OBSTETRÍCIA COAGULAÇÃO INTRAVASCULAR DISSEMINADA Rotinas Assistenciais da Maternidade-Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro É síndrome adquirida, caracterizada pela ativação da coagulação intravascular até a formação de fibrina intravascular. ETIOLOGIA Descolamento prematuro da placenta. Ovo morto retido. Embolia por líquido amniótico. Pré-eclampsia. Septicemia. Infecção intra-uterina. Fígado gorduroso agudo da gravidez. DIAGNÓSTICO CLÍNICO Hemorragia vaginal contínua, intensa, durante ou após o parto. Sangramento prolongado na gengiva e nos locais de pequenos traumatismos, como na punção venosa praticada para propedêutica ou para terapêutica. Epistaxe. Petéquias. Equimoses. Hematúria. Sangramento gastrintestinal. Manifestações neurológicas (sangramento intracraniano). O sangramento ocorre de forma peculiar, porque não se formam os habituais coágulos, mantendo-se o sangue liquefeito. A incoagulabilidade pode se manifestar apenas no ato cirúrgico, pelo sangramento abundante, em lençol, dos pequenos vasos e dos pontos de penetração das agulhas de sutura. Em pouco tempo pode evoluir para o choque hemorrágico. LABORATORIAL Teste Valores normais Observação < 100mg% - Sugere CID. Fibrinogênio 300 a 600mg% < 60mg% - Comprometimento grave da coagulação. < 100.000 – Sugere CID se TTPA estiver aumentado. Plaquetas 150.000 a 320.000 mm3 Tempo de sangramento 1 a 3 minutos Tempo de tromboplastina parcial ativada (TTPa) 20 a 45 segundos Tempo de protrombina (TAP) 12 a 15 segundos Produto de degradação da fibrina (PDF) < 20mg/ml < 20.000 – Limiar de sangramento. Avalia função plaquetária, doença de Von Willebrand e integridade vascular. Aumentado na CID. Avalia via intrínseca: fatores I, II, V, VIII, IX, X, XI e XII. Aumentado na CID. Avalia via extrínseca: fatores I, II, V, VII e X. Aumentado na CID. Avalia o grau de fibrinólise. Figura 1 – Exames laboratoriais – avaliação da coagulação Teste de Wiener (teste de observação do coágulo) Aspira-se 5 a 10ml de sangue com seringa seca e agulha de grosso calibre. Não aspirar o sangue sob pressão. O sangue aspirado é depositado, cuidadosamente, em tubo seco e mantido a 37 0C. Observa-se por período mínimo de uma hora, sem agitar o tubo. Durante o período de observação, é recurso aceitável abraçar o tubo de ensaio com a mão para se manter a temperatura necessária. Coagulação e lise Correlação com dosagem de fibrinogênio Coágulo em 5 a 10 minutos, que permanece firme nos 15 minutos subseqüentes Normal Coágulo normal em 10 minutos com lise parcial em uma hora 100 a 150mg% Coágulo mole e frouxo, dissolvido totalmente no prazo de uma hora 60 a 100mg% Não se forma coágulo em 10 minutos < de 60mg%. Figura 2 – Teste de Wiener - interpretação TRATAMENTO MEDIDAS GERAIS (SUPORTE CLÍNICO) Eliminação da sua causa, quando possível – Interrupção da gestação na pré-eclâmpsia e no DPP, esvaziamento do útero no ovo morto retido, tratamento da septicemia. Controle rigoroso e correção dos distúrbios hemodinâmicos: é medida prioritária a manutenção do estado circulatório da paciente, que é mais importante que as alterações da coagulação na maioria dos casos de CID leve ou moderada. Controle rigoroso e correção dos distúrbios da coagulação sanguínea. Manter a oxigenação adequada da paciente. Não aquecer o sangue ou derivados acima de 370C. A transfusão de cada unidade de sangue ou derivados não deve ultrapassar 4 horas. Não usar agentes antifibrinoliticos. ANTICOAGULANTE Para bloquear o consumo de fibrinogênio na primeira fase da CID quando o compartimento vascular estiver intacto e a gestante fora do trabalho de parto, como no ovo morto retido. Heparina o Dose de ataque: 5.000U EV. o Dose de manutenção: 1.000U/h em perfusão EV contínua por 24 a 48 horas. o O parto pode ser induzido seis horas após a interrupção da heparina. o Antídoto: 1 a 1,5mg de sulfato de protamina EV para cada 100U de heparina utilizada. Terapêutica alternativa – Enoxaparina: 20 a 40mg/dia por via subcutânea. HEMODERIVADOS Hemoderivados Indicação Observação Sangue total Reposição de volume. Anemia aguda. Cada unidade aumenta o hematócrito em 3% Concentrado de hemácias Anemia aguda ou crônica. Menor sobrecarga circulatória. Cada unidade aumenta o hematócrito em 5% Concentrado de plaquetas Trombocitopenia não-imune Cada unidade aumenta de 5.000 a 10.000 plaquetas/mm3 Plasma fresco Reposição de fatores de coagulação. Cada unidade aumenta o fibrinogênio em 10mg% Crioprecipitado Reposição de fibrinogênio e Fator VIII. Menor sobrecarga circulatória. Cada unidade aumenta o fibrinogênio em 10mg% Figura 3 – Hemoderivados LEMBRETES 1. A administração de hemoderivados deverá ser monitorizada por: dosagem de hemoglobina, PTTa, TAP e contagem de plaquetas. 2. A maioria das pacientes com CID deve receber profilaxia para prevenção de tromboembolismo venoso, com o uso de baixas doses de heparina. 3. As medidas de suporte clínico devem ser aplicadas e monitoradas, nos casos graves, em unidade de terapia intensiva. LEITURA SUGERIDA 1. MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Coagulação intravascular disseminada. In: MONTENEGRO, C. A. B.; REZENDE FILHO, J. Rezende Obstetrícia. 11.ed, Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010. p.416-422 2. ROHLOFF, R.; MARINS, S. Coagulação intravascular disseminada.. In: NETTO, H.C.; SÁ, R.A.M. Obstetrícia Básica. 2.ed, Rio de Janeiro: Atheneu, 2008. p.277-286