SOCIOLOGIA PODER/ VIOLÊNCIA/ CORRUPÇÃO 1. Alguns conceitos científicos possuem definições próprias, claro, e são independentes em si mesmo. Mas, quando se considera o contexto em que são empregados, como, por exemplo, numa análise sociológica, eles têm também uma função de aglutinação ou de correlação. É o caso dos conceitos que dão título a este artigo para o blog IC FAMA – A Iniciação Científica da FAMA na Web, poder/ violência/ corrupção. A arquitetura de uma favela é bastante defensiva Uma UPP representa o poder do Estado 2. Referimo-nos ao contexto de luta pelo poder, violência urbana e corrupção endêmica, que permeia as grandes cidades brasileiras e em especial o Rio de Janeiro. São fenômenos sociológicos que diríamos inerciais, repetitivos, considerando a recorrência ou constância, bem como a ausência de solução à vista. E isto até mesmo para os mais otimistas dos analistas. 3. Bom, vamos analisar cada conceito em relação ao contexto sociológico deste artigo para depois correlaciona-los, no que constituirá a síntese do mesmo. O que chamamos aqui de contexto sociológico é nada mais nada menos do que os conflitos de interesses entre a sociedade organizada e as comunidades ou favelas marginalizadas, das periferias da grande cidade. Aqui no Rio, por exemplo, os conflitos que estão ocorrendo diuturnamente nas comunidades ou favelas vis-à-vis com a ordem pública, com o poder estabelecido. Quer dizer, conflitos cada vez mais agudos à medida que existe reações e, naturalmente, conscientização sobre os direitos de cidadania. Pelo menos, já que não se trata de uma simples questão de cidade partida ou de contradição entre o morro e o asfalto, como antigamente. 4. O poder. Talvez a forma mais originária do poder seja a luta por território, num espaço geográfico qualquer, tanto menos como domínio de um quarteirão ou de um bairro, quanto maior se for o caso das guerras de um povo, uma nação ou uma etnia contra os seus contrários. Sem ir tão longe nessa análise, o poder ao qual nos referimos é o poder do traficante de drogas e dos milicianos armados pelo controle de um pequeno território, uma comunidade, uma favela. Os conflitos relacionados a este tipo de poder estão na base, na raiz da problemática sociológica diariamente estampada nas mídias. 5. A violência. Também dentro do mesmo diapasão de análise, tomada isoladamente. Nesse caso, ainda que não exclusivamente, pois há outras variáveis que não vamos abordar neste artigo, a violência é resultante da ausência do Estado, da ordem pública, nas favelas e comunidades marginalizadas. A própria desigualdade de direitos de cidadania, confrontados com as áreas privilegiadas da cidade aumenta o número dos descontentes e inconformados com seu status quo, com seu trem de vida, que encontram na violência não só uma forma de descarregar a raiva por não ter acesso ao melhor bem estar, como também a considera como um meio de mudar de vida, de ter bens, etc. 6. A corrupção. Esta tem uma dupla fonte, como na mitologia sobre Janus ou Jano, o deus de dupla face: ativa e passiva, dependendo do papel representado. São corrompidos os agentes do Estado e da ordem pública para “aliviar” a pressão sobre as favelas e comunidades. Idem são corrompidos os que deveriam ser cidadãos de bem nas áreas de conflito para darem apoio popular quando há pressão por ordem nas mesmas. É uma corrupção endêmica que, na sociedade brasileira, não só é tolerada, como também serve de trampolim para reconhecimento e/ou ascensão social. 7. Todos esses fenômenos sociológicos, contemporâneos, que relacionamos acima, estão presentes na tentativa de pacificação engendrada com as Unidades de Policia Pacificadora, as UPPs. Inclusive em outros Estados da federação que utilizam metodologias similares, ou pelo menos com os mesmos objetivos. Quer dizer, a agudização dos problemas decorrentes de ações conflituosas, com populações cada vez mais exigentes em direitos e consumos, faz aflorar a luta pelo poder de domínio territorial, a violência como manifestação social e a corrupção como mediadora de interesses e privilégios. 8. Dentre as melhores soluções para tais conflitos configurados aqui no Rio de Janeiro, destacamos: 1) maior presença do papel social do Estado nas áreas de conflitos, o que vale dizer nas áreas abandonadas pelo poder público; 2) controle mais rigoroso sobre os meios que potencializam a violência, nesse caso sobre armas, munições e drogas, já que não se briga mais com facas e navalhas, como nas favelas de antigamente; e, last but not least, 3) uma punição efetiva sobre os desvios de conduta profissional e também social que geram a corrupção. 9. Parece claro que, dada esta problemática inercial, não há solução de médio prazo à vista. Não se trata só de por mais efetivos policiais, militares e repressivos nas favelas ou comunidades, como foi decidido entre o governo do Estado e a presidência da República em 21.03.14. Tudo indica que boa parte das populações de áreas conflituosas não só teme o poder de traficantes e de milicianos, mas que também tem suas vantagens com eles. Este é um fenômeno antigo, de empatia entre criminosos, segundo a ótica da ordem pública, e populações discriminadas socialmente. 10. Enfim, não há nada de trágico na conjuntura dos conflitos sociais que estamos vivenciando, que estão sendo divulgados ad nauseam, pelas mídias, sociologicamente considerando, são problemas decorrentes de conflitos de interesses que faz parte da dinâmica da sociedade, quando há um maior grau de desigualdade social e/ou de qualquer desigualdade percebida pelos sujeitos sociais cada vez mais exigentes, no Brasil e no Rio de Janeiro em particular. A solução? Com a palavra os utopistas, os que acham que os humanos um dia viverão em perfeita harmonia. O fato é que se visa muito mais atenuar o potencial conflituoso do se buscar uma solução para o mesmo. REFERÊNCIA: SOUZA, Antonio. Blog IC FAMA – A Iniciação Científica da FAMA na Web. In 24 de março de 2014.