Ciência Política – 12.º Ano As Principais Correntes Ideológicas O CONSERVADORISMO - fundado por Edmund Burke (1729-1797, Reino Unido); perfilhado por Alexis de Tocqueville (1805-1859, França) , por Michael Oakeshott (1901-1990, Reino Unido) e por Irving Kristol (1920 – EUA). Burke: - liberal, favorável às reivindicações das colónias americanas e ao comércio livre - crítico da Revolução Francesa Reflexões sobre a Revolução na França (1790): revolução de tendências totalitárias e antiliberais, porque os jacobinos pretendiam destruir a História e a tradição francesas agiam como conquistadores: recorriam à força contra o povo pretendiam um nivelamento em nome da igualdade defendiam o niilismo em nome da liberdade defendiam o poder absoluto e total em nome do povo. a Revolução Francesa foi obra de intelectuais políticos (por exemplo, Rousseau) que eram inimigos da sua sociedade – convenceram o povo de fantasias como a liberdade, a igualdade e a justiça absolutas. Dogmática do Conservadorismo 1. Defesa dos grupos, associações e instituições intermédios: aqueles que se situam entre o indivíduo e o Estado, por exemplo, a Igreja, as classes sociais, a família e a propriedade Rejeição do individualismo e do nacionalismo radicais 2. Grande fé na História e na tradição: - a História é uma experiência concreta que liga os vivos, os mortos e os que estão para nascer: «Quem nunca olhou para trás, para os seus antepassados, nunca olhará para a frente, para a posteridade.» (Burke) - o presente não é livre de refazer a estrutura social segundo a sua vontade - a legitimidade do Estado é produto da História e das tradições, que vão muito além dos recursos de uma única geração - a História expressa-se através da persistência das estruturas, comunidades, hábitos e preconceitos, geração após geração o presente enraíza-se no passado e só pode ser compreendido enquanto enraizado no passado e projetado no futuro a melhor forma de compreender a sociedade é através da abordagem histórica: a verdadeira Constituição dos povos é a história das instituições (não qualquer pedaço de papel) – os seus costumes e tradições formados ao longo de séculos oposição à mudança (e à revolução) como fim em si mesmo: só se deve mudar quando é necessário mudar - Burke defendia a Revolução Americana – correspondeu a uma verdadeira necessidade de mudança - rejeição do “espírito de inovação”: o culto da mudança pela mudança 3. Oposição ao racionalismo puro (e, consequentemente, ao Iluminismo) - o tipo de raciocínio que melhor serve o homem não deriva da lógica pura, mas principalmente dos sentimentos, das emoções e da experiência: bom senso ou senso comum dá-lhe estabilidade ajuda quem hesita no momento de tomar decisões - tem um valor prático (não vem nos livros, resulta da experiência) – opõe-se ao caráter abstrato e às generalizações do saber que vem nos livros /alcançado racionalmente crítica ao utopismo e às teorias da reforma política: são ricos em princípios e em ideais mas pobres em sentido de oportunidade e no aspeto prático, no “saber como” - pode ser designado por “preconceito” e é comum a todos os membros de uma nação, não é privilégio de qualquer classe ou elite intelectual - a vontade de resistir resulta geralmente dos preconceitos lentamente implantados nas mentes de um povo: preconceitos sobre religião, propriedade, autonomia nacional e participação na vida social funcionam como forças motivadoras nas lutas dos povos pela liberdade (não como direitos abstratos, por exemplo, a igualdade) 4. Autoridade e poder - os valores fundamentais para os conservadores são a autoridade, a propriedade e a liberdade - a liberdade é a possibilidade de os homens viverem de acordo com os seus próprios costumes e tradições Burke: «A única liberdade a que me refiro é uma liberdade ligada à ordem; que não só coexiste com a ordem e a virtude mas também não pode existir sem elas.» necessidade de meios para reprimir as paixões dos homens, controlar a sua vontade e contrariar certas tendências oposição à escola dos direitos naturais – gerou indiferença perante a autoridade das tradições e dos códigos sociais - a liberdade exerce-se no âmbito do triangulo formado pela autoridade, pelo indivíduo e pelo Estado a autoridade do Estado exerce-se exclusivamente sobre tudo o que é público – paz, segurança, ordem e propriedade a autoridade do Estado não se aplica a problemas e necessidades da esfera privada - os poderes do governo diminuem à medida que se desce do Estado à província, da província à paróquia, da paróquia à casa particular: Burke defende políticas de descentralização e laissez-faire - o Estado deve evitar intrometer-se nos assuntos económicos, sociais e morais - o Estado deve fazer tudo o que é possível para fortalecer e alargar as funções das famílias, dos vizinhos e das associações cooperativas voluntárias - rejeição da democracia enquanto governo de massas – agregado que se caracteriza menos pelo número do que pela falta de estrutura social interna a importância atribuída à maioria e aos valores igualitários conduz à ditadura plebiscitária – totalitarismo a sociedade fica desprovida de todas as formas de autoridade que faziam dela uma organização social 5. Liberdade e igualdade - liberdade e igualdade são incompatíveis, pois são dois valores com objetivos contrários: a liberdade visa a proteção do indivíduo e da propriedade da família (material e imaterial) a igualdade visa a redistribuição ou nivelamento dos valores materiais e imateriais de uma dada comunidade o esforço para compensar as desigualdades inatas só pode prejudicar a liberdade dos indivíduos (principalmente os mais fortes e os mais inteligentes) e as dos grupos intermédios - «Aqueles que procuram nivelar nunca igualam» (Burke) - embora os conservadores defendam a igualdade perante a lei, pensam que por vezes ela destrói a tradição opõem-se aos programas de redistribuição, reconhecimento de direitos especiais e ação afirmativa – destroem a diversidade social e as hierarquias sociais