Educação Inclusiva Professora conteudista: Mônica Cintrão França Ribeiro Sumário Educação Inclusiva Unidade I 1 INCLUSÃO ESCOLAR: DEFINIÇÃO E PROCEDIMENTOS DE INTERVENÇÃO...................................1 1.1 Definição de inclusão ............................................................................................................................1 1.2 Movimentos internacionais e nacionais a favor da inclusão ................................................4 1.3 História da educação especial no brasil e políticas públicas .................................................6 2 O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES ........................................................................................................11 2.1 Avaliação psicológica de alunos com altas habilidades ....................................................... 12 2.2 O papel da família no desenvolvimento de altas habilidades e talentos ...................... 15 2.3 O papel da escola na estimulação do talento criativo .......................................................... 15 3 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL .......................................................................................... 16 3.1 Definição de deficiência intelectual ou mental ....................................................................... 16 3.2 Classificação ........................................................................................................................................... 17 3.3 Causas da deficiência intelectual ou mental ............................................................................ 20 4 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL ...................................................................................................... 25 4.1 Os olhos .................................................................................................................................................... 25 4.2 Mecanismo da visão ............................................................................................................................ 27 4.3 Saúde da visão....................................................................................................................................... 27 4.4 Definição de deficiência visual ....................................................................................................... 28 4.5 Classificação ........................................................................................................................................... 29 4.6 Causas da deficiência visual ............................................................................................................ 31 Unidade II 5 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA.................................................................................................. 34 5.1 Os ouvidos ............................................................................................................................................... 34 5.2 Mecanismo da audição ...................................................................................................................... 34 5.3 Saúde auditiva ....................................................................................................................................... 36 5.4 Definição de deficiência auditiva .................................................................................................. 36 5.5 Classificação ........................................................................................................................................... 38 5.6 Causas da deficiência auditiva........................................................................................................ 41 6 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA FÍSICA E MOTORA ................................................................................. 43 6.1 Problemas de saúde física................................................................................................................. 43 6.2 Deficiência física ................................................................................................................................... 45 6.3 Deficiência motora .............................................................................................................................. 49 6.3.1 Definição de deficiência motora....................................................................................................... 58 Unidade III 7 O ALUNO COM PROBLEMA DE APRENDIZAGEM ............................................................................... 65 7.1 Definição de problema de aprendizagem................................................................................... 65 7.2 Diagnóstico do problema de aprendizagem ............................................................................. 67 7.3 Tratamento do problema de aprendizagem .............................................................................. 67 7.4 Distúrbios de linguagem ................................................................................................................... 68 7.5 Distúrbios de comportamento ........................................................................................................ 87 8 FENÔMENOS ESCOLARES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM .............................................................................................................................................. 99 8.1 Síndrome de Burnout ......................................................................................................................... 99 8.2 Bullying .............................................................................................................................................................................. 105 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Unidade I 1 INCLUSÃO ESCOLAR: DEFINIÇÃO E PROCEDIMENTOS DE INTERVENÇÃO 1.1 Definição de inclusão De acordo com Leny Mrech,1 o objetivo da educação inclusiva (inclusão) é incluir as crianças deficientes no ensino regular e romper com preconceitos e estereótipos que envolvem a exclusão escolar de crianças com qualquer tipo de 5 deficiência. A inclusão escolar foi sugerida pela UNESCO em 1968, mas só se concretizou em 1986, nos EUA, quando crianças com deficiências leves e moderadas foram inseridas nas classes regulares comuns. Segundo Mrech, pais, professores, 10 especialistas e instituições trabalharam contra todos os tipos de preconceito para que a educação inclusiva pudesse atingir mais de 5,8 milhões de deficientes americanos, em todos os níveis de ensino. No Brasil, devido às intervenções do MEC, já existem 15 escolas que realizam o mesmo trabalho. No entanto, ainda há o preconceito de muitos profissionais que afirmam que as crianças devem ser separadas das demais e colocadas em classes ou escolas especiais. Nesse sentido, os estereótipos relacionados aos deficientes são muito fortes, contribuindo para a exclusão 20 social e escolar. Ainda conforme Mrech, as crianças com deficiências mentais, físicas, visuais, auditivas, com distúrbios de aprendizagem ou 1 Texto extraído da autora no site http: //www.educacaoonline.pro.br. 1 Unidade I emocionais conseguem inúmeros progressos em classes de ensino regular. Isso é possível porque elas têm a possibilidade de conviver em um contexto mais amplo, assimilando novas experiências. Segundo a professora, 5 10 (...) vídeos comparativos entre o desenvolvimento de deficientes em escolas especiais e os que estão em escolas de ensino regular demonstram o alto grau de progresso desses últimos. A linguagem é acelerada e eles aprendem novos conceitos brincando com as outras crianças. Nosso objetivo é tentar romper com todos os processos de estigmatização, fazendo com que as crianças não sejam mais avaliadas apenas através dos testes de QI, mas pelo próprio potencial que elas apresentam. Isto porque esses testes medem o que ela não tem, em vez de lidar com aquilo que ela poderia utilizar no contexto escolar (Leny Mrech). A inclusão escolar é prevista pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), Lei nº 9.394 de 20/12/1996, da Constituição Federal Brasileira. Esse foi um fato histórico, conquistado após muitos anos de questionamentos sobre o tema. A lei é um instrumento 15 importante para garantir a inclusão, visto que ela delineia a educação brasileira e apresenta um capítulo especialmente dedicado à educação especial. Três aspectos da lei são destacados: 20 25 2 Educandos com necessidades especiais são aqueles que possuem necessidades incomuns e, portanto, diferentes dos outros no que diz respeito às aprendizagens curriculares compatíveis com suas idades. Em razão desta particularidade, estes alunos precisam de recursos pedagógicos metodológicos próprios (Capítulo III / Artigo 4º). EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5 Entende-se por educação especial, para efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos com necessidades especiais (Capítulo V / Artigo 58). 10 Professores com especialização adequada, em nível médio ou superior, para atendimento especializado, bem como professores do ensino regular capacitados para integração desses educandos nas classes comuns (Capítulo V / Artigo 59). De acordo com essa lei, o alunado de educação especial pode ser classificado como: • portadores de deficiência: alunos que apresentam deficiência mental, física, auditiva, visual ou múltipla; 15 • portadores de condutas típicas: alunos com comportamentos típicos de portadores de síndromes e quadros psicológicos, neurológicos ou psiquiátricos com repercussão sobre o desenvolvimento e comprometimento social; 20 • crianças de alto risco: alunos que têm o desenvolvimento fragilizado em decorrência de fatores como gestação inadequada, alimentação imprópria, nascimento prematuro, etc.; 25 • portadores de altas habilidades: alunos também chamados de superdotados, pois apresentam elevada potencialidade intelectual, aptidão acadêmica específica, capacidade criativa produtiva, alta performance em liderança, elevada capacidade psicomotora, talento especial para artes. Sugestão de filmografia: Sobre alunos portadores de altas habilidades, o filme Mentes que brilham. 3 Unidade I 1.2 Movimentos internacionais e nacionais a favor da inclusão Os movimentos internacionais a favor da inclusão são: Conferência Mundial Sobre Educação Para Todos, em Jomtiem (Tailândia), em 1990, em defesa da equidade social nos países mais pobres e populosos. 5 Declaração de Nova Delhi, em 1993, em defesa do atendimento à demanda de universalização do ensino básico. Declaração de Salamanca, 1994, quando da realização da Conferência Mundial sobre Necessidades Educacionais Especiais, na cidade de Salamanca, Espanha. 10 Embora o Brasil, apesar de ter sido convidado, não tenha participado, esse documento influenciou fortemente a política e a gestão da educação, sobretudo da educação especial em nosso país. A Linha de Ação Sobre Necessidades Educacionais Especiais, da Declaração de Salamanca, almeja a definição da política e a 15 inspiração da ação de governos, organizações não governamentais e outras instituições na implementação de princípios, políticas e práticas em educação especial. Tal linha de ação representa para a política educacional, em âmbito nacional e internacional, um marco na definição de diretrizes para o planejamento de ações 20 responsivas a necessidades educacionais especiais. Essa Declaração repercutiu em mudanças significativas nas concepções de educação e, consequentemente, na compreensão da escola pública e da função social que exerce na sociedade contemporânea. No cenário educacional brasileiro, a LDB nº 25 9.394/96, o Plano Nacional de Educação (Lei nº 10.172/01) e as Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (Resolução CNE/SEB nº 02/01) incorporaram os princípios e as orientações da Declaração de Salamanca. 4 EDUCAÇÃO INCLUSIVA As principais orientações da Declaração são as seguintes: • a urgência de novas ideias sobre necessidades educacionais especiais; 5 • a atenção a fatores escolares como a flexibilidade dos programas de estudos, a gestão escolar, a produção de informação e pesquisa, a formação de pessoal docente, a oferta de serviços externos de apoio, etc.; • maior disponibilidade de recursos para a construção de escolas inclusivas; 10 • maior participação da comunidade escolar – interna e externa. Diante dessas proposições, os sistemas de ensino são pressionados a rever muitos dos paradigmas que deram – e ainda dão – sustentação às suas práticas no atendimento 15 educacional de grupos historicamente excluídos do acesso à educação e à cultura em geral – as pessoas com deficiência. O termo necessidades educacionais especiais refere-se a todas as crianças ou aos jovens cujas necessidades vêm da capacidade ou da dificuldade de aprendizagem. Cabe 20 à escola encontrar a maneira de educar com êxito todas as crianças, incluindo aquelas que possuem desvantagens severas. Dito isso, pode-se afirmar que o desafio dos sistemas de ensino é a construção de uma escola diferente da que se 25 configura atualmente, ou seja, busca-se um espaço menos segregativo e mais acolhedor, que procure se adaptar às necessidades dos alunos, e não o contrário; que reconheça as possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem nos alunos em vez das limitações que eles encontram em algumas condições 30 temporárias ou permanentes. 5 Unidade I Não se trata de buscar pertencimentos, inserções e estereótipos no campo cultural para categorizar indivíduos e coletividades, procurando integrá-los à cultura vigente; trata-se de compreender a cultura da diversidade como questionamento 5 e desafio à cultura hegemônica, como forma de combater os processos de segregação. Reconhecer e valorizar a diferença devem ser os pontos de partida e de chegada para construir uma base político-pedagógica que garanta uma educação na e para 10 a diversidade. Para isso, faz-se necessário, dentre outras tantas mudanças, redimensionar as estruturas e a dinâmica dos sistemas de ensino, visando à construção de uma escola que contemple e compreenda as diferentes formas de ser, fazer, aprender e conviver que se manifestam no contexto 15 escolar, como a própria manifestação da diversidade humana. 1.3 História da educação especial no brasil e políticas públicas Embora o atendimento educacional a cegos, surdos, deficientes intelectuais e físicos tenha se iniciado no Brasil por volta do século XIX, somente no século XX, no final dos anos 20 50 e início da década de 60, ocorrerá na política educacional brasileira a inclusão da educação especial, da educação de deficientes ou da educação de excepcionais. De acordo com Mazzotta (2001), podemos dividir dois períodos na evolução da educação especial no Brasil: 25 • (1º) Período de 1854 a 1956: iniciativas oficiais e particulares isoladas. • (2º) Período de 1957 a 1993: iniciativas oficiais de âmbito nacional. 6 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Período de 1854 a 1956 12 de setembro de 1854: primeira iniciativa de atendimento escolar especial aos portadores de deficiência concretizada por D. Pedro II através do Decreto Imperial nº 1.428 na cidade do Rio de Janeiro, com a criação do Imperial Instituto dos Meninos 5 Cegos. Em 17 de maio de 1890, passou a se chamar Instituto Nacional dos Cegos e, em 24 de janeiro de 1891, a denominarse Instituto Benjamin Constant (IBC). A educação consistia em oficinas de aprendizagem de ofícios: tipografia e encadernação para meninos cegos e tricô para as meninas. 26 de setembro de 1857: D. Pedro II também irá fundar no Rio de Janeiro o Imperial Instituto dos Surdos-Mudos, pela Lei nº 839. Cem anos depois, em 6 de julho de 1957, pela Lei nº 3.198, passou a se chamar Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES). Desde seu início, caracterizou-se pela educação literária 15 e pelo ensino profissionalizante de meninos surdos-mudos com idade entre sete a quatorze anos, por meio de oficinas de sapataria, encadernação, pautação e douração. 10 Dezembro de 1883: embora houvesse, na época, 15.848 cegos e 11.595 surdos, somente eram atendidos no IBC e INES 35 20 cegos e 17 surdos. Isso levou à discussão sobre a educação dos portadores de deficiência no 1º Congresso de Instrução Pública, convocado pelo Imperador D. Pedro II, sendo então discutida, entre outros temas, a organização de currículo e a formação de professores para cegos e surdos. 25 Em 1874: Hospital Estadual de Salvador, hoje chamado Hospital Juliano Moreira, iniciou o atendimento médicopedagógico aos deficientes mentais. No começo do século XX, são publicados trabalhos científicos e técnicos indicando o interesse pela educação dos portadores de deficiência. Em 1950, 30 havia 54 estabelecimentos de ensino regular e 11 instituições especializadas mantidos pelo Poder Público (federal e estadual) que prestavam serviço de atendimento especial a deficientes mentais, físicos, visuais e auditivos. 7 Unidade I De acordo com Mazzotta (2001), algumas instituições destacaram-se pela sua importância ao longo da história e por isso estão aqui relacionadas. Atendimento a deficientes visuais 5 • Instituto Benjamin Constant – IBC (Rio de Janeiro). • Instituto de Cegos Padre Chico (São Paulo). • Fundação para o Livro do Cego no Brasil (FLCB) ou Fundação Dorina Nowill para Cegos (São Paulo). Atendimento a deficientes auditivos 10 • Instituto Santa Terezinha (São Paulo). • Escola Municipal de Educação Infantil e de 1º Grau para Deficientes Auditivos Helen Keller (São Paulo). 15 • Instituto Educacional São Paulo (IESP) ou Divisão de Educação e Reabilitação dos Distúrbios da Comunicação (DERDIC) – PUC/São Paulo. Atendimento a deficientes físicos • Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (São Paulo). 20 • Lar-Escola São Francisco – convênio com a Secretaria da Educação do Estado e com a Escola Paulista de Medicina (UNIFESP) – São Paulo. • Associação de Assistência à Criança Defeituosa (AACD) – São Paulo. Atendimento a deficientes mentais • Instituto Pestalozzi de Canoas (Rio Grande do Sul). 25 8 • Sociedade Pestalozzi de Minas Gerais (Belo Horizonte). Pesquise sobre cada uma dessas instituições e saiba mais a respeito de cada uma delas. EDUCAÇÃO INCLUSIVA • Sociedade Pestalozzi do Estado do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). • Sociedade Pestalozzi de São Paulo (São Paulo). 5 • Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) do Rio de Janeiro (Rio de Janeiro). • Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) de São Paulo (São Paulo). Período de 1957 a 1993 De acordo com Mazzotta (2001), o atendimento educacional à criança com necessidades especiais iniciou-se em nível nacional 10 com a criação de campanhas especificamente voltadas para esse fim. Abaixo, estão relacionadas cada uma delas: Campanha para a Educação do Surdo Brasileiro (CESB): em 03 de dezembro de 1957, instalada no Instituto Nacional de Educação de Surdos (INES), no Rio de Janeiro, tinha como 15 objetivo promover medidas necessárias à educação e à assistência ao surdo em todo o território nacional. Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes da Visão: em 01 de agosto de 1958, no Instituto Benjamin Constant, no Rio de Janeiro. 20 Campanha Nacional de Educação de Cegos (CNEC): em 31 de maio de 1960, pelo gabinete do ministro da Educação e Cultura e direção da professora Dorina Nowill. Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais (CADEME): em 22 de setembro de 1960, 25 pelos movimentos liderados pela Sociedade Pestalozzi e pela Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, ambas no Rio de Janeiro, e com o apoio do Ministério da Educação e Cultura. 9 Unidade I Em 03 de julho de 1973, com a finalidade de promover, em todo o território nacional, a expansão e a melhoria do atendimento aos excepcionais, foi criado o Centro Nacional de Educação Especial (CENESP). Com sua criação, foram extintas 5 a Campanha Nacional de Educação de Cegos e a Campanha Nacional de Educação e Reabilitação de Deficientes Mentais, além das Campanhas do Instituto Benjamin Constant e Nacional de Educação de Surdos. Em 1983, o CENESP foi transformado em Secretaria de 10 Educação Especial (SESPE), manteve a estrutura anterior e sua coordenação foi transferida do Rio de Janeiro, onde estava localizada, para Brasília. Em 25 de março de 1990 foi extinta a SESPE, e as atribuições relativas à educação especial passaram a ser da 15 Secretaria Nacional de Educação Básica (SENEB). Em 08 de dezembro de 1990, inclui-se como órgão da SENEB o Departamento de Educação Especial (DESE), com competências específicas em relação à educação especial. No final de 1992, após a queda do presidente Fernando Collor 20 de Mello, houve reorganização dos ministérios e reapareceu a Secretaria de Educação Especial (SEESP), como órgão específico do Ministério da Educação e do Desporto. A partir da reconstrução da trajetória da educação especial no Brasil, Mazzotta (2001) concluiu afirmando que: 25 30 10 Alguns homens e mulheres, ao longo da história, desempenharam importante papel de impulsionadores do movimento de organização institucional ao atendimento de pessoas com deficiências e/ou necessidades especiais. De maneira pessoal ou coletiva, fizeram-se agentes individuais desse processo e que, se fossem outros, muito provavelmente teria Faça uma pesquisa sobre as políticas públicas desde 1992 até hoje. Verifique o que ocorreu nesse período e se são as políticas públicas atuais. EDUCAÇÃO INCLUSIVA sido outra trajetória da educação especial em nosso país. Vale destacar que suas propostas e ações políticas estiveram pautadas pelas condições sociais, econômicas e políticas historicamente determinadas. 5 Os pais de crianças com necessidades especiais têm sido uma importante força para as mudanças no atendimento aos portadores de deficiência. 2 O ALUNO COM ALTAS HABILIDADES Existem algumas crianças que aprendem mais depressa, lembram-se de mais coisas e resolvem problemas com maior 10 eficiência do que as outras. Ao longo da história, essas crianças foram chamadas de superdotadas ou talentosas e, atualmente, são denominadas portadoras de altas habilidades. Crianças denominadas como deficientes geralmente apresentam perda em uma ou mais áreas do desenvolvimento; as crianças com altas 15 habilidades são o único grupo com excedente de capacidades ou talentos. Quem são os sujeitos com altas habilidades? Aluno portador de altas habilidades: aluno cujas aptidões biopsicológicas estão acima dos padrões de desenvolvimento culturalmente aceitos e cientificamente reconhecidos para a faixa etária correspondente.1 Aluno portador de necessidades especiais: aluno que apresenta limitações de ordem física (auditiva, visual, mental, motora), psicológica ou emocional, relativamente à sua faixa etária e aos padrões vigentes. 2 Fonte: Assessoria de Gestão da Informação – Pró-Reitoria de Planejamento e Desenvolvimento da Universidade Federal de Minas Gerais (2003). Disponível em <www.ufmg.br/proplan/glossario/a.htm>. 2 idem 1 11 Unidade I 2.1 Avaliação psicológica de alunos com altas habilidades A avaliação dos sujeitos com altas habilidades deve ser feita o mais cedo possível, a fim de atender suas necessidades, capacidades e ajustamento socioemocional. A simples rotulação do aluno como superdotado não 5 tem valor algum se não for contextualizada em um planejamento pedagógico ou com uma orientação educacional. Da mesma forma, a avaliação deve ser enriquecida por outras fontes de identificação, que permitam uma visão sistêmica e 10 global do indivíduo, e não apenas sua inteligência superior medida por meio de testes de inteligência. Uma metodologia de avaliação da inteligência atual é feita de maneira abrangente e multidimensional levando em consideração o contexto sócio-histórico do sujeito, suas habilidades na área 15 da linguagem e do pensamento lógico e suas características de criatividade, aptidão artística e musical, liderança, entre outras. Portanto, é de fundamental importância que a avaliação permita ao sujeito reconhecer e entender o que se passa consigo 20 mesmo, ter uma ideia mais clara e coerente de seu potencial e de suas habilidades e de como se desenvolver de forma mais harmoniosa. Avaliação psicológica é o processo científico, limitado no tempo, realizado por um psicólogo, que procura compreender o indivíduo em sua globalidade, utilizando técnicas de entrevista, de observação e de testes psicológicos 25 que permitam a obtenção do funcionamento psíquico do sujeito que está inserido em um contexto sócio-histórico. O conjunto de informações obtidas pelo psicólogo junto ao aluno, à escola e à família mapeará as condições cognitivas, sociais e afetivas desse aluno, na tentativa de orientar e 12 Assista ao filme Mentes que brilham e procure fazer uma análise a partir dos aspectos estudados em aula e tratados na teoria. EDUCAÇÃO INCLUSIVA conduzir ações em direção a uma melhor qualidade de vida. Não se trata de uma ação isolada nem de uma proposta de solução mágica, mas de um trabalho interdisciplinar que visa a um apoio a um planejamento educacional mais eficaz. Metodologia 5 Entrevista de anamnese com os pais ou responsáveis, entrevistas com o aluno em que são aplicados testes de inteligência (Raven e WISC-R), instrumentos que avaliam autoconceito e criatividade (Teste Torrance de Pensamento 10 Criativo), jogos (memória e quebra-cabeças), brincadeiras (liga-pontos, palavras-cruzadas), desenhos e produções espontâneas. Realizam-se também visitas à escola que o aluno frequenta e encontros com os professores. Ao término, é feita uma entrevista 15 de devolutiva aos pais e professores, que serão orientados sobre o desenvolvimento acadêmico, emocional e social da criança com altas habilidades. De acordo com Fleith e Alencar (2007), é importante ressaltar que o principal objetivo da avaliação psicológica não 20 é identificar se o aluno apresenta ou não altas habilidades, e sim avaliar seus interesses, pontos fortes e necessidades e sugerir caminhos que possibilitem seu crescimento saudável. Alfred Binet (1857-1911), pedagogo e psicólogo 25 francês, em 1905 publica, por solicitação do governo francês, junto com Theodore Simon (1873-1961), uma escala métrica para avaliação da inteligência, sendo considerado, por isso, o inventor do primeiro teste de inteligência. Essa escala tinha como objetivo mensurar o desenvolvimento da 30 inteligência de crianças de acordo com a idade mental, e este trabalho foi o ponto de partida para a criação de outros testes 13 Unidade I psicométricos, especialmente os que medem o quociente intelectual (QI). Lewis Terman (1877-1956) dedicou maior parte de sua vida ao estudo de crianças com altas habilidades, procurou 5 em escolas públicas crianças superdotadas e as acompanhou durante 35 anos, até a sua morte. A classificação proposta por Lewis Terman era a seguinte: QI acima de 141: genialidade 121 - 140: inteligência muito acima da média 110 - 120: inteligência acima da média 90 - 109: inteligência normal (ou média) 80 - 89: embotamento 70 - 79: limítrofe 50 - 69: cretino Em 2005, o teste de QI mais usado no mundo foi o Raven 10 Standard Progressive Matrices. O teste individual mais usado é o WAIS-III. O teste de QI individual mais administrado em pessoas de seis a dezesseis anos é o WISC-III (Escala de Inteligência Wechsler para Crianças), originalmente desenvolvido em 1949 e revisado em 1974 (WISC-R), 1991 (WISC-III) e 2003 (WISC-IV).2 15 Tanto o WAIS quanto o WISC foram criados por David Wechsler (1896-1981). A última versão do WAIS consiste em quatorze subtestes destinados a avaliar diferentes faculdades cognitivas. O WISC é constituído por treze subtestes. Os 20 subtestes são subjetivamente estratificados em dois grupos: escala verbal e escala de execução (também chamada escala 2 14 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/QI. EDUCAÇÃO INCLUSIVA performática); contudo, os estudos objetivos, baseados em análise fatorial, não oferecem respaldo à classificação subjetiva em vigor.3 A classificação originalmente proposta por Davis Wechsler era a seguinte: QI acima de 127: superdotação 121 - 127: inteligência superior 111 - 120: inteligência acima da média 91 - 110: inteligência média 81 - 90: embotamento ligeiro 66 - 80: limítrofe 51 - 65: debilidade ligeira 36 - 50: debilidade moderada 20 - 35: debilidade severa QI abaixo de 20: debilidade profunda 2.2 O papel da família no desenvolvimento de 5 altas habilidades e talentos As maiores queixas e preocupações dos pais estão no descompasso entre o desenvolvimento intelectual avançado e o emocional, compatível com a faixa etária. É necessário que a família acompanhe o desempenho do aluno no contexto educacional, ofereça atendimento às suas necessidades e receba orientação para ajudá-lo em seu processo de adaptação às circunstâncias. 10 2.3 O papel da escola na estimulação do talento criativo Depois do próprio aluno, o professor é o principal agente 15 pedagógico no contexto escolar. Por isso, a identificação 3 Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/QI. 15 Unidade I das altas habilidades deve iniciar na sala de aula, a partir do professor, que, munido de recursos adequados, pode realizar suas observações e anotações sobre aqueles alunos que se destacam, estimulando-os e facilitando seu desenvolvimento. Descobrir o interesse do aluno consiste na questão central para torná-lo motivado, abrindo espaço para que demonstre seu potencial e sua criatividade. Além disso, cabe ao professor possibilitar ao aluno a socialização com os colegas de classe. 5 3 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA INTELECTUAL 3.1 Definição de deficiência intelectual ou mental 10 15 20 A deficiência mental (DM) refere-se ao funcionamento intelectual geral significativamente abaixo da média (escore em testes de inteligência inferior a 85) que coexiste com falhas no comportamento adaptador (independência e responsabilidade social esperado para o grupo etário e cultural) e se manifesta durante o período de desenvolvimento infantil. As crianças deficientes mentais são acentuadamente mais lentas do que seus companheiros da mesma idade para usar a memória com eficácia, associar e classificar informações, raciocinar e fazer julgamentos adequados (Kirk; Gallagher, 2000). Não existe, na literatura, um consenso em relação ao conceito de deficiência mental. Os sujeitos que apresentam um baixo nível intelectual são classificados de deficientes mentais ou retardados mentais, variando também a 25 designação a partir do quociente intelectual (QI) ou da idade mental (IM). Alfred Binet elaborou testes de inteligência na França, no início do século XX, com objetivo de avaliar a inteligência das 16 EDUCAÇÃO INCLUSIVA crianças francesas em idade escolar e, com isso, encontrar alunos que não fossem capazes de responder ao programa escolar tradicional. Dessa forma, classifica as crianças deficientes mentais pelo quociente intelectual (QI) em quatro categorias: idiota, imbecil, débil e retardada. 5 A definição e os procedimentos para classificação de deficiência mental sofrem modificações quando se menciona o fator de adaptabilidade. Comportamento adaptador: são os fatores externos à 10 criança; consistem no quadro ambiental em que o sujeito se desenvolve. Se um determinado ambiente cria mais condições do que outro, podemos ter uma criança deficiente mental em uma comunidade, mas não em outra, na escola e não na vizinhança, durante uma época da vida, mas não 15 em outra. Dessa forma, embora existam controvérsias sobre a possibilidade de modificação no desenvolvimento intelectual, todos os autores concordam que o comportamento adaptador das crianças deficientes mentais pode ser influenciado por treinamento. Em outras palavras, dependendo das circunstâncias, é possível minimizar a 20 deficiência mental e até a incapacidade educacional por meio de uma programação educacional ou modificações no ambiente social do sujeito. 3.2 Classificação 25 Uma das maiores consequências da deficiência mental é a perda da capacidade intelectual, e são os testes de inteligência que irão determinar seu grau. Ao mesmo tempo, é importante salientar que o diagnóstico da DM, como qualquer outro, é extremamente complexo, por isso não pode ser reduzido a um número expresso em QI – quociente 30 intelectual. 17 Unidade I As escalas de David Wechsler permitem avaliar a inteligência a partir do escore dos níveis de QI, sendo 100 considerado na média da distribuição – acima de 100 estão os superdotados, e abaixo de 100 estão os infradotados. Essa forma de avaliação da inteligência proposta por Binet e Wechsler provocou críticas de vários autores contemporâneos (Piaget, Vygotsky, Luria, Sternberg, Feuerstein, entre outros), que colocaram em dúvida a avaliação da capacidade intelectual por testes psicológicos. Abaixo, um quadro com toda a classificação: Classificação da inteligência de acordo com a Escala Wechsler 5 10 15 18 130 e ≥ Muito superior 120-129 Superior 110-119 Normal alto 90-109 Normal 80-89 Normal baixo 70-79 Fronteiriço ou borderline 55-69 DM leve 40-54 DM moderada 25-39 DM severa ≤ 25 DM profunda De acordo com González (2007), em psicologia e pedagogia, temos uma maneira mais atual de avaliar a deficiência mental. O autor propõe três parâmetros que possibilitam um diagnóstico mais eficaz e adequado para as necessidades dos deficientes mentais. Esses paradigmas são: EDUCAÇÃO INCLUSIVA • o déficit na inteligência e o grau de deficiência: determinados basicamente pelo QI ou pelos estádios piagetianos de desenvolvimento; • as dificuldades na conduta adaptativa; 5 • o grau de educabilidade (educáveis e treináveis) que determinam as possíveis ações ou intervenções psicopedagógicas. Dessa forma, é considerada pelo Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV) como um transtorno generalizado do desenvolvimento, caracterizado por: • ter um funcionamento intelectual geral significativamente inferior à média; • estar ligado a déficits significativos no funcionamento adaptativo; • ter início antes dos dezoito anos de idade cronológica. 10 15 Graus de DM de acordo com o QI Deficiente mental leve ou educável DML QI 50-55 / até 70 Deficiente mental moderado ou treinável DMM QI 35-40 / até 50-55 Deficiente mental grave DMG QI 20-25 / até 35-40 Deficiente mental profundo DMP QI abaixo de 20-25 Funcionamento da DM de acordo com a classificação (DSM-IV): Deficiente mental leve: corresponde a 85% de toda a população com DM; são conhecidos também como “educáveis” e, 20 na infância, desenvolvem habilidades sociais e de comunicação. Possuem poucas dificuldades sensório-motoras, muitas vezes 19 Unidade I não são diferenciados de outras crianças até em idades mais avançadas e conseguem atingir até a sexta série do ensino fundamental. 5 Deficiente mental moderado: corresponde a 10% de toda a população com DM; são conhecidos como “treináveis”. Durante a infância, podem aprender a falar e a se comunicar, mas dificilmente passarão da segunda série do ensino fundamental. Deficiente mental grave: corresponde a 3 a 4% da população afetada por DM. Apresentam dificuldade no desenvolvimento motor; se conseguirem se comunicar por meio da linguagem, a compreensão e a expressão serão muito pequenas. Na primeira infância, podem aprender uma linguagem rudimentar e adquirir hábitos de higiene básica, com prejuízo nas áreas da alfabetização e matemática. Deficiente mental profundo: corresponde a 1 a 2% da população afetada por DM. Durante a infância, têm um funcionamento sensório-motor mínimo e exigem cuidados até o fim da vida. 10 Graus de severidade da DM e os diferentes níveis operacionais de Piaget DMP Idiota Sensório-motor DMG Imbecil Pré-operacional DMM Débil Operações concretas DML Retardado Operações formais (com atraso) 3.3 Causas da deficiência intelectual ou mental De acordo com Kirk e Gallagher (2000), podemos identificar nove disposições principais como agentes causadores da deficiência mental: 20 EDUCAÇÃO INCLUSIVA - infecção e intoxicação; - trauma ou agente físico; - metabolismo ou nutrição; 5 - doença cerebral grave; - influência pré-natal desconhecida; 10 - anomalia cromossômica ou genética; - distúrbios de gestação; - retardo decorrente de distúrbio psiquiátrico; - influências ambientais. Fatores genéticos Na formação de um novo ser humano, o pai e a mãe do futuro bebê contribuem com 23 cromossomos cada e, dessa forma, centenas de genes permanecem na posição certa em cada cromossomo, desempenhando o processo químico exato para produzir um novo ser humano. Mas, algumas vezes, esse 20 processo pode deturpar-se, ocorrendo anormalidades genéticas humanas, resultando, frequentemente, em aborto espontâneo. Quando não ocorre o aborto, a gravidez ocorre normalmente e, muitas vezes, somente no momento do parto é que os pais tomam conhecimento da patologia genética de seu filho. 15 25 Dois distúrbios genéticos específicos, dos mais de cem já identificados, serão aqui mencionados: - síndrome de Down; - fenilcetonúria. 21 Unidade I Síndrome de Down Esse termo surgiu com John Langdon H. Down, em 1866, que estudou essa anormalidade genética e batizou de 5 “mongolismo” devido à semelhança física que esses sujeitos apresentam com a raça oriental. Tal condição leva o sujeito à deficiência mental moderada ou leve, acrescida de vários problemas de audição, formação do esqueleto, hipotonia muscular e coração. A aprendizagem é lenta, assim como suas respostas, por isso a estimulação precoce, o currículo e os programas específicos podem amenizar os problemas que as crianças apresentam. 10 A causa da síndrome de Down é uma alteração cromossômica que ocorre de forma acidental e mecânica durante a divisão celular, ou seja, a presença de 47 cromossomos nas células ao invés de 46, que é o normal. Dessa forma, ocorre a presença 15 de um cromossomo extra no par 21, por isso essa anomalia é chamada de síndrome de Down ou trissomia do 21. É importante saber o número de células que foram afetadas. Elas podem se apresentar de duas maneiras: global, quando todas as células foram afetadas, e mosaico, quando somente algumas foram afetadas. Nesse segundo caso, o embrião, se chegar até o final, terá os traços morfológicos menos evidentes do que no 20 primeiro caso. Detectar as diferenças entre os distintos casos é importante para a intervenção educacional (González, 2007). Fenilcetonúria Outra condição causada por anomalias genéticas é a fenilcetonúria, ou seja, defeito em um único gene, que leva ao 25 retardo mental grave. É a incapacidade que a estrutura do gene tem de quebrar uma partícula química, a fenilalanina, acumulada em grande quantidade no sangue, resultando em dano severo ao cérebro em formação. Embora seja um distúrbio genético, pode ser 22 EDUCAÇÃO INCLUSIVA prevenida por meio de uma dieta com baixos teores de fenilalanina durante os primeiros anos de desenvolvimento da criança. Fatores teratogenos 5 Fatores relacionados ao ambiente no qual o sujeito vive; podem estar relacionado aos distúrbios em seu desenvolvimento, como, por exemplo, ingestão de drogas pela mãe durante a gravidez, bem como doenças que possa contrair durante esse período; situações de carência nutricional e alimentar e doenças que a criança possa adquirir nos primeiros anos de vida. Existem dois tipos de fatores que podem levar à DM, 10 especificamente à síndrome de Down: Fatores intrínsecos – genéticos 15 • Determinados pela herança genética, ou seja, filhos de Down nascidos de mães Down ou várias crianças Down na mesma família. Quando, em uma família, existe um caso de Down, é bem possível que apareçam mais casos em gerações posteriores; • idade avançada, tanto do pai quanto da mãe: idade da mãe passa dos 35 anos e no caso do envelhecimento acelerado da mãe jovem. 20 Fatores extrínsecos – teratogenos • Determinados tipos de irradiações; • doenças maternas (problemas viróticos – rubéola, encefalite –, agentes imunológicos, falta de vitaminas, fundamentalmente da vitamina A); 25 • excesso de ingestão de álcool pela mãe durante a gestação; 23 Unidade I • envenenamento por chumbo, encontrado em algumas tintas de parede e colocado na boca por crianças pequenas. Até o final do século passado, o diagnóstico da síndrome de 5 Down, bem como de outras patologias, só era feito quando do nascimento da criança ou até mais tarde. O desenvolvimento de técnicas diagnósticas permitiu um avanço nessa área e o diagnóstico precoce. 10 • Teste screening bioquímico-materno antes da gravidez detecta se a mãe é portadora da síndrome. • Ultrassonografia do feto a partir da 16ª semana de gravidez observando-se a dobra ou a espessura da nuca. 15 • Aneuploidias fetais e amniocentese: retirada de um pouco do líquido da placenta ou líquido amniótico para biópsia das células do feto encontradas nesse líquido. Assim, logo no início da gravidez, os pais de alto risco podem saber se terão ou não um filho deficiente. Esses procedimentos médicos podem gerar um problema moral de graves consequências, pois os pais teriam o direito de interromper a gravidez quando recebem a informação de que terão uma criança deficiente? Para alguns autores, esses sujeitos mudam a vida de seu ambiente familiar de imediato, por isso afirmam que é importante detectar precocemente a síndrome, para evitar ansiedades desnecessárias. Quando os pais conhecem a situação, precisam de um tempo para se recuperar e assimilar a nova realidade e as dificuldades que irão enfrentar. Por isso, devem receber informação clara e precisa sobre tudo o que devem fazer e também sobre a forma como podem motivar e estimular seu filho para conseguir os melhores resultados possíveis. 24 Sugestão de filmografia: Oitavo dia Gabi: uma lição de vida Rain Man Estranho no ninho Oleanna Uma EDUCAÇÃO INCLUSIVA 4 O ALUNO COM DEFICIÊNCIA VISUAL 4.1 Os olhos4 Os olhos, órgãos da visão, estão alojados nas cavidades orbitárias, que lhes dão proteção e os mantêm próximos ao sistema nervoso central, de que são verdadeiros prolongamentos exteriorizados. Possuem forma esférica, o que lhes garante maior mobilidade. Esclerótica Corpo ciliar Coroide Retina Córnea 5 Mácuala lútea Cristalino Fóvea Nervo ótico Humor vítreo Pupila Íris Ponto cego Ligamentos profs.ccems.pt/PaulaFrota/images/olho.jpg O globo ocular é formado por três envoltórios: Esclera ou esclerótica: membrana mais externa e mais resistente do globo ocular. É o chamado “branco do olho”; sua parte anterior se torna fina, transparente e delicada, formando 4 Disponível em www.portalms.com.br/campogrande. 25 Unidade I uma saliência que constitui a córnea – que permite a entrada de luz no olho. Coroide: é uma membrana intermediária, rica em vasos sanguíneos e pigmentos. Em sua parte anterior, torna-se visível 5 pela transparência da córnea. Tal área recebe o nome de íris – responsável pela cor dos olhos. No centro da íris há um orifício chamado pupila, conhecido como “menina do olho”, que tem como função controlar a quantidade de luz no globo ocular. 10 A luz que chega aos olhos sofre refração ao passar pela córnea, pelo humor aquoso, um líquido claro, por uma lente gelatinosa (cristalino) e por um líquido bastante viscoso (humor vítreo). Esse conjunto funciona como um sistema de lentes convergentes que formam uma imagem na parte sensível do olho: a retina. 15 Retina: membrana interna do globo ocular. Ela é composta por neurônios especializados; na parte posterior, apresenta uma pequena depressão, próxima ao nervo ótico, denominada mácula, região mais sensível à luz e por onde as imagens são vistas com maior nitidez. As células fotossensíveis são de dois 20 tipos: cones e bastonetes. Os cones percebem as radiações luminosas, diferenciando as cores; os bastonetes também percebem as radiações, mas não distinguem as cores – captam imagens mesmo com pouca luz, 25 sendo importantes para a visão na obscuridade. Estruturas auxiliares do olho: Pálpebras: são duas pregas móveis, uma superior e outra inferior, que protegem o globo ocular contra impurezas, traumas etc.; ao se fecharem, possibilitam ao globo ocular o descanso, impedindo a entrada de luz; espalham as lágrimas na frente do 26 EDUCAÇÃO INCLUSIVA olho, lubrificando-o. As pálpebras e a esclera são revestidas por uma membrana fina e transparente chamada conjuntiva. Cílios: são pelos distribuídos nas margens das pálpebras, que protegem o globo ocular de agentes agressores. 5 Glândulas lacrimais: órgãos responsáveis pela produção de lágrimas. A lágrima facilita o deslizamento das pálpebras, promove a remoção de impurezas e germes, participa da nutrição e oxigenação da córnea. Sobrancelhas: pelos dispostos na margem superior de cada 10 órbita, protegendo o globo ocular do suor. Músculos motores: são os músculos reto superior, reto inferior, reto lateral, reto medial, oblíquo superior e oblíquo inferior que permitem ao globo ocular movimentos em várias direções. 15 4.2 Mecanismo da visão Raios de luz refletidos de um objeto entram nos nossos olhos, atravessam as estruturas oculares – a córnea, a pupila, os humores, o cristalino – e chegam ao fundo do olho, até a retina, onde existem células sensíveis à luz. A imagem transformada em impulsos nervosos é enviada 20 através do nervo ótico ao cérebro. No cérebro, as informações (cor, forma, tamanho e posição) são “interpretadas”, fazendo com que a imagem do objeto em foco seja vista na posição correta. 4.3 Saúde da visão 25 Todo mundo tem alguém na família ou pelo menos conhece alguém que usa óculos. Geralmente, pensa-se logo nos nossos avós, pois a maioria dos idosos tem dificuldade para enxergar. 27 Unidade I Entretanto, ao contrário do que se pensa, os problemas de visão ocorrem na infância e na adolescência. Pesquisas revelam que uma em cada cinco crianças em idade escolar sofre de problemas de visão. Uma criança não tem como comparar se está enxergando bem ou não e dificilmente vai se 5 queixar, o que pode trazer sérios problemas para o aprendizado e para a saúde. Os sintomas podem ser: • dificuldade de leitura: quando você lê um livro, preste atenção se precisa aproximá-lo dos olhos ou se é necessário afastá-lo. Observe se as letras ficam meio embaçadas, como se tivesse uma nuvem de fumaça sobre seus olhos; • piscamento: observe se você pisca muitas vezes ao focalizar algum objeto ou durante a leitura; • sensibilidade exagerada à luz: em ambientes claros, não se consegue abrir os olhos totalmente, os quais, em seguida, começam a lacrimejar; • terçol frequente: é uma inflamação geralmente localizada nas pálpebras, como se fosse uma espinha grande, deixando a região avermelhada e inchada; • dores de cabeça: geralmente durante ou após a leitura ou ao assistir à televisão; • tonteiras: também são frequentes durante a leitura. 10 15 20 25 4.4 Definição de deficiência visual A deficiência visual é uma perda na área da visão que pode ser do tipo cegueira – total incapacidade para enxergar – ou 28 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 5 do tipo deficiência visual – alterações no sistema visual – e, nesse sentido, o sujeito perde a acuidade visual, a capacidade de distinguir imagens, requerendo a utilização de prótese. Quando um sujeito não tem associado outro tipo de incapacidade, além da falta de visão, irá compensar com outros sentidos, como tato, audição e olfato. 4.5 Classificação A literatura apresenta duas categorias de problemas visuais: deficiências totais e deficiências parciais. Deficiências totais 10 Cegueira ou perda da visão: caracteriza-se pela incapacidade de enxergar. Existem dois tipos de cegueira: • absoluta: quando o sujeito cego é incapaz de distinguir alguma coisa; em alguns casos, pode reconhecer um pouco de luz, mas é impossível adquirir conhecimentos por meio da vista; 15 • parcial: quando o sujeito cego pode distinguir luz, sombras e contornos. Deficiências parciais Deficiência visual: caracteriza-se por defeitos óticos e ambliopia, problemas de refração no olho, manifestado por visão nebulosa. Entre esses, pode-se citar miopia, astigmatismo e hipermetropia, que podem ser corrigidos sem dificuldade com pequenas intervenções cirúrgicas ou pelo 20 uso de lentes. Na ambliopia, existe uma sensibilidade imperfeita na retina, sem lesão orgânica do olho, levando a uma diminuição da visão de dois tipos: 29 Unidade I • sujeitos com baixa visão, que, com auxílio de material adequado e especialistas, podem desenvolver uma aprendizagem normal; • sujeitos limitados visuais, que, com lentes ou aparelhos especiais, podem realizar sua aprendizagem normal. 5 Deficiências totais Deficiências parciais Cegueira ou perda da visão Deficiência visual • • Sujeitos com baixa visão • Sujeitos limitados visuais Absoluta e parcial Distúrbios e anomalias visuais mais comuns Hipermetropia Miopia Astigmatismo Estrabismo Heterotropia Nistagmo Albinismo Catarata 30 EDUCAÇÃO INCLUSIVA 4.6 Causas da deficiência visual Os problemas visuais podem surgir por interferências na formação de imagens na retina ou na transmissão destas ao cérebro: erros óticos, defeito nos olhos, doenças, síndromes e condições que afetam a visão em maior ou menor extensão. No passado, as maiores causas da deficiência visual eram a sífilis, a meningite ou a escarlatina, e medidas como lavar os olhos do recém-nascido e o uso de vacinas conseguiram eliminar a maioria dessas causas. Hoje as infecções intrauterinas, como rubéola e toxoplasmose, junto com malformação no 10 desenvolvimento do aparelho visual do feto são as causas mais comuns de deficiência congênita. 5 Sugestão de filmografia: Perfume de mulher O milagre de Anne Sullivan À primeira vista Dançando no escuro Ray Charles O sino de Anya Janela da alma De acordo com González (2007), existem oito grupos diferentes de causas devido às quais um sujeito é cego: 15 1º grupo: sujeitos cegos que sofreram anomalias congênitas porque a mãe teve alguma doença durante os primeiros meses de gravidez, como rubéola ou toxoplasmose, e sujeitos que apresentam cegueira devido à herança genética. 2º grupo: sujeitos cegos por problemas de refração, como a miopia. 20 3º grupo: sujeitos cegos que sofreram traumatismo nos olhos durante a prática de esportes, casos de queimadura ou, ainda, acidentes domésticos. 4º grupo: sujeitos cegos por lesões no globo ocular. 25 5º grupo: sujeitos cegos por lesões no nervo ótico, no quiasma e nos centros corticais. Na metade do século XX, a administração excessiva de oxigênio nas incubadeiras de bebês prematuros levou metade das crianças da época à deficiência visual – essa condição foi chamada de fibroplasia retrolental. 6º grupo: sujeitos cegos por alterações próximas aos olhos, como pálpebras ou canais lacrimais. 31 Unidade I 7º grupo: sujeitos cegos por doenças gerais, que podem ser infecciosas, intoxicações ou, ainda, transtornos do tipo endócrino (diabetes, sífilis, glaucoma, ceratite, rubéola). 5 8º grupo: sujeitos cegos cuja causa é determinada por parasitas. Os dois principais profissionais mais indicados no diagnóstico dos problemas visuais são o médico oftalmologista, especializado na avaliação e no tratamento dos defeitos e doenças dos olhos, e o optometrista, que examina, mede e trata certos defeitos 10 funcionais de visão por meio de métodos que não exigem formação em medicina. Além disso, os pais e o professor, por meio da observação, podem detectar as deficiências visuais apresentadas pelas crianças, por meio dos seguintes indicadores: 15 • ter dificuldade para ler o quadro-negro; • ter dores de cabeça; • esfregar os olhos; • apresentar olhos avermelhados e com lágrimas; • confundir e inverter letras e palavras; 20 • trocar de linha ao escrever; • piscar e fazer esforços para ler; • apresentar incômodos excessivos causados pela luz. 32 EDUCAÇÃO INCLUSIVA Pesquisadores têm estudado de que maneira as outras funções sensoriais podem ser afetadas pela deficiência visual. Há um grupo de teóricos que acredita na teoria da compensação sensorial: se uma avenida sensorial, como a visão, é deficiente, os outros sentidos automaticamente são reforçados; por exemplo, parte-se da hipótese de que o deficiente visual tem a capacidade de ouvir melhor e tem mais memória que indivíduos com visão. No entanto, outros pesquisadores apresentam um ponto de vista alternativo, de que a deficiência numa área de desenvolvimento pode ter um efeito negativo em outras áreas. Isso significa que um defeito funcional em uma área retarda ou perturba o desenvolvimento de outras áreas intactas. Qual é a sua opinião sobre isso? 5 10 33