Análise de Projectos ESAPL / IPVC Critérios de Valorização e Selecção de Investimentos. Métodos Dinâmicos Critério do Valor Líquido Actualizado (VLA) z O VLA de um investimento é a diferença entre os valores dos benefícios e dos custos previsionais que o caracterizam, depois de actualizados a uma taxa de actualização convenientemente escolhida. z Trata-se de uma medida absoluta de rendibilidade que traduz o montante residual dos benefícios líquidos gerados durante o período de vida útil do investimento, depois de lhe ser deduzida a remuneração do conjunto dos capitais nele envolvidos a uma taxa de juro igual à de actualização usada nos cálculos. VLA – um exemplo z Seja um investimento qualquer, caracterizado pelos custos de investimento e de exploração e pelos benefícios anuais previsionais da tabela seguinte: Anos t Custos de Investimento It Custos Anuais de Explor. Ct Benefícios Anuais Bt 0 10.000 - - 1 1.200 1.000 1.500 2 1.000 1.500 3.000 3 2.000 6.000 4 2.500 7.500 5 a 15 3.000 8.500 VLA - um exemplo (cont.) z Como se disse anteriormente, é necessário actualizar todos aqueles valores. Admitamos fazê-lo a uma taxa de desconto i = 25%. Para tanto basta multiplicar todos os valores pelo respectivo Factor de Desconto. Note-se que no último caso, em que temos os anos 5 a 15, aqueles valores devem ser tratados como anuidades de uma renda constante, com quatro anos de diferimento. Anos (t) Factor de Desc. (1+i)-t Cust. Inv. Act. It(1+i)-t C. A. Exp. Act. Ct(1+i)-t Ben. An. Act. Bt(1+i)-t Ben. Incr. Act. (Bt- It- Ct) (1+i)-t 0 1 10.000 - - -10.000 1 0,8 960 800 1.200 -560 2 0,64 640 960 1.920 320 3 0,512 - 1.024 3.072 2.048 4 0,410 - 1.025 3.075 2.050 5 a 15 1,497 - 4.491 12.725 8.234 Totais - 11.600 8.300 21.992 2.092 VLA – um exemplo (cont.) z Note-se, no exemplo anterior, que o Factor de Desconto para a linha correspondente aos anos 5 a 15 pode ser calculado de duas maneiras: z Ou pela actualização de uma renda diferida: ⎛ 1 ⎞ 1 − (1 + i ) ⎜ ⎟ + 1 i i ⎝ ⎠ t z −n = (1 , 25 1 − (1 , 25 0 , 25 )− 11 = 0 , 4096 × 3 , 6546 = 1 , 497 Ou pela diferença entre os Factores de Desconto de uma Anuidade para 15 anos e para 4 anos: 1 − (1, 25 ) FDA15 − FDA 4 = 0, 25 − 15 z ) −4 1 − (1, 25 ) − 0, 25 −4 = 3,859 − 2,362 = 1, 497 Note-se ainda que o VLA é igual a 2.092 unidades monetárias, ou seja, o somatório dos Benefícios Incrementais Actualizados, ou ainda a diferença entre o total dos Benefícios Anuais Actualizados e os totais dos Custos de Investimento e Anuais de Exploração Actualizados. Significado do VLA z O facto do VLA ser positivo indica que os benefícios gerados durante o período de vida útil do investimento seriam suficientes para: z z z Assegurar a recuperação dos capitais aplicados na sua realização e exploração; Fazer face aos respectivos juros, supostos à taxa anual de 25%. Ou seja, remunerar aqueles capitais a uma taxa de 25% ao ano; Gerar um benefício residual ao longo daquele período que, reportado ao momento presente, se traduziria no montante de 2.092 unidades monetárias. VLA – expressões de cálculo z As expressões a utilizar no cálculo do VLA de um investimento são então: n VLA = ∑ [Bt − (I t + Ct )] (1 + i ) −t t =0 n n VLA = ∑ (Bt − Ct ) (1 + i ) − ∑ I t (1 + i ) t =0 −t t =0 −t O VLA como critério de selecção de investimentos z Considera-se que um projecto é rentável, se o seu VLA for positivo. z O VLA serve como: z z Critério de rejeição: qualquer projecto cujo Valor Líquido Actualizado seja negativo é rejeitado. Critério de Selecção: entre dois projectos concorrentes, escolhe-se aquele cujo Valor Líquido Actualizado seja superior. O Índice de Rendibilidade z z Critica-se por vezes o método do VLA por não permitir uma comparação válida entre dois projectos cuja mobilização inicial de fundos seja diferente. Para ultrapassar este inconveniente usa-se também o chamado Índice de Rendibilidade que é dado por: IR = z Valor Act. dos Benef. Anuais Líquidos e do Valor Residual do Invest. Valor do Inv. Inicial ou Valor Act. dos Inv. Sucessivos Para o exemplo anteriormente dado teríamos: IR = z z 400 + 960 + 2048 + 2050 + 8324 = 1,19 11600 Entre dois projectos concorrentes, escolhe-se aquele cujo índice de rendibilidade seja superior. Como adiante se verá, este índice de rendibilidade não é mais do que um dos Rácios Benefícios-Custos que a seu tempo vamos analisar. VLA e Taxa de Actualização z A dependência do VLA relativamente à taxa de actualização é a seguinte: z ∆ VLA <0 ∆i Note-se que para isto acontecer, um dos parâmetros tem de ser negativo, ou seja, quando a taxa de actualização cresce o VLA decresce ou, quando a taxa de actualização decresce o VLA cresce. Graficamente teremos: VLA z z z z z i i → -1 ⇒ VLA → +∞ i → 0 ⇒ VLA → Σ (Bt – Ct)-It i → +∞ ⇒ VLA → B-C-I (no momento zero) Note-se que no segundo caso, numa situação normal, o VLA é positivo e máximo. No terceiro caso, numa situação normal, o VLA é negativo. A Taxa Interna de Rendibilidade (TIR) z Por definição, a Taxa Interna de Rendibilidade de um investimento é a taxa de actualização para a qual se anula o respectivo VLA: TIR = r , tal que, n −t ( ) ( ) [ ] B − I + C 1 + r =0 ∑ t t t t =0 z z Este critério proporciona uma medida de rentabilidade do investimento em valor relativo (%) e actual, sendo portanto um método de valorização de investimentos. Mas é também um método de decisão, pois permite-nos saber se interessa ou não levar a cabo um determinado investimento. Para tanto baste que se especifique o valor da taxa de desconto (por exemplo, k). A TIR como Método de Decisão e Selecção z Seguindo o raciocínio do slide anterior, sendo r a TIR e k a taxa de desconto: z z z z Se r > k : o VLA será positivo e portanto o investimento aumentará a riqueza da empresa; Se r < k : o VLA será negativo e portanto o investimento não interessa; Se r = k : o investimento é um investimento neutro, que não influi na riqueza da empresa. A sua realização é portanto indiferente. Regra de Selecção: de entre todos os projectos que cumpram a regra r > k, elege-se aquele cuja TIR seja a mais elevada. TIR – vantagens e inconvenientes z z z A TIR proporciona um dado relativo expresso em percentagem, ou seja, fornece um dado comparável, independente do capital investido. Permite por isso estabelecer a comparação entre projectos cujos desembolsos iniciais sejam completamente diferentes. O seu principal inconveniente reside no facto de, em certas situações, e de acordo com o tipo de fluxo de caixa e/ou a duração do investimento, poderem existir várias TIR, ou mesmo nenhuma TIR. Note-se que o método sé tem significado quando haja uma só TIR para um dado investimento. Quantas TIR por projecto ? VLA VLA VLA Uma só TIR Duas TIR r r1 k z Nenhuma TIR r2 i i Nos chamados investimentos Simples – formados por um desembolso inicial e um conjunto posterior de fluxos de caixa, todos positivos – existe sempre uma única TIR, positiva também. TIR – um exemplo z Uma empresa deseja renovar o seu equipamento e está a estudar um projecto de investimento que supõe um desembolso inicial de 100 u.m. E que gera uns fluxos de caixa anuais de 60 u.m no primeiro ano e 70 u.m. No segundo. Considere-se um valor residual de 5 u.m.. Qual a TIR do projecto de investimento para a empresa ? Sendo o juro de mercado k = 12%, dizer se é ou não aconselhável o projecto. 60 75 + 1 + r (1 + r )2 mas como queremos que VLA = 0 100 ⋅ (1 + r ) − 60 ⋅ (1 + r ) − 75 = 0 60 75 100 = + 1 + r (1 + r )2 12 ± 12 2 + 1200 1+ r = = 1,216 ou − 0,616 2 × 20 1 + r = 1,216 ⇒ r = 21,6% VLA = −100 + 100 ⋅ (1 + r ) = 60 ⋅ (1 + r ) + 75 2 z 2 20 ⋅ (1 + r ) − 12 ⋅ (1 + r ) − 15 = 0 2 Uma vez que r > k, ou seja, a TIR é superior à taxa de desconto (21,6% ´superior a 12%), o investimento é aconselhável. TIR – outro exemplo z z z Normalmente a determinação da TIR não é de cálculo matemático tão fácil como o caso anteriormente apresentado. Em vez de nos depararmos com equações de segundo grau, deparamo-nos frequentemente com equações de grau muito superior, fazendo com que seja mais frequente calcular a TIR por tentativas e interpolação. Vejamos: Como queremos determinar uma taxa que conduza a um VLA nulo, devemos por começar por, através de tentativas, determinar duas taxas suficientemente próximas uma da outra (com não mais de 4 a 5 pontos percentuais de afastamento), de tal forma que uma conduza a um VLA positivo, e outra a um VLA negativo. Suponhamos então que fazíamos isso relativamente a um determinado projecto de investimento e obtínhamos um VLA de 897 u.m. para uma taxa de desconto de 27%, e um VLA de –138 u.m. para uma taxa de desconto de 29%. (continua) TIR – outro exemplo (contin.) z Graficamente teríamos a seguinte situação: z VLA z 897 r 27% -138 z 29% k Por interpolação será agora possível determinar, aproximadamente, a taxa r que conduz a um VLA nulo. Dizemos aproximadamente, e anteriormente dissemos que o afastamento entre as duas taxas utilizadas não deve ser superior a 4 a 5 pontos percentuais, porque o gráfico do VLA tem a forma de uma curva e não de uma recta. Repare-se que a uma diferença de 2 pontos percentuais nas taxas (de 27 para 29%), corresponde uma diferença de 1.035 u.m. no VLA (de -138 a 897). Devemos então procurar a variação de taxa que anula as 897 u.m. positivas, ou a variação de taxa que anula as 138 u.m. negativas: 0,02 1.035 x 138 x = 0,003 ⇒ r = 0,29 – 0,003 = 0,287 ⇒ TIR = 28,7% y 897 y = 0,017 ⇒ r = 0,27 + 0,017 = 0,287 ⇒ TIR = 28,7% O Tempo de Recuperação com Desconto (TRD) z z z z Método também conhecido por Pay-Back com desconto. A diferença para com o método estático do Tempo de Recuperação está no facto de este ter em conta os diferentes valores dos capitais em momentos de tempo distintos. Daí o seu carácter dinâmico. O Tempo de Recuperação com desconto é o período de tempo que leva a recuperar, em termos actuais, o desembolso inicial do investimento. Seja n o período de vida útil de um investimento, com um desembolso inicial A e fluxos de caixa anuais Q. O TRD, t, será aquele para o qual: A= Q3 Qt Q1 Q2 + + + + L 2 3 1 + k (1 + k ) (1 + k ) (1 + k )t 0 1 2 3 -A Q1 Q2 Q3 t ... Qt n ... Qn TRD – Regra de Selecção e Inconvenientes z z Segundo o critério do TRD, interessarão mais os investimentos que tenham um TRD mais pequeno. Entre vários investimentos, será escolhido aquele que tenha um TRD menor, ou seja, o que permita recuperar o capital investido o mais rapidamente possível. Como principais inconvenientes deste método, pode dizer-se que beneficia a liquidez do projecto em vez da sua rentabilidade e não leva em linha de conta os fluxos gerados após o tempo de recuperação. TRD – um exemplo z z z Uma empresa deseja calcular o TRD de um investimento que requer um desembolso inicial de 10.405 u.m., sendo os fluxos gerados pelo mesmo os seguintes: 1º ano – 2.200 u.m.; 2º ano – 4.840 u.m.; 3º ano – 5.324 u.m.; 4º ano – 7.200 u.m.. A taxa de actualização, ou rentabilidade requerida do investimento, k, é de 8%. Valor Actualizado dos Fluxos: Q1 (1+k)-1 = 2.200 (1+0,08)-1 = 2.035 u.m. Q2 (1+k)-2 = 4.840 (1+0,08)-2 = 4.184 u.m. Valor Acum. = 6.138 Q3 (1+k)-3 = 5.324 (1+0,08)-3 = 4.222 u.m. Valor Acum. = 10.405 O TRD é de 3 anos, porque: 10.405 = 2.200 4.840 5.324 + + 1 + 0,08 (1 + 0,08)2 (1 + 0,08)3 Os Rácios Benefícios-Custos (RBC) z z z São outro tipo de medida da rendibilidade de um projecto. Exprimem-se pelo quociente entre os benefícios e custos, depois de actualizados a uma taxa conveniente (a adequada para o VLA). Podem-se considerar vários tipos de rácios. Vejamos: n 1 RBC = ∑ Bt (1 + i ) −t z t =o n ∑ (I t =0 + Ct ) (1 + i ) −t t (continua) Quociente entre os benefícios actualizados e os custos totais actualizados Os Rácios Benefícios-Custos (RBC) n 2 RBC = −t ( ) ( ) B − C 1 + i ∑ t t RBC = Quociente entre os benefícios líquidos actualizados e os custos de investimento actualizados z Quociente entre os somatórios dos benefícios incrementais positivos e negativos, depois de actualizados t =o n ∑ I (1 + i ) t =0 3 z −t t n −t ( ) ( ) B − C − I 1 + i ( > 0) ∑ t t t t =o n ∑ (B − C t =0 t − I t ) (1 + i ) (< 0) −t t RBC – Inconvenientes e Vantagens z z Inconveniente: O valor do rácio depende do processo de cálculo utilizado. Note-se que métodos de cálculo que levem à redução do denominador, conduzem normalmente ao aumento do rácio. Vantagem: Fornecem directamente uma estimativa rápida de quanto poderão aumentar os custos incluídos no denominador, sem que a rentabilidade do investimento seja posta em causa. Por exemplo: z n Se RBC = −t ( ) ( ) B C i − 1 + ∑ t t t =o n ∑ I (1 + i ) t =0 −t t = 1,18 z O valor 1,18 permite-nos afirmar que aumentos nos custos de investimento (os que estão no denominador) até 18% não porão em causa a rentabilidade do projecto. Por outro lado, se subtrairmos da unidade o inverso do rácio, 1-1/1,18=1-0,85=0,15 , podemos concluir que uma redução nos benefícios líquidos (os que estão no numerador) que não ultrapasse os 15% também não põe em causa a rentabilidade do projecto. RBC – Qual o mais utilizado ? z z De entre as três alternativas apresentadas para o cálculo do RBC, a 2ª alternativa é a mais utilizada pois mede, numa perspectiva de momento presente, o montante dos benefícios líquidos obtidos durante o período de vida útil do projecto por unidade de capital investido. Fornece assim uma medida de rentabilidade relativa, útil para comparar investimentos não mutuamente exclusivos. O Custo Anual Equivalente (CAE) z z z z Este método visa fundamentalmente a comparação entre investimentos que diferem sobretudo quanto aos respectivos montantes e períodos de vida útil. Procura exprimir os custos dos investimentos alternativos em termos comparáveis, traduzindo-os numa base anual e em termos financeiramente equivalentes. Consiste em: transformar o conjunto dos custos de investimento anuais numa renda anual, durante o período de vida útil do investimento, de valor actual financeiramente equivalente àqueles custos actualizados. Consiste portanto em multiplicar o valor actualizado do investimento total, pelo chamado Factor de Reposição do Capital: m CAE = ∑ I t (1 + i ) × FRC −t t =0 m CAE = ∑ I t (1 + i ) t =0 −t i × −n 1 − (1 + i ) m – anos em que se realizam os investimentos iniciais. n – período de vida útil do investimento. CAE – um exemplo z z Seja um investimento com uma vida útil de 15 anos. Os investimentos são de 10.000 u.m. em t0; 1.200 u.m. em t1; e 1.000 u.m. em t2. A taxa de desconto é de 25%. O Custo Anual Equivalente deste investimento será então de: 2 0,25 I t (1 + 0,25) × = 11.600 × 0,259134 = 3.005,96 ∑ −15 1 − (1 + 0,25) t =0 t z Então, investir aqueles montantes atrás indicados, equivale a investir anualmente 3.005,96 u.m., durante todo o período de vida útil do projecto (15 anos, neste caso). z A principal desvantagem deste método reside no facto de não devolver uma verdadeira medida da rendibilidade do projecto, já que não tem em conta os benefícios proporcionados pelo investimento.