SUSCEPTIBILIDADE DE LINHAGENS CELULARES DERIVADAS DE ARTRÓPODES AO VÍRUS DA LÍNGUA AZUL E AO VÍRUS DA DOENÇA EPIZOÓTICA HEMORRÁGICA DOS CERVÍDEOS Proponente: Maria Isabel Maldonado Coelho Guedes A língua azul (LA) é uma importante doença que acomete ruminantes domésticos e silvestres e é causada pelo vírus da língua azul (VLA). A doença epizoótica hemorrágica dos cervídeos (DEH) é causada pelo vírus da doença epizoótica hemorrágica dos cervídeos (DEHV). O DEHV também afeta ruminantes silvestres, além de ruminantes domésticos, com altas taxas de mortalidade em cervos, podendo reduzir drasticamente a população em áreas de conservação. A importância global da LA e da DEH está relacionada ao seu impacto econômico, causado tanto por perdas diretas na produção animal e na fauna silvestre, bem como indiretas, relacionadas às restrições de trânsito dos animais e comercialização de produtos de origem animal, uma vez que ambas as doenças são de notificação obrigatória à OIE (Organização Mundial de Saúde Animal). Ambos os vírus são transmitidos por insetos hematófagos do gênero Culicoides. Apesar de mais de 1400 espécies de Culicoides já terem sido descritas, apenas 27 foram associadas à transmissão de VLA ou VDEH. A compreensão atual sobre a epidemiologia e prevalência do VLA e VDEH no Brasil é limitada. Até o momento, 29 sorotipos de VLA e sete de VDEH foram descritos mundialmente. Entretanto, no Brasil, somente os sorotipos 4 e 12 do VLA e o 2 do DEH já haviam sido identificados. Desde 2013, quando uma parceria do nosso laboratório com o Instituto Pirbright, foi estabelecida, temos implantado técnicas de diagnóstico de VLA e DEHV, e houve detecção e isolamento de sorotipos de VLA ainda não descritos no Brasil. O isolamento de VLA e DEHV a partir de amostras clínicas de origem animal é difícil, e a susceptibilidade das linhagens celulares atualmente utilizadas é variável. Duas linhagens celulares de mamíferos, a BHK-e a Vero são as mais comumente utilizadas no diagnóstico desses vírus. No entanto, ambas linhagens celulares apresentam limitações, tais como a rápida perda das células BHK quando há superlotação, sendo necessárias passagens frequentes. As células Vero são mais tolerantes à superlotação, mas são mais lentas para demonstrar o efeito citopático causado pelos vírus VLA e o DEHV. Outra limitação é que estas células são relativamente insensíveis ao isolamento de VLA e DEHV presentes em amostras clínicas de animais infectados. Nestes casos, a inoculação intravascular em ovos embrionados de galinha era o procedimento recomendado para o isolamento de VLA e DEHV. Entretanto, essa técnica está cada vez mais em desuso, devido a questões de ética na utilização de animais para fins de pesquisa e diagnóstico, bem como por ser uma técnica trabalhosa e que requer treinamento mais extenso para sua execução. Portanto, faz-se necessário o uso de linhagens celulares mais sensíveis ao isolamento dos vírus em questão, tais como as linhagens celulares derivadas de artrópodes. A utilização de linhagens celulares derivadas de tecidos do vetor tem um papel inestimável em muitos aspectos da pesquisa em relação ao vetor e aos patógenos transmitidos por ele. Existe uma linhagem celular (KC) derivada da larva de Culicoides sonorensis, um dos vetores do VLA e do DEHV nos EUA, a qual tem sido utilizada para isolamento de VLA e VDEH em alguns países. Entretanto, essa linhagem celular não está comercialmente disponível no Brasil. A replicação de arbovírus é frequentemente observada em linhagens celulares oriundas de espécies de artrópodes distintas do vetor natural. Além disso, a ausência de envelope viral no VLA e DEHV pode facilitar a infecção de vários tipos celulares. O objetivo do presente projeto será comparar a susceptibilidade de diferentes linhagens celulares de mosquitos e de carrapatos à infecção pelo VLA e o DEHV, quando comparadas às linhagens celulares KC, BHK-21 e Vero, atualmente utilizadas no diagnóstico de VLA e DEHV.