Os fundadores: Lucien Febvre e Marc Bloch Este capítulo é dividido pelo autor Peter Burke em quatro subtemas que procuram explicar a trajetória do grupo que causou uma revolução no fazer da história trazendo com isso uma nova conceituação da disciplina, assim como, a busca daquilo que é essencial a História, a problematização, além de métodos e metodologias novas. O autor fala dos anos iniciais da carreira dos fundadores dos Annales, Febvre e Bloch, depois faz observações sobre o período que passaram em Estrasburgo, onde se encontraram em 1920 começando ali uma grande parceria, tendo durante esse período vários pensadores que ajudaram a influenciar os dois, como Blondel, Halbwachs entre outros, sendo, contudo seus maiores influenciadores François Simiand e Vidal Dela Blache, em que Bloch da ênfase a sociologia de Durkheim e Marcel Mauss e Febvre interessava-se pela construção de uma geo-história, assim como pelas atitudes coletivas chamadas psicologia histórica. Logo depois fala da criação dos Annales, o que ocorreu logo após a Primeira Guerra Mundial, em 1929, onde esta trazia nomes como Demageon (geógrafo), Maurice Halbwachs (sociólogo), Charles Rist (economista), e um cientista político André Siegried, mostrando com isso o caráter interdisciplinar do projeto. Em seguida fala da institucionalização dos Annales apesar da dispersão do grupo de Estrasburgo. O que destacamos deste capitulo é que Peter Burke se propõe a nos mostrar como foi importante o surgimento do grupo à História, pois é com Bloch e Febvre, estes dois historiadores que propõem a elaboração de uma história problema, ou seja, uma história feita através de questionamentos, onde não são privilegiados apenas fatos políticos e diplomáticos através da figura dos grandes homens, dos grandes heróis nacional, vivendo uma história sem conflitos e tensões, e sim, buscam-se os homens no seu fazer cotidiano, sendo estes sujeitos e objetos da história mostrando as permanências, rupturas e tensões existentes ao longo das temporalidades históricas, enxergando como estes a constroem, em que esse novo tipo de história requer uma maior interdisciplinaridade com as outras disciplinas sociais, além de ampliar a noção de fontes na história, onde tudo que homem produz, toca ou pensa é fonte histórica. São os primeiros a falar sobre as temporalidades do tempo histórico, dar entendimento aos modos de agir e sentir deslocando a ênfase da historia do político para o mental, o social, o econômico e entre outros, além de pensar a comparação como essencial para disciplina. Em suma, o entendimento que se tem deste capitulo é que em lugar da História tida como tradicional que possuía um caráter fundamentalmente político, diplomático e militar, instala-se, a partir, dos Annales com as idéias e influências de seus pais fundadores a História problema que busca ser totalizante, dando ênfase ao mental, social e ao econômico, onde a História passa a ser definida como a ciência das transformações do homem no tempo. A Era Braudel Sobre o período denominado de “A Era Braudel”, o autor Peter Burke subdivide este capítulo em três: I) O Mediterrâneo; II) o Braudel das ultimas Obras; e III) O nascimento da História Quantitativa. Em “O Mediterrâneo”, Burke, salienta como foi o processo de construção da tese do grande historiador Fernad Braudel, talvez sua grande obra histórica e, é nesse momento que Braudel começa a esboçar seu esquema de análise histórica, onde divide o livro em três partes, em que existe uma História” quase sem tempo da relação entre o homem e o ambiente, surge então, gradativamente, a história mutante da estrutura econômica, social e política e, finalmente, a trepidante história dos acontecimentos” (BURKE, 1990, p.46). Para escrever este livro Braudel teve influências significativas de Febvre, Ratzel com seu determinismo pluralista, e principalmente Henri Pirrene, além de estar muito ligado ao Estruturalismo de Lévi-Strauss, assim como da análise econômica próxima ao Marxismo. O que Braudel procurou atingir com tal obra foi à história total, porém muitas criticas lhe foram feitas, pois este fala muito pouco sobre atitudes e valores, que são as mentalidades coletivas, tão presentes com Bloch e Febvre. Burke apud Braudel salienta: “Meu grande problema, o único problema a resolver, é demonstrar que o tempo avança com diferentes velocidades” (BURKE, 1990, p.52). Burke conclui essa primeira parte afirmando: “permanece uma conquista pessoal de Braudel combinar um estudo na longa duração com de uma complexa interação entre o meio, a economia, a sociedade, a política, a cultura e os acontecimentos” (BURKE, 1990, p.55). Na segunda parte fala de “O Braudel das últimas obras”, mostrando este no poder de comando da Escola dos Annales, onde este passa a ser uma grande influência a outra geração de estudantes, como por exemplo, Pierre Chaunu e Emanuel Le Roy Ladurie. Nesse momento Braudel e seus discípulos possuem uma preocupação especial com a História da Cultura material, onde Braudel salienta a “história econômica como um edifício de três andares” (BURKE, 1990, p.58), com isso, aproxima-se de Marx, pois há a civilização material, há a vida econômica, e existe um andar superior ligado ao mecanismo capitalista, andar esse parecido com a superestrutura de Marx. Na forma de apresentar os livros que escreve neste momento, segue sua abordagem típica ou a mesma utilizada em “O Mediterrâneo”, com uma estrutura tripartite: a história quase imóvel, a estrutural e a dos eventos. A terceira e ultima parte do capitulo é a que fala sobre “O nascimento da História Quantitativa”, onde Burke salienta a importância de Ernest Labrousse, que era marxista, onde suas conceituações buscavam através do entendimento das estatísticas a partir da quantificação e da seriação de dados contribuir para analise dos processos históricos. Outra questão importante que Burke propõe é sobre a importância da História regional, onde as monografias produzidas durante esse período sobre comunidades determinadas, em períodos circunscritos, de maneira globalizante, eram muito comuns na prodição desse período, havendo com isso a tentativa de junção da história com a etnografia, em que seus maiores expoentes são: Goubert, Emanuel Le Roy Ladurie, Michel Vovelle, Georges Duby, além de Mousnier. Em suma, “A Era Braudel” foi o momento da construção de uma história totalizante e global, onde buscou-se englobadar as diversas perspectivas, prevalecendo principalmente o econômico e o social, em que Braudel da pouca ênfase as mentalidades, aproximando os Annales das correntes marxistas e estruturalistas, contudo sua grande contribuição a meu ver é transformar nossas noções de tempo e espaço com suas múltiplas temporalidades, pois Braduel trabalha e desenvolve os conceitos de curta, média e longa duração. A curta duração é o tempo dos acontecimentos, é a história dos eventos, é uma história superficial dos fatos. A média duração de tempo é a das conjunturas, onde visualiza a mutação das estruturas políticas, econômicas, sociais e mentais. A longa duração é a historia quase imóvel ou quase sem tempo da relação entre o homem e o ambiente. A terceira geração Não houve nesse período um domínio como nos tempos de Bloch, Febvre e Braduel. Por isso, a terceira geração é tida como uma geração difícil de traçar um perfil, pois estes historiadores vão trabalhar com uma história fragmentada, onde vão ser apontadas várias perspectivas e inúmeras vertentes de estudo dentro desta geração. A história nova como é conhecida a terceira geração teve como principais correntes do momento o retorno da história política, as mentalidades e o ressurgimento da narrativa histórica. A nova história política tem como característica o interesse pelo poder e a relação dos micropoderes existentes na vida cotidiana, o uso político dos sistemas de representação, abrindo espaço para a história vista de baixo, preocupada com as grandes massas anônimas, com o individuo comum, não apenas dando enfase mais excepcionalmente as grandes figuras da política e da diplomacia. As mentalidades têm como características o enfoque da sociedade relacionada ao mundo mental e aos modos de sentir, onde os seus olhares se dirigem para o universo mental, os modos de sentir, os âmbitos mais espontâneos das representações coletivas e também do inconsciente coletivo, analisando a vivencia, a subjetividade, como a pessoa sente, vive e percebe o mundo social que a cerca, onde o conceito de imaginário não trabalha a realidade em sim, mas a forma como esta é pensada ou representada pelos sujeitos sociais. A narrativa histórica e o seu retorno têm como características a questão relacionada à micro historia que estuda as partes e não o todo, fazendo uma descrição detalhista e minuciosa. Os principais historiadores e intelectuais dessa geração ou os mais destacados são: Phillipe Áries, Jean Delameau, George Duby, Jacques Le Goff, Roger Chartier, Pierre Bordieu, Michel de Certau, Le Roy Ladurie e Michel Foucault. Phillipe Áries tem seus interesses na relação entre a natureza e a cultura e as formas pela qual uma cultura vê e classifica fenômenos tais como infância e morte. Jean Delameau possuía o estilo americano de pisicohistória, orientando no sentido de estudo dos indivíduos, até finalmente encontrar a psicologia histórica francesa, onde se dirige a pesquisa no sentido dos grupos, ou seja, fazia a interação entre o pensamento individual e do grupo, ou da cultura imposta para se compreender um determinado processo histórico. Le Roy Ladurie tem seus interesses pela antropologia social, fazendo análise de estruturas de classes no inicio da sociedade moderna, onde faz uma análise estrutural das lendas, os estudos dos gestos simbólicos da vida social, tratando os acontecimentos como ralação ou respostas as mudanças estruturais. Le Goff e Duby são historiadores medievalistas que trabalham com o imaginário social, o primeiro e o segundo com ideologias. Le Goff insiste na mediação de estruturas mentais, de hábito de pensamento ou de aparatos intelectuais ou em outras palavras mentalidades, onde faz uma relação entre o material e o mental no decorrer das mudanças sociais, através da representação coletiva da sociedade feudal e sua estrutura tripartite. Duby preocupa-se com a história das ideologias, da reprodução cultural e do imaginário social e econômico da França medieval, em que procura combinar com a história das mentalidades, fazendo uma relação da representação coletiva da sociedade dividida em três partes: os que rezam os que guerreiam e os que trabalham. Duby acredita que a ideologia, não é um reflexo passivo da sociedade, mas um projeto para agir sobre ela, onde integra a relação do imaginário dos indivíduos com a sua existência real. Bordieu e Certau abordaram uma história antropológica, onde Bordieu possui o ideal de educação como reprodução social. Certau foi um especialista da história da religião, porém contribuiu em outros três campos: analisando a política da linguagem, o estudo do coletivo sobre a vida cotidiana e a escrita da história social concentrando-se sobre o processo que descreve a construção do outro, freqüentemente o inverso da imagem que se tem de si mesmo. Roger Chartier trabalha com a história dos livros, onde se preocupa com a mudança na abordagem da história e com a sua reescrita, com as transformações sofridas pelos textos particulares quando adaptados às necessidades do público ou escalamento de públicos sucessivos. Michel Focault tem seu estudo voltado a historia cultural da sociedade e sobre o imaginário coletivo, onde a história cultural da sociedade ou a sociedade em si mesma é uma representação coletiva. O que se pode concluir é que a terceira geração dos Annales não se preocupou apenas com uma vertente ou perspectiva, porém a uma busca da construção de uma história totalizante, procurando cada um de acordo com sua tendência historiográfica fazer um estudo na área em que são especialistas, onde é transferido o estudo da base econômica à superestrutura cultural, trata-se em primeiro lugar de uma mudança que vai do “Porão ao Sótão”. Referencia bibliográfica BURKE, Peter. A Escola dos Annales: (1929 - 1989). São Paulo: UNESP, 1991.