Traumatologia Forense PROFESSORA LORENA BRAGA RAPOSO Energias de ordem física São energias capazes de modificar o estado físico dos corpos causando lesões ou mesmo a morte. As mais comuns são: temperatura; pressão; eletricidade; radioatividade; luz; som. Lesões produzidas pelo calor Calor frio Calor quente – termonoses insolação intermação difuso direto – queimaduras Oscilações de temperatura Lesões produzidas pelo calor frio As lesões produzidas pelo frio, geladuras, têm aspecto pálido e anserino, frequentemente evoluindo para isquemia e necrose ou gangrena. Na Primeira Guerra Mundial eram comuns as lesões produzidas pelo frio, particularmente atingindo os membros inferiores dos soldados e, por isso, denominadas de pés de trincheira. Geladuras: 1º Grau – eritema; 2º Grau – flictenas; e 3º Grau – necrose ou gangrena. Lesões produzidas pelo calor frio Lesões produzidas pelo calor quente O calor quente pode atuar sobre o corpo humano de forma difusa ou direta. Atua de forma difusa quando a fonte de calor não incide diretamente sobre a área atingida, mas sim tornando o meio ambiente incompatível com os fenômenos biológicos. A forma de calor difuso produz os quadros conhecidos como termonoses, compreendendo a insolação e a intermação. Quando o calor quente age de forma direta sobre o organismo, produz as queimaduras. Insolação A desidratação e a queimadura da pele são os sintomas mais frequentes da insolação, especialmente em crianças e idosos. Quando alguém fica muito tempo sob o sol, a pele queima, suas células são destruídas e o líquido que fica entre essas células é eliminado. O suor e a respiração mais intensa facilitam a perda de água. Outros sintomas da insolação são dor de cabeça, tontura, vertigem, falta de ar, aumento da temperatura do corpo, mal-estar e vômitos, sem contar o envelhecimento precoce e o aumento em 25 vezes da chance de a pessoa desenvolver tumores de pele, no caso de haver queimadura. Insolação Intermação Intermação Mecanismos de termorregulação contra o superaquecimento: Radiação: Troca global de energia térmica radiante (ar). Não requer contato molecular. Condução: Transferência direta por contato com líquido, sólido ou gás. A água absorve milhares de vezes mais calor. Requer contato molecular. Convecção: Permuta de ar ou líquido adjacente já aquecido. Transpiração/Evaporação: Mecanismo mais eficiente. Intermação No dia 5 de fevereiro de 1989, logo após a promulgação da Constituição de 1988, no 42° Distrito Policial, em São Paulo, em represália por uma tentativa de fuga, os policiais de plantão confinaram 51 presos em uma cela de aproximadamente 1,5 m x 4 m, sem ventilação. Após alguns minutos os presos começaram a passar mal. Quando os policiais abriram a cela, 18 dos presos haviam morrido. Queimaduras Quanto à profundidade, segundo Hoffmann, as queimaduras classificam-se em: 1º Grau - queimaduras leves, simples formação de eritemas; 2º Grau - formação de flictenas nas áreas eritematosas; 3º Grau - atingem a derme e os tecidos adjacentes dando origem à formação de escaras; e 4º Grau - carbonização. Queimaduras A extensão da área queimada é, muitas vezes mais importante do que a profundidade da lesão para determinar a gravidade. É o caso de uma queimadura de primeiro grau, que, por exemplo, pode atingir uma ampla área do corpo. A extensão é medida em porcentagem da área total da superfície do corpo. É a "regra dos nove", que divide o corpo em áreas de aproximadamente 9%, utilizada para calcular a extensão da queimadura e decidir o tipo de tratamento. Queimaduras Queimaduras Lesões produzidas pela pressão Em condições normais podemos suportar pressão de aproximadamente 1 (uma) atmosfera ou 760 mm da Hg (pressão ao nível do mar). Os principais fenômenos resultantes das alterações de pressão são: Diminuição da pressão: Mal das montanhas ou dos aviadores; Aumento da pressão: Doenças dos caixões ou mal dos escafandristas; e Barotraumas. Mal das montanhas ou dos aviadores Doença dos caixões ou mal dos escafandristas Doença dos caixões ou mal dos escafandristas Profundidade (metros) Tempo limite sem paradas para descompressão (minutos) 9 12 15 18 21 24 27 30 33 36 39 42 45 48 51 243 122 74 51 37 30 24 20 17 14 13 12 10 9 8 Narcose de Nitrogênio Barotraumas Barotraumas Barotraumas Barotraumas Lesões produzidas pela eletricidade Eletricidade natural ou cósmica: fulminação – morte; e fulguração – lesões corporais. Eletricidade artificial ou industrial: eletroplessão – acidental (morte ou lesões); e eletrocussão – execução de um condenado. Eletricidade natural, atmosférica ou cósmica Sinal de Lichtenberg As lesões produzidas pela fulguração ou fulminação, tomam aspecto arboriforme, denominadas de sinal de Lichtenberg, decorrentes de fenômenos vasomotores, que podem desaparecer com o tempo em caso de sobrevivência. Sinal de Lichtenberg Marca elétrica de Jellinek A eletricidade artificial produz, no local de entrada, uma lesão que com frequência assume a forma do condutor elétrico que originou a descarga. É uma lesão de bordas elevadas e coloração amarelo esbranquiçada e indolor, que recebe a denominação de marca elétrica de Jellinek. Lesões produzidas pela radioatividade Alguns dos efeitos sobre o organismo são: alterações genéticas; vários tipos de câncer; alterações da espermatogênese; e alteração das células do sangue produzindo hemorragias acentuadas em vários pontos do organismo. Lesões produzidas pela radioatividade Lesões produzidas pela luz A luz, dependendo da intensidade, também pode ocasionar lesões no corpo humano, particularmente relacionadas com alterações ou até mesmo perda da visão por dano irreversível no nervo ótico. A luz tem forte influência sobre o psiquismo humano, razão pela qual a polícia utilizou, durante longo período, o chamado terceiro grau, técnica de interrogatório onde o interrogando é colocado debaixo de um holofote que lhe ofusca a visão. Outro exemplo é o da epilepsia fotossensível (cerca de 3% de todos os pacientes) cujas crises podem ser desencadeadas por estímulos luminosos de TV, videogames e alguns padrões geométricos fortes, luz do sol através de folhas e outros. Lesões produzidas pela luz Lesões produzidas pelo som As ondas sonoras, ou ondas de pressão, são as propagações de um distúrbio mecânico, através de meios elásticos como o ar. As ondas sonoras compreendem: frequência: número de vibrações por segundo. amplitude: indica a intensidade do som, o comprimento da onda propagada. Para medir a intensidade de um som, utiliza-se normalmente o decibel, unidade que corresponde ao mais baixo som detectável pelo ouvido humano. É certo que a sensibilidade do ouvido humano varia com a idade e de acordo com particularidades de cada indivíduo. Lesões produzidas pelo som Há, entretanto, um limite máximo, acima do qual o aparelho auditivo pode experimentar lesões por vezes irreversíveis. As lesões variam não somente na proporção da intensidade do som como também em razão do tempo de exposição. Assim, ruídos de intensidade elevada, acima de 160 dB, podem levar à surdez imediata. Outros sons, de menor intensidade, podem causar lesões se em exposições prolongadas. Lesões produzidas pelo som As ondas sonoras, ou ondas de pressão, nada mais são que a propagação de um distúrbio mecânico através de um meio elástico como o ar. Segundo o anexo n.º 1 da NR-15, os limites de tolerância para ruído contínuo ou intermitente (assim considerados os que não sejam de impacto), são: Tempo máximo de exposição dB 8 horas 85 3 horas 92 1 hora 100 30 minutos 105 15 minutos 110 10 minutos 112 7 minutos 115 Alguns valores para comparação Ambiente dB Limite de audição 1 Ruído da respiração 10 Restaurante tranquilo 50 Conversa em tom normal 60 Tráfego normal 70 Oficina mecânica 90 Avião na decolagem 120