UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO ROSYLÉA CIBELE COSTA INTERMAÇÃO – REVISÃO DE LITERATURA CURITIBA – PR 2009 ROSYLÉA CIBELE COSTA INTERMAÇÃO – REVISÃO DE LITERATURA Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA), Departamento de Ciências Animais para obtenção do título de especialista em Clínica Médica de Pequenos Animais. Orientadora: Porfª. M.Sc. Valéria Natascha Teixeira. CURITIBA – PR 2009 AGRADECIMENTOS A Deus, onipotente, salvador, que sem ele nada poderia fazer ou ser. Aos meus filhos amados Johann, Alfred, Guilherme e Letícia que ficaram sem minha presença por uns dias. Ao meu amado esposo Márcio, que me apoiou em todos os momentos. Aos professores e colegas, aos quais me acrescentaram conhecimentos e esclareceram minhas dúvidas. E a minha amada orientadora que foi e é maravilhosa, vitaminada e poderosa. E a todos animais. “Um animal por mais que seja feroz, não tem a maldade de um homem, desejaria ele ter a inocência de um leão. Desejaria ele ter a doçura de um coelho, a lealdade de um cão, a paz de um pássaro ou pelo menos a capacidade de todos os animais de usufruir da natureza sem destruí-la!!!” Autor desconhecido RESUMO O presente trabalho tem como objetivo descrever o processo da intermação, quando ocorre e de que forma afeta tanto os humanos quanto os animais. Analisando os fatores que predispõem à intermação, os quais incluem falta de aclimatização, privação hídrica, alta umidade do ar, e confinamento em ambientes sem ventilação que expõem os animais – cães e gatos, podendo também ocorrer pela prática de exercícios físicos extenuantes em dias de calor. Demonstrar de que maneira a mesma afeta o organismo dos animais, quais os mecanismos de defesa que o corpo encontra para tentar a reversão desse estado. Após a demonstração das causas e as condições em que a intermação ocorre, apresentar todos os sintomas que a intermação provoca e as conseqüências que podem ocasionar. Finalizando serão apresentados os procedimentos necessários para que se inicie o tratamento emergencial e as medidas a fim de se evitar o comprometimento do organismo do animal e com as técnicas apropriadas tais como um resfriamento rápido, reidratação adequada, e tratamento agressivo das complicações, o índice de sobrevivência pode chegar a 90% nos pacientes. Palavras-chave: Hipertermia; Calor; Animais; Resfriamento ABSTRACT The present work aims to describe the process of heat stroke, when it occurs and how it affects both humans and animals. Analyzing the factors that predispose the heat stroke, which include lack of acclimatization, water deprivation, high humidity, and confinement in unventilated environments that expose animals - dogs and cats, but can also occur through the practice of strenuous exercise on hot days. Demonstrate how the same affects the body of animals, which defense mechanism the body uses to try to reverse this state. After the demonstration of the causes and the conditions under which the heat stroke occurs, present all the symptoms that the heat stroke causes and the consequences that can result. Finalizing will be presented the procedures to initiate the emergency treatment and the measures in order to avoid compromising an animal's organism and with the appropriate techniques such as rapid cooling, adequate rehydration, and aggressive treatment of complications, the survival rate can reach 90% in patients. Keywords: Hyperthermia, Heat; Animals; Cooling SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... .......8 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 9 2.1 TERMORREGULAÇÃO ................................................................................................. 9 2.2 INTERMAÇÃO ............................................................................................................. 11 2.3 SINAIS CLÍNICOS ....................................................................................................... 14 2.4 EXAMES LABORATORIAIS ....................................................................................... 16 2.5 TRATAMENTO ............................................................................................................ 17 2.6 PROGNÓSTICO............................................................................................................ 20 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................ 21 REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 22 ANEXO 1 .......................................................................................................................................23 ANEXO 2 .......................................................................................................................................25 ANEXO 3 .......................................................................................................................................27 1 INTRODUÇÃO O “Heat Stroke”, ou intermação, é uma síndrome muito comum na casuística veterinária, principalmente em regiões de clima quente, definida como uma condição hipertérmica que resulta em danos teciduais diretos. Classicamente, o paciente com intermação se apresenta colapsado e extremamente hipertérmico, podendo haver complicações graves, como insuficiência renal aguda (IRA), hepatite, ou arritmias cardíacas (WOLFSHEIMER, 1982). Frequentemente, há uma história de exposição excessiva a calor. A duração da exposição é variável, dependendo das condições ambientais e das condições físicas do animal antes da exposição ao calor. Intermação poderá ocorrer devido a uma taxa metabólica aumentada, como a que ocorre por esforço físico ou hipertermia maligna; pode ocorrer também secundária a outras doenças e à anestesia por halotano. Intermação também poderá ocorrer em pacientes com resposta de resfriamento diminuída devido à depressão ou comprometimento respiratório (obstruções das vias aéreas, doença pulmonar ou cardíaca), ou em condições que exista diminuição da perda de calor por propagação, tais como gordura corporal em excesso ou alta umidade ambiental (PLUNKETT, 2006). 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 TERMORREGULAÇÃO O hipotálamo é o centro da termorregulação dos mamíferos. Os impulsos aferentes são provenientes de receptores cutâneos e sensores hipotalâmicos de temperatura do sangue circulante. Nervos autonômicos atuando sobre os vasos sangüíneos periféricos, glândulas sudoríparas, e o centro respiratório dissipam o calor corporal por condução (contato com um objeto mais frio), radiação (transferência do calor ao ambiente por ondas eletromagnéticas), convecção (dissipação do calor para o ar e vapor d’água mais frios, que passam ao redor do corpo) e evaporação (sudorese e evaporação de saliva). A evaporação ocorre através do suor em humanos, eqüinos, e bovinos, e através do arquejamento em cães. A perda de calor por radiação e convecção ocorre através do aumento da circulação cutânea, o que é conseqüência da vasodilatação periférica e aumento do débito cardíaco (WOLFSHEIMER, 1982). Para humanos, a perda de calor por condução representa 2% da perda de calor do organismo; por convecção, 10%; por radiação, 65%; e por evaporação, 30%. O problema é que, quando a temperatura ambiente supera a corporal, a radiação do calor cessa, e evaporação passa a ser a única forma de perda de calor do organismo; ainda assim, a evaporação apenas funciona bem em ambientes secos, de modo que, se a umidade do ar chegar a 100%, a sudorese não mais é possível, e o corpo perde a capacidade de dissipar calor (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006). A temperatura corpórea média é mantida mediante uma regulação cuidadosa do equilíbrio entre a formação de calor e sua liberação no organismo animal. Na formação do calor, os processos químicos encontram-se em evidência (regulação química da temperatura) - a extensão da oxidação no organismo, cuja a intensidade é regulada principalmente pela tireóide. Na liberação de calor, ao contrário, encontram-se em evidência principalmente os processos físicos (irradiação, condução do calor, evaporação), cuja totalidade é denominada de regulação térmica física. Quando se examina o metabolismo calórico de um organismo, deve-se atentar que a formação e a liberação do calor correm paralelamente (KOLB, 1984). O equilíbrio entre a formação do calor e sua liberação depende de centros reguladores localizados no hipotálamo. Mesmo quando o organismo encontra-se em repouso completo, ocorre uma formação de calor razoável, necessária à uma manutenção dos processos metabólicos vitais. A quantidade de calor gerado em estado de repouso depende da temperatura ambiente. Quando a temperatura cai acentuadamente, a liberação de calor ultrapassa a formação de calor, de modo a diminuir a temperatura retal (hipotermia). Quando a temperatura ambiente ultrapassa o valor limite máximo da zona térmica neutra, aumenta a formação de calor do animal, já que, com o aumento da temperatura corpórea, as reações bioquímicas se aceleram. Sob condições fisiológicas, a formação de calor e sua entrada para o organismo animal, assim como a liberação de calor, se mantêm em equilíbrio, sendo que a temperatura corpórea oscila somente dentro de um limite muito pequeno (KOLB, 1984). Na liberação de energia térmica pelo animal participam os processos de irradiação de calor, condução do calor por meio dos movimentos musculares, a perda de calor através da convecção, perda de calor pela evaporação da água pela pele, ou, então, pelas vias respiratória (KOLB, 1984). No hipotálamo existem centros para a regulação da formação e liberação de calor pelo corpo do animal. O funcionamento destes centros possui muitas inter-relações. O centro para regulação da formação e manutenção do calor corpóreo recebe informações principalmente dos receptores de frio da pele e do hipotálamo. O processo é o seguinte: a secreção de tireoliberina, que regula a síntese do TSH ou da tiroxina e tiriiodotironina; a ação do frio estimula a secreção dos hormônios citados e, com isto, aumenta a combustão de substâncias nutritivas (formação de calor); a irrigação da pele que, com baixa temperatura do ar ou da superfície de repouso, assim como quando da tendência de queda de temperatura sanguínea, pode ser reduzida abaixo dos limites fisiológicos; a secreção de adrenalina e noradrenalina aumenta, principalmente a combustão de substâncias nutritivas nas mitocôndrias do tecido adiposo; o aumento do tônus da musculatura esquelética que leva, finalmente ao “tremor de frio”. Ao centro de regulação da liberação de calor chegam principalmente informações dos receptores de calor da pele e do hipotálamo (KOLB, 1984). Um aumento de temperatura ambiente, ou então do sangue acima de um determinado valor, leva as seguintes reações de adaptação: a formação de suor aumenta; a atividade respiratória e, com isto, a evaporação de água através de órgãos respiratórios aumentam; as arteríolas cutâneas se dilatam e, consequentemente, aumentam a liberação de calor através da pele. Quando a umidade do ar é alta, um aumento de temperatura acima de 28ºC leva a um aumento lento e progressivo da temperatura corpórea do cão. Isto acarreta uma respiração mais rápida e superficial (resfolegar) (KOLB, 1984). Quando a temperatura corpórea atinge valores acima de 42ºC ocorrem distúrbios de funcionamento do sistema nervoso; no gato, a temperatura corpórea aumenta quando a temperatura do ar estiver acima de 30ºC. A freqüência respiratória e a evaporação do ar através da respiração aumentam. Quando a umidade do ar é alta, acima de 35ºC é dificilmente suportada (KOLB, 1984). 2.2 INTERMAÇÃO O aumento do estresse térmico ou do calor corporal pode resultar do aumento da temperatura ambiente ou do metabolismo. A aclimatização ao calor e ao trabalho é o processo de adaptação que permite aos animais tolerar o estresse calórico. Este processo se completa parcialmente em dez a vinte dias, mas uma aclimatização completa pode requerer até dois meses (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). A intermação é uma grave elevação na temperatura corpórea (40,5 a 43ºC), que ocorre após a exposição a altas temperaturas, considerada uma forma de hipertermia não pirogênica (quando os mecanismos de dissipação de calor do corpo não conseguem acomodar um calor excessivo) É causada quando os animais são confinados em automóveis, quartos fechados e não arejados, gaiolas de secador de tosa, mantidos fora de casa em dias quentes sem proteção adequada (MURTAUGH, 2007). O processo de aclimatização envolve aumento da sudorese, maior diluição do suor, aumento da eficiência cardiovascular, ativação do eixo renina- angiotensinaaldosterona, preservação do sal com expansão do volume plasmático (o que resulta no aumento da circulação cutânea, que incrementa a dissipação do calor), aumento da taxa de filtração glomerular, e a habilidade de resistir à rhabdomiólise (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). A eficiência metabólica é aumentada através de incrementos no glicogênio muscular e nas mitocôndrias. Com isso, há um aumento no metabolismo aeróbico, resultando em maiores quantidades de ATP disponível e menor produção de calor. Se algum destes mecanismos falhar, o resultado é a intermação (WOLFSHEIMER, 1982). A progressão da intermação está relacionada às respostas orgânicas à hipertermia, à toxicidade direta do calor, e à resposta inflamatória (HOPPE, 2006). Uma resposta inflamatória aguda do organismo ocorre em situações de estresse térmico, que leva à produção de diversos mediadores inflamatórios para proteger as células contra danos e reparar as lesões. Estas citocinas e interleucinas mediam a febre, o eixo hipotálamo-pituitária-adrenal, e ativam outros elementos da resposta ao estresse. Acredita-se que as lesões térmicas causem uma resposta exacerbada do organismo, semelhante à sepse. A hipoperfusão esplâncnica devido ao represamento do sangue na periferia pode aumentar a produção de oxigênio reativo e nitrogênio. Estes subprodutos, junto aos mediadores inflamatórios, podem levar ao aumento da permeabilidade intestinal, ocasionando uma endotoxemia. Estes fatores se combinam reduzindo a capacidade de termorregulação do organismo e a sua habilidade de impedir danos, culminando com hipotensão, hipertermia, e intermação (HOPPE, 2006). A insuficiência circulatória se caracteriza pela baixa resistência vascular periférica, devido à vasodilatação. Conhecidamente, as condições cardiovasculares anormais incluem (1) uma condição hiperdinâmica com falência cardíaca por aumento do débito cardíaco, (2) uma condição hipodinâmica associada ao choque cardiogênico, ou (3) hipovolemia decorrente de uma desidratação pré-existente (WOLFSHEIMER, 1982). Os efeitos diretos da hipertermia sobre as reações bioquímicas e células do organismo se devem à desnaturação e inativação de enzimas, desnaturação de membranas celulares, e alterações de ligações químicas. Um efeito secundário ainda é a hipóxia causada pela combinação da insuficiência circulatória e do aumento da demanda metabólica por oxigênio (WOLFSHEIMER, 1982). Praticamente todas as células do organismo respondem às condições de estresse térmico, produzindo proteínas de choque térmico para prolongar a vida celular em temperaturas que, de outra forma, seriam letais. Estas proteínas protegem as células não apenas contra o calor, mas também contra a isquemia, hipóxia, endotoxinas, e citotoxinas inflamatórias (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006). Acredita-se que estas proteínas se liguem às proteínas celulares impedindo que se desnaturem em ambientes quentes (GLAZER, 2005). Algumas condições levam à menor disponibilidade destas proteínas, tais como extremos de idade, falta de aclimatização adequada, e polimorfismos genéticos, predispondo estes indivíduos a injúrias térmicas (HOPPE, 2006). Podem haver diversas lesões hepáticas em decorrência da hipertermia, tais como degeneração hepatocelular e colestase. O sistema reticuloendotelial hepático também pode ser danificado, comprometendo a integridade do sistema imune do paciente, contribuindo possivelmente para a ocorrência de endotoxemia, pelo extravasamento de endotoxinas bacterianas provenientes da mucosa intestinal lesada. A necrose tubular aguda ocorre como resultado direto da hipertermia e da hipóxia. A hipóxia é resultante da redução do fluxo sangüíneo renal, trombose intravascular, e aumento da demanda metabólica. Mioglobinúria por necrose muscular também pode contribuir para a necrose tubular (WOLFSHEIMER, 1982). A hipertermia resulta em degeneração neuronal e necrose no sistema nervoso central, principalmente no cerebelo; o edema cerebral também ocorre com certa freqüência (WOLFSHMEIER, 1982). Danos às células vermelhas do sangue e problemas de coagulação são conseqüências dramáticas da lesão térmica, que reduzem o tempo de sobrevivência de vários pacientes. Alguns mecanismos que possivelmente expliquem a hemorragia são: (1) inativação térmica dos fatores de coagulação, (2) necrose hepática resultando em redução da produção dos fatores de coagulação, (3) destruição térmica das plaquetas, (4) danos ao endotélio vascular com aumento da permeabilidade capilar, (5) aumento de substâncias tromboplásticas, resultando em coagulação intravascular disseminada (CID) e (6) fibrinólise primária (WOLFSHMEIER, 1982). Em humanos, é feita uma diferenciação entre exaustão térmica e intermação, o que não ocorre com os animais (WOLFSHMEIER, 1982). A exaustão térmica, a mais comum doença relacionada ao calor, é uma condição que envolve uma alteração leve a moderada do controle térmico do indivíduo, associada às altas temperaturas e ou exercícios extenuantes, resultando em desidratação e depleção de sal (HOPPE, 2006). Há vários fatores que levam à intermação, tais como exercício excessivo em animais pouco condicionados, infecções que levam à pirexia, e, no caso dos humanos, hipertermia hormonal (hipertireoidismo, crise adisoniana, feocromocitoma). Fatores predisponentes à intermação incluem: falta de aclimatização, privação hídrica, alta umidade do ar, e confinamento em ambientes sem ventilação. Derivados da fenotiazina causam alterações na termorregulação, podendo também predispor a esta síndrome, bem como os anticolinérgicos (que reduzem a sudorese em humanos e grandes animais), e diuréticos (depleção de fluidos e eletrólitos) (WOLFSHEIMER, 1982). Situações ou condições, em dias quentes e úmidos, que podem levar a intermação são: animais deixados do lado de fora de casa, sem proteção, com pouca água; exercícios exagerados nesses dias, mesmo com água é um risco; animais fechados dentro de automóveis; animais muito jovens ou idosos são mais sensíveis a altas temperaturas; animais com problema de saúde, histórico de epilepsia, doença cardíaca ou pulmonar não devem ser expostos a altas temperaturas; animais com focinho curto, como shit tzu, boxer, piquinês, bull dog, e gatos persas tornam a respiração difícil, pela sua face ser plana (BURNETE, 2009). O mecanismo de termorregulação falha se o estresse for grande demais, o que resulta numa hipertermia acelerada, com aumento da expressão das proteínas do choque térmico, uma resposta exagerada de fase aguda, e uma disfunção orgânica generalizada (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006). Animais apresentando intermação geralmente têm históricos de participação em atividades físicas extenuantes, ou confinamento em ambientes muito quentes com ventilação e acesso à água limitados (WOLFSHEIMER, 1982). Estudos com animais demonstraram que a intermação exercional geralmente leva a uma mortalidade maior do que a simples exposição ao calor excessivo (ALZEER, 1997). A anatomia peculiar do trato respiratório superior das raças braquicefálicas dificulta a ventilação, aumentando a predisposição destes indivíduos à prostração pelo calor. A obesidade é também um fator de risco, uma vez que as gorduras ajudam a reter o calor corporal. Doenças cardiovasculares, que prejudicam a circulação periférica e o débito cardíaco, comprometem a dissipação do calor. Por fim, doenças do sistema nervoso central afetando o hipotálamo, ou extremos de idade, podem predispor à intermação (WOLFSHEIMER, 1982). 2.3 SINAIS CLÍNICOS Os sinais clínicos podem variar em função da duração e da gravidade da hipertermia. Aumento da temperatura retal e respiração rápida e superfície excessiva são os sintomas mais evidentes. O tipo de respiração rápida e superficial é importante, pois a pirexia causada por inflamação ou infecção restabelece o mecanismo de termorregulação do hipotálamo e não induz tal tipo de respiração. A maior parte dos animais apresenta membranas mucosas congestas, fraqueza, taquicardia, vômito e diarréia. A corporal geralmente excede a 40,5ºC. A ocorrência de estupor indica que o SNC foi afetado. Podese constatar convulsão ou coma em animais gravemente enfermos. A presença de cianose deve alertar sobre a possibilidade de doença de via respiratória superior ou de obstrução das vias aéreas superioras secundária ao edema de laringe, simultaneamente. A avaliação física de um paciente com suspeita de intermação deve incluir o exame das vias aéreas, respiração, e circulação sangüínea (GLAZER, 2005). Em humanos os sinais também são inespecíficos, e muito parecidos com os dos cães (HOPPE, 2006). Há relatos na literatura de pessoas com temperaturas atingindo até 47ºC (GLAZER, 2005). Se ocorrer a coagulopatia intravascular dissiminada (CID), poder-se-ão observar petéquias, hemoptise, hematêmese e hematoquezia (PLUNKETT, 2006) Os sinais da intermação variam com a intensidade e a duração da hiperpirexia. Temperaturas acima de 43ºC já foram produzidas experimentalmente em cães, para reproduzir os sinais e achados laboratoriais da afecção. Os sinais mais precoces incluem arquejamento, congestão de membranas mucosas, taquicardia, fraqueza, estupor, coma, convulsões, vômitos, diarréia, e sangramentos anormais. Posteriormente se desenvolvem a oligúria, icterícia, hipóxia, e acidose lática (WOLFSHMEIER, 1982). Exames laboratoriais podem ainda confirmar a presença de necrose tubular aguda, coagulopatias, necrose hepatocelular, e lesões em outros sistemas orgânicos (WOLFSHEIMER, 1982). Para humanos, os danos teciduais começam após 45 minutos a 8 horas após a manutenção de uma temperatura corporal de 42ºC ou mais (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006). Em condições normais os cães mantêm a temperatura corporal mesmo com ampla variação da temperatura ambiente. Em respostas ao estresse térmico discreto tem-se um reflexo vasoativo que ocasiona desvio do sangue dos músculos e das vísceras para a periferia, onde subseqüente vasodilatação permite a perda de calor por radiação e convecção. No estresse térmico moderado a respiração rápida e superficial propicia a perda de calor por evaporação, com grande volume de ar se movimenta pela mucosa orofaringe e da língua (MURTAUGH, 2007). Pacientes com exaustão térmica apresentam sinais inespecíficos, como dor de cabeça e náusea (GLAZER, 2005). Esta condição pode evoluir rapidamente para a intermação uma vez que os mecanismos termorregulação do organismo deixam de funcionar adequadamente. A intermação é uma hipertermia extrema, com temperaturas ultrapassando 40ºC em humanos, associada a uma resposta inflamatória sistêmica, que leva a danos teciduais em todos os sistemas orgânicos, envolvendo inclusive o Sistema Nervoso Central (SNC) (HOPPE, 2006). Pacientes com intermação apresentam sinais muito mais sérios, como delírio e coma (GLAZER, 2005). A lesão celular começa a ocorrer em temperaturas corporais acima de 42ºC, quando a liberação do oxigênio não mais pode manter-se equilibrada. Os efeitos lesivos da hipertermia estão basicamente relacionados à atividade metabólica/consumo de oxigênio elevado. Quando o consumo de oxigênio excede o fornecimento, a produção de energia celular não pode atender as necessidades, ocorrendo então a deterioração do funcionamento e integridade celular. Uma hipertermia celular provoca diversas disfunções e insuficiências do organismo: insuficiência renal (hipoglicemia, hiperbilirrubinemia), insuficiência gastrointestinal (descamação epitelial, absorção de endotoxinas, hemorragias), coagulação intravascular disseminada (trombose, sangramento), hipoxemia, acidose metabólica, hipercalemia, insuficiência do miocárdio, citólise de musculatura esquelética, taquicardia e hipotensão, taquipnéia e hiperventilação, e edema cerebral (confusão, delírio, embotamento, convulsões, coma) (HASKINS, 1997). Os efeitos prejudiciais do choque térmico são decorrentes de lesão celular direta e destruição de enzimas. O sistema circulatório torna-se comprometido pela vasodilatação periférica e diminuição da resistência vascular periférica ocorrendo hipovolemia. A hemoconcentração secundária à desidratação pode predispor à aglutinação de hemácias e subseqüentes tromboses (Anexo 2). Ocorre lesão de hemácias que resultam em menor tempo de sobrevivência destas células e hemólise. A depleção dos fatores de coagulação por inativação, resultando em coagulação intravascular disseminada (CID), e pela menor síntese destes fatores em razão a lesão hepática, predispõe à hemorragia. A hemorragia também pode ser decorrente da destruição de plaquetas, do aumento da permeabilidade vascular em razão da lesão endotelial e da CID (Anexo 3). A lesão térmica no sistema nervoso central (SNC) resulta em degeneração e necrose de neurônios. O edema cerebral resultante pode induzir estupor, movimentos de pedalagem, convulsões e coma. Dentre as lesões hepáticas provocadas pela lesão térmica incluem-se destruição hepatocelular, colestase e disfunção do sistema reticuloendotelial hepático (Anexo 1). O comprometimento do sistema imune decorrente do choque térmico predispõe à translocação de bactérias em razão de lesão na mucosa gastrintestinal e, consequentemente, à infecção. A combinação de lesões térmicas diretas, com hipoxia ocasionada pela diminuição do volume circulante e pelo aumento da demanda metabólica por oxigênio predispõe à nefrose tubular renal aguda. A rabdomiólise, com subseqüente mioglobinúria, também é um fator que contribui para a anormalidade (MURTAUGH, 2007). 2.4 EXAMES LABORATORIAIS As informações mínimas a respeito de um paciente com choque térmico incluem hemograma, perfil bioquímico sérico e urinálise. Outros exames úteis envolvem gasometria sanguínea e perfil de coagulação. Aumentos do hematócritos e do teor de proteína total são secundários à hemoconcentração. A hipóxia estimula a liberação de hemácias nucleadas pela medula óssea. Azotemia e proteinúria indicam lesão renal aguda. Necrose hepatocelular e colestase provocam aumento de atividade das enzimas hepáticas, inclusive de alanina aminotransferase e fosfatase alcalina, e do teor de bilirrubina total. Maior atividade de creatina fosfocinase e mioglobinúria sugere rabdomiólise. Distúrbios eletrolíticos, como hipernatremia, são secundários à desidratação. Inicialmente, a alcalose respiratória decorrente de respiração rápida e superficial, bem como de vômitos, pode induzir hipocalemia. Com o desenvolvimento de CID pode ocorrer diminuição da contagem de plaquetas, como o aumento do tempo de protrombina e do tempo de tromboplastina parcial (MURTAUGH, 2007). A avaliação laboratorial deve incluir a hemogasometria, para se determinar com precisão o estado de equilíbrio ácido-básico em que o cão se encontra. As alterações variam desde alcalose respiratória associada ao arquejamento excessivo até acidose metabólica, devido à insuficiência respiratória, hipóxia, e acidose lática (WOLFSHMEIER, 1982). Diversas anomalias podem ser encontradas nos níveis de eletrólitos séricos, tais como: o aumento do potássio sérico, acompanhando a redução da função renal, acidose metabólica, ou destruição tecidual; hipocalemia, em associação aos vômitos ou alcalose respiratória; hipernatremia, associada à desidratação; e hipofosfatemia, por mecanismos desconhecidos (WOLFSHMEIER, 1982). A hiponatremia na intermação é uma condição à parte, que se deve geralmente à hiper-hidratação voluntária, e deve receber cuidados especiais. Os sinais de hiponatremia são inespecíficos e incluem tontura, mal estar e náuseas, podendo progredir para convulsões e até a morte (GLAZER, 2005). A hipoglicemia pode ocorrer como resultado do aumento do consumo da glicose sangüínea, bem como de danos hepáticos, que prejudicam a gliconeogênese (HOPPE, 2006). Aumento nos níveis de alanina aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), e bilirrubina séricas estão associados à colestase e necrose hepática. Aumento da aspartato aminotransferase (AST) e creatinina cinase (CK) séricas, e da mioglobina urinária indicam a ocorrência de rabdomiólise. A elevação dos níveis de uréia e creatinina séricas apontam necrose tubular aguda. À urinálise, podem ser observados hematúria, proteinúria, e formação de cristais (HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). O aumento do hematócrito e das proteínas séricas refletem a hemoconcentração. Redução do número de plaquetas pode ocorrer com ou sem aumento do tempo da pró- trombina e da tromboplastina, e pode indicar a ocorrência de CID (HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). Cabe ressaltar que a apresentação dos sinais clínicos e a ocorrência de alterações laboratoriais evidenciando complicações como a necrose tubular aguda CID podem ocorrer dentro de poucas horas, mas também dias após a lesão (WOLFSHMEIER, 1982). 2.5 TRATAMENTO Devem-se adotar medidas emergenciais para normalizar a temperatura corporal tão logo haja suspeita de choque térmico. O proprietário deve ser instruído sobre o processo de resfriamento antes de levar ao hospital. Ducha, banho com água fria, toalha úmida e ventilador podem auxiliar no rápido resfriamento. Outras medidas de resfriamento enema com água gelada e fluidoterapia intravenosa com equipo resfriado em banho de gelo. Não se recomenda banho de água gelada, pois pode ocasionar vasoconstrição periférica prejuízo à dissipação do calor; ademais, os tremores também podem aumentar a produção de calor. Os procedimentos de resfriamento devem ser interrompidosquando a temperatura corporal atingir 39,5ºC, a fim de evitar hipotermia, pois a temperatura continua a diminuir cessar a aplicação de tais procedimentos. Após iniciado o resfriamento, o objetivo do tratamento envolve reposição de volume, estabilização das membranas celulares e proteção contra infecção. Na presença de desidratação grave a fluidoterapia é fundamental. Adicionalmente, o menor débito cardíaco reduz o volume circulante efetivo e, conseqüentemente, hipovolemia (MURTAUGH, 2007). Segundo Plunkett (2006), (1) Recomendar à pessoa que telefona que borrife água fria sobre o animal, e que o traga emediatamente para avaliação; não pedir que aplique água gelada ou induza resfriamento rápido, pois estes procedimentos estão associados a uma incidência maior de complicações, como coagulação intravascular disseminada (CID); (2) Iniciar administração de oxigênio imediatamente após chegada do animal, independentemente do estado cerebral do paciente. Colocar um cateter nasal de oxigênio ou usar oxigenação com colar elisabetano com capuz. Ter cautela com gaiolas de oxigênio, pois elas tendem a se tornar quente e piorar as condições do paciente; (3) Colocar um cateter intravenoso; ou dois cateteres, se o paciente for um cão de raça grande. Obter amostras de sangue pré-tratamento; (4) Monitorar tempos de coagulação com tubos de TCA ( Tempo de coagulação ativado); normal para um cão é de 60-110seg.; e para um gato é 50-75seg.. Em CID aguda, há um prolongamento do TCA, de leve a moderado (110-200s, em cães; 75-120s em gatos). Em estágio final de CID, há acentuado prolongamento do TCA (>200s em cães, >120s em gatos). Os tubos de TCA deverão ser aquecidos a 37ºC antes e durante o procedimento de exame. Deverão ser utilizados dois tubos. Retiram-se 2 mL de sangue através de punção venosa limpa, por aspiração rápida de uma veia calibrosa diretamente para dentro do primeiro tubo, usando-se um sistema tipo”vacutainer” ou transferindo-se rapidamente da seringa para o primeiro tubo, descartando-se, em seguida, a seringa. Sem remover a agulha da veia, coloca-se uma quantidade adicional de sangue no segundo tubo, e realiza-se o teste. Determina-se o TCA como sendo o intervalo de tempo desde a injeção dos 2 mL de sangue dentro do tubo de TCA até o momento em que a formação do coágulo começa a aparecer; (5) Administrar rapidamente líquidos endovenosos cristalóides de eletrólitos balanceados, EV, em doses de choque (60-90 ml/kg/h, em cães; 45-60 ml/kg/h em gatos); (6) Se o paciente estiver nos estados iniciais de intermação, com pulso hiperdinâmico, taquicardia, taquipnéia e mucosas injetadas, administrar Dextran 70, 14-20 ml/kg EV, a menos que o paciente tenha petéquias, hemorragia evidente e sinais de CID; (7) Resfriar lentamente o paciente, mediante enxágüe do corpo com água fria; começar o resfriamento depois de ter sido iniciada a administração de líquidos EV. Concentrar a lavagem no pescoço, sobre as veias jugulares e no abdome. A temperatura corporal do paciente deve ser diminuída gradualmente, para evitar indução de CID. Oxigenoterapia e fluidoterapia deverão ser iniciadas antes que se enxágüe o paciente com água fria; (8) Monitorar de perto a temperatura corporal do paciente. Para evitar hipotermia, parar de enxaguar o corpo do animal quando a temperatura alcançar 39,5ºC; (9) Para edema cerebral e choque, administrar fosfato sódico de dexametasona, 2-4 mg/kg IV; (10) Evitar a administração de medicamentos antiinflamatórios não-esteróides, pois eles podem levar a comprometimento renal e ulceração gástrica; (11) Para pacientes com suspeita de ulceração gastrointestinal, administrar sucralfato e famotidina, ranitidina ou cemetidina; (12) Para controlar convulsões, administrar diazepan, de acordo com a necessidade; (13) Em pacientes exibindo sinais de choque séptico, administrar antibióticos sistêmicos de largo espectro, como ampicilina ou cefazolina, e enrofloxacino; (14) Administrar glicose a pacientes com hipoglicemia; (15) Fazer eletrocardiogramas repetidos; monitorar arritmias cardíacas e tratá-las como indicado; (16) Monitorar débito urinário; administrar furosemida ou manitol, se necessário, depois de obtida reidratação; (17) Monitorar o edema pulmonar; (18) Tratamento com heparina é controverso, mas deverá ser considerado em todos os pacientes com intermação grave, pois CID é uma seqüela freqüente. Administrar heparina, 50-75 UI/kg SC, a cada 8 horas, a menos que se observe a formação de petéquias; depois, administrar 100-200 UI/kg IV, repetindo a mesma dose, por via subcutânea (SC) a cada 8 horas; e (19) Se ocorrer CID, interromper a administração de Dextran 70. Administrar plasma heparinizado fresco ou congelado fresco, 5-20 ml/kg I.V., e continuar injeções subcutâneas de heparina. Contudo, para Hoppe (2006) os métodos de lavagem gástrica e de bexiga, além de serem invasivos, parecem adicionar pouco à perda de calor do paciente quando o resfriamento por evaporação é realizado adequadamente. Além disso, existe o risco de aspiração de água durante a realização de lavagens gástricas. Já de acordo com Glazer (2005), estes métodos “internos” de redução de temperatura são os mais efetivos. Foi constatado que uma unidade de refrigeração corporal, constituída por um spray de água fria (15ºC) associado a um ventilador de ar é capaz de reduzir a temperatura do paciente até 32 – 33ºC, sendo mais eficiente em humanos do que os demais métodos. O aumento da eficiência está relacionado à menor vasoconstrição periférica. No caso dos cães, este sistema pode não funcionar tão bem, devido à pelagem. A administração de tranqüilizantes como o diazepam pode ser útil, para reduzir os tremores, que produzem ainda mais calor (GLAZER, 2005; HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). Não existem drogas específicas para o tratamento da intermação. Ao contrário de pacientes que desenvolvem febre devido a alterações hipotalâmicas, os pacientes com intermação não respondem bem à terapia antipirética. Além disso, os salicilatos podem piorar as coagulopatias, e altas doses de acetaminofen podem causar danos ao fígado (WOLFSHMEIER, 1982). A diminuição rápida da temperatura corporal pode resultar em hipotermia, a não ser que a temperatura corporal seja bem monitorada. A massagem dos membros e do corpo estimula a circulação (e, portanto, a dissipação do calor) que pode ser comprometida pela vasoconstrição conseqüente à exposição ao frio. Outros métodos de reduzir a temperatura incluem enemas de água fria, administração de fluidos intravenosos refrigerados, e lavagem peritoneal com água fria (HOPPE, 2006; WOLFSHEIMER, 1982). Uma vez estabilizado o paciente, ele deve ser mantido em ambiente resfriado por no mínimo 24 a 48 horas após injúrias leves (GLAZER, 2005). 2.6 PROGNÓSTICO O prognóstico, conforme já foi mencionado, depende muito do tempo entre o início da intermação e o início das medidas de resfriamento do paciente. Ainda que grande parte dos pacientes se recupere, alguns sinais podem indicar um prognóstico mais reservado a ruim. Os principais sinais de que a evolução do paciente possa ser ruim são: coagulopatia com danos hepáticos, acidose lática (na intermação clássica), temperatura retal superior a 42,2ºC, coma prolongado por mais de 4 horas, danos cerebrais residuais (ocorre em cerca de 20% dos pacientes), insuficiência renal aguda, hipercalemia, aumento exagerado da AST e hipertermia prolongada (HOPPE, 2006). O prognóstico do paciente em choque térmico é reservado. Caso a hipertermia seja controlada imediatamente, a lesão térmica sistêmica pode ser mínima, com chance razoável de recuperação. O desenvolvimento de insuficiência renal aguda, estupor, coma e CID indicam prognóstico desfavorável. 3 CONSIDERAÇÕES FINAIS O diagnóstico diferencial para choque térmico deve incluir infecção, neoplasia e intoxicação (MURTAUGH, 2007). Sempre que possível, devem ser obtidas informações a respeito do histórico do paciente e de sinais de pródromo, como fraquezas e tontura. O uso de drogas ilícitas por humanos, bem como a administração de drogas de prescrição, como diuréticos e antihipertensivos podem inibir a capacidade termorregulatória do organismo (GLAZER, 2005). Uma vez que a intensidade e a duração da hiperpirexia são fatores críticos no que se refere à sobrevivência do paciente, a intermação deve ser considerada uma emergência médica extrema (WOLFSHEIMER, 1982). Uma colocação importante é de que quaisquer doenças relacionadas ao calor podem ser facilmente prevenidas. Para tanto, basta o uso de ar condicionado, ventiladores, e ventilação adequada em ambientes fechados. Além disso, crianças e animais não devem ser trancados dentro de carros. Atletas devem evitar se exercitar em dias muito quentes sem estarem devidamente aclimatizados. A educação das pessoas em relação aos sinais, sintomas, e riscos da intermação podem facilitar o diagnóstico mais precoce e o tratamento da doença, bem como a sua prevenção (HOPPE, 2006). A intermação é uma alteração patofisiológica complexa, que afeta diversos sistemas orgânicos e é uma emergência médica em que a terapia imediata pode ser recompensadora (WOLFSHEIMER, 2006). Com um resfriamento rápido, reidratação adequada, e tratamento agressivo das complicações, o índice de sobrevivência pode chegar a 90% em pacientes com intermação (HOPPE, 2006). É uma demonstração de respeito informar ao cliente sobre diagnóstico, prognóstico e custos do tratamento. REFERÊNCIAS ALZEER, Abdulaziz H., et al. Serum enzymes in heat stroke: prognostic implication. Clinical chemistry. v. 43, n. 7. p. 1182 – 1187, 1997. BURNETE, Cynthia D. Dr Andy´s Pet Health Córner: Heat Stroke in Dogs. Disponível em: http://www.burnettvethospital.com/about/columns/HeatStrokeInDogs.pdf Acesso em 24/10/2009. HASKINS, S.C. Termorregulação, Hipotermia e Hipertermia. In: ETTINGER, Stephen J.; FELDMAN, Edward C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. v. 1. 1. ed. São Paulo: Manole, 1997, p. 37-38. GLAZER, James L. Managementof Heat Stroke and Heat Exhaustion. American Family Physician. v. 1, n. 11., p. 2133-2140junho de 2005. HOPPE, James. SINERT, Richard. Heat Exhaution and Heat Stroke. E-Medicine. Disponível em: http://www.emedicine.com/EMERG/topic.htm. Publicado em 16/04/2006. Acesso em 24/10/2009. KOLB, Erich L. Fisiologia Veterinária. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1984, p. 362373. MURTAUGH, Robert J. Tratamento Intensivo em Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p. 78-81. PLUNKETT, Signe J. Procedimentos de Emergência em Pequenos Animais. 2 ed. Rio de Janeiro: Revinter, 2006, p 69-71. WOLFSHEIMER, Karen J. Pathophisiology of Heat Stroke. Emergency Medicine ande Critical Care in Practice. Vol. 4, N° 2. Trenton, NJ: Veterinary Learning Co., Inc., 1982. p. 92-95. ANEXO 1 EFEITO DA HIPERTERMIA NO SISTEMA CIRCULATÓRIO Vasodilatação periférica Resistência vascular periférica Hipovolemia Desidratação Lesão de hemácias Hemoconcentração Sobrevivência Aglutinação de hemácias Hemólise Trombose Fonte: MURTAUGH, Robert J. Tratamento Intensivo em Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p. 78-81. ANEXO 2 EFEITO DA HIPERTERMIA NO SISTEMA HEMOSTÁTICO Inativação de fatores de coagulação Destruição de plaquetas Permeabilidade vascular Função hepática Depleção de fatores de coagulação Hemorragia Fonte: MURTAUGH, Robert J. Tratamento Intensivo em Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p. 78-81. ANEXO 3 EFEITO DA HIPERTERMIA NAS FUNÇÕES ORGÂNICAS Fatores exógenos e Fatores endógenos Choque térmico Lesão celular direta Inativação de enzimas Hepática Destruição hepatocelular Colestase Disfunção do SER Renal Hipoxia Lesão térmica SNC Degeneração e necrose de neurônios Edema cerebral Gastrintestinal Permeabilidade da mucosa Translocação bacteriana Infecção Menor síntese de fatores Coagulação Nefrose tubular aguda Convulsões Coma Estupor Infecção Fonte: MURTAUGH, Robert J. Tratamento Intensivo em Medicina Veterinária. São Paulo: Rocca, 2006, p. 78-81.