ARTIGO DE REVISÃO COMPETÊNCIAS ESCOLARES NA CONSTRUÇÃO SOCIAL DO CONCEITO DE GESTÃO SAMPAIO, Aristélia Silva AVELINO, Ana Flávia Andrade RESUMO Este artigo discute a construção social do conceito de Gestão dentro do Conhecimento das competências escolares. Muito se fala de boa gestão, ou mesmo da gestão democrática e pouco se vê acontecer na prática do dia a dia, a gestão participativa, levando em consideração o novo enfoque de gestão escolar, incorporado pela sociedade contemporânea, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988 e da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96. A construção social do conceito de gestão, pensada na democracia e participação da comunidade precisa ser ancorada na Teoria e Metodologia das Representações Sociais. A atuação do gestor no âmbito de suas atribuições perpassa por três dimensões: técnicas, pedagógica e política como espaços de competências interligados. Como instrumento de pesquisa foi utilizado um acervo bibliográfico, consultado em bibliotecas físicas e virtuais. Os resultados obtidos até o momento apontam que a dimensão técnica exige dos gestores conhecimento da legislação educacional, do sistema de ensino e da escola. A dimensão política é a ação, onde os gestores estão mais focados. Na dimensão pedagógica as ações culminaram com a elaboração do Projeto Político pedagógico. Palavras- chaves: Gestão. Competências. Construção Social. ABSTRACT This article discusses the social construction of the concept of management within the knowledge of school skills. Much is said of good management, or even democratic management and little to see happen in practice day to day, participatory management, taking into account the new approach to school management, built by contemporary society, from the promulgation of the Federal Constitution 1988 and the Law of Guidelines and Bases of National Education No. 9394/96. social construction of the concept of management, thought democracy and community participation needs to be anchored in the Theory and Methodology of Social Representations. The manager of operations in its area of authority permeates three dimensions: technical, pedagogical and political as spaces of interconnected skills. As a research tool we used a collection of books, consulted in physical and virtual libraries. The results obtained so far indicate that the technical dimension requires managers knowledge of educational legislation, the education system and school. The political dimension is the action, where managers are more focused. In the pedagogical dimension actions culminated in the preparation of teaching Political Project. Keywords: Management. Skills. Social construction. 140 INTRODUÇÃO A gestão escolar democrática é assunto de grande repercussão nas escolas atuais. No entanto, antes de aprofundar o tema escolhido, torna-se necessário esclarecer o que é a gestão escolar e apresentar a gestão escolar democrática ou participativa, como denominada por alguns autores. A gestão escolar possui como foco a observação da escola e dos problemas educacionais globalmente, através de uma visão estratégica e de conjunto, bem como pelas ações interligadas, tal como uma rede, os problemas que, de fato, funcionam de m modo interdepende. O conceito de gestão escolar passa a ser incorporado pela sociedade contemporânea, a partir da promulgação da Constituição Federal de 1988, quando no seu Art. 206, dispõe ao longo do mesmo, a “gestão democrática do ensino público, na forma da lei” e da Lei de Diretrizes e bases da Educação Nacional (LDBEN) nº9394/96, no seu Art. 14 destaca o preceito da gestão democrática como um dos seus princípios, pressupondo a gestão democrática como um trabalho coletivo, participação e dialógico. A problemática deste trabalho leva em consideração que as representações Sociais e Gestão Escolar está no escassez dos trabalhos que discutem os saberes sociais construídos pelos próprios gestores no desempenho de suas funções, na construção do conceito social de gestão. Assim a gestão escolar possui como foco a observação da escola e dos problemas educacionais globalmente, através de uma visão estratégica e de conjunto, bem como pelas ações interligadas, tal como uma rede, os problemas que , de fato, funcionam de modo independente. Portanto a justificativa se dá em virtude de que a gestão escolar é uma dimensão, um enfoque de atuação, um meio e não um fim em si mesmo, uma vez que o alvo da gestão é a aprendizagem efetiva e significativa dos alunos, de modo que, no cotidiano que vivemos na escola, desenvolvam as competências que a sociedade demanda, dentre as quais se evidenciam: pensar criativamente; analisar informações e proposições diversas, de forma contextualizada; expressar ideias com clareza, tanto oralmente, como tomar decisões fundamentadas e resolver conflitos, dentre muitas outras competências necessárias para a prática de cidadania responsável. Portanto, o objetivo principal á analisar as competências escolares na construção de um novo conceito de gestão. 141 Quanto ao percurso metodológico, foi consultado o acervo bibliográfico sobre esta mesma temática, autores de renomes e bibliotecas virtuais, para poder traçar um estudo sobre as competências escolares a respeito de um novo conceito de gestão. Portanto o processo de gestão escolar estar voltado para garantir que os alunos aprendam sobre o seu mundo e sobre si mesmo em relação a esse mundo, adquiram conhecimentos úteis e aprendam a trabalhar com informações de complexidades gradativas e contraditórios da realidade social, econômica, política e cientifica, como condição para o exercício da cidadania responsável. GESTÃO ESCOLAR PARADIGMA PARA UM NOVO ENFOQUE No contexto da educação brasileira, emerge um conceito novo, gestão da escola, que vem superar o enfoque limitado de administração, a partir do entendimento que os problemas educacionais são complexos e que demandam uma ação articulada e conjunta na superação dos problemas cotidianos das escolas. A gestão da escola sob essas nova perspectiva surge como orientação e liderança competente, exercida a partir de princípios educacionais democráticos e como referencial teórico para a organização e orientação do trabalho em educação, afinado com as diretrizes e políticas educacionais públicas para implementação das políticas educacionais e o Projeto Político Pedagógico das escolas. Para Luck (2005, p.17): O conceito de gestão está associada à mobilização de talentos e esforços coletivamente organizados, à ação construtiva de seus componentes, pelo trabalho associado, mediante reciprocidade que cria um “todo” orientado por uma vontade coletiva. Anterior a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) nº9394/96, a escola era administrada por princípios fundamentados na Administração escolar, que se constatava na assimilação do modelo de administração cientifica ou Escola Clássica, orientado pelo princípios da racionalidade limitada; da lineariedade; da influência estabelecida de fora para dentro; do emprego mecanicista de pessoas e de recursos para realizar os objetivos organizacionais de sentindo limitado (LUCK, 2000). O modelo de direção da escola era centralizado na figura do diretor, que agia como tutelado aos órgãos centrais, competindo-lhe zelar pelo cumprimento de normas, determinações e regulamentos deles emanados. Atuava sem voz própria para determinar os 142 destinos da escola e, portanto, desresponsabilizado do resultado de suas ações. O trabalho do diretor constituía-se em represar informações, como controlar, supervisionar, “dirigir” o fazer escolar, de acordo com as normas estabelecidas pelo sistema de ensino. Segundo Luck (2000, p.35), “bom diretor era o que cumpria essas obrigações plena e zelosamente, de acordo a garantir que a escola não fugisse ao estabelecido em âmbito central ou em nível hierárquico superior”. A Escola Crítica surgiu na contraposição da identificação educacional com a administração geral de empresas e, de maneira menos enfática que a Escola Clássica, de onde emergiria um campo de conhecimento da administração educacional. A Escola Clássica ou Administrativa Cientifica perdurou até o inicio dos anos de 1970 e a Escola Crítica do final dos anos de 1970 e o início dos anos 1980 (SOUZA, 2008). Com o movimento da redemocratização, descentralização e construção da autonomia, princípios demonstrativos da Carta Magna e da LDBEN vigente, os mesmos, passaram a constituir novas formas de mecanismos e ações no interior das Unidades Escolares, oportunizando a participação da comunidade escolar nas decisões que envolvem as questões educacionais, ampliando a responsabilidade e atuação do gestor escolar. O sistema escolar sempre sofreu, em maior ou menor grau, as marcas oriundas de grupos sociais que ocupam posições diferentes aos mesmo, ou seja, discurso dos políticos, dos administradores, dos agentes institucionais dos diferentes níveis de hierarquia e dos usuários do sistema escolar. Esse entendimento é necessário na medida em que a área educacional aparece como um campo privilegiado para se observar como as representações sociais se constroem, evoluem e se transformam no interior dos grupos com o objeto de sua representação. Desta forma, compreender as representações sociais de um grupo de gestores escolares sobre “bom” gestor, suscita a indagação central do estudo em questão. As representações sociais dos gestores são construídas a partir da apropriação que eles fazem da prática, das suas relações e dos saberes históricos e sociais. Considerando a ideia, dos saberes históricos e sociais e que nada é definitivo, que a renovação desses saberes é necessária, e que os mesmos são elaborados através de práticas sociais é que escola é concebida. 143 Dotta (2206) afirma que por meio da Teoria das Representações Sociais podemos apreender esses saberes, pois, está envolvido o esforço em apreender os problemas da educação no processo que articula o homem concreto, em sua especificidade e complexidade à totalidade social, dentro do movimento histórico que os engloba em espaço e tempo definidos. O gestor escolar sob esse novo paradigma passa a atuar de forma mais dinâmica, comprometido com os destinos da instituição escolar, co- responsabilizando todos os atores da instituição escolar e da comunidade escolar no fazer pedagógico. GESTÃO PARTICIPATIVA A Constituição Federal de 1988 (Brasil, 1988) contou, em sua elaboração, com diversos setores da sociedade e em especial os educadores. Estes, que estavam empenhados no importante papel no sentido da democratização das políticas públicas de educação, incorporam no art.206, a gestão democrática da educação do ensino público como um de seus princípios basilares (AGUIAR, 2008). A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional – LDB (Brasil, 1996) também inseriu em seus artigos esse principio institucional, como inciso VIII do art. 3º, “gestão democrática do ensino público na forma desta Lei e da legislação dos sistemas de ensino”. O art. 14 em especial estabelece que os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica de acordo com as suas peculiaridades e, em especial, o principio da participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes. O futuro Plano Nacional de Educação (Brasil, 2010) abarca a gestão democrática da educação em seu art. 2º, inciso X, junto com a difusão dos princípios da equidade e do respeito à diversidade. A estratégia para cumprir esta meta 19, que trata da nomeação comissionada de diretores de escola, é a aplicação de uma prova nacional específica, a fim de subsidiar a definição de critérios objetivos para o provimento dos cargos de diretores escolares, acabando definitivamente com a indicação política. Na gestão democrática da escola está necessariamente implícita a participação da população em tal processo (PARO, 2003). Valoriza, “a participação da comunidade escolar no processo de tomada de decisão, na construção coletiva dos objetivos e das práticas escolares, no diálogo e na busca de consenso” (LIBÂNEO, 2008, p.132). Aguiar (2008) e Dourado (2006) afirmam ainda que é uma política direcionada à ampliação dos espaços de participação 144 nas escolas de educação básica, como exemplo o Programa Nacional de Fortalecimento dos Conselhos Escolares, que não é foco deste estudo. O conceito de gestão participativa envolve, além dos professores e outros funcionários, os pais, os alunos e quaisquer outros representantes da comunidade que estejam interessados na escola e na melhoria do processo pedagógico. Quando se discute a gestão democrática e participativa da escola pública, três temas aparecem recorrentes, mas que não retratam o verdadeiro ideal, talvez utópico, do que se deseja realizar como democracia verdadeira e consciência social dentro do ambiente escolar. Os temas não serão ampliados, mas constam de autores que poderão ser consultados para essa finalidade. O primeiro tema é a possibilidade de eleição para o cargo de diretor ser aberta à comunidade (LUPORINI; MARTINNIAK; MAROCHI, 2011). O segundo trata dos recursos financeiros disponibilizados diretamente para a escola, revestido de um caráter de autonomia aparente dessa gestão (DOURADO, 2007). O ultimo trata da efetiva participação da comunidade externa nas tomadas de decisão pedagógicas e administrativas, além do fortalecimento dos conselhos escolar1 (AGUIAR, 2008; DOURADO, 2006; PARO, 2003). GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA Gestão escolar é o termo que passou a substituir o termo administrativo escolar, significando não apenas uma mera mudança terminológica, mas uma alternativa conceitual ou mesmo paradigmática que tem sido alvo de muitas controvérsias. Conforme Luck (2000), para alguns esses processos se relaciona com a transposição do conceito do campo empresarial para o campo educacional, a fim de submeter a administração da educação à lógica de marcado. Para outros, o novo conceito de gestão ultrapassa o de administração, uma vez que envolve a participação da comunidade nas decisões que são tomadas na escola. Barroso (2000) entende que o conceito de administração é mais amplo, já que é “utilizado num sentindo genérico e global que abrange a política educativa”, ao passo que o termo “gestão escolar” refere-se a uma “função executiva educativa destinada a pôr em prática as polítocas previamente definidas”. Essa alteração no termo que, consequentemente, trouxe uma alteração no papel da direção escolar ainda não foi muito bem definida e estudada pela comunidade escolar que, embora venha realizando capacitações, ainda não conseguiu delinear bem o seu papel frente às novas definições e políticas. Conselhos escolares – ver Aguiar (2008); Dourado (2006) e Coselhos Escolares: uma estratégia de Gestão Democrática da Educação Pública (BRASIL, 2004). 1 145 Considerando que ao assumir o conceito de gestão a escola assumiu também o compromisso de passar a ser sinônimo de ambiente autônomo e participativo, entende-se que esse ambiente implica trabalho coletivo e compartilhado por várias pessoas para atingir objetivos comuns. Para que isso aconteça é preciso traçar bem os objetivos que se pretende alcançar e prepara todas as pessoas envolvidas no trabalho para buscar do alcance de tais objetivos, haja vista saber que a escola não se faz somente com o espaço físico, pois o corpo discente, o corpo docente, administrativo e operacional, juntos devem ter como compromisso as metas, para mostrar que a escola como espaço de competências também é um espaço dinâmico e interativo. CONCEITOS E COMPETÊNCIAS DA GESTÃO ESCOLAR A gestão escolar vai além do sentido de mobilizar as pessoas para a realização eficaz das atividades, pois implica intencionalidade, definição de um rumo, uma tomada de decisão diante dos objetivos sociais e políticos de uma escola. A escola, ao cumprir sua função social influi na formação da personalidade humana e não é possível estrutura-la para o cumprimento da sua função social, sem levar em consideração objetivos políticos, técnicos e pedagógicos. Segundo Libâneo (2004) a intencionalidade projeta-se nos objetivos que dão o rumo, a direção da ação. Na escola, isso leva à busca deliberada, consciente, planejada de integração e unidade de objetivos e ação, em torno de normas e atitudes comuns. O gestor responsável pelo espeço educacional assume posturas profissionais decorrentes de seu compromisso profissional na dimensão educacional. Essa postura envolve os aspectos referentes ao contexto da prática escolar, suas experiências pessoais, a influência das políticas públicas, do entorno onde a escola está inserida, do grupo de profissionais nas dimensões: pedagógica, técnica e política. Segundo Wittmann (2004) podemos falar que a gestão escolar possui três aspectos inalienáveis e inter-relacionados: a competência técnica, a liderança na comunidade e o compromisso público-político, as demais funções da gestão escolar, por mais importantes e indispensáveis, são adjetivas e complementares. A dimensão pedagógica envolve a organização do trabalho escolar no que diz respeito à elaboração do projeto pedagógico, no planejamento anual, nas reuniões pedagógicas, nos conselhos de classe, na recuperação da aprendizagem dos alunos com menor 146 rendimento escolar, na organização do tempo e do espaço escolar, no acolhimento às famílias e os alunos, no índice de aprovação e correção da defasagem idade/aprendizagem. Luck (2005) relaciona habilidades e conhecimentos em áreas: administrativas; relacionamento interpessoal e pedagógica elencando as principais habilidades e conhecimentos que os profissionais da gestão, precisam refletir de modo que possam liderar de forma competente uma escola, independentemente do nível de escolaridade que esta ofereça. Na área pedagógica a autora sugere: Compreensão dos fundamentos e bases da ação educacional; Compreensão da relação entre ações pedagógicas e seus resultados na aprendizagem e formação dos alunos; Conhecimento sobre organização do currículo e articulação entre seus componentes e processos; habilidade de mobilização da equipe escolar para a promoção dos objetivos educacionais da escola; habilidade de orientação e fedback ao trabalho pedagógico (2005, p.85). A dimensão ou competência técnica refere-se à organização do trabalho escolar na dimensão administrativa e financeira. Essa competência requer do gestor conhecimentos para o gerenciamento de recursos humanos e materiais, na obtenção dos recursos e prestação de contas dos mesmos, conservação dos materiais e patrimônios públicos. Em relação à competência técnica, Wittmann (2004) diz que a gestão demanda competências específicas. Há conhecimentos, aptidões cognitivas e aptidões atitudinais requeridas para o exercício da gestão escolar. Para gerir a escola há necessidade de formação específica. Luck (2005, p.84) define para o gestor na área administrativa uma: Visão de conjunto e de futuro sobre o trabalho educacional e o papel da escola na comunidade; Conhecimento de política e da legislação educacional; Habilidade de planejamento e compreensão do seu papel na orientação do trabalho conjunto; Habilidade de manejo e controle do orçamento; Habilidade de organização do trabalho educacional; Habilidade de acompanhamento e monitoramento de programas, projetos e ações; Habilidade de avaliação diagnóstica, formativa e somativa; Habilidade de tomar decisões eficazmente; Habilidade de resolver problemas criativamente e de emprego de grande variedade de técnicas. A dimensão política está associada à participação na gestão e a responsabilidade individual de cada membro da equipe escolar. O gestor coordena, mobiliza, motiva, lidera, delega responsabilidade decorrentes das decisões dos membros da equipe escolar, presta contas e submete à avaliação do grupo o desenvolvimento das decisões tomadas coletivamente. Essa dimensão associa-se ao desenvolvimento do trabalho no sentido de buscar parcerias, articular a comunidade escolar na representatividade dos coselhos escolares, nas 147 ações que envolvem o trabalho no cotidiano escolar, trazendo a comunidade exterior para o interior da escola, ou seja, abrir as portas do espaço educacional para que toda a comunidade possa usufruir e participar das decisões decorrentes daquele ambiente educacional. O gestor escolar na dimensão política exerce o principio da autonomia que requer vínculos mais estreitos com a comunidade educativa, os pais, as entidades e organizações paralelas à escol (LIBÂNEO, 2004). Ainda segundo Libâneo (2004) “a autonomia é a faculdade das pessoas de autogovernar-se, de decidir sobre seu próprio destino”. Autonomia de uma instituição significa ter o poder de decisão sobre seus objetivos e suas formas de organização, mante-se relativamente independente do poder central, administrar livremente recursos financeiros. As escolas públicas, possuem uma autonomia relativa, ou seja, a autonomia de uma escola pública pauta-se no planejamento, na organização, na orientação e o controle de suas atividades internas estando sujeita a adequação e aplicação das diretrizes gerais que recebem dos níveis superiores da administração do ensino. A presença da comunidade na escola, em especial os pais, significa representatividade e participação nos Conselhos de Escola de Pais e Professores para a elaboração e/ou reformulação do Projeto Político Pedagógico, acompanhando e avaliando a qualidade dos serviços prestados. A GESTÃO ESCOLAR O foco da gestão escolar é a relação que é desenvolvida dentro dos limites da escola e do seu entorno comunitário. Luck (2002) comenta seis motivos para se optar pela participação na gestão escolar: melhorara a qualidade pedagógica; currículos concretos, atuais e dentro da realidade; aumentar o profissionalismo docente; evitar o isolamento dos diretores e professores; motivar o apoio comunitário às escolas; e, desenvolver objetivos comuns na comunidade escolar. A efetiva gestão escolar implica na criação de ambiente participativo, independente da tendência burocrática e centralizadora ainda vigente na cultura organizacional escolar e do sistema de ensino brasileiro. Este sistema, segundo Luck (2002, p.17), visa “construir uma realidade mais significativa, não se constitui em uma prática comum nas escolas”. O que é verificado de mais comum sãoa as queixas dos diretores de que “tem que fazer tudo sozinhos 148 [...] para o trabalho da escola como um todo, limita-se os professores a suas responsabilidades de sala de aula”. Então, cabe no momento a seguinte pergunta como reflexão: o que está faltando nessa gestão escolar? Tentando responder a questão levantada, cabe, em primeiro lugar, aos responsáveis pela gestão escolar promoverem a criação e manutenção de um ambiente propicio à participação de todos, “ no processo social escolar, dos sues profissionais, de alunos e de seus pais, uma vez que se entende que é por essa participação que os mesmos desenvolvem consciência social crítica e sentindo de cidadania (LUCK, 2002, p.18). Essa mesma autora, acredita que algumas ações especiais deverão ser buscadas para a mudança das relações amplas vigentes na escola, na tentativa de se criar um ambiente estimulador de participações da comunidade escolar, tanto interna como extensa. Essas ações, segundo Luck (2002, 18-19) são: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Criar uma visão de conjunto associada a uma ação de cooperativismo; Promover um clima de confiança; Valorizar as capacidades e aptidões dos participantes; Associar esforços, quebrar arestas, eliminar divisões e integrar esforços; Estabelecer demanda de trabalho centrada nas ideais e não em pessoas; e Desenvolver a prática de assumir responsabilidades em conjunto. Então, quem seria o responsável por essa palavra e ação de ordem na comunidade escolar? É recomendável que essa liderança seja exercida pelo diretor (a) da escola, e que terá essa temática ampliada no próximo tópico. O GESTOR ESCOLAR – DIRETOR (A) O termo competências tornou-se popular já há alguns anos, como meio de concentrar algum foco nas iniciativas desenvolvidas de pessoas (TOPPING, 2002), surgido num contexto de crise do modelo de organização taylorista e fordista, mundialização da economia, exacerbação da competição dos mercados, exig~emcias de melhoria da qualidade dos produtos e flexibilização dos processo de produção do trabalho. Em síntese, competência é a demonstração da capacidade de aplicar conhecimento e/ou habilidade para resolver um problema em uma dada situação, e, quando relevante, atributos pessoais demostráveis (DELUIZ, 1996). Entende-se, assim, que o gestor escolar (que para o nosso estudo é o (a) diretor (a) da escola) reveste-se de toda a responsabilidade na gestão da organização-escola. Todabia, este vem assumindo, em uma sociedade que passa a 149 exigir a educação com qualidade para todos, pepeis que vão além da mera administração centralizadora e técnica. Luck (2002) listou nove competências de gestão democrática e participativa inerentes ao diretor. Podemos apontar duas que têm foco diretamente neste estudo, porém as demais completam com certeza o cabedal necessário na formação desse gestor. A primeira traz que o/a diretor (a) lidere e garanta a atuação democrática efetiva e participativa do conselho escolar ou outros colegiados escolares. A segunda seria a de liderar a atuação integrada e cooperativa de todos os participantes da escola, na promoção de um ambiente educativo e de aprendizagem, orientado por elevadas expectativas, estabelecidas coletivamente e amplamente compartilhadas. O que se pode verificar é que o vrbo liderar está empregado com importância vital para a efetivação dessa gestão democrática e participativa, ratificando o que Luck (2009) afirma dessa liderança para a participação conjunta e organizada, e tendo como condições de sua concreta atuação quando existe a aproximação entre escolas, pais e comunidade na promoção de educação de qualidade; do estabelecimento de ambiente escolar aberto e participativo, em que os alunos possam experimentar os princípios da cidadania. LIDERANÇA NO AMBIENTE ESCOLAR A referência principal deste tópico foi do livro Luck (2011) cujo o título é “Liderança em Gestão Escolar”. Essa autora acredita que a liderança na escola é uma característica importante e inerente à gestão escolar, por intermédio da qual o diretor orienta, mobiliza e coordena o trabalho da comunidade escolar no seu sentido amplo (interna e externa), como o escorpo da melhoria contínua e da aprendizagem. Essa autora afirma, o que percebemos como de real importância, que a gestão escolar é um processo que tem que ser efetivamente compartilhado, e sendo a competência no foco da liderança “constituindo-se em um dos fatores de maior impacto sobre a qualidade dos processo educacionais [...] não é possivel haver gestão sem liderança” (LUCK. 2011, p.25). A figura do líder, o individuo que exerce a liderança, é visto como aquele que é seguido, mesmo não dispondo de qualquer autoridade estatutária, não imposta por artifícios legais, porque ele consegue ser aceito e principalmente respeitado, unindo e representando o grupo na realização dos anseios comuns e metas da escola. O líder não é o chefe institucional, 150 ele é mais do que uma representação fixa e central no organograma da instituição. Ele descentraliza a sua liderança como ato de uma gestão democrática em que a tomada de decisão é disseminada e compartilhada por todos os participantes da comunidade escolar (LUCK, 2011). A autora apresenta ainda um trabalho realizado no Projeto Rede Nacional de Referência em Gestão Escolar (projeto renageste), que expõe indicadores para a qualidade na gestão escolar e ensino, onde afirma que a gestão escolar é eficaz quando os dirigentes, ao liderarem as ações da escola, fazem-no orientados por uma visão global e abrangente do seu trabalho. São nove os indicadores encontrados, a saber: liderança, educacional, flexibilidade e autonomia, apoio à comunidade, clima escolar, processo ensino aprendizagem, avaliação do desempenho acadêmico, supervisão dos professores, materiais e texto de apoio pedagógico, e espaço físico adequado. Nesse estudo, segundo Luck (2000, p.2), os Dirigentes de escolas eficaz são líderes, estimulam os professores e funcionários da escola, pais, alunos e comunidade a atualizarem o seu potencial na promoção de ambiente escolar educacional positivo e no desenvolvimento de seu potencial, orientado para a aprendizagem e construção do conhecimento, a serem criativos e proativos na resolução de problemas e enfrentamento de dificuldades. No guia de “Indicadores de Qualidade da Educação”, uma das dimensões analisadas é a gestão democrática, em que deixa claro, para ela seja considerada democrática, as seguintes características: o compartilhamento de decisões e informações, a preocupação com a qualidade e com a relação custo beneficio, a transparência financeira. Dos indicadores constantes desse guia, a primeira pergunta é relevante ao estudo em tela: “a direção consegue informar toda a comunidade escolar sobre os principais acontecimentos da escola? (RIBEIRO, 2004, p.32). Da gama de conceitos que podem ser expostos oriundos das mais diversas fontes e de alguns pontos que foram observados nesta ação, acredita-se que a liderança não é somente mais uma função exclusiva do individuo, é também uma função do grupo. Os líderes possuem uma visão do futuro que deve ser conquistado por todos os seus seguidores. Parta tal intento, ele influencia, mobiliza, incentiva, articula e inspira a criação e o desenvolvimento de um futuro melhor orientado para a vitória, dentro de um ambiente de harmonia e participação. Em suma: líder é ensinar, mas também é aprender. O PAPEL DA LIDERANÇA NO GESTOR ESCOLAR 151 O gestor escolar, como já visto, passou a ter uma gama de ações inerentes ao seu dia a dia de trabalho, além das já tradicionais administrativas, absorvendo também os aspectos pedagógicos. Em estudo realizado sobre os perfis de liderança, Polon (2011, p.43), já sinalizado por Luck (2011) e Sammons (2008), utiliza-se do conceito de escola eficaz, aquela que “o aprendizado dos seus alunos vai além do aprendizado típico de escolas frequentadas por alunos de origem social semelhante”, para introduzir que a liderança do gestor escolar é desejável e importante nas condições de favorecimento da eficácia em educação. Ao final, a autora ratifica que os estilos ou perfis de liderança escolar se constituem em fatores “a afeta a eficácia do ensino, que neste trabaho foram expressos [...] indica a necessidade de valorização da dimensão pedagógica [...] no cenário atual marcado por políticas públicas educacionais [...] no cenário atual marcado por políticas públicas educacionais [...] por princípios de descentralização desconcentração” (POLON, 2011, p.16). A leitura verificada encaminha-se com consequente e necessária autonomia das escolas públicas, afim de a construção da gestão democrática e participativa com qualidade do ensinoaprendizagem para contingente maior de alunos. Outro estudo interessante, sobre liderança e sua relação com as escolas eficazes, é apresentado por Sammons (2008), que destaca onde características-chave de eficácia e melhoramento escolar. A primeira a ser descrita, e que tem ligação direta com este estudo, foi a “Liderança Profissional”. A autora afirma que quase todos os estudos sobre eficácia escolar mostram a liderança como fator-chave, necessária para dar inicio e manter o melhoramento da escola. O papel que esse líder desempenha é caracterizado pela visão, valores e objetivos da escola, e às suas abordagens em relação a mudanças. Ele tem que ter decisões firmes e objetivas, um enfoque participativo de todos e um verdadeiro profissional que lidera. CONSIDERAÇÕES FINAIS Este estudo buscou discutir a função de gestão escolar sob o novo enfoque, permeado pela Teoria das Representações Sociais, onde o gestor passa a atuar mais comprometido com os destinos da instituição escolar, co- responsabilizando os parceiros no fazer pedagógico. O gestor escolar no desempenho da sua função assume posturas profissionais que decorrerem do seu perfil profissional e da influência de políticas públicas, do entorno onde a escola está inserida, do grupo de profissionais que compõem o quadro funcional, apresentadas nas dimensões: pedagógica, técnica e política. As referidas dimensões entendidas como 152 competências dos gestores estão interligadas e no cotidiano da ação indissociáveis para a concretização dos objetivos educacionais da Escola. A atuação do gestor na dimensão técnica amplia as suas responsabilidades para gerir a complexidade da escola atual. Competência técnica no sentido de ser um conhecedor da legislação educacional, da origem dos recursos financeiros, bem como a prestação de contas dos mesmos, das atribuições do sistema de ensino escolar. A categoria que formou essa dimensão foi representada pela palavra gerenciamento. Na dimensão política sua atuação está vinculada à pertinência e relevância do que executa na escola. O significado social, político e histórico da aprendizagem é que faz com que a proposta educativa da escola seja um projeto político, além de pedagógico (WITTMANN, 2004). As palavras liderança, democrática e humanista constituem a dimensão política, onde a ação dos sujeitos pesquisados está mais focada. Encerrando a discussão a dimensão pedagógica é definida pelos gestores pela palavra: Projeto Político Pedagógico, onde o mesmo engloba e norteia todas as ações da escola, sendo este, liderado pelo gestor e construído por todo o coletivo de educadores. 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