nível de satisfação com a imagem corporal e a aparência muscular

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RESUMO
NÍVEL DE SATISFAÇÃO COM A IMAGEM CORPORAL E A APARÊNCIA
MUSCULAR: UMA ANÁLISE DA POSSÍVEL PRESENÇA DO QUADRO DE
DISMORFIA MUSCULAR, EM SUJEITOS DO SEXO MASCULINO,
PRATICANTES DE MUSCULAÇÃO
LEVEL OF SATISFACTION WITH BODY IMAGE AND MUSCLE APPEARANCE:
AN ANALYSIS OF THE POSSIBLE PRESENCE OF MUSCLE DYSMORPHIA IN
MALE WEIGHTLIFITING SUBJECTS
*
Marcelo da Silva Villas Bôas
*†Valéria Aguiar Ferreira
*‡
Celso Souza
RESUMO
Objetivo: Analisar o nível de satisfação de praticantes de musculação do sexo masculino em
relação à imagem corporal e à aparência muscular, bem como detectar uma possível presença
do quadro de dismorfia muscular. A amostra foi composta por 50 sujeitos do sexo masculino,
com idade entre 18 e 43 anos, todos praticantes de musculação da Academia do Centro de
Excelência em Atividades Físicas (CEAF) da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Os
resultados mostraram que, em relação à aparência muscular a média geral da pontuação dos
sujeitos foi de 42,98 pontos, classificando-os como “satisfeitos a maioria das vezes com a
aparência muscular” e, em relação à imagem corporal a média da pontuação dos sujeitos foi
de 86,26 pontos, classificando-os como “satisfeitos às vezes sim, às vezes não com a imagem
corporal”. Porém, não é descartada a possível ocorrência da dismorfia muscular, pois alguns
sujeitos não se enquadraram em tais classificações.
Palavras-chave: Nível de satisfação Aparência muscular. Dismorfia muscular.
ABSTRACT
LEVEL OF SATISFACTION WITH BODY IMAGE AND MUSCLE APPEARANCE:
AN ANALYSIS OF THE POSSIBLE PRESENCE OF MUSCLE DYSMORPHIA IN
MALE WEIGHTLIFITING SUBJECTS
ABASTRACT
The objective of the present study was to analyze the level of satisfaction of male
weightlifters regarding their body image and muscle appearance, as well as detect the possible
presence of muscle dysmorphia. The study was characterized as descriptive, and described as
a field study. The sample was composed of 50 males, between 18 and 43 years of age, all of
whom lifted weights at the gym of the Center for Excellence in Physical Activity (CEAF) at
the State University of Maringá (UEM). The measurement tools used were the Muscle
Appearance Satisfaction Scale (MASS), adapted and validated in Brazil by Silva Junior,
*
†
‡
Professor Mestre do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá
Professora Graduada em Educação Física pela Universidade Estadual de Maringá
Professor Mestre Aposentado do Departamento Educação Física da Universidade Estadual de Maringá
2
Souza and Silva (2008), and the Body Image Satisfaction Evaluation Scale, adapted and
validated in Brazil by Ferreira e Leite (2002). The collected data were subjected to descriptive
statistics. The results showed that, regarding muscle appearance, the general average score of
the subjects was 42,98 points, which qualifies them as “satisfied most of the time with their
muscle appearance”. Regarding body image, the general average score of the subjects was
86,26 points, which qualifies them as “sometimes satisfied, sometimes dissatisfied with their
body image”. Nevertheless, the possible occurrence of muscle dysmorphia cannot be
discarded, as a few subjects did not fit into these classifications.
Keywords: Level of satisfaction. Body image. Muscle appearance. Muscle dysmorphia.
INTRODUÇÃO
A imagem corporal pode ser entendida como a figura que o homem tem de
seu próprio corpo, formada em sua mente (Schilder,1994). Para Thompson (1996, apud
SAIKALI et. al, 2004), esta conceituação envolve três componentes: o perceptivo,
relacionado à percepção da própria aparência física, onde são estimados o tamanho e o peso
corporal; o subjetivo, envolvendo aspectos como a satisfação com a aparência e o nível de
preocupação e ansiedade associada a ela; e o comportamental, referente às situações evitadas
pelo indivíduo devido ao desconforto causado pela aparência corporal.
As preocupações e transtornos relacionados às alterações de imagem corporal
pareciam mostrar-se quase que exclusivamente em indivíduos do sexo feminino, mas
atualmente tal quadro tem se manifestado, de forma diferenciada, também em indivíduos do
sexo masculino. Ao contrário das mulheres, que desejam tornarem-se cada vez mais magras,
estes indivíduos preocupam-se em se tornarem fortes e musculosos. Em ambos os sexos, tais
alterações na percepção da imagem corporal recebem influência, principalmente, da
imposição feita, pela sociedade e pela mídia, de um modelo de corpo ideal.
Rosenberg (2004) coloca que, com este bombardeio constante de imagens de corpos
musculosos e reluzentes, as pessoas têm criado uma falsa impressão de que esse é o padrão a
ser seguido para se adequar às exigências da sociedade atual. De acordo com a autora, existe
ainda, paralelamente a este movimento, uma conscientização para que a população cuide
melhor de seu corpo apenas com dietas saudáveis e exercícios físicos. Porém, como é
ressaltado, o problema é o exagero e a busca pela conquista imediata da perfeição física, não
havendo a preocupação com os métodos e os riscos envolvidos.
A insatisfação excessiva com a aparência passou a ser alvo de preocupações de vários
estudiosos, em particular por psiquiatras e psicólogos dos Estados Unidos, que ao estudarem
este problema, denominaram a obsessão masculina pelo corpo de “complexo de adônis”.
Inicialmente Pope, Phillips e Olivardia (2000) chamaram o distúrbio, que envolvia
3
especificamente a preocupação com a musculatura, de “anorexia nervosa reversa” ou
“bigorexia”, ou dismorfia muscular, este último mais utilizada.
A análise deste problema requer um estudo a respeito do “distúrbio ou transtorno
dismórfico corporal” (DDC/TDC). Este transtorno mental provoca a distorção da imagem
corporal por parte do paciente, ou seja, há uma percepção do próprio corpo que não
corresponde à realidade, podendo ter preocupações irracionais em relação a algum defeito de
seu corpo, como um nariz muito grande ou torto, olhos desalinhados e imperfeições na pele.
Muitas vezes estas distorções não são mais do que imaginárias, ou fruto de alterações leves na
aparência. As conseqüências podem afetar a vida não apenas no âmbito pessoal, mas também
no familiar, social e profissional (TORRES,FERRÃO E MIGUEL,2005).
Conforme estes autores, a categoria geral do DDC faz referência a todos os tipos de
graves preocupações sem fundamento com a imagem corporal. No caso da dismorfia
muscular, esta é a forma do DDC no qual a musculatura, opondo-se a algum outro aspecto do
corpo, torna-se o foco.
Assunção (2002), ressalta a categoria geral da DDC que faz referência a todos os tipos
de graves preocupações sem fundamento com a linguagem corporal. No caso da dismorfia
muscular, esta é a forma do DDC na qual a musculatura, opondo-se a algum outro aspecto do
corpo, torna-se o foco.
A dismorfia muscular ainda não está incluída como um diagnóstico específico no
DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), segundo Wikipédia
(2008). Nesse sentido, Pope, Phillips e Olivardia (2000) produziram e publicaram critérios
diagnósticos operacionais para a dismorfia muscular, utilizando o mesmo estilo do DSM-IV,
os quais serão abordados ao longo deste trabalho.
A partir das informações trazidas pelos autores citados, percebe-se que este transtorno
é um quadro pouco estudado e que vem atingindo principalmente em indivíduos do sexo
masculino. Em partes, pode ter sua gênese explicada por fatores ambientais, e uma crescente
pressão, exercida em grande parte pela mídia, para que os homens tenham um corpo forte e
musculoso, o que pode acarretar em um aumento do transtorno, este, que está associado ao
sofrimento e prejuízos em varias áreas do funcionamento do individuo. Sua presença pode,
ainda, aumentar o risco de uso de esteróides anabolizantes, drogas com conseqüências
potencialmente perigosas (ASSUNÇÃO, 2002).
Neste sentido, considerando que os praticantes de musculação são os que causam
maior preocupação, pois são os mais vulneráveis à utilização de medicamentos e drogas, além
de treinamentos exagerados para atingirem o corpo desejado, o objetivo deste estudo foi
4
verificar qual o nível de satisfação de praticantes de musculação do sexo masculino em
relação à imagem corporal e à aparência muscular, bem como, detectar uma possível presença
do quadro de dismorfia muscular.
MÉTODOS
A população foi composta por indivíduos do sexo masculino, todos praticantes de
musculação do Centro de Excelência em Atividades Físicas - Academia (Projeto CEAF Universidade Estadual de Maringá).
A amostra foi composta de 50 sujeitos do sexo masculino com idade entre 18 e 43
anos, todos freqüentadores assíduos, com tempo mínimo de 2 anos de prática na musculação e
que objetivam, através do treinamento, o aumento da massa muscular (hipertrofia).
A seleção da amostra se deu através de amostragem não-probabilística tipo intencional
de acordo com Barros e Lehfeld (2000).
Os instrumentos de medida deste estudo foram: a Escala de Satisfação com a
Aparência Muscular (MASS) adaptado e validado no Brasil por Silva Junior, Souza e Silva
(2008) e a Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal adaptado e validado no
Brasil por Ferreira e Leite (2002).
A Escala de Satisfação com a Aparência Muscular (MASS) constitui-se numa escala
de 19 itens, estes são afirmativas a respeito da aparência muscular onde o indivíduo indica o
grau em que cada uma se aplica a ele, em escalas de cinco pontos, variando de “não, nunca”
(1) a “sim, sempre” (5). Para a análise estatística os itens são distribuídos em 4 fatores:
Dependência em malhar, Checagem, Satisfação e Uso de substância.
Para a classificação do nível de satisfação dos sujeitos na Escala de Satisfação com a
Aparência Muscular (MASS) foi elaborado um quadro de pontuação, conforme um quadro de
pontuação, conforme o Quadro 1.
Quadro 1 – Distribuição dos fatores da Escala de Satisfação com a Aparência Muscular
PONTUAÇÃO
86
67
PONTUAÇÃO
95
85
48
66
29
47
NIVEL DE SATISFAÇÃO
Totalmente insatisfeito com a aparência muscular.
Insatisfeito a maioria das vezes com a aparência
muscular.
Satisfeitos às vezes sim, às vezes não com a aparência
muscular.
Satisfeito a maioria das vezes com a aparência
muscular.
5
19
28
Totalmente satisfeito com a aparência muscular.
A Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal é composta de 25 itens,
estes são afirmativas a respeito da aparência física onde o indivíduo indica o grau em que
cada uma se aplica a ele, em escalas de cinco pontos, variando de “discordo totalmente” (1) a
“concordo totalmente” (5). Para a análise estatística os itens são distribuídos em 2 fatores:
Satisfação/sentimentos sobre a aparência e Avaliação da aparência/preocupação com o peso.
Para a classificação do nível de satisfação dos sujeitos na Escala de Avaliação da
Satisfação com a Imagem Corporal foi elaborado um quadro de pontuação, conforme o
Quadro 2.
PONTUAÇÃO
PONTUAÇÃO
114
89
64
125
113
88
NIVEL DE SATISFAÇÃO
Totalmente satisfeito com a imagem corporal.
Satisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal.
Satisfeito às vezes sim, às vezes não com a imagem
corporal.
38
63
Insatisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal.
25
37
Totalmente insatisfeito com a imagem corporal.
Quadro 2 – Classificação do nível de satisfação com a imagem corporal
Anexados a estes instrumentos os participantes responderam os seguintes dados de
identificação: data de nascimento, tempo de prática na musculação, freqüência semanal de
treinamento e duração diária de treinamento.
Coleta de Dados
Inicialmente foi solicitada a autorização do local da pesquisa, para haver o contato
com os sujeitos. Foi entregue um projeto ao Comitê Permanente de Ética em Pesquisa
Envolvendo Seres Humanos (COPEP), que concedeu o parecer nº 409/2008 favorável à
execução da pesquisa (Anexo 2). A coleta de dados foi realizada pela própria acadêmica, na
Academia do Cento de Excelência em Atividades Físicas, da Universidade Estadual de
Maringá, em uma única etapa, no período de 01 a 19 de setembro de 2008, nos horários de
treinamento dos sujeitos selecionados, sendo de forma individual ou coletiva. Foi feita uma
explicação inicial a respeito dos objetivos da pesquisa, solicitando a colaboração, para então
distribuir o instrumento aos que concordaram voluntariamente em participar. Todos assinaram
o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido – TCLE, que forneceu informações sobre a
6
preservação, integridade e a garantia de sigilo de cada um, sendo que os mesmos tiveram total
liberdade de recusar ou retirar o consentimento em qualquer momento, sem qualquer
penalização ou constrangimento.
Tratamento dos Dados
Os dados levantados foram submetidos à estatística descritiva para posterior
apresentação de tabelas e quadros gerados pelos programas de computador Microsoft Office
Excel e SAS. De acordo com Tritschler (2003), por meio da estatística descritiva é possível
descrever ou resumir características de um conjunto de dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os dados de identificação dos sujeitos (idade, tempo de prática na musculação,
freqüência semanal e duração diária) e, posteriormente, em relação aos dados referentes à
Escala de Satisfação com a Aparência Muscular e à Escala de Avaliação com a Imagem
Corporal.
Dados de identificação dos sujeitos
Através dos dados obtidos observou-se que a média de idade dos sujeitos foi de 23,9
±6,07 anos. Em relação ao tempo de prática na musculação, a média obtida foi de 3,4 ±1,12
anos. Quanto à freqüência semanal que os sujeitos dispõem para a prática, notou-se que a
média foi de 4,3 ±0,7 dias. A respeito da duração diária da sessão de treinamento com pesos, a
média observada foi de 1 hora e 36 minutos.
Resultados referentes à Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal
Na Tabela 1 são apresentados os dados referentes à pontuação atingida pelos sujeitos
através das respostas dadas na Escala de Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal.
Tabela 1 – Dados dos sujeitos em relação à pontuação na Escala de Avaliação da Satisfação
com a Imagem Corporal
7
Média
Mediana
86,26 pontos
87,5 pontos
Desvio padrão
13,38 pontos
Através dos resultados observa-se que os sujeitos obtiveram média de 86,26 pontos,
com desvio padrão de 13,38. Portanto, são classificados como “satisfeitos às vezes sim às
vezes não com a imagem corporal”. A pontuação máxima atingida pelos sujeitos foi de 111
pontos e a mínima de 58, em uma escala que vai de 25 à 125 pontos, sendo que a máxima
classificou os sujeitos como “satisfeitos a maioria das vezes com a imagem corporal” e a
mínima como “insatisfeitos a maioria das vezes com a imagem corporal”.
Na Tabela 2 apresenta-se a distribuição dos sujeitos da amostra conforme o nível de
satisfação com a imagem corporal.
Tabela 2 – Distribuição dos sujeitos conforme o nível de satisfação com a imagem corporal
Nível de satisfação
Satisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal
Satisfeito às vezes sim, às vezes não com a imagem corporal
Freqüência
24
24
Percentuais
48%
48%
Insatisfeito a maioria das vezes com a imagem corporal
2
4%
Total
50
100%
Através da distribuição percebe-se que 24 sujeitos (48%) se mostram “satisfeitos a
maioria das vezes com a imagem corporal”, 24 sujeitos (48%) se sentem “satisfeitos às vezes
sim, às vezes não com a imagem corporal” e, 2 sujeitos (4%) responderam que estão
“insatisfeitos a maioria das vezes com a imagem corporal”.
Na Tabela 3 apresentam-se os resultados da pontuação dos sujeitos em relação aos 2
fatores nos quais são divididas as questões da Escala de Avaliação da Satisfação com a
Imagem Corporal.
De acordo com os resultados observa-se que no fator 1 (Satisfação/sentimentos sobre a
aparência) a média foi de 60,92 pontos, com desvio padrão de 11, 98, sendo o mínimo de 31
e o máximo de 47 pontos. No fator 2 (Avaliação/preocupação com o peso) a média
encontrada foi de 25,34 pontos, com desvio padrão de 3,98 sendo o mínimo de 15 e o máximo
de 34 pontos. Através destes valores, percebe-se que houve bastante diferença entre as
pontuações máximas e mínimas em todos os fatores, sendo que quanto menor a pontuação
mais insatisfeitos com a imagem corporal os sujeitos estão.
8
São apresentadas ainda, nas Tabelas seguintes, a distribuição das respostas dos sujeitos
em algumas questões importantes relacionadas a Escala de Avaliação da Satisfação com
Imagem Corporal.
Tabela 3 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à satisfação com a imagem
refletida no espelho x satisfação com o corpo
Questão 3 –
Gosto do que
vejo quando me
olho no espelho.
Questão 12 – Acho que eu tenho um corpo bom.
Não
concordo/nem
Concordo
discordo
Discordo
Total geral
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Concordo
Não concordo,
nem discordo
20
68,97%
1
11,11%
0
0%
21
42%
9
31,03%
8
88,89%
3
25%
20
40%
Discordo
0
0%
0
0%
9
75%
9
18%
Total geral
29
100%
9
100%
12
100%
50
100%
Os resultados apontam que 21 sujeitos (42%) gostam do que vêem quando se olham
no espelho, 20 sujeitos (40%) estão indecisos e 9 sujeitos (18%) não gostam do que vêem,
sendo que esses mesmos 9 sujeitos também não acham que têm um corpo bom. Dessa forma,
percebe-se que a insatisfação demonstrada acerca da imagem refletida no espelho tem relação
com a insatisfação em relação ao próprio corpo. Por se tratar de sujeitos que têm como
objetivo, através do treinamento muscular, a hipertrofia, supõe-se que estes sujeitos estão
insatisfeitos em relação à proporção muscular de seus corpos. Como já foi mencionado,
muitas vezes, tal insatisfação se configura em uma percepção distorcida da própria imagem,
onde o indivíduo não enxerga o que ele realmente é. Ayensa (2005) afirma que um dos
sintomas da dismorfia muscular é a incapacidade de ver objetivamente o próprio corpo,
mesmo tendo um corpo grande e musculoso, devido à insatisfação corporal. Porém, não se
pode afirmar que estes 9 sujeitos sofrem de dismorfia muscular, sendo apenas suposições.
Tabela 4 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à satisfação com a imagem
refletida no espelho x satisfação com o caimento das roupas
9
Questão 3 –
Gosto do que
vejo quando me
olho no espelho.
Questão 18 – Gosto da maneira que as roupas caem
em mim.
Não
concordo/nem
Concordo
discordo
Discordo
Total geral
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Concordo
Não concordo,
nem discordo
19
63,33%
2
22,22%
0
0%
21
42%
11
36,67%
7
77,78%
2
18,18%
20
40%
Discordo
0
0%
0
0%
9
81,82%
9
18%
Total geral
30
100%
9
100%
11
100%
50
100%
Para Rosenberg (2004) um dos comportamentos característicos do individuo que
possui a dismorfia muscular é vestir-se de maneira a parecer mais musculoso (várias camadas
de roupas), ou ao contrário, usar roupas que possam disfarçar partes do corpo que julga finas
(braços e /ou pernas). Portanto, pelo fato de não estarem satisfeitos com seus corpos,
consequentemente não se sentem felizes com a forma que as roupas vestem, e procuram
assim, adaptá-las a fim de camuflar as partes de seu corpo. A partir de tais considerações,
supõe-se que esses 9 sujeitos podem estar afetados pelo transtorno, porém não se pode
afirmar.
Tabela 5 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à satisfação com a imagem
refletida no espelho x desejo em mudar o peso
Questão 3 –
Gosto do que
vejo quando me
olho no espelho.
Questão 19 – Estou tentando mudar meu peso.
Não
concordo/nem
Concordo
discordo
Discordo
Total geral
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Concordo
Não concordo,
nem discordo
10
29,41%
4
80%
7
63,64%
21
42%
16
47,06%
1
20%
3
27,27%
20
40%
Discordo
8
23,53%
0
0%
1
9,09%
9
18%
Total geral
34
100%
5
100%
11
100%
50
100%
Dessa forma, alguns dos mesmos sujeitos que não gostam do que vêem quando se
olham no espelho e que apresentam os outros indicadores em relação à Satisfação com a
10
aparência, também estão tentando mudar seu peso. Supõe-se que, por se tratar de sujeitos que
objetivam a hipertrofia, como já foi mencionada, essa mudança de peso seria no sentido de
aumentar o peso em massa magra. Sobre isso, Arraias e Souza (2002) afirmam que um dos
sintomas do “vigoréxico” é ficar deprimido se perceber que perdeu peso ou centímetros nos
músculos. Portanto, existe a possibilidade desses sujeitos se sentirem dessa forma,
configurando assim o quadro de dismorfia muscular.
Tabela 6 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à satisfação com a imagem
refletida no espelho x realização de dieta
Questão 3 –
Gosto do que
vejo quando me
olho no espelho.
Questão 24 – Estou fazendo dieta atualmente.
Não
concordo/nem
Concordo
discordo
Discordo
Total geral
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Concordo
Não concordo,
nem discordo
0
0%
2
40%
19
46,34%
21
42%
1
25%
2
40%
17
41,46%
20
40%
Discordo
3
75%
1
20%
5
12,2%
9
18%
Total geral
4
100%
5
100%
41
100%
50
100%
A partir desses resultados percebe-se que, além desses sujeitos não estarem satisfeitos
com a imagem refletida no espelho e de apresentarem os indicadores anteriormente citados
acerca da Satisfação com a aparência e da preocupação com o peso, alguns deles concordam
que estão fazendo dieta atualmente. Como supostamente esses indivíduos estão tentando
aumentar o peso, consequentemente eles realizam dietas no sentido de contribuir para o
desenvolvimento muscular. Conforme Ayensa (2005), um dos sintomas do vigoréxico é o
excessivo controle da dieta. Silva (2005) também coloca que os indivíduos acometidos pelo
transtorno são praticantes de rigorosos regimes alimentares à base de suplementos
energéticos, que não os façam perder “massa magra” e que os impeçam de ganhar gordura.
Nesse sentido, pode haver a possibilidade de esses sujeitos estarem afetados pelo transtorno.
Tabela 7 – Distribuição das respostas dos sujeitos em relação à satisfação com a imagem
refletida no espelho x preocupação com o fato de estar gordo
11
Questão 3 –
Gosto do que
vejo quando me
olho no espelho.
Questão 23 – Estou sempre preocupado com o fato de
poder estar gordo.
Não
concordo/nem
Concordo
discordo
Discordo
Total geral
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Freq.
%
Concordo
Não concordo,
nem discordo
3
37,5%
1
50%
17
42,5%
21
42%
5
62,5%
1
50%
14
35%
20
40%
Discordo
0
0%
0
0%
9
22,5%
9
18%
Total geral
8
100%
2
100%
40
100%
50
100%
Sendo assim, nota-se que os mesmos sujeitos que não gostam da imagem da sua
imagem refletida no espelho e que apresentam os indicadores acerca da Satisfação com a
aparência e da preocupação com o peso anteriormente citado, também não estão preocupados
com o fato de estarem gordos. Partindo desses valores, observa-se que a preocupação desses
sujeitos realmente é de aumentarem o peso, e não diminuir. Sobre isso, Pope, Phillips e
Olivardia (2000), apresentam alguns critérios disgnósticos para a dismorfia muscular, onde
um deles é que o foco primário da preocupação do indivíduo concentra-se em ser muito
pequeno ou inadequadamente musculoso, distinguindo-se do medo de estar gordo como
ocorre na anorexia nervosa. Portanto, considerando o critério apresentado pelos autores, pode
ser que haja uma possível ocorrência do transtorno nestes sujeitos.
Ainda sobre a Avaliação da aparência/ preocupação com o peso, podemos observar na
abaixo, em detalhes, as respostas dos sujeitos da amostra.
Tabela 8 – Distribuição dos sujeitos em relação à preocupação com o peso.
Questão 23 – Fator 2: Estou sempre preocupado com o fato de
poder estar gordo.
Concorda
Não concordo, nem discordo
Discordo
Total geral
Questão 25 – Fator 2: Frequentemente tento perder peso
fazendo dietas drásticas e radicais.
Concorda
Não concordo, nem discordo
Discordo
Total geral
Freqüência
Percentual
8
2
40
50
Freqüência
16%
4%
80%
100%
Percentual
0
0
50
50
0%
0%
100%
100%
12
Em relação à preocupação com o fato de poder estar gordo, os dados obtidos mostram
que somente 8 sujeitos (16%) da amostra, a minoria, possuem tal preocupação, 2 sujeitos
(4%) estão indecisos e 40 sujeitos (80%), a maioria, discordam. Sobre a realização de dietas
drásticas e radicais para perder peso, todos os 50 sujeitos da amostra (100%) discordam da
afirmação. Dessa forma, observa-se que existe uma leve preocupação dos sujeitos da amostra
com o fato de estarem gordos, mas não a ponto de realizarem dietas radicais. E, como já foi
visto, a preocupação de grande parte dos sujeitos é em relação ao tamanho de seus músculos e
não com o fato de estarem acima do peso. Nota-se assim que estes sujeitos podem possuir
bem menos distorção de imagem corporal em relação ao sobrepeso, podendo ocorrer mais
distorções no sentido inverso, ou seja, a excessiva preocupação com o volume e a musculatura
do corpo, ainda que sejam fortes e musculosos. Nesse sentido, Silva (2007) confirma, dizendo
que homens tendem a apresentar muito menos distorções de imagem corporal, pois em um
estudo realizado acerca do tipo físico ideal, os resultados revelaram que 70% deles
encontravam-se insatisfeitos com seu corpo e tinham o desejo explícito de serem mais fortes,
ou seja, mais musculosos. Já as mulheres, em um outro estudo, percebiam-se com um excesso
de peso inexistente e entre os homens, apenas 2% apresentavam esse sintoma.
CONCLUSÃO
Os resultados obtidos neste estudo mostraram que, em relação ao nível de satisfação
com a aparência muscular, a média geral da pontuação dos sujeitos foi de 42,98,
classificando-os como “satisfeitos a maioria das vezes com a aparência muscular”. Já em
relação ao nível de satisfação com a imagem corporal, a média geral da pontuação dos
sujeitos foi de 86,26, classificando-os como “satisfeitos às vezes sim, às vezes não com a
imagem corporal. Porém, não é descartada a possível ocorrência da dismorfia muscular, uma
vez que 6 sujeitos (12%) são classificados como “insatisfeitos a maioria das vezes com a
aparência muscular” e 2 sujeitos (4%) são classificados como “insatisfeitos a maioria das
vezes com a imagem corporal”.
Dentre as principais comparações feitas entre as questões da Escala de Satisfação com
a Aparência Muscular (MASS), pode-se dizer que existe a possibilidade de 13 sujeitos dos 50
sujeitos da amostra apresentarem a dismorfia muscular, uma vez que eles podem ter um
agrupamento de indicadores. Isso porque 18 sujeitos (36%) demonstraram insatisfação com o
tamanho de seus músculos, sendo que destes, 13 sujeitos apresentaram indicadores a respeito
da Dependência em malhar, 9 sujeitos apresentaram indicadores a respeito da Checagem
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freqüente de seus músculos e 8 sujeitos apresentaram indicadores a respeito do Uso de
substâncias. E, como foi analisado, o transtorno se desenvolve a partir de uma combinação de
sintomas, o que foi detectado nesses sujeitos.
Em se tratando das principais comparações feitas entre as questões da Escala de
Avaliação da Satisfação com a Imagem Corporal, nota-se também a existência de uma
possível ocorrência da dismorfia muscular em 9 sujeitos dos 50 sujeitos da amostra. Isso
porque 9 sujeitos (18%) não gostam da própria imagem refletida no espelho, sendo que
destes, os mesmos 9 sujeitos também apresentam sentimentos negativos em relação ao seu
corpo e 8 apresentam preocupações com o seu peso, onde alguns até realizam dietas,
provavelmente para o desenvolvimento muscular.
Sobre as possíveis estratégias de tratamento para o transtorno, constatou-se que ainda
não existe nenhuma opção atualmente sistematizada para a dismorfia muscular, pois esta é
uma patologia recente e não foram publicadas pesquisas científicas, de nosso conhecimento,
sobre esse assunto. Contudo, algumas propostas de tratamento têm como base métodos
utilizados em quadros semelhantes, como o transtorno dismórfico corporal ou os transtornos
alimentares, sendo elas a terapia comportamental cognitiva (TCC) e o tratamento
farmacológico (antidepressivos). Nesse contexto, o profissional de Educação Física assume
função importante, devendo buscar conhecimento sobre esse problema que tem atingido
muitos praticantes de musculação, para assim identificar possíveis sintomas e auxiliar no
encaminhamento ao tratamento adequado.
A respeito dos benefícios da musculação, modalidade praticada pelos sujeitos da
amostra, pode-se concluir, através da literatura analisada, que os exercícios com pesos
proporcionam inúmeros benefícios aos indivíduos, que vão desde os aspectos físicos
(prevenção e tratamento de lesões, aumento da força e resistência musculares, aumento da
flexibilidade, diminuição do percentual de gordura, etc.) até os aspectos mentais (melhora do
bem-estar psicológico). Acerca dos riscos envolvidos na prática de tal modalidade, percebe-se
que estes são considerados relativamente baixos e podem ser evitados se houver a orientação
profissional apropriada, caso contrário, geralmente fazem referência à ocorrência de lesões
por falta de manutenção nos aparelhos, execução incorreta dos exercícios ou sobrecarga
excessiva. Percebe-se ainda que, os praticantes de musculação estão cada vez mais envolvidos
com a utilização de substâncias, consumindo, de forma indiscriminada, desde suplementos
alimentares até esteróides anabolizantes, tudo isso pela obsessão por resultados rápidos e sem
a preocupação dos riscos aos quais estão expostos.
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A partir de tais resultados foi possível verificar o nível de satisfação com a aparência
muscular e com a imagem corporal de praticantes de musculação do sexo masculino, sendo
ainda detectada uma possível presença do quadro de dismorfia muscular e as estratégias de
tratamento atualmente disponíveis para o transtorno. Portanto, o estudo alcançou os objetivos
aos quais se propôs. Entretanto, nota-se que o assunto estudado merece mais atenção pela
comunidade científica do nosso país, principalmente na área da Educação Física, pois este
parece ser um problema que tende a crescer entre os freqüentadores de academias, afetando
significativamente a saúde física e mental destes indivíduos.
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Endereço do autor:
Marcelo da Silva Villas Boas
Universidade Estadual de Maringá
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Campus Universitário- Fone (44) 32611345
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