o positivismo de émile durkheim, enfatizando as solidariedades

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA
DEPARTAMENTO DE LETRAS E ARTES
LICENCIATURA DE LETRAS COM A LÍNGUA INGLESA
SOCIOLOGIA
Professor: Antônio Lima da Conceição
JOÃO BOSCO DA SILVA
([email protected])
O POSITIVISMO DE ÉMILE DURKHEIM,
ENFATIZANDO AS SOLIDARIEDADES MECÂNICA E ORGÂNICA
FEIRA DE SANTANA
2007
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1. O Positivismo:
Surgiu como desenvolvimento filosófico do Iluminismo na afirmação social das ciências
experimentais, propondo valores humanos, afastando a teologia ou a metafísica, associando
a interpretação das ciências e a classificação do conhecimento a uma ética humana.
É uma corrente filosófica cujo iniciador principal foi o francês Augusto Comte (17981857), tendo grande repercussão na segunda metade do século XIX, que considerava o
Positivismo como a fase final da evolução da maneira como as idéias humanas são
percebidas, centrando a sua base teórica na observação, ou seja, descartando toda
especulação acrítica, toda metafísica e toda teologia.
Comte classificou as ciências que já haviam alcançado a positividade, como a
Matemática, a Astronomia, a Física, a Química, a Biologia e a Sociologia (esta última estava
sendo formulada por Comte) e mais tarde, a Moral.
Também publicou a Política Positiva na qual preconizava a Ditadura Republicana, como
também, pioneiramente, a Incorporação social do Proletariado - refutando a guerra de
classes, mas, a partir da ação de grupos contrários (marxistas, comunistas, fascistas,
reacionários, católicos, místicos), perdeu influência no século
2. Estágios do positivismo de Comte:
No primeiro estágio: a humanidade é regida por ficções da teologia;
no segundo estágio: o da metafísica, a humanidade já faz uso da ciência, mas
não se libertou totalmente das abstrações personificadas encontradas no primeiro. Essas
duas fases buscam o absoluto e as razões últimas das coisas.
no terceiro estágio: o positivo, a ciência já está totalmente consciente de si e,
baseada no relativismo intrínseco à ciência, não se pretende apenas achar as causas dos
fenômenos, mas descobrir as leis que os regem.
3. Durkheim e a sociologia positivista:
O sociólogo francês Émile Durkheim representa, na Sociologia, uma transição na
maneira de conceber e praticar os estudos relacionados a essa ciência: afinal, ao mesmo
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tempo que defende um posicionamento conservador, ao analisar a importância da sociedade
sobre o indivíduo, avança em direção ao Positivismo, propondo a objetividade e o empirismo
nos estudos humanos. Ligado a correntes conservadoras do estudo social, foi defensor da
visão de que a sociedade é mais importante e forte que os interesses individuais, de uma
ordem social coesa baseada na integração entre os humanos, que se complementam,
constituindo sociedades e grupos sociais fortes.
O conceito de indivíduo seria uma criação do modelo filosófico moderno, mas não se
pode esquecer que foi criado pela própria sociedade, pelos seres que a formam. Isso
comprova que a noção coletiva, ou seja, a organização social existia antes mesma do
conceito de indivíduo surgir.
Isso fica claro no Método para determinar a função da divisão do trabalho: os indivíduos
necessitam de relacionamentos sociais porque, sozinhos, são incompletos. Não há humano
que baste a si mesmo, sendo completo: ele cumpre uma determinada função na sociedade,
mas necessita de outros humanos para complementar as funções que não exerce. Daí a
divisão do trabalho por ele analisada: a complementação de deveres sociais interliga e
aproxima os indivíduos, faz com que constituam entre si relações de solidariedade bem como
uma coesão social.
Seus postulados sociológicos, guardadas as devidas proporções, também foram
aplicados no estudo da História no século XIX e no início dos anos XX, negando as correntes
individualistas do pensamento sociológico, na qual o indivíduo é o objeto supremo de
devoção de uma sociedade, surgido com o Iluminismo no século XVIII, como um ser racional
individualista, sem dogmas religiosos que limitavam sua ação. Durkheim vai combater é a de
que o Individualismo não nega a existência da sociedade e suas relações, mas coloca o
indivíduo acima dela.
4. Fato Social:
É "toda forma de agir fixa ou não, suscetível de exercer sobre o indivíduo uma coerção
exterior". Nessa definição entram os costumes e hábitos sociais, bem como a legislação
vigente; desde cedo, somos guiados e orientados a seguir um comportamento correto para
vivermos em sociedade. Esse comportamento implica no conhecimento e incorporação das
leis e hábitos dessa sociedade; são estes que nos darão a base para que entremos no rol da
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solidariedade e das relações com nossos semelhantes e permitirão a nossa aceitação no
meio social.
O autor afirma que para fazermos sociologia é necessário tratar os fatos sociais como
coisas, isto é, como as ciências naturais trabalham seu objeto de estudo, preservando a
neutralidade do investigador frente a este objeto. O investigador deve se desvencilhar dos
seus próprios valores e crenças (fatores subjetivos) para conseguir construir um
conhecimento o mais objetivo possível.
O autor afirma ainda que para conhecermos um fato social, precisamos superar a
primeira impressão, pois como é uma realidade vivida, pensamos conhecê-la. Em outras
palavras, precisamos nos desvencilhar do senso comum.
Para saber se estamos tratando de um fato social precisamos perceber se ele provoca
uma coerção exterior sobre os indivíduos, se possui uma existência própria, se é geral e
amplo.
No livro O que é fato social, Durkheim mostra que a organização e coesão sociais não
são somente regidas pelas leis do Direito. Ele introduz a questão dos costumes e hábitos,
que também são elementos chaves para reger as sociedades. Da mesma forma que nos
sentimos integrados quando cumprimos as leis, ao seguir os costumes considerados válidos
pela sociedade nossa integração é facilitada. Isso contribui para reforçar a coesão social. No
entanto, se não levamos em conta tais hábitos sociais, não nos integrando a eles, seremos
punidos pela mesma sociedade, não pelas regras do Direito, mas com a exclusão, o
deboche, a sátira etc.
Portanto, não somente a mão estatal, baseada na lei, age como força repressora de
quem foge da ordem; a própria sociedade tem seus meios coercitivos, quando as regras
estabelecidas não são seguidas, tendo o objetivo principal de manter as relações de
solidariedade e a coesão social.
5. Tipos de Solidariedades::
A coesão social deve ser regida por leis, num Estado de Direito, de modo a assegurar a
boa ocorrência dessas relações. A vida social exige um padrão de regras a ser cumpridas,
para garantir a solidariedade entre as pessoas, e quando as regras não são cumpridas,
poderá acarretar punições. O papel das leis, portanto, é impedir que as relações sociais
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sejam egoístas, enfraquecendo a verdadeira coesão social, que favorece a perfeita
integração entre os homens, regida por ações solidárias de formas diferentes, de acordo com
a formação e exigências de cada sociedade:
a) Solidariedade mecânica(ou por semelhança):
É quando existe uma divisão social do trabalho menos acentuada, onde as pessoas
dividiam as tarefas de maneira mais homogênea, com pouca especialização, baseada nas
semelhanças. A consciência coletiva possui um peso muito grande sobre os indivíduos, que
vivem praticamente em função do restante do grupo, a partir de uma grande
homogeneização dos valores e crenças. É constituída por um sistema de segmentos
homogêneos e semelhantes entre si. Os membros da sociedade em que domina a
Solidariedade Mecânica estão unidos por laços de parentesco, onde o lugar de cada um é
estabelecido pela consangüinidade e a estrutura dessa sociedade é simples. O indivíduo,
nessa sociedade, é socializado porque, não tendo individualidade própria, se confunde com
seus semelhantes no seio de um mesmo tipo coletivo.
Exemplo: Direito e a Solidariedade Mecânica - Estão definidos dois tipos de sanções
nas regras jurídicas:
i) Punitivas: Direito Penal
ii) Restitutivas: Direito Civil, Mercantil, Processual, Administrativo e Constitucional
Cada um desses códigos, ao definir um crime, estará definindo a solidariedade por ele
rompida. O crime é, então, o rompimento de uma solidariedade social. Todo ato criminoso é
criminoso porque fere as consciências comuns, que determina as formas de solidariedade
necessárias ao grupo social.
Ou seja: na reprovamos uma coisa porque é crime, mas sim é crime porque a
reprovamos. A solidariedade social representada pelo Direito Penal é a mais elementar,
espontânea e forte.
b) Solidariedade orgânica:
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São aquelas sociedades que possuem uma divisão social do trabalho mais acentuada,
com grande especialização entre os trabalhadores, num tipo de solidariedade baseada na
diferenciação. É onde as pessoas relacionam-se mais por necessitarem umas das outras.
Este tipo de solidariedade gera uma consciência coletiva mais fraca e permite os indivíduos
considerarem-se menos atrelados ao grupo social abrangente. É fruto das diferenças sociais,
já que são essas diferenças que unem os indivíduos pela necessidade de troca de serviços e
pela sua interdependência.
Exemplo: A Lei da Divisão do Trabalho Social e a Solidariedade Orgânica:
Como vimos, os membros dessa sociedade estão unidos em virtude da divisão do
trabalho social. O seu meio natural e necessário é o profissional, onde o lugar de cada um é
estabelecido pela função que desempenha e a estrutura dessa sociedade é complexa. O
indivíduo é socializado porque, embora tenha sua individualidade profissional respeitada,
depende dos demais elementos da sociedade.
6. Durkheim e a consciência coletiva:
Embora Durkheim já tivesse tocado nesse assunto em duas de suas obras (A divisão
do trabalho social -1893 e Regras do Método Sociológico - 1894), foi num trabalho publicado
na Revista de Metafísica e de Moral de 1898 que ele se deteve diretamente nesse estudo.
Sem confundir a Sociologia com a Psicologia ele investiga as analogias entre as leis
sociológicas e as leis psicológicas. Vida coletiva ou mental é feita de representações
individuais e podem ser comparadas com as representações sociais, que independem do
indivíduo e fazem parte da consciência coletiva, transcendendo a consciência individual, pela
sua superioridade e pela pressão que exerce sobre ela.
A consciência coletiva não é uma entidade metafísica fruto de fenômenos
sobrenaturais, mas decorre do concurso de vários indivíduos que contribuem, cada um, com
uma pequena parcela para o todo. "..em cada uma de nossas consciências há duas
consciências: uma, que é conhecida por todo o nosso grupo e que, por isso, não se confunde
com a nossa, mas sim com a sociedade que vive e atua em nós; a outra, que reflete somente
o que temos de pessoal e de distinto, e que faz de nós um indivíduo. Há aqui duas forças
contrárias, uma centrípeta e outra centrífuga, que não podem crescer ao mesmo tempo". Por
causa disso que na sociedade o todo não é idêntico à soma de suas partes, mas sim distinto
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dessas. O grupo pensa, sente e age de modo muito distinto do que fariam seus membros
isolados.
7. Estado anônimo:
Durkheim definiu que é aquele com uma organização social baseada em práticas nãoregidas pelas leis e que para impedir isso, deve o Estado perceber as transformações sociais
a tempo e mudar a lei para incorporar as práticas antes não legais à lei, permitindo assim seu
entendimento e estudo.
8. Aquisição das leis e hábitos:
Essas aquisições ocorrem por meio do contato com a legislação, a família, os órgãos
estatais, mas principalmente por meio da educação. A escola é, para Durkheim, a mais
importante e poderosa instituição capaz de preparar as crianças e jovens para a sociedade,
impondo-lhes o comportamento mais correto e a visão da consciência coletiva. É na escola
que as crianças aprendem que deve-se negar a vontade pessoal e sacrificar-se em função
do todo social; que terão uma função a cumprir na sociedade, e que para complementaremse terão de se relacionar com os seus semelhantes. "Toda a educação consiste num esforço
contínuo para impor às crianças maneiras de ver, sentir e agir às quais elas não chegariam
espontaneamente(...) a pressão de todos os instantes que sofre a criança é a própria
pressão do meio social tendendo a moldá-la à sua imagem, pressão que tanto os pais quanto
os mestres não são senão representantes e intermediários.
Cabe ao sociólogo apurar os fatos sociais, organizá-los para o entendimento das
sociedades e, caso eles demonstrem que elas não estão na ordem adequada, trabalhar para
reorganizá-las.
O sociólogo deve comprovar os fatos e nada mais. O mesmo se espera do educador e
da família: transmissão dos valores que mantém a sociedade em coesão e nada mais. Eles
ensinam o que deve ser seguido ou não por si mesmos.
Os positivistas consideram as ciências humanas tais como exatas, nas quais a
implicação pessoal produz conhecimentos errados sobre o objeto de estudo. Durkheim
possui o mesmo ponto de vista, ao dizer que "o que se reclama do sociólogo é que se
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coloque num estado de espírito semelhante ao dos físicos, químicos, fisiologistas, quando se
aventuram numa região ainda inexplorada de seu domínio científico”.
9. Escola dos Annales:
Para eles, o Brasil estava condenado a ser um país subdesenvolvido, visto que a maior
parte de sua população era "bárbara" (isto é, negra) e o clima tropical induzia o povo à
ociosidade: com essas características, nossa história seria indolente e sem melhores
perspectivas. Não admitiam uma outra possibilidade para entender o país, pois era isso que
a realidade empírica (isto é, os fatos históricos e a situação que presenciavam) revelava
perante seus olhos. Era esse quadro que observavam com seus olhos "científicos" e
desprovidos de julgamentos. Os mesmos olhos que chamavam os negros de "bárbaros"
diziam que não emitiam opiniões na elaboração de seu saber: como se vê, o positivismo
também se baseava em julgamentos opinativos, mesmo que não assumissem.
Essa forma de se estudar a História nacional predominou até o início dos anos 30,
quando a emergente Escola dos Annales francesa, que emergia na Europa desde os anos
20, começou a influenciar os autores e pensadores brasileiros, forçando uma renovação no
pensamento histórico e social da nossa realidade. A influência dos autores dos Annales será
tão evidente no Brasil que inclusive o seu representante mais importante, Fernand Braudel,
estaria presente na fundação da USP, em 1934, dando inclusive aulas na universidade.
A Revista dos Annales surge numa época em que a "escola metódica" exalta a sua
preocupação com a erudição, privilegiando a dimensão política - procurando dar grande
ênfase ao acontecimento. "A corrente inovadora (Annales) despreza o acontecimento e
insiste na "longa duração"; deriva a sua atenção da vida política para a atividade econômica,
a organização social e a psicologia coletiva." (Martim: 2000, 119) Dessa forma, esforçavamse em aproximar a história das outras ciência humanas. Os Annales elaboraram, portanto,
uma mudança substancial na compreensão do tempo histórico. A nouvelle histoire opõe-se
ao tempo da história da época das Luzes (embora haja os que vejam nesse movimento o seu
inspirador mais direto), que é o da evolução gradual e progressiva da Razão, e opõe-se ás
versões revolucionárias desse tempo, que, ao invés de uma evolução gradual, propõem a
revolução puramente, mas visando ao mesmo progresso da Razão. Percebe-se a recusa,
consciente ou não, confessada ou não, da idéia de revolução e tudo o que ela implica:
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aceleração do tempo dos eventos e acontecimento especulativo do sentido da história. A
história da longa duração enfatiza os movimentos lentos e representa uma desaceleração
das mudanças.
REFERÊNCIAS:
Costa, Cristina. Sociologia, Introdução à ciência da sociedade. Editora Moderna,
2ª edição, São Paulo-SP, 2002
REFERÊNCIAS TECNOLÓGICAS:
http://www.casadosite.com.br/turma/sociolog.htm> acesso em 20/04/2007
http://www.culturabrasil.pro.br/goldmann.htm> acesso em 21/04/2007
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