem feito é apenas dizer o que a criança deve fazer, sem com ela discutir o porquê. Entretanto, só essa disposição do adulto em oferecer condição ideal para o desenvolvimento da competência moral e social da criança, além da estrutura cognitiva, é básica para se chegar à autonomia verdadeira . É verdade que, na etapa heterônoma do desenvolvimento moral da criança, as trocas sociais com o adulto têm grande importância, pois é através da conversa que a criança entra em contato com o que é permitido e com o que é proibido. Se o adulto conseguir estabelecer com a criança uma relação afetiva bem segura, bem estruturada, antes de colocar certas restrições à sua ação, o fato de estabelecer certos limites não faz com que a criança deixe de amá-lo. É nas trocas com seus iguais que as crianças desenvolvem a autonomia, tanto no brinquedo quanto em outras atividades onde exercitam a defesa de seus direitos, aprendendo a argumentar. O professor tem como objetivo constante proporcionar aos alunos uma situação que os induza a um esforço intencional, a uma atividade visando certos resultados desejados e compreendidos. A motivação, neste caso, está sendo considerada fator decisivo no processo de aprendizagem. Não poderá haver, por parte do professor, a pretensão de dirigir a aprendizagem, se o aluno não estiver motivado, se não estiver disposto a despender esforço voluntário para aprender. Pela motivação, são estabelecidas conexões entre o que o professor pretende que o aluno realize e os interesses deste. Um aluno motivado sente necessidade de aprender sobre o que está sendo tratado. Esta situação leva-o a aplicar-se, a esforçar-se e a permanecer trabalhando até sentir-se satisfeito. 68 Faz parte do ideário dos que militam na escola, que motivar é levar o educando a se aplicar no que ele precisa (na visão da escola/sociedade) aprender. Tapia & Garcia Celay (Coll, 1996, p.163), ao apresentarem os tipos de metas perseguidos pelo sujeito, fazem menção às metas relacionadas com a tarefa a ser realizada. Estas metas dizem respeito ao próprio empenho do ser humano em uma atividade, isto porque será levado a experimentar a percepção da própria competência ao realizar a tarefa; tem a percepção de que está realizando a tarefa por vontade própria e, principalmente, experimenta a sensação de estar absorto pela natureza da tarefa. O indivíduo empenha-se em uma atividade, engajando-se nela, e esta atividade passa a ser o próprio incentivo desencadeador da motivação. Isto significa que o sujeito gosta de estar envolvido na realização de uma atividade e por isso não quer parar. Este posicionamento explica a tese de que nada motiva mais, na escola, do que transformá-la em oficina, onde todos possam empenhar-se em uma atividade e participar da realização de algo. Para se compreender melhor a motivação, é necessário perceber que ela é uma condição interna, mistura de impulsos, propósitos, necessidades e interesses que levam o indivíduo a agir. Assim, se as necessidades de ação se constituem, inicialmente, impulso puramente biológico, aos poucos, por força da própria aprendizagem, vão se enriquecendo, criando um todo bio-psico-social onde algumas necessidades ou interesses vão predominar sobre os demais em determinadas situações. O motivo dominante vai prevalecer. Tanto nos estudos de Wadsworth como nos de Maquis (Penna, 1980, p.168) vamos encontrar um grupo de motivos denominados de emergência. Estes, quando despertados, requerem imediata e vigorosa ação. Assim, por exemplo, diante de situação de perigo, o sujeito apresenta um estado emocional de medo; o objetivo que pretende alcançar é o de segurança, que o leva a ter a conduta de fuga. Ou seja: diante de um obstáculo (situação), sente uma 69 determinada emoção (estado emocional) que o leva a buscar o domínio da situação (objetivo) e isto vai exigir esforço (conduta requerida). Há que se considerar também, que nem sempre é possível alcançar o objetivo almejado, criando um sentimento de frustração, cuja conseqüência depende da severidade da frustração do sujeito. Entretanto, os bloqueios podem sofrer adaptações bem sucedidas, isto é, podem intensificar os esforços para alcançar os objetivos, exigir uma reorganização perceptiva ( retomando para ver melhor a situação), revendo os meios disponíveis para atingir os objetivos ou substituir os objetivos inacessíveis por outros acessíveis. As conseqüências da adaptação fracassada podem comprometer a atividade normal do sujeito, e vir a manifestar-se sob múltiplas formas como: agressão, retraimento, recalque, etc.. A integração das necessidades, das exigências e das aspirações se realiza graças à constituição de um sistema de idéias, de valores, sob uma ideologia que analisa e organiza os motivos rivais. Gates (Campos, 1971) chama a atenção para o fato de que há diferenças entre os alunos quanto a sua disposição para se envolverem com os trabalhos escolares. Alguns alunos não precisam de muitos estímulos motivadores, pois estão sempre dispostos a fazer o que o professor planejou. Entretanto, esta não é a regra geral. A maioria dos alunos precisa de motivos poderosos para se encaminhar para os estudos, necessita receber incentivos constantes dentro e fora da escola. Daí, a importância do professor não apenas motivar para iniciar a aula, é preciso pensar no desenrolar da aula, a fim de manter os alunos motivados: discutindo, dialogando, pesquisando. Alguns alunos são estáveis, isto é, não são nem muito entusiasmados, nem desanimados, uma apreciação sobre seu trabalho os ajudará a manter a motivação. Há outros, ainda, que não se impressionam com os meios que motivam a maioria dos colegas de classe; geralmente, fazem parte das classes sociais mais elevadas ou muito baixas, e não encontram eco em sua experiência do presente, da que tiveram, anteriormente e da que têm hoje no mundo em que vivem. A motivação destes 70 alunos, em classe, é difícil, pois demanda do professor muita criatividade e senso de observação. Vamos encontrar também os alunos facilmente motiváveis, mas sem constância. Não têm perseverança em nada que fazem, são os chamados fogo de palha. Assim, a motivação depende muito da idade, inteligência, situação social e traços de personalidade de cada educando. É fácil percebermos que motivar classes muito heterogêneas é complicado, mas sumamente necessário quando se busca o sucesso do processo de escolarização. Segundo Herzberg, a motivação é influenciada por dois tipos diferentes de fatores: fatores que levam à satisfação e fatores que levam à insatisfação. Portanto, satisfazer as necessidades de nível relativamente baixo na hierarquia das necessidades humanas de Maslow, como necessidades fisiológicas e de segurança, pode ser considerado equivalente a remover fatores que levam à insatisfação, como frio, fome, enquanto para atender às necessidades de nível mais alto é preciso contemplar fatores que levem à satisfação (Kondo, 1994, p.19). Logo, para motivar as pessoas é importante atender às necessidades de níveis mais elevados, através de fatores que levem à satisfação. Daí, a validade de tentar conhecer melhor a questão da motivação para implementar o trabalho pedagógico, mas é bom salientar que, segundo Kondo, nós identificamos prontamente os fatores que causam insatisfação quando nos deparamos com eles, pois estão mais estreitamente relacionados com nossos instintos de sobrevivência. Ao passo que há grande dificuldade de reconhecer os fatores que levam à satisfação e, por isto, apresentam maior relevância e atenção. É importante e eficaz eliminar os fatores que causam insatisfação, entretanto a simples retirada de fontes de insatisfação não irá, necessariamente, motivar e estimular o aluno para ter vontade de aprender. A aprendizagem prevê que se lide com mudanças de comportamento e isto não é uma tarefa fácil. 71 Para entender melhor esta questão, é interessante colocar uma afirmação do Dr. Sanuki, especialista em engenharia aeronáutica, não foi por meio da “estabilidade” no ar que o ser humano aprendeu a voar no céu, e sim sacrificando a “estabilidade” e buscando a “dirigibilidade”. A “estabilidade” e a “dirigibilidade” são atributos de desempenho que se opõem entre si. A “falta de estabilidade” em si está mais relacionada com a “dirigibilidade”, e foi melhorando a “dirigibilidade” dos aviões que estes se tornaram mais seguros (Kondo, 1994, P.197). Estas afirmativas mostram o comportamento exploratório como elemento essencial para elevar o nível de estimulação do indivíduo, para atender à sua necessidade de novidade. Maslow, entretanto, indivíduo, analisando o resultado do conhecimento sobre o coloca em contraposição a necessidade de conhecer e o medo de conhecer-se. Segundo Maslow, o medo de conhecer-se é muitas vezes concomitante ao medo da realidade exterior. E este medo de conhecer-se pode refletir o medo de crescer e desenvolver - se, tendo como conseqüência que o indivíduo às vezes chegará a negar, de certa forma, seus recursos, seus talentos, seus impulsos mais positivos, suas potencialidades mais ricas, sua criatividade, pois tem medo de assumir responsabilidades. E conclui que os fatores psicológicos e sociais que contribuem para o medo, podem bloquear a necessidade de conhecer, enquanto os fatores que suscitam a coragem, a liberdade e a audácia permitem a expressão dessa necessidade (Pelletier et al,1977, p.48 ). Os órgãos da administração pública centralizada que têm, sobre si, a responsabilidade de apresentar propostas pedagógicas que serão utilizadas como subsídio para desenvolver o processo educacional nas escolas públicas brasileiras, partem da constatação de que os grupos sociais mais pobres constituem a maioria de nossa população que busca a formação escolar, na escola pública, como primeiro passo para melhoria de vida. Mas, os índices de exclusão e seletividade mostram que esta busca para atender as suas aspirações e expectativas foram sumamente reduzidas. Desencorajados pela repetência contínua, muitos se desligam da escola e os que 72 nela permanecem continuam a freqüentá-la pela merenda, pela convivência e por um pouco de esperança de que alguma coisa melhor lhes possa acontecer. Este quadro mostra dois eixos de preocupação: de um lado, o aluno e suas possíveis dificuldades, e por outro, um contexto escolar que precisa ser revisto e alterado no sentido de tornar-se mais estimulante para favorecer a ocorrência de aprendizagens que não são espontâneas e precisam contar com o espírito de persistência e sentimentos de autoconfiança e cooperação por parte do aluno. Na base desse processo se encontra a motivação, criadora de um clima estimulante do trabalho intelectual. Mobilizar interesses, ativar a participação, desafiar o pensamento, instalar o entusiasmo e a confiança, possibilitar acertos, valorizar os avanços e melhorar a autoestima passam a ser diretrizes da atuação do professor, numa busca de tornar significativo o processo de ensino-aprendizagem (Sec. Educação do Est. da Bahia; CLASSES ACELERADAS, Proposta Pedagógica; 1998; p.10). Na escola, há sempre uma tarefa a ser concluída e o ideal é que trouxesse um resultado positivo, no sentido da satisfação: alegria, triunfo, sucesso; que trouxesse uma sensação de evolução, de progresso no desempenho pessoal e social, reforçadores da motivação. Consideramos que o gosto para aprender depende dessa avaliação positiva do trabalho escolar e o auto-conceito vai se fortalecendo e colocando o sujeito com predisposição para superar obstáculos e dificuldades sem se sentir fracassado, mas motivado para a ação, para a aprendizagem escolar, que tem como alvo principal a atividade mental, isto é, o processamento do que ocorre dentro da cabeça dos alunos e, assim, consegue sistematizar os conteúdos aprendidos. 73 4 - ESQUEMA OPERACIONAL 4.1. CONCEITOS BÁSICOS Neste estudo, utilizamos conceitos que retiramos das obras de vários autores e considerando que as definições, idéias, concepções e/ou enfoques dinamicamente sofrem alterações de autor para autor, achamos conveniente apresentar as que mais se aplicam a esta pesquisa. Dentre elas, destacamos: MOTIVAÇÃO - processo que se desenvolve no interior do indivíduo e o impulsiona a agir mental e fisicamente (Nérici, 1981, p.152). MOTIVO – estímulo capaz de levar o organismo a reagir (Carvalho,1982, p.99). INCENTIVAÇÃO – procedimento do professor para sustentar a motivação (Nérici, 1981, p.156). NECESSIDADE – estado de tensão devido ao rompimento do equilíbrio interior do indivíduo e se traduz pelo interesse (Nérici, 1981, p.155). INTERESSE – está intimamente ligado à necessidade. Todo interesse é prolongamento da necessidade (Piaget, 1973, p.38). EQUILIBRAÇÃO – ( na teoria de Piaget ) passagem do estado de desequilíbrio para o estado de equilíbrio (Wadsworth, 1996, p.8). EGOCENTRISMO - visão distorcida da realidade que parte do próprio eu, pela ausência de esquemas conceituais verdadeiros. O egocentrismo é uma disposição afetivo-intelectual que se apresenta sempre que uma alteração da realidade social do sujeito não é acompanhada da capacidade de representar tal realidade. Uma conseqüência é a incapacidade da criança de colocar seu próprio ponto de vista como um entre muitos outros pontos de vista possíveis, e de tratar de coordená-lo com estes (Goulart, 1997, p.32). DESCENTRAÇÃO – ( na teoria de Piaget ) - passagem de um estado inicial em que tudo está centrado no corpo e na ação próprios do sujeito, a um estado de 74 descentração que implica em relações objetivas com os acontecimentos, objetos e pessoas. Há a descentração tanto cognitiva quanto afetiva, baseada num universo físico, interindividual e social (Goulart, 1997, p.34). FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES – expressão utilizada por Vigotsky quando analisa os processos ligados à criação de signos (signalização), admitindo que estes afetam o comportamento do indivíduo, mudando todas as operações psicológicas ( Vigotsky, 1984, p.73). 4.2. METODOLOGIA Parece justificativa adequada para se propor pesquisar um assunto, o fato de existir a dúvida, e também porque não sabemos tudo. Diante desta constatação, é preciso criar condições de pesquisa para enriquecer/reformular ou até mesmo substituir certas explicações ou o que se pensa sobre um determinado objeto/fenômeno, a fim de melhor compreender estes objetos ou fenômenos já estudados ou abordados pela primeira vez. O que quisemos deste trabalho foi reunir e construir conhecimentos necessários ao estabelecimento e adequação do saber referente ao processo motivacional, no que se refere ao ensino-aprendizagem formal, na escola fundamental e, assim, investigamos, em levantamento na literatura disponível, o que pensam os autores à respeito da motivação e aspectos da motivação, e em campo, coletamos dados que se referem à ótica dos professores e dos alunos matriculados nas classes de 4ª série das escolas que oferecem ensino fundamental regular diurno, na cidade de Ilhéus. A hipótese deste estudo nos remete à necessidade de identificarmos as motivações dos alunos para desenvolverem as atividades escolares e aquelas que os professores reconhecem/utilizam como eficazes para a aprendizagem no cotidiano da classe e que interferem no trabalho docente, acreditando que, freqüentemente, as motivações, na ótica dos professores, não correspondem ao que pensam/querem os alunos, como estimuladores da aprendizagem pretendida. 75 Assim, para o estudo do fenômeno – motivação – tivemos o cuidado inicial de escolher alguns teóricos que têm contribuído para a compreensão dos princípios básicos do desenvolvimento e funcionamento dos processos mentais superiores no homem, principalmente Piaget, Vigotsky e Wallon, diretamente em suas obras ou buscados nos autores que escreveram sobre suas contribuições, chegando ao entendimento de como se dá o fenômeno da motivação e o seu papel no comportamento humano em situação de aprendizagem. Este estudo, para confrontar a visão teórica com os dados da realidade, utilizou técnicas padronizadas de coleta de dados como a entrevista por formulário e a observação direta, que foram aplicados às amostras: professores e alunos das 4as. séries do Ensino Fundamental em Ilhéus, conforme já dissemos. Na análise dos dados houve preocupação em detectar as possíveis relações entre a teoria e a prática, através dos dados fornecidos pelas pessoas envolvidas no processo motivacional em sala de aula: o professor e o aluno. Desta forma foi possível chegar a certos motivos que levam os alunos a aceitar/ rejeitar as atividades propostas pelos professores. Este, portanto, é um estudo teórico, de natureza reflexiva e se constitui em investigação não aprofundada, embora cercada dos cuidados metodológicos cabíveis a um treinamento/iniciação à investigação. É um trabalho que, por suas características, aproxima-se da pesquisa descritiva/explicativa. Consideramos pesquisa descritiva porque, segundo Gil, “tem como objetivo primordial a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, então, o estabelecimento de relações entre variáveis”...”uma de suas características mais significativas está na utilização de técnicas padronizadas de coleta de dados, tais como o questionário e a observação sistemática” ( Gil, 1991, p. 46). A trabalho tem também características de pesquisa explicativa porque, segundo o mesmo autor, “tem a preocupação central de identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos”... “aprofunda o conhecimento da realidade, pois pretende encontrar a melhor explicação para a razão, o porquê das coisas” (Gil, 1991, p.46). 76 E isto, fizemos. Em 1967 a UNESCO, ao final da sua Reunião Internacional, apresentou como uma das recomendações para a melhor operacionalização dos projetos educacionais e a melhoria do padrão de desempenho dos profissionais envolvidos, o destaque à pesquisa pois, dentre outras questões, “poderá indicar as falhas e oferecer possíveis direções para que as decisões do educador sejam mais eficientes e mais econômicas (Gressler, p.18). Portanto, investigar sobre fenômenos educativos é sempre significativo e necessário, sendo a pesquisa a base para a tomada de decisões conscientes, e a eficiência das ações dos professores, enquanto docentes, depende da capacidade crítica de julgar uma situação, à partir do que é revelado pelas investigações. Apresentamos os resultados obtidos nas entrevistas vinculados às ocorrências em classe, fruto de nossas observações diretas a fim de que as informações fiquem próximas da prática docente. Alguns procedimentos foram adotados para desenvolver esta pesquisa: partiu-se de um planejamento prévio, entendido como estudo preliminar que, transformado em anteprojeto, foi submetido à aprovação do Colegiado do Curso Mestrado em Educação, convênio UESC/UFBA. O estabelecimento do universo da pesquisa e a delimitação da amostra foram as primeiras providências. Foram definidos critérios utilizando-se recursos estatísticos para que a amostra fosse representativa, o mais possível próxima da porcentagem ideal do universo considerado, e a possibilidade de se entender este trabalho como estudo de caso ficasse descartada. Passou-se, depois, à construção dos instrumentos para a coleta dos dados e forma de aplicação, que estará sendo detalhada. Em seguida, estará explicitado, também, o tratamento dos dados apresentados em tabelas e as formas de análise e interpretação destes e de outros dados, fruto de observações que relatamos e incorporamos na análise dos formulários. 77 Fig.3 – As escolas da pesquisa no zoneamento do Município de Ilhéus. (Adap. Projeto Diagnóstico Ambiental da Cidade de Ilhéus) 78 4.2.1. UNIVERSO E TIPO DE AMOSTRAGEM O universo considerado se constituiu de professores e alunos das 4as séries (Educação Fundamental) de escolas da Rede Pública do Estado da zona urbana da cidade de Ilhéus. Para a escolha inicial das escolas, foi utilizado o critério de localização geográfica. A ocupação do solo, na cidade de Ilhéus, acompanhou o litoral no sentido sul/norte, à partir de um núcleo central. Por este motivo, as escolas ficam distribuídas nestas três zonas ( Fig. 3, pg. 76). Por este fato, foram escolhidas, por sorteio, unidades em cada uma das zonas da cidade: sul, norte e centro. Para a escolha, este critério foi adotado, levando-se em conta que os alunos, nesta faixa de idade, já conseguem explicar certos conceitos, justificar suas escolhas, enfim, já se encontram num nível de maturidade que permite o diálogo, e as respostas refletem a sua vivência e o seu momento escolar e social. Foi feita consulta à DIREC-6 para se obter informações indispensáveis sobre cada escola quanto ao número de turmas, professores e alunos da 1ª à 4ª série do ensino fundamental, organizando-as em tabelas por grupo de escolas, segundo critério de zoneamento, já utilizado pela administração central para agrupá-las. Buscou-se estabelecer um número adequado de elementos para que os dados obtidos fossem significativos. A amostra foi selecionada ao acaso, dentro de cada zona, com número apropriado de elementos ( classes, professores e alunos), segundo cálculos estatísticos. Foi aplicada a técnica de amostragem, de acordo com o que propõe Cochran. Segundo Gil (1996), a amostragem estratificada se caracteriza pela seleção de uma amostra de cada subgrupo da população considerada. Entendemos ser importante que as amostras de alunos e professores fossem proporcionais. Partiu-se do cálculo inicial da amostra de professores e alunos, estabelecendo-se a proporção entre o número de professores e alunos, para se chegar à amostra ideal. 79 A fim de melhor explicitar o cálculo estatístico, passamos a descrevê-lo. 4.2.1.1. Amostragem Estratificada Proporcional * O cálculo do dimensionamento da amostra foi realizado com base no número de alunos por turmas das 4as. séries do ensino fundamental da cidade de Ilhéus, Bahia, considerando-se apenas as escolas estaduais que oferecem matrícula da 1ª.à 4ª. séries. O modelo adotado corresponde ao proposto por Cochran (1965), descrito à seguir: n=(z. σ) onde n=tamanho da amostra; e z=desvio reduzido correspondente ao nível de confiança estabelecido; e=erro máximo de estimativa aceito; σ = desvio padrão da população; Transcrevendo ρ para o modelo empírico, temos: n=nº de alunos que compõe a amostra; z= 1,96 encontrado na tabela de curva normal padronizado para um nível de confiança de 95%; σ = desvio padrão proporcional ao número de alunos por turma, da série em estudo; e = corresponderá a 10% do valor da média populacional ( µ ) do número de alunos por turma da série em estudo. Para a 4ª série: µ = 95,88 alunos σ = 40,4 alunos e = 9,59 alunos n= 1,96 x 40,4 = 68,18 ~ 68 alunos 9,59 Distribuição por estratos: Zona Sul = 25,94% ⇒18 alunos Zona Norte = 38,66% ⇒26 alunos Centro = 35,40% ⇒24 alunos *Elaborado pela prof. Maria Elaine Alves Sousa, da UESC. 80 As unidades de listagem correspondem à lista de escolas do ensino fundamental em Ilhéus, de 1ª a 4ª séries, fornecida pela DIREC-6. As unidades de amostragem correspondem às escolas a serem escolhidas, por sorteio, em cada estrato ( por zona: Sul, Norte, Centro) e as unidades de observação, escolhidas pelo critério de sorteio, definem quais professores/ alunos serão objeto da pesquisa . De acordo com o que descreve Cochran (1969), desde que a fração da amostragem n/N permaneça baixa (menos de 1), a correção de finitude pode ser ignorada. Assim, não está se adotando a correção para populações finitas, uma vez que a fração da amostragem para as duas amostras foi de 0,04. Em resumo, para o estabelecimento da amostra foi levado em consideração o conjunto de professores e alunos das 4ªs. séries do ensino fundamental da rede pública estadual de Ilhéus, na zona urbana. Por considerarmos que os aspectos qualitativos se sobrepõem aos aspectos quantitativos, que os dados que mereceram maior ênfase foram obtidos através da observação direta realizada nas classes e que corresponderam aos alunos e professores da amostragem, estabelecemos que, ao final, o número de elementos da amostra seria o seguinte: Zona Sul, 14 alunos - 2 professores - 2 escolas Zona Norte, 12 alunos - 2 professores - 2 escolas Centro, 14 alunos - 2 professores - 2 escolas Assim, foram visitadas, aleatoriamente, por sorteio, 2 escolas de cada zona geográfica, num total de 6 escolas, 2 classes por escola, num total de 12, 40 alunos e os correspondentes 6 professores das classes observadas. 81 4.2.2. SUJEITOS DA AMOSTRA Nossa pesquisa teve a intenção de permitir que os resultados obtidos pela amostragem pudessem ser generalizados para o universo ao qual pertencem os sujeitos pesquisados, conforme aconselha Gil (1996). Assim, qualquer grupo de classes (professores e alunos) das 4as. séries do ensino público estadual em Ilhéus, turno diurno, estará representado nas respostas dadas pelo grupo consultado, sujeitos da amostra. 4.2.3. CARACTERÍSTICAS DA AMOSTRA Trata-se de duas amostras, um grupo de professores e um grupo de alunos. Como já dissemos, a referência comum entre professores e alunos é fazerem parte de grupos/classes de 4as. séries do ensino fundamental. A amostragem se baseou nas tabelas, organizadas à partir das informações obtidas nas escolas, com a autorização da DIREC, e articulada por este órgão da Secretaria da Educação. Serviram de base para os cálculos estatísticos realizados, as Tabelas de 1 à 10, utilizando-se a técnica de amostragem estratificada, já explicitada. A Tabela 1 apresenta as informações relativas a turmas e alunos das escolas pertencentes à zona sul. Tabela 1 - Número de alunos/turmas das 4ªs. séries das escolas estaduais que oferecem apenas da 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental - zona sul . ZONA SUL Barão de Macaúbas Proa Pe. Luiz Palmeira Horizontina Conceição José Haroldo Castro Vieira TURMAS 4 2 3 5 2 16 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. A Tabela 2 apresenta os dados referentes à zona norte Nº DE ALUNOS 81 65 96 121 44 407 82 Tabela 2 – Número de alunos/turmas das 4ªs. séries das escolas estaduais que oferecem apenas de 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental - zona norte. ZONA NORTE Odete Salma Medauar Renato Leite da Silveira Iguape Barra do Itaípe Paulo Américo Oliveira Estado do Ceará TURMAS 4 2 2 2 5 3 18 Nº DE ALUNOS 126 73 73 55 190 105 622 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. A Tabela 3 fornece os dados conclusivos da zona centro. Tabela 3 - Número de alunos/turmas das 4ªs. séries das escolas estaduais que oferecem apenas da 1ª à 4ª séries do Ensino Fundamental - à zona centro. ZONA CENTRO TURMAS Nº DE ALUNOS D. Eduardo 4 113 Santa Ângela 7 196 Eduardo Catalão 3 117 Basílio 2 59 Antônio Sá Pereira 3 70 19 555 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 As Tabelas 4,5 e 6 oferecem o número de alunos por classe das escolas de cada zona. Há colunas relativas ao gênero (masc./fem.) e a ocorrência de alunos repetentes na série. Mediante estas informações, foram feitos os cálculos estatísticos que permitiram conhecer a amostra representativa para cada um dos grupos de escolas/turmas/nº de alunos. A Tabela 4 oferece informações sobre as turmas da zona sul. 83 Tabela 4 - Número de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes), das 4ªs. séries do Ensino Fundamental – escolas estaduais da zona sul. ESCOLAS TURMAS REPETENTES NOVOS Masc. 16 16 14 16 15 19 14 12 8 4 7 7 9 7 13 174 Fem. Masc. A 13 B 12 C 17 2 Proa A 13 B 16 Pe. Luiz Palmeira A 17 B 12 C 21 Horizontina Conceição A 8 5 B 13 3 C 15 2 D 13 E 14 2 José Haroldo C. Vieira A 15 B 9 Total 15 201 14 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Obs.: Amostra 19,7 alunos (9 meninos e 10 meninas) Método COCHRAN Média 27,13 Nível de Confiança 4,645 Barão de Macaúbas Fem. 1 3 2 1 3 1 5 2 18 TOTAL 32 25 24 32 33 36 27 33 24 21 24 25 27 22 22 407 A Tabela 5, oferece os dados relativos à zona norte. Tabela 5 – Número de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes), das 4ªs. séries do Ensino Fundamental – escolas estaduais da zona norte. ESCOLAS TURMAS NOVOS Masc. 10 16 9 13 20 21 16 26 14 11 16 11 13 14 20 17 16 16 279 REPETENTES Fem. 19 15 17 16 17 13 21 10 10 10 24 26 23 17 9 17 14 16 294 Masc. 4 2 7 1 3 5 4 2 28 A B C D Renato Leite da Silveira A B Iguape A B Barra do Itaípe A B Paulo Américo Oliveira A B C D E Estado do Ceará A B C Total 18 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Obs.: Amostra 34 alunos (18 meninos e 16 meninas) Método COCHRAN Média 33,56 Nível de Confiança 6,103 Odete Salma Medauar Fem. 1 5 1 2 1 1 3 4 1 1 1 21 TOTAL 30 35 33 30 37 36 37 36 27 28 40 37 38 37 38 35 35 35 622 84 A Tabela 6 apresenta os dados relativos à zona centro. Tabela 6 -Número de alunos/turmas, distribuído por gênero (novos e repetentes), das 4ªs. séries do Ensino Fundamental – escolas estaduais da zona centro ESCOLAS D. Eduardo TURMAS NOVOS Masc. 18 22 15 14 15 11 13 11 12 14 11 17 8 15 10 10 14 230 REPETENTES Fem. 39 26 13 17 14 13 9 11 13 18 22 16 20 14 10 13 11 279 Masc. 1 2 3 1 2 2 1 1 2 3 1 19 A – Mat/Vesp B –Mat/Vesp. Santa Ângela A B C D E F G H Eduardo Catalão A B C Basílio A B Antonio Sá Pereira A B C Total 19 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Obs.: Amostra 25 alunos (14 meninos e 11 meninas) Método COCHRAN Média 32,64 Nível de Confiança 10,364 Fem. 5 1 1 1 1 1 1 4 5 4 1 2 27 TOTAL 58 55 32 33 32 25 25 24 25 37 40 40 29 30 20 23 27 555 As Tabelas 7,8 e 9 oferecem informações sobre a carga horária dos professores. Estes dados permitiram saber quantos são os professores que efetivamente estão dando aula num turno e aqueles que “dobram”, ensinando em 2 turnos. O efeito, para o nosso estudo, é que esta informação revela o fato de que nem sempre o número de turmas corresponde ao número de professores. Por vezes, pode ocorrer mais turmas que o número efetivo de professores, como pessoa, e isto pode ser constatado no caso em estudo. A Tabela 7 oferece estas informações, relativas à zona sul. 85 Tabela 7 - Carga horária semanal dos professores de 4ªs. série das escolas estaduais do Ensino Fundamental - zona sul. ZONA SUL Barão de Macaúbas Proa Pe.Luís Palmeira Horizontina Conceição José Haroldo Castro Vieira Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. CARGA HORÁRIA 20 horas 1 2 1 3 2 9 40 horas 1 1 1 3 A Tabela 8 oferece as informações relativas à zona norte. Tabela 8 – Carga horária semanal dos professores de 4ªs. séries das escolas estaduais do Ensino Fundamental - zona norte. CARGA HORÁRIA ZONA NORTE 20 horas 40 horas Odete Salma Medauar 2 1 Renato Leite da Silveira 2 Iguape 2 Barra do Itaípe 1 Paulo Américo Oliveira 5 Estado do Ceará 3 Total 14 2 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. A Tabela 9 apresenta os dados relativos à zona centro. Tabela 9 - Carga horária semanal dos professores de 4ªs. série das escolas estaduais do Ensino Fundamental - zona centro. ZONA CENTRO D. Eduardo Santa Ângela Eduardo Catalão Basílio Antônio Sá Pereira CARGA HORÁRIA 20 horas 2 3 1 2 8 40 horas 1 2 1 1 5 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. De posse destas informações foi possível estabelecer proporção entre o número de alunos e professores de cada grupo de escolas, até chegar ao resultado final para a nossa amostra, já apresentado anteriormente: 6 escolas, 6 professores, 40 alunos (20 meninos e 20 meninas). 86 4.2.4. PROCEDIMENTOS DA COLETA DE DADOS 4.2.4.1. Elaboração dos formulários A elaboração dos formulários foi cercada dos cuidados e atenção às recomendações dos autores que se dedicam à pesquisa e que constam da bibliografia apresentada. A questões foram testadas e reelaboradas por 3 vezes, até que pudessem ser consideradas válidas para o estudo empreendido. A testagem se deu pela aplicação aleatória, no universo considerado: 3 aplicações após cada elaboração. Considerados prontos/testados os formulários, foi feita a aplicação aos sujeitos da amostra. Foram 32 questões para o grupo de professores e 26 para o grupo de alunos, além de uma ficha para obter os dados pessoais, a qual permitiu a caracterização da amostra de professores (p. 88) e de alunos (p. 90). 4.2.4.2.Sistemática da observação direta Foram realizadas 3 observações diretas em cada uma das classes, num total de 12 observações com duração de um período de aula para cada observação, o que em número de horas de observações por classe, representa 12 horas. Estas observações enriqueceram a argumentação na análise dos dados dos formulários, tanto dos alunos quanto dos professores 4.2.5. ORGANIZAÇÃO E TABULAÇÃO DOS DADOS Os dados foram levantados a partir das respostas às questões dos formulários e da observação direta. Da organização e tabulação dos dados resultaram 62 tabelas numeradas em algarismos arábicos. Couberam 34 tabelas para o formulário aplicado aos professores e 28 tabelas para o formulário aplicado aos alunos. 87 Os dados foram agrupados em categorias e sub-categorias, tantas quantas necessárias à compreensão das tabelas. As totalizações nas tabelas corresponderam, na sua maioria, ao total de professores (6) ou alunos entrevistados (40). Algumas questões deram oportunidade de mais de uma opção. Nesse caso, o total, utilizado para o cálculo da porcentagem, correspondeu ao número de opções referente à tabela considerada. Por este motivo, as porcentagens apresentaram resultados calculados segundo a sua correspondência aos totais: ora ao total dos sujeitos da amostra, ora ao número de opções / categorias. Os dados foram apresentados pela freqüência bruta e a correspondente freqüência percentual. Sempre que necessário foram feitos ajustes nos percentuais para se obter 100%, na totalização dos dados. Os ajustes se restringiram a centésimos da unidade. 88 Fig.4 – Sala de Aula (1) 89 5. ANÁLISE DOS DADOS Após a organização das tabelas, cada quadro foi analisado focalizando as convergências ao objetivo proposto: elucidar a nossa assertiva estabelecida na hipótese de que se há concordância entre os padrões motivacionais que os professores utilizam como eficazes e aqueles requeridos/aceitos pelos alunos, submetidos a estes padrões, ou se não há coincidência, pois geram o desinteresse do aluno e a ineficácia do processo ensino-aprendizagem e, assim, verificando/ esclarecendo esta coincidência/não coincidência. 5.1. ANÁLISE DOS DADOS DA AMOSTRA 5.1.1. OS PROFESSORES Os critérios estabelecidos para a caracterização da amostra de professores se prenderam a: nível de formação; vínculo empregatício e carga horária semanal de trabalho; experiência profissional e tempo de serviço no Estado; participação em cursos de capacitação; e disposição para se manter como professor na série onde está atuando. ♦ Quanto ao nível de formação, quase todos os professores envolvidos na pesquisa cursaram o magistério do 2º Grau. A maioria concluiu o curso entre os anos de 1975 e 1980 (66,66%). Somente um dos professores tem formação de nível superior completo – Pedagogia – cuja conclusão se deu em 1985. Chamamos a atenção para o fato de que, hoje, a formação deve ser obtida em nível superior, conforme LDBEN 9394/96. ♦ Vínculo empregatício e carga horária semanal de trabalho A maioria é efetivo do Estado. Apenas um é contratado com carga horária de 20 horas de trabalho semanais, o que permite concluir que ensina apenas em um dos turnos. Os demais têm 40 horas, portanto a jornada é dobrada. 90 Uma situação encontrada em todas as escolas foi a presença de estagiários ministrando aulas em algumas das classes de 4as. séries, em substituição à titular, que se encontrava afastada. Mas este fato não interferiu neste trabalho, pois foi imediatamente descartada a possibilidade de participação de estagiários (trabalho temporário), já que um dos critérios era ser professor efetivo. ♦ No que se refere à experiência profissional, nenhum dos professores teve outra experiência profissional, sempre foram docentes e, segundo falaram durante a entrevista, por vocação. Somente um deles acumula o cargo de vice-diretor, no turno oposto. A maioria declarou gostar de ser professor e não trocaria por outra forma de atividade profissional. Mesmo o professor que declarou ter preferido seguir a carreira de Direito, e que, por pressão econômica, seguiu o magistério, disse que hoje está satisfeito com a profissão, tomou gosto, apesar de reconhecer que é uma profissão desvalorizada. A maioria tem mais de 4 anos de experiência ensinando nas classes de 4ªsérie do ensino fundamental. ♦ Considerando o tempo de serviço, a maioria tem entre 18 e 20 anos de tempo de serviço. Portanto, todos têm mais de 15 anos, o que significa mais da metade do tempo de serviço exigido para a aposentadoria, já cumprido. ♦ Quanto à participação em cursos de capacitação, a maioria participou dos cursos de capacitação oferecidos pela SEC/IAT (1984 – 1997 – 1998 ) realizados em módulos, mas apenas um professor declarou que, durante o curso, houve abordagem sobre a motivação do ensino , mas isto apenas à medida em que eram apresentadas estratégias de ensino para ministrar as aulas de Português e de Matemática. Não houve nenhum momento específico para tratar do assunto motivação. ♦ Disposição para se manter como professor na série onde está atuando. Dos professores consultados, 50% deixariam as turmas das 4as.. séries alegando que se dão melhor com os alunos da faixa de idade das 3ªs. séries. Justificaram o desejo de também fazerem a troca porque, no momento de avaliação, o trabalho fica mais visível nas turmas de Alfabetização. Disseram também que é muita 91 responsabilidade encaminhar alunos com defasagem idade-série e com déficit de aprendizagem para as 5as. séries. 5.1.2. OS ALUNOS No que diz respeito aos alunos, os dados levantados para caracterizar a amostra se referiram a sexo, idade, trajetória escolar e nível sócio econômico As turmas escolhidas para a entrevista foram definidas pela disponibilidade do professor, isto é, aceitar sua própria participação e a dos seus alunos na pesquisa. No caso do professor que trabalhava nos dois turnos (matutino-vespetino) a escolha do turno ficou a critério do professor. Os alunos entrevistados foram os do turno e turma onde atuava o professor, escolhidos aleatoriamente, pela relação apresentada pela secretaria da escola. A média de alunos por classe é de 35 alunos, exceto em uma das escolas cujo funcionamento era precário, pois estavam aguardando a reforma solicitada com urgência aos órgãos da administração centralizada (aqui representada pela DIREC6), estando a matrícula reduzida para 20 alunos, por classe. ♦ Quanto ao sexo, tivemos o cuidado de entrevistar o mesmo número de meninos e meninas em cada grupo-classe. ♦ No que se refere à idade dos alunos, esta variou entre 10 e 16 anos. Considerando a faixa de idade esperada para alunos cursando as 4as. séries, apenas 37,5% do total da amostra possuem 10 anos. A maioria possui defasagem idade/série, pois 20% dos alunos têm 11 anos, 22,5% dos alunos 12 anos e os demais representaram 20% (13 a 16 anos). Assim, na amostra, preponderou alunos cuja idade variou entre 10 e 12 anos. ♦ Quanto à situação de repetência, dos 40 alunos entrevistados, elementos da amostra, apenas 10% são repetentes na série. Das escolas visitadas, apenas um dos repetentes freqüenta a classe do seu professor do ano anterior; os demais vieram transferidos de outras escolas. ♦ Quanto ao nível sócio-econômico: 92 Estes dados foram inferidos em razão da localização das escolas visitadas. As escolas da zona norte e sul encontram-se situadas na zona periférica da cidade, onde os moradores são trabalhadores de baixa renda. Os pais ficam ausentes de casa o dia todo. Por esta razão, no turno oposto ao da classe freqüentada, os alunos entrevistados declararam que ficam sozinhos em casa ou na companhia dos irmãos/ primos mais velhos, pois os pais trabalham ou, no caso de pais separados, ficam com tios, avós, até a chegada dos pais à noite. A maioria não tem permissão para sair de casa e brincar com os vizinhos, condição que lhes desagrada muito. As escolas do centro estão situadas em bairros que mantêm aglomerados do tipo popularmente chamado de “favela”, nos morros próximos. Assim, pode-se entender que se encontram na mesma situação dos alunos da zona sul e norte, aqui qualificados de baixa renda. Nossa suposição de que os alunos pertencem à classe de baixa renda se confirma quando, ao serem entrevistados, alguns alunos declararam que trabalham na feira, saem nos barcos de pesca, fazem mandados, o que corrobora com a nossa conclusão de que os alunos pertencem a famílias de baixo poder aquisitivo e alguns já trabalham para se manter e ajudar no orçamento da casa. 93 Fig.5 – Sala de aula 94 5.1. ANÁLISE DOS DADOS-formulário dos professores e observações diretas Perguntamos ao professor seu conceito de motivação com duplo objetivo, saber qual o conceito mais comumente utilizado pelos docentes como, também, suas opiniões sobre o que pensam seus alunos à respeito de motivação, organizando os dados por categorias. Os dados se encontram organizados nas Tabelas 10 e 11. Tabela 10- Conceito de motivação (informação dos professores). Conceito EM FUNÇÃO DO ALUNO O aluno ter interesse O aluno querer participar Estímulo interno EM FUNÇÃO DO MÉTODO Incentivação (dinâmicas/hist./canto EM FUNÇÃO DO CONTEXTO Bom salário/Ambiente agradável Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 3 50,00 2 33,33 FA 1 1 1 - Categoria 2 F% 16,67 16,67 16,67 0 1 16,67 2 - 33,33 - 6 100,00 1 6 16,67 100,00 Pelos dados obtidos (Tabela 10), constata-se que a maioria dos professores emitiu seus conceitos construídos em função das expressões de interesse do aluno (50%), dos quais 33,3% se referem a: demonstrar interesse, participar. Houve também quem se expressasse (16,6%) dizendo que é alguma coisa que vem de dentro (estímulo interno) do aluno. Somente 16,6% dos professores se referiu a questões de salário e ambiente físico da escola/sala. Outros professores (33,3%) construíram seus conceitos em função do método, do que faz o professor para motivar, expressas como incentivações: atividades, histórias, canto, visando não permitir que os alunos achem a aula enfadonha e sim mais prazerosa. 95 Segundo Nérici, Motivação consiste no intento do mestre de proporcionar aos alunos uma situação que os induza a um esforço intencional, a uma atividade visando a certos resultados queridos e compreendidos ( Nérici, 1981, p. 152). Assim, a proposta, o estímulo vem da parte do professor, mas quem deve atingir as metas definidas é o aluno. Logo, se o aluno não estiver disposto a aceitar o estímulo e a despender esforços, o professor fica impossibilitado de direcioná-los ao objetivo pretendido e a aprendizagem ficará, no mínimo, prejudicada. Nérici sustenta que é indispensável estabelecer conexões entre o que o professor pretende e o que o aluno realiza e os interesses deste. Tabela 11. O que pensa o aluno sobre o que é motivação (opinião dos professores). Significado PROFESSOR NÃO CONHECE Vai perguntar Não conversou sobre o assunto PROFESSOR CONHECE Aula prazerosa Querer fazer algo Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 4 66,67 2 33,33 6 100,00 FA 1 3 1 1 6 Categoria 2 F% 16,67 50,00 16,67 16,67 100,00 Mas estes dados da Tabela 11 mostram que apenas 33,2% dos professores soube dizer o que pensam seus alunos sobre motivação que é expresso como aula prazerosa, querer fazer algo. A maioria dos professores (50%) diz não lembrar de ter conversado com os alunos à respeito e 16,6% disse que vai perguntar aos alunos se eles sabem o que é motivação, pois passou a se interessar diante das nossas indagações. Portanto, 66,6% dos professores não sabe dizer se os seus alunos têm idéia do que seja motivação. Ora, se a motivação depende do professor que estimula e do aluno que responde com o seu interesse, não saber se o aluno sabe/sente quando a tentativa de motivar está acontecendo, não nos parece que possa significar interesse por parte do professor de tentar um ato tão duvidoso quanto aos resultados a serem obtidos. 96 Indagamos também se o professor busca alguma fonte teórica sobre o assunto motivação. Obtivemos as informações reunidas na Tabela 12. Tabela 12. Fonte de consulta do professor sobre motivação (informação do professor). Atitude/Fonte PROCURA Em apostilas do curso Em livro didático CATEGORIA 1 FA F% 3 50,00 - Categoria 2 FA F% 1 16,67 1 16,67 1 16,67 3 50,00 3 50,00 6 100,00 6 100,00 Busca como incentivação NÃO PROCURA Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Percebe-se que a amostra está exatamente dividida ao meio, pois, metade diz buscar informações sobre motivação em teóricos, recorrendo a livros e/ou apostilas ou ainda buscando, não como motivação, mas como incentivação e 50% diz que não busca tais informações. Isto pode significar que não consideram motivação um conhecimento tão importante para o seu trabalho com os alunos. Tivemos, também, interesse em saber dos professores se conheciam o nível de aspiração profissional de seus alunos. Indagamos se eles conversam à respeito e o que os professores pensam sobre isso. Na Tabela 13 apresentamos os resultados. Tabela 13 . Aspiração do aluno sobre o seu futuro profissional (informações do professor). Profissões Escolhidas Professor Jogador de Futebol Médico Advogado Engenheiro Policial Manequim/Artista Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 FA 5 3 3 1 1 1 1 15 F% 33,32 20,00 20,00 6,67 6,67 6,67 6,67 100,00 97 A maioria das respostas (33,3%) recaiu sobre querer ser professor. A profissão que está mais em evidência na mídia aparece em seguida: jogador de futebol (20%) e medicina, que está sempre em destaque, com o escore de 20% das intenções. Em seqüência aparecem advogado, engenheiro, policial, manequim/artista, cada uma com 6,6% das opções. Um dos professores comentou que ninguém diz querer ser empregada doméstica ou gari, o que evidencia que, mesmo entre os alunos, o conceito de profissão está ligada à formação escolar e estas profissões citadas seriam atividades de prestação de serviço remunerado que não necessitam de maiores habilidades e, porque não dizer, denotam uma certa discriminação por se tratar de trabalho braçal. Percebe-se que estas escolhas encontram-se circunscritas à prisão simbólica que as classes sociais do mundo capitalista lhes impõe, pois, o desejo de reputação, prestígio ou importância foram expressos por estas escolhas. A questão seguinte foi referente ao momento da aula em que o professor usa de recurso motivador e obtivemos os dados da tabela 14. Tabela 14. Momento da motivação no período da aula (opinião dos professores). Incidência/ Circunstâncias CATEGORIA 1 FA F% 5 83,33 1 16,67 6 100,00 OCORRE Ao iniciar o assunto Bate papo Ao findar a aula Após apresentação do assunto Durante a aula 1 Técnicas Em cada momento do processo NÃO OCORRE Só pensa no conteúdo Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. 1 Trabalho em Grupo – aluno expõe assunto Categoria 2 FA F% 1 16,67 16,67 1 2 33,33 1 16,67 1 16,67 6 100,00 Categoria 3 FA F% 1 16,67 1 16,67 2 33,33 1 16,67 1 16,67 6 100,00 A maioria disse que usa de recurso motivador ( 83,3%) e, destes, a maioria diz procurar motivar os alunos ao longo do período de aula, aplicando técnicas de 98 trabalho em grupo e, em certos casos, aula expositiva pelo aluno, ao final da atividade. Também 16,6% dos professores disse que recorre à motivação em cada momento do processo. Outros ainda (16,6%) declararam que a motivação ocorre ao findar a aula, isto é, após a apresentação e explanação do assunto pelo professor; é quando são propostas brincadeiras/jogos que se referem ao assunto tratado, mas cuja finalidade é de aplicação do conhecimento e só se saem bem os alunos que já conseguiram aprender. Consideramos isto um equívoco, pois os professores separam as atividades de estudo das atividades de motivação como dois momentos distintos da aula, ou seja, um momento de atividade, de estudo e outro de lazer, pois declararam que...dá aula, e, depois parte para a motivação, ou, na hora de dar o conteúdo faço a exposição do assunto, depois vem a brincadeira. Ora, a motivação tem justamente o objetivo de criar atitude favorável às atividades ou propiciar aprendizagem num clima de prazer, de brincadeira. Assim, a possibilidade de nexo entre estudo e motivação fica perdida, pois, o que vale para estes professores é: hora de brincar... brincar; hora de estudar... estudar, e motivação, por parecer lúcida, é entendida como não fazendo parte do trabalho, é brincadeira. De acordo com 16,6% dos professores, a motivação acontece, também, ao iniciar o assunto. Para isto utilizam-se do bate-papo ao introduzir o assunto mas, uma vez o assunto em pauta, não é mantida a preocupação/ação de motivar, para prosseguir. Nérici (1981) afirma que os professores consideram motivação, somente a motiva-ção inicial, evidenciado pelas aulas bem iniciadas mas que podem ou não permanecer como tal. O autor considera que deveria ser preocupação do professor manter a turma motivada, o tempo todo. Pudemos constatar em nossas observações em classe, o interesse do professor em explorar a estratégia de motivação a novidade. No início da aula o professor assim se expressou: 99 100 “Qual a novidade de ontem para hoje?” Esta questão lançada, além de dar oportunidade aos alunos de lembrar algo interessante, que chamou sua atenção, permite se expressar junto ao grupo e o que ele viveu/observou/avaliou pode ser considerado interessante pelo grupo e, com isso, ser discutido pelo grupo. Mas, a motivação foi apenas tentada neste momento específico, no início da aula. Fica claro nesta seqüência que as ações de motivação possibilitam múltiplas fontes de ação e caminhos a percorrer. Se, inicialmente, uma delas se destaca, outras ações a complementam, mantendo o sujeito motivado – objetivo maior no processo ensino – aprendizagem - para que o resultado, a aprendizagem, seja alcançado com prazer, com gosto. Segundo Nérici, a motivação de desenvolvimento, comumente chamada de incentivação, tem por objetivo conservar o impulso e a disposição iniciais. Pelos resultados do nosso estudo, como ficou dito acima, 50% dos professores consultados declarou que tem esta preocupação de utilizar recursos motivadores durante a aula, em cada momento do processo. O que pudemos depreender, então, do contato com os professores, é que alguns utilizam determinados recursos metodológicos como é o caso do trabalho em grupo e mantém a motivação durante todo o processo, pelas características próprias da estratégia, mas para os outros 50% a motivação é intermitente, hora é feita, hora é esquecida, e se o aluno continua trabalhando é apenas por inércia, obediência ou envolvimento com a tarefa e/ou com os colegas. Perguntamos também aos professores quais as estratégias de motivação que consideram mais eficazes. As respostas foram bastante variadas e, para agrupá-las, utilizamos a categorização proposta por dois autores que se dedicam ao estudo da Didática Geral: Nérici (1981) e Carvalho (1982). 101 Os dados, apresentamos na Tabela 15. Tabela 15. Estratégias de motivação eficazes (opinião do professor). CATEGORIA 1 Categoria 2 Categoria 3 Tipos FA F% FA F% FA F% 8 57,14 MÉTODOS/TÉCNICAS 3 21,43 Jogos recreativos 1 7,14 Jogos 1 7,14 Brincadeiras 1 7,14 Dinâmicas 1 7,14 1 7,14 Dramatizações 1 7,14 1 7,14 Pesquisa de campo 1 7,14 1 7,14 Gincanas 1 7,14 1 7,14 Campeonatos 1 7,14 1 7,14 Discussão/debate 4 28,57 RECURSOS DIDÁTICOS 3 21,43 Comunicação escrita 1 7,14 Mensagens 1 7,14 Quadro de giz 1 7,14 Literatura de cordel 1 7,14 Multimeios 1 7,14 Filmes 2 14,29 PROCEDIMENTOS 2 14,29 2 14,29 Conversa/conselho/desenho/canto 14 100,00 14 100,00 14 100,00 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. O primeiro grupo, métodos e técnicas, apresentou o maior índice, 57,14%, dos quais, 21,4% se referem aos jogos recreativos: brincadeiras, dinâmicas de grupo. Goulart (1997), ao discutir a evolução da afetividade segundo Piaget, destaca a importância dos jogos de regras neste processo. A dupla qualidade do lúdico que, inicialmente, objetiva a satisfação, o prazer, também, contempla o desenvolvimento da competência para a vida social; a criança, ao jogar para si, participa de uma experiência coletiva. Segundo Piaget (1998, p.71), apesar de, espontaneamente, a criança considerar-se o centro do mundo, precisa tornar-se capaz de reciprocidade intelectual e o único caminho é a cooperação entre os colegas através do trabalho comum no jogo. Sendo um longo período de transição para vencer a dificuldade de poder se colocar na posição do parceiro, a citação de Zazzo nos parece adequada para esclarecer esta questão. Ao criticar a linguagem egocêntrica da criança na fase pre-operatória, 102 conclui: a criança não fala para ela mas segundo ela, isto é, em função de suas limitações bem como das suas possibilidades (apud Goulart, 1997, p. 60). Na publicação do MEC “O professor da Pré Escola”, editado em 1991, vamos encontrar uma explicação muito adequada sobre a importância da brincadeira como possibilidade de aprendizagem, pois é onde a criança age além do seu comportamento cotidiano, como se fosse maior, mais maduro do que é na realidade. Aparentemente, a criança só faz o que gosta, mas quando brinca ela aprende a subordinar-se às regras estabelecidas em função da situação imaginada e, por isso, o brinquedo se constitui numa fonte de prazer. As dramatizações, gincanas, campeonatos, que também são lúdicos (brincadeiras), vem em segundo lugar (21,42%), seguidas da pesquisa de campo, discussões, debates, cada uma com 7,1% de citações. São trabalhos livres, sem maior controle pelos adultos que, conferindo autonomia de ação ao aluno, o estimula a tomar decisões, planejar e executar ações. O segundo grupo, os recursos didáticos, apresentou um índice de 28,5% de citações. Deste grupo faz parte o quadro de giz que recebeu também o menor escore (7,1%) . Este fato nos surpreendeu, pois é um complemento da comunicação oral mais prático quando se trata de oferecer as mesmas mensagens a um grupo classe e é, sabidamente, o recurso mais utilizado pelo professor. Os filmes, o único multimeio citado recebeu também um escore baixo, de 7,1% das opções. Os professores informantes, consideram a conversa (14,28% das opções) como um dos procedimentos para encontrar a melhor solução para resolver os problemas de desinteresse do aluno pois, este procedimento, permite aconselhar. Como procedimento, foi incluído, também, a possibilidade de expressão dos alunos através do desenho e do canto. Das nossas observações, somos levados a crer que estes recursos foram utilizados pelos professores mais por permitirem que os alunos fiquem sob controle pelo professor, do que em função da aprendizagem pretendida. 103 Conversar, deixar o aluno falar, trocar idéias com ele, parece ser um recurso simples, mas é muito eficaz. Piaget (apud Goulart,1997, p. 64) atenta para este fato e explica que a criança tem dificuldade de se colocar na posição do parceiro, mas é nas trocas sociais com o adulto, exercitando a função de representação através da conversa, que a criança entra em contato com o que é permitido e o que é proibido, quando, ainda, se encontra na fase heterônoma do seu desenvolvimento moral. Para saber em que critérios se basearam os professores para inferir se o aluno está motivado, questionamos sobre quais as evidências que permitem chegar a esta opinião. Os dados se encontram nas Tabelas 16 e 17 que passamos a analisar. Tabela 16. Reação do aluno a motivação (informação do professor). Efeito/Resultado ACEITAÇÃO DA PROPOSTA DO PROFESSOR Participação na aula Sala fica ativa NÃO SURTE EFEITO Se tem dificuldade na aprendizagem Se ha ajuda direta do professor Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 4 66,67 2 33,33 6 100,00 Categoria 2 FA F% 3 50,00 1 16,67 1 16,67 1 16,67 6 100,00 Os professores demonstraram que têm possibilidade de saber se, em uma situação, os alunos estão motivados ou não, isto é, os alunos demonstram receptividade às propostas do professor, pois, 66,6% dos informantes disse que um dos melhores indícios é o fato de seus alunos participarem das atividades propostas, ou quando a sala fica mais ativa. Por outro lado, também, disseram que não surte efeito tentar motivar quando os alunos têm dificuldade específica de aprendizagem (16,6% dos professores) ou, ainda, quando há ajuda direta do professor junto ao aluno (16,6%). Neste caso, os professores não estão considerando como recurso de motivação a intervenção do professor junto ao aluno. Eles consideram que a motivação inicial deveria ser suficiente para o aluno realizar a atividade com autonomia. Quando o aluno não 104 domina o assunto, a ajuda direta do professor (estratégia de motivação) não é entendida dessa forma, pelo professor. O ideal é o professor ficar ligado ao que está acontecendo na sala para, ao intervir, manter a classe atenta, motivada. Do que observamos, destacamos algumas situações em que assim aconteceu: Alguns alunos que já haviam terminado a atividade, conversam em voz baixa. Uma aluna passa bilhetes para os colegas, indistintamente. Então, a professora intervém: “Vocês primeiro terminem as atividades, depois a aluna vai falar sobre a festa. “ Sua fala não demonstra irritação; ela fala para a classe como um todo. Assim, os envolvidos ou não, no fato, participam do que vai ocorrer ou está ocorrendo. “Fulano, você está ajudando a colega a procurar as palavras ou é outra coisa?” Estas intervenções fizeram com que os alunos se mantivessem atentos às ativida-des que estavam realizando, demonstrando que a motivação para o estudo estava garantida e o resultado satisfez. Como evidências do comportamento do aluno, motivado/desmotivado, os professores apresentaram várias respostas que foram reunidas na Tabela 17 , que passamos a analisar. Tabela 17. Evidências que permitem inferir se o aluno está motivado (opinião do professor). Situação/Evidências/Comportamento DESMOTIVADO Conversam/agitam Ficam desligados Fazem outra coisa Ficam envergonhados MOTIVADO Respondem/participam Prestam atenção Pedem mais Mostram alegria Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 8 53,33 7 46,67 15 100,00 Categoria 2 FA F% 3 20,00 3 20,00 1 6,67 1 6,67 3 20,00 2 13,33 1 6,67 1 6,67 15 100,00 105 A maioria dos professores apresentou evidências que indicam que o aluno está desmotivado (53,3% ). Acreditamos que isto se deu pelo fato de os professores se sentirem muito incomodados com essa situação dos alunos e focalizaram a atenção nessas evidências que indicam estar o aluno desmotivado. Apresentaram como evidências de inquietação (expressa em agitação) conversas paralelas (20%), ou dispersão (20%). Declararam que uns poucos alunos ficam sem graça quando pegos distraídos, envolvidos em outras atividades (6,6%) ou mesmo sonhando (6,6%). Com relação às evidências do aluno estar motivado, houve um escore de 42,8% e os professores indicaram: respondem/participam (20%), ou prestam atenção (13,3%), mostram alegria (6,6%). Houve quem dissesse que, quando há muita atenção dispensada pelos alunos às explicações e às atividades de classe, ocorre que “bate o sino e eles nem ouvem, ou pedem mais” (6,6%). As Tabelas 16 e 17 apresentaram dados bastante aproximados. Na primeira (Tabela 16), os professores informaram a reação do aluno à proposta de motivação do professor: se há aceitação ou não e quais os indicadores deste resultado. Na segunda (Tabela 17), os dados fornecidos mostram quais as evidências que permitem inferir se o aluno está motivado ou não. Ao analisarmos estes resultados, podemos concluir que os professores consideram que, quando a proposta de motivação é aceita pelos alunos, há participação na aula, a sala fica ativa; isto é inferido porque os alunos respondem ao que é perguntado, prestam atenção, pedem mais, mostram alegria, por exemplo. Por outro lado, se a proposta não surte efeito, os alunos têm dificuldade na aprendizagem e precisam de ajuda direta do professor e, se esta ajuda não vem, os alunos ficam desligados, conversam, fazem outra coisa. Perguntamos também aos professores qual o grau de estimulação exigido pelos alunos nas aulas para se disporem ao trabalho e qual a atitude do professor diante da falta de motivação do aluno. 106 As Tabelas 18 e 19 apresentaram os dados. Tabela 18. Grau de estimulação exigido pelos alunos para realizar as atividades (Informação do professor). Estimulação Muita Pouca Não precisam “Fogo de palha” Mais da metade F% FA 2 28,57 1 14,29 - Parte da turma Menos da metade Metade F% F% FA FA 1 14,29 1 14,29 1 14,29 1 14,29 TOTAL FA 2 1 2 2 F% 28,57 14,29 28,57 28,57 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Ao serem perguntados sobre a estimulação necessária para os alunos se entregarem aos trabalhos escolares, os professores assim se expressaram: Mais da metade dos alunos necessita de muita estimulação (na opinião de 28,5% dos professores). Outros, porém, declararam que, de metade a mais da metade dos alunos não precisa de estimulação ou precisa ser pouco estimulada, compreendendo 42,6% das opiniões. São alunos que estão sempre dispostos a executar as tarefas escolares ou, então, apresentam um comportamento estável quanto a estar disponíveis às propostas do professor. Por outro lado, metade dos alunos são considerados fogo de palha por seus professores (14,2%), pois, se entusiasmam mas logo esmorecem. Considerando o trabalho de Bloom, podemos dizer que os alunos iniciam o processo de acolhimento(s), estímulo(s), pois mostram percebê-lo(s), mostram disposição para continuar a receber, mas, este processo não vai a termo, pois, a atenção do aluno não se mantém. A novidade os mobiliza, mas, o prosseguir na atividade proposta exige, da parte do professor, apresentar novas estratégias motivadoras. Quanto a atitude do professor diante da falta de motivação do aluno, os professores responderam que estão sempre atentos e suas respostas foram organizadas na Tabela 19. 107 Tabela 19. Ação do professor no caso de falta de motivação do aluno (informação do professor). Ação/Tipo INTERVENÇÃO NO PROCESSO Propõe brincadeiras Lê evangelho Propõe recreação livre Discute tema de interesse AÇÕES DISCIPLINARES Chama atenção com exemplos Passa sermão Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 7 63,64 36,36 4 11 100,00 Categoria 2 FA F% 2 18,18 2 18,18 2 18,18 1 9,09 2 18,18 2 18,18 11 100,00 O fato dos professores ficarem atentos aos indicadores de desinteresse, segundo suas declarações, muda o comportamento dos alunos desatentos, pois, intervêm, imediatamente, no processo(63,3%) propondo brincadeiras (18,1%) ou recreação livre (18,1%), lendo o evangelho (18,1%) ou discutindo temas de interesse atual (9%). Pudemos observar e constatar que os alunos de uma das escolas estudadas não têm recreio devido as condições precárias da escola, que necessita de reforma urgente. Uma atividade livre ajuda muito, pois dá oportunidade ao aluno de um momento de descanso e, as condições observadas, ali, mostraram que isto não ocorre. Um terço dos professores (36,2%) disseram que, ao atuar no manejo de classe, usam ações disciplinares que visam apenas controlar a disciplina da classe. Houve quem declarasse que dá carão, reclamando sério (18,1%). Segundo Nérici (1981), é preciso evitar situações humilhantes, pois costumam gerar ressentimentos ou deixar inibidos os alunos que apresentam dificuldades maiores. Aconselha o uso do elogio, cujo resultado supera a censura. Questionamos os professores sobre a relação que se poderia estabelecer entre a matéria ensinada e a necessidade ou não de motivação. As tabelas 20, 21 e 22 oferecem os dados sobre esta indagação. 108 Inicialmente, foi perguntado qual a opinião do professor sobre o que facilita/dificulta motivar o aluno em determinada matéria e se as estratégias podem ser aplicadas, indistintamente, às demais disciplinas. Organizamos as respostas na Tabela 20 Tabela 20. Facilitadores de motivação (informação do professor). Portuguê s F% FA FACILITA/MOTIVA Prof. ter afinidade c/ o tema 1 14,3 Prof. utiliza rec. didáticos 2 28,6 Al. Tem vivência do/no tema DIFICULTA 1 14,3 Aluno não lê bem 4 57,2 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Matemática Ciências Geografia Total Razões FA 1 1 F% 14,3 14,3 FA 1 1 F% 14,3 14,3 FA 1 1 F% 14,3 14,3 FA 6 3 2 1 1 1 7 F% 85,7 42,9 28,6 14,3 14,3 14,3 100 Os dados mostram que a maioria (85,7%) declarou que determinados fatores motivam o estudo das matérias, indicando como principais fatores: quando o professor tem afinidade com a matéria é mais fácil motivar(42,85%); quando o professor utiliza recursos didáticos (28,5%) ou ainda quando o aluno tem vivência do/no tema (14,2%). Segundo eles, este fator se aplica ao caso do ensino de Ciências porque está relacionada com a própria vida. “Gostam de fazer experiências” foi o que afirmaram, justificando a afirmação; ou, ainda, devido a convivência dos alunos com animais. E, para os professores, é possível, então, aproveitar esse conhecimento do dia - a - dia para compreender melhor o assunto sobre os seres vivos e sistematizá-lo, mostrando o valor da disciplina para a vida em geral e a dele próprio. Assim, por empiria, provavelmente, os professores sabem que, em cada campo do conhecimento e estágio de aprendizagem do aluno, as relações causais ganham significado apoiando-se no conhecimento anterior. Os avanços são precedidos por um palpite explicativo da ligação causal para, em seguida, passar para uma fase de prova. Quando isto não é respeitado, o ensino torna-se de pouca eficácia, não significativo . No caso de Ciências, quando a aprendizagem se baseia apenas na observação do que o professor executa (experiência) para provar um conhecimento 109 decorado do livro didático, não surte o efeito desejado; é necessário fazer o nexo entre o conhecimento formal e a vida, o cotidiano, a vivência do aluno. Deve-se levar a criança a um comportamento de busca de respostas e conhecimento para o que se passa no mundo, alcançado enquanto faz, constrói, aceitando o trabalho (por vezes tornado enfadonho), de estudar as matérias, verificando os motivos para determinados resultados encontrados (Brearley & Hitchfield, 1973, p.193). Por outro lado, os professores declararam que, quando o aluno não lê bem, isto é um obstáculo para que ele se interesse pelas atividades propostas (14,8%). Foi perguntado aos professores também, quais as matérias que dispensam ou não motivação. Suas respostas e razões apresentadas foram organizadas e apresentadas na Tabela 21 Tabela 21. Matéria dispensa/não dispensa motivação (opinião do professor). Português FA F% MOTIV. NECESSÁRIA Sempre é necessário Entendem melhor 1 12,5 MOTIV. DESNECESSÁRIA Nunca motiva Professor tem afinidade Total 1 12,5 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Opções/Razões História FA F% 1 12,5 1 12,5 Geografia FA F% 2 25,0 1 12,5 3 37,5 Todas FA F% 3 37,5 3 37,5 Total FA F% 4 50,0 3 37,5 1 12,5 4 50,0 3 37,5 1 12,5 8 100 Metade dos professores (50,0%) considerou que, em todas as disciplinas, é preciso motivar mas, a outra metade, considera que há disciplinas que dispensam motivação. Disseram que os alunos entendem melhor Português (12,5%), por exemplo, quando são utilizados recursos motivadores. A dificuldade maior nessa matéria é resultante da falta de pré-requisito, pois, quando os alunos lêem mas não interpretam bem o que lêem, o resultado não satisfaz. 110 Para um terço dos professores (37,5%), História e Geografia não é necessário motivar, pois, são motivadoras por natureza e, no caso de Geografia, a grande afinidade dos professores pela matéria (12,5%) também ajuda muito. 111 Segundo os autores, o professor é um grande referencial para o aluno que com ele permanece um bom período de tempo estabelecendo entre eles fortes laços afetivos e de entretenimento. Isto explica o fato da afinidade do professor com a matéria resultar em fator de motivação para o aluno. Foi perguntado aos professores que recursos motivadores utilizam em suas aulas. A Tabela 22 apresenta os dados que passamos a analisar. Os recursos apontados pelos professores foram agrupados em categorias, segundo a classificação proposta por Nérice (1981) e Carvalho (1982). Tabela 22. Recursos utilizados pelo professor para motivar (informação do professor). Tipos de Recursos RECURSOS MATERIAIS Ilustrativos Mapas Cartazes Sucata RECURSOS DIDÁTICOS Comunicação Escrita Quadro de giz Livro didático Livros paradidáticos TÉCNICAS Apresentação de trabalho Produção de texto Jogos Conversa informal MULTIMEIOS Vídeo (Fica na DIREC) TV Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 F% FA 5 33,33 4 26,67 4 26,67 2 13,33 15 100,00 Categoria 2 FA F% 4 26,67 1 6,67 4 26,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 Categoria 3 FA F% 1 6,67 3 20,00 1 6,67 2 13,33 1 6,67 1 6,67 1 57,8 1 57,8 1 57,8 1 57,8 1 57,8 1 57,8 15 15 100,00 100,00 Dentre os recursos utilizados pelos professores, o que apresentou o maior índice foram os recursos materiais, 33,3%, dos quais, 26,6% se referem aos materiais ilustrativos (mapas e cartazes). O uso de mapas é considerado como atividade difícil da área da Geografia, mas necessário, não só para a localização das regiões como também uma experiência 112 enriquecedora para a criança do ponto de vista psicomotor quando ela se vê obrigada a se descentrar e a movimentar o concreto no espaço da representação. O cartaz, por sua vez, exige uma certa elaboração, mas é o mais utilizado (20% das opções). A utilização de recursos materiais deveria ser a forma de motivação de todas as aulas, pois, ao ilustrar, possibilitaria concretizar melhor os assuntos, mas não é o que acontece. Uma das professoras, como desculpa para explicar esta falta, disse que a escola não oferece segurança para este tipo de material que é destruído com facilidade pelos alunos de outras turmas pela falta de armários próprios para sua guarda. Assim, a confecção/aquisição de material necessário à disciplina que iria sendo enriquecido, de ano para ano, se torna uma possibilidade remota e os mais empregados são os recursos didáticos, de uso rotineiro – quadro de giz (13,3%) e o livro didático (6,6%) e, excepcionalmente, os livros paradidáticos (6,6%). Os recursos didáticos de comunicação escrita receberam dessa forma, 26,6% de opções. Das técnicas utilizadas foram citados os jogos, apresentação de trabalhos, produção de textos e conversa informal, correspondendo ao índice de 26,6%, distribuído equitativamente. A conversa informal aproveita fatos que os alunos trazem da vida cotidiana, ou que ouviram/viram na TV, da conversa dos adultos em casa ou vizinhança e experiências ocasionais. Este caso foi o presenciado em observação realizada em sala de aula. Um ambiente escolar adequado e, razoavelmente, limpo é também recurso de motivação. Todos se sentem atendidos quando a necessidade de segurança é atendida, isto é, quando o ambiente oferecido está em boas condições de funcionamento. A maioria das escolas visitadas, tinham um bom aspecto, à exceção de uma delas, que precisa de reforma completa e urgente, pois apresenta precaríssimas condições de funcionamento. 113 Em nosso período de observação desta unidade escolar, presenciamos, em classe, a conversa da orientadora educacional com os alunos sobre os perigos a que estavam expostos com relação à saúde. Focalizou a necessidade de aumentar os cuidados com a higiene pessoal, já que os banheiros estão sem condições de uso e a merenda, por medida cautelar, vem da casa da merendeira, pois a cozinha também encontra-se interditada. Assim, apesar de reduzida a merenda está sendo oferecida. Percebe-se que ali o descontentamento é geral, tanto da parte dos professores como dos alunos, resultante desta situação, e é expresso no pouco entusiasmo pelas atividades escolares. Os alunos mostram-se apáticos, o professor irritado e desinteressado. Se, de um lado, a falta de condições de funcionamento apresentada pela escola, conforme historiamos, preocupou os professores/direção com relação a aquisição de bons hábitos de higiene, como garantia de preservar a saúde dos alunos, pudemos observar em outra escola que, embora em melhores condições físicas, a aquisição de bons hábitos de higiene também preocupa. Foi encontrada uma caneca da merenda com xixi, atrás da porta de uma das salas, deixada no dia anterior. A vice-diretora foi conversar com a classe, refletindo com eles sobre a necessidade de se manter um bom padrão de higiene para assegurar a saúde de todos; há um lugar próprio na escola para esta prática normal e necessária, que é o sanitário. Este é limpo a cada turno, mas, disse ela, que é preciso colaborar para que todos possam usá-lo e encontrá-lo dentro de padrões desejáveis de conservação. Considera o fato uma molecagem que não pode ser aceita por conta dos riscos à saúde, que é de responsabilidade de todos na escola. Ficou claro que o fato não abateu o moral do professor e alunos, mas foi objeto de reflexão e formação, que fazem parte dos objetivos da escola. Estes fatos foram citados a fim de deixar evidenciado que mesmo situações pouco agradáveis, quando enfrentadas com propriedade, tornam-se elementos positivos para que sejam alcançados os objetivos de formação do aluno – o cuidado com a saúde. A conversa “informal” foi estabelecida com o objetivo de fazer a convergência 114 entre a situação vivida na escola e a necessidade que a vida, em geral, exige e é tratada do ponto de vista da formação geral do aluno. A produção de texto é também uma prática muito importante, pois é o momento em que o conhecimento oferecido na escola de forma sistematizada, pode ser utilizado, oportunizando ao aluno se expressar e utilizar o seu conhecimento e potencial, sintetizando o que sabe e/ou organizando suas idéias.. A apresentação de trabalho se encontra no mesmo caso, pois, geralmente, representa a conclusão de uma atividade que demandou esforço e dedicação por parte do aluno. Os jogos foram citados, mas o índice revela que é uma prática pouco explorada. No total, as técnicas representaram 26,67% das opções. Apenas 13,3% citou os multimeios TV e Vídeo. Fomos informados que os vídeos ficam disponíveis na DIREC, que se localiza num bairro central da cidade. Assim, seu uso fica na dependência do professor dispor de tempo, fora do horário de trabalho (geralmente, ele tem carga horária de 40 horas semanais em sala de aula), para conhecer estes vídeos e planejar o uso em suas turmas. A cobrança da utilização, pelo professor, desses “kits”, fica por isso inadequada. Tivemos interesse também em saber se o dia da semana teria influência na disposição/motivação dos alunos para trabalhar. As respostas foram reunidas na Tabela 23. 115 Tabela 23. Influência do dia da semana na motivação do aluno (opinião do professor). 2.ª Razões FA NÃO INTERFERE Os dias são iguais 1 Sempre querem brincar 1 INTERFERE Aluno fica ativo 1 Fim de semana livre Dia de recreação Produzem mais ÀS VEZES INTERFERE Depende do humor da classe 3 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 3.ª F% FA 5,9 1 5,9 1 5,9 1 17,7 3 F% FA 5,9 1 5,9 1 5,9 1 1 17,7 4 Dias da Semana 4.ª 5.ª 6.ª Total F% FA F% FA F% FA F% 10 58,8 1 5,9 1 5,9 5 29,4 5,9 5,9 1 5,9 5 29,4 5,9 1 6 35,4 1 5,9 1 5,9 1 5,9 1 5,9 1 5,9 1 5,9 3 17,7 5,9 1 5,9 1 5,9 5,9 23,5 3 17,7 4 23,5 17 100 Considerando a totalidade das opções, percebe-se que a maioria dos professores, representando 58,8% das opções, considera não existir diferença na motivação dos alunos considerando-se o dia da semana, pois sempre querem brincar (afirmação que está envolta numa pontinha de censura), como se isto não fosse o desejável. Pudemos entretanto verificar em alguns autores, que o ideal seria os alunos aprenderem brincando. Segundo Vigotsky (1998), o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejo e as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo que, no futuro, tornar-se-ão seu nível básico de ação e moralidade. Ainda segundo Vigotsky, a criança quando está diante de um desejo que não pode ser imediatamente satisfeito ou esquecido, para resolver a tensão em que se encontra, envolve-se num mundo ilusório e imaginário e este mundo é o mundo do brinquedo. Este brinquedo é baseado em regras e a criança, para cumpri-las e desempenhar o seu papel no jogo, cria um eu fictício desejado pela criança que, ao agir como tal, aprende cumprindo as regras estabelecidas. Para 41,3% dos professores, o dia da semana interfere (35,4%), ou às vezes interfere (5,9%). O fato é que a 6ª feira, que é dia de recreação e também o fim de semana de trabalho, foi o dia indicado como o mais motivador. 116 Esta circunstância da recreação, expressa na possibilidade de um fim de semana livre, ou por serem oferecidas atividades de recreação na 6ª feira, representando 11,6% das opções, reforça a opinião de que o maior desejo dos alunos é brincar. Os professores certamente estão interessados na aprendizagem de conteúdos, parte do programa da série e que devem ser vencidos a qualquer preço, a fim de que o aluno consiga passar de ano... e não têm se utilizado do brinquedo para obter, junto aos alunos, o desempenho desejável que é a aprendizagem prazerosa, portanto deixando de usar um aliado eficaz e poderoso, que é o prazer do aluno. Houve também a opinião de que, nos dias centrais da semana, (3ªs, 4ªs e 5ªs feiras) os alunos produzem mais. Apenas 5,8% dos professores declarou que a motivação do aluno depende do humor da classe e não da matéria ou dia da semana e foi escolhida a 4ª feira como o dia do bom humor. Perguntamos aos professores quais as razões, segundo o seu ponto de vista, que levariam os alunos a ter preferência por determinada aula, e as respostas fazem parte da Tabela 24. Tabela 24. Preferência do aluno por determinada aula (opinião do professor). CATEGORIA 1 Razões/Ações FA F% 2 33,33 RESGATE DO PASSADO Da região (Cap.Hered.) Entrevista Do Brasil (folclore) Apresentação do Trabalho REPRESENTAÇÃO PELO CONCRETO 1 16,67 Desenhar/Pintar 2 33,33 EXPRESSÃO PESSOAL Opinar Criar 16,67 NOVIDADE 1 Apreender 6 100,00 Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. Categoria 2 FA F% 1 16,67 1 16,67 16,-67 1 16,67 16,67 1 1 16,67 1 6 100,00 Foram várias as razões consideradas pelos professores como capazes de despertar o interesse dos alunos por uma determinada aula. 117 Em alguns casos disseram que o assunto pode determinar interesse, por exemplo, assuntos que permitam o resgate do passado como o estudo da região e de outras regiões( 33,3%). Ilhéus, nos primórdios da colonização do Brasil, fazia parte de uma das Capitanias Hereditárias e os alunos conhecem, pela tradição oral, muitos fatos ocorridos naquela época contados pelos familiares/ vizinhos/ amigos/ conhecidos e a mídia, e provavelmente, isto os motiva ao estudo de História. Resgatar o passado de outras regiões também gerou interesse, como foi o caso do estudo sobre o folclore. A metodologia adotada (apresentação dos trabalhos pelos grupos em atividades variadas) ajudou, pois foi dito que os alunos não gostam de estudar rotineiramente nos textos dos livros didáticos adotados.. A Matemática foi citada quando o estudo se referiu a frações e símbolos matemáticos, por eles terem feito representação com material concreto, utilizando a pintura (16,6%). Os professores disseram também que os alunos gostaram de saber que é possível o uso de outros símbolos em lugar de números, (novidade). Novamente a metodologia adotada foi a razão da preferência: representação em material concreto e a “novidade”, por ser novidade, isto é, por nunca ter sido estudado ou utilizado. A novidade tem como característica aguçar a curiosidade natural, o desejo de saber das coisas, ser o primeiro a saber. A relação entre as características do conteúdo da novidade (assunto) e a metodologia (novidade) adotada permitiu esta análise. Mas o que mais chamou a atenção foi o tipo de ações que estas atividades propiciaram: fazer perguntas/responder; pesquisar/apresentar trabalho; concretizar pelo desenho/expressar sentimentos; entrar em contato com o novo. Tivemos interesse também de saber, do ponto de vista do professor, quais as razões que levam seus alunos a não gostar da aula, de não estarem motivados para certas atividades escolares. Os resultados encontram-se na Tabela 25. 118 Tabela 25. Razões do aluno não gostar da aula (opinião do professor). Disciplinas/ Razões MATEMÁTICA Dificuldade de aprendizagem Símbolos Cálculos problemas, tabuadas Não tem base HISTÓRIA Prof. Não gosta Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 7 87,50 1 12,50 8 100,00 Categoria 2 FA F% 7 87,50 1 12,50 Categoria 3 FA F% 3 37,50 3 37,50 1 12,50 1 12,50 8 8 100,00 100,00 Os dados expressos na Tabela 25 mostram que a maioria dos professores (87,5%) considera que o aluno não gosta da aula quando tem dificuldade de aprendizagem. Usaram para se expressar não sabem símbolos matemáticos, calcular, resolver problemas, não sabem tabuada de cór, enfim, não têm base. Piaget (1998), em entrevista a um grupo de professores de Grenoble, pesquisadores da Associação Francesa dos Pesquisadores em Didática (AFCED), quando perguntado sobre a aprendizagem da Matemática afirmou que a criança quando não entende de imediato, se bloqueia e se considera definitivamente incompetente naquilo. Os alunos, referidos pelos professores, que demonstram dificuldade em Matemática, talvez se encontrem neste caso. Portanto, a certeza de fracasso desmotiva o aluno a estudar e ao professor de encontrar o caminho para fazer aprender, se nem ele mesmo sabe. Para superar esta questão, Piaget sugeriu, porque havia experimentado simplificar os exercícios de Matemática, retirando qualquer exigência de cálculo e o resultado foi positivo. Desta forma, ficou claro que Piaget prefere pensar no real tal qual ele é, e que as situações existentes são tão variadas que se pode encontrar algo que seja apropriado para o momento e igualmente importante para o aluno, mesmo que apresente uma dificuldade maior, pois nisto residiria seu interesse. O aluno teria todo interesse de compreender que a complexidade do real dificulta dominar, 119 matematicamente, as questões de antemão e que a simplificação dos dados permi-te raciocínios rigorosos (Piaget, 1998, p. 233). Jullien, um dos professores pesquisadores do grupo citado (Diretor do IREM), qüestionou Piaget, nesta ocasião, sobre a possibilidade de se fornecer um jogo para tornar a realidade mais compreensível, pois eliminaria de antemão a necessidade da preocupação com a questão da simplificação, no que ele concordou, respondendo, imediatamente, sim (Piaget, 1998, p. 231). Em uma das classes participantes de nossos estudos, pudemos observar o professor propor um jogo à classe, com o objetivo de oferecer reforço de memorização para que os alunos dominassem a tabuada de multiplicar. Notamos que os alunos se empenharam muito para vencer a competição que se instalou entre grupos “rivais”, e apresentaram resultados satisfatórios. A maioria das respostas foi correta e o professor, ao apresentar o cartão com o fato fundamental, com vazios a serem preenchidos pelas respostas dos alunos, repetia a resposta, mostrando à classe (Piaget, 1998, p.231). O professor constatava que alguns acertavam e outros não, mas não tomou providências para que todos lograssem compreensão, aprendizagem, sucesso, elevação da auto-estima, confiança e conseqüente disposição para nova aprendizagem. Carvalho (1982, p.114) considera que o ponto culminante no processo didático é a figura do professor, que da mesma forma que pode exercer influência positiva, pode exercer influência negativa na disposição do aluno para o estudo, como é o caso constatado no nosso estudo. O reforço foi unicamente a apresentação da resposta correta para os alunos. Alguns dos professores disseram que há influência negativa dele próprio, como professor, porque não gosta da matéria/assunto e este fato gera no aluno, também, o não gostar da matéria. Este foi o caso da questão sobre aprender/compreender História, e isto é um pouco mais complexo, pois a compreensão da História supõe a noção de tempo, sob o aspecto da duração e da seriação dos acontecimentos. 120 Na memória da criança, tanto um aspecto como outro apresentam distorções, pois a mensuração é deficiente e as lembranças não são corretamente ordenadas. Por extensão, isto deve valer para o passado não vivido com muito mais razão. Num dos textos que ficaram inéditos, de Piaget, mas publicados em 1998, tendo como uma das organizadoras Silvia Parrat, conta-se que na Conferência Internacional para o Ensino de História foi colocada a questão da eficácia da história na escola primária, e Piaget, que participou desta Conferência, afirmou, naquela ocasião, que não há informações sistemáticas sobre como a criança imagina o passado não vivido por ela e que, por este motivo, ultrapassa a memória individual. O que se sabe são as deformações que têm lugar em sua memória, no passado vivido. Por este motivo não aconselha aula de História precoce demais. Ainda segundo Piaget, o egocentrismo é encontrado no terreno da história, da mesma forma que em outras representações da criança e seria apropriado um estudo das atitudes intelectuais espontâneas da criança, pois ajudaria na determinação dos programas na área da História, respeitando-se o estágio de desenvolvimento intelectual da criança de 7 a 11 anos, enquanto cursando o nível fundamental (Piaget, 1998, p.89). É importante acrescentar que os objetivos no estudo da História hoje, segundo os PCNs, ultrapassam o conhecimento dos fatos ocorridos numa determinada época, num determinado lugar, e o objetivo mais importante a ser alcançado é aquele que permite ao aluno reconhecer-se como sujeito da História, através do estudo de sua própria história, a história do local mais próximo ( sua própria casa, sua rua, sua casa). As propostas construtivistas, ao valorizarem as atitudes ativas do sujeito, estão encaminhando o ensino da História no sentido de proporcionar formação como conhecimento, como experiência e como prática de cidadania (Piza, 1999, p.165). Tivemos interesse também em conhecer, do ponto de vista do professor, como o aluno se sente diante da possibilidade de acertar/errar as atividades. As Tabelas de 26 a 28 apresentam os dados que passamos a analisar. 121 Inicialmente quisemos saber o que o professor percebe do aluno diante da possibilidade de errar e que indicadores permitem esta percepção, e na Tabela 27 foram organizados os dados obtidos. Tabela 26. Sentimento do aluno diante da possibilidade de errar nas aulas (informação do professor). Momento da aula / o que tem a temer / indicadores CORREÇÃO NO QUADRO Temem críticas dos colegas Os colegas criticam Ficam desconfiados Mostram-se tímidos ARGÜIÇÃO/CORREÇÃO DE EXERCÍCIO Temem não passar de ano Não assumem o erro (corrigem ligeiro) Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 4 66,67 2 33,33 6 100,0 Categoria 2 FA F% 4 66,67 1 16,67 1 16,67 6 100,0 Categoria 3 FA F% 2 33,33 1 16,67 1 16,67 16,67 1 1 16,67 6 100,0 Segundo a maioria dos professores (66,67%), os alunos demonstram que têm medo de errar quando são solicitados a ir ao quadro, na hora da correção; mostram-se tímidos, desconfiados, sendo o receio maior a crítica dos colegas. Também segundo os professores (33,3%) os alunos ficam temerosos no momento da argüição, pois sabem que se não acertarem, não passam de ano. Por este motivo também, 14,2% dos professores afirmaram que alguns alunos não assumem seu erro e corrigem ligeiro. Ficando assim evidente que o desejo do aluno é garantir o acerto e não saber se aprendeu. Há nestes casos uma exposição pública do aluno e há pouca probabilidade do aluno se sair bem; isto faz com que a auto-estima fique ameaçada, porisso o medo. É por este motivo que os alunos, ao serem chamados ao quadro, resistem e os mais tímidos se recusam. Embora a intenção do professor seja positiva, pois pretende com isso, dar uma atenção maior aos alunos que estão com dificuldade, o risco de fazer má “figura” frente aos colegas e receber críticas, torna-se verdadeiro sofrimento para o aluno. A atitude deles em não assumir quando erram, corrigindo “ligeiro” no caderno, como foi dito pela professora, é também, um indicador do mal estar causado quando erram e receiam a crítica ou não passar de ano. 122 A prática de chamar o aluno ao quadro, ou de argüi-lo é válida, funciona, na medida em que tenha sido criada uma relação de confiança e solidariedade, de tal modo, que o aluno, neste momento, entenda que o seu professor vive em cumplicidade com ele. Segundo Brearley & Hitchfield (1973, p.167), na condição de erro o aluno pode ser levado a cometer “fraude”, isto porque o professor espera de todos os alunos o mesmo padrão de correção em algum exercício. O aluno, então, recorre à fraude como forma de evitar a censura ou humilhação pública. Há uma exagerada valorização do acerto, e o erro consta como impossibilidade, algo absolutamente não aceitável. Algumas idéias sobre a “cola”, segundo Piaget, explicam que esta é uma reação defensiva em nosso sistema educacional porquê condena o aluno a trabalhar em situação de isolamento e só recorre à emulação para jogar um indivíduo contra o outro, e que na situação de erro, as notas baixas são a punição expiatória para a falta de conhecimento ou a falta de dedicação suficiente ao estudo (Piaget, 1998, p. 159). A Pedagogia deve procurar uma solução viável que possibilite relações de cooperação estabelecendo um caráter coletivo para o trabalho escolar. O que tem sido feito, entretanto, é usar a recompensa como complemento da competição entre os indivíduos, prática da educação moral clássica, que já devia ter sido abandonada. O ideal seria transformar o respeito a certas regras próprias do trabalho coletivo, como esforço de autonomia e sensibilizem o sujeito para que a sua ação no grupo seja a melhor recompensa. Questionamos também aos professores, se o fato do aluno acertar o dever o deixa mais motivado para executar as atividades escolares. Os dados se encontram na Tabela 27. 123 Tabela 27. Acertos como motivação para o aluno (opinião dos professores). Motivação/Indicadores POSITIVA Pedem mais dever Ficam alegres Alardeiam que acertaram É RELATIVO Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 6 85,71 1 14,29 7 100,00 FA 2 2 2 1 6 Categoria 2 F% 28,57 28,57 28,57 14,29 100,00 Quando perguntados se “acertar” o dever motiva o aluno, 85,7% dos professores disse que sim, motiva e ofereceram como indicadores o fato dos alunos solicitarem mais dever ou mostrarem-se alegres, alardeando que acertaram. Os professores disseram que eles ficam motivados para continuar as atividades, pela possibilidade de valorização social. Apenas 14,2% dos professores acha que é relativo, às vezes motiva e às vezes não motiva o aluno. Segundo Piaget (1973, p.39), todos os sucessos/fracassos são registrados pelo sujeito, organizando uma espécie de escala permanente de valores (sentimentos de inferioridade/superioridade) que tanto podem elevar (no acerto) como rebaixar (no erro) as pretensões do sujeito. Daí resulta um julgamento de si mesmo que pode ter repercussões no seu desenvolvimento, de que já falamos, ao analisar outros dados. Certas ansiedades apresentadas pelos sujeito em fases posteriores, freqüentemente são resultado de fracassos reais ou imaginários acontecidos anteriormente. Para complementar, perguntamos qual a reação mais característica dos alunos, ao acertar/errar o dever. As respostas organizadas na Tabela 28 estão subdivididas em: na condição de acerto e na condição de erro. 124 Tabela 28. Comportamento do aluno ao acertar/errar o dever (informação do professor). Condição/Comportamento do aluno AO ACERTAR Gritar Se vangloriar Mostrar alegria AO ERRAR Mostrar agressividade Mostrar tristeza Aceitam o conselho do professor CATEGORIA 1 FA F% 5 100 5 100 - FA 2 2 1 3 1 1 Categoria 2 F% 40,00 40,00 20,00 60,00 20,00 20,00 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Na condição de acerto os professores confirmaram suas informações da tabela anterior, pois disseram que, ao acertar, os alunos gritam (40%), se vangloriam (40%) ou demonstram alegria de outras formas (20%). Quando os professores opinaram sobre a reação do aluno na circunstância de erro, 60% disse que os alunos têm um comportamento agressivo (xingam, danificam a folha do dever que erraram, esmurram a carteira). Outros demonstram tristeza, na opinião de 20% dos professores. Alguns professores (20%) disseram que dão conselhos aos alunos, ponderando que “é melhor se esforçar para aprender”, e eles ficam atentos. Os professores disseram também que é difícil para eles controlar as reações dos que acertam, que estão exultantes pelo êxito e que, extravasando sua alegria, acabam provocando os que não conseguem acertar, chegando a dar vaias nos companheiros que erraram. Estes, já irritados pela constância da falta de acerto, se tornam agressivos. Uma das professoras disse que procura amenizar dizendo que, para aprender, a gente também pode errar. Nas observações que realizamos, realmente pudemos constatar o comportamento exultante de alunos, que haviam acertado: mostravam o caderno para os colegas; deixavam o quadro de giz com ar triunfante; houve também o caso de duas alunas 125 que permaneceram no quadro "criando" outros exercícios de cálculo e resolvendo, tal era o entusiasmo por terem acertado o exercício. Portanto, a amostra se mostrou, nitidamente, motivada pelo estímulo do acerto. Perguntamos também aos professores se as atividades propostas aos alunos pelos professores possibilitam acertar, isto é, se é respeitado seu nível de conhecimento. Na tabela 29 encontram-se os dados obtidos. Tabela 29. Possibilidade de acerto, pelo aluno, nas atividades propostas pelo professor (informação do professor). Resultado / Condição (se...) ALUNO ACERTA Respeitado o nível do aluno Há desafio (p/ raciocinar) ALUNO ERRA Banca atrapalha Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 6 85,71 1 14,29 7 100,00 FA 3 3 1 7 Categoria 2 F% 42,86 42,86 14,29 100,00 Quando questionados se as atividades propostas permitiram acertos, a maioria dos professores (85,7%) respondeu que a maior parte dos testes corresponde ao nível do que foi explicado (42,8%), mas gostam, às vezes, de colocar uma ou outra ques-tão, como desafio, para provocar os alunos e faze-los raciocinar para chegar à resposta desejada. Esta atitude, por parte dos professores, atende ao que Nérici afirma: o sucesso não deve ser nem fácil, nem facilitado, mas alcançado com empenho. Sucesso, através do esforço, é excelente técnica motivadora (Nérici, 1981, p.175). Por outro lado, Nérici afirma também que nada desanima mais do que tarefas propostas acima das possibilidades, pois a probabilidade de se sair bem, fica remota e a auto-estima, prejudicada. 126 Para ilustrar vamos apresentar duas atividades, do mesmo tipo, que presenciamos nas escolas visitadas, executadas por duas professoras, que denominaremos professora da escola C e professora da escola D. Tratava-se de um exercício de gramática, extraído de um texto escolhido pelo professor. Os alunos deveriam classificar palavras do texto, segundo as categorias gramaticais estudadas: substantivo, verbo, advérbio, preposição, adjetivo, conjun-ção, etc. A professora da escola D distribuiu o texto e disse o seguinte: vocês devem classificar todas as palavras do texto, conforme já fizemos anteriormente. Depois faremos a correção. A professora senta-se em sua carteira, se envolve em outras atividades e se desliga dos alunos. Os alunos iniciam o dever. Esporadicamente a professora reclama quando os alunos ficam em pé ou conversam. Num determinado momento, a professora declara que o exercício será corrigido no quadro. A primeira palavra a ser classificada é “Alegria” (além de ser o título do texto, é o nome do cachorro da história). Neste caso, é um substantivo próprio, por ser o nome do cachorro, mas foi dito pela professora que era um substantivo abstrato (sentido comum). No nosso entender, este é um exercício muito difícil para o nível dos alunos, pois confunde o aluno. Não houve oportunidade de acerto. Os alunos não tiveram a satisfação de ver seu esforço coroado de êxito, mesmo no caso dos alunos mais aplicados, que teriam condições de acerto e com isto ficariam contentes, satisfeitos com as atividades realizadas na escola e dessa forma manteriam a sua motivação. Ainda comentando sobre a palavra “alegria” no texto, esta palavra, ao ser objeto de classificação pelo aluno, pode misturar os critérios usados para classificar as palavras segundo as categorias gramaticais. Esta situação pode provocar 127 insegurança, desânimo. O aluno, não acertando, pode considerar-se incapaz ou incompetente para aprender, concluindo que o assunto é difícil para ele. Logo, a autoestima ficará também prejudicada. Nesta atividade os alunos, também, foram testados na sua resistência ao trabalho escolar ao responder a todas as palavras do texto. A dosagem mais uma vez foi inadequada. Às vezes os professores, por um equívoco, acabam transformando a atividade adequada em inadequada, por não levar em consideração a resistência do aluno durante o esforço despendido. Uma atividade que poderia ser prazerosa transformase em atividade cansativa, monótona, caminho para a rejeição de atividades deste tipo, ou ainda para se desgostar das atividades escolares. Quando a mesma atividade foi desenvolvida pela professora da escola C, ao solicitar a classificação sintática, ela limitou a uma ou duas palavras do texto, para cada categoria gramatical considerada; pediu, apenas, o tempo verbal de alguns verbos; para a classificação do pronome, somente os possessivos; ou, para os pronomes pessoais do caso reto, indicar a pessoa (1ª, 2ª ou 3ª). Não houve a exigência para identificar todas as palavras, como no caso analisado anteriormente, pois num texto literário pode ocorrer exceções, como foi constatado e apresentado. Esta primeira diferença entre uma atividade e outra, diz respeito à dosagem adequada, respeitando o nível dos alunos, o que permitiu maior número de acertos e portanto propiciou satisfação aos alunos. Ao gostar, asseguraram o nível de motivação para aquele tipo de atividade proposta. Ela, provavelmente, será lembrada com satisfação. Em segundo lugar, a professora, inicialmente explicou, minuciosamente, o que os alunos deveriam fazer e, depois, ficou disponível para as orientações individuais. Nesta observação realizada, percebeu-se que a relação aluno - professor é aberta, pois há respeito às necessidades e ritmo dos alunos. Aqueles que dela se aproximaram para tirar suas dúvidas ou saber se acertaram os exercícios, foram atendidos com solicitude. 128 Os alunos ao terminarem o dever, se dirigiram a ela para as correções. Ao sair dali, sabiam se acertaram ou erraram e o que deveriam fazer para acertar. Cada aluno que chegou junto à professora recebeu atenção e explicação. Sabemos que o professor da escola D planejou sua aula, trouxe um texto interessante, mas cometeu alguns equívocos. - considerou que os alunos já tinham recebido explicações suficientes e poderiam fazer o exercício sozinhos; - considerou que quanto mais exercício, melhor; - ao se desligar da atividade dos alunos, não deu atenção aos alunos que tinham dúvidas e não conseguiram avançar; - os alunos se mostraram desinteressados, pois o professor estava desinteressado, se estavam acertando (aprendendo) e mais, não tinham com quem confirmar suas escolhas; - a classificação da palavra Alegria ficou mal esclarecida, portanto, muito difícil. Para Piaget (Goulart, 1997, p. 64), em todas as esferas do conhecimento, “pensamento é ação internalizada”, mas deve-se cuidar para que o esforço conduza ao sucesso. O desejo de oferecer ao aluno condições de autonomia, deve significar centrar a atenção no aluno (seus interesses e estrutura mental, no momento) Quando desafiado, se o sujeito tiver condições de estabelecer trocas verbais com seus pares, provavelmente, terá melhores condições de desenvolver o raciocínio lógico. Segundo 14,2% dos professores a “banca” (ajuda extra-classe para fazer os deveres/estudos de casa) atrapalha o aluno nas atividades de avaliação, provocando o erro, pois ensinam a resolver os exercícios de forma diferente do ensinado em classe pela professora. Neste caso, o aluno fica na dúvida e comete erros. 129 A Tabela 30 apresenta o resultado da questão relativa à forma como o aluno age diante de suas dificuldades na realização das atividades em classe Tabela 30. Pedido de ajuda, pelo aluno, quando em dificuldade. Pessoa Procurada / Ajuda Recebida PROFESSOR Atenção individual Revisão Coletiva Supervisão do trabalho Só confiam na ajuda do professor COLEGA 1 “Anjo da guarda” Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 1 Aluno adiantado da sala CATEGORIA 1 FA F% 7 77,78 2 22,22 - FA 4 1 1 1 2 Categoria 2 F% 44,45 11,11 11,11 11,11 22,22 9 9 100,00 100,00 Segundo a maioria dos professores (77,7%), os alunos recebem ajuda sob forma de atenção individual (44,4% das opiniões), realizando atividades ou com o objetivo de revisão do assunto tratado (11,1%), ou ainda no quadro da supervisão geral feita pelo professor (11,1%), rotineiramente. Os professores (11,1%) também disseram que os alunos os procuram porque só confiam na ajuda do professor para fazê-los superar suas dificuldades (são eles que lhes ensinam). Os professores (22,2%) que responderam a questão informando que os alunos procuram o colega para receber ajuda, explicaram que isto ocorre porquê instituíram o programa “anjo da guarda”, aproveitando os alunos mais adiantados da sala para ensinar os mais fracos. Mas uma das professoras disse que o aluno que não sabe, se sente discriminado quando um colega, considerado “forte”, vai ensinar-lhe no quadro, ficando exposto à observação dos colegas. Portanto, este recurso precisa ser usado com prudência e oportunidade, pois, se de um lado, parece ajudar, de outro, desmotiva e tira o entusiasmo para aprender. O expediente de estabelecer a ajuda através do “anjo da guarda” faz até sentido, mas quando se objetiva favorecer a autonomia, acreditamos que seria mais adequado deixar a critério do próprio aluno a iniciativa de buscar ajuda do colega, pois o 130 princípio desencadeador da aproximação seria a afetividade e evoluiria no sentido do respeito mútuo e da reciprocidade. ( Goulart, 1997, p. 92) Tivemos interesse em saber se o professor utiliza o elogio como estratégia para motivar seus alunos, como os utiliza e as razões de elogiar ou não elogiar. As respostas se encontram na Tabela 32. Tabela 31. Uso do elogio, pelo professor, para motivar o aluno (informação do professor). Possibilidades Estratégia / Razões ELOGIA Coloca observação Arranja motivo ELOGIA POUCO Por displicência do professor Não há tempo Separam comportamento de desempenho NÃO ELOGIA Aluno ajuda colega Dificuldade do aluno não permite Total CATEGORIA 1 FA F% 4 44,44 33,34 3 2 22,22 9 100,00 Categoria 2 FA F% 33,34 3 1 11,11 11,11 1 1 11,11 1 11,11 1 11,11 1 11,11 9 100,00 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 Indagando dos professores se utilizam o elogio como estratégia para motivar os alunos ou realizam as tarefas propostas, mantendo-os interessados, a maioria, (44,4%), afirmou que costumam elogiar, colocando observação, além da nota (33,3%) ou arranja sempre um motivo para elogiar (11,1%). Já, 33,3% dos professores disse que não elogia por displicência, porquê não acham tempo para isso ou porquê separam comportamento de desempenho. Os 22,2% restantes, afirmaram que não têm condições de elogiar porque instituíram a ajuda “anjo da guarda” e o acompanhamento é feito pelo colega, como também, porque o aluno apresenta tal nível de defazagem que não dá para elogiar, pois eles nunca acertam. 131 Nérici (1981), lembra que os elogios devem ser oportunos, pois quando exagerados, o aluno desconfia. O elogio, portanto, deve corresponder ao que de louvável tenha sido praticado pelos alunos. Porter & Lawler (Moscovici, 1982, p.52) explicam que a motivação, desempenho e satisfação são variáveis separadas. Para eles o mais importante é o que acontece depois do desempenho. Assim as recompensas recebidas pelos alunos e como são percebidas por eles é que determinam o nível de satisfação experimentado. No caso do elogio, há satisfação pessoal em recebê-lo, por ter feito um esforço para completar a tarefa e saber que está agindo corretamente. O comportamento que é reforçado por recompensa tende a ser repetido e permanece (Moscovici, 1982, p.52). Tivemos interesse também em saber, na opinião dos professores, se o clima da classe motiva os alunos e se isto se deve a que razões (afetivas, bom relacionamento existente entre os alunos e entre os alunos e o professor). Os dados foram agrupados nas Tabelas 32, 33 e 34. Os dados sobre o clima socio-afetivo da classe, como motivador positivo segundo as respostas dos professores encontra-se na Tabela 32. Tabela 32. Clima sócio-afetivo da classe como motivador positivo (opinião do professor). CATEGORIA 1 CATEGORIA 2 Categoria 3 Indicadores/Motivo FA MOTIVA 5 Expressão do Aluno Animação Comunicação Semblante descontraído Execução das Tarefas Dever feito sem reclamar NÃO INFLUI 1 Total 6 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 F% 83,33 16,67 100 FA 4 1 1 6 F% 66,67 16,67 16,67 100,00 FA 2 1 1 1 1 6 F% 33,32 16,67 16,67 16,67 16,67 100,00 Praticamente todos os professores (99,99%) disseram que o clima socio-afetivo da classe motiva os alunos e que estes se sentem bem e motivados durante as aulas, e 132 se expressam por indicadores, tais como: mostrando-se animados, comunicativos ou apresentam semblante descontraído. De acordo com o que foi declarado pelos professores consultados, estes consideram como outro indicador o fato do aluno fazer seu dever sem reclamar, mesmo que a sua situação pessoal seja delicada do ponto de vista do estudo ou do dia - a - dia vivido pelo estudante em casa, suas dificuldades pessoais, sociais e de saúde. Diante destes depoimentos, é válido supor que as condições favoráveis, mostrando que o aluno se sente à vontade, foi devido ao fato de ter havido preocupação, por parte do professor, em criar um ambiente de camaradagem, consideração, respeito, não só entre os companheiros, como um relacionamento sadio com o próprio professor. Pode-se concluir até, que este empenho é o comportamento da maioria dos professores consultados, pois somente 16,67% não acredita que isto faça diferença, quanto à motivação dos alunos para participar das atividades de classe. É possível inferir também que, mesmo empiricamente (fruto de sua experiência no dia-a-dia, como pessoa, no seu relacionamento social), o professor se preocupa em criar condições para um relacionamento positivo entre os alunos, e estes, com os professores como motivação para que eles se mobilizem e aceitem participar das atividades escolares. Ao indagarmos ainda dos professores, se existiam condições positivas que favoreceriam criar um clima ideal para uma convivência agradável na classe, os dados obtidos reforçam nossa análise. Na Tabela 33 foram organizadas as respostas obtidas dos professores entrevistados à respeito. 133 Tabela 33. Relação professor –aluno (opinião do professor). Condição/Indicadores POSITIVA Atenção/Carinho Escrevem bilhetes Há boa comunicação Não fazem malcriação Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 8 100,00 8 100,00 Categoria 2 FA F% 3 37,5 3 37,5 1 12,5 1 12,5 8 100,00 Pelas respostas dos professores, as relações são positivas, entre professor e alunos (100%), e segundo eles, os alunos aceitam que seus professores são amigos e tudo estão fazendo para ajudá-los. A maioria dos professores (75,9%) costuma receber bilhetes carinhosos dos alunos, ou mensagens deixadas no quadro. Os professores, também, disseram que consideram a relação positiva, apoiando-se na boa comunicação existente entre aluno e professor (12,5%), ou ainda disseram que os alunos não fazem malcriação (12,5%). Nérici (1981) afirma que o entusiasmo com que o professor encaminha sua aula é fator decisivo para se criar um bom relacionamento entre professor e aluno. A simpatia, tolerância e compreensão demonstradas para resolver pequenas dificuldades é igualmente importante, pois assim, os alunos se sentem atendidos e respeitados e os professores com os quais conversamos e observamos, demonstraram esta preocupação. Em nossas observações em classe fomos testemunha dessas expressões carinhosas do aluno para com o professor. Registramos algumas frases escritas no quadro de giz durante o horário de recreio e escritas na parede externa (no muro): Professora....... é legal; Eu amo a professora.... ( escrita dentro de um coração) confirmam a veracidade das afirmações. 134 Para reforçar nossas conclusões sobre o “clima” estabelecido na classe como elemento positivo para motivar os alunos a participar das aulas, questionamos os professores quanto a relação dos alunos entre si. Os dados obtidos foram organizados na tabela 34. Tabela 34. Relação aluno –aluno (opinião do professor). Condição/Indicadores CATEGORIA 1 FA F% 4 57,14 3 42,86 - POSITIVA Há solidariedade Brincam/Ajudam/Emprestam Conversam entre si Professor aconselha amizade NEGATIVA 1 Poucos brigam Total 7 Fonte: Dados da .pesquisa. Ilhéus, 1999 1 Não há rixa, só na hora 100,00 Categoria 2 FA F% 3 42,86 1 14,28 3 42,86 7 100,00 Categoria 3 FA F% 2 28,56 1 14,29 1 14,29 3 42,86 7 100,00 A maioria, representada por 57,1% das opiniões dos professores, afirmou que a relação é positiva pois há espírito de solidariedade. O que ocorre no mais das vezes é a brincadeira, as conversas despretensiosas e, quando necessário, ajudam-se uns aos outros, emprestam material escolar com a maior boa vontade (42,8%). Esta atitude é complementada pelo professor que aconselha ser importante cultivar uma boa amizade entre os alunos como uma forma de bem viver, representado por 14,2% das opiniões. Existe também relação considerada negativa pelos professores (42,8% das opções), mas se refere a uma minoria de alunos que brigam. Há algumas desavenças, que ocorrem só na hora, porquê se metem no assunto dos outros, mas não acontece rixa, mal entendido, que dure muito e crie partidarismo. Neste momento da entrevista quisemos conhecer que estratégias motivaria o professor a estudar caso voltasse a ser aluno, e tentar verificar se a época da escola traz boas recordações. 135 As respostas foram organizadas na Tabela 35. Tabela 35. Recursos motivadores considerados adequados pelos professores caso voltassem a ser alunos. Tipo de recurso TÉCNICAS Jogos Trabalho em grupo Excursão Hora da novidade Reflexão Experiências Hora do conto RECURSOS ILUSTRATIVOS Desenhos Cartazes MULTIMEIOS Música/som POSTURA DO PROFESSOR Simpatia/compreensão/disponibilidade Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 8 66,67 2 16,67 1 8,33 1 8,33 12 100 Categoria 2 FA F% 2 16,70 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 1 8,33 12 100,00 A intenção do questionamento foi de verificar em quais recursos motivadores os professores confiam e se coincidem com os que utilizam em suas aulas: de forma consciente ou se utilizam as estratégias de motivação simplesmente pela tradição ou pelas lembranças que o seu tempo de estudante suscita. Conseguimos levantar dados reveladores. Do total de opções, a maioria (66,6%) referiu-se às técnicas de ensino, dizendo que, o recurso que mais os motivaria caso voltassem a ser alunos, é o jogo. Outras técnicas também foram citadas: Trabalho em Grupo, Excursão, Hora da Novidade, Reflexão, Experiências, Hora do Conto. O trabalho em grupo é um dos recursos que melhor atende aos objetivos do processo ensino aprendizagem, dentro dos princípios piagetianos, mas só um professor citou este recurso. Tivemos a oportunidade de observar uma aula, muito bem encaminhada, que consideramos válido registrar. 136 A tarefa proposta foi realizada em grupo; um aluno foi chamado para coordenar cada grupo. Jornais de oferta de supermercado foram distribuídos e o exercício a ser executado era inventar um problema que utilizasse, pelo menos, duas operações quaisquer (adição, subtração, multiplicação e divisão). O professor, ao planejar a aula, escolheu para coordenar os grupos, os alunos que apresentaram melhor rendimento. Não contou com as circunstâncias fortuitas; um dos alunos, talvez inseguro pelo fato de ficar responsável pelo grupo, perguntou o que significava adição, subtração, multiplicação, divisão. O professor, inicialmente, surpreendido, censurou o aluno e pediu que ele voltasse para resolver a dúvida. O que observamos foi o aluno voltar para o seu lugar e conversar com os colegas. Depois tirou um brinquedo (cartas de um baralho) da pasta e começou a brincar com eles. Isto significa que ficaram motivados para realizar outra atividade que não a proposta pelo professor. O professor, ao se dar conta do resultado, ficou pensando e, finalmente, resolveu colocar no quadro a seguinte informação: adição (+), subtração (-), multiplicação (x) e divisão (:) . Esta informação, para os alunos do caso relatado acima, que não obtiveram a resposta imediata, enquanto desejando participar da atividade, não foi suficiente para faze-los se interessar novamente para a proposta do professor. Houve oportunidade de desviar a atenção deles para algo “mais interessante” – a brincadeira com o baralho – que deixou-os envolvidos. Assim, uma situação fortuita, impediu que o grupo participasse da atividade que, para os demais grupos, funcionou perfeitamente e ficou demonstrado que estavam satisfeitos por realizá-la. Fica pois caracterizado, que os aspectos cognitivos e afetivos se interpenetram, colaborando/dificultando a motivação dos alunos. 137 Os indivíduos, ao se constituirem em grupo, desenvolvem, aos poucos, idéias sobre o que o grupo deve fazer. Estas idéias são denominadas normas, regras que, se forem desrespeitadas pelos sujeitos, estes sofrerão pressões para se submeterem a elas, e se não o fizerem, perderão o reforço social da aprovação do grupo, chegando até a perder o vínculo com ele. (Hardy & Heyes, 1989, p.. 206) Prestes (Zuin et al, 1997, p.229), ao discutir a contribuição habermasiana à educação, explica que a ação comunicativa entre os homens, quando visa a universalização das normas, tem uma exigência ética ao extraí-las das estruturas do mundo da vida. As normas são validadas por meio do discurso prático, até a obtenção do consenso, quando há aceitação, sem coação. A aplicação prática dessas idéias se traduzem pelo trabalho em grupo quando cada membro se torna cada vez mais esclarecido e emancipado. Neste processo há ganhos de aprendizagem em todos os sentidos. Com relação às ilustrações, estas receberam 16,6% das preferências. Os multimeios também foram declarados por apenas um sujeito como adequados quando o desejo era trabalhar com música ou canto. Segundo Piaget (apud Lima, 1980, p.41), a atividade do sujeito se desenvolve em dois planos: figurativo e operativo. É provável que, se a aprendizagem permanecer no plano meramente figurativo, não tenha potencial suficiente para determinar comportamento, daí denominá-los multimeios (grifo nosso) . A postura do professor também foi lembrada por um sujeito. Este considerou que a simpatia, o espírito de compreensão e a disponibilidade do professor para atender as dificuldades dos alunos é importante para criar uma atmosfera agradável, de confiança mútua que predispõe à motivação, gerando sentimento de segurança, principalmente entre os mais tímidos. No que se refere à coincidência entre o que os professores gostariam de ter como recursos motivadores hoje, e o que utilizam com o aluno em suas aulas, comparou-se os dados da Tabela 35 (p.132) com aqueles da Tabela 22 (p.108). 138 Percebeu-se que o único recurso coincidente foi o cartaz, com 6,67% das opções (professor utiliza) e 8,3% (professor considera adequado). Fica caracterizado que os recursos empregados como estratégias de motivação são muito variados e todos eles válidos. Este fato permite que se possa inferir que são lembrados na medida em que, ao terem sido utilizados, corresponderam à expectativa, isto é, conseguiram mobilizar os alunos para participar das atividades propostas. Quisemos saber também se os motivos que levaram os professores a darem estas respostas, tinha relação com as respostas referentes à pergunta sobre quais estratégias foram utilizadas pelos professores, no passado, para motivar as aulas. Obtivemos as respostas organizadas na Tabela 36. Tabela 36. Qualidade das recordações do professor sobre a motivação utilizada pelos seus professores na época em que eram estudantes. CATEGORIA 1 FA F% 4 50,00 POSTURA DO PROFESSOR Positiva Atenção Negativa Castigava Tradicionalista 2 25,00 TÉCNICAS Brincadeiras (pescaria) Excursão 2 25,00 NÃO USAVAM Total 8 100,00 Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus, 1999. Tipo de Recurso Categoria 2 FA F% 1 12,50 37,50 3 12,20 1 1 12,50 2 25,00 8 100,00 Categoria 3 FA F% 1 12,50 2 25,00 12,50 1 1 12,50 1 12,50 2 25,00 8 100,00 Ao se lembrarem do passado, as recordações, na sua maioria (37,5%), não foram boas, pois segundo os informantes, os seus professores, na época, não usavam praticamente nenhum recurso. Só pensavam em castigar e eram muito tradicionalistas: a relação professor - aluno era marcada pelo peso da autoridade e do respeito e as aulas calcadas na reprodução/memorização. Os professores 139 declararam que lembram muito mais do medo que sentiam de serem castigados, do que de outra forma de faze-los aprender. Esta forma de relacionamento com os alunos (para faze-los estudar) por meio de castigos, sanções e ameaças, está baseada em reações do aluno de fuga à dor, ao desconforto, às privações várias. É o chamado modelo de “conteúdo”, instantâneo, do momento presente, comparável a uma radiografia do evento (Moscovici, 1980, p.51). Apenas 12,5% das indicações dos professores (um sujeito da amostra) se referem a uma postura positiva da parte dos seus professores respeitando, dando-lhe atenção às dificuldades e atendendo às necessidades dos alunos, na época. Houve também aqueles (25%) que declararam guardar boas recordações das formas utilizadas pelos seus professores para faze-los estudar/aprender. Foi lembrada a excursão feita para conhecer os limites da cidade, em algum momento de sua vida escolar e a brincadeira de “pescaria” nas aulas de Matemática. Pode-se concluir que os momentos de prazer apontados, estão ligados às atividades realizadas pelos alunos, aprendendo/brincando, em grupo, pois, O melhor brinquedo didático para uma criança é outra criança, na mesma faixa de desenvolvimento (Lima, 1980, p. 42). A Tabela 37 apresenta a preferência dos professores, como estudantes no passado, pelas atividades motivadoras propostas por seus então professores, isto é, o que gostariam que houvesse sido feito, e que, de um certo modo, complementa a questão anterior. 140 Tabela 37. Atividade/tratamento que os professores gostariam de ter feito/tido, para motivá-los quando eram alunos. Atividades/tratamento VER/CONHECER TUDO QUE FOI ENSINADO De Geografia De História EXCURSÃO POSTURA DO PROFESSOR Positiva – amistosa Negativa – apavorante NÃO LEMBRA NADA Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 2 33,33 1 16,67 33,33 2 1 16,67 6 100 Categoria 2 FA F% 1 16,67 1 16,67 1 16,67 1 16,67 16,67 1 1 16,67 6 100,00 Com relação às atividades, se recordaram das aulas de História e Geografia e que ainda gostam destas matérias (33,3%) e gostariam de ver/conhecer o que era abordado nas aulas. Aparece novamente citado a excursão como uma atividade prazerosa (16,6%). Embora fosse solicitado que se posicionassem com relação às atividades, a figura do professor também foi lembrada: 16,6% considerou positiva, pois procuravam estabelecer uma relação amistosa com o aluno, mas um sujeito da amostra também declarou que a relação era apavorante. Um dos sujeitos disse que não se lembra de nada. Disse também que o ambiente da escola não exercia nenhum interesse, não motivava, por isso não havia nada de bom para recordar. Conforme Mizukami (apud Lüdke & André, 1986), no ensino tradicional, a figura central é o professor e não o aluno. O professor sabe, ensina... avalia. Resulta daí o medo do fracasso suscitado pela figura do professor, que decide quem passa e quem não passa de ano ou impõe castigos. Verificados estes dados sobre o que os professores gostariam de ter feito quando estudantes, e cruzando-os com o que propõem aos seus alunos (Tabela 35, p.132), percebe-se então que a única referência coincidente é com relação ao material ilustrativo utilizado nas aulas de História e Geografia. São lembranças das aulas que dizem ter gostado de conhecer mais sobre tudo o que foi ensinado. 141 Foi também objeto de nossos questionamentos, o que fizeram os professores estratégias e recursos de motivação, enquanto estagiários, isto é, quando fizeram seu estágio de Prática de Ensino. Os dados encontram-se na Tabelas 38. Tabela 38. Recursos motivadores utilizados pelos professores no período de seu estágio (curso de formação para o magistério). Tipo de Recurso MATERIAL DIDÁTICO Flanelógrafo Álbum seriado Quadro de giz Cartaz de prega Livro didático Textos/Apontamentos TÉCNICAS Jogos Experiências Hora da novidade MATERIAL ILUSTRATIVO Cartaz Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 8 53,33 4 26,67 3 20,00 15 100 Categoria 2 FA F% 20,00 3 1 6,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 1 6,67 13,31 2 6,67 1 1 6,67 3 20,00 15 100 Todos responderam ter utilizado recursos motivadores no seu período de estágio. Dentre os recursos utilizados, foi citado com mais constância o cartaz, representado por 20% das indicações, como material ilustrativo dos assuntos tratados em classe. Quanto ao material didático propriamente dito, representado por 53,3% das indicações, o flanelógrafo foi o mais lembrado (20%), por representar um esforço para trazer o concreto por representações e evitar o uso do giz. Aparecem também o álbum seriado, o quadro de giz, o cartaz de prega, o livro didático, textos e apontamentos, cada um apresentando um escore de 6,6% das opções. Houve referência aos recursos motivadores com participação direta dos alunos. Dentre eles, os mais citados foram os jogos (13,3%); brindes foram oferecidos para quem acertasse. Houve quem dissesse também que hoje não faz mais isso porque 142 não tem recursos, mas se pudesse faria sempre; sabe que foi bom e deu muito certo, foi a declaração de um dos professores entrevistados. Mas, segundo Piaget (1998, p.53), a melhor recompensa para o sujeito é realizar a atividade. Os professores deram como justificava para a utilização de recursos motivadores em suas aulas no período de estágio, a nota a ser obtida, o que, provavelmente, seja a expressão da verdade, pois nas nossas observações, presenciamos apenas o uso do quadro de giz e o livro didático pela maioria dos professores. A melhor atividade proposta foi o trabalho em grupo e em alguns momentos o jogo, portanto, não há preocupação com a motivação dos alunos. A Tabela 39 mostra, na opinião dos professores, a possível influência do seu estágio na escolha dos recursos motivadores utilizados hoje em suas aulas. Tabela 39. Recursos motivadores utilizados pelo professor durante o estágio e que aplica hoje. Tipo de Recurso NENHUM Escola não dá condições Não existe material Não existe segurança ALGUM Traz de casa Prof. está aprendendo a usar motivação Hoje utiliza bingo Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 50,00 3 3 50,00 6 100,00 Categoria 2 FA F% 3 50,00 1 16,67 1 16,67 1 16,67 6 100,00 Categoria 3 FA F% 2 33,32 1 16,67 1 16,67 1 16,67 16,67 1 6 100,00 Metade dos professores disse não usar o que utilizou como recurso motivador no período de estágio. Alguns dos professores (dois) disse que houve mudança entre o que ocorria no passado e hoje, e está sendo muito positiva. Estão aprendendo e a cada dia fazem melhor. Hoje usam bingo, e trazem material de casa algumas vezes. 143 A justificativa para não usar recursos motivadores ou usá-los às vezes, foi o fato da escola não dar condições para que o professor utilize tais recursos motivacionais: a escola não possui material desse tipo foi a declaração de 33,3% dos professores; e/ou não oferece segurança para que o material trazido pelos professores/alunos não sejam danificados (16,6%). Mas, houve também quem dissesse, num desabafo: “chega de rotina”, declarando que traz de casa e corre os riscos. Enquanto outros declarassem que não pensam na motivação, pois a motivação deve ser o próprio assunto tratado que deve interessar ao aluno por si mesmo. Tivemos interesse em saber se o professor ser querido pelo aluno, é um forte motivador da aprendizagem, pois o aluno quer agradar/satisfazer/manter o seu afeto. A tabela 40 apresenta os resultados Tabela 40. O afeto professor-aluno motiva-o à aprendizagem. Possibilidades / Razões / Indicadores SIM O plano afetivo interfere na aprend. Aprendem sem medo Amor motiva Aproxima Interfere no comportamento Anima para estudar Aluno fica na sala NÃO SABE Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 5 83,33 1 16,67 6 100,00 Categoria 2 FA F% 3 50,00 2 33,33 1 16,67 6 100,00 Categoria 3 FA F% 16,67 1 1 16,67 1 16,67 1 16,67 1 16,67 1 16,67 6 100,00 A resposta dada pelos professores foi sim, na sua maioria (83,3%) e puderam ser organizadas em dois grupos: sim pois o afeto cria as condições propícias à aprendizagem: afasta o medo, aproxima, motiva; sim interfere no comportamento: o aluno se interessa, fica na sala, não se levanta. Portanto consideram que ser querido pelo professor é fator que motiva os alunos. 144 Foi dito que as atenções recebidas pelos alunos da parte dos professores, sob forma de conselhos adequados, aproxima o aluno do professor, criando um ambiente de confiança mútua, permitindo um diálogo mais aberto. Justificam também dizendo que várias são as razões: o amor motiva, aproxima, aprendem sem medo e isso, claro, influencia nos estudos, ou que, pelo bom relacionamento existente, conseguem que os alunos se dediquem ao estudo, objetivamente e permaneçam na classe por gostar de estar ali. A maioria das professoras admitiu que procura dar atenção individualizada a todos que a procuram e para facilitar, percorrem a sala para ver se estão acertando, e/ou quais as dúvidas. Segundo Nérici (1981), é importante para o aluno, saber onde está a sua falha e o professor deve saber o momento exato de falar com franqueza, chamando o aluno às suas responsabilidades, se entender que ele está desatento, não levando a sério seus compromissos com o estudo, ou comentando algum erro de raciocínio, de interpretação. O que significa que o aluno espera do professor orientação, balizamento do caminho para a aprendizagem pretendida. No caso de precisar usar de franqueza que possa constranger o aluno, o ideal será falar, em particular, para que o aluno não se sinta constrangido, pois o aluno necessita da intervenção do professor. Portanto, clima afetivo entre professor e aluno é fator que motiva ou desmotiva o aluno a aprendizagem. Pelo fato da maioria dos professores ter freqüentado curso de capacitação, em algum momento de suas vida profissional, perguntamos se o tema MOTIVAÇÃO foi discutido como tema de aula de algum desses cursos. A tabela 41 apresenta os resultados. 145 Tabela 41. Ocorrência de estudo do tema motivação no curso de capacitação freqüentado pelo prof. Ocorrência / Tipo de estudo proposto do tema HOUVE Oficina Discussão Sugestões de atividades Realidade da escola não comporta NÃO HOUVE NÃO CURSA Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 CATEGORIA 1 FA F% 4 66,67 1 16,67 1 16,67 6 100 Categoria 2 FA F% 1 16,67 1 16,67 1 16,67 1 16,67 1 16,67 16,67 1 6 100,00 As professoras que freqüentaram cursos de capacitação declararam, na sua maioria (66,6%) que foi tratado a MOTIVAÇÃO, mas não como tema específico. Durante as oficinas, falou-se sobre a necessidade de motivar os alunos, e houve sugestão para uso de música e jogos, como exemplos práticos, mas, 16,6% disse que a realidade da escola não comporta as sugestões apresentadas. Foi declarado também, 16,6% dos professores, que o tema não foi tratado. Os demais não opinaram porquê não freqüentam estes cursos (16,6%). Ao final da entrevista foi perguntado aos professores se estar a fim era sinônimo de estar motivado. Foram obtidos os resultados que compõem a Tabela 42. Tabela 42. Opinião do professor sobre motivação como sinônimo de estar a fim. Concepção Sinônimos 1 Diferença no objeto de interesse Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 1 Motivado – interesse no que está fazendo Estar a fim – interesse no resultado obtido FA 3 3 6 F% 50,00 50,00 100,00 Quando esta questão foi colocada no final da entrevista, tendo sido perguntado se estar a fim era sinônimo de estar motivado, metade disse que os dois termos significavam a mesma coisa. Porém, a outra metade encontrou diferença e assim se explicaram: 146 Quando alguém diz que está motivado, é porquê o interesse se prende ao ato de fazer, o gosto é de estar realizando alguma tarefa; mas quando se diz que se está a fim, o interesse está no resultado final. Por exemplo: estou a fim de dar aula; dou aula, não pelo gosto de dar a aula em si, mas porquê, ao final de um determinado período, recebo um salário; é o meu objetivo final. Este posicionamento nos reporta à questão das motivações intrínsecas e extrínsecas de que falaremos oportunamente. Os baixos salários ou a falta de manutenção da estrutura física da escola, reveladora de decadência e desleixo, são consideradas condições externas que abalam o interesse e a disposição para permanecer-se no local e, por via de conseqüência, a vontade/ motivação para trabalhar/estudar. Pelo fato do assunto de nossa pesquisa versar sobre a motivação humana, quisemos conhecer a predisposição do professor ao responder ao formulário, cujas respostas poderiam revelar o índice de motivação do professor no momento da entrevista. Os resultados vêm a seguir na Tabela 43. Tabela 43. Disposição do professor para responder ao formulário. Atitude alegada Desconfiança inicial Dependeu do humor no dia Se sentiu obrigada Gosta de falar sobre educação FA 3 1 1 1 F% 50,00 16,67 16,67 16,67 Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 6 100,00 Os professores, na sua maioria, ao serem perguntados sobre a sua disposição para participar na pesquisa, usaram de sinceridade dizendo que não estavam dispostas a responder às nossas questões, pois ficaram muito desconfiadas (50%). Houve mesmo quem dissesse que só aceitou por se sentir obrigada (16,6%). 147 Outros disseram que, depois de algum tempo, sentiram que a entrevistadora era uma pessoa agradável e educada e isto mudou o seu humor inicial (16,6%). Apenas 16,6% declarou que estava disposto por gostar de falar de educação, e assim, gostou de participar. 148 Fig. 6 – Sala e Aula (3) 149 5.2. ANÁLISE DOS DADOS-formulário dos alunos e observações diretas Para sabermos o que pensam os alunos acerca da motivação, as formas como se expressam e que permitem entender/inferir seu conhecimento e seus sentimentos sobre o tema, enquanto participantes do processo de ensino-aprendizagem na escola, nas 4as. séries do ensino fundamental, fizemos alguns questionamentos sobre a concepção de motivação, qual o sentimento que experimentam diante da circunstância de virem à escola e as suas motivações, durante as aulas, para o estudo das atividades e conteúdos que lhes são propostos, como também, a participação do seu professor no processo de motivá-los. A primeira questão, cujos dados foram apresentados na TABELA 44, diz respeito ao conceito de motivação dos alunos. A segunda questão refere-se aos seus sentimentos em relação à sua vinda diária à escola, motivado/não motivado (TABELA 45). A terceira questão quis verificar se o aluno percebe quando está motivado/não motivado para as atividades escolares, cujos resultados se encontram na TABELA 46. A quarta questão perguntou ao aluno sobre o que o professor faz ou não, quando a classe ou aluno não está motivado. As respostas estão reunidas na TABELA 47. Os resultados foram os seguintes: Tabela 44. Conceito de motivação (opinião dos alunos). Conceito SABE É querer fazer algo Só sabe dar exemplo NÃO SABE Não sei Diz que só o professor sabe Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 33 82,50 7 17,50 40 100,00 Categoria 2 FA F% 29 72,50 4 10,00 5 12,50 2 5,00 40 100,00 150 A maioria dos alunos (82,5%), quando questionada sobre o seu conhecimento ou uso do termo motivação, deu como resposta que motivação é querer fazer alguma coisa (29); uns poucos (4) conseguiram apenas dar exemplo, mas pudemos inferir, destes exemplos, que entendiam o significado, pois disseram que ficam ativos quando gostam do que é proposto. Revendo as definições dos autores, verifica-se que o sentido dado à motivação pelos alunos, está aproximado do que teoricamente se afirma como estado de tensão energética que impele a agir (Souza Campos, 1971, p.112); predispõe o organismo para a ação (Pêpe, p.123); vontade de efetuar um trabalho (Leboyer, apud Bergamini, 1991, p.47/48). Dos que declararam não conhecer (17,5%), uns poucos assim se expressaram: o professor inventa coisas; isto pode ser entendido que motivação, para ele, é algo que o professor faz, mas que ele não sabe, não entende. Pode-se concluir que a maioria dos alunos, no diálogo que se estabeleceu durante a aplicação do formulário, não teve dificuldade em responder o que lhe foi pergun-tado e conversou à vontade sobre o tema motivação, não necessitando de muitas explicações ou exemplos. Quanto à motivação para vir à escola, verificamos, na Tabela 45, que todos responderam se vêm à escola motivados ou não. Foram sinceros e não tentaram esconder seus sentimentos sobre a vinda à escola. 151 Tabela 45. Motivações para freqüentar a escola (informações dos alunos). CATEGORIA 1 Categoria 2 FA F% FA F% VAI MOTIVADO 29 72,50 Por necessitar de formação 68 62,96 Aprender Saber ler/escrever Passar de ano Ter educação Futuro digno Por razões afetivas 27 25,00 Afeição ao grupo Brincar Outros 3 2,78 25,00 Alimentação melhor NÃO VAI MOTIVADO 10 Sem vontade 3 2,78 Por dever 1 0,93 Para não ajudar em casa 3 2,78 Para os pais não reclamarem 2,50 3 2,78 INDECISO 1 Total 40 100,00 108 100,00 Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. * Esta questão permitiu que o aluno apontasse até três razões Alternativas Categoria 3 FA F% 26 24,07 5 4,63 6 5,56 9 8,33 22 20,37 19 17,59 8 7,41 3 2,78 3 2,78 1 0,93 3 2,78 3 2,78 108 100,00 Tendo oportunidade de colocar até 3 razões que fundamentassem esta opinião, a maioria (72,5%) diz que vem para a escola motivada. As razões mais apontadas relacionam-se à necessidade de cumprirem uma formação escolar (62,9%), pois se expressaram como a seguir: aprender, sendo que, para saber ler e escrever foi lembrado com destaque: atender às exigências futuras, ser educado, ter um futuro digno, também foi bem lembrado pelos alunos, revelando preocupação sobre este aspecto de suas vidas, inclusive como se demonstrassem a esperança em dias melhores. As referências às razões mediatas superaram as imediatas. Snyders (1996) lembra que a escola comete um equívoco ao falar de futuro. Futuro é algo nebuloso do ponto de vista da falta de experiência que caracteriza esta faixa de idade. A preocupação deveria ser com relação ao presente, o hoje, a felicidade está no que se pode sentir aqui e agora, porque isto é o conceito que está sendo vivido. 152 Outras razões apresentadas pelos alunos, apontaram para questões subjetivas (25%): por afeição ao grupo, como também ter oportunidade de viver momentos fora de casa, longe da vigilância dos pais, tendo oportunidade de se testar como pessoa capaz de agir com independência entre seus pares e se sentir querida por eles. Em sua categorização das necessidades básicas Maslow apresenta, dentre outras, as necessidades afetivo-sociais, que podem explicar estas respostas do grupo, pois as pessoas sentem uma imperiosa necessidade de amigos e a sua integração nos grupos a que pertencem. Snyders (1996, p.32) conta em seu livro, Alunos Felizes, que as pessoas levadas a falar da escola lembram da alegria das algazarras, do companheirismo. Alguns alunos da amostra disseram vir à escola desmotivados (25%): sem vontade; por considerar seu dever; para não ajudar em casa ou porque os pais reclamam. Percebe-se que a freqüência à escola está revestida da força da autoridade dos responsáveis pela a criança: ou vem obrigado, ou vem para não assumir responsabilidades maiores, em casa: ajudando, tomando conta dos irmãos menores, o que também não é um atrativo para o aluno, cuja idade reclama participar da aventura do mundo desconhecido, das pistas sobre o seu desenvolvimento e crescimento. Somente 2,5% se mostrou indeciso. Portanto, o fato de vir à escola mostrou-se como motivação significativa, porque reconhecida pelos alunos. Diante desta constatação vamos verificar se os alunos mantêm-se/percebem-se motivados para fazer as atividades em classe. Com a intenção de descobrirmos outras motivações do aluno em ir à escola, tivemos interesse em saber qual o dia da semana preferido pelo aluno, bem como a razão da preferência de determinada matéria ocupar um certo horário; os dados obtidos apresentamos na Tabela 46. 153 Tabela 46. Dia da semana preferido pelo aluno (informações dos alunos). Dia da Semana / Razões SEGUNDA-FEIRA Afetividade Sente falta da escola Gosta das novidades Gosta quando a freqüência é alta Disposição pessoal Descansado Fim de semana de trabalho Dá um astral Assunto novo Matemática (principal) TERÇA-FEIRA Disposição pessoal Preguiça passou QUARTA-FEIRA Razões práticas Sucesso no teste de matemática Professor estuda junto geografia QUINTA-FEIRA Aula preferida História Geografia Português Lazer Recreação Fim de semana chegando SEXTA-FEIRA Lazer Recreação Fim de semana chegou Razões práticas Revisão dos assuntos Aula preferida matemática Aula preferida religião (fala de Deus) Mais relax Escola vazia SEM PREFERÊNCIA Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 31,25 15 8,33 4 4,17 2 6 19 - 12,50 39,58 - 2 48 4,17 100,00 Categoria 2 FA F% 10,42 5 12,50 6 6,25 3 2,08 1 8,33 4 4,17 2 8,33 4 4,17 2 22,92 11 14,58 7 2,08 1 4,17 2 48 100,00 Categoria 3 FA F% 4,17 2 4,17 2 2,08 1 8,33 4 2,08 1 2,08 1 6,25 3 2,08 1 8,33 4 2,08 1 2,08 1 2,08 1 2,08 1 4,17 2 2,08 1 2,08 1 14,58 7 8,33 4 10,42 5 2,08 1 2,08 1 2,08 1 4,17 2 48 100,00 Ao serem questionados sobre a preferência por um determinado dia da semana, tendo como critério a vontade de vir ao colégio, a maioria dos alunos optou pela 6ª feira, que teve 39,58% das citações, seguida da 2ª feira com 31, 25% das preferências. As razões para a escolha na 2ª feira prenderam-se ao fato de sentirem falta da escola, do contato com os colegas, saber das novidades; ou pela disposição pessoal: estar mais descansado, mais ativo, dá um astral. 154 As razões para a escolha na 6ª feira estão ligadas ao fato das atividades propostas neste dia serem mais amenas: recreativas; há revisão dos assuntos dados na semana através de brincadeiras; e há também o fato da proximidade do fim de semana que foi a referência mais forte para esta escolha pois, segundo a amostra, poderão fazer outras atividades. Há um ponto interessante a assinalar, a brincadeira como motivação não faz parte das estratégias de apresentação dos temas de estudo, ela é utilizada no final, como recreação, e nunca como estratégia de ensino. De um modo geral, as razões das preferências recaem mais sobre as razões que dizem respeito à disposição pessoal de vir à escola do que propriamente pelo fato de estarem interessados nas atividades/ temas discutidos nos vários dias da semana, embora um ou outro aluno houvesse lembrado da Matemática, História, Português, Geografia. Este resultado mostra que a escola poderia ser um dos locais privilegiados para a reconciliação entre o conhecimento e o amor, como quer Snyders. As experiências de pensamento/conhecimento deveriam se transformar em experiências de amor ao conhecimento, pois se abriria os livros para procurar neles modos de aprimoramento para viver melhor, inclusive no futuro. Na Tabela 47 vamos encontrar os resultados das nossas indagações sobre a percepção do aluno quanto à sua disposição para realizar atividades em classe. Tabela 47. Disposição para desenvolver as atividades em classe (opinião dos alunos). Opinião POSITIVA Se o resultado é positivo, acho a atividade agradável Gostar não importa – é para fazer Apesar do desconhecimento a atividade agrada Fazer traz satisfação Faço porque gosto NEGATIVA Atividade escolar não gosto, tenho que fazer Não faço, deixo para depois Para estudar não precisa gostar NÃO LEMBRA Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 77,50 31 7 17,50 5,00 2 40 100,00 Categoria 2 FA F% 13 41,94 22,58 7 6 19,35 3 9,68 2 6,45 3 42,86 2 28,57 28,57 2 2 5,00 40 100,00 155 Os alunos (77,5%) demonstraram que sabem quando estão dispostos ou não a realizar uma atividade proposta pela professora. Alguns disseram que, apesar da falta de vontade inicial, quando o resultado vai se mostrando favorável, mudam a sua disposição, isto é, vão sentindo um certo agrado. Quando é proposta uma atividade qualquer para alguns desses alunos (22,58%), eles disseram que não levam em consideração a possibilidade de gostar ou não, encaram como dever e como obrigação de todo estudante, fazem o que lhes é solicitado. Nesse caso, ao terminar a atividade, disseram sentir alívio. Outros alunos (19,35%) disseram que, apesar do medo que sentem de enfrentar situações novas, enfrentar o desconhecido, é gostoso, mesmo com medo. Maslow (Moscovici, 1982) é um dos poucos autores que se interessou em estudar a questão do conflito que o sujeito enfrenta entre o medo do desconhecido e a necessidade de saciar a curiosidade ou o desejo de conhecer. Parece ser este o caso da resposta dos alunos: o desconhecido agrada, apesar de assustar. Perguntamos aos alunos se há ações do professor para motivar os desatentos e se realmente interferem no comportamento. Os dados constam da tabela 48. Tabela 48. Ações do professor que interferem para motivar os desatentos/desligados (percepção dos alunos). Ação CATEGORIA 1 FA F% 61 98,39 1 1,61 62 100,00 INTERFERE Usar expressões para animar Usar de coações Explicar, retomar e voltar a explicar 1 Propor excursão e outros Mandar o aluno fazer no quadro Indagar sobre problemas sociais Propor outra atividade Diminuir o número de exercícios NÃO INTERFERE Fazer mesmo sem vontade Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. 1 Brincadeiras/exercícios de concentração/leitura em para-didáticos Categoria 2 FA F% 25 40,31 13 20,97 9 14,52 6 9,68 3 4,84 2 3,23 2 3,23 1 1,61 1 1,61 62 100,00 156 A maioria das indicações dos alunos (98,3%) mostra que os professores intervêm quando eles se mostram distraídos, demorando para fazer o dever, ou não estão prestando atenção na aula. Dessas indicações, a maioria (40,31%) se refere às ações dos professores que se concentram no encaminhamento da atenção do aluno para a atividade, a fim de animá-los, mas este apelo se reporta ao comprometimento com o futuro, pois os alunos disseram que os argumentos do professor são do tipo: o tempo está passando; vai ser melhor para você amanhã; se não fizer, no fim do ano, não passa de ano... Portanto, verifica-se a preocupação acentuada do professor com o futuro, e não com o presente. Piaget afirma que, em princípio, o processo cognitivo é dependente da ação e da percepção imediatas e somente à medida que se constróem estruturas mentais de tempo, espaço, número, causalidade e classes lógicas é que o sujeito é capaz de organizar suas experiências passadas, presentes e futuras. Piaget chama isso de processo de descentralização porque envolve o tornar-se a pessoa, progressivamente, menos presa ao aqui e agora e, assim, capaz de moverse livremente, em pensamento, entre passado, presente e futuro, e até lugares distantes do espaço” ( Brearley & Hitchfield, 1973, p.79). Para Snyders (1996), a tradição de se dizer ao aluno: Isto lhe servirá mais tarde, mais tarde você dará valor, anula a preocupação com o momento presente. Além disso, os alunos ainda estão construindo os seus conceitos de futuro, isto é, consideradas as suas idades, ainda não construíram este conceito, ele está em elaboração. O que conta, para eles, é o presente, o aqui e agora. Outras citações revelam coação ao aluno por parte do professor(índice de 25,4% dos 98,3% que estamos analisando), pois disseram que os professores costumam nomear o aluno desatento em tom alto e incisivo, o que eles interpretam como advertência de que o comportamento do aluno não está agradando. 157 Atividade que não diz respeito ao que foi proposto, é considerada, pelo professor, como indisciplina por parte do aluno (porque o aluno não está se dedicando às tarefas estabelecidas para ele executar). Pelo que observamos, o uso da coação – o tom ríspido, as ameaças veladas – parece ser a melhor solução, do ponto de vista destes professores. Para melhor ilustrar nossas conclusões, selecionamos algumas intervenções: “Parem com esta conversa, vão fazer a sua prova. Por isso estão atrasados.” “Se continuar, você vai sair da sala. Nem para fazer uma prova você sossega?” “Vá cuidar da sua vida que é melhor. Fica se intrometendo com o que não é da sua conta.” “Vamos parar de falar bobagem?” “Não quero ninguém no pátio. É para ir pra casa...” “Fulano, saia do colégio. Espere lá fora.” “Podem parar de ficar pedindo para corrigir o dever no quadro”. “Está batendo papo aí? Já acabou?” Percebe-se que a relação aluno – professor, é autoritária. O professor fala, autoriza, manda... e os alunos devem obedecer. O tom de voz é ríspido e impositivo e os alunos são mantidos à distância. O que verificamos é que, pela coação, o aluno é obrigado a realizar tarefas que, no íntimo, não desejaria. O aluno, se for tratado com severidade excessiva, com desprezo, como pessoa de má vontade, como acabamos de relatar, estará submetido a tratamento de coação psicológica, e mesmo que não seja o intuito, nele poderá se instalar o sentimento de culpa, de menos valia, perante o seu interlocutor, o professor. 158 A motivação deve ser positiva, deve levar o aluno a estudar por encorajamento ou estímulo amigável e, em muitos momentos, não foi o que observamos nessas classes. Segundo os alunos, seus colegas ficam sabendo e isto mexe com a gente. Estas respostas indicam que a auto-estima está sendo tocada, diminuída, isto incomoda, o aluno fica com vergonha. La Taille aborda esta questão da vergonha como forma de sanção. Em seu artigo sobre a educação moral, apresenta as idéias de Kant e Piaget sobre as sanções, de onde destacamos, para análise, um ponto que trata da possibilidade de a sanção vir a ser, pedagogicamente, adequada quando imposta aos infratores. Se o infrator pensar sobre o seu valor enquanto homem e reconhecer que esteve abaixo do ideal, sentirá vergonha e a sanção poderá ser pedagógica (La Taille, in. Macedo, 1996, p.173). Neste artigo, estes autores concordam que o sentimento de vergonha é o sentimento moral que pode ser utilizado (com a cautela necessária) quando se deseja desenvolver uma ação educativa, ao se reconhecer a necessidade da própria criança impor-se limites, para se evitar uma educação moral disciplinar, no sentido tirânico da palavra. Quando o aluno percebe que não está agradando ao professor, entende que está perdendo a estima (moral) dos outros, fonte de estima de si mesmo (La Taille, in. Macedo, 1996, p.173). Isto pode funcionar como estímulo para a mudança de comportamento – e a criança vai procurar melhorar seu padrão de estudo para não cair em desgraça, como é o caso que estamos tratando aqui. Entretanto, é negativo. Por este motivo, repetimos: é necessário, ao aplicar este recurso, usar de cautela. Segundo Piaget (La Taille, in Macedo, 1996), há certas sanções das quais pode-se inferir uma mensagem de desprezo, pois é passado para o indivíduo que ele não merece confiança, e isto atenta contra a auto-estima do sujeito. 159 Nesse caso, ele fica sob suspeita de que não tem valor ou leva os outros a crerem que não tem. A retirada de valor desperta um sentimento de rebaixamento aos olhos do(s) outro(s), um sentimento de vergonha. Maslow ao apresentar/identificar as necessidades básicas, diz que todos temos necessidade de amor do outro, e que este amor pode ser expresso pela avaliação favorável, através da sua própria avaliação (auto-avaliação positiva), ou da avalia-ção dos que o cercam. Os alunos declararam que se sentem constrangidos diante da situação e medo de não ser querido pelo professor, que isto não age no sentido de ajudá-los, mas de discriminá-los. Segundo os autores, esta situação pode produzir sentimentos de inferioridade e impotência. Chamar os pais à escola é outra forma de coação: pode até funcionar, como disse uma das professoras, mas consideramos que isto cria uma situação desagradável entre pais e filhos. O pai/mãe não vai permanecer na escola para acompanhar o que estará acontecendo lá. O ambiente fica pesado, gerando uma certa desconfiança entre os adultos, uma certa mágoa na criança e uma sensação de impotência/ humilhação no pai. A parceria entre pais e professores é possível, se for retirado o caráter de denúncia e acusação ao aluno e, em seu lugar, for cultivado o sentido de auxílio mútuo para a compreensão/solução do problema A intervenção imediata do professor sobre o processo de aprendizagem do aluno perguntando se entendeu e tornando a explicar, mandando fazer no quadro de giz, analisando com o aluno onde está a dificuldade, são formas de mobilização positivas e 32,5% das indicações dos alunos revelam que isto os ajuda. As nossas observações em classe mostraram exatamente o oposto, totalmente indiferentes às atividades propostas aos alunos, os professores dedicavam-se a outros afazeres, às vezes ligados ao processo de ensino (corrigindo provas, preparando outras tarefas para os alunos) ou ocupados em coisas pessoais. Pode-se afirmar que esses professores, ao deixarem os alunos por sua conta, não estão pretendendo, com certeza, testá-los/promover sua autonomia. 160 Ao manter sua atenção voltada para outros interesses, de um certo modo, o professor passa para os alunos, principalmente para aqueles que apresentam maiores dificuldades para se dedicarem ao estudo, que é também o momento de o professor se dedicar a outras coisas que se impõem como maior motivação: conversar com os colegas, distrair-se com objetos escolares diferentes dos seus, ou com objetos trazidos de casa (brinquedos), por exemplo. Outras ações citadas são formas de motivar prazerosas, eficazes, mas pouco utilizadas, pois tiveram apenas 20% de citações. São elas; propor excursão/ brincadeiras/ exercícios de concentração/ leitura de livros paradidáticos. E observa-se que os alunos declararam sua preferência por estas formas de motivação. Os alunos passam um longo período em aulas e a busca e preferência pelo brincar é imperiosa, pois são crianças. Vigotsky afirma que a criança, diante de um desejo que não pode ser imediatamente satisfeito ou esquecido, para resolver a tensão em que se encontra, envolve-se num mundo ilusório e imaginário e este mundo é o mundo do brinquedo. Por exemplo: quando uma criança quer andar de trole e esse desejo não é imediatamente satisfeito, então a criança vai para o seu quarto e faz de conta que está andando de trole (Vigotsky, 1998, p. 123). Vigotsky, ao tratar do papel do brinquedo no desenvolvimento infantil, diz que o atributo essencial do brinquedo é que uma regra torna-se um desejo. Satisfazer as regras, passa a ser uma fonte de prazer e o brinquedo torna-se uma nova fonte de desejo. O papel da criança no jogo é de um eu fictício, desejado pela criança e , ao agir como tal, aprende, cumprindo as regras inferidas ou estabelecidas por ele(s), mas inspiradas no que já existe na vida real. As maiores aquisições de uma criança são conseguidas no brinquedo, aquisições que, no futuro, tornar-se-ão seu nível básico de ação e moralidade (Vigotsky, 1998, p. 13). Tivemos interesse também em conhecer a percepção do aluno sobre o grau de motivação da classe, como um todo, para participar das aulas; solicitando deles 161 indicadores que permitissem saber se o grupo apresenta atitude interessada ou não, e a possibilidade de ocorrer mudança de comportamento do aluno pela influência de um colega mais interessado, sobre aquele que demonstra desinteresse e vice-versa. Obtivemos os resultados constantes das Tabela 49, 50 e 51. Tabela 49. Indicadores de interesse da maioria da classe em participar das aulas (percepção dos alunos.) Parte da classe / Indicadores MAIS DA METADE DA CLASSE Interessada Poucos brincam Prestam atenção Poucos tiram notas baixas Ficam ativos Ficam Quietos Ensinam Respeitam Sem especificar MENOS DA METADE DA CLASSE Desinteressada Conversam Cansam os professores Não estudam Bagunçam Brigam Querem ir embora Sem especificar Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 23 57,50 17 42,50 40 100,00 Categoria 2 FA F% 23 57,50 17 42,50 40 100,00 Categoria 3 FA F% 6 15,00 2 5,00 2 5,00 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 9 22,50 5 12,50 3 7,50 2 5,00 2 5,00 1 2,50 1 2,50 3 7,50 40 100,00 O conjunto considerado, foi quantificado usando-se as expressões: mais da metade, menos da metade, propostos pelos alunos. Assim, os alunos consideraram que a maioria da classe (57,5%) está interessada em participar das aulas. Os indicadores de interesse foram: poucos brincam, poucos tiram nota baixa, prestam atenção, ficam ativos/ ficam quietos, respeitam/ensinam aos colegas. Os alunos que entenderam que menos da metade da classe está desinteressada, representado por 42,5% da amostra, apresentaram como indicadores de desinte- 162 resse: conversam, cansam o professor, não estudam, bagunçam, brigam, querem ir embora. Estas respostas revelam bom senso no julgamento do comportamento da classe. Foram indicadores adequados e nada nos fez desconfiar que não fossem sinceros. Nove alunos (22,50%) disseram que mais da metade da classe está interessada mas não especificaram indicadores, enquanto que 03 alunos (7,50%) disseram que a classe está desinteressada, sem oferecer indicadores do desinteresse. Como dissemos antes, foi nossa preocupação, também, saber se o aluno entrevistado, ao perceber que o seu colega está desinteressado, age de forma a fazê-lo interessar-se e se esta medida dá resultado, obtendo-se os dados da tabela 50. Considerando ser possível o contato entre eles durante as aulas, pois as classes são numerosas e as carteiras próximas uma das outras, há um ambiente favorável para a troca de idéias entre os alunos. Tabela 50. Interferência do colega no comportamento do aluno desinteressado (opinião dos alunos). Resultado da Interferência COM RESULTADO POSITIVO Aconselhar Ajudar no dever Incentivar Sem especificar NÃO É POSSÍVEL Reclamar Não tem jeito Só o professor convence Não interferem SEM RESULTADO Os alunos atrapalham Sem especificar Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999 FA CATEGORIA 1 F% 52,50 21 42,50 17 2 5,00 40 100,00 FA Categoria 2 F% 30,00 12 7 17,50 2,50 1 2,50 1 5 12,50 1 2,50 2 5,00 9 22,50 1 2,50 2,50 1 40 100,00 A opinião dos alunos que acreditam na possibilidade de interferência no comportamento do colega desinteressado, com resultado positivo (52,5%) superam a dos que não acreditam que isto seja possível (42,5%). 163 Para os alunos da amostra, quando um colega ajuda outro a fazer o dever, aconselha, pode colaborar para que ele fique a fim da aula. A maioria acredita nisso e o faz. Ainda, na opinião dos alunos, a proximidade com o colega, a demonstração de solidariedade também permitem que o aluno que ajuda se sinta bem, pois há resposta imediata, (positiva) pelo seu saber; se sente útil e por parte do colega que é ajudado, se sente querido, pois este foi atendido, agradado, criando um clima de confiança, reciprocidade, e cumplicidade entre os colegas. A satisfação das necessidades de estima, segundo Maslow, engloba a necessidade de ser útil e necessário para os outros. Dessa forma entendemos que os alunos podem testar a sua competência e se sentem realizados quando suas intervenções resultam positivas para os colegas e para o sujeito que ajuda. Como contra – ponto a estes dois casos anteriores, foi nossa preocupação saber se o aluno percebe quando o comportamento desinteressado do colega interfere na sua disposição para estudar e encontramos os seguintes resultados: Tabela 51. Interferência do comportamento desinteressado do colega sobre a disposição do aluno interessado (opinião dos alunos). Resultado da Interferência / Razões NÃO INTERFERE Colega não se deixa influenciar Por colega desinteressado Cada um segue seu ritmo Colega não ouve conselho Do colega desinteressado Sem especificar DEPENDE Da vontade dele INTERFERE Distrai-se Vai na onda Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 75,00 30 - Categoria 2 FA F% 9 22,50 - - 5 1 12,50 2,50 1 9 40 2,50 22,50 100,00 15 1 6 3 40 37,50 2,50 15,00 7,50 100,00 Na opinião dos alunos, quando um colega está sem vontade de estudar, sempre há a possibilidade de um ou outro ir na onda ou se distrair com o desinteressado (22,5%). 164 Mas a maioria (75%) disse que não se deixa influenciar, seguindo seu próprio ritmo. Esta opinião nos deixa clara a idéia de que, se o aluno estiver motivado, fica de tal forma interessado no que faz, que não dá atenção a atividades perturbadoras e reclama dos colegas se sentir que o burburinho da classe o está incomodando. Por este motivo, o professor, ao utilizar estratégias adequadas para motivar seus alunos, deverá objetivar, tanto quanto possível, a atitude favorável à aprendizagem de todos, devendo a própria motivação anular a contaminação pelo desinteresse de alguns. Segundo Maslow (Moscovici, 1982) o maior desafio da motivação consiste na liberação de energia para a auto-realização e o crescimento como pessoa. Por este motivo, perguntamos aos alunos sobre as suas aspirações profissionais futuras. Através das respostas dadas, foi nossa pretensão inferir se existem expectativas de vida, de futuro, o que eles esperam alcançar, o que desejam para si como meta e se isto pode constituir-se em motivo para estudar/aprender. Tentamos também conhecer qual o nível de consciência dos alunos sobre a relação entre o que desejam para si, no futuro e este momento presente de escolarização, se estudar agora, vai ajudá-los no futuro, na profissão que desejam, enfim o que pensam sobre a que servirá o saber escolar. Nas tabelas 52 e 53 apresentamos estes dados. Tabela 52. Profissões desejadas pelo grupo (informação dos alunos). Profissão Médico Professor Modelo/bailarina/cantor/artista Jogador de futebol Militar Outros Não sabem Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. FA 8 7 6 5 5 7 2 40 F% 20,00 17,50 15,00 12,50 12,50 17,50 5,00 100,00 165 Medicina aparece em primeiro lugar (20%). A explicação dos alunos sobre a escolha desta profissão, é de que médico goza de muito prestígio na sociedade, pois cuida da saúde, e que as pessoas que exercem esta profissão são abonadas (ricas), vivem bem, cuidam das pessoas. A opção seguinte, mais lembrada, é ser professor (17,5%). Talvez a proximidade com o seu próprio professor os entusiasme, como também permite conhecer melhor os meandros de uma certa profissão, e isto traz um certo alívio, pelo medo do desconhecido, a que já nos reportamos. Snyders diz que o professor deve sentir prazer em conseguir a cumplicidade do aluno, pelas expectativas positivas criadas em relação a seu futuro. Para reforçar sua opinião cita Hermann Brock, conta que queria ser professor e fazia uma bela imagem de seu futuro; de sua futura classe compreendendo seu próprio rosto de criança (Snyders, 1993, p. 86). O sucesso que a mídia garante aos cantores e conjuntos de lambada e outros ritmos, e a imitação de artistas/modelos, que vem sendo incentivada inclusive pela escola, talvez seja responsável por estas escolhas de 15% dos alunos que disseram que os profissionais destas áreas também precisam se expressar com desenvoltura e elegância, e porisso, a freqüência à escola é necessária. Jogador de futebol também surge entre as profissões preferidas (12,5%). O sucesso dos ídolos do futebol que a mídia também divulga e a proximidade com a bola, como brinquedo, entre os meninos, talvez explique esta escolha. Mas, eles disseram que também o jogador, para dar entrevista precisa ser sabido, portanto, a freqüência à escola fica clara como necessária, também, para quem pretende ser jogador de futebol. É provável que o exemplo em casa ou vizinhança explique a escolha da profissão do militar por 12,5% da amostra que citou policial e marinheiro. A influencia que aparentemente tem a função de policial, pode ser explicada pelo poder que parece ter o militar, assim como o desejo de aventura, de sair de casa, conhecer outros lugares, justifica a escolha de ser marinheiro. Como se trata de uma cidade à beira mar, favorece provavelmente esta suposição, pois muitos alunos têm contato com 166 marinheiros, já saíram em barcos de pesca para o alto mar, enfim, já têm alguma familiaridade com o mar, dada pela vivência. Tanto para ser policial quanto para ser marinheiro, os alunos consideram importante uma escolaridade regular. De um modo ou de outro, fica evidente que o aluno busca o prestígio que estas profissões poderão lhe oferecer no futuro. Aqui se configura a existência de um possível/provável descompasso entre o que o aluno sonha e o que ele realmente poderá alcançar. As circunstâncias econômicas, de saúde ou ainda a distância e dificuldades de acesso às instituições formadoras podem se constituir em grande obstáculo, e estas aspirações, então, poderão não se concretizar. O que se sabe, no entanto, é que o aluno, ao ser questionado, informou que considera a escola como primeiro passo para que estas aspirações sejam alcançadas, portanto, tem motivos para ir à escola, estudar, aprender. Ao confrontarmos as tabelas 13 (p.95) e 52 (p.161), percebe-se uma discrepância entre a opinião do professor sobre a aspiração do aluno quanto ao seu futuro profissional e a opinião emitida pelo próprio aluno. Isto pode ser explicado pelo fato de que o sonhado nem sempre corresponde ao real, ao possível de ser alcançado, já que o homem é ele próprio e as suas circunstâncias, e muitas de suas realizações ficam na dependência de suas reais possibilidades. A Tabela 53 apresenta os resultados do questionamento sobre a percepção do aluno sobre o valor do saber aprendido na escola. 167 Tabela 53. A que serve/servirá o saber escolar (opinião dos alunos). Expectativa PARA O FUTURO Arranjar um bom emprego Ser educado/sabido/não passar vergonha Para ensinar é preciso saber Educar filhos PARA O PRESENTE Passar de ano Há coisas que só a escola ensina Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 27 67,50 13 32,50 40 100,00 Categoria 2 FA F% 12 30,00 9 22,50 4 10,00 2 5,00 10 25,00 3 7,50 40 100,00 A maioria absoluta reconheceu que os temas tratados na escola são muito importantes e, ao apresentarem os motivos desse posicionamento, 67,5% dos alunos alegou razões que os favoreceria no futuro: arranjar um bom emprego/ter futuro/se formar (30%); ser educado/sabido/não passar vergonha (22,5%); para ensinar é preciso saber (10,0%) e ter condições de educar os filhos (5,0%). Esses discursos evidenciam o desejo de prestígio e consideração, sempre presente no desejo das pessoas, em todas as idades e por isso mesmo, fazendo parte da Hierarquia das Necessidades Básicas proposta por Maslow. Os alunos falam que vão crescer, se tornarão adultos, precisarão trabalhar para garantir o seu sustento e que hoje/agora, é o momento de se preparar, de ficar sabido, para não passar vergonha. Voltamos a Piaget, repetindo-o, quando diz sobre o crescimento cognitivo como sendo um processo lento que, a princípio, dependente da ação e da percepção. Mas, à medida que constrói estruturas mentais de tempo, espaço, número, causalidade e classes lógicas, o sujeito consegue organizar suas experiências passadas, presentes e futuras. E que, pelo processo de descentralização, se desprende do ”aqui e agora” e através apenas do pensamento move-se entre passado, presente e futuro ou até a lugares distantes do espaço. (Brearley & Hitchfield, 1973, p. 79) Existem muitas experiências que mostram enormes dificuldades cognitivas que a criança enfrenta para conceber o tempo, segundo Piaget. 168 Na linguagem das crianças, quando dizem Amanhã, eu fui, nos informam que estão tentando sintetizar mentalmente a seqüência ontem – hoje – amanhã , isto é, passa-do, presente, futuro e se perguntarmos sobre o que é o tempo, pelas respostas variadas, pode-se concluir que o tempo é ainda uma incógnita (Professores da Pré Escola II, MEC 1991, p. 121, 125, 126). Mesmo sem condições ainda de terem uma concepção de futuro, as respostas que se referem ao futuro se explicam porquê, à criança, é sempre lembrado que não sabe de coisas importantes que serão cobradas dela no futuro, e que é preciso estudar. Esta situação é incômoda, pois o aluno não sabe como isto se passará no futuro, mas é o que vem sendo utilizado para mobilizar o aluno para aprender, para desejar aprender. Nos parece que, esta expressão do aluno, estudar para o futuro é a repetição do discurso dos adultos que convivem com eles, objetivando incentivá-los a estudar. Outras alegações recaíram sobre razões mais imediatas, mais do presente: passar de ano (25,0%), por exemplo, pois não conseguir passar de ano, representa naturalmente um problema imediato, em fracasso. Por este fato, seu auto-conceito ficará prejudicado, pois receberá críticas e gozações dos colegas e reclamações dos pais, além de ameaças de castigo. Embora funcionando como um instrumento de mobilização do sujeito, pode criar uma aversão às atividades escolares quando, de maneira mais ou menos sistemática, o fantasma da reprovação é invocado pelos adultos. Quando os alunos deram como resposta há coisas que só a escola ensina (7,5%) chamou-nos a atenção a intuição que esta opinião revela: o aluno percebe que a escola oferece ou pode oferecer-lhes algo de proveitoso. Snyders (1993, p.104), nas suas reflexões sobre as obrigações escolares, afirma que elas oferecem um leque de experiências emotivas que não tem equivalente no mundo cotidiano, na liberdade comum: emoções vivas, às vezes violentas, mas controláveis pelo conjunto da situação. Lembra também, que a condição primordial para que o aluno perceba isto, é convencê-los de que a escola faz parte da existência, agora, e prepara também para 169 aquilo que os espera, depois, por isso merece que eles se esforcem para crescer também na competência escolar. Neste caso, a figura do professor e suas ações são de primordial importância. Ele deve ser visto e agir como pessoa amiga, que permite o acesso à cultura necessária, com alegria. Tendriakov (apud Snyders, 1993, p.88) referiu-se a uma professora a propósito de uma ex-aluna, nos seguintes termos: foi graças a ela que pude acreditar em mim e na minha profissão. Snyders (1993) diz que as palavras de um professor querido tem peso e prestígio. O professor visto como pessoa aterrorizante, introduz desconfiança sobre a aquisição do saber sistematizado, trabalhado na escola, criando dificuldades no momento da aprendizagem, pois o que conta para a criança é o sofrimento a que está sendo submetida hoje. Estes dados deixam claro que o aluno considera que o saber trabalhado na escola tem utilidade no futuro o que representa não só uma opinião do aluno, formada à respeito, mas também expressa a confiança nos adultos com os quais convive e deve ouvir. O discurso dos adultos deve funcionar pois, como motivador para ele ir e trabalhar na escola e se dedicar/acreditar/valorizar o saber escolar, mesmo que eles próprios (os alunos) não tenham claro o que possa significar este futuro. Confiam no que dizem os adultos em quem confiam. Tivemos também interesse em conhecer quais as matérias que os alunos mais gostam e as razões dessa preferência: se é a especificidade da disciplina que determina a escolha, se é o horário em que é oferecida , ou se a escolha é por razões outras. Os dados constam das Tabelas 54, 55 e 56. 170 Inicialmente, perguntamos as matérias de que mais gostavam e as razões da preferência, e obtivemos os seguintes dados: Tabela 54. Matérias preferidas (informação dos alunos). Português Matemática F% F% FA FA É preciso saber 2 4,40 11 24,40 Fácil apreender 4 8,90 6 13,30 Agradável 1 2,20 1 2,20 Saber cotidiano 8 17,8 0 0 Gosta de estudar 1 2,20 1 2,20 16 35,50 19 42,10 Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. Razões Ciências F% FA 0 0 0 0 3 6,70 0 0 1 2,20 4 8,90 Est. Sociais F% FA 1 2,20 0 0 4 8,90 0 0 1 2,20 6 13,30 Total FA 14 10 9 8 4 45 F% 31,10 22,20 20,00 17,80 8,90 100,0 A maioria das respostas dos alunos (31,1%) demonstrou que as razões que os levam a preferir uma matéria é a necessidade de conhecer o assunto, e a preferência recaiu sobre a MATEMÁTICA (42,2%) Este dado não coincide com o que Snyders relatou em seu livro Alunos Felizes, isto é, que tanto nas biografias como nas entrevistas diretas com os alunos sempre aparecem testemunhos tais como: No ano passado, eu gostava do professor de matemática, comecei a gostar de Matemática e fiz progressos; este ano, como eu não gosto do professor de matemática, piorei de novo na matéria. Na literatura, encontramos testemunhos dos pesquisadores sobre a facilidade com que as crianças que vendem amendoim/bombons/pipoca, etc. fazem bem os cálculos, apesar de na escola não terem sucesso, de não conseguirem uma boa avaliação nos teste de cálculo. Os alunos também apontaram como razão de escolha de uma certa disciplina, o fato de achá-la fácil (22,2%), como Matemática, ou agradável (20%), isto os motiva a dar preferência a elas e, neste caso, a escolha recaiu em Ciências e Estudos Sociais. Verificamos, pois que a preferência da maioria recaiu sobre Matemática (42,10%), ou por ser necessária (24,40%), ou por ser fácil de aprender (13,30%), ou por ser agradável (2,20%). 171 Reconhecer que a Matemática é importante para a vida prática é um salto de qualidade quanto a conscientização do aluno à respeito deste conhecimento, principalmente, se for o resultado de sua participação, mesmo que precoce, no mundo do trabalho, por necessidade de sobrevivência, ou outros motivos. Esta opinião pode ser também o resultado de chavões utilizados por professores e pelos pais ao emitir sua opinião à respeito da importância da disciplina Matemática para a vida, no futuro. Quando da análise das Tabelas 65 e 66, voltaremos ao assunto na página 190. Português recebeu 35,50%, prevalecendo a razão saber cotidiano (17,8%) Verifica-se que, apesar de alguns alunos considerarem Matemática como necessária, não citaram a razão saber cotidiano, emitida no caso de Português. Este fato pode ser explicado, mais uma vez, pela razão de estarem estas crianças dando opiniões que têm base mais marcadamente no que ouvem dizer e não, ainda, no que tenham elaborado como resultado de avaliação, o que é absolutamente compatível com a faixa etária a que pertencem. Quando questionamos sobre o melhor momento no período da aula, na opinião dos alunos, obtivemos os seguintes dados: Tabela 55. Melhor momento no período da aula (opinião do aluno). Momento da Aula/Motivo INÍCIO O professor motiva mais O professor dá assunto O professor corrige o dever O professor faz sensibilização Existe melhor disposição pessoal Não sabe dizer MEIO Entra no ritmo Proximidade do recreio FIM Mais perto de ir para casa O professor explica mais TODOS OS MOMENTOS Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 22 55,00 9 22,50 4 10,00 5 12,50 40 100,00 Categoria 2 FA F% 17 42,50 4 10,00 1 2,50 7 17,50 2 5,00 3 7,50 1 2,50 5 12,50 40 100,00 Categoria 3 FA F% 11 27,50 3 7,50 3 7,50 4 10,00 1 2,50 7 17,50 2 5,00 3 7,50 1 2,50 5 12,50 40 100,00 172 Quando consultamos os alunos sobre o momento de aula de sua preferência, a maioria (42,5%) escolheu o início da aula, porque o professor motiva mais: dá assunto, corrige o dever, há diálogo (as notícias passam entre os alunos). Os alunos vêm para a escola em busca de novidade e de feed-back. São as recompensas de que fala Moscovici ao explicar o modelo de Expectativa de Vroom (elaborado por Porter e Lawler). A recompensa é uma das variáveis que ocorre após o desempenho, e das mais importantes no processo de motivação porque da forma como é percebida a recompensa, fica determinado o nível de satisfação. A satisfação é mais dependente do desempenho e da percepção das recompensas do que das recompensas reais recebidas (Moscovici, 1982, p.52). Talvez isto também explique a escolha seguinte, a mais votada: meio da aula (22,50%) porque entrou no ritmo, está mais perto do recreio, criando expectativas na relação esforço – desempenho e por isto mesmo mantendo o sujeito motivado. Uma minoria (10%) disse preferir o fim da aula, seja porque já está perto de ir para casa (7,5%) ou porque o professor explica mais (2,5%). Para sabermos sobre a forma pessoal do aluno enfrentar dificuldades, com vistas às recompensas, e como os resultados obtidos afetam a sua disposição de estudar, fizemos dois questionamentos cujos resultados passamos a analisar. Na Tabela 56 temos os dados sobre a forma do aluno enfrentar as dificuldades no estudo. Tabela 56. Forma pessoal de enfrentar dificuldades no estudo (informações dos alunos). Forma de enfrentar ESPERA DICAS Percebe que não sabe Pede ajuda do professor Pede ajuda do colega Motiva mais Facilita Vai na certeza TENTA SÓ Desafio Gosta de tentar É repetente Faz/não sabe resultado Estuda para acertar Na prova ninguém ensina Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 24 60,00 16 40,00 40 100,00 Categoria 2 FA F% 9 22,50 15 37,50 13 32,50 2 5,00 1 2,50 40 100,00 Categoria 3 FA F% 5 12,50 4 10,00 9 6 11 1 1 2 1 40 22,50 15,00 27,50 2,50 2,50 5,00 2,50 100,00 173 Entre as possibilidades de tentar sozinho ou preferir receber as dicas do professor/colegas, a maioria optou por esperar as dicas (60%). As razões desta preferência são a busca de um resultado final satisfatório. Segundo eles, as dicas permitem executar a atividade na certeza, com maior facilidade de encontrar a resposta correta, evitando o ensaio e erro que leva ao cansaço/ desânimo/ ansie-dade. 40% diz que prefere tentar sozinho. A Tabela 57 oferece os dados sobre a influência dos acertos na disposição, motivação do aluno para estudar. Tabela 57. Influência dos acertos na disposição/ motivação para estudar (informações dos alunos). Tipo de Influência MOTIVA MAIS Confia no conhecimento Fica disposto Fica mais motivado Fica aliviada Hora certa estuda/brinca TRAZ SATISFAÇÃO Fica alegre/feliz Recebe elogio ATINGE O OBJETIVO Tira boas notas Passa de ano Cultiva a mente Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. Todos CATEGORIA 1 FA F% 22 55,00 12 30,00 6 15,00 40 100,00 Categoria 2 FA F% 11 27,50 5 12,50 4 10,00 1 2,50 1 2,50 10 25,00 2 5,00 3 7,50 2 5,00 1 2,50 40 100,00 os alunos disseram que os acertos determinam disposição para estudar, porque ficam mais motivados, confiam no conhecimento adquirido e se expressam por: fico motivado, fico disposto. Acertar também faz com que fiquem alegres, felizes e recebam elogios e recompensas pelo acerto. O objetivo que o aluno procura atingir, é o resultado imediato tirar notas altas que por sua vez está relacionado com o objetivo de passar de ano que, embora não diga respeito ao momento atual, é importante para o futuro, e por isso passar de ano está sempre presente no discurso dos alunos e professores. 174 Tivemos interesse também em saber sobre a situação inversa, isto é, quais os sentimentos dos alunos com relação ao medo de errar e como ele resolve esta questão. Tabela 58. Medo de errar (razões dos alunos). CATEGORIA 1 FA F% SIM 38 84,44 Práticas Não passar de ano Sofrer crítica Sofrer punição Afetivas Insegurança pessoal Entristecer o professor Descontrole pessoal NÃO 7 15,56 Práticas Para aprender pode errar 45 100,00 Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. Ter medo/razões Categoria 2 FA F% 29 64,44 9 20,00 7 15,66 45 100,00 Categoria 3 FA F% 15 33,33 8 17,78 6 13,33 6 13,33 2 4,44 1 2,22 7 15,56 45 100,00 A maioria dos alunos (84,44%) diz que tem medo de errar, principalmente pela possibilidade de não passar de ano (33,33%), como também por temer punições e críticas. Chegaram a declarar que o medo de errar dá um branco o que revela um alto grau de descontrole emocional, quando submetidos a situações de teste. Snyders (1993), embora fazendo a apologia da alegria que deve permear as atividades e a convivência na escola, afirma que o medo é um sentimento permanente na sala de aula e cita Zobel, que lança a questão: Como falar de alegria quando nos fazem viver um medo permanente ( Snyders, 1993, p. 103)? Snyders (1993) dá também, como exemplo, o fato do professor passar em revista cadernos ou chamar ao quadro (exercícios resolvidos no quadro de giz pelo aluno), ou quando o aluno fica diante da classe inteira, em pé, sozinho, devendo responder ao ser argüido (argumentação oral). Como conseqüência, gagueja, transpira, fica pálido, enfim, mostra claros sintomas de medo. Amar os medos nascidos do que é obrigatório torna-se possível, na medida em que nos sentimos protegidos pelo obrigatório e experimenta-se a alegria, alívio pelo enfrentamento da situação que se teme. 175 As obrigações, quando assumidas, podem também colaborar para superar as hesitações e até a frouxidão de atitudes geradas pelo medo de enfrentar o desafio da aprendizagem – e recomeçar após o erro. Citando Catherine Paysan, Snyders afirma que o sujeito, diante do erro, se obriga a uma vitória sobre si mesmo e goza a alegria de enfrentar resistências pessoais, de vencê-las ou, transcendendo o nível habitual, superar o seu desleixo (Catherine Paysan, apud Snyders,1993, p. 106). Como a escola está sempre a oferecer ao aluno a possibilidade de errar, procuramos ouvir do aluno como ele enfrenta as situações de erro. Foram obtidos os dados da Tabela 59. Tabela 59. Formas de enfrentar as situações de erro (informações dos alunos). Ações/estratégias PROCURA APREENDER Estuda/faz de novo Busca ajuda do professor Procura o colega Avança, não fica envergonhado PROCURA CAMUFLAR Cópia do quadro SE DESINTERESSA Não liga Não termina USA VIOLÊNCIA Rasga dever Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FA F% 43 87,76 3 6,12 2 4,08 1 2,04 49 100,00 Categoria 2 FA F% 22 44,90 19 38,78 1 2,04 1 2,04 3 6,12 1 2,04 1 2,04 1 2,04 49 100,00 Quando questionados sobre a forma como enfrentam a situação de erro, a maioria dos alunos (87,7%) declarou que estão sempre dispostos a aprender e procuram superar a dificuldade: estudam mais e tentam acertar, fazendo de novo (44,9%) ou tirando a dúvida com o professor.(38,7%) Uns poucos alunos (6,1%) declararam que copiam as respostas do quadro, tentando, dessa forma, camuflar, enganar e com isto se enganar. É o desejo de se superar com o mínimo de esforço. 176 Alguns alunos (2,04%)disseram também recorrer a ajuda dos colegas. Segundo Snyders (1993), o encontro com a cultura refinada não se dá espontaneamente, a sociedade estimula e legitima a confiança depositada na escola sobre o conhecimento e o saber que ela exige. Isto certamente leva o aluno a empenhar-se, evitando a dispersão, e com esta atitude tem a chance de gozar da alegria de ser bem sucedido. A figura do professor, neste caso, é considerada de primordial importância pois, apresentando o desconhecido de forma atrativa, motiva o aluno a enfrentar o processo de aprendizagem e obter sucesso, principalmente se consegue entender que o ensaio e erro conduz ao conhecimento; não há porque se envergonhar, conforme declarou um dos alunos entrevistados. Macedo (1988) baseado na obra de Piaget, afirma que numa perspectiva psicogenética, o acerto e o erro que inegavelmente existem na escola, no plano do fazer, é uma questão de invenção e descoberta do ponto de vista do desenvolvimento da criança ou quando está sendo considerada a perspectiva do compreender. Macedo (1988) explica que, para o professor, o certo é considerado verdadeiro, bom. Ele está comprometido com a divulgação do que é considerado certo e todos cobram do aluno o acerto com o maior rigor. Assim, se o aluno não conseguir este intento, sente-se mal, pois errar é do mau já que acertar é do bem ( usando-se a linguagem dos próprios entrevistados). Ainda segundo o mesmo autor, se considerarmos a perspectiva construtivista, o problema passa a ser da invenção e da descoberta onde erro e acerto são coisas inevitáveis com as quais temos de lidar. Para que haja aprendizagem, algumas coisas serão corrigidas e outras mantidas – é o processo de auto-regulação de que fala Piaget, através do qual o limite do bom e do ruim é conquistado. Pode-se concluir que o professor, ao utilizar mensagens que levem confiança aos seus alunos, que os façam acreditar que para aprender é permitido errar, estes aceitarão, de bom grado, as intervenções do professor, principalmente, quando o elogio é indicador do acerto, ou que está no caminho certo, ou ainda que suas qualidades estão sendo reconhecidas, e com isto, querem prosseguir. 177 Considerando, portanto, que o elogio, quando utilizado de forma adequada, pode ser utilizado como motivação de crescimento, indagamos dos alunos à respeito de elogios recebidos, objetivando também conhecer os indicadores de que se valem para saber se reconhecem o elogio e quais as conseqüências para a sua vida no dia – a – dia na escola. Os dados constam das tabelas 60 e 61. Tabela 60. Elogio ao aluno como motivação (opinião dos alunos). Freqüência/Razões/Indicadores HÁ ELOGIO Por bom desempenho escolar Por acertar tudo Por caprichar Por passar de ano Por receber parabéns Por fazer boas amizades Por atender solicitação do professor Por ajudar em casa Por características pessoais do aluno É esperta Educada É bonita Não especificou/não sabe NÃO HÁ ELOGIO Pela atitude do professor Só dá nota Diz para melhorar Por características pessoais do aluno Usa de esperteza É calado ÁS VEZES HÁ ELOGIO Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 Categoria 2 Categoria 3 FA F% FA F% FA F% 28 70,00 8 20,00 5 12,50 2 5,00 1 2,50 2 5,00 2 5,00 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 8 20,00 3 7,50 3 7,50 2 5,00 7 17,50 7 17,50 9 22,50 5 12,50 4 10,00 1 2,50 4 10,00 2 5,00 2 5,00 3 7,50 3 7,50 3 7,50 40 100,00 40 100,00 40 100,00 A maioria (70%) considera que há elogio que é merecido pelo seu bom desempenho ou porque se esforça para isso: acerta os deveres (20%): é esperta, bonita, educada (20%); procura boas amizades e se coloca disponível para ajudar. Segundo alguns alunos (22,5%), alguns professores não costumam elogiar, só dão nota e com isto ficam sem o feed-back, tão necessário para diminuir a ansiedade deles, trazer segurança saber que estão progredindo. 178 É preciso que os professores pensem sobre isto e não apenas se fixem no compromisso de assinalar certo e errado no exercício, mas pensem na possibilidade de, se necessário, o aluno retomar, de reapresentar o que precisa ser aprendido, de forma que o aluno queira e possa aprender. Demonstrar satisfação é uma pista que o professor oferece ao aluno para que ele saiba que está aprendendo na escola, está progredindo. O desejo de querer acertar, de conseguir acertar, é o que provoca, no aluno, querer repetir o exercício, pois atrás disso vem o elogio, o respeito dos colegas e a admiração do professor. Não há necessidade de esperar por recompensas no futuro. É o aqui e agora que está valendo. Isto foi presenciado durante as observações realizadas em classe desses professores e confirmado por eles em suas entrevistas. Um deles disse: a sirene toca, mas eles nem escutam, pois estão entretidos com a atividade. Muitas vezes o aluno apresenta um comportamento fanfarrão, ele se gaba para provocar o professor, tentando vencer a sua indiferença chamando a atenção sobre ele e o seu feito. É uma atitude (velada) de pedido de aplauso, de carinho. O professor poderá, facilmente atender à esta necessidade, usando de um elogio merecido que possibilite, ao aluno, um alívio por saber que não é um incapaz, e que o professor sabe disso. Apenas 10% dos alunos acha que não recebe elogio porquê são muito calados, e outros acham que não merecem, pois fazem coisas que não deveriam: “não pensam no que fazem”, disse um dos entrevistados. Na Tabela 61 há os dados relativos ao sentimento do aluno ao receber elogio, segundo a sua percepção. 179 Tabela 61. Sentimento do aluno ao receber elogio (informação dos alunos). Sentimento/Razões SEMPRE GOSTA Fica vaidoso Fica orgulhoso Fica alegre Fica envergonhado Reconhece falta de mérito Não especificou ÀS VEZES GOSTA Tem medo de causar inveja NÃO GOSTA È calado Nunca é elogiado Não especificou Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 F% FA 30 75,00 3 7,50 7 17,50 40 100,00 Categoria 2 FA F% 3 7,50 2 5,00 2 5,00 2 5,00 2 5,00 19 47,50 3 7,50 3 7,50 1 2,50 3 7,50 40 100,00 O elogio é percebido pelos alunos como algo positivo para elevar a auto-estima, pois a maioria (75%) afirmou que gosta de ser elogiado, sentindo-se orgulhoso, vaidoso, alegre; quando pinta, se arrepende, pois gostaria de receber um elogio como aluno bem comportado. Alguns alunos disseram que nem sempre gostam de ser elogiados porquê sentem receio da inveja que podem provocar nos colegas e com isso provocar brigas, desentendimentos entre eles, por este motivo preferem não ficar em evidência (7,5%). Alguns alunos disseram não gostar de serem elogiados (17,5%); consideram-se do tipo calado (7,5%) e, somente 2,5% afirmou que nunca foi elogiado. Dos alunos que gostam de ser elogiados, 47,5% não especificaram as razões dessa opinião, disseram apenas que gostavam de ser elogiados. Dos que afirmaram não gostar de ser elogiado, apenas 7,5% não especificou as razões. Snyders (1996), em seu livro Alunos Felizes, tece considerações significativas para o tema que estamos analisando, o elogio do professor ao aluno. Para este autor, um dos papeis mais importantes do professor é transmitir confiança para o aluno, fazendo-o consciente e seguro de si, do seu conhecimento e de que é capaz de aprender sempre mais. 180 Uma relação bem sucedida entre os alunos e o professor é sinal de que não se sentem incapazes, mas muito pelo contrário, estimados, queridos, capazes de realizar as atividades que lhe são propostas, enfim capazes de obter sucesso em seu processo de escolarização. O aluno gosta de ser levado a sério. Aluno e professor são parceiros, embora diferentes/desiguais por conta da idade/experiência/conhecimento mas a sua convivência deve estar alicerçada em relações onde a reciprocidade é a tônica, as trocas, permitindo crescerem, os dois. Mas Snyders (1996) adverte que quase sempre o professor tem preferência por alunos de bom aspecto, que vivem dentro da norma estabelecida e são agradáveis no convívio. Por isso desconfiam dos alunos vistos como mal educados, sujos ou muito fracos e, por esta circunstância, têm dificuldade de chegar ao atendimento igualitário de seus alunos. É necessário estar o professor atento a esta forma sutil de discriminação. Nem sempre, também, todos os alunos são bons colegas. Tentado pela ambição individual do prestígio, alguns mantém isolado o colega mais fraco e por vezes o faz alvo de ironia. O sucesso, por vezes, pode provocar inveja. As respostas de alguns alunos, como já foi dito, demonstraram esta percepção ao responderem que às vezes não gostam de ser elogiados porquê têm medo de causar inveja. É importante que o aluno seja orientado a reconhecer as qualidades do colega, e a distinguir aquelas que gostaria de ter ou merece ter, e lutar para consegui-las. Pode ocorrer também que super - valorizem ou desvalorizem os seus dotes ao compará-los com os dos outros, portanto, devem ser ajudados neste processo de auto-avaliação e auto-valorização, aprendendo a fazer a sua autocrítica orientado/ ajudado pelo diálogo com o professor em quem confia e pelos seus pares. O elogio merecido é um dos fatores que ajudam à obtenção de sucesso. Tivemos interesse em saber se o aluno reconhece quais as evidências do sucesso que desfruta na escola, cujo resultado consta da Tabela 62. 181 Tabela 62. Evidências do ter/não ter sucesso na escolar, percebidas pelo próprio aluno (informações dos alunos). CATEGORIA 1 FA F% TER SUCESSO 27 67,50 Desempenho escolar Tirar nota alta Professor elogiar Ser boa aluna Comportamento adequado Não é bagunceiro Brinca muito Ter habilidades Ter popularidade Todos conhecem Não especificou 10 25,00 NÃO TER SUCESSO Comportamento inadequado Ser bagunceiro Não ser “santo” Desempenho escolar Ser lerdo Há colegas mais aplicados Não ser notado Não ter notoriedade Não especificou NÃO SABE 3 7,50 40 100,00 Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. Freqüência/Razões/Evidências Categoria 2 FA F% 14 35,00 3 7,50 2 5,00 1 2,50 7 17,50 3 7,50 2 5,00 2 5,00 1 2,50 2 5,00 3 7,50 40 100,00 Categoria 3 FA F% 9 22,50 3 7,50 2 5,00 2 5,00 1 2,50 2 5,00 1 2,50 7 17,50 2 5,00 1 2,50 1 2,50 1 2,50 2 5,00 1 2,50 2 5,00 3 7,50 40 100,00 A maioria dos alunos (67,5%) considera ter sucesso na escola e acha que é merecido. Esta resposta se baseia em razões que envolvem o desempenho escolar, o comportamento adequado, a popularidade e habilidades especiais. A razão que recebeu maior escore foi o desempenho escolar ( 35%) evidenciado no fato de tirar boas notas (22,5%), receber elogio do professor (7,5%), ser boa aluna (5,0%) . Os motivos apontados do não ter sucesso na escola, indicados por 25,0% dos alunos, envolvem os comportamentos considerados inadequados. Reconhecem que são bagunceiros: não sou santo... disse um deles. Um dos alunos disse também que não tinha sucesso porquê era lerdo, sempre o último a terminar o dever... e, com isso, o seu desempenho escolar ficava sempre a desejar. 182 As razões apontadas confirmam os comentários de Snyders (1996) sobre a escola. Diz que o drama escolar se prende às decepções de professores e alunos e esclarece: o professor deseja conduzir os alunos até o ponto mais supremo da aprendizagem e se decepciona por não conseguí-lo e o aluno se decepciona por causa da decepção do professor e por ficar aquém das expectativas, não se considerando merecedor do afeto do professor e da classe, deixa de esforçar-se, convencido que não está à altura de merecer e/ou não conseguir alcançar as metas impostas pela escola. Os alunos foram questionados, também, se consideram-se queridos pelos colegas e professores por considerarmos que ser querido/sentir-se querido é forte motivo para estar na escola e fazer o que a escola/professor propõem. As Tabelas 63 e 64 oferecem os dados obtidos. 183 Tabela 63. Evidências de o aluno ser querido pelos colegas (opiniões dos alunos). . Razões/Evidências CATEGORIA 1 FÃ F% SER QUERIDO 32 Por Qualidades pessoais Afetividade Tratamento cordial Faz amizade Tratamento igual para todos Não é metida a besta Desempenho escolar Boas notas Boa aluna Comportamento Não maltrata os colegas Não briga Calado Habilidades/atributos Joga bem Bonita Por comportamento do colega Afetividade Tratamento carinhoso Proximidade da carteira Procuram Sentem falta Não especificou Solidariedade Defendem Ajudam no dever Dividem Reconhecimento Declaram que sou legal Todos gostam Não sabe ÀS VEZES NÃO É QUERIDO 3 Não acompanham na bagunça Botam apelido NÃO QUERIDO 5 Por comportamento do colega Difamado Provocado Não sabe Total 40 Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. 80,00 7,50 12,50 100,0 Categoria 2 FÃ F% 25 13 2 1 4 1 46 54,35 28,26 4,35 2,17 8,7 2,17 100,0 Categoria 3 FÃ F% 10 5 8 2 12 1 2 1 2 2 1 46 21,74 10,87 17,39 4,35 26,09 2,17 4,35 2,17 4,35 4,35 2,17 100,0 Categoria 4 FÃ F% 6 2 1 1 3 2 5 2 1 1 1 6 3 3 1 2 1 2 2 1 46 13,04 4,35 2,17 2,17 6,52 4,35 10,87 4,35 2,17 2,17 2,17 13,04 6,52 6,52 2,17 4,35 2,17 4,35 4,35 2,17 100,0 Categoria 5 FÃ F% 6 2 1 1 3 2 5 2 1 1 1 2 2 1 1 1 1 1 2 1 1 2 1 2 2 1 46 13,04 4,35 2,17 2,17 6,52 4,35 10,87 4,35 2,17 2,17 2,17 4,35 4,35 2,17 2,17 2,17 2,17 2,17 4,35 2,17 2,17 4,35 2,17 4,35 4,35 2,17 100,0 A maioria dos alunos se considera querido pelos colegas (80%), e quando questionados se gozavam de bom conceito entre os colegas, 54,3% deles demonstrou que tem consciência das suas qualidades pessoais: um bom relacionamento é conseguido entre eles e os colegas (21,7%), sendo o mais cogitado: dispensa tratamento 184 cordial, dá tratamento igual para todos, não é metida a besta, faz amizade. O fato de ser bom aluno, de tirar boas notas foi citado apenas por 10,8% dos alunos. Consideram como indicador de serem queridos pelos colegas o comportamento do destes para com eles (28,26%): dispensam-lhes tratamento carinhoso (15,04%), querem sentar-se próximo à sua carteira, procuram por eles, sentem falta deles quando não comparecem à escola. Deram também como indicador mostrarem, os colegas, comportamento solidário (6,52%): ajudando no dever, defendendo, dividindo a merenda com eles. Alguns disseram que às vezes não se consideram queridos (7,5%), porque não acompanham na bagunça ou por receber apelido dos colegas. Somente 12,5% se declararam não queridos pelos colegas e os indicadores são os colegas que ficam difamando ou provocando. Apenas um aluno disse que não sabia porque não era querido talvez não quisesse fazer confidências naquele momento com a entrevistadora, em quem não confiava. Estes resultados mostram, que a maioria dos alunos tem uma posição confortável na classe, há um relacionamento amistoso entre os colegas, um clima afetivo positivo, o afeto circula na classe. Esta situação deve favorecer o desenvolvimento de um trabalho escolar proveitoso, sem grandes disputas ou por lugar de prestígio no grupo. Tudo indica que as classes estudadas não estão divididas em sub-grupos de preferidos, suspeitos ou rejeitados. Todos se dão bem, como os professores comentaram. Há desentendimentos momentâneos que logo se dissipam, nada que possa preocupar. Segundo Maslow (Moscovici, 1982), esta circunstancia favorece criar uma autoimagem positiva, fruto da relação positiva, estável, construída pelo próprio sujeito quando a avaliação do seu desempenho social confrontado com a avaliação do grupo a que pertence se mostram semelhantes. 185 Os dados sobre as evidências do aluno ser querido/não querido pelos professores vêm a seguir, na Tabela 64. Tabela 64. Evidências do ser querido/não querido pelos professores (percepção dos alunos). CATEGORIA 1 FÃ F% SER QUERIDO 36 90,00 Atitude do professor Afetividade Carinhosa Atenciosa Querida Elogia Não reclama Aconselha Ao ensinar Dá força Ensina Dá nota Dá dicas Modo de ser Pede ajuda Conversa Atributos do aluno Desempenho escolar Bom aluno Interesse Afetividade É gentil Dá atenção NÃO SER QUERIDO 1 2,50 Professor chama atenção ÀS VEZES NÃO SER QUERIDO 3 7,50 Desempenho escolar Nota baixa Brinca Atitude do professor Não conversa com o aluno 40 100,00 Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. Evidências / Razões Categoria 2 FÃ F% 30 60,00 14 28,00 2 4,00 1 2,00 2 4,00 1 2,00 50 100,0 Categoria 3 FÃ F% 17 34,00 9 18,00 4 8,00 7 14,00 5 10,00 2 4,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 50 100,0 Categoria 4 FÃ F% 10 20,00 3 6,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 4 8,00 2 4,00 2 4,00 1 2,00 3 6,00 1 2,00 7 14,00 5 10,00 2 4,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 1 2,00 50 100,0 Os alunos demonstraram também uma boa percepção do conceito que gozam junto aos professores. A maioria (90%) percebe-se querido pelos professores. As evidências (60%) se referem ao comportamento do próprio professor, sendo que 34% são expressões de afetividade: os professores são carinhosos, atenciosos, dão conselho. 186 As evidências de ser querido pelo professor, que denotam preocupação com a escolaridade correspondem a 18% das razões: dão força para estudar, ensina, dá boas notas. Mas os alunos reconheceram também que merecem ser queridos pelos professores por qualidades de bom aluno (28%) ou não merecem ser queridos porque brincam, conversam, tiram nota baixa (4%). Por estas respostas pudemos inferir que os alunos apresentam indicadores coerentes, tendo um julgamento confiável para si próprios e para os outros. Demonstram assim, autonomia para colocar seus pontos de vista. Isto pode revelar que a autoridade exercida sobre eles não os conduziu ao conformismo ajustado à opinião de pais e professores. Segundo Freud o professor é o modelo de pai a ser imitado/respeitado e que, por respeitarem o pai, não tem dificuldade em aceitar a superioridade do professor (p.85). O professor assume a figura do pai, na ausência deste e em situação de superioridade, através da transferência. Outras questões que consideramos possível de nos dar pistas referentes aos indicadores de motivação para a aprendizagem proposta pela escola/professor, por parte dos alunos, foram suas preferencias por disciplinas ou aulas e as razões apresentadas por eles para justificar suas preferências ou rejeição, baseados nas aulas assistidas no semestre. Os dados constam das Tabelas 65 e 66. 187 Tabela 65. Disciplinas/aulas da preferência do aluno e razões da preferência (opinião dos alunos). Matéria/ Razões MATEMÁTICA Aprender com facilidade Aprender tudo Faz conta brincando Acerta mais Colegas pedem ajuda PORTUGUÊS Aprender com facilidade Acerta logo Sempre gostou Permitir expressão pessoal Nossa vida Escrever sobre si Fazer pintura Tema agrada Gramática CIÊNCIAS Tema agrada Animais/higiene Comportamento humano Aprender com facilidade Ler no livro Fácil Tema atual Droga ESTUDOS SOCIAIS Participação ativa do aluno Pesquisa Dramatização Retrata a realidade Gravuras Tema atual Fala sobre o mundo RELIGIÃO Mundo subjetivo Fala de Deus TODAS Não teve SEM ESPECIFICAR No dia em que o prof. lembrou do meu aniversário Total Fonte: Dados da pesquisa Ilhéus, 1999. CATEGORIA 1 FÃ F% 17 40,47 9 21,42 7 16,66 6 14,28 1 2,38 1 2,38 1 2,38 42 100,0 Categoria 2 FÃ F% 17 40,47 5 11,90 3 7,14 1 2,38 3 7,14 3 7,14 1 2,38 2 4,76 1 2,38 3 7,14 1 2,38 1 2,38 1 2,38 42 100,0 Categoria 3 FÃ F% 10 23,81 3 7,14 2 4,76 2 4,76 4 9,52 1 2,38 1 2,38 1 2,38 1 2,38 1 2,38 2 4,76 1 2,38 2 4,76 1 2,38 1 2,38 1 2,38 1 2,38 1 2,38 3 7,14 1 2,38 1 2,38 1 2,38 42 100,0 A disciplina da preferência dos alunos é a Matemática e justificam dizendo que aprendem com facilidade (40,4%). Em sala de aula acompanhamos a correção de um exercício de matemática, a maioria acertou e o clima estava efervescente. Ao final da correção, duas alunas 188 foram ao quadro, armaram as operações, resolveram, tiraram a prova real. Apagaram e repetiram o exercício. Isto mostra como foi positivo para elas acertar e mostrar para a classe/professor que sabiam o dever. Ficaram motivadas para continuar esta atividade e assim o fizeram. Se tivessem errado, provavelmente, isto não teria acontecido. Português foi também lembrada em segundo lugar por este mesmo motivo e porque permite expressão pessoal (21,4%) através da escrita, da fala e do desenho. Para Ciências, houve destaque para a qualidade dos temas trabalhados: fala da vida, do mundo, recebendo 16,6% das opções. A questão da valorização do saber para aplicação prática no dia-a-dia, ficou evidenciada neste caso. Estudos Sociais, disciplina da qual fazem parte assuntos de História e Geografia foi lembrada pela metodologia e pela temática fala do mundo, mostra gravuras/ retratos, confirmando os comentários citados acima. A escolha por Estudos Sociais foi de 14,6% dos alunos. Segundo Snyders, “para o aluno, o conhecimento é trazido pelo afetivo: ele aprende realmente bem o que o cativa, numa atmosfera de aula que lhe parece segura, com um professor que sabe criar afinidades. Contudo, certas áreas do conhecimento (poesia, artes...) visam mais diretamente o afetivo; de todos os conhecimentos, da geografia à matemática, esperam-se ressonâncias afetivas” (Snyders, 1993, p.92). Ele cita o exemplo da História, como elucidativo deste ponto de vista, dizendo ser esta uma disciplina que exige reflexão, espírito crítico e capacidade de organização do pensamento, permitindo convergências ao ser evocado o conhecimento apropriado pelo sujeito. Mas, ao mesmo tempo, desenvolve a sensibilidade com relação ao passado, possibilitando a construção de imagens do passado, pelas evocações descritivas ou usando fotografias, e isto, permite aos alunos que incorporem reminiscências das gerações passadas e que fazem parte do próprio passado dos alunos, mesmo que não vivido por eles, mas que eles entendem como vivido por outros que a eles estão ligados, direta ou indiretamente. 189 Como exemplo dessa dupla função, Lavisse explica o conceito de patriotismo - é um sentimento mas, também uma noção e o ensino da História vai precisar a noção e fortalecer o sentimento (Lavisse, apud Snyders 1993, p.93). Uma única resposta, mas que consideramos muito sugestiva, foi da aluna que declarou ter sido a aula de sua preferência aquela em que a professora lembrou do seu aniversário, pois como temos afirmado, apoiados nos dados obtidos, o comportamento do professor, no que se refere ao aluno, é de suma importância para este, que se sente muito gratificado pelo fato de ser notado, distinguido pelo professor. Consideramos ser este um motivador importante para o estudo que estamos desenvolvendo. Perguntamos também sobre que aula ele não gostou no semestre, pois deseja-vamos saber, também, o que não motiva o aluno e porquê. Os dados sobre a rejeição do aluno por determinada aula assistida no semestre consta da Tabela 66. 190 Tabela 66 - Desagrado do aluno por determinada aula e razões do desagrado (informação dos alunos). Matéria/ Razões MATEMÁTICA Muita dificuldade para aprender Complicado Exercício diferente Distração Tema desagradável/pouco atraente Conta/tabuada/divisão Não sei o assunto HISTÓRIA Personagem sem significado Morte drástica do herói Dia do índio (desconhece sentimentos) Tema sem graça PORTUGUÊS Desempenho escolar Nota baixa (ganhou) Difícil gramática Não apreende GEOGRAFIA Desempenho escolar Não compreende Erra muito Não lembra CIÊNCIAS Temas densos (muita coisa) Vegetais Aparelhos Prova extensa TODAS Não há SEM ESPECIFICAR Fui suspenso Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 CATEGORIA 1 Categoria 2 Categoria 3 F% FÃ F% FÃ F% FÃ 13 32,50 7 17,50 5 12,50 2,50 1 2,50 1 5 12,50 12,50 5 2,50 2,50 1 1 12,50 5 2 5,00 2,50 1 2,50 1 7,50 7,50 3 3 12,50 5 5 12,50 5,00 2 5,00 2 2,50 1 10,00 4 4 10,00 5,00 2 2,50 1 2,50 1 7,50 3 2 5,00 2,50 1 2,50 1 2,50 2,50 1 1 22,50 9 9 22,50 9 22,50 2,50 1 2,50 2,50 1 1 40 100,00 40 100,00 40 100,00 A análise dos dados da Tabela 65 e desta Tabela (66) mostra que o fato do aluno ter facilidade ou dificuldade na aprendizagem determina a sua preferência ou não; vejamos as análises possíveis diante dos dados obtidos. O maior número de escolhas da disciplina que menos agrada recaiu sobre a Matemática (32,5%) pelo motivo oposto ao da preferência já analisada na tabela anterior, isto é, por ser difícil, complicado, ou os alunos consideram o assunto desagradável ou pouco atraente (conta, tabuada, divisão). 191 Percebemos uma discrepância ao estabelecermos o confronto entre estes dados e os dados obtidos na Tabela anterior (Tabela 65, p.184) e que se confirma com os dados da Tabela 54 (p.167), quando as informações obtidas se referem à Matemática. Conforme nos propusemos anteriormente, voltamos ao assunto, pois consideramos importante analisar a situação. Na Tabela 65 (p.184) a Matemática é a disciplina da preferência dos alunos, ao passo que na Tabela 66 (p.187), os mesmos alunos, na compilação final, emitem opiniões que mostram justamente o contrário: os alunos declararam a Matemática como a disciplina que menos gostam por ser difícil, pouco atraente. Esta discrepância foi constatada, mas o mérito das respostas é o resultado da opinião dos alunos, que respeitamos. Uma possível explicação que aqui arriscamos, embora não pesquisada em profundidade, seria o fato de que, para alguns alunos, aqueles que dizem preferir a Matemática, aprenderam e continuam aprendendo os conteúdos de Matemática e têm êxito nas atividades e testes destes assuntos. Outros alunos, ao que nos pareceu, gostariam de ter êxito, pois os jogos lógicos percebidos por eles nas atividades da Matemática, os atraem, mas eles não conseguem aprender e/ou compreender este jogo lógico e assim concluem que, apesar de atraente, a Matemática é difícil e por isso não gostam. Certamente, não gostam, é do possível não acerto, representado pelas atividades/provas a que terão de se submeter. Este é um ponto que provavelmente pesquisaremos, pois nos chamou, especialmente, a atenção. A motivação, ao ser utilizada com eficiência, talvez possa resolver a questão da eficácia do processo ensino-aprendizagem, sustentação da nossa tese com relação ao uso da motivação como fator significativo para a aprendizagem, ou seja, há equívocos quando da aplicação, ou não, pelos professores, de estratégias motivacionais, e este fato compromete a possibilidade de tornar a atividade proposta aceitável, por ser uma promessa de prazer. No caso da História, a justificativa foi o fato dos personagens não terem significado. Provavelmente, a figura de herói não corresponde ao herói que a mídia apresenta 192 como tal; o índio é uma figura legendária, fora da realidade, não parece que fez ou faz parte da história desta região, nem da vida das crianças, apesar de saberem, porque assim é contado, que há ainda índios que estão vivendo aqui em Olivença. Para Ciências ( 7,5%), as justificativas apresentadas pelos alunos apontaram para o fato dos temas tratados serem densos (muita coisa) e a prova extensa. Por outro lado, 22,5% dos alunos entrevistados afirmaram que não houve aula que os desagradasse, demonstrando assim que gostam de estudar. Tivemos interesse em saber se os alunos se sentiam confortáveis com o seu grupoclasse, pois consideramos importante que pessoas que são agrupadas, aleatoriamente (sem levar em consideração as preferências dos alunos quanto aos colegas e professor), encontrem, ao longo do tempo, satisfação (motivos) em fazer parte deste grupo que permanecerá reunido durante um ano letivo, pelo menos. Reunimos os dados na Tabela 67. Tabela 67. Gostar da sua classe e suas razões (voz do aluno). Sentimentos / Razões GOSTAR Afetivas Colegas agradáveis Bons amigos Professor exigente/amigo Classe dinâmica Ativos Brincam Satisfação com o trabalho Bom ensino Ajudam nos deveres Conceito de classe Ninguém tem queixa NÃO GOSTAR Comportamento do colega Colegas ousados (poucos) Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 CATEGORIA 1 FÃ F% 39 97,50 R1 2,50 40 100,00 Categoria 2 FÃ F% 22 48,89 12 26,67 6 13,33 4 8,89 1 2,22 45 100,00 Categoria 3 FÃ F% 14 31,11 5 11,11 3 6,67 11 24,44 1 2,22 4 8,89 2 4,44 4 8,89 1 2,22 45 100,00 Ao perguntarmos sobre o sentimento deles à respeito da classe, 97,5%, isto é, a maioria absoluta (apenas uma resposta desfavorável), afirmou gostar da sua classe, por razões afetivas: os colegas são agradáveis, amigos e a professora, apesar de 193 exigente, é amiga, consideram a classe dinâmica, sentem-se ativos, brincam e ninguém se queixa da sala. Poucos se referiram à satisfação com o trabalho, como razão de gostar da classe (13,3%), mas lembraram que o ensino é bom e os colegas ajudam nos deveres. O ambiente afetivo das salas estudadas tranqüiliza, pois todos se sentem pertencentes àqueles grupos-classe e, tudo indica que é possível caracterizarmos estas turmas, como alegres e tranqüilas. Verificamos que há um ambiente de solidariedade, que permeia o dia – a – dia, os alunos, estão vivendo em reciprocidade, o que determina uma certa cumplicidade. A questão seguinte, buscou pistas sobre a maneira como o aluno se vê no grupo, isto é, como ele se caracteriza como pessoa, qual o traço do seu comportamento que o diferencia dos demais e se a forma de ser visto pelos colegas é estímulo que o motiva para estar na escolar, para aprender. Pelas razões apresentadas, tentamos inferir se isso traz para ele satisfação ou o incomoda. 194 Tabela 68. Como sou diante da classe (informação dos alunos). CATEGORIA 1 F% FÃ 10 25,00 7 17,50 7 17,50 6 15,00 3 7,50 2 5,00 1 2,50 1 2,50 1 2,50 2 5,00 40 100,00 Tipo/Razões ALEGRE Classe ri das palhaçadas Alegre Tristeza não adianta Levanta o astral CONVERSADOR Fala muito na aula Conversa muito OBEDIENTE/DISCRETO Na hora certa estuda Faz o que pedem Presta atenção Não bagunça ATIVO Quer aprender COMUNICATIVO Tudo comenta Ensina/pergunta TRISTE Tem apelido Faz tudo errado ATENTADA Conversa/reclama DESATENTA Dispersiva DESOBEDIENTE Só obedece Quando apanha NÃO SABE Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 Categoria 2 FÃ F% 4 10,00 3 7,50 2 5,00 1 2,50 5 12,50 2 5,00 2 5,00 2 5,00 2 5,00 1 2,50 6 15,00 2 5,00 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 1 2,50 2 5,00 40 100,00 A imagem que têm de si mesmo é positiva: a maioria dos alunos se caracterizou como alegre ( 25%) ou conversador (17,5%).O mesmo escore é válido para os alunos que se consideram obedientes/discretos (17,5%) . Alguns se consideram ativos (15%), querem aprender, ou comunicativos (7,5%): tudo comentam, ensinam/perguntam. A maioria considera, pois se mostra e é visto pelos colegas de forma positiva. Somente 2 alunos se disseram tristes: um tem apelido, outro faz tudo errado. Neste caso, a auto – estima deles está baixa e, por conseguinte, a sua motivação para aprender, bastante prejudicada. Estes alunos nos pareceram apresentar um comportamento desanimado; nada os atrai, principalmente se a atividade exige esforço, empenho, atenção. 195 Questionamos os alunos também sobre a possibilidade de, se pudessem escolher, viriam ou não à escola, e quais seriam as razões da opção. Tabela 69. Comparecer/não comparecer às aulas, como escolha (informação dos alunos). Opções / Razões da preferência COMPARECER Razões práticas Apreender mais Saber Passar de ano Não esquecer Razões afetivas Melhor que na rua Sente falta Gosta de vir Segundo lar Mais divertido Visão de futuro Melhorar de vida Necessidade de fazer teste para trabalhar NÃO COMPARECER NÃO SABE Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 CATEGORIA 1 FA F% 37 92,50 1 2,50 2 5,00 40 100,00 Categoria 2 FA F% 47,50 19 35,00 14 4 10,00 1 2,50 2 5,00 40 100,00 Categoria 3 FA F% 25,00 10 12,50 5 5,00 2 5,00 2 10,00 4 3 7,50 3 7,50 5,00 2 2 5,00 3 7,50 1 2,50 1 2,50 2 5,00 40 100,00 A maioria, quase absoluta (92,5%), declarou que prefere comparecer às aulas, e as razões estão relacionadas à possibilidade/necessidade de aprender: quer aprender sempre mais, quer passar de ano. Outras razões, mostram que a escola faz parte e/ou dá sentido à vida do aluno: consideram um segundo lar, sentem falta, gostam de vir, é mais divertido e alguns (10%), disseram que é melhor que na rua. De fato, segundo Paulo Micelli, o papel da escola é dar segurança às crianças e adolescentes diante das ameaças representadas pela rua, e afirma: “Nunca é demais relembrar a velha sabedoria popular que afirma estarem os pequenos melhor na escola do que na rua” (Revista Idéias nº 23, 1992, FDE), entretanto, o articulista usa esta afirmativa para contestá-la, pois acha que os alunos não pensam assim, pois é notório a alegria com que se lançam para fora depois do último sinal, escapando à opressão das classes e corredores sombrios... 196 Certamente, é possível entender, na expressão usada pelo aluno, um certo grau de conformismo e melancolia. Concluímos que, pelas respostas dos alunos, eles vêm a escola como se fosse deles a escolha. Em seguida, perguntamos aos alunos o que fariam, caso lhes fosse possível substituir a escola por uma outra atividade. A tabela 70 mostra as respostas dos alunos diante da possibilidade de escolher outra atividade, em substituição ao comparecimento à escola. Tabela 70. Reação do aluno diante da possibilidade de substituir a escola por outra(s) atividade(s) (informação dos alunos). Atitude / Razões IDÉIA REFUTADA Ia fazer tudo para vir Não seria ninguém SUBSTITUIR POR LAZER Brincava/ via TV Não tinha nada para fazer SUBSTITUIR POR ATIVIDADES ANÁLOGAS Estudaria em casa Ensinava a irmã OUTRAS Trabalharia em casa/fora NÃO SABE Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 CATEGORIA 1 FA F% 10 23,81 26,19 11 23,81 10 7 16,67 4 9,52 42 100,00 Categoria 2 FA F% 19,05 8 4,76 2 16,67 7 9,52 4 21,43 9 2,38 1 7 16,67 42 100,00 A idéia de deixar de comparecer à escola para fazer outras coisas foi refutada por 23,8% dos alunos que alegaram que iriam fazer tudo para vir ou ainda, reconhecem o valor da escolarização pois acham que não seriam ninguém sem o estudo, sem o saber, o que é confirmado e complementado pela disposição de outros de desenvolver atividades análogas (23,8%): estudaria em casa, ensinaria a irmã mais nova. 197 Outro grupo iria se dedicar ao lazer porque não teria nada para fazer, iria brincar ou ver TV ( 26,1%). Assim, podemos concluir que os alunos não aceitam substituir a escola por outras atividades (23,8%), ou fariam uma atividade análoga (23,8%), se não viessem à escola, o que representa 47,6%, portanto, a maioria. Pode-se inferir, então, que a escola, para este grupo, ainda representa uma atividade que merece ser priorizada, sendo ela própria, um forte motivador. Em seguida, perguntamos o que os alunos gostam de fazer, fora da escola, e que gostariam que fosse feito também na escola. Na tabela 71, há o resultado das sugestões de atividades para serem absorvidas pela escola. Tabela 71. Atividades, fora da escola, preferidas pelos alunos, a serem incorporadas à escola (opinião dos alunos). Opções / Sugestões de Atividades BRINCADEIRAS Brincar de bola Brincar Pega-pega/empinar pipa ATIVIDADES ANÁLOGAS Estudar/brincar de escolinha TV / vídeo Catequese Ler Artesanato Ensaiar banda OUTRAS ATIVIDADES DE LAZER Ir a praia/piscina Passear/viajar/excursão É difícil brincar na escola SOCIALIZAÇÃO Conversar Respirar um pouco o ambiente Total Fonte: Dados da pesquisa. Ilhéus 1999 CATEGORIA 1 FA F% 21 44,68 12 25,53 11 23,40 3 6,38 47 100,00 Categoria 2 FA F% 10 21,28 9 19,15 2 4,26 5 10,64 2 4,26 2 4,26 1 2,13 1 2,13 1 2,13 6 12,77 3 6,38 2 4,26 2 4,26 1 2,13 47 100,00 .A maioria (44,6%) gostaria que a escola oferecesse um maior número de brincadeiras; os alunos querem brincar. Tivemos oportunidade de observar uma situação de jogo, proposta por um dos professores das escolas visitadas, que nos pareceu má escolha, pelos seus resultados. 198 A professora criou uma situação de competição. A classe foi dividida em dois grupos. Os alunos foram sendo chamados, dois a dois, para serem sabatinados. O assunto era a tabuada. O que vimos foi alunos que acertavam e saíam contentes, e outros, que erravam e saíam acabrunhados. Isto, efetivamente, pode ocorrer. Analisando a situação, pudemos concluir que a competição acirrou os ânimos contra os que não acertavam e inveja dos que acertaram (o exercício premiou só os que sabiam). Embora o resultado correto tivesse sido sempre apresentado, depois de cada resposta, parece não ter sido este, um momento de aprendizagem. Os alunos estavam tensos. Percebe-se, então, que a brincadeira pode ser, ou não, um motivador de aprendizagem, enquanto propiciadora ou não, deste processo. A adoção de atividades prazerosas, transformaria a escola num local alegre, conforme propõe Snyders (1996), como brincar é prazeroso, esta é uma boa forma de motivar. Acreditamos que a escola é um local onde as atividades não devem ser desagradáveis, pois os alunos (25,6%) consideraram uma boa sugestão brincar de escolinha, ler, fazer artesanato, mas, por outro lado, 23,4 % considera muito difícil brincar na escola. Snyders (1996) comenta, que a dificuldade da escola não está no que se estuda, mas na maneira como se estuda. Para fortalecer seu ponto de vista, cita George Sand, que deplora o fato de, na escola, a obrigação se transformar em algo semelhante a uma punição, trazendo como resultado que: As mais belas línguas do mundo, os maiores poemas da humanidade não passam, para ele [ trata-se de um adolescente no colégio], de objeto de enfado, de revolta e de desgosto. Cita também Paul Valery: o que foi belo [ ...] um instrumento de prazer ou de emoção, se degrada, pelo autoritarismo escolar, em um instrumento de classificação. (Snyders, 1996, p.102) 199 No nosso entender, Valery quer dizer que o aluno, pela obrigação de estudar , por exemplo, um poema para avaliação, para nota, para passar de ano, perde a chance de descobrir o belo que nele se encerra e o belo se torna insípido, o prazer, enfado. 200 6. - RESULTADOS As informações sobre MOTIVAÇÃO obtidas com professores e alunos das 4as. séries do ensino fundamental, excederam a simples coleta mecânica de informações disponíveis, pois conseguimos discutir o tema com a amostra, professores e alunos, vez que a entrevista, tipo formulário, embora direcionada, deu margem ao entrevistado de se colocar à vontade, ampliando e respondendo às perguntas. A observação direta, em classe, permitiu tornar mais consistente o conhecimento que pudemos alcançar pelo estudo na literatura disponível, bem como ampliando a informação sobre aspectos já constantes das respostas de professores e alunos, no formulário. Quanto aos autores que deram sustentação ao trabalho, é importante ressaltar, mais uma vez, que a nossa intenção não era posicionarmo-nos sobre a motivação, segundo as várias teorias, ou estabelecer comparações entre elas apontando semelhanças e diferenças, mas sim nos valermos das contribuições de algumas delas para análise e elucidação da temática que nos propusemos estudar. Dessas leituras, destacamos alguns conceitos de motivação já mencionados mas que, nos parece, devem ser aqui retomados. São eles: Motivação é o processo que se desenvolve no interior do indivíduo e o impulsiona a agir mental e fisicamente. O indivíduo motivado encontrase disposto a despender esforços para alcançar seus objetivos (Nérici, 1981, p.152). Motivação é um processo interior, no indivíduo, que deflagra, mantém e dirige o comportamento (Campos, 1971, p.112). ou 201 A motivação é um estado físico-psicológico, interior ao indivíduo, um estado de tensão energética, resultante da atuação de fortes motivos que o impelem a agir, com certo grau de intensidade e empenho ( Campos, 1971, p.112). Temos ainda: “Motivação é um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto e que predispõe o organismo para a ação em busca da satisfação da necessidade” (Pêpe, 1995, p.123). A motivação é uma força que se encontra no interior de cada pessoa e que pode estar ligada a um desejo (Gooch & Mc Dowell, in Bergamini, 1991, p.38). ...essencialmente se trata de um processo que implica a vontade de efetuar um trabalho ou de atingir um objeto, o que cobre três aspectos: fazer um esforço, manter esse esforço até que o objetivo seja atingido e consagrar a ele a necessária energia (Leboyer, in Bergamini, 1991). Bergamini diz também que a abordagem freudiana, tendo por base o princípio do prazer, utiliza uma terminologia diferenciada para explicar o comportamento do ser humano. Afirma que os instintos são as forças propulsoras que incitam as pessoas à ação. Todo instinto tem quatro componentes: uma fonte, uma finalidade, uma pressão e um objeto. Preferem usar a expressão comportamento motivacional, que se caracteriza por motivos que são perseguidos num dado momento, mas que são resultado de toda uma história anterior de vida, composta de uma sucessão de experiências vividas, pregressas e interligadas, que lhe deram origem. Motivação, para Bergamini, é uma força propulsora cujas verdadeiras origens se acham, no mais das vezes, escondidas no interior do indivíduo e cuja satisfação ou insatisfação faz parte integrante dos sentimentos experimentados por ele mesmo, como benéficos ou maléficos ao seu ajustamento motivacional ( Bergamini, 1991, p. 47/48). 202 203 Analisados todos estes conceitos, percebe-se que há muito em comum entre eles e destacamos as seguintes convergências: ♦ a motivação é um processo interior no indivíduo; ♦ a motivação impulsiona o sujeito a agir mental e fisicamente; ♦ a motivação, além de deflagrar, dirige e mantém o comportamento; ♦ a motivação está em relação com uma necessidade do sujeito, que dirige o comportamento para alcançar uma finalidade, implicando, pois, um propósito, um motivo. Portanto, a motivação, como pesquisamos, circunscrita à situação de sala de aula, está sendo entendida como processo no interior do aluno, que depende do professor para mobilizá-lo utilizando os meios e modos apropriados/eficazes, isto é, os procedimentos pedagógicos que possam servir como fatores de motivação. Nossa intenção, portanto, foi estudar: a) os fatores que motivam os alunos à aprendizagem escolar, identificando b) o que fazem os professores para motivar seus alunos, e verificar c) se a e b, coincidem. As questões foram analisadas entendendo que a motivação pode ser provocada externamente através do incentivo. Neste caso, consiste no intento do mestre de proporcionar aos alunos uma situação que os induza a um esforço intencional, a uma atividade, visando a certos resultados queridos e compreendidos ( Nérici, 1981, p. 152). Assim, a proposta vem da parte do professor, mas quem deve atingir as metas definidas é o aluno. Logo, se o aluno não estiver disposto a despender esforços, o 204 professor fica impossibilitado de direcioná-los e a aprendizagem ficará prejudicada. A escolha de estratégia adequada é indispensável, segundo Nérici, para estabelecer conexões entre o que o professor pretende que o aluno realize e os interesses deste. Tendo perguntado aos alunos e professores o que entendiam por motivação, verificamos que os alunos sabem do que se trata e são capazes, através de exemplos, de expressar adequadamente o que consideram como tal. A maioria afirmou que estar motivado é querer fazer algo ( em Leboyer, já citado anteriormente, também vamos encontrar vontade de efetuar um trabalho). Os professores, em suas explicações, expressaram suas concepções de motivação segundo suas experiências como docentes, em função principalmente do comportamento do aluno, ou seja, que estar motivado é o aluno ter interesse na aula, querer participar, ou ainda, em função da sua ação docente: usar incentivação (dinâmicas, histórias, cantos) para provocar o desejo no aluno de participar da aula. Apesar de ficar subentendido que o processo motivacional ocorre através do estímulo proposto pelo professor e do querer participar, da parte do aluno, pouquíssimos professores declararam saber o que seus alunos pensam/sentem como motivação. Assim, pode-se afirmar que a prevalência é a da ótica do professor nas questões de escolha e utilização de recursos de motivação ao aluno, isto é, está centrada na sua decisão para a escolha dos recursos motivadores para as aulas e não no gosto/preferência do aluno, que é ignorado, pois, desconhecido. Esta postura se confirma quando, ao serem perguntados se consultam alguma fonte teórica para obter informações sobre o tema motivação, a metade deles afirma que busca e a outra metade que não. Isto pode significar que confiam nos seus próprios critérios de escolha e decisão para utilizar recursos motivadores ou, ainda, não consideram importante conhecer sobre motivação para desenvolver bem o seu trabalho. Há, portanto, a escolha aleatória, tanto das estratégias de motivação a serem utilizadas quanto da variação do momento de utilização destas estratégias. 205 Percebe-se, pois, que a utilização de estratégias é feita sem critério definido e em momentos vários, o que nos leva a concluir que a motivação fica meio ao sabor do acaso; na hora de tratar o(s) assunto(s) da aula o professor “inventa”, ou cumpre a sua parte apresentando o assunto e depois, para relaxar, propõe uma brincadeira, um jogo, como “prêmio” ou como “calmante” para sossegar os alunos. Apenas um dos professores disse que costuma iniciar a aula com um bate papo e que, de forma natural, vai surgindo a oportunidade de encaminhar o assunto. Apenas um professor disse que utiliza recursos motivadores em cada momento do processo. Isto mostra que o professor sabe que, além de deflagrar a motivação, é necessário incentivar o aluno para mantê-lo motivado. Vigotsky explica que o funcionamento psicológico na perspectiva de um processo dito, superior, prevê o ato voluntário, intencional, fruto da tomada de decisão que se dá através da mediação, entendida como o processo de intervenção de um elemento intermediário em uma relação. A ação poderá ser então mediada pela lembrança da experiência anterior, ou mediada pela intervenção de outra pessoa (típico da situação de sala de aula). Vigotsky trabalha, então, com a noção de que a relação do homem com o mundo não é uma relação direta, mas, fundamentalmente, uma relação mediada. As funções psicológicas superiores apresentam uma estrutura tal, que entre o homem e o mundo real existem mediadores, ferramentas auxiliares da atividade humana ( Kohl, 1992, p.27). Vigotsky afirma também que, através do trabalho, o homem desenvolve uma atividade coletiva que implica em relações sociais, o que compreende também a escola, uma das primeiras oportunidades de trocas sociais para a criança. Daí a importância da vida social para o desenvolvimento do indivíduo, pois nesse momento compartilha, com os outros membros do grupo, suas idéias, sentimentos, conhecimento, enriquecendo e sendo enriquecido através das trocas sociais. 206 De acordo com autores que se dedicam à Didática Geral, Nérici (1981) e Carvalho (1982), o objetivo da utilização de recursos motivadores é criar uma atitude favorável, da parte do aluno, para que as atividades de aprendizagem ocorram num clima agradável e possam chegar ao desejo de conhecer, isto é, a gostar de estudar, quando, então, a motivação é o próprio conhecimento, isto é, conhecer o que lhe é desconhecido: a novidade, a curiosidade natural são os estímulos para buscar o conhecimento, pelo gosto de saber. Esta é a situação ideal e os professores da amostra demonstraram saber disto mas, pelo que pudemos entender, não estão considerando que devem, intencional e sistematicamente, garanti-la e que isto faz parte de sua prática docente. Tudo indica que os professores consideram que querer estudar é algo a priori ou, pelo menos, deve ser desejado pelo aluno como obrigação. Entendemos que a sociedade vem sendo uma grande aliada da escola na manutenção deste princípio equivocado. O estudo, enquanto atividade escolar, é um motivo externo ao indivíduo e para se tornar objeto de motivação deve estar ligado a um propósito, um motivo interno. Logo, deve partir do aluno desejar estudar/aprender. A organização das Necessidades Básicas, sob a forma de pirâmide, proposta por Maslow, como também e, principalmente, os estudos de Piaget, oferecem subsídios preciosos para os que desejam motivar seus alunos de forma adequada. Os alunos, por sua vez, quando perguntados se vêm para a escola motivados, a maioria respondeu que sim. Há motivos fortes que os fazem querer/gostar de vir à escola, mas eles alegaram que vêm por necessitar de formação e de alcançar um futuro digno. Estas respostas nos pareceram repetições do que ouvem e não construções próprias, pois este é o discurso dos adultos e da própria sociedade sobre para que serve estudar, e fazem parte do discurso dos professores para os alunos, destacando o porvir, enfatizando que é da responsabilidade do aluno se preparar para o futuro. 207 Segundo os teóricos, a concepção do aluno sobre o futuro é algo nebuloso, pois a criança necessita do concreto para chegar a compreender e estabelecer conceitos; necessita juntar experiências e, neste caso, o porvir, o futuro são abstrações, são um vir a ser, e a prospeção se torna uma tarefa que, se não impossível, é muito complexa para permitir à criança expressar consciência sobre a frase alcançar um futuro digno. O presente, o hoje, o aqui e agora, são a linguagem adequada quando se trata de escolares na faixa de idade da nossa amostra (de 7 a 11 anos). Falar do futuro é quase o mesmo que falar do “bicho papão”. Ninguém sabe representá-lo e, com isto, se instala o medo, o sentimento primeiro do ser humano. Ao longo das observações e de nossas entrevistas, percebemos medo nos alunos, mais do que motivação para estudar. Os medos mais evidentes foram: não passar de ano, sofrer crítica, sofrer punição, passar por incapaz, não mais merecer o afeto, a consideração do professor... Segundo Wallon, a emoção participa de dois mundos: o orgânico e o social e tem como função fazer a transição entre eles. Há, implícito, mudanças funcionais, dependendo do realce dado aos efeitos ativadores ou desorganizadores do comportamento. Para Wallon, portanto, a atividade emocional realiza a transição entre o estado orgânico do ser e a sua etapa cognitiva, racional, que só pode ser atingida através da mediação cultural, isto é, social (Dantas, 1992, p.86). Wallon afirma que, em sua origem, a conduta emocional depende de centros subcorticais, de expressão involuntária e incontrolável mas que, pela maturação, é possível o controle voluntário. Assim, há um processo evolutivo que, partindo do incontrolável, chega ao controlável e a escola deve atuar aí, evitando que as emoções tomem conta do comportamento do sujeito e oportunizem opções conscientes porque conhecidas. Não observamos nenhuma ação dos professores no sentido de ajudar os alunos nesta maturação para compreender e controlar emoções, com exceção de um deles que disse para aprender, pode errar. 208 É importante, para o professor, estar atento para o fato dos seus alunos apresentarem certas limitações já que se encontram em fase de desenvolvimento e crescimento e ainda não terem atingido a plenitude de sua competência intelectual, estando bastante ligados ao mundo do sensível. É preciso ter em vista que o aluno consegue superar a fase do concreto,tardiamente, quando se torna capaz do raciocínio lógico Ao perguntarmos aos alunos sobre a preferência deles pelas aulas em determinado dia da semana, as razões por eles apresentadas contemplaram motivos afetivos, o prazer do contato com os colegas; maior disposição pessoal; o lazer, reforçando a idéia do desejo velado (ou até expresso) de aprender brincando, com prazer, utilizando-se atividades mais agradáveis que as aulas expositivas, entretanto, foi esta estratégia a preponderante: professor falando, aluno escutando Segundo os professores, ha preferência pela sexta-feira, acompanhada da 4ª feira, pelas mesmas razões, explicadas pelo prazer. Portanto, as razões oferecidas expressam que o ter prazer é motivador para vir à escola. Por este motivo, a brincadeira, quando faz parte da rotina da escola, é sempre bem aceita, entretanto, se é utilizada para relaxar, ao final da atividade, talvez como prêmio pelo esforço despendido pelo aluno por prestar atenção, não atende ao momento de realização das tarefas, portanto não é utilizada como estratégia de motivação e/ou viabilização da aprendizagem. Nota-se que poucos professores, quando perguntados sobre as estratégias eficazes de motivação, indicaram os jogos que são brincadeiras/brinquedo, e as dinâmicas. Entretanto, uma questão ficou muito clara: se fosse deixado à escolha dos alunos, as atividades escolares seriam as brincadeiras, pois receberam a maioria das escolhas como atividades a serem incluídas na escola. Isto nos faz acreditar que brincar pode significar aprender com alegria, e parece uma boa solução para a escola propiciar ao aluno o encontro com o conhecimento, de forma prazerosa e divertida. 209 Os professores, ao expressarem que “os alunos sempre querem brincar”, demonstram acreditar que a brincadeira é algo que se contrapõe a querer aprender. Diante disso, pode-se pensar que, havendo brincadeira, qualquer dia é o preferido. Mas, apesar de saberem disso, o brincar, o jogo são pouco usados, segundo os dados obtidos. Vigotsky afirma que as maiores aquisições de uma criança, no sentido de sua evolução mental, são conseguidas na brincadeira, e isto não está sendo levado em conta pelas escolas observadas. A brincadeira é também uma forma da criança aliviar suas tensões quando está diante de um desejo que não pode ser satisfeito. Apela, então, para o seu imaginário, o mundo ilusório, criando um “eu fictício” que lhe permite desempenhar o “seu papel” no jogo da vida e, por aproximação, fazer o que deseja, de outra forma, ou se submeter às circunstâncias indesejadas, tentando entendê-las. A motivação impulsiona o sujeito a agir mental e fisicamente e os professores mostraram que percebem quando seus alunos estão motivados. Disseram que há participação na aula, a sala fica mais ativa e, o que é mais interessante, os alunos também sentem assim. A motivação para ir/estar na escola/esforçar-se, também mostrou a necessidade dos alunos de serem bem aceitos no grupo, de terem prestígio no grupo, e sucesso na vida escolar. Os alunos, objeto de nosso estudo, consideram que a ajuda por parte do professor, em atividades que estão executando, se constitui numa forma de motivá-los (querem acertar, aprender), mas os professores consideram-na um indicador de que os alunos estão desmotivados, pois a motivação está restrita à sua proposta de trabalho e consideram esta ajuda prestada ao aluno como, e apenas como, uma intervenção necessária para o controle da desatenção de alguns, portanto como instrumento de controle da disciplina da classe. Buscam dessa forma evitar que os atentos/motivados sejam prejudicados, e não como estratégia de motivação. 210 Nérici afirma que os professores consideram motivação somente a motivação inicial e isto fica evidenciado aqui. Seria desejável que os professores reconhecessem que a motivação é um processo e não apenas um momento e deve permear todas as etapas da aula. Isto foi reconhecido por apenas um professor, como já foi dito anteriormente. Se a motivação fosse de tal forma eficaz que dirigisse o comportamento do sujeito sem possibilidade de recuo, teríamos na verdade, não pessoas, mas robots, pois ficariam de tal forma envolvidos que não conseguiriam escapar da motivação. A leitura da obra de Bloom mostra uma questão interessante. Ao apresentar as categorias tipificadas para se propor objetivos afetivos, este autor considera a atenção como o momento inicial para que o processo se desenrole e alcance outras etapas. Da atenção, passa-se ao colhimento, ao estímulo que aciona a percepção. Esta vai decidir sobre o tolerar ou desviar a atenção, passando para a fase seguinte, a atenção controlada ou seletiva, quando o sujeito se permite ser atraído pelo motivo. Permitir ou não a atenção se constitui num escudo contra qualquer investida para a dominação numa relação, e dessa forma, impede que se crie a submissão, pois ela está sempre alerta para o entorno, dando pistas para o sujeito se proteger, se cuidar, apresentando reação imediata quando se percebe em perigo. A atenção permite, pois, ao indivíduo, estar sempre em estado de alerta. Para que o sujeito se dedique a uma atividade, então, é necessário que ele chegue ao estado de atenção seletiva, mas sem abandonar o estado inicial (atenção) que, inclusive, permite carrear para o que lhe está interessando naquele momento, tudo o que possa ser aproveitado no contexto, não perdendo o contato com o mundo que o rodeia. O que a escola deve desejar é criar no estudante o interesse pelo estudo, o gosto e, por fim, o hábito de estudo. Os professores da amostra mostraram preocupação e aborrecimento com a desatenção dos alunos mas, em lugar do aborrecimento, de ficarem agastados por 211 seu aluno se “distrair” com outras coisas, deveriam encarar o fato como natural, e procurar outras formas de fazer seus alunos retornarem à atividade proposta. Nos modelos de plano de aula encontrados nos títulos que tratam da Didática, uma das partes do plano refere-se ao recurso incentivador a ser utilizado, em cada fase da aula. Portanto, os incentivos, desde que articulados aos motivos, são importantes em todas as fase da aprendizagem e não apenas no momento inicial. É necessário o reforço, no decorrer de todo o processo. As respostas dos alunos, negando a possibilidade de interferência do comportamento do colega desatento sobre o seu interesse pessoal na aula, permite pensar que, se o aluno está motivado e quer participar da aula, não se deixa influenciar e reclama com os colegas, mesmo reconhecendo que eles só atendem ao professor. Os professores mostraram saber quando seus alunos estão desmotivados, pois estes apresentam certos indicadores, como: conversam entre si, fazem outra coisa, se agitam, ficam desligados e, na convivência com eles, sabem se os seus alunos necessitam de muita estimulação ou pouca para se dedicarem às atividades propostas. Há, portanto, perfeita consciência e a maioria disse que está sempre disposta a intervir para reconduzir os alunos às atividades planejadas, utilizando como estratégia de motivação, brincadeiras, recreação livre, principalmente. Os professores, dessa forma, demonstram saber que, mesmo motivados, se o ambiente não for favorável, por muito tempo, a motivação dos alunos tenderá a desaparecer e o seu interesse passará para outra atividade qualquer. Poucos declararam utilizar de ações disciplinares, seja a censura direta (carão), ou ameaçando chamar/chamando os pais, entretanto observamos que há censura. Em nossas observações constatamos que, em cada classe, há sempre um ou outro aluno que fica desatento, distraído/distraindo tentando carrear a atenção dos colegas sobre si. Os autores que se dedicam ao estudo da construção da consciência moral pelo sujeito, entre eles La Taille (1996), Ulisses Araújo (1999), alertam professores e demais pessoas responsáveis pela educação de crianças e jovens para o fato de que seus educandos não devem ser 212 submetidos a vexames, ou passar por situações em que possam se sentir ridicularizados, pois sofrem muito com isto e transtornos na área do comportamento moral podem ocorrer na formação de sua personalidade. A vergonha sentida pela avaliação pessoal diante do não cumprimento de uma regra, de um compromisso assumido, ou porque sua ação deixou a desejar (na avaliação pelo aluno), pode trazer resultados positivos, se e somente se utilizada com cautela. Para Piaget, a coação, as relações de respeito unilateral (do adulto sobre a criança), não levam o sujeito a ser consciente de suas ações, pois estas são as ações da moral heterônoma e o que se busca como formação, é a moral da autonomia. Os autores têm razão de aconselhar a não utilização de censuras e o abuso dos elogios, pois os resultados não são desejáveis. Observamos que os alunos, ao perceberem que o colega tem dificuldade para realizar as atividades ou se encontram desatentos, se aproximam destes colegas aconselhando, incentivando, explicando o dever, demonstrando solidariedade, ou pela satisfação de poder ajudar,. Os alunos mostraram gostar de ser prestativos, de colaborar com o colega, e nos parece, esta, uma forma de testarem o que sabiam e também uma forma de todos os outros ficarem sabendo quem são, pois o que ajuda é sabido. Um dos professores disse que estabeleceu o sistema de tutela - anjo da guarda, em que o aluno mais aplicado ensina ao colega com mais dificuldade. Ele ajuda e é recompensado pelo prestígio alcançado diante da classe – o ser considerado bom aluno. Neste estudo ficou constatado o valor dos acertos como motivação/incentivo para continuar estudando, se esforçando para aprender, e no nosso entender, este é um recurso natural a ser utilizado sempre. 213 Os professores parecem ter consciência deste fato, pois os nossos entrevistados disseram que respeitam o nível dos alunos ao elaborar as questões de avaliação, permitindo, dessa forma, o acerto. Mas houve quem dissesse que coloca, às vezes, uma questão difícil com o objetivo de desafiar. Consideramos que enfrentar um desafio é positivo, mas não em situação de prova, pois o resultado, provavelmente, será o medo de errar, a decepção por não acertar, a sensação de se sentir traído pelo professor por entenderem os alunos que esta atitude revela o desejo de que não acertem, ou ainda, insegurança no que conhecem, sentimentos que, com certeza, não motivam mas, sim, provocam o desejo de fuga ou desagrado. O que concluí deste fato é que os professores, por não saberem bem como usar a motivação, o fazem sem base, por tentativa e erro. O saber escolar, para os alunos entrevistados, serve para torná-los educados, sabidos, não passar vergonha, (a vergonha de não saber) e foi deixado claro, também, o desejo de gozar de prestígio e consideração no grupo, como já foi dito. Assim, qualquer situação que puser em risco seu prestígio social, afetará a predisposição do aluno de se envolver com aquela atividade. Maslow, ao apresentar a Hierarquia das Necessidades Básicas, coloca como uma das categorias a Necessidade de Prestígio e Consideração, portanto será um incentivo, às avessas, criar constrangimentos, medo de errar. O objetivo das atividades de aprendizagem deverá ser criar condições de acerto que predisponham/motivem os alunos positivamente para o estudo, já que ficarão, no dizer deles, confiantes, satisfeitos, felizes de poder receber elogio e tirar boas notas, passar de ano. Segundo os professores da amostra, os alunos, ao acertarem, pedem mais dever, ficam alegres, alardeiam que acertaram – indicativo de que vão ter sucesso pessoal e alcançarão seu objetivo final – ser aprovado pelo professor, agradar ao professor. 214 Os alunos também mostraram perceber quando os elogios não são merecidos, principalmente quando exagerados. O elogio deve vir acompanhado de confirmação por parte dos colegas, familiares, pois, do contrário, podem pensar que é só para lhes agradar ou então, que não há correspondência com seus êxitos, e assim os alunos ficam desconfiados de que possa ser criada uma situação embaraçosa junto ao grupo e até de inveja, sendo chamados, pejorativamente, de queridinhos da professora, portanto, apesar de gostarem de elogios, estão também atentos ao julgamento dos colegas. Assim, observamos que os alunos, ao desenvolverem as atividades propostas, esperam recompensas justas. Segundo disseram, sentem-se motivados ao esforço para acertar e capricham, mas disseram também que o professor apenas dá nota, indicativo de que esperavam mais alguma coisa. Demonstraram também ter consciência de suas qualidades pessoais e assim fazer por merecer, porque são espertos, educados. Mas, apenas um professor se mostrou atento a esta questão, pois afirmou que fica procurando um motivo para elogiar e sabe que esta é a forma de motivar os alunos: ficam alegres, contentes por terem acertado. Verificamos que a auto-estima dos alunos fica tão alta, quando elogiados, que sentem-se orgulhosos, vaidosos. Mas, repetimos, alguns deles (7,5%), declararam ter medo de causar inveja, pois reconhecem a importância de serem considerados sabidos; isto dá status e compromete – a partir daí precisam manter este padrão para ganhar notoriedade – manter a sua imagem de bom aluno e ter o que eles reconhecem como “sucesso”. Depreende-se que eles sabem que ter sucesso e ser querido nem sempre andam juntos. Pelas respostas que foram obtidas durante a entrevista, verifica-se que consideram que o sucesso do aluno depende mais do desempenho escolar; e que ser querido é outra coisa. Para serem queridos cultivam as qualidades pessoais afetivas: mantêm um tratamento cordial com os colegas e procuram fazer amizade, não usam de arrogância, não maltratam os colegas. Para eles, o querer bem fica evidente pelo comportamento do colega para com eles e se traduz em tratamento carinhoso, solidariedade e reconhecimento das suas 215 qualidades como pessoa. Portanto, ser querido motiva, é importante, e por isso mesmo é cultivado, é buscado pelo aluno, mas não tanto pelos professores, que se mostraram desatentos a este fator significativo de motivação. Um clima agradável na classe, segundo a amostra, também motiva o vir à escola, pois ajuda a criar uma relação positiva que permite manter uma auto-imagem favorável. Percebemos que este ambiente faz com que os alunos gostem de sua classe, sintam-se à vontade com os colegas, percebam-se numa convivência em cumplicidade – tudo que ocorre na classe, de uma certa forma, pertence a todos – principalmente a imagem da classe como um todo. Disseram que é prazeroso pertencer a uma classe, a um grupo positivamente prestigioso, principalmente por ser considerada uma classe onde os seus membros são tidos como bons alunos, animados, estudiosos, amigos. O tipo de aluno que cada um procura ser diante da classe mostra que buscam ser agradáveis para serem queridos. Caracterizam-se como alegres, conversadores, discretos, ativos. Outra questão abordada no nosso estudo, foi a preferência do aluno por determinada matéria, que foi explicitada e justificada pelo aluno com a expressão prefiro porque aprendo com facilidade, seja a Matemática ou Português, que tiveram a maioria das escolhas. Esta circunstância atende igualmente à construção/manutenção da autoestima de que fala Piaget, conforme já foi dito em outro momento, mas que também se aplica aqui: sucesso na aprendizagem motiva a aprendizagem. Se, por outro lado, tomarmos as razões do desagrado do aluno por determinada aula, constataremos que o critério de escolha é o fato do aluno ter dificuldade de aprender ou ter insucesso. Há, portanto, correlação positiva entre o que agrada motiva e o insucesso que desagrada - desmotiva o aluno para o estudo, para aprender. Outra questão se referiu ao fato do aluno ter ou não livre expressão em sala, isto é, se é permitido falar e agir livremente. Estar motivado, segundo estes alunos, é querer fazer algo, portanto, fazer o que pensam e sentem é fator de satisfação, motiva e 216 impele o sujeito à ação, pois este é o seu desejo que, entretanto, pelos dados obtidos está sendo contrariado, ou no mínimo, não aproveitado pelos professores. Os alunos, em vários momentos, disseram que o professor é o termômetro para se assegurarem de que tudo na classe, inclusive o que está ocorrendo com o aluno, pode ser considerado positivo – têm confiança e querem bem a ele. Verificamos também que os professores gozam de prestígio e são agradados pelos alunos, através de bilhetes, expressões carinhosas, que se não comparecem, por algum motivo, os alunos sentem falta e fazem tudo para satisfazê-los Os professores demonstraram ter consciência deste fato, o que significa que se assumem como fator de motivação dos alunos, mas não cultivam expressões de reciprocidade. Alguns dos professores, nas reminiscências do seu tempo de escola, lembraram da atenção recebida da parte de seus professores, das brincadeiras que faziam. Entretanto, a maioria dos professores também lembrou dos seus ex-professores como aqueles que impunham castigos, punições e que isto os apavorava, mas reconhecem que isto era fruto da época, quando, tradicionalmente, aos professores era permitido castigar, por extensão ao que era praticado em casa. Os professores afirmaram também, na entrevista, que permitem/propiciam ser querido pelo aluno. Isto motiva os alunos, pois aprendem sem medo, os anima para estudar e faz com que eles permaneçam na sala. A motivação, ao ser trabalhada de forma competente, se transforma num aliado, num elemento indispensável para o professor desenvolver as atividades junto aos alunos, merecendo tanta atenção quanto os próprios conteúdos a serem propostos. 217 Fig. 7 – Sala de Aula (4). Ref.: Revista Veja, out.99 p. 88/89 218 7. CONCLUSÕES A teoria do desenvolvimento operatório da inteligência, talvez a parte mais difundida dos trabalhos de Piaget, é o elo entre o estudo das formas biológicas e o estudo das formas do pensamento. A continuidade entre ambos é assegurada pela ação, através da qual o organismo humano entra em contato com os objetos externos ao sujeito e, por este fato, permite conhecê-los (sujeito aprendente). Ficou constatado que há funções constantes e comuns em todas as idades, durante todo o processo de desenvolvimento, que explicam as motivações gerais da conduta e do pensamento. O sujeito age todo o tempo; logo, toda ação supõe sempre um interesse que a desencadeia e este interesse surge em decorrência de uma necessidade fisiológica, afetiva ou intelectual. Retomando o estudo de Maslow, que trata especificamente das necessidades humanas, vamos encontrá-las organizadas numa síntese esquemática, na forma de pirâmide, que ele chamou de Hierarquia das Necessidades Básicas. As categorias assim dispostas permitem focalizar as necessidades humanas, de um modo geral, segundo certos critérios. Este quadro, já apresentado anteriormente, aqui citamos para fortalecer nossa explanação. Piaget, ao explicar a relação entre interesse e necessidade, afirma que, embora haja aspectos constantes no comportamento, é preciso distinguir as estruturas invariantes, porque presentes em todos os sujeitos, como potência, e as variáveis, formas de organização da atividade mental em/de cada sujeito, enquanto movimento, pensamento ou sentimento. Qualquer destas instâncias, seja no domínio cognitivo, afetivo ou psicomotor, expressa a ação que vai atender a uma necessidade, impulsionada por um motivo. Assim, pode-se concluir que há o interesse ( função comum a todas as idades) e há interesses variados que atendem às necessidades que, pela variedade, se organizam em categorias, segundo um atendimento preponderante, hierarquizado, que contempla as necessidades de falta (motivação por deficiência) e as necessidades de crescimento (motivação de crescimento). As primeiras, por corresponderem às necessidades vitais, exercem certa preponderância sobre as demais. 219 220 O interesse, segundo Piaget (1973,p.38), é o prolongamento das necessidades. Assim, um objeto torna-se interessante na medida em que corresponde a uma necessidade e é incorporado à vida psíquica do sujeito, vindo a se constituir em algo significativo. Esta circunstância explica a relação que se estabelece quando o objeto se incorpora ao “eu”, passando a ser “inter-esse”. Nesta perspectiva, podemos estabelecer convergência entre a aprendizagem escolar (motivação extrínseca), que visa à apropriação do saber pelo sujeito em atividade em sala de aula e a possibilidade de transformar este comportamento – estudar – em objeto de desejo (querer estudar), quando se incorpora ao “eu” e como “inter-esse” vem a se constituir numa necessidade ( motivação interna). O conceito de motivação, segundo Pêpe (1995, p.123), expressa esta situação que aqui caracterizamos: “Motivação é um processo que relaciona necessidade, ambiente e objeto e que predispõe o organismo para a ação, em busca da satisfação da necessidade”. Para Piaget, o interesse implica em um sistema de valores, pois o número de interesses apelativos sobre o sujeito é muito grande, e é preciso criar critérios de prioridade para o atendimento/encaminhamento das ações que serão desencadeadas pelo sujeito. Por esta breve síntese, preâmbulo para a apresentação de nossas conclusões, queremos mais uma vez deixar claro que a motivação é um processo sumamente complexo e significativo ao processo ensino – aprendizagem, e o tema, segundo os professores entrevistados, foi tratado de forma superficial, tanto na época de sua formação como profissional do Magistério, quanto nos cursos de atualização, enquanto participantes, na qualidade de integrantes do Quadro de Professores do Estado. Pode-se concluir, então, que este tema, pelo fato de ter sido sempre pouco aprofundado, e pouco conhecido pelo professor, fato que se constitui em elemento dificultador para o reconhecimento de sua importância e busca de aprofundamento desta temática (pelo professor ), fica restrito a certos suportes insipientes, certas estratégias ( música, algumas dinâmicas, brincadeiras), que são utilizadas pelos 221 docentes da amostra, mais como recreação do que para, consciente ou inconscien-temente, motivar seus alunos para o estudo. Talvez esta situação tenha origem na falsa idéia de que motivar é fácil, todos sabem o que agrada, e é só aplicar uma estratégia qualquer e pronto. Por isso não há interesse, reconhecimento da necessidade de aprofundar o conhecimento do professor sobre o assunto. Este equívoco impossibilita estabelecer a convergência entre a teoria e a prática sobre a temática da motivação, pela própria dificuldade de se apresentar/ reapresentar o processo motivacional e mais especificamente o processo motivacional em sala de aula. Os dados nos autorizam a deduzir que motivar é ação que vem se restringindo ao professor realizar, na prática, o que conhece superficialmente na teoria, e as ações planejadas para motivar os alunos em classe são sempre pontuais, voltadas apenas para aleatórios momentos da aula. Ora, o que dizem os entendidos é que as ações têm origem no momento em que uma necessidade precisa ser atendida (manifestação de desequilíbrio), e a ação finda quando há a satisfação dessa necessidade (volta ao estado de equilíbrio). Como, a cada instante, a ação é desequilibrada pelas transformações que ocorrem no mundo exterior/interior do aluno, e se a intenção do professor é carrear a atenção deste para executar determinada atividade, é necessário intervir sempre que a situação merecer, isto é, quando a atenção seletiva do aluno for desviada por outro interesse e a motivação para estudar perde a força. Apesar de reconhecermos que, no cotidiano, é difícil para o professor realizar uma análise acurada do seu trabalho em classe, pois se trata da avaliação crítica do seu próprio trabalho, é o sujeito profissional que está em ação e aqui reforçamos a idéia de que a questão ética precisa ser resguardada; portanto, para manter o interesse do aluno no processo de aprendizagem, é necessário estar atento, analisando a relação que o aluno estabelece com o objeto a ser aprendido e estimulá-lo a prosseguir aprendendo com e sobre o objeto, mesmo que esta seja uma tarefa laboriosa. 222 Nesse aspecto, algumas recomendações, ao final deste trabalho, farão parte da nossa contribuição, à partir deste estudo. A concepção popular de que a teoria, na prática, é outra coisa, tudo indica, faz com que os professores se desinteressem da sua formação teórica, recebida nos cursos de formação, equívoco este que os leva a ignorar que a teoria permite ampliar as concepções sobre o processo educacional, oferecendo suporte para uma ação prática mais adequada. Estas falsas premissas levam-no a uma ação conseqüentemente equivocada, trazendo, como resultado, ensino de baixa qualidade e alunos desmotivados para estudar. No caso da motivação, que é o que estamos analisando, fica claro que os professores separam as atividades de estudo dos seus alunos, das atividades desencadeantes do processo motivacional como dois momentos distintos da aula. Ao emitirem seus conceitos sobre motivação, por exemplo, ficou constatado que foram construídos segundo as expressões de interesse do aluno, mas quando perguntados, eles não sabem dizer o que pensam seus alunos a respeito da motivação. Logo, o que prevalece, é o que o professor pensa que motiva seus alunos, e não o interesse efetivo destes. Talvez a explicação para que isto ocorra se deva ao fato de que a definição de incentivação seja mais difundida e mesmo desvinculada do conceito de motivação. E, segundo os teóricos, este é o ponto crucial quando se deseja um processo ensino-aprendizagem eficaz. As ações dos professores, no que se refere à motivação do aluno, ao que tudo indica, são estabelecidas empiricamente, fruto das suas experiências do que um dia viveram ou que vivenciam no dia-a-dia, o que nos leva a afirmar que a sua formação escolar em nada beneficia este profissional - o professor – no que diz respeito à motivação. A novidade, por exemplo, desperta o interesse não só dos alunos, mas de qualquer pessoa e iniciar a aula com uma novidade é um bom começo e está sendo explorado, apenas, por um professor, para motivar. Permite que o aluno avalie o que viveu/observou, recebendo o feedback dos colegas do seu grupo, e isto é válido. 223 Este professor declarou que inicia sua aula perguntando “Qual a novidade hoje?”, mas e depois? Como ele continua para manter o clima de interesse aproveitando-se da situação para conduzir o assunto para o objetivo de sua aula? Isto foi relatado, mas não constatado na observação, em classe. O que observamos é que as atividades em classe são estanques. É como se estivesse, cada uma delas, guardada atrás de uma porta e o acesso a uma das atividades dependeria de fechar a porta anterior, e assim sucessivamente. É preciso, durante a aula, ir reforçando a atitude favorável, que tem duração restrita, pois é normal a atenção do aluno ser desviada pela presença de outros estímulos que, se forem considerados de valor maior pelo aluno, este deixará a atividade inicial e se dedicará ao que surgiu depois, por julgar mais interessante. Os professores não fazem, mas demonstraram saber que é preciso sair da rotina, declararam isto usando a expressão: é preciso inovar; eles sabem também que toda atividade pode ser arrumada, organizada de outra forma e que esta novidade vai motivar; conhecem o rol extenso de tipos de atividades que pode se constituir em motivador da preferência dos alunos e ser considerado por eles eficaz. Segundo pudemos acompanhar em nossas observações, as inovações são pouco utilizadas e as atividades vão acontecendo à mercê da sorte, Supomos que o professor, no íntimo, tem medo de enfrentar o “novo”, apenas por ser novo e/ou mais laborioso. Prefere repetir o que pensa estar dando “certo”, pois é o que ele sabe/deve usar e, o que é pior, se acomoda, considerando que é mais fácil fazer o rotineiro. Por outro lado, verificamos que o quadro de giz, complemento da comunicação oral, muito prático e o mais utilizado, foi pouco citado. Esta circunstância nos faz pensar que o quadro de giz é tão comum e quase único recurso, que consideraram desnecessário citá-lo e em nossas observações vimos que foi constantemente utilizado, tanto pelos professores como pelos alunos, aliás, como único recurso. A conversa informal, considerada a melhor solução para resolver os problemas de desinteresse dos alunos, é também usada como prática social, e não como recurso de motivação e desconfiamos que a sua aplicação em sala se deve ao fato de dar 224 certo no dia-a-dia e não por conhecimento de causa, isto é, devido ao que a formação teórica, profissional do professor, pode oferecer de subsídio para decidir-se por este caminho. O professor, preponderantemente, prende a atenção do aluno pelo discurso, pelo que diz ao aluno, e com isto ele acha que pode retomar-lhe a atenção e predispô-lo à atividade que não atraía, mas que o professor quer que seja feita pelo aluno. Apesar de querer assim, apenas através do discurso, o professor não consegue atrair, pois o percebemos cheio de repreensões para com o aluno, o que fará com que se sinta culpado, envergonhado e aceite o que está sendo dito, o que lhe foi proposto. É preciso que se entenda que o sentimento da vergonha, (La Taille, 1996), nasce da consciência de estar exposto ou de se supor observado pelo outro. Isto cria o sentimento de constrangimento, por se saber diante de um olhar crítico que pode provocar o rebaixamento do aluno junto aos pares/grupo e chegar à desonra ou até à humilhação. O medo da vergonha é uma forte MOTIVAÇÃO para a busca de uma boa imagem, mas, repetimos mais uma vez, o uso indiscriminado deste expediente é desastroso. Na apresentação do texto, O julgamento moral da criança ( Piaget,1977), tanto Freud quanto Piaget concordam que, inicialmente, a criança obedece pelo medo de perder o amor dos pais ou o medo de passar vergonha perante os olhos da pessoa que lhe tem afeição. Quando não obedece, cria um sentimento de culpa, pelo controle interno dos seus atos -olho da consciência- sentindo vergonha sozinho, ou vergonha de si mesmo, consigo mesmo. Esta situação já provoca, por si só, muito sofrimento. Se acrescida e realimentada pelo olho do outro (colegas/professores), que exerce controle externo sobre seu comportamento, haverá uma tal sobrecarga afetiva negativa que poderá provocar, em contra-partida, a fuga da situação, e com isto, o professor poderá perder o respeito deste alunos submetidos a esta situação vexatória ou levar ao desinteresse pelo trabalho, temporária ou permanentemente. 225 O que é possível de se extrair desse fato constatado é que a intervenção do professor, positiva/negativa é também um recurso de motivação, mas não é isto o que pensam os professores. A motivação, aquela planejada de forma antecipada, está restrita à proposta para desenvolver determinada atividade. Assim, quando o aluno não domina o assunto e não consegue executar a atividade, a intervenção do professor para ensinar não é considerada, por eles (professores), como recurso de motivação. O que mais mostrou incomodar os professores da amostra foi o comportamento desmotivado dos alunos, apesar de representar a minoria da classe. Isto nos faz crer que, na verdade, o que desagrada o professor é precisar intervir, de forma não planejada, pois só fez a previsão da incentivação/motivação inicial, quando muito. Ao afirmar que alguns alunos são fogo de palha, isto se constitui em um indício de que a motivação precisa ser realimentada. Talvez ele desconheça que a duração do estímulo está aliada à intensidade da recepção, que varia de pessoa para pessoa, de acordo com os critérios do sujeito para decidir/encaminhar suas ações. Este conhecimento deveria ter sido garantido no momento de sua formação, mas parece que não foi suficientemente esclarecido Quando o estímulo vai perdendo a força, para alguns professores significa que é o momento de atuar no controle da classe, usando ações disciplinares. Assim, passando do desejo de motivar para o de punir, criando situações vexatórias que geram ressentimentos, predispõem o aluno a não gostar de aprender em situação escolar ou a não gostar de vir à escola. Os professores demonstraram não atentar para o cuidado que se deve ter com a criação de atitudes desfavoráveis ao processo de aprendizagem, pois as ações estão concatenadas, e se apoiam no fato anterior. O que tem significado porque já vivenciado, deve ser utilizado como palpite explicativo e orientar o comportamento necessário atual, estabelecendo-se, assim, uma ligação entre os fatos. O discurso do professor para o aluno com dificuldade no estudo, ou para o aluno, em geral, mostrou estar encaminhado no sentido de lhe lembrar que o seu porvir só será alvissareiro, se estudar e receber avaliação positiva dos seus professores, e nisto, a 226 sociedade acompanha e aplaude, portanto, colabora. O que não fica claro é se o professor fala assim, por convicção, por hábito, ou para satisfazer aos pais. Segundo Piaget, (1998, p.59-89) o desenvolvimento do pensamento da criança se dá lenta e gradualmente e a apropriação consciente do mundo que a rodeia ocorre por uma atitude egocêntrica. Ela não dispõe de esquemas conceituais e de lógica que permitam desencadear os processos mentais sem a presença do concreto do qual ela própria faz parte. Para suprir esta lacuna, o pensamento assume uma tendência lúdica – mistura de realidade e fantasia, que determinará, como conseqüência uma percepção distorcida /desequilibrada da realidade, justamente em função destas limitações. Assim, um comportamento lógico e coerente está preso ao concreto, e só assim será possível diferenciar os objetos externos e o próprio corpo. Snyders (1996), ao comentar o significado de futuro para a criança, lembra que a escola fala muito para os alunos sobre o futuro que os espera. Segundo ele, a função da escola é preparar os alunos para o futuro mas, ao mesmo tempo, é preciso assegurar ao aluno as alegrias presentes para os anos de escolaridade, que são muitos, a que ele chamou de alegrias intermediárias, transformando a preparação para o futuro em um estímulo certo no presente. Ele lembra que é próprio do jovem desejar comportar-se como adulto. A escola, a sociedade, ao lembrar que o futuro o espera, transforma em alegria, presente na infância, o desejo de crescer. O mais tarde é a possibilidade da prática profissional e o exercício dos direitos de cidadania.. Enquanto espera o futuro, o infante cria expectativas, projetos, tensões em relação ao desconhecido e a criança/jovem vive a sensação de que existe algo mais do que ela, no presente há uma promessa de algo que será alcançado somente amanhã. Seguindo esta linha de pensamento, pode-se dizer que a satisfação atual é aspirar aos futuros êxitos. Comentando à respeito, Snyders afirma que a preparação para o futuro e a alegria no presente são funções complementares. Entretanto, quando o 227 sujeito sente falta de alegria pelo fato de não ter motivos de satisfação com as coisas e experiências vividas hoje, pode ocorrer o sentimento de desesperança no futuro. A criança precisa gostar de sua idade, de desfrutar o seu presente, para não se reduzir, ela mesma, a um período preparatório do desenvolvimento humano. Ser criança não é etapa, é uma forma de existir do homem. O perigo da insatisfação com o presente vivido leva o sujeito a buscar refúgio no futuro; mas, se ele não tem motivos para amar o seu presente, se não tem confiança em si mesmo no presente, seu desejo de crescer pode se transformar em fuga para o futuro, ou para fora de si mesmo, da condição de criança. Segundo Snyders, o futuro é meta distante a ser alcançada e não é válido solicitar da criança, sacrificar-se, renunciar à alegria do presente, por conta de um futuro nebuloso. Já existe tristeza por conta da consciência de nossas limitações, mas há possibilidade de alegria quando se “pensa que sempre é possível ir em frente”. Uma reconciliação entre o princípio do prazer e o princípio da realidade pode ocorrer quando o medo de enfrentar a necessidade de desenvolver uma atividade permite vislumbrar a perspectiva de gozar do prazer da obra realizada. Assim, é atendido o princípio de realidade, com prazer. O futuro, como ficou evidenciado em nossas observações e respostas obtidas nos formulários de alunos e professores, é sempre colocado como ameaça, que leva fatalmente ao medo de enfrentar este futuro, as situações desconhecidas. Ficou evidenciado, na análise dos dados, que a preferência do professor por determinadas matérias/assunto, faz com que ele se utilize de recursos motivadores que, juntando-se ao próprio entusiasmo do professor, motivam significativamente o aluno para a aprendizagem. Cada vez fica mais claro que o professor desempenha importante papel no processo ensino-aprendizagem, confirmando a posição de Piaget que ressalta a importância da presença do professor junto ao aluno na relação pedagógica, pela possibilidade de incentivação e de cooperação intelectual, através da discussão entre iguais, pois, apesar de existir o respeito do aluno pelo professor (criança-adulto), quando esta relação é calcada num sistema em que prevalece a relação autoridade - submissão, a reciprocidade intelectual torna-se inviável. 228 Além disso, alguns dos professores consultados declararam perceber que o fato deles não gostarem de determinado assunto/matéria, influi negativamente no aluno, que também passa a não gostar. Também ficou evidente que a utilização de material concreto ou que permita a expressão pessoal, ou seja, fazer perguntas/responder, pesquisar/ apresentar trabalho, concretizar pelo desenho os fatos, os sentimentos, aparece em destaque como motivador eficaz. Este recurso que deveria ser adotado, de preferência, e ajudaria o professor, inclusive por não ter afinidade com o assunto a ser tratado, não desperta nele o empenho de utilização. Não se pode esperar resultados positivos se as ações são mal planejadas, pois nenhuma incentivação é proposta, sequer ao ser iniciada a atividade. Segundo Minicucci (1986), há a motivação inicial e a motivação de desenvolvimento (incentivação) quando empregada durante o transcurso da aula, que deve aproveitar todos os incidentes para reavivar-se, conservando a participação da classe nos trabalhos da aula. Para tal, deve-se tentar atender a um maior número possível de necessidades, que ele denomina de fontes de motivação e que correspondem às necessidades básicas que Maslow reuniu na sua Pirâmide das Necessidades Básicas. A incentivação será, então, mais poderosa, à medida em que atenda a um maior número de necessidades básicas, e o professor terá mais sucesso no seu trabalho junto aos alunos quando descobrir quais os pontos que devem ser tocados para conseguir carrear para as atividades em classe, a motivação intrínseca da qual nem o próprio aluno tem consciência. Mais do que qualquer outra, a matéria História depende muito do professor gostar, se afinar com o assunto tratado, para apresentá-lo de maneira significativa, prazerosa. Evidentemente, isto nem sempre acontece, inclusive nos dados recolhidos aparece esta situação, concretamente: alguns dos professores declararam não gostar da matéria História (Tabela 25, pg.115). Além disso, dentre outras questões, é preciso contar com o fato do professor também ter suas limitações e pelo que pudemos observar, acrescido do que pudemos ler nos autores, são muitas as limitações: má formação escolar; pouca motivação; salários muito baixos e conseqüentemente, 229 poucas condições de comprar livros e revistas especializadas, bem como de participar de cursos para melhorar seu desempenho profissional e também ter acesso a outros avanços culturais e sociais de nossa época. Constatamos que o professor não pode freqüentar teatro e outros programas culturais, por falta de recursos, e isso está aliado à falta de disponibilidade de tempo para o lazer, que se restringe às programações da televisão aos domingos e feriados, cuja importância social e cultural é questionada. Retornando à questão que vínhamos apresentando, o professor deve ser alertado para a dificuldade da criança entender e assimilar o passado não vivido, que é inerente ao seu processo de desenvolvimento e crescimento que precisa ser cumprido para alcançar novas etapas, com maior competência e discernimento, mas não é isto o que ocorre. O que se mostrou como preocupação dos professores da amostra, foram as técnicas mais adequadas para se alcançar os objetivos do ensino da História, e estes são objetivos cognitivos e nada mais. Conta-se, portanto, com a memorização dos fatos e nada mais. Se o aluno não tiver condições de decorar o que leu, não terá sucesso nessa atividade de estudo e portanto, ficará desmotivado. Outra questão que desejamos assinalar é o tratamento equivocado quando se trata do fracasso nas tarefas escolares, isto é, o aluno não consegue acertar nenhum exercício proposto. Diante do insucesso, certos professores da amostra preferem concluir que certos alunos não têm base e esquecem o problema, abandonam o aluno à própria sorte, pois não sabem o que fazer. Concordamos que o fato de o aluno não acertar, desorganiza o professor, que não encontra, para este aluno, o caminho para fazê-lo aprender/acertar. E, por vezes, o obstáculo é que o assunto depende de pré-requisitos que nem sempre ele, professor, demonstrava estar bem certo de quais eram, como tivemos oportunidade de apresentar nos resultados das observações e entrevistas com professores e alunos – amostras do nosso estudo. Para atender a estes alunos que apresentam dificuldade de fazer as tarefas, demandaria que o professor fizesse um estudo e respectivo planejamento especial, 230 mas os professores não pareciam conseguir estabelecer e realizar procedimentos de planejamento para a classe e planejamento para alguns alunos que pareciam ter chegado àquela classe com o nível de escolaridade incompatível com a série. Assim, os alunos, não sendo atendidos, vinham perdendo a pouca vontade de estudar/aprender. Um dos professores disse, inclusive, que há alunos que haviam chegado à 4ª série sem dominar a leitura e isto atrapalhava muito, pois não entendem o que lêem, mas também não disseram o que faziam, nem o que deve ser feito para mudar este quadro. Provavelmente se o aluno chegou à 4ª série é porque os professores fecharam os olhos e deixaram o fato correr sem controle. Quanto mais demorar para adotar-se uma intervenção segura, pior será a situação desse aluno, para não dizer que a solução que resta é deixar a escola, pois esta não vai ajudá-lo em nada. Confirmando o que dissemos, presenciamos em sala uma situação de jogo que funcionou como reforço para os que já conheciam a tabuada, mas os que não sabiam, nada aprenderam naquela atividade, e se sentiram literalmente derrotados e insatisfeitos, pois não acertaram e receberam a censura da equipe a que pertenciam, sendo diminuídos junto aos e pelos colegas. O momento de avaliação, de saber se os alunos aprenderam/não aprenderam, sabem/não sabem, faz parte do momento de aprendizagem e deve nortear toda a atividade escolar. Quando se busca fazer o aluno aprender com satisfação, é preciso que o objetivo maior realmente seja levá-lo a aprender e não à avaliação seletiva. Esta, infelizmente, nos pareceu ser a maior preocupação dos professores. Ficou evidente que este momento da avaliação é um dos momentos mais delicados do processo ensino-aprendizagem, é a hora da correção, para se saber quem aprendeu e quem não aprendeu. As críticas sempre apareciam, nestes casos, seja por palavras ou pelas expressões fisionômicas dos professores, incontroláveis, veladas/camufladas, ou diretas, que ameaçavam a auto-estima dos alunos. As avaliações que presenciamos, podemos dizer, foram punitivas. Raramente a avaliação foi utilizada para retomar o processo de aprendizagem. Este é um ponto que precisa ser muito refletido. Observamos que, em classe, o que é destacado, das mais variadas formas, é que o aluno deve sempre acertar. Reforçando nosso ponto 231 de vista, apenas um dos alunos disse que “para aprender pode errar” quando perguntamos como ele se sentia numa situação de erro. Podemos concluir, então, que o aluno que apresenta dificuldade para realizar um exercício, provavelmente não vai acertar quando mandado ao quadro de giz e por isso não deve ser exposto para que todos tomem conhecimento de que ele não sabe. É possível que fique envergonhado diante da classe por ser julgado negativamente pelos outros, percebendo-se diante do olhar crítico, não só do professor, mas dos colegas, como aconteceu. Isto sucedendo, a motivação para estudar, se não desaparece, no mínimo, não vai ficar fortalecida, portanto, não se constitui numa boa estratégia para ser usada, como vimos acontecer. Segundo Piaget, a prática da “cola” é explicada por uma reação defensiva do aluno ao sistema educacional, onde as notas baixas são a punição pela falta de conhecimento, portanto, falta de estudo, de querer estudar. Assim, o insucesso, que é desmotivador, é considerado como culpa do aluno e este, então, procura defender-se “colando”, pois não consegue aprender e não pode errar. Talvez isto explique também a euforia dos alunos quando acertam, e é legítimo concluirmos que o aluno se sente aliviado quando consegue escapar da crítica perversa, que o faz sentir-se diminuído, envergonhado, quando erra, e a “cola” permite que ele escape. O que se deve buscar, no nosso entender, é criar condições tais, que acertar seja conseqüência natural do processo ensino-aprendizagem, e, então, poder seguir em frente, para outra etapa, para saber mais e melhor. Os alunos que sabiam, que dominavam o assunto, ficavam sempre dispostos a resolver outros exercícios similares. Permaneciam no quadro inventando novos exercícios, como pudemos presenciar. Pena que foram poucas as ocasiões em que pudemos presenciar esta atividade prazerosa dos alunos. Na maioria das vezes foi a decepção de não acertar e corrigir ligeiro para viver a ilusão de que acertaram ou poder dizer que acertaram e dessa forma, fugir da crítica. 232 Um equívoco comum que, inclusive, foi desvelado na análise dos dados, é aquele de que o professor, embora declarando respeitar o nível do aluno, apresenta, na avaliação, uma situação complicada que chama de desafio, para levar o aluno a raciocinar, mas que ao aluno é desmotivador, pois parece uma armadilha, como presenciamos em sala de aula. O professor, sem aviso, exigiu do aluno a análise de uma palavra que se constituía numa exceção à regra, portanto, um complicador para quem está iniciando uma aprendizagem sobre determinado assunto, como era o caso dos alunos da amostra. É preciso reconhecer que a proposta de determinados exercícios, com certeza, irá funcionar como dificultador, quando o nível exigido supera as possibilidade do aluno, por não ter atingido o grau de desenvolvimento e/ou conhecimento requerido pela tarefa, portanto, não será possível utilizá-lo como ponto de apoio para atingir outras etapas mais complexas do conhecimento. Entretanto, os professores não se mostraram atentos a este fato. Acrescente-se a isto que o esforço excessivo despendido quebra a resistência do aluno que, esgotado, perde o entusiasmo e a motivação para estudar. Piaget afirma que, atentar para os interesses e para a estrutura mental do aluno, são condições indispensáveis quando se pensa em oferecer possibilidades de independência, isto é, permitir que o aluno, ao se sentir capaz de realizar as tarefas, tome a iniciativa de fazê-lo, de forma independente da presença do professor ao seu lado, estimulando, ajudando, explicando. Quando o professor é muito procurado pelo aluno, que não se arrisca a executar sozinho as atividades, embora sabendo fazer, é um indicador de insegurança que precisa ser trabalhado através do reforço ao sucesso, isto é, por acertar com freqüência. Os professores são e serão sempre o ponto de apoio do aluno, a motivação para o aluno crescer e se superar. Mas parece que o professor não quer acreditar nisso, pois se tal se confirmar, a conseqüência é mais trabalho, menos tempo disponível para respirar um pouco. O expediente de aproveitar os alunos mais adiantados da sala para acompanhar/ensinar aos mais fracos, no caso da amostra, não ajudou muito, pois 233 alunos-colegas foram tidos como iguais e qualquer alteração nesta relação, recebida com desconfiança. Os dados obtidos em nossos questionamentos aos professores e alunos mostram que o elogio não faz parte da rotina escolar, apesar do elogio ser considerado pelos autores como promotor de satisfação/motivação, principalmente quando correspon-de ao que de louvável tenha sido praticado pelos alunos e que possa ser percebido por eles como merecido. Apesar de parecer, marcadamente, um pensamento behaviorista, Moscovici afirma que o comportamento que é reforçado por recompensa, tende a ser repetido e permanece, mas é preciso que se acrescente que se faz necessário que o reforço corresponda ao desejável, do ponto de vista do aprendiz. Entretanto, no caso que estamos analisando, o professor realmente demonstrou desconhecer o que/porque motiva seus alunos. O que se quer, afinal, é que o aluno goste e queira seguir estudando e sinta satisfação em fazê-lo. Por esta razão, a prática da motivação deve ser um compromisso do professor com o aluno, indispensável, fazendo parte de sua prática no cotidiano da sala de aula. É necessário fazer, do aprender, motivo de satisfação. O clima sócio-afetivo das classes estudadas, provavelmente será garantido e a relação professor – aluno, que já é considerada de boa qualidade, segundo os resultados obtidos, será reforçada pela satisfação do aluno em se saber bom estudante, competente na situação escolar. Estamos nos referindo a uma motivação permanente e variada, que reafirme o aprender como motivo de satisfação. Por declarações explícitas dos alunos, de afeto, pudemos constatar que os professores são queridos. Felizmente, observamos que foi deixado na parede interna da escola e no quadro de giz, um coração com os dizeres a professora.... é legal ou, eu amo a professora Y... Este clima favorece um ambiente agradável na classe, uma relação positiva entre os alunos e professores, o que provavelmente explica porque disseram sentir falta da escola, dos colegas, como consta da Tabela 69, pag.194. Concluímos, assim, que impera um ambiente de camaradagem, solida-riedade, de cumplicidade, de ajuda entre os alunos das classes estudadas. 234 Os resultados oferecidos pelos nossos estudos revelaram que, embora não com o objetivo e a constância desejados, os jogos e os recursos ilustrativos foram considerados, além de mais adequados, também os mais utilizados por eles, embora de forma insipiente e não sistemática e , mais ainda, disseram os professores que, se voltassem a estudar, prefeririam que as aulas fossem motivadas por cartazes. Pode-se concluir, então, que os professores sabem que, quando os fatos/coisas a serem estudados podem ser representados (no mínimo por modelos), isso motiva os alunos à aprendizagem e ajuda na compreensão, e, portanto, agrada. Quando os alunos não compreendem imediatamente, isto os incomoda, pois traz a sensação de que são incapazes como diz Piaget (apud Goulart, 1997, p.64), e, portanto, não se motivam, pelo contrário, o assunto/estudo desagrada. Entretanto, os professores se mostraram atentos a adotar sempre estes cuidados de concretização do assunto, motivando os alunos, chamando-lhes a atenção para o objeto (concreto) de estudo. Os nossos estudos mostraram que, naquelas classes, a brincadeira e os jogos, quando utilizados, não levam a criança a aprender com satisfação. Apresenta-se como um momento de tensão, pois a atividade proposta conduz sempre à possibilidade de avaliação. É preciso, na escola, quando se deseja que a criança aprenda, atentar para o fato de que é preciso partir do nível de desenvolvimento efetivo da criança, mas não para acomodar-se a ele e sim para fazê-la avançar através do espaço de aprendizagem possível a cada momento e os jogos e brincadeiras são as estratégias mais adequadas, pois permitem à criança aprender, brincando (Rappaport, p.163). Rappaport, ao apresentar o modelo piagetiano do desenvolvimento infantil, declara que a criança sempre parte de suas concepções, representações e conhecimentos que ela já construiu e que se constituirão nos instrumentos para se relacionar com as novas situações e chegar a aprendizagens significativas. Para aprender, a criança tem que por em jogo tudo o que sabe e pensa e precisará contar com uma atitude favorável para relacionar o que está aprendendo com o que já sabe. A brincadeira, tanto hoje como ontem, foi sempre apontada como um momento prazeroso. Consideramos que conseguir articular a brincadeira com o estudo em 235 classe, se constitui na melhor possibilidade de encaminhar as aulas num clima produtivo e alegre. Os professores mostraram lembrar de sua época de estudante, do tempo em que freqüentavam os bancos escolares e, em suas reminiscências, disseram que lhes agradavam muito as brincadeiras, (poucas, é verdade), como também a atenção despendida pelo professor a cada um, oferecendo ajuda diante de suas dificuldades/ necessidades. Entretanto, ao que parece, isto não os deixou sensibi- lizados/dispostos/motivados a tentar oferecer aos seus alunos o que lhes foi agradável e/ou desejado e/ou negado. Tudo indica que a lembrança que ficou nos professores é que a relação professoraluno deve estar calcada no peso da autoridade e respeito, unilateral, (do aluno para o professor) caracterizado pela obediência irrestrita e o medo ao castigo. Alguns professores declararam que houve mudança, para melhor, entre o que ocorria no passado e hoje. Mesmo assim observamos que, apesar de algumas brincadeiras, estas são conduzidas de maneira equivocada. Verificamos também que as punições físicas, proibidas, foram substituídas pelas punições morais que ainda, infelizmente, são aplicadas. Mas os professores mostraram que já têm consciência de que, se for criada uma relação de amizade e afeição entre aluno e professor, esta circunstância interfere, positivamente, no plano cognitivo, pois o aluno sabe que o professor ficará feliz se ele souber a lição, se acertar o dever, funcionando, pois, como motivação, por “não querer magoar o professor”, ou querer agradá-lo. Portanto, o afeto motiva, faz o aluno estudar e produzir. Quanto à questão da qualificação do professor para desenvolver seu trabalho utilizando os recursos de motivação, pudemos apreender que o conhecimento sobre o tema requerido foi, e é oferecido de maneira superficial. Para agravar esta situação, em nossas leituras constatamos que os textos a respeito da motivação têm a finalidade de conceituar/definir, mas não de explicar facilitando/permitindo um trabalho prático, como é o caso do trabalho do professor. Ao professor cabe, usando estas teorias, aplicá-las, mas não é fácil fazer, ele mesmo, a convergência teoriaprática , com a pouca formação que tem. 236 Temos ainda que considerar que, em situação escolar, não se tem por objetivo modelar o comportamento do aluno, mas orientá-lo para compreender o momento que está vivendo, o mundo que o cerca, propiciando a participação nos avanços da ciência e da tecnologia, bem como o viver em grupo, participando de um núcleo de estudo, de aprendizagem. As atividades escolares são sociais e devem motivar o aluno a entender (vivenciando) que possui uma vida pessoal e grupal que se interpenetram favorecendo atingir, prazerosamente, a plenitude do seu desenvolvimento físico, intelectual e psico-social. A proposta do grupo liderado por Bloom para o planejamento de ensino, em que estão previstos objetivos que consideram os aspectos afetivos, aqui citados, e que têm referência com o tema que estamos tratando, apresenta significativa categorização, destacando competências que vão sendo atingidas à medida que o sujeito desenvolve os processos mentais superiores. Cada uma delas foi caracterizada minuciosamente, no plano teórico, mas as explicações são dadas de forma sucinta, não favorecendo ao leitor familiarizar-se com a técnica proposta. O que questionamos é onde o professor vai encontrar respostas às suas indagações sobre como atender aos aspectos afetivos do processo de aprendizagem quando for aplicar na prática docente. No nosso entender, só é possível trabalhar usando os subsídios teóricos propostos, conscientemente, quando o próprio professor puder atingir um nível de competência tal, que encontre nos princípios teóricos justificativa para a sua utilização, na prática. Consideramos ser necessário facilitar aos professores o contacto com as questões teóricas, como é o caso da motivação, com a convergência necessária entre a prática docente e a teoria, e dessa forma ele, professor, poderá atingir a competência requerida para a aplicação deste conhecimento, em sua sala de aula. Caso contrário, a discussão do tema permanecerá no plano teórico e a prática manter-se-á com base no conhecimento do tipo senso comum, adquirido na própria prática, sem a necessária reflexão, requerida para uma ação consciente. Nas nossas análises e observações, foi possível também concluir que a motivação, processo que faz o sujeito agir, tem origem em múltiplos motivos, e isto é muito 237 positivo, pois serão, então, vários os canais que poderão ser acionados para provocar o sujeito. Os didatas distinguem, como já citamos anteriormente, a incentivação da motivação. Utilizam-se do termo motivação para se referirem à mobilização do indivíduo para atender às necessidade imperiosas que a vida diária suscita. O termo incentivação refere-se à parte de uma ação planejada pelo professor e que integra o plano de aula. Este termo fica, pois, reduzido ao estímulo inicial. Mas entendemos que o estímulo inicial é apenas o desencadeador do processo motivacional. A motivação, devendo ser realimentada durante todo o processo de ensino aprendizagem, no sentido de manter o aluno motivado, não deixará que a mobilização inicial venha a perder a força de atração. Os demais motivos que poderão ser acionados , tanto pelo próprio sujeito como pelo professor, irão fortalecer a ação iniciada pela incentivação. Esta circunstância lembra que o motivo não tem influência eterna. Ele precisa ser reforçado/substituído, pois uma necessidade que precisa ser atendida, pode ter origem em múltiplos motivos, os quais, muitas vezes, nem o próprio indivíduo reconhece naquele momento. Só após refletir sobre o assunto ele poderia concluir sobre o porquê do seu comportamento direcionado para alcançar determinado objetivo. A presença do professor, portanto, interferindo no momento adequado, é de fundamental importância para manter o processo motivacional e, dessa forma, permite que o processo ensino – aprendizagem ocorra num clima de intensa participação dos alunos, sem lamentações, queixas da parte daqueles que não conseguem controlar sua atenção seletiva e se deixam levar pelas provocações de que o ambiente, aliado à sua fértil imaginação, estão repletos. Nosso trabalho procurou mostrar a necessidade de se cuidar melhor da temática da MOTIVAÇÃO, tanto no período de formação do professor, como no planejamento das atividades de aprendizagem dos alunos, em que a ênfase, inclusive a avaliação, visaria motivar o sujeito à aprendizagem, realizada de forma agradável, pois estaria atendendo a motivos, interesses, necessidades dos alunos. 238 A motivação é a chave do interesse pelo saber. Assim, um processo motivacional, tendo como suporte o conhecimento dos motivos que levam os alunos a gostar/não gostar de estudar, acreditamos, levaria à tão desejada aprendizagem prazerosa e a uma atitude positiva para com o estudo, promovendo a harmonia entre o princípio da realidade e o princípio do prazer, que historicamente foram separados, mas que acreditamos, podem e devem ser (re)unidos. 239 8. RECOMENDAÇÕES AOS PROFESSORES O processo ensino aprendizagem, em situação escolar, é discutido sob vários prismas. Na linha behaviorista, a conduta humana é explicada pelo esquema S – R permitindo concluir sobre o “conhecimento como efeito do ato cognitivo”, isto porquê O conhecimento seria o acúmulo de condutas estáveis, resultante de um jogo de inter – relações E – R, sobre o qual se pode intervir diretamente e à vontade. (Lajontierre, 1992) Aceitar este ponto de vista, significa posicionar-se à favor da crença de que há algo capaz de facilitar, tanto quanto de oferecer resistência à aprendizagem e que se interpõe entre o ensino e o resultado obtido que estaria à serviço da verdade/do desejo, uma força misteriosa contra a qual não haveria como resistir. Esta crença tem trazido para os pedagogos a falsa ilusão de que a montagem de estratégias de ensino, por si só seria a garantia de aprendizagem para o aluno. Tal postura é reconhecida como positivismo pedagógico que aceita o fato de que saber é poder, ou seja conhecendo as leis da aprendizagem, o pedagogo detém o poder de calcular os efeitos dos métodos que coloca em ação e tem sido amplamente utilizado para justificar certas análises sobre o processo ensino – aprendizagem em situação escolar, considerando o aluno um escravo obediente e previsível.( Lajontierre, 1992, p.15). Além dessa circunstância, que pode obscurecer o real, uma outra questão tem recebido uma interpretação equivocada, e diz respeito à própria ciência, suas possibilidades e limites. A Ciência tem por finalidade deslindar os fenômenos, sejam biológicos, psicológicos, sociais ou psicossociais, e organizá-los de forma que possam ficar disponíveis, utilizando métodos, técnicas e outros procedimentos científicos permitindo que se possa penetrar profundamente à respeito dele. Este tipo de saber é denominado conhecimento científico. O conhecimento científico sobre determinado fenômeno, não significa dominar o fenômeno, ou ter a posse das soluções sobre todos os problemas a ele afetos. A 240 aplicação da ciência demanda estudos voltados para a prática, e isto é denominado tecnologia. No caso da educação, quando se trata do processo ensino – aprendizagem, a metodologia, tem normatizado certos procedimentos que vêm sendo estudados pela Didática. Estes têm sofrido a influência da postura positivista que referimos, e trazido, como conseqüência, muitos equívocos. A motivação é um precioso aliado do professor, entretanto, considerar que o resultado de um processo de intervenção é caso pacífico, isto é, a resposta é sempre positiva com relação ao esperado, é um lamentável equívoco. Quando se trata da Motivação, deve-se encarar o resultado como uma possibilidade e não como uma certeza. Os nossos estudos nos encaminharam para a compreensão de que há múltiplas fontes de motivação, e o professor escolhe uma delas para iniciar a atividade, se constituindo em ponto de apoio para fazer convergir a atenção dos alunos para o que se pretende desenvolver. Pela categorização proposta por Maslow, percebe-se que certos incentivos podem fazer vir à tona necessidades de várias ordens, isto é, um mesmo incentivo pode provocar, ao mesmo tempo, várias necessidades em indivíduos diferentes. Pode-se dizer, então, que este incentivo tem mais força que outros, dependendo da ocasião em que foi utilizado. A experiência que se ganha na análise da forma de condução dos trabalhos em classe ultrapassa as condições oferecidas pela leitura de textos, pois estes não criam registros de modelos de aula motivada. E é este tipo de participação que pode significar subsídio para a solução das situações que fogem à possibilidade de planejamento. Estas, por estarem afeitas às condições em sala de aula, não permitem planejamento, a priori. É necessário que o professor prepare e tenha sempre à mão, um conjunto de estratégias de utilização imediata. É necessário que as situações no dia-a-dia sejam objeto de análise. Preparar profissionais atentos para as questões cruciais sobre o tema motivação, aos quais 241 serão oferecidas condições de comprovar, na prática, o valor da intervenção do professor, que visa a motivação do aluno, para fazê-lo se predispor a aprender, acreditamos, alcançará o efeito desejado. Nosso estudo objetivou, além de discutir a temática da motivação na situação de sala de aula, abrir perspectivas para a discussão da prática. Mais uma vez, registramos a necessidade de encontrar, em todas a ocasiões possíveis, abordagem da temática motivação com alunos e professores, seja na ocasião do curso de formação, quando se deverá encaminhar o estudo sobre o assunto fugindo a superficialidade, ou seja, tratando do processo motivacional com empenho e discutindo-o nas várias áreas do currículo, como também criando condições de aprofundamento na e pela ação na prática da sala de aula, operacionalizada no exercício de oficinas, nos cursos oferecidos aos professores . Lembrar, em todas as ocasiões que, mais que aprender um assunto, é preciso transformar esta situação num momento de prazer para que a atitude desejável de gosto pelo estudo se instale e garanta a continuidade do desejo pelo saber após os bancos escolares, pois o sucesso profissional exige atualização e aperfeiçoamento constantes. A motivação é um processo constante em nossas vidas, pois as necessidades estão a nos provocar e precisam ser satisfeitas. É, portanto, óbvio que a motivação esteja em todos os momentos do processo ensino – aprendizagem. É necessário criar um clima favorável a aprendizagem, que ofereça satisfação, pois o aluno, dessa forma, encontrará prazer na ação, onde o erro será apenas um indicador da necessidade de um retorno à ação, e não uma punição. Onde a camaradagem se consubstancia na atenção dispensada ao aluno, atendendo às suas dúvidas, propiciando brincadeiras entremeadas aos momentos de concentração, pois a palavra “mágica” será motivação... motivação... motivação... garantia de alunos interessados em aprender e professores gratificados pelo esforço despendido na proposta de intervenção, garantindo-se aos dois parceiros a 242 harmonia entre trabalho e prazer, portanto, (re)conciliando o princípio da realidade e o princípio do prazer. 243 9 – ANEXOS Quando, neste documento, foi tratado os procedimentos da coleta de dados, ficou claro que esta coleta foi obtida através de técnicas padronizadas: entrevista por formulário aplicados aos professores e alunos das 4as. Séries do Ensino Fundamental em Ilhéus, e a observação direta nas classes dos sujeitos da amostra. Os formulários forneceram as informações que, após tratamento estatístico e organizadas através de categorias sugeridas pelas respostas dadas pelos entrevistados, permitiu a elaboração e apresentação das tabelas que foram analisadas no capítulo 5 (Análise dos dados). A Ficha de Observação orientou nossa atenção para as ocorrências em classe, isto é, enquanto o processo ensino-aprendizagem era desenvolvido e as relações estabelecidas entre alunos-professores/alunos-alunos. Estas vieram a confirmar ou não as afirmações de professores e alunos nos formulários e fortalecer as análise empreendidas. Os instrumentos foram os seguintes: Anexo 1 – Formulário para o aluno Anexo 2 – Formulário para o professor Anexo 3 – Ficha de observação 244 ANEXO 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC MESTRADO EM EDUCAÇÃO FORMULÁRIO PARA ALUNO 1 – Você já ouviu alguém falar sobre motivação? você acha que uma pessoa, quando diz que está a fim de alguma coisa, ela está motivada? Por exemplo: Fulano não está nem um pouco motivado para estudar para a prova, ou fulano está muito motivado para jogar futebol? Como você explicaria o que é motivação? 2 – Você vem para a escola motivado, isto é, você está a fim de vir? Cite 3 razões que lhe levam a freqüentar a escola. 3 – Qual o dia da semana que você vem para a escola com mais vontade? Qual dos assuntos deste dia que você presta mais atenção? Por que? 4 – Acontece com você de, num certo momento, não estar a fim de fazer alguma coisa e depois acabar gostando de fazer? Dê um exemplo. 5 –Quando você está sem vontade, não está a fim de prestar atenção na aula ou fazer algum dever o que a sua professora costuma fazer que o deixa com vontade de prestar atenção na aula? Cite 3 coisas que ela já fez para ajudá-lo a ficar motivado, isto é, a ficar a fim de estudar este semestre. 6 – Você acha que a maioria dos seus colegas está interessado ou desinteressado pelas aulas? Como é que você sabe disso? 7 – Um colega pode fazer os outros ficarem a fim da aula? Como se faz isso? Dá resultado? 8 - Quando um colega está sem vontade de estudar, você também se desinteressa? 9- O que você quer ser quando crescer? 10 – É importante saber das coisas que são dadas na escola? Por que? 245 11 – Qual a matéria ou assunto que você procura saber mais? Por que? 12 – Em que momento da aula você acha que está mais a fim? Por que? 13 - Quando você tem uma tarefa nova para resolver, ou que você nunca fez, você tenta encontrar um caminho para solucionar ou prefere esperar as dicas do professor ou dos seus colegas? Por que? 14 - Quando você acerta o dever, você fica mais a fim para continuar estudando? Por que ? 15 – Você tem medo de errar? Por que ? 16 – Quando você não acerta o dever, o que acontece? Procura o professor para tirar a dúvida, usa outros expedientes, ou desiste? 17 a - Você costuma ser elogiado na escola? Por quê ? 17 b – Você gosta de ser elogiado? 18 – Você acha que tem sucesso na escola? Dê um exemplo. 19 a – Você se sente querido na escola : - pelos colegas sim não sim não - Por quê? 19 b - - pelos professores - Por quê? 20 – Neste semestre, qual foi a aula que você mais gostou? Por que? 21 – Neste semestre, qual foi a aula que você menos gostou? Por que? 22 - Você gosta de sua classe? Por que? 246 23 – Na sala de aula você se considera: calado/comunicativo alegre/triste preguiçoso/ativo atento/desatento obediente/atrevido Por que? 24 – Você gostaria de não precisar vir mais à escola? Por que? 25 – O que você iria fazer se não precisasse mais vir à escola? 26 - O que você faz no fim de semana que gostaria de fazer também na escola? Dados pessoais: Idade......................... Sexo......................... Repetente na série.......................(mesmo professor)................... Mesma escola...............................outra escola............................. Repetente em outras séries............................. 247 ANEXO 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA – UFBA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ – UESC MESTRADO EM EDUCAÇÃO FORMULÁRIO PARA OS PROFESSORES 1 a - Na sua opinião, o que é motivação? 1 b - Você conhece algum termo ou expressão que os alunos utilizam para dizer que estão motivados ou não estão motivados? 2 - Você costuma consultar algum autor para saber qual a melhor forma de motivar seus alunos? Qual? 3 - Quando você está planejando suas aulas, em que momento você pensa ser necessário motivar seus alunos? Porquê? 4 - Cite 3 estratégias que você já verificou serem eficazes para motivar seus alunos. 5 a - Todos os alunos reagem da mesma forma às estratégias de motivação que você utiliza? Indique que evidências você utiliza para saber se seus alunos estão motivados. 5 b - Como você percebe que eles estão desmotivados ? 6 - Como você classificaria a disposição dos seus alunos para aprender? Precisam ser: (opções: menos da metade – metade – mais da metade) - muito estimulados - pouco estimulados - não precisam ser estimulados - não conseguem se motivar - são “fogo de palha” 7 - O que você faz quando percebe que eles estão desmotivados? 248 8 - Que matéria é mais fácil para motivar seus alunos? Por que? 9 - Há alguma matéria que não precisa motivar para eles se interessarem? 10 - Em que matéria você usa mais recursos motivadores? Por que? 11 - Quais os recursos que você mais utiliza? Por que? 12 – Em algum dia da semana seus alunos ficam mais motivados? Por que? Quais as matérias que você ensina neste dia? 13 - Neste semestre, qual foi a aula que eles mais gostaram? Como você sabe que eles gostaram? As notas, foram melhores? 14 - Neste semestre, qual foi a aula que eles menos gostaram? Por que? 15 – Você acha que seus alunos têm medo de errar? Como você chegou a esta conclusão? 16 - Quando os alunos “acertam” os deveres em classe, você acha que eles ficam mais motivados para continuar as atividades? Por quê? 17 - Qual a reação mais característica dos seus alunos quando eles acertam ou erram o dever? 18 – O que você costuma fazer quando corrige o dever, elogia ou só coloca certo ou errado? Por que? 19 - Os exercícios que você passa para seus alunos, oferecem oportunidade de acerto? 20 - Os alunos costumam procurá–lo quando estão com dificuldade para acertar o dever? 21 - Seus alunos demonstram alegria durante as aulas? Como você chegou a esta conclusão? 22 - Você acha que seus alunos se dão bem: a - com você? Por que? b - entre eles? Por que? 249 23 - Cite pelo menos 3 fatores que motivariam as aulas, caso você voltasse a ser aluno? 24 - O que seus professores faziam para motivar os alunos? 25 - Do que você mais gostava? 26 - Quando você fez estágio, de que recursos motivadores você se utilizou? Por que? 27 - Hoje você continua se utilizando destes recursos? Por que? 28 - Você acha que o aluno gosta de você? é importante para a aprendizagem? Por que? 29 - Você estava a fim de responder a este formulário? 30 - No curso de capacitação que você freqüentou ultimamente, foi tratado o tema motivação? 31 - Estar a fim é sinônimo de estar motivado ? 32 - Seus alunos falam sobre suas aspirações de futuro? O que a maioria deseja ser quando crescer? 250 DADOS PESSOAIS: 1-Escolaridade 1.1- Curso de habilitação para o magistério de 1ª a 4ª série............. - Outro curso de ensino médio....................... - Data conclusão..................... 1.2-Curso superior: completo ......................incompleto......................... -Habilitação...............................................Última série concluída.......... -Data conclusão....................... -Outro curso superior:..................................... Área .................................... Completo................... Data da conclusão......................... Incompleto.............. Última série concluída ........... 1.3- Curso de capacitação: (Nome e data do último curso) .................................................................. 2- Experiência profissional 2.1- Exclusivamente no magistério........................................ 2.2- Em outras áreas.........Quais?................................................. 3- Tempo de serviço 3.1.- Experiência no magistério..................................... - Exclusivamente em regência de classe................................. - Em atividades técnico-pedagógicas................................... - Em atividades administrativas................................... 4- Anos de regência de classe na 4ª série................... 4.1.Se pudesse escolher, trocaria para qual série?..............Por quê? .................................................................................................................................... 4.2. Não daria mais aula............Por quê? ..................................................... 251 5- Situação funcional 5.1- Forma de ingresso na carreira - Concurso público......................................... - Contrato....................................... - Retorno após aposentadoria........................................ - Outra situação............................ 5.2- Carga horária semanal de regência de classe - Nesta escola ............................... - Em outra(s) escola(s)........................................... Questões: 1- Você sempre foi professor? sim Quando começou? ........................ não O que fazia antes? ........................ 2- O que o motivou a ser professor? 3- O que o motiva a continuar a ser professor? 252 ANEXO 3 UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHÍA UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ MESTRADO EM EDUCAÇÃO FICHA DE OBSERVAÇÃO Acolhimento Sensibilização – Presta atenção Prof. Chama a atenção – aluno dirige a atenção Olha mas não permanece atento Olha e permanece atento Perguntado verbaliza Perguntado não lembra Estabelece relação com o que já conhece Disposição para receber – Presta cuidadosa atenção Aceita receber a informação (participa) Ausência de rejeição para realizar a atividade Gosta - Indiferente – Desgosta Atenção seletiva – Interpreta corretamente Localiza Lembra fatos semelhantes Dá continuidade (avança) Precisa de ajuda para ser lembrado Resposta – Obedece regras estabelecidas Se submete sem contestar Se compromete com a atividade 253 Aquiescência na resposta – Disposição de participar com os outros Completa tarefas de casa Obedece normas escolares (uso do bebedouro sanitário, cuida do seu material/ da escola, estacionamento ) Fila/respeito aos sinais Volta do recreio Tenta agradar Participação – Pouco entusiasmo Discute Faz só Devaneia Faz coisa diferente Responde somente quando continuamente lembrado Executa com desleixo Não executa Faz para não ser punido Procura por si mesmo ( faz coleções, joga papel no lixo, abre/ fecha a porta, cuida do seu material) Assume responsabilidade (dá recado, apaga quadro de giz, recolhe material) Coopera com o grupo Conserva-se quieto Contribui com informações ( traz revistas, materiais elucidativos) Faz perguntas pertinentes 254 10- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALLPORT apud PENNA , Antonio G. Motivação. Aprendizagem e Motivação. Rio de Janeiro: Zahar. Petrópolis: RJ, VOZES, 1998, p. 125-178. BAHIA. Secretaria da Educação. Classes Aceleradas. Proposta Pedagógica Salvador, 1998. BALDUIN, apud GOULART, Iris B. Piaget – Experiências Básicas para utilização pelo professor. 12. ed. Petrópolis: Rio de Janeiro: Vozes.1997.148p. BERGAMINI, Cecília W. Motivação. 3. ed. São Paulo: Atlas; 1991. 139p. ________ PENNA , Antonio G. Motivação. Aprendizagem e Motivação. Rio de Janeiro: Zahar. Petrópolis: RJ, VOZES, 1998, p. 125-178. BIRCH, David & VEROFF, Joseph apud BERGAMINI, CECÍLIA W. PENNA , Antonio G. Motivação. Aprendizagem e Motivação. Rio de Janeiro: Zahar. Petrópolis: RJ, VOZES, 1998, p. 125-178. BLOOM, Benjamin S. e colaboradores. Taxionomia dos objetivos educacionais. 2 V. Porto Alegre: Globo. 1972 (179p.) e 1974 (203p.). BREARLEY, Molly; HITCHFIELD, Elizabeth. Guia Prático para entender Piaget. São Paulo: IBRASA, 1973. 205p. BROWN & WEISS apud WADSWORTH, Barry J. 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