ca-0350.pdf 1 de 2 http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/ca-0350.htm Os antioxidantes diminuem a eficácia da quimioterapia anti câncer José de Felippe Junior O conhecimento da fisiologia e da bioquímica das espécies reativas tóxicas do oxigênio (ERTO) na saúde e nas doenças nos fez compreender que tanto os mecanismos antioxidantes como os mecanismos oxidantes são importantes para o bem estar do organismo (Felippe-1994-2001). O sistema antioxidante protege as estruturas celulares da lesão oxidativa e estudos epidemiológicos mostram uma diminuição da incidência de câncer em populações com um bom sistema de defesa antioxidante. Este sistema deve ser eficaz na medida certa, porque necessitamos de quantidades corretas de radicais livres no organismo para ativar os mecanismos protetores que promovem a apoptose e a inibição do crescimento tumoral. A apoptose é um mecanismo que elimina células pré cancerosas, células cancerosas, células infectadas por vírus e todo tipo de células lesadas ou alteradas. A apoptose se caracteriza por condensação da cromatina nuclear, protrusões na membrana citoplasmática, inchaço mitocondrial , fragmentação do DNA e grande diminuição do volume celular, fatores estes que provocam a morte da célula. É o aumento intracelular da geração de radicais livres que induz a apoptose e a inibição do crescimento tumoral. O excesso de antioxidantes, diminuí a geração de radicais livres e provoca inibição da apoptose com a parada da eliminação das células malignas e das células lesadas. A população humana apresenta grande diversidade genética e portanto é grande a variação dos seus parâmetros bioquímicos e metabólicos. Desta forma, na população teremos do lado esquerdo (10%) da curva de Gauss, pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante não muito eficaz (apresentam elevados níveis de radicais livres) e do lado direito (10%) da curva, pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante muito eficaz ( apresentam baixo nível de radicais livres. Entre os dois extremos (80%) teremos as pessoas com níveis intermediários de eficácia do sistema endógenos de defesa e também com níveis intermediários de geração de radicais livres( Salganik – 2001). As pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante não muito eficaz estarão mais sujeitas às doenças provocadas pelas ERTO. São pessoas mais propensas a desenvolver câncer, via lesão do DNA. O uso de antioxidantes diminuirá a incidência de câncer nestas pessoas . As pessoas com sistema endógeno de defesa antioxidante muito eficaz, apresentam baixos níveis de radicais livres e são mais propensas ao câncer, por outro motivo: menor eficácia de provocar apoptose das células transformadas (células pré cancerosas e células cancerosas). O uso de antioxidantes nestas pessoas aumenta ainda mais a incidência de câncer por abolir a apoptose. Com o passar dos anos e o conhecimento mais profundo das reações de oxido-redução têm surgido na literatura grande número de trabalhos mostrando que, enquanto concentrações normais de GSH e de outros antioxidantes no intracelular protegem o DNA nuclear das lesões provocadas pelas ERTO e diminuem a prevalência do câncer, a presença de quantidades normais de GSH e de outros antioxidantes no câncer já instalado provoca aumento da proliferação celular maligna, diminuição da apoptose e facilita a neoangiogênese tumoral ( Felippe –1990-2001- 2004- 2005 ) Temos que compreender muito bem que os antioxidantes protegem o DNA nuclear das lesões oxidativas e diminuem a prevalência do câncer, funcionando como agentes preventivos. Entretanto, no câncer já instalado os antioxidantes protegem a célula cancerosa e os oxidantes promovem muito mais facilmente a lesão do DNA nuclear provocando a morte da célula maligna, funcionando como agentes curativos. Aqui os antioxidantes seriam um verdadeiro desastre (Felippe –1994- 2004). Quando o potencial redox tumoral aumenta, isto é tende para a oxidação, acontece a diminuição da proliferação celular maligna, a diminuição da neoangiogênese tumoral e o aumento da apoptose. A apoptose ou morte celular programada é um verdadeiro suicídio celular com hora marcada e acontece numa seqüência em cadeia envolvendo vários tipos de mediadores, a maioria deles necessitando dos radicais livres para serem ativados. A probabilidade da célula tumoral caminhar para a apoptose aumenta se o potencial redox celular permanecer no estado oxidativo (Arrick - 1982 , Slater 1995, Matés - 2000). O uso de antioxidantes em doses exageradas pode inibir importantes mecanismos de defesa contra o câncer (Verhaegen - 1995, McGovan - 1996, Maxwell - 1999, Salganik - 2001). Em 1996, Saintot na França já indicava que no câncer de mama a progressão tumoral e a presença de metástases se associavam à maior concentração de vitamina E no soro concomitante com o menor nível sérico de peroxidação lipídica atestada pelos baixos níveis de malondialdeido que é um marcador da presença de radicais livres. Assim sendo a progressão tumoral e a presença de metastases se associavam ao alto potencial antioxidante do soro nestas pacientes. Em 1996 Schwartz mostrou que o aumento da atividade antioxidante em células transformadas aumentava a sua proliferação e advertiu que devemos conhecer muito bem a farmacologia dos nutrientes antioxidantes antes de emprega-los no câncer. De fato, Salganik mostrou que o acetato de alfa-tocoferol, potente agente antioxidante de membrana, inibe a geração de radicais livres em células do câncer de mama humano e como conseqüência inibe também a apoptose dessas células malignas (Salganik – 2000). Muito importante e de grande valor prático é o trabalho de Labriola, que constatou que os antioxidantes exógenos podem inibir a atividade da quimioterapia anticâncer nos seres humanos. Muitos médicos no intuito de diminuir os efeitos colaterais da quimioterapia, interferem na eficácia desta estratégia quando usam antioxidantes em excesso (Labriola – 1999 , Felippe – 2004b). A concentração de radicais livres dentro da célula cancerosa pode aumentar de dois modos : 1- diminuição da defesa antioxidante e/ou 2-aumento da geração dos radicais livres (ERTO : Espécies Reativas Tóxicas de Oxigênio). Salganik provocou aumento das ERTO em ratos com tumor cerebral empregando uma dieta deficiente em antioxidantes e observou dramático aumento da morte celular tumoral por apoptose. Muito importante foi constatar que não houve aumento da apoptose das células normais. O autor conseguiu resultado semelhante em câncer de mama de camundongo. Por outro lado o aumento da geração de radicais livres empregando o succinato de alfa-tocoferil (radical livre obtido a partir do alfa-tocoferol) induziu apoptose em células malignas Jurkat e diminuiu o índice de mitose em vários tipos de células malignas humanas (Jha – 1999, Salganik – 2000, Weber – 2001). 4/10/2011 09:44 ca-0350.pdf 2 de 2 http://www.medicinacomplementar.com.br/convertido/ca-0350.htm Conclusão O emprego de antioxidantes como medicamento diminui o risco de câncer naquela parte da população que está do lado esquerdo da curva de Gauss (10%) ou na fase intermediária (80%). Nas pessoas com bom sistema de defesa anti-radical livre a administração de antioxidantes será desastrosa (10%) e aumentará o risco de câncer. Tudo isso se não colocarmos um fator complicador, sempre esquecido na imensa maioria dos trabalhos da literatura médica: presença de metais tóxicos, de ceruloplasmina alta (altos níveis de cobre no organismo) e de ferritina alta (altos níveis de ferro no organismo). No paciente com câncer instalado e em evolução os antioxidantes como medicamentos, sempre serão prejudiciais porque vão diminuir a apoptose e aumentar a proliferação celular maligna, ao lado de diminuírem a eficácia da quimioterapia. Muitos médicos na tentativa de amenizar os efeitos colaterais da quimioterapia prescrevem antioxidantes. Querem ajudar e acabam por dificultar o tratamento do câncer. O autor se inclui nos médicos que prescreviam antioxidantes para minimizar o sofrimento causado pela quimioterapia. Nunca é tarde para aprender. A ignorância é um pesado fardo que fica cada vez mais leve enquanto aprendemos. Lembremos que é o estilo de vida saudável que diminui o risco de câncer e não o emprego de pílulas magicas. “Reconhecer que errou é um método de trabalho” E. Jequier Doge Referências Bibliográficas 1. Arrick BA; Nathan CF; Griffith OW; Cohn ZA. Glutathione depletion sensitizes tumor cells to oxidative cytolysis. J Biol Chem; 257(3): 1231-7, 1982. 2. Felippe JJ. Radicias Livres como Mecanismo Intermediário de Moléstia. In Felippe Jr. Pronto Socorro: Fisiopatologia – Diagnóstico – Tratamento. Ed.Guanabara –Koogan. 1168-1173,1990. 3. Felippe JJ. Medicina Biomolecular. Revista Brasileira de Medicina Biomolecular e Radicais Livres. 1(1): 6-7,1994. 4. Felippe JJ. Estratégia Biomolecular: uma das Bases da Medicina do Futuro. Revista Brasileira de Medicina Complementar. 7(1): 8-9,2001. 5. Felippe JJ. Metabolismo da Célula Tumoral - Câncer como um Problema da Bioenergética Mitocondrial : Impedimento da Fosforilação Oxidativa - Fisiopatologia e Perspectivas de Tratamento. Revista Eletrônica da Associação Brasileira de Medicina Complementar. www.medicinacomplementar.com.br. Tema do mês de agosto de 2004a. 6. Felippe JJ. Metabolismo das Células Cancerosas: A Drástica Queda do GSH e o Aumento da Oxidação Intracelular Provoca Parada da Proliferação Celular Maligna, Aumento da Apoptose e Antiangiogênese Tumoral Revista Eletrônica da Associação Brasileira de Medicina Complementar. www.medicinacomplementar.com.br. Tema do mês de setembro de 2004b. 7. Felippe JJ. A hipoglicemia induz citotoxidade no carcinoma de mama resistente à quimioterapia. Revista Eletrônica da Associação Brasileira de Medicina Complementar. www.medicinacomplementar.com.br. Tema do mês de fevereiro de 2005a. 8. Felippe JJ. A insulinemia elevada possui papel relevante na fisiopatologia do infarto do miocárdio, do acidente vascular cerebral e do câncer. Revista Eletrônica da Associação Brasileira de Medicina Complementar. www.medicinacomplementar.com.br. Tema do mês de março de 2005b. 9. Jha MN , Bedford JS, Cole WC, Edward-Prasad J, Prasad KN: Vitamin E (d-alpha-tocopheryl succinate) decreases mitotic accumulation in gamma-irradiated human tumor, but not in normal cells. Nutr Cancer 35: 189-194, 1999. 10. Labriola D , Linvingston R , Possible interactions between dietary antioxidants and chemotherapy. Oncology 13:1003-1012,1999. 11. Matés JM; Sánchez-Jiménez FM. Role of reactive oxygen species in apoptosis implications for cancer therapy. Int J Biochem Cell Biol; 32(2):157-70, 2000. 12. Maxwell SRI: Antioxidant vitamin supplements. Update of their potential benefits and possible risks. Drug Safety 4: 253-266, 1999. 13. McGovan AJ, Fernandes RS, Samali AA, Cotter TG: Antioxidants and apoptosis. Biochem Soc Trans 24: 229-233, 1996. 14. Saintot M; Astre C; Pujol H; Gerber M. Tumor progression and oxidant-antioxidant status. Carcinogenesis, 17 (6): 1267-71, 1996. 15. Salganik RI, Albright CD, Rodgers J, Kim J, Zeisel SH, Sivashinskiy MS, Van Dyke TA: Dietary antioxidant depletion: enhancement of tumor apoptosis and inhibition of brain tumor growth in transgenic mice. Carcinogenesis 21: 909-914, 2000. 16. Salganik R I. The benefits and hazards of antioxidants: Controlling apoptosis and other protective mechanisms in cancer patients and the human population. Journal of the American College of Nutrition, Vol. 20, No. 5, 464S-472S, 2001. 17. Schwartz JL. The Dual Roles of Nutrients as Antioxidants and Prooxidants : Their Effects on Tumor Cell Growth . J Nutr. 126: 1221S- 1227S, 1996. 18. Slater AFG, Nobel CSI, Orrenius S: The role of intracellular oxidants in apoptosis. Bioch biphys Acta 1271: 59-62, 1995. 19. Verhaegen S, Adrian J, McGovan J, Brophy AR , Fernandes RS, Gotter TG: Inhibition of apoptosis by antioxidants in the human HL-60 leukemia cell line. Biochem Pharmacol 40: 1021-1029, 1995. 20. Weber N L, T, Schroeder A, Min L, Ostermann G: Induction of cancer cell apoptosis by alpha-tocopheryl succinate:molecular pathways and structural requirements. FASEB J 15: 403-415, 2001. José de Felippe Junior 4/10/2011 09:44