A CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA / CRIANÇA COMO BASE PARA A EDUCAÇÃO FILOSÓFICA PARA MATTHEW LIPMAN Maria José de Souza Flavio (Bolsa UEL), Darcísio Natal Muraro, e-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/ Departamento de Educação/CECA. Área e sub-área do conhecimento: 7.08.01.0.1-0 – Educação / Filosofia da Educação Palavras-chave: Criança. Educador. Filosofia. RESUMO O projeto de pesquisa analisou a concepção de infância/criança desenvolvida por Matthew Lipman como pressuposto para criar uma proposta de educação filosófica desde os primeiros anos da educação escolar. A metodologia que nos conduziu caracteriza-se como pesquisa bibliográfica, de caráter filosófico, centrado na análise de conceitos. Consideramos o assunto de grande relevância para a educação, uma vez que compreender o significado da infância oferece uma base teórica necessária a toda prática pedagógica, especialmente para pensar como conduzir o aprendizado filosófico dos alunos. Isto porque os aspectos filosóficos, como conceitos e habilidades, aparecem na experiência da criança fazendo-se necessária a abordagem filosófica dos mesmos sempre num grau crescente como uma educação que desperte o pensar filosoficamente de maneira significativa, prazerosa e reflexiva. Por outro lado, observamos que no mundo globalizado, o avanço das novas tecnologias pode facilitar o trabalho da reflexão filosófica com a criança/infância adequando-o às peculiaridades das novas gerações. Por outro lado, a filosofia pode contribuir com a reflexão crítica sobre a própria tecnologia e sobre o que pensamos quando inseridos neste mundo. Introdução e objetivo Aquela velha frase que diz que as crianças não entendem nada de filosofia pode ser questionada, pois elas se absorvem reflexivamente em quase tudo do que esteja acontecendo ao seu redor. A criança que é estimulada a ler e dialogar sobre a leitura desde cedo é adquire um bom vocabulário. Oferecer uma boa leitura e que faça viajar pela história, ou que a inclua no contexto ainda que seja só na imaginação criando um clima de questionamentos e construção de sentidos, contribuirá de forma significativa em seu intelecto uma vez que terá um conjunto de referências para continuar pensando. A criança é perspicaz em inserir-se nos personagens, e se imaginar fazendo parte daquela história. Ela sabe 1 diferenciar o mundo imaginário do real a medida que seu pensar se aprimora. Chegamos, assim, aos objetivos desta pesquisa: levantar e analisar a concepção de infância / criança de Matthew Lipman; compreender a proposta de educação filosófica a partir do conceito de infância / criança e, por fim, discutir a importância da relação entre infância / criança e a educação filosófica diante dos desafios atuais da educação. Procedimentos metodológicos A metodologia da pesquisa será basicamente bibliográfica. Propõe-se analisar as obras de Matthew Lipman para identificar e analisar a concepção de infância deste pensador e educador. Desta maneira, o trabalho de sistematização desta pesquisa trouxe luzes para nós, como educadores pensar e diagnosticar uma maneira de introduzir a filosofia na grade curricular. Resultados e discussão Pensarmos em filosofia, ainda hoje nos assusta um pouco. É comum ouvirmos crianças ou adolescentes dizerem: não entendo nada de filosofia, não gosto de filosofia, é uma disciplina muito difícil de se entender! Isto nos leva a indagarmos os motivos destas pessoas não apreciarem a filosofia. Será que aqueles que as ensinam também não conseguem visualizar aplicabilidade em suas vidas? Ou estes alunos imaginam que filosofia só serviu para os antigos pensadores? Por um longo tempo isto foi realidade, mas nos nossos dias esta visão tem sido clareada a medida em que uma nova filosofia da infância leva a rever o trabalho com filosofia proporcionando o desenvolvimento do pensar crítico, criativo e ético. O trabalho de filosofia com as crianças criado por Lipman tem como base a sua concepção de infância expressa da seguinte forma: [...] a infância é uma dimensão legítima do comportamento humano e da experiência humana e que não é menos habilitada ao tratamento filosófico que as outras dimensões para as quais já existem filosofias.” (LIPMAN, 1990, p. 216) Para o autor, a infância é um campo fértil para a filosofia, até agora esquecido: “Talvez sua pretensão à singularidade filosófica pudesse ser o fato de que é aspecto esquecido – se não reprimido – da experiência. (LIPMAN, 1990, p. 216) O aspecto que anela a filosofia com a criança é, para Lipman, “[...] o estado de maravilhamento e perplexidade que é uma característica geral da infância.” (LIPMAN, 2004, p. 1) Na perspectiva de Lipman, a filosofia aparece na infância pela necessidade da criança de buscar significados às suas experiências. Ele 2 argumenta que o aspecto filosófico aparece muito cedo na vida da criança, especialmente quando ela começa a perguntar pelo por quê das coisas: “As crianças começam a pensar filosoficamente quando começam a perguntar por quê? A pergunta ‘por quê?’ é sem dúvida a favorita das crianças pequenas, mas não é uma pergunta simples. Normalmente atribuem-se duas funções principais a essa pergunta. A primeira é descobrir uma relação causal, e a segunda é determinar uma finalidade. (LIPMAN, 1994, p. 85) Há de se esperar que o ensino da filosofia parta dos interesses das crianças. Estes interesses têm conexão com conceitos que foram objeto de reflexão na história da filosofia. (cf. MURARO, 2009) Se a filosofia deve ser conduzida pelo prazer, então somos compelidos a usar de estratégias para abarcar nossos objetivos ao introduzirmos o ensino da filosofia com os mecanismos que a criança ou o jovem usa. Eles consideram muito importante conhecer tudo que esteja ligado ao mundo tecnológico de seus celulares, tablets, jogos, etc. Como consequência disto acabam descobrindo novas maneiras de interação, comunicação e até mesmo de aprendizado. Devemos instruí-las ao ato de pensar criticamente. Levá-las a indagar sobre suas ações, suas inter-relações. Fazê-las perceber se os seus relacionamentos têm sido saudáveis. Temas como natureza humana, liberdade, justiça, fraternidade também devem ser observados. Conceitos e regras, verdades e mentiras, acertos e erros. Todas estas problemáticas devem ser colocadas à disposição dos alunos, para que eles reflitam, entendam, cresçam no aprendizado, tomem posições e pratiquem com êxito sua cidadania. Conclusão Lipman concebe a infância como uma dimensão legítima do comportamento humano e da experiência humana. O que se destaca na infância é o comportamento de maravilhamento e espanto, o inesgotável questionamento a busca pelo significado dos conceitos seu gosto pela aventura. descoberta e criatividade. Estes aspectos são característicos do fazer filosófico, sendo possível assim, criar uma filosofia da infância e contribui para pensar a própria filosofia. Lipman questiona o dualismo infância (vazio) adulto (pleno de significados). O que precisamos entender é que, como diz Lipman: todos os adultos já foram crianças um dia, mas as crianças nunca foram adultas. Neste sentido, o adulto poderá reencontrar em si a infância filosófica na sua experiência criando possibilidade de diálogo, investigação ou pensar criativo e compartilhado. Os conceitos e habilidades aprendidos pelas crianças através da filosofia contribuem para o aprendizado também nas outras disciplinas. Isto 3 porque essas crianças desenvolvem o pensamento reflexivo e o aplicam em seu viver. Alguns educadores não querem se envolver tanto com seus alunos, porque isso geraria mais trabalho. Outros não têm empenho para fazer brotar das crianças a curiosidade natural, desta forma desenvolvendo o pensar crítico. Suas aulas são cansativas, voltadas para a fixação de conteúdos pela memória, não há criatividade na apropriação das ideias. Esses esquecem o quanto as crianças são lúdicas, criativas, fantasiosas. A criança tem uma curiosidade natural, é imaginativa por natureza. É importante que se estimule estas capacidades da criança, direcionando-a para aprender a pensar reflexivo não sendo mera reprodutora dos valores e cultura dominante. A melhor pedagogia para realizar este processo que aproveita tanto das capacidades das crianças, seus saberes e habilidades quanto da cultura é a comunidade de investigação. Por isso, Lipman propõe “Transformar a sala de aula numa comunidade de investigação constante.” (LIPMAN, 1990, p. 165). Nesta experiência, a criança aprenderá da forma dialógica e investigativa. Caso contrário, diz Lipman: “O estudante que aprende apenas os resultados da investigação não se torna um investigador, mas um estudante instruído.” (LIPMAN, 1990, p. 58) Uma proposta interessante para pensar a educação filosófica seria montar um grupo de estudos, que envolvesse professores, pais e alunos, voltados com o olhar para os problemas da sociedade, iniciando assim um pensamento crítico na criança, proporcionando a ela uma condição de resolução de problemas e consequentemente tornando-a num sujeito crítico e criativo comprometido com a transformação de um mundo. Referências bibliográficas LIPMAN, Matthew; OSCANYAN, F.; SHARP, A. M. Filosofia na sala de aula. São Paulo: Nova Alexandria, 1994. _______. Filosofia vai à escola. 2ª. ed. São Paulo: Summus, 1990 _______. Manual do Professor “Em busca do significado”. São Paulo: Difusão de Educação e Cultura, 2004. MURARO, Darcísio Natal. Filosofia da Educação e Filosofia para Crianças. Publicado em 10 de dezembro de 2009. Disponível em: <http://www.philosletera.org.br/index.php?option=com_content&view=article&i d=145&Itemid=390>. Acesso em: 16 ago. 2015. 4