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II Jornada de Ensino, Pesquisa e Extensão da UniEVANGÉLICA
Anais do IX Seminário de PBIC e V Seminário de Extensão – Volume 1 – 2011 – Anápolis-Go
REPRESENTAÇÕES SOCIAIS REFERENTES AOS ASPECTOS
PSICOSSOCIAIS DOS ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI
NO CENTRO DE INTERNAÇÃO DE ANÁPOLIS
ROSA, Marcos Antônio de Carvalho
Palavras - chave: Representações Sociais; Aspectos Psicossociais; Infração; Adolescente
OBJETIVO GERAL: Identificar as representações sociais referentes aos
aspectos psicossociais dos adolescentes em conflito com a lei no Centro de Internação de
Adolescentes de Anápolis, denominado CIAA, relacionadas ao universo social do
adolescente, a serem utilizadas na elaboração de um referencial teórico que poderá ser
instrumento de suporte na construção, debate e efetivação de políticas públicas destinadas à
intervenção nesse público-alvo.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS: apontar dados qualitativos sobre aspectos
psicossociais contemporâneos relacionados à constituição familiar e social do adolescente,
vínculos parentais, experiências relacionadas a primeiros delitos e reincidências, uso de
drogas lícitas e ilícitas, para que esses dados pudessem referenciar novos estudos sobre a
temática e analisar as construções e significações próprias deste público considerando a
inserção do homem no espaço e no tempo de forma histórico-dialética, e a influência dessa
inserção na representação de aspectos psicossociais contemporâneos, e a delimitação de
ordem de influência desses aspectos na vida do adolescente.
JUSTIFICATIVA: É preocupante o número de adolescentes em conflito com a
lei, a presente pesquisa se justifica pela oportunidade de desvendar a realidade social dos
pesquisados, apresentando indicadores e apontando nuances a serem interpretadas na
formatação de políticas públicas que venham a atender essa demanda emergente em nossa
sociedade. É relevante citar que não existem estudos específicos sobre essa temática,
considerando a cidade de Anápolis, e que dentro de uma dimensão histórica e crítica as
relações estabelecidas, as construções e significações deste público não são as mesmas que de
outras localidades considerando a subjetividade do público-alvo.
METODOLOGIA: Esta pesquisa utilizou a seguinte metodologia: se valeu de
uma amostragem na proporção de 50% dos internos, que se prontificaram a participar, tendo
sua identidade preservada, submetidos à aplicação de questionários semi-estruturados com
questões abertas e fechadas. É então uma pesquisa descritiva qualitativa com objetivo
primordial de descrever as características de determinada população ou fenômeno e o
estabelecimento de relações entre variáveis, utilizando técnicas padronizadas de coleta de
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dados. (LAKATOS, 2003). A pesquisa foi realizada com adolescentes que se encontram
cumprindo medida sócio-educativa em regime de internação, por terem sido penalizados por
prática ou conduta em conflito com a lei, no CIAA, do sexo masculino, com idade menor que
18 anos, sendo nível socioeconômico e cultural indiferente para seleção de amostragem,
tratando-se de uma fonte fidedigna. Foi aplicado um questionário com quarenta questões
abertas e fechadas, em dez adolescentes, selecionados segundo disposição para participação.
Ao investigar tópicos qualitativos sobre aspectos psicossociais contemporâneos da
adolescência encontram-se representações relacionadas à constituição familiar e social do
adolescente, modelo de grupo familiar a questão da violência e de sua intrínseca ligação com
experiências vinculadas a primeiros delitos e reincidências e a vinculação com a questão
social do emprego. Para Gonçalves (2008) a representação de família é complexa (...) é
representada como solução (…) quando sustenta os projetos dos jovens, e como problema
(...)se apresenta como núcleo de convivência em que as dificuldades.
O número crescente de adolescentes cumprindo medidas sócio-educativas em
todo o país aponta a necessidade de criação de novas formas de interpretar e atuar perante
esse público-alvo. Segundo Priuli (2007) estudos mostram cada vez mais o envolvimento de
jovens brasileiros com o mundo da infração; entretanto, pouco se sabe sobre esses jovens(...)
Segundo Arpini et al ( 2009) o adolescente autor de ato infracional é, antes de tudo, um
adolescente.
Em 1961 Serge Moscovici, utilizou o conceito de representação social em um
estudo sobre a representação social da psicanálise. Xavier afirma também que “As
representações sociais são um sistema (ou sistemas) de interpretação da realidade, (XAVIER
2002, p.24). Alves-Mazzotti (1994) diz que estas interações sociais vão criando “universos
consensuais” no âmbito dos quais as novas representações vão sendo produzidas e
comunicadas.
O questionamento do poeta inglês Willian Wordsworth – "O menino é o pai do
homem?" – serve também como referência a um dos conceitos da Psicologia Social, a
condição humana. O menino é pai do homem, pois as vivências do menino, suas perspectivas,
experiências, aventuras, desejos e derrotas, serão partes constitutivas da biografia do homem
adulto que ele virá a ser. Segundo Arpini et al (2009) o relatório final do projeto “O
adolescente e o futuro: nenhum a menos”, do Conselho Federal de Psicologia (2005), destaca
que existem muitos fatores associados e inter-relacionados com a produção do delito juvenil,
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sejam de ordem econômica, social, histórica, política, sejam de ordem cultural psicossocial e
psicológica.
Quanto à ingestão de bebida alcoólica e uso de maconha e cocaína antes dos 15
anos de idade, sendo que o acesso a drogas se deu através de amigos, e a utilização dessas
substâncias ocorreu na maioria das vezes para diversão ou como forma de aliviar dos
problemas. Arpini (2009) afirma que os jovens, terminam por se envolver em atos
infracionais, animados com sensações e deslumbrados com novas experiências, pela
empolgação com o contato com drogas, diz ainda que alguns jovens participam dessas
situações para fugirem do estigma de que são medrosos ou acomodados.
A evasão escolar antes do término do ensino fundamental é outro traço marcante,
visto que a inserção do adolescente no mercado de trabalho para sustento da família é um
fator ocasionador desta situação. Quanto à percepção acerca do mundo, foi detectado que o
mundo é percebido pelo público-alvo como um local perigoso e estranho. Foi detectado que
todos os pesquisados afirmaram ter expectativas vagas quanto a projeto de vida pessoal e
profissional, e relacionam felicidade com aspectos de convivência familiar e religiosidade,
como na fala do adolescente 01. Ele diz que ser feliz é “...estar em paz comigo mesmo e com
Deus”,(sic) o que é corroborado na fala do adolescente 02, para ele ser feliz é “...ir levando a
vida com Deus” (sic). O adolescente 10 afirma que para ele ser feliz é “...cumprir minhas
obrigações e reencontrar Deus”(sic).
Outro grupo de adolescentes confirma a interferência do aspecto religioso, mas
agora somado a participação do grupo familiar quanto ás perspectivas futuras. Para o
adolescente 08, ser feliz é “viver em paz e com Deus e minha família” (sic) enquanto que o
adolescente 07 diz que ser feliz é “..e ser ter uma mulher que té ajuda com tudo detro de caza
azuda e espero com um trabalho melhó com graça de deus. (sic)” A resposta escrita do
adolescente 07 confirma os dados sobre a evasão escolar, pois apresenta diversos erros de
ortografia. O adolescente 06 apresenta uma resposta muito próxima do adolescente 07,
segundo sua resposta no questionário ser feliz é “...ao lado de Deus e da minha
familha”.(sic). A ligação com a temática da religiosidade possui interferência dos diversos
grupos religiosos que realizam trabalhos sociais e pastorais junto aos adolescentes em conflito
com lei.
Outro grupo de adolescentes não cita esse aspecto, ressaltando apenas o vínculo
familiar, como para o adolescente 04, que descreve ser feliz como “...é ter uma família que mi
ama de verdade.”(sic) e para o adolescente 03 resumindo que ser feliz é “...ser amado.” (sic).
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Terminando por oferecer a análise dos dados, as representações sociais dos adolescentes
permitem estabelecer uma ligação entre os seguintes aspectos psicossociais contemporâneos:
desestruturação familiar, evasão escolar, subemprego, drogadição, infrações, reincidências, e
alienação sócio-política.
Sendo assim, pode-se apontar a necessidade de elaboração de políticas públicas
voltadas para reestruturação familiar, o combate à evasão escolar, e programas de geração de
renda e capacitação profissional, prestando clara contribuição para a sociedade. Os resultados
permitem elaborar uma discussão que parte de três pilares: família, escola e emprego.
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