DOBRAR-SE SOBRE SI MESMO

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DOBRAR-SE SOBRE SI MESMO - O APRENDER A SER REFLEXIVO
Profa. Dra. Evelise Maria Labatut Portilho*
(Pontifícia Universidade Católica do Paraná –
Curitiba)
Simone Zattar **(Pontifícia Universidade Católica
do Paraná – Curitiba)
RESUMO
Este estudo tem origem na investigação realizada junto a docentes universitários
(2005) de áreas diversas com o objetivo de identificar o significado da palavra
reflexivo. As principais categorias de análise levantadas dizem respeito à análise de
fatos, organização e planejamento para a ação, interiorização e transformações de
atitude e respeito ao outro. Com base nas pesquisas e nos autores relevantes sobre
o tema, realizou-se uma outra investigação, junto aos alunos universitários de dois
cursos diferentes com os seguintes questionamentos: O que é ser reflexivo para
você? Você se considera reflexivo? O aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve
como referência professores reflexivos? As aulas na universidade são reflexivas? O
que diferencia uma aula reflexiva de uma outra aula? Para os autores que trabalham
na linha do “profissional reflexivo”, o professor em uma prática pedagógica reflexiva
leva o aluno a (re)construir uma compreensão crítica da realidade e de produção de
intervenções transformadoras da sociedade. O processo de mudança neste
paradigma sugere uma nova forma de agir. O professor com uma prática reflexiva,
questionador, mediador e envolvido criticamente em um projeto educativo
competente pode transformar idéias em atitudes, indispensáveis à ação docente,
provocando mudanças de metodologia e estratégias que favorecem uma
aprendizagem transformadora.O presente estudo objetiva descrever a prática
pedagógica pelo olhar do aluno e identificar, a partir da sua ação, os caminhos que
levem a um profissional reflexivo, capaz de construir suas próprias concepções
teóricas, sua própria prática pedagógica e seu envolvimento pessoal com a
realidade do ser numa prática reflexiva na, para e sobre a ação.
Palavras-chave: aprendizagem – aluno – reflexivo – prática pedagógica
* Orientadora - Área de Educação – [email protected]
**Mestranda em Educação - [email protected]
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Os desafios de um novo paradigma
Com o intuito de contextualizar o estudo desta pesquisa voltou-se
primeiramente a leitura dos paradigmas educacionais, na tentativa de observar ou
até mesmo justificar o porquê de atualmente se falar em profissional reflexivo.
Numa forma de sistematizar esta leitura iniciamos aqui pelo Paradigma da
Ciência, caracterizado pelo pensamento Newtoniano-Cartesiano que influenciou por
décadas a Educação formal, bem como, hábitos e conceitos de nosso cotidiano,
podendo ser observada sua influência ainda nos dias de hoje. Conforme CARDOSO
(1995 in: BEHRENS, 2000, p.18): “(...) o paradigma newtoniano-cartesiano orienta o
saber e a ação propriamente pela razão e pela experimentação, revelando assim
culto do intelecto e o exílio do coração”.
Ao utilizar-se do pensamento cartesiano, o homem dissociou-se de questões
relativas a ele mesmo, a emoções, a natureza, ao convívio com outros seres,
voltando-se somente para questões como lucro, produtividade, exploração e a
razão. Com base neste pensamento, observamos nos paradigmas conservadores a
fragmentação do conhecimento, a ênfase no produto, a repartição do todo, o culto
do intelecto e uma forte influência positivista, com valorização na reprodução do
conhecimento e não na sua produção.
Neste paradigma o que se pode constatar é que a reflexão, como sinônimo de
pensar, ponderar, voltar sobre si mesmo (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa),
não acontece, porque o importante é a aquisição de uma técnica eficaz, com ênfase
na transmissão e repetição do conhecimento, numa visão modeladora de
comportamento, de especificidade, sem considerar o ser humano na sua totalidade.
O novo paradigma, em suas denominações – emergente, sistêmico, da
complexidade – nos remete a uma prática diferenciada, reflexiva e crítica, buscando
o pensamento complexo sobre o todo, ou seja, visão de globalidade, trazendo para o
século XXI a visão, segundo Capra (1996), de totalidade, visão de rede, de teia, de
conexão e, de sistemas integrados e também os princípios de relatividade e
interdependência; de inter-relação e inter-conexão; de movimento (ação- reaçãoação-reação).
Mas sabemos que não é nada fácil a transformação. Nas palavras de Portilho
e Parolin (2003, p. 125) encontramos respaldo ao que afirmamos:
Ao olharmos a nossa volta, deparamo-nos com um paradoxo presente no contexto
educacional. Ao mesmo tempo em que a maioria dos educadores concorda que o modelo
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tradicional de aprendizagem-ensino é inadequado para os novos tempos, ao entrarem em
suas salas de aulas e fecharem suas portas, acabam traduzindo o modelo negado em ações
que substanciam a sua prática. Nos discursos ouvidos e em estudos realizados, manifestamse contra as práticas fundamentadas no modelo tradicional, no entanto, apesar da difusão
dos novos paradigmas, das novas tendências educacionais, os professores ainda não sabem
agir diferente.
No paradigma contemporâneo o aluno recebe um saber sistematizado, uma
visão de mudança da realidade onde poderá transformar e reconstruir o meio, é
consciente e participante.
Ele revela-se como um indagador da realidade e do
contexto social. Com valores críticos, os alunos democratizam o saber,
contextualizando a si mesmos e tudo em sua volta. O indivíduo é participativo e em
parceria com o professor elabora a construção do conhecimento. O processo de
aprendizagem do aluno passa por sua conscientização do problema e a sua efetiva
participação como co-responsável pela produção do conhecimento elaborado.
O professor nesta visão é o direcionador do conhecimento, com autoridade
pela competência. Existe nesta abordagem uma relação horizontal, onde a
aprendizagem acontece por meio do diálogo e decorre de processos reflexivos. O
professor atua como um mediador do processo de ensino-aprendizagem, passando
a “interpretar a realidade”, levando seus alunos a fazer o mesmo. (FREIRE, 1986,
p.104).
A metodologia é baseada no acesso e procura da produção do conhecimento,
tanto pelos alunos, quanto pelos professores, com enfoque na criticidade e reflexão,
oportunizando a investigação, problematização e autonomia para sistematizar o
conhecimento, estimulando o “aprender a aprender”. Ao mediar a produção do
conhecimento nos alunos, o docente estimula o exercício da reflexão e
questionamento, que conduzem a formulações próprias, na e para a ação. Observa
a conciliação entre o diferente, os erros (que passam a ser desafios para alcançar o
acerto), numa construção sistêmica do conhecimento. Teoria e prática se completam
e se interconectam.
Nesta abordagem a escola encontra-se em processo de transformação. A
instituição requerida refere-se a um espaço democrático, onde a realidade da
sociedade é debatida e sua problematização é analisada, vivenciada integralmente
no contexto histórico, resultando em ações de mudança social.
A avaliação neste paradigma é formativa, processual, contínua. Analisa a
participação do aluno e do grupo. Os critérios de avaliação são discutidos entre
professor e aluno, em uma verdadeira parceria.
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O desafio no novo paradigma é transpor a visão fragmentada do paradigma
conservador para o saber do todo. O indivíduo não é só razão, mas também
sentimentos. O aluno é levado a perceber que suas ações refletem no sistema
ecológico, na transformação da sociedade e da sua família. Ele é um indivíduo
único, mas que vive em coletividade, portanto o respeito para com o próximo é algo
a ser trabalhado em sala de aula pelo professor e pelo aluno. O professor é
desafiado a buscar alternativas pedagógicas competentes.
Assim, para Cardoso, nessa abordagem educar “significa utilizar práticas
pedagógicas que desenvolvam mutuamente razão, sensação, sentimento e intuição
e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome
da paz e da unidade do mundo”. (1995, p.53)
Este paradigma nos leva a uma re-flexão sobre a prática pedagógica, um novo
posicionamento com pressupostos básicos voltados a uma prática reflexiva, a uma
metodologia baseada no diálogo, na troca, na investigação. Requer um
comprometimento e envolvimento crítico pessoal, social e profissional de todos os
envolvidos no processo ensino-aprendizagem.
O Pensamento reflexivo
Considerando que o novo paradigma nos mostra alunos críticos, indagadores
e reflexivos, posicionando o professor como articulador entre o saber e a realidade, e
vice-versa; num processo bilateral aonde aluno e professor são reflexivos, surge a
questão: o que é ser reflexivo?
Encontramos em Dewey (1959) a contextualização do que é o pensamento
reflexivo. Em sua obra “Como pensamos” (1910), Dewey buscou o significado do
pensar. Diz que o pensar limita-se ao que ultrapassa à observação direta e que o
pensamento nos leva à convicções que se apóiam em alguma espécie de prova ou
testemunha. O pensar em seu sentido mais elevado subentende o exame das bases
e das conseqüências das crenças num pensamento reflexivo. “O pensamento
reflexivo faz um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda crença ou espécie
hipotética de conhecimentos, exame efetuado à luz dos argumentos que apóiam a
estas e das conclusões a que as mesmas chegam”. (DEWEY, 1959). É um esforço
consciente e voluntário.
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A prática reflexiva refere-se ao ato de pensar reflexivo. Sobre a prática
reflexiva Dewey (1959) diz que acontece em duas fases. A primeira fase configurase no surgimento de um estado de perplexidade, hesitação ou dúvida e esta leva a
um segundo momento que é o da pesquisa, da investigação tendo o fim imediato de
desvendar outros fatos que sirvam para corroborar ou destruir o conhecimento
sugerido. “A natureza do problema a resolver determina o objetivo do pensamento e
este objetivo orienta o processo do ato de pensar”. (DEWEY, 1959).
Segundo Dewey (1959) “A reflexão não é simplesmente uma seqüência, mas
uma conseqüência – uma ordem de tal modo consecutiva que cada idéia engendra a
seguinte com seu efeito natural e, ao mesmo tempo, apóia-se na antecessora ou a
esta se refere”.
Quando o professor reflete sobre a sua prática, a reflexão passa a ser um
instrumento de desenvolvimento de seu pensamento e da ação. O pensamento
reflexivo, como conseqüência natural, incorpora-se em sua prática.
Dobrar-se sobre si mesmo - O aprender a ser reflexivo
Na reflexão sobre a própria prática, numa visão crítica do sistema educativo
como um processo que envolve todas as questões relacionadas com o ensino e a
aprendizagem, considerando ambos como processos aonde interagem professores
e alunos e, portanto bilateral, nossa investigação com os alunos universitários
buscou perceber a prática pedagógica, procurando identificar os caminhos que nos
levam a um profissional reflexivo, capaz de construir seu próprio conhecimento, sua
própria prática pedagógica e seu envolvimento com a realidade do ser numa prática
reflexiva na, para e sobre a ação, em resposta as colocações feitas pelos docentes
sobre o ser reflexivo.
A análise dos dados nos remete a dois autores: Schön (2000) e Perrenoud
(2002) que contemplam a reflexão na ação e a prática reflexiva na formação do
professor como veremos a seguir.
A prática pedagógica deve proporcionar condições para a aprendizagem do
aluno. Vista como fonte de conhecimento através da experiência e da reflexão,
media teoria e prática. Segundo Schön (2000) os problemas da prática profissional
docente não são meramente instrumentais “todos eles comportam situações
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problemáticas que obrigam a ‘decisões’ num terreno de grande complexidade,
incerteza, singularidade e de conflito de valores”.
Schön (2000) formula a epistemologia da prática profissional num triplo
movimento: conhecimento na ação, reflexão da ação, reflexão sobre a ação e sobre
a reflexão sobre a ação.
Para ele, o professor aprende a partir da análise e interpretação de sua
própria atividade, na sua prática diária, pois a própria prática conduz à criação de um
conhecimento específico e ligado à ação. Considera como um conhecimento tácito,
pessoal e não sistemático. É o conhecimento na ação. Na medida em que o
professor coloca para si as questões do cotidiano como situações problemáticas, ele
está refletindo, está buscando uma interpretação para aquilo que é vivenciado.
Quando este profissional faz esta reflexão ao mesmo tempo em que está
vivenciando uma determinada situação, segundo Schön (2000), ele faz uma reflexão
na ação. A reflexão sobre a ação dá-se no momento em que o professor reflete
sobre algo que já aconteceu, após a ação, num novo olhar sobre o que experenciou,
com certo distanciamento: “olhar de fora”. Na reflexão sobre a reflexão na ação se
dá um processo mais elaborado onde ele busca a compreensão da ação, elabora
sua interpretação e tem condições de criar outras alternativas para aquela situação e
outras similares.
Segundo Schön (2000) “Os professores possuem teorias (práticas, implícitas,
de ação) sobre o que é o ensino, que influenciam a forma como pensam e atuam em
sala de aula”.
Neste triplo movimento da prática reflexiva, o professor, enquanto profissional
reflexivo, dobra-se sobre si mesmo, reflete sobre sua própria prática.
Neste paradigma contemporâneo e segundo categorias levantadas na
pesquisa com alunos em sua metodologia o professor necessita desenvolver a
capacidade de individualizar, ser curioso, ouvir, ir de encontro ao aluno e entender
seu processo de conhecimento para servir de articulador entre o saber escolar e a
reflexão na, para e sobre a ação (Schön, 2000).
Para Perrenoud (2002) neste momento em que podemos observar as
transformações que ocorrem provocadas pelo uso da tecnologia, constatamos a
necessidade do professor, para sua formação, considerar sua preparação para três
aspectos essenciais: a prática reflexiva, a inovação e a cooperação. Consideramos
relevantes os três aspectos mencionados no trabalho de Perrenoud não somente
1313
pelo uso da tecnologia, mas além, nas mudanças provocadas pelo efeito
globalizador, pela diversidade cultural, para um posicionamento e um melhor
desenvolvimento enquanto profissão numa visão sistêmica do processo educacional,
pois os professores “são mediadores e interpretes ativos de culturas, valores, de
conhecimentos prestes a se transformar” (PERRENOUD, 2002).
Sobre a prática reflexiva na formação do professor, pode ser vista sobre dois
pontos: como método (articulação teoria-prática) e como objetivo (autonomia e
responsabilidade social). O paradigma do professor reflexivo exige um trabalho
maior, com mais responsabilidades, mais cooperação, mais transparência,
envolvendo a resistência frente a mudanças própria dos indivíduos e a própria
burocracia conservadora.
Uma prática reflexiva metódica leva o professor a observar, memorizar,
descrever, analisar, avaliar e assumir novas opções. Utiliza-se dos processos
cognitivos e afetivos. A postura reflexiva na identidade profissional dos professores
leva-os a “construir seus próprios procedimentos em função dos alunos, da prática,
do ambiente, das parceiras e cooperações possíveis, dos recursos e limites próprios
de cada instituição, dos obstáculos encontrados ou previsíveis”. (Perrenoud, 2002
pg. 198)
Em uma postura reflexiva podemos observar que na ação ela permite uma
melhor compreensão e um remanejamento constante frente a problematização, sem
ater-se a procedimentos prontos ou previamente planejados, diz Perrenoud (2002) “a
reflexão permite analisar com mais tranqüilidade os acontecimentos e construir
saberes que envolvam situações comparáveis que possam surgir.”
Além de procedimentos investigativos e analíticos a formação de uma prática
reflexiva requer saberes metodológicos e teóricos, atitudes relacionais entre a
profissão e a realidade. Os saberes metodológicos estão relacionados aos
processos cognitivos e a linguagem. Sobre os saberes teóricos Perrenoud ressalta o
bom senso como primeiro nível de reflexão, o domínio dos saberes a serem
ensinados e para avançar nesta reflexão, dispor de conhecimento na área das
ciências humanas. O essencial, segundo Perrenoud(2002) “refere-se à relação com
o saber, com a ação, com o pensamento, com a liberdade, com o risco e com a
responsabilidade”.
O processo de mudança neste paradigma sugere uma nova forma de agir. O
professor com uma prática reflexiva, questionador, mediador e envolvido
1314
criticamente em um projeto educativo competente pode transformar idéias em
atitudes, indispensáveis à ação docente, provocando mudanças de metodologia e
estratégias que favorecem uma aprendizagem transformadora.
Em nossa pesquisa encontramos na fala dos alunos, participantes ativos e
críticos deste paradigma, num processo de reflexão sobre a ação, alguns caminhos
para uma prática pedagógica reflexiva.
O Método
Objetivos da pesquisa:
-
Conhecer o significado da palavra reflexivo para alunos universitários
-
Saber se o aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve como referência
professores reflexivos.
-
Estabelecer a diferença entre uma aula reflexiva e uma outra aula não
reflexiva.
-
Identificar os caminhos que levam a uma prática pedagógica reflexiva, pelo
olhar do aluno.
Participantes da pesquisa:
Este estudo contou com a participação de:
-
33 alunos do curso de graduação em Pedagogia – 4° período
-
32 alunos do curso de graduação em Administração – 1° e 2° período.
O instrumento:
Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se nesta investigação, pela
pesquisa qualitativa, por acreditar que as indagações sobre o pensamento e a
prática reflexiva nesse enfoque seriam adequadamente aplicáveis.
A coleta de dados deu-se através da observação participante e questionário
semi-estruturado. A investigação qualitativa proporcionou um enfoque interpretativo
da ação docente, com a intenção de investigar como se dava a prática pedagógica
dos professores e como agiam os alunos frente a essas práticas na sala de aula,
permitindo situar a ação pedagógica do professor na sua realidade social, que é
dinâmica e está em constante modificação.
Para a realização desta pesquisa foram selecionadas quatro perguntas
respondidas
individualmente
pesquisadoras. São elas:
pelos
alunos
participantes,
na
presença
das
1315
1. O que é reflexivo para você?
2. Você considera-se reflexivo?
3. Você tem aulas reflexivas?
4. O que diferencia uma aula reflexiva de uma outra aula?
Resultados e Análise dos dados:
Procuramos identificar com esta investigação três pontos referentes a prática
reflexiva: O aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve como referência
professores reflexivos? Qual a diferença entre aulas reflexivas e as não reflexivas na
universidade? Quais os caminhos que levam a uma prática profissional reflexiva?
Em nossa investigação realizada com o objetivo de identificar o significado de
reflexivo, as principais categorias de análise levantadas dizem respeito à análise de
fatos, organização e planejamento para a ação, interiorização e transformações de
atitude e respeito ao outro.
No que se refere as questões: Você tem aulas reflexivas? O que diferencia
uma aula reflexiva de uma outra aula? Identificamos como os alunos percebem a
prática pedagógica e qual metodologia remete a uma prática reflexiva.
Segundo relato dos alunos uma aula não reflexiva é aquela que não permite
questionamentos, o conhecimento é “passado” sem ligação com sua aplicação, os
assuntos já vem “prontos”, são aulas técnicas e exatas, não prende a atenção, é
algo vago. Descrevem aulas reflexivas como as que abrem espaço para reflexões e
discussões, dinâmicas e envolventes, que mobilizam o aluno a buscar o
conhecimento pela sua própria vontade; referem-se particularmente ao modo como o
professor conduz a aula.
Sobre a ação do aluno neste processo, quando perguntamos se ele é
reflexivo, constatamos que pelos dados levantados na pesquisa que 95%
consideram-se reflexivos e os demais relatam que às vezes, mas nenhum se
considera como não reflexivo. As principais categorias referem-se a valores, análise
de fatos, tomadas de decisão, pensar antes de agir, necessidade de ser instigado.
Consideram importante a compreensão e discussão sobre o conhecimento, o
diálogo e o questionamento como formar de levar a reflexão para sua aprendizagem.
Considerações finais
1316
Após analisarmos os relatos da pesquisa e contextualizarmos o pensamento
reflexivo e a fazermos um apanhado geral sobre a epistemologia da prática reflexiva,
vem o questionamento principal - Quais os caminhos que levam a uma prática
profissional reflexiva?
Os caminhos que se revelaram na fala dos alunos convergem para alguns
ícones já expostos como aulas elaboradas (e não simplesmente preparadas).
Descrevem aulas reflexivas como as que abrem espaço para reflexões e discussões,
dinâmicas e envolventes, mobilizam o aluno a buscar o conhecimento pela sua
própria vontade; referem-se particularmente ao modo como o professor conduz a
aula, o que pode ser interpretado como uma questão de atitude do professor frente
ao processo de aprender e ensinar . E sobre a aula não reflexiva dizem que é aquela
que não permite questionamentos, o conhecimento é “passado” sem ligação com
sua aplicação, os assuntos já vem “prontos”, são aulas técnicas e exatas, não
prende a atenção, é algo vago.
A inovação, o envolvimento e a reflexão, exigem uma visão global,
participativa, que promove a investigação sobre a ação, na qual se encontram os
fatores cognitivos, culturais, sociais e emocionais, mobilizando o que está dentro e
fora da escola, desenvolvendo, no professor e no aluno, a reflexão na, para e sobre
a ação, articulando teoria e prática.
Neste paradigma contemporâneo e segundo categorias levantadas na
pesquisa com alunos em sua metodologia o professor necessita ser curioso, ouvir, ir
de encontro ao aluno e entender seu processo de conhecimento para servir de
articulador entre o saber escolar e a reflexão na, para e sobre a ação (Schön, 2000).
O professor foi concebido, nesta pesquisa, como um formador, facilitador da
aprendizagem, que deve desempenhar, conforme SCHÖN (1987), basicamente, três
funções: abordar os problemas que a atividade coloca, escolher na sua ação os
procedimentos formativos que são mais adequados à personalidade e aos saberes
do aluno e tentar estabelecer com ele uma relação propícia à aprendizagem.
Para elucidar transcrevemos alguns relatos:
“Uma aula reflexiva, na minha opinião, nos torna alunos mais críticos,
pensantes, analisar sempre as situações”.
“Uma aula reflexiva é aquela que o professor propõe o tema e age como
mediador do conhecimento, interagindo com os alunos, abrindo discussões e
1317
levando o aluno a pensar e a questionar sobre o tema proposto, diferente daqueles
que são conteudista e cumprem horário”.
“Depende da maneira como o professor encaminha o processo de
aprendizagem. É de sua responsabilidade valorizar o “assunto” para despertar o
interesse do aluno se o mesmo ainda não o tiver”.
A prática reflexiva torna-se imprescindível neste novo paradigma. Neste triplo
movimento da prática reflexiva proposto por Schön, o professor, enquanto
profissional reflexivo dobra-se sobre si mesmo, reflete sobre sua própria prática.
Adotou-se a definição de competência de PERRENOUD (2002), como sendo
a “capacidade de agir eficazmente em determinado tipo de situação, apoiada em
conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”.
Uma prática reflexiva metódica leva o professor a observar, memorizar,
descrever, analisar, avaliar e assumir novas opções. Utiliza-se dos processos
cognitivos e afetivos. A postura reflexiva na identidade profissional dos professores
leva-os a “construir seus próprios procedimentos em função dos alunos, da prática,
do ambiente, das parceiras e cooperações possíveis, dos recursos e limites próprios
de cada instituição, dos obstáculos encontrados ou previsíveis”. (Perrenoud, 2002)
Este pesquisa teve o propósito de contribuir, de forma geral, com os
professores, discutindo e analisando a prática pedagógica reflexiva, por meio da
proposta de investigar e descrever a prática pedagógica dos professores na sua
ação, as condutas e atitudes expressas pelos professores durante as aulas na sua
ação pedagógica, pelo olhar do aluno. Contribuir com a transformação e a
construção de professores, visando um educador que se utiliza da ação reflexiva na
sua prática pedagógica.
Segundo os dados da pesquisa a atividade prática do professor foi percebida
como mediação na construção do conhecimento aliando saberes teóricos, a
experiência e a reflexão, reportando-se a habilidade no agir do professor, dialogando
com os alunos e com a própria ação e aceitando os desafios e dificuldades que
provoca por esta prática.
O ato reflexivo é subjetivo e não existe uma metodologia pronta e específica
para uma prática pedagógica reflexiva, que independe da área de atuação ou
disciplina. Ela reflete-se nos momentos em que o professor, mesmo sem se dar
conta, preocupa-se com as dificuldades e problemas expressos pelos alunos;
diversifica sua ação didática; proporciona momentos de descontração; e
1318
principalmente, que erra e procura aprender a aprender com seu erro, trocando
idéias e buscando outras formas de pensar com ações e gestos. “A reflexão-na-ação
é um processo que podemos desenvolver sem que precisemos dizer o que estamos
fazendo” (SCHÖN, 2000, pg 35)
Refletir sobre sua própria prática, rever os processos de avaliação, a
metodologia empregada e aonde realmente quer chegar. As dificuldades precisam
ser exploradas e compreendidas. Somente refletindo-se sobre o que se faz é que se
tem condição de ter atitudes conscientes, optar pela metodologia mais adequada
para organizar e transformar a ação pedagógica, tornando-a compatível com o
contexto educativo atual, num conjunto que seja amplo, sistêmico e holístico do
contexto ensino-aprendizagem.
Referências
BEHRENS, M. A . O paradigma emergente e a prática pedagógica. 2 ed.
Curitiba: Champagnat, 2000
CAPRA, F. A teia da vida. Uma nova compreensão científica dos sistemas
vivos. São Paulo: Cultrix, 1996
CARDOSO, C.M. A canção da inteireza. São Paulo: Summus, 1995
DEWEY, J. Como pensamos : Como se relaciona o pensamento reflexivo com o
processo educativo. 3a. ed. São Paulo : Nacional, 1959
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa
FREIRE, P. Pedagogia da esperança: um reencontro com a pedagogia do
oprimido. 11 ed. São Paulo: Paz e Terra, 2003.
FREIRE, P./ SHOR, I. Medo e ousadia: O cotidiano do professor. Rio de Janeiro :
Paz e terra. 1986
PERRENOUD, P. A prática reflexiva no ofício de professor. Porto Alegre: Artmed,
2001
PORTILHO, EML; PAROLIN, I. Conhecer-se para Conhecer. IN: Psicopedagogia.
Um portal para a inserção social. São Paulo: Vozes, 2003.
SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo : um novo design para o ensino e
a aprendizagem. Porto Alegre : Artmed , 2000
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