DOBRAR-SE SOBRE SI MESMO - O APRENDER A SER REFLEXIVO Profa. Dra. Evelise Maria Labatut Portilho* (Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Curitiba) Simone Zattar **(Pontifícia Universidade Católica do Paraná – Curitiba) RESUMO Este estudo tem origem na investigação realizada junto a docentes universitários (2005) de áreas diversas com o objetivo de identificar o significado da palavra reflexivo. As principais categorias de análise levantadas dizem respeito à análise de fatos, organização e planejamento para a ação, interiorização e transformações de atitude e respeito ao outro. Com base nas pesquisas e nos autores relevantes sobre o tema, realizou-se uma outra investigação, junto aos alunos universitários de dois cursos diferentes com os seguintes questionamentos: O que é ser reflexivo para você? Você se considera reflexivo? O aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve como referência professores reflexivos? As aulas na universidade são reflexivas? O que diferencia uma aula reflexiva de uma outra aula? Para os autores que trabalham na linha do “profissional reflexivo”, o professor em uma prática pedagógica reflexiva leva o aluno a (re)construir uma compreensão crítica da realidade e de produção de intervenções transformadoras da sociedade. O processo de mudança neste paradigma sugere uma nova forma de agir. O professor com uma prática reflexiva, questionador, mediador e envolvido criticamente em um projeto educativo competente pode transformar idéias em atitudes, indispensáveis à ação docente, provocando mudanças de metodologia e estratégias que favorecem uma aprendizagem transformadora.O presente estudo objetiva descrever a prática pedagógica pelo olhar do aluno e identificar, a partir da sua ação, os caminhos que levem a um profissional reflexivo, capaz de construir suas próprias concepções teóricas, sua própria prática pedagógica e seu envolvimento pessoal com a realidade do ser numa prática reflexiva na, para e sobre a ação. Palavras-chave: aprendizagem – aluno – reflexivo – prática pedagógica * Orientadora - Área de Educação – [email protected] **Mestranda em Educação - [email protected] 1308 Os desafios de um novo paradigma Com o intuito de contextualizar o estudo desta pesquisa voltou-se primeiramente a leitura dos paradigmas educacionais, na tentativa de observar ou até mesmo justificar o porquê de atualmente se falar em profissional reflexivo. Numa forma de sistematizar esta leitura iniciamos aqui pelo Paradigma da Ciência, caracterizado pelo pensamento Newtoniano-Cartesiano que influenciou por décadas a Educação formal, bem como, hábitos e conceitos de nosso cotidiano, podendo ser observada sua influência ainda nos dias de hoje. Conforme CARDOSO (1995 in: BEHRENS, 2000, p.18): “(...) o paradigma newtoniano-cartesiano orienta o saber e a ação propriamente pela razão e pela experimentação, revelando assim culto do intelecto e o exílio do coração”. Ao utilizar-se do pensamento cartesiano, o homem dissociou-se de questões relativas a ele mesmo, a emoções, a natureza, ao convívio com outros seres, voltando-se somente para questões como lucro, produtividade, exploração e a razão. Com base neste pensamento, observamos nos paradigmas conservadores a fragmentação do conhecimento, a ênfase no produto, a repartição do todo, o culto do intelecto e uma forte influência positivista, com valorização na reprodução do conhecimento e não na sua produção. Neste paradigma o que se pode constatar é que a reflexão, como sinônimo de pensar, ponderar, voltar sobre si mesmo (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa), não acontece, porque o importante é a aquisição de uma técnica eficaz, com ênfase na transmissão e repetição do conhecimento, numa visão modeladora de comportamento, de especificidade, sem considerar o ser humano na sua totalidade. O novo paradigma, em suas denominações – emergente, sistêmico, da complexidade – nos remete a uma prática diferenciada, reflexiva e crítica, buscando o pensamento complexo sobre o todo, ou seja, visão de globalidade, trazendo para o século XXI a visão, segundo Capra (1996), de totalidade, visão de rede, de teia, de conexão e, de sistemas integrados e também os princípios de relatividade e interdependência; de inter-relação e inter-conexão; de movimento (ação- reaçãoação-reação). Mas sabemos que não é nada fácil a transformação. Nas palavras de Portilho e Parolin (2003, p. 125) encontramos respaldo ao que afirmamos: Ao olharmos a nossa volta, deparamo-nos com um paradoxo presente no contexto educacional. Ao mesmo tempo em que a maioria dos educadores concorda que o modelo 1309 tradicional de aprendizagem-ensino é inadequado para os novos tempos, ao entrarem em suas salas de aulas e fecharem suas portas, acabam traduzindo o modelo negado em ações que substanciam a sua prática. Nos discursos ouvidos e em estudos realizados, manifestamse contra as práticas fundamentadas no modelo tradicional, no entanto, apesar da difusão dos novos paradigmas, das novas tendências educacionais, os professores ainda não sabem agir diferente. No paradigma contemporâneo o aluno recebe um saber sistematizado, uma visão de mudança da realidade onde poderá transformar e reconstruir o meio, é consciente e participante. Ele revela-se como um indagador da realidade e do contexto social. Com valores críticos, os alunos democratizam o saber, contextualizando a si mesmos e tudo em sua volta. O indivíduo é participativo e em parceria com o professor elabora a construção do conhecimento. O processo de aprendizagem do aluno passa por sua conscientização do problema e a sua efetiva participação como co-responsável pela produção do conhecimento elaborado. O professor nesta visão é o direcionador do conhecimento, com autoridade pela competência. Existe nesta abordagem uma relação horizontal, onde a aprendizagem acontece por meio do diálogo e decorre de processos reflexivos. O professor atua como um mediador do processo de ensino-aprendizagem, passando a “interpretar a realidade”, levando seus alunos a fazer o mesmo. (FREIRE, 1986, p.104). A metodologia é baseada no acesso e procura da produção do conhecimento, tanto pelos alunos, quanto pelos professores, com enfoque na criticidade e reflexão, oportunizando a investigação, problematização e autonomia para sistematizar o conhecimento, estimulando o “aprender a aprender”. Ao mediar a produção do conhecimento nos alunos, o docente estimula o exercício da reflexão e questionamento, que conduzem a formulações próprias, na e para a ação. Observa a conciliação entre o diferente, os erros (que passam a ser desafios para alcançar o acerto), numa construção sistêmica do conhecimento. Teoria e prática se completam e se interconectam. Nesta abordagem a escola encontra-se em processo de transformação. A instituição requerida refere-se a um espaço democrático, onde a realidade da sociedade é debatida e sua problematização é analisada, vivenciada integralmente no contexto histórico, resultando em ações de mudança social. A avaliação neste paradigma é formativa, processual, contínua. Analisa a participação do aluno e do grupo. Os critérios de avaliação são discutidos entre professor e aluno, em uma verdadeira parceria. 1310 O desafio no novo paradigma é transpor a visão fragmentada do paradigma conservador para o saber do todo. O indivíduo não é só razão, mas também sentimentos. O aluno é levado a perceber que suas ações refletem no sistema ecológico, na transformação da sociedade e da sua família. Ele é um indivíduo único, mas que vive em coletividade, portanto o respeito para com o próximo é algo a ser trabalhado em sala de aula pelo professor e pelo aluno. O professor é desafiado a buscar alternativas pedagógicas competentes. Assim, para Cardoso, nessa abordagem educar “significa utilizar práticas pedagógicas que desenvolvam mutuamente razão, sensação, sentimento e intuição e que estimulem a integração intercultural e a visão planetária das coisas, em nome da paz e da unidade do mundo”. (1995, p.53) Este paradigma nos leva a uma re-flexão sobre a prática pedagógica, um novo posicionamento com pressupostos básicos voltados a uma prática reflexiva, a uma metodologia baseada no diálogo, na troca, na investigação. Requer um comprometimento e envolvimento crítico pessoal, social e profissional de todos os envolvidos no processo ensino-aprendizagem. O Pensamento reflexivo Considerando que o novo paradigma nos mostra alunos críticos, indagadores e reflexivos, posicionando o professor como articulador entre o saber e a realidade, e vice-versa; num processo bilateral aonde aluno e professor são reflexivos, surge a questão: o que é ser reflexivo? Encontramos em Dewey (1959) a contextualização do que é o pensamento reflexivo. Em sua obra “Como pensamos” (1910), Dewey buscou o significado do pensar. Diz que o pensar limita-se ao que ultrapassa à observação direta e que o pensamento nos leva à convicções que se apóiam em alguma espécie de prova ou testemunha. O pensar em seu sentido mais elevado subentende o exame das bases e das conseqüências das crenças num pensamento reflexivo. “O pensamento reflexivo faz um ativo, prolongado e cuidadoso exame de toda crença ou espécie hipotética de conhecimentos, exame efetuado à luz dos argumentos que apóiam a estas e das conclusões a que as mesmas chegam”. (DEWEY, 1959). É um esforço consciente e voluntário. 1311 A prática reflexiva refere-se ao ato de pensar reflexivo. Sobre a prática reflexiva Dewey (1959) diz que acontece em duas fases. A primeira fase configurase no surgimento de um estado de perplexidade, hesitação ou dúvida e esta leva a um segundo momento que é o da pesquisa, da investigação tendo o fim imediato de desvendar outros fatos que sirvam para corroborar ou destruir o conhecimento sugerido. “A natureza do problema a resolver determina o objetivo do pensamento e este objetivo orienta o processo do ato de pensar”. (DEWEY, 1959). Segundo Dewey (1959) “A reflexão não é simplesmente uma seqüência, mas uma conseqüência – uma ordem de tal modo consecutiva que cada idéia engendra a seguinte com seu efeito natural e, ao mesmo tempo, apóia-se na antecessora ou a esta se refere”. Quando o professor reflete sobre a sua prática, a reflexão passa a ser um instrumento de desenvolvimento de seu pensamento e da ação. O pensamento reflexivo, como conseqüência natural, incorpora-se em sua prática. Dobrar-se sobre si mesmo - O aprender a ser reflexivo Na reflexão sobre a própria prática, numa visão crítica do sistema educativo como um processo que envolve todas as questões relacionadas com o ensino e a aprendizagem, considerando ambos como processos aonde interagem professores e alunos e, portanto bilateral, nossa investigação com os alunos universitários buscou perceber a prática pedagógica, procurando identificar os caminhos que nos levam a um profissional reflexivo, capaz de construir seu próprio conhecimento, sua própria prática pedagógica e seu envolvimento com a realidade do ser numa prática reflexiva na, para e sobre a ação, em resposta as colocações feitas pelos docentes sobre o ser reflexivo. A análise dos dados nos remete a dois autores: Schön (2000) e Perrenoud (2002) que contemplam a reflexão na ação e a prática reflexiva na formação do professor como veremos a seguir. A prática pedagógica deve proporcionar condições para a aprendizagem do aluno. Vista como fonte de conhecimento através da experiência e da reflexão, media teoria e prática. Segundo Schön (2000) os problemas da prática profissional docente não são meramente instrumentais “todos eles comportam situações 1312 problemáticas que obrigam a ‘decisões’ num terreno de grande complexidade, incerteza, singularidade e de conflito de valores”. Schön (2000) formula a epistemologia da prática profissional num triplo movimento: conhecimento na ação, reflexão da ação, reflexão sobre a ação e sobre a reflexão sobre a ação. Para ele, o professor aprende a partir da análise e interpretação de sua própria atividade, na sua prática diária, pois a própria prática conduz à criação de um conhecimento específico e ligado à ação. Considera como um conhecimento tácito, pessoal e não sistemático. É o conhecimento na ação. Na medida em que o professor coloca para si as questões do cotidiano como situações problemáticas, ele está refletindo, está buscando uma interpretação para aquilo que é vivenciado. Quando este profissional faz esta reflexão ao mesmo tempo em que está vivenciando uma determinada situação, segundo Schön (2000), ele faz uma reflexão na ação. A reflexão sobre a ação dá-se no momento em que o professor reflete sobre algo que já aconteceu, após a ação, num novo olhar sobre o que experenciou, com certo distanciamento: “olhar de fora”. Na reflexão sobre a reflexão na ação se dá um processo mais elaborado onde ele busca a compreensão da ação, elabora sua interpretação e tem condições de criar outras alternativas para aquela situação e outras similares. Segundo Schön (2000) “Os professores possuem teorias (práticas, implícitas, de ação) sobre o que é o ensino, que influenciam a forma como pensam e atuam em sala de aula”. Neste triplo movimento da prática reflexiva, o professor, enquanto profissional reflexivo, dobra-se sobre si mesmo, reflete sobre sua própria prática. Neste paradigma contemporâneo e segundo categorias levantadas na pesquisa com alunos em sua metodologia o professor necessita desenvolver a capacidade de individualizar, ser curioso, ouvir, ir de encontro ao aluno e entender seu processo de conhecimento para servir de articulador entre o saber escolar e a reflexão na, para e sobre a ação (Schön, 2000). Para Perrenoud (2002) neste momento em que podemos observar as transformações que ocorrem provocadas pelo uso da tecnologia, constatamos a necessidade do professor, para sua formação, considerar sua preparação para três aspectos essenciais: a prática reflexiva, a inovação e a cooperação. Consideramos relevantes os três aspectos mencionados no trabalho de Perrenoud não somente 1313 pelo uso da tecnologia, mas além, nas mudanças provocadas pelo efeito globalizador, pela diversidade cultural, para um posicionamento e um melhor desenvolvimento enquanto profissão numa visão sistêmica do processo educacional, pois os professores “são mediadores e interpretes ativos de culturas, valores, de conhecimentos prestes a se transformar” (PERRENOUD, 2002). Sobre a prática reflexiva na formação do professor, pode ser vista sobre dois pontos: como método (articulação teoria-prática) e como objetivo (autonomia e responsabilidade social). O paradigma do professor reflexivo exige um trabalho maior, com mais responsabilidades, mais cooperação, mais transparência, envolvendo a resistência frente a mudanças própria dos indivíduos e a própria burocracia conservadora. Uma prática reflexiva metódica leva o professor a observar, memorizar, descrever, analisar, avaliar e assumir novas opções. Utiliza-se dos processos cognitivos e afetivos. A postura reflexiva na identidade profissional dos professores leva-os a “construir seus próprios procedimentos em função dos alunos, da prática, do ambiente, das parceiras e cooperações possíveis, dos recursos e limites próprios de cada instituição, dos obstáculos encontrados ou previsíveis”. (Perrenoud, 2002 pg. 198) Em uma postura reflexiva podemos observar que na ação ela permite uma melhor compreensão e um remanejamento constante frente a problematização, sem ater-se a procedimentos prontos ou previamente planejados, diz Perrenoud (2002) “a reflexão permite analisar com mais tranqüilidade os acontecimentos e construir saberes que envolvam situações comparáveis que possam surgir.” Além de procedimentos investigativos e analíticos a formação de uma prática reflexiva requer saberes metodológicos e teóricos, atitudes relacionais entre a profissão e a realidade. Os saberes metodológicos estão relacionados aos processos cognitivos e a linguagem. Sobre os saberes teóricos Perrenoud ressalta o bom senso como primeiro nível de reflexão, o domínio dos saberes a serem ensinados e para avançar nesta reflexão, dispor de conhecimento na área das ciências humanas. O essencial, segundo Perrenoud(2002) “refere-se à relação com o saber, com a ação, com o pensamento, com a liberdade, com o risco e com a responsabilidade”. O processo de mudança neste paradigma sugere uma nova forma de agir. O professor com uma prática reflexiva, questionador, mediador e envolvido 1314 criticamente em um projeto educativo competente pode transformar idéias em atitudes, indispensáveis à ação docente, provocando mudanças de metodologia e estratégias que favorecem uma aprendizagem transformadora. Em nossa pesquisa encontramos na fala dos alunos, participantes ativos e críticos deste paradigma, num processo de reflexão sobre a ação, alguns caminhos para uma prática pedagógica reflexiva. O Método Objetivos da pesquisa: - Conhecer o significado da palavra reflexivo para alunos universitários - Saber se o aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve como referência professores reflexivos. - Estabelecer a diferença entre uma aula reflexiva e uma outra aula não reflexiva. - Identificar os caminhos que levam a uma prática pedagógica reflexiva, pelo olhar do aluno. Participantes da pesquisa: Este estudo contou com a participação de: - 33 alunos do curso de graduação em Pedagogia – 4° período - 32 alunos do curso de graduação em Administração – 1° e 2° período. O instrumento: Quanto aos procedimentos metodológicos, optou-se nesta investigação, pela pesquisa qualitativa, por acreditar que as indagações sobre o pensamento e a prática reflexiva nesse enfoque seriam adequadamente aplicáveis. A coleta de dados deu-se através da observação participante e questionário semi-estruturado. A investigação qualitativa proporcionou um enfoque interpretativo da ação docente, com a intenção de investigar como se dava a prática pedagógica dos professores e como agiam os alunos frente a essas práticas na sala de aula, permitindo situar a ação pedagógica do professor na sua realidade social, que é dinâmica e está em constante modificação. Para a realização desta pesquisa foram selecionadas quatro perguntas respondidas individualmente pesquisadoras. São elas: pelos alunos participantes, na presença das 1315 1. O que é reflexivo para você? 2. Você considera-se reflexivo? 3. Você tem aulas reflexivas? 4. O que diferencia uma aula reflexiva de uma outra aula? Resultados e Análise dos dados: Procuramos identificar com esta investigação três pontos referentes a prática reflexiva: O aluno que demonstra ser reflexivo tem ou teve como referência professores reflexivos? Qual a diferença entre aulas reflexivas e as não reflexivas na universidade? Quais os caminhos que levam a uma prática profissional reflexiva? Em nossa investigação realizada com o objetivo de identificar o significado de reflexivo, as principais categorias de análise levantadas dizem respeito à análise de fatos, organização e planejamento para a ação, interiorização e transformações de atitude e respeito ao outro. No que se refere as questões: Você tem aulas reflexivas? O que diferencia uma aula reflexiva de uma outra aula? Identificamos como os alunos percebem a prática pedagógica e qual metodologia remete a uma prática reflexiva. Segundo relato dos alunos uma aula não reflexiva é aquela que não permite questionamentos, o conhecimento é “passado” sem ligação com sua aplicação, os assuntos já vem “prontos”, são aulas técnicas e exatas, não prende a atenção, é algo vago. Descrevem aulas reflexivas como as que abrem espaço para reflexões e discussões, dinâmicas e envolventes, que mobilizam o aluno a buscar o conhecimento pela sua própria vontade; referem-se particularmente ao modo como o professor conduz a aula. Sobre a ação do aluno neste processo, quando perguntamos se ele é reflexivo, constatamos que pelos dados levantados na pesquisa que 95% consideram-se reflexivos e os demais relatam que às vezes, mas nenhum se considera como não reflexivo. As principais categorias referem-se a valores, análise de fatos, tomadas de decisão, pensar antes de agir, necessidade de ser instigado. Consideram importante a compreensão e discussão sobre o conhecimento, o diálogo e o questionamento como formar de levar a reflexão para sua aprendizagem. Considerações finais 1316 Após analisarmos os relatos da pesquisa e contextualizarmos o pensamento reflexivo e a fazermos um apanhado geral sobre a epistemologia da prática reflexiva, vem o questionamento principal - Quais os caminhos que levam a uma prática profissional reflexiva? Os caminhos que se revelaram na fala dos alunos convergem para alguns ícones já expostos como aulas elaboradas (e não simplesmente preparadas). Descrevem aulas reflexivas como as que abrem espaço para reflexões e discussões, dinâmicas e envolventes, mobilizam o aluno a buscar o conhecimento pela sua própria vontade; referem-se particularmente ao modo como o professor conduz a aula, o que pode ser interpretado como uma questão de atitude do professor frente ao processo de aprender e ensinar . E sobre a aula não reflexiva dizem que é aquela que não permite questionamentos, o conhecimento é “passado” sem ligação com sua aplicação, os assuntos já vem “prontos”, são aulas técnicas e exatas, não prende a atenção, é algo vago. A inovação, o envolvimento e a reflexão, exigem uma visão global, participativa, que promove a investigação sobre a ação, na qual se encontram os fatores cognitivos, culturais, sociais e emocionais, mobilizando o que está dentro e fora da escola, desenvolvendo, no professor e no aluno, a reflexão na, para e sobre a ação, articulando teoria e prática. Neste paradigma contemporâneo e segundo categorias levantadas na pesquisa com alunos em sua metodologia o professor necessita ser curioso, ouvir, ir de encontro ao aluno e entender seu processo de conhecimento para servir de articulador entre o saber escolar e a reflexão na, para e sobre a ação (Schön, 2000). O professor foi concebido, nesta pesquisa, como um formador, facilitador da aprendizagem, que deve desempenhar, conforme SCHÖN (1987), basicamente, três funções: abordar os problemas que a atividade coloca, escolher na sua ação os procedimentos formativos que são mais adequados à personalidade e aos saberes do aluno e tentar estabelecer com ele uma relação propícia à aprendizagem. Para elucidar transcrevemos alguns relatos: “Uma aula reflexiva, na minha opinião, nos torna alunos mais críticos, pensantes, analisar sempre as situações”. “Uma aula reflexiva é aquela que o professor propõe o tema e age como mediador do conhecimento, interagindo com os alunos, abrindo discussões e 1317 levando o aluno a pensar e a questionar sobre o tema proposto, diferente daqueles que são conteudista e cumprem horário”. “Depende da maneira como o professor encaminha o processo de aprendizagem. É de sua responsabilidade valorizar o “assunto” para despertar o interesse do aluno se o mesmo ainda não o tiver”. A prática reflexiva torna-se imprescindível neste novo paradigma. Neste triplo movimento da prática reflexiva proposto por Schön, o professor, enquanto profissional reflexivo dobra-se sobre si mesmo, reflete sobre sua própria prática. Adotou-se a definição de competência de PERRENOUD (2002), como sendo a “capacidade de agir eficazmente em determinado tipo de situação, apoiada em conhecimentos, mas sem limitar-se a eles”. Uma prática reflexiva metódica leva o professor a observar, memorizar, descrever, analisar, avaliar e assumir novas opções. Utiliza-se dos processos cognitivos e afetivos. A postura reflexiva na identidade profissional dos professores leva-os a “construir seus próprios procedimentos em função dos alunos, da prática, do ambiente, das parceiras e cooperações possíveis, dos recursos e limites próprios de cada instituição, dos obstáculos encontrados ou previsíveis”. (Perrenoud, 2002) Este pesquisa teve o propósito de contribuir, de forma geral, com os professores, discutindo e analisando a prática pedagógica reflexiva, por meio da proposta de investigar e descrever a prática pedagógica dos professores na sua ação, as condutas e atitudes expressas pelos professores durante as aulas na sua ação pedagógica, pelo olhar do aluno. Contribuir com a transformação e a construção de professores, visando um educador que se utiliza da ação reflexiva na sua prática pedagógica. Segundo os dados da pesquisa a atividade prática do professor foi percebida como mediação na construção do conhecimento aliando saberes teóricos, a experiência e a reflexão, reportando-se a habilidade no agir do professor, dialogando com os alunos e com a própria ação e aceitando os desafios e dificuldades que provoca por esta prática. O ato reflexivo é subjetivo e não existe uma metodologia pronta e específica para uma prática pedagógica reflexiva, que independe da área de atuação ou disciplina. Ela reflete-se nos momentos em que o professor, mesmo sem se dar conta, preocupa-se com as dificuldades e problemas expressos pelos alunos; diversifica sua ação didática; proporciona momentos de descontração; e 1318 principalmente, que erra e procura aprender a aprender com seu erro, trocando idéias e buscando outras formas de pensar com ações e gestos. “A reflexão-na-ação é um processo que podemos desenvolver sem que precisemos dizer o que estamos fazendo” (SCHÖN, 2000, pg 35) Refletir sobre sua própria prática, rever os processos de avaliação, a metodologia empregada e aonde realmente quer chegar. As dificuldades precisam ser exploradas e compreendidas. Somente refletindo-se sobre o que se faz é que se tem condição de ter atitudes conscientes, optar pela metodologia mais adequada para organizar e transformar a ação pedagógica, tornando-a compatível com o contexto educativo atual, num conjunto que seja amplo, sistêmico e holístico do contexto ensino-aprendizagem. 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