100371_Regina - riuni

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA
REGINA LÚCIA CASTIGLIONI GUIDONI
TENTATIVA DE SUICÍDIO E A INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA
Palhoça - SC
2009
1
REGINA LÚCIA CASTIGLIONI GUIDONI
TENTATIVA DE SUICÍDIO E A INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA
Projeto de Pesquisa apresentado à Disciplina do
Núcleo da Saúde, na modalidade de Trabalho de
Conclusão de Curso II, e utilizado como requisito
parcial para obtenção do Título de Psicólogo.
Este Projeto de Pesquisa está vinculado à
Disciplina de Estágio Curricular, que está sendo
realizada dentro de um Posto de Saúde.
Orientadora: Profª. Zuleica Pretto, Msc.
Palhoça
2009
2
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – CRONOGRAMA ....................................................................................33
TABELA 2 – PERFIL DAS ENTREVISTADAS .........................................................34
TABELA 3 – VÍNCULO/ACOLHIMENTO .................................................................39
TABELA 4 – ENCAMINHAMENTO ...........................................................................41
TABELA 5 – PROCESSO TERAPÊUTICO .................................................................44
TABELA 6 – PERCEPÇÃO DO RISCO .......................................................................47
TABELA 7 – INTERDISCIPLINARIDADE ................................................................51
TABELA 8 – PREVENÇÃO AO RISCO ......................................................................53
TABELA 9 – REALIDADE ACADÊMICA .................................................................59
TABELA 10 – DOR E SOFRIMENTO PSÍQUICO .....................................................61
3
SIGLAS
SUS - Sistema Único de Saúde
UBS - Unidade Básica de Saúde
OMS - Organização Mundial de Saúde
MS - Ministério da saúde.
PHAS - Política de Humanização da Assistência a Saúde.
CVV - Centro de Valorização da Vida
ONU - Organização das Nações Unidas
ABS - Atenção Básica de Saúde.
PSF - Programa da Saúde da Família
CAPS - Centro de Atenção Psicossocial.
UNISUL - Universidade d sul de Santa Catarina.
MELANCIA - Entrevistada 1
UVA - Entrevistada 2
PERA - Entrevistada 3
JABUTICABA - Entrevistada 4
4
SUMÁRIO
1.
INTRODUÇÃO ...........................................................................................10
1.1 TEMA ..............................................................................................................10
1.2 PROBLEMÁTICA ............................................................................................10
1.3 OBJETIVOS ....................................................................................................14
1.3.1 OBJETIVO GERAL ......................................................................................14
1.3.2 OBJETIVOS ESPECIFICOS ........................................................................14
1.4 JUSTIFICATIVA .............................................................................................14
2.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA .................................................................19
2.1 DEFININDO A TENTATIVA DE SUICÍDIO .....................................................19
2.2 TENTATIVA DE SUICIDIO E DINÂMICAS DE COMPREENSÃO ................20
2.3 INTERVENÇÃO DA PSICOLOGIA E A UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE ........23
3.
MÉTODO ...................................................................................................28
3.1 CARACTERIZAÇAO DA PESQUISA .............................................................28
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DA PESQUISA ..................................................28
3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS .................................................29
3.4 DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS ...........29
3.5 PROCEDIMENTO DE ANÁLISE DE DADOS ................................................32
4.
CRONOGRAMA ........................................................................................33
5.
ANÁLISE DE DADOS ................................................................................34
5.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS ....................................................................34
5.2 SÍNTESE DAS ENTREVISTAS .......................................................................35
5.2.1 SÍNTESE DA ENTREVISTA DE MELANCIA ...............................................35
5.2.2 SÍNTESE DA ENTREVISTA DE UVA ..........................................................35
5.2.3 SÍNTESE DA ENTREVISTA DE PÊRA ........................................................36
5.2.4 SÍNTESE DA ENTREVISTA DE JABUTICBA ..............................................37
5.3 CATEGORIZAÇÃO DAS PROFISSIONAIS ....................................................38
5.3.1 – PERGUNTA 1 – Você já atendeu casos de tentativa de suicídio? Como foi
seu procedimento na ocasião? ..............................................................................38
5.3.2 – PERGUNTA 2 – Como você percebe o risco de tentativa de suicídio, em
um paciente em atendimento? ..............................................................................46
5
5.3.3 – PERGUNTA 3 – Existe alguma rotina interdisciplinar nas UBS em prol da
prevenção ao risco de tentativas de suicídio? Se a resposta for afirmativa, como é
essa campanha? ....................................................................................................51
5.3.4 – PERGUNTA 4 – Caso não exista nenhuma rotina preventiva ao riso de
tentativa de suicídio, como você percebe a melhor maneira de prevenir esse tipo
de risco? ................................................................................................................52
5.3.5 – PERGUNTA 5 – Como você percebe que esta temática poderia ser
trabalhada nas disciplinas do Curso de Psicologia? ..............................................58
5.3.6 – PERGUNTA 6 – Gostaria de tecer algum comentário de como se deve
atender um paciente com risco de tentativa de suicídio? ......................................61
6.
CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................63
REFERENCIAS .........................................................................................66
APÊNDICE ................................................................................................69
ANEXO ......................................................................................................72
6
AGRADECIMENTOS
A Professora Zuleica Pretto pela sua capacidade de orientar e mediar condições
favoráveis para a construção de um conhecimento, sem impor verdades prontas.
Obrigada pelo seu carinho e por ser paciente, justa e humana.
Ao Psicólogo Neomar que vem há um ano se dedicando ao acompanhamento
desse estudo, onde esteve bastante presente, incentivando e compartilhando com
dicas preciosas por acreditar no valor desse estudo. Muito obrigada.
A Professora Maria do Rosário Stotz é com um profundo carinho que esperei esse
momento para lhe dizer - Você foi muito importante para mim – ajudou-me nos
momentos de indecisões. Minha gratidão sempre.
A Psicóloga Luiza Gutz por ter aceitado o convite em participar da Banca.
Obrigada pela colaboração, atenção e carinho.
A Professora Ana Lopes, cujos generosos esforços no conhecimento permitiram
me chegar até aqui.
A Professora Ana Maria Luz agradeço pelo seu carinho e compreensão profunda
do ser.
Ao Professor Paulo Sandrin, obrigada pelo seu apoio e a todos os professores e
funcionários da UNISUL, muito grata.
Minha permanente gratidão às psicólogas da UBS pelas entrevistas, a Prefeitura
de Palhoça que disponibilizou locais para realização dessas entrevistas. Aos
profissionais da área de saúde da UBS do Bairro Bela Vista, pelas partilhas no
período de estágio.
Em especial ao colega Lusinardo pela sua parceria na elaboração dos trabalhos
acadêmicos. Obrigada pelo seu carinho e suas palavras de conforto, e também
pelas caronas, que muitas vezes, eu me atrasava, e me esperava pacientemente.
7
Aos meus colegas Rafael e Eliana pela troca de experiência, pela transformação
de idéias em ação, o que possibilitou juntos um crescimento.
Aos colegas Geraldo, Valdir, Ranuzia, Rosália, Rita e Jucimara que durante o
curso partilhamos conhecimentos e amizades,
Aos meus pais, amor sem medidas, Izaltina e Waldir, que hoje estão com 90 anos
de idade, deram-me a liberdade de escolhas.
Aos meus 9 irmãos pela
cumplicidade. Em especial à Izaldir pela sua forma carinhosa de ser, e Dra. Fátima
pela nossa parceria de em compartilhar assuntos pessoais e
profissionais. A
minha cunhada Inês, pelo seu doce carinho. A minha tia Maria José Castiglioni,
poetiza, mulher sábia, companheira valorosa de minha caminhada. Agradeço por
muito me ensinar e amar.
Ao meu querido e amado esposo Antonio, que
se dispôs com amor e com
carinho, o patrocínio de livros e fotocópias de artigos que foram importantes para
essa pesquisa. Aos meus filhos Carlos, Brunella e Lucas, tesouros que Deus me
confiou, agradeço pelo socorro nas instruções do computador.
Obrigada por terem me acompanhado nesta Jornada.
Em memória de minha inesquecível avó Pierina, pelo seu jeito genuíno de ser,
pelo seu exemplo de que a cada dia celebrava o grande presente – a vida. Ainda
que morreu aos 100 anos de idade, o meu amor e minha profunda saudade.
Aos meus amigos, principalmente Eloísa, Fábio, liberta, Kátia, Ana, Sid, Vera,
Ox, Jane e Max pela compreensão, que pelo acúmulo de atividades acadêmicas,
muitas vezes, não pude estar presente para compartilhar a nossa amizade.
Meus agradecimentos a todos os outros, aqui e ali que tornaram esta pesquisa
possível.
8
“A questão não é saber se somos pró ou contra o suicídio,
mas, o que significa ele na psiquê.”
James Hillman
9
GUIDONI, Regina Lúcia Castiglioni. Tentativa de Suicídio e a Intervenção da Psicologia.
Trabalho de Conclusão de Curso – TCC (Curso de Psicologia – Graduação). Universidade
do Sul de Santa Catarina, Palhoça, 2009.
RESUMO
Esta pesquisa refere-se a intervenção da Psicologia nos atendimentos de caso de tentativa
de suicídio, para de evitar novas tentativas, assim como o risco de suicídio. O objetivo geral
desse estudo é caracterizar a intervenção do psicólogo frente a casos de tentativa de suicídio
atendidos nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Município de Palhoça. Para tal,
utilizou-se, dos objetivos específicos, os quais se resumiram em identificar entendimentos
teóricos e procedimentos de intervenção de psicólogos, quais as facilidades e dificuldades
encontradas e propostas de ações preventivas frente ao fenômeno “tentativa de suicídio”.
Esta pesquisa é classificada como exploratória com característica qualitativa, que procurou
identificar fundamentos teóricos para uma prática. Foi utilizada como instrumento de coleta
de dados a entrevista semi-estruturada, e para a avaliação dos dados a análise de conteúdo.
As análises realizadas permitiram concluir que as psicólogas entrevistadas realizam um
trabalho numa perspectiva individual, familiar e psiquiátrica além de estarem cientes que
necessitam melhorar os atendimentos para um trabalho com ações integradas entre
profissionais da saúde e comunidade. Nesse sentido, foi identificada a necessidade em
formar equipe da saúde especializada com a questão da interdisciplinaridade; o trabalho de
grupo tanto com os profissionais como na própria comunidade. Sendo assim, verificou-se
que as entrevistadas almejam potencializar a postura individual para um trabalho coletivo
com treinamento e capacitação junto a todos os profissionais da saúde. Percebe-se que, na
literatura estudada e nos relatos das psicólogas entrevistadas, que treinamento e capacitação
profissional é fundamental para um trabalho de prevenção de novas tentativas ou o risco
de suicídio.
Palavras Chaves: Psicologia – tentativa de suicídio – intervenção – prevenção – saúde
10
1. INTRODUÇÃO
O campo desta pesquisa está relacionado à disciplina Trabalho de
Conclusão de Curso II (TCC-II), do Curso de Psicologia da UNISUL –
Universidade do Sul de Santa Catarina. A pesquisa é relacionada à disciplina do
Núcleo Orientado em Psicologia e Saúde, concomitantemente com o Estágio
Curricular realizado na Unidade Básica de Saúde (UBS), no Bairro Bela Vista, no
Município de Palhoça/SC.
Este trabalho de pesquisa tem como tema central abordar a intervenção
da Psicologia em Unidades Básicas de Saúde, nos atendimentos de casos de
tentativas de suicídio. O que motivou a escolha pessoal desse tema foi a
preocupação com a saúde mental dos sujeitos que tentam tirar suas próprias vidas
e, ao mesmo tempo, por acreditar na prevenção deste tipo de comportamento.
Através de estudos bibliográficos, constata-se que nos ambientes de
atendimentos à saúde pública, em especial nas Unidades Básicas de Saúde, as
ocorrências de tentativas de suicídios são freqüentes nas rotinas dos profissionais.
Percebe-se, também, uma carência na literatura que venha descrever a
intervenção do psicólogo neste tipo de problemática. É por meio da realização
desta pesquisa, que se pretende identificar como ocorre o processo de
intervenção da psicologia nos casos de tentativas de suicídio na direção da
prevenção de novas tentativas.
1.1 TEMA
O tema desta pesquisa envolve a intervenção do psicólogo nos casos
de histórico de tentativa de suicídio e prevenção de novas tentativas.
1.2 PROBLEMÁTICA
A questão do suicídio esteve presente durante o processo histórico da
humanidade, desde as primeiras civilizações até a atualidade. De acordo com
Alvarez (ALVAREZ apud PALHARES e BAHIS, 2003), o termo suicídio surgiu no
século XVII, passando a ser utilizado a partir de 1734, no auge do iluminismo.
11
Antes desse período, o suicídio era denominado assassinato, homicídio,
destruição e morte voluntária, morte de si ou ato contra si. Segundo Palhares e
Bahis (2003), desde as primeiras civilizações, há influências culturais sobre o
suicídio. No decorrer da história, teve vários conceitos, funções e significados,
como por exemplo, nas sociedades primitivas cometer suicídio era uma honra e
ganho do paraíso.
Em 1846, Marx, no seu exílio em Bruxelas, publica o artigo sobre o
suicídio, em que se baseia numa análise, a partir dos casos de suicídio relatados
por Jacques Peuchet. Nesse estudo, refere que as causas não são únicas, como
psicológicas ou sociais, e sim, correspondem aos males produzidos por uma
sociedade. O ato ou a tentativa de suicídio se apresenta como sintoma dessa
sociedade considerada doente. Marx (2006), ao mencionar sociedade doente,
refere-se às injustiças sociais marcadas por opressão com baixos salários,
desemprego, miséria e o caráter ético. Comenta que para evitar o ato ou tentativa
de suicídio será necessária uma transformação radical do econômico e do social
de uma sociedade marcada pelas desigualdades (MARX, 2006).
As pessoas agem entre si como estranhas, numa relação de hostilidade,
lutas, e competições impiedosas, de guerra de todos contra todos,
somente resta ao individuo ser vitima ou carrasco de si mesmo. Eis,
portanto, o contexto social que explica o desespero e o suicídio (MARX,
2006, p. 16).
Percebe-se que o suicídio é um fenômeno na história da humanidade, tornando
um problema de saúde mental que perpassa de geração a geração. Conforme
Clark (2007), após a morte por suicídio de um ente querido, surgem nos familiares
e amigos sentimentos de culpa, além do desespero e angústia mental. Para os
familiares, pode ser uma tarefa longa e árdua o ajuste à vida, sem a pessoa que
morreu. Sobre as causa, não se sabe exatamente o porquê do suicídio, há
evidencias de fatores físicos, químicos além dos sociais e pessoais. Na maioria
dos países, o suicídio é uma das principais causas de morte, a cada ano, quase
um milhão de pessoas se matam em diferentes lugares do mundo, havendo
aproximadamente 6 familiares e amigos próximos em luto intenso. Isso significa
que a cada ano, 6 milhões de pessoas sofrem em decorrência da morte por
12
suicídio. Conforme a autora a morte por suicídio é maior entre os homens, embora
as tentativas de suicídio são mais freqüentes em mulheres. Ainda essa autora
considera o suicídio uma das maiores tragédias da humanidade e que as medidas
de prevenção, atualmente, das políticas públicas é um processo muito lento.
Cassorla (1991) relata que as pessoas que tentaram suicídio, muitas
vezes são tratadas inadequadamente por equipes de saúde despreparadas.
Para o autor, não é uma questão de desumanidade, é uma resposta assustada
frente a
um ato agressivo. Pelo fato dos profissionais de saúde serem
capacitados para salvar vidas, sentem-se muitas vezes incoformados quando
alguém tenta tirar sua própria vida. Para uma atuação adequada, o autor alerta
que é necessária uma compreensão da tortura interna do paciente para evitar uma
devolução de intervenção inadequada.
Diante da percepção e contextualização sobre o tema suicídio, dados do
Ministério da Saúde informa que o Brasil é o primeiro país da América Latina a
descortinar esse assunto. Isso vem sugerindo ações voltadas para prevenção e
cuidados da saúde às pessoas próximas daqueles que cometeram suicídio. A
OMS reconhece o suicídio como um problema de saúde pública desde a década
de 90. No Brasil, somente a partir de dezembro de 2005 é que foi assumida esta
questão como saúde publica, com a elaboração de políticas nacionais de
prevenção ao suicídio. (BOTEGA, 2007)
Para se ter noção do fenômeno suicídio, segundo a reportagem: “Brasil
Encara Suicídio como um problema de Saúde Publica” (Badauê online, 2006) o
Brasil faz parte do grupo de países com maiores taxas de índice de suicídio no
mundo, deixando familiares e amigos de quem o cometeu, precisando de atenção
à sua saúde.
Almeida (2006) descreve que uma das diretrizes das políticas
nacionais é investir em cuidados integrados, terapia, promoção da saúde e
prevenção de danos; e outra seria sensibilizar e mostrar à sociedade que o
suicídio é um problema de saúde e que pode ser prevenido. Quanto aos cuidados
de prevenção Tavares (2006), diz ser importante voltar-se para população jovem,
pelo fato de dados de pesquisas revelarem aumento de taxas de morte nessa
população.
Botega (2007) informa segundo dados da OMS (2003), que o número
de tentativas de suicídio ocorrem com freqüência ocasionando grande impacto e
13
sofrimento para o sujeito, família, amigos, profissionais da saúde e sociedade. O
autor cita, que os principais objetivos a serem alcançados conforme diretrizes do
Plano Nacional de Prevenção ao Suicídio de agosto de 2006 referem-se à
promoção da saúde, prevenção de danos, execução de projetos. Relata também a
importância de capacitar os profissionais da saúde quanto a prevenção do risco
de suicídio, principalmente da Atenção Básica pelo maior acesso dos profissionais
à comunidade.
Nas UBS, há vários problemas de saúde com demandas psicológicas,
como também casos de tentativas de suicídio. O atendimento nas UBS se baseia
nos princípios do SUS, Universalidade, Integralidade e Equidade. Conforme
Oliveira e colaboradores (2004) nas UBS, a psicoterapia continua sendo a
principal referência para o psicólogo. Os autores comentam da importância da
psicoterapia nas UBS, desde que o profissional promova também ações coletivas,
integradas para uma intervenção da psicologia que ultrapasse a reprodução do
modelo clínico médico.
Faz-se necessário e importante problematizar sobre as tentativas de
suicídio e a intervenção da psicologia no contexto das UBS. Para tal, esta
Pesquisa pretende refletir e questionar sobre alguns pontos envolvidos no
assunto. Primeiramente, em relação aos profissionais e o Ministério da Saúde,
sendo que esse sugere ações voltadas para prevenção do suicídio, e os
profissionais da saúde tomam conhecimento em rever e estudar o plano? O plano
é prioridade como um seguimento frente a um assunto tão complexo que requer
capacitação? Percebe-se a segunda questão, que há ocorrências de casos de
tentativas de suicídio nos serviços públicos, incluindo nelas as UBS e, associada a
isso, um reconhecido despreparo de equipes de saúde para lidar com essa
problemática, seja por questões técnicas, condições de trabalho, preconceito,
tabus ou estigma social. O que pode ser feito, então?
Ao considerar a tentativa de suicídio como um problema de saúde
pública, já conhecida pela OMS desde 1990, que requer ações preventivas e de
promoção da saúde, pergunta-se: como ocorrem as intervenções realizadas pelos
psicólogos nos atendimentos de casos de tentativas de suicídio em uma Unidade
Básica de Saúde (UBS) no Município de Palhoça?
14
1.3 OBJETIVOS
1.3.1 OBJETIVO GERAL
Caracterizar a intervenção do psicólogo frente a casos de tentativas de
suicídio, atendidos na UBS de Palhoça.
1.3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Identificar entendimentos teóricos e procedimentos de intervenção de
psicólogos, utilizados nos atendimentos de casos de tentativas de suicídio
nas UBS de Palhoça;
Identificar quais facilidades e dificuldades encontradas por psicólogos nos
atendimentos de tentativas de suicídio na UBS de Palhoça;
Identificar procedimento do psicólogo em relação a ações preventivas frente
ao fenômeno do suicídio
1.4 JUSTIFICATIVA
O que motivou a escolha desse tema – tentativa de suicídio e a
intervenção da psicologia foi à preocupação com a saúde mental das pessoas
que tentam tirar suas próprias vidas e, ao mesmo tempo, por acreditar que esse
comportamento pode ser evitado por meio de práticas psicológicas.
Segundo Cais e colaboradores (2006), o manual “Prevenção ao
Suicídio”, dirigido aos profissionais da saúde mental, dá destaque para vários
pontos sobre a questão do suicídio no Brasil e no mundo. Informa que o número
de mortes por suicídio, em termos globais, para o ano de 2003 girou em torno de
900 mil pessoas. Que na faixa etária entre 15 e 35 anos, o suicídio está entre as
três maiores causas de morte; nos últimos 45 anos, a mortalidade global por
suicídio vem migrando em participação percentual do grupo dos mais idosos para
15
o de indivíduos mais jovens (15 a 45 anos); em individuo entre 15 e 44 anos, o
suicídio é a sexta causa de incapacitação; para cada suicídio há em média 5 ou 6
pessoas próximas ao falecido que sofrem conseqüências emocionais e sociais;
1,4% do ônus global ocasionado por doenças no ano de 2002 foi devido as
tentativas de suicídio, e estima-se que chegará a 2,4% em 2020.
O Manual
Informa ainda que, no ano de 2004, o Rio Grande do Sul ocupou o primeiro lugar,
com maiores taxas de suicídio do Brasil, seguido dos estados do Mato Grosso do
Sul e de Santa Catarina, que figurou como terceiro colocado.
Conforme Fontenelle (2008), dados globais sobre o suicídio são
monitorados anualmente pela OMS desde sua criação, em 1948. Em 1950,
contava-se apenas com vinte e um países, acrescidos em 2007 para 101. O Brasil
vem monitorando há décadas. Percebe-se que o assunto tem despertado uma
atenção, mas que há necessidade de treinamento e capacitação dos profissionais
da saúde em relação a prevenção do risco.
A gente vê iniciativas muito interessantes em vários cantos do mundo.
Aqui, a informação existe e profissionais interessados em prevenção do
suicídio no Brasil também existem. O que nós estamos realmente
precisando é um aumento de pressão em cima das autoridades
sanitárias para que o programa de prevenção seja retomado com
seriedade (BOTEGA, apud FONTANELLE, 2008, p. 201).
Fontanelle (2008) cita que uma iniciativa, que merece reconhecimento
no país, é o trabalho do Centro de Valorização da Vida (CVV), com 57 unidades,
inaugurada na cidade de São Paulo em 1962. Um trabalho que é desenvolvido,
por meio de ligações telefônicas na prevenção do suicídio. Estima-se que 2.376
pessoas no ano de 2007, mantiveram um voluntariado em atendimento àqueles
que necessitaram de apoio emocional, sendo recebidas um total de 1.120.226
ligações.
Conforme Kaplan (1997), pesquisas realizadas por dois estudos norteamericanos não conseguiram demonstrar que os centros comunitários de
prevenção ao suicídio tragam resultados efetivos sobre a diminuição das taxas de
suicídio. Apenas servem de recursos para diminuir as aflições, que há um
reconhecimento, mas no sentido de diminuir sofrimentos de uma crise aguda nos
processos de tentativas de suicídio.
16
Pesquisas no mundo têm demonstrado que 40% dos suicidas, semanas
antes de tentarem tirar suas vidas procuram pelos serviços de saúde, sem
especificar, claramente, o que estão sentindo, o que exige dos profissionais da
saúde preparo adequado em identificar o risco desse ato. Para essa identificação,
torna-se necessário que o profissional da saúde estabeleça uma relação empática
de escuta e observação do comportamento. O tabu e a pouca discussão sobre o
fenômeno suicídio dificulta avanços na intervenção em relação as práticas dos
profissionais da saúde (OLIVEIRA, 2006).
Nordstrom (2006) relata que, muitas vezes, a vontade de morrer é por
conseqüência de como as pessoas recebem a notícia de um diagnóstico e formas
inadequadas de tratamentos nos casos dos transtornos mentais. Nesse sentido a
OMS faz uma alerta para que as avaliações nestes casos sejam feitas com mais
atenção para não aumentar sofrimentos e também como medida de prevenção ao
risco de suicídio. O autor relata, ainda, que através de dados da ONU, 90% dos
casos de suicídio estão associados a transtornos, sendo que a maioria das
pessoas com problemas de saúde mental não faz tratamento adequado.
Estando atrelada a área da saúde, estudos indicam que as tentativas de
suicídio expressam um sofrimento psíquico que requer cuidados adequados por
parte dos profissionais da saúde. Sobre esses cuidados, em relação à psicologia
foram encontrados na literatura vários conteúdos que se referem à importância de
se realizar um tratamento, mas com redução de publicações sobre práticas
psicológicas. No entanto, há de se destacar três artigos. Dois de autoria das
psicólogas Macedo e Werlang (2007). Um de pesquisa e o outro de intervenção,
cujos títulos são respectivamente: “Tentativa de suicídio: O Traumático Via Ato
Dor” e “Trauma, Dor e Ato: O Olhar da Psicanálise Sobre Uma Tentativa de
Suicídio”.
E um terceiro artigo de Estellita-Lins et all (2006), sobre o
“acompanhamento terapêutico e intervenção sobre a depressão e suicídio.”
O primeiro artigo se refere a uma pesquisa realizada com cinco sujeitos
que tentaram suicídio, onde os dados foram analisados por meio do método de
Analise interpretativa com base na Teoria Psicanalítica. As autoras concluíram,
por meio deste estudo, que o trauma apresenta influência para o acometimento da
tentativa de suicídio, bem como, evidenciaram a importância da utilização das
17
técnicas de acolhimento e escuta nos atendimentos de casos de tentativa de
suicídio.
O segundo artigo refere-se ao acompanhamento terapêutico de um
caso, cuja pessoa cometeu tentativa de suicídio, e teve como intervenção a
psicanálise. Essa intervenção abordou a compreensão existente entre trauma, dor
psíquica, ato e a relação com a tentativa de suicídio do referido caso. Nesse
sentido, as autoras consideraram a escuta analítica como ajuda para o
desenvolvimento da potencialidade simbólica do caso, que precisou ser escutado
e historizado, uma vez que a história de vida do sujeito desse caso foi permeada
por vivências traumáticas. A conclusão desse processo terapêutico, segundo o
artigo, apresenta no discurso do paciente (entrevistado), um real significado no
atendimento. No entanto, o entrevistado não garante em termos de futuro que
tentativas de suicídio estejam extintas. Mas ao mesmo tempo, esboça uma
esperança no espaço terapêutico, que essa intervenção lhe fez bem, fez pensar o
que estava acontecendo em sua vida.
O terceiro artigo aborda a atuação do acompanhamento terapêutico
(AT) em casos de depressão e suicídio. O objetivo desse acompanhamento é
contribuir com os cuidados na saúde mental no intuito de modificar uma vida
paralisada. Esse estudo apresenta um protocolo de intervenção visando a
prevenção e promoção junto ao sujeito que passa por um sofrimento psíquico e
transtornos
mentais.
Esse protocolo envolve a psicoterapia, farmacoterapia,
hospitalização, além das medidas psicopedagogicas.
Observa-se que foram apresentados dois artigos com conteúdos
referentes à teoria psicanalítica em casos de tentativa de suicídio, e um artigo que
se refere ao acompanhamento terapêutico (AT). Esses artigos pontuam a
importância da utilização de uma sistemática organizada para um processo de
promoção e prevenção da saúde frente ao sofrimento de querer se destruir.
Percebe-se que a importância das contribuições desses autores. Mas percebe-se
também que há necessidade de mais pesquisas sobre esse assunto, podendo
ampliar conhecimentos por meio das várias abordagens da psicologia, tanto na
Psicanálise como em vários outros tipos como: Gestalt-Terapia, Psicodrama,
Existencial-Humanista,
Existencialismo,
Cognitiva
Comportamental,
Comportamentalismo, entre outras, que podem ser usadas também como
18
intervenção nesses casos. Percebe-se uma escassez de publicações desse
assunto, inclusive, nessas abordagens.
No conteúdo teórico desse trabalho consta que as tentativas de suicídio
ocorrem com freqüência e representam um sério problema de saúde pública.
Sendo assim, essa problemática requer compreensão técnica e medidas efetivas
para evitar novas tentativas e o ato suicida. A partir dessa constatação, justifica-se
a realização desta Pesquisa, que terá com relevância cientifica a produção do
conhecimento, que poderá ser utilizado como referencial teórico e metodológico
pelos psicólogos. Pois Sabe-se que há uma escassez de publicações de práticas
psicológicas sobre esta problemática. Por outro lado, disponibilizará um conteúdo
para equipes de saúde, no sentido de contribuir para abolir a negação, o
preconceito e o tabu, nos atendimentos de casos de tentativa de suicídio.
Esta Pesquisa, além da relevância científica, terá também a relevância
social, que se refere à sociedade de uma maneira geral, em obter
esclarecimentos quanto ao enfrentamento dessa difícil situação. Igualmente, por
ser o suicídio um assunto silenciado ao longo da história da humanidade, cercado
de tabu e de estigma social. Esse esclarecimento proporcionará às pessoas uma
reflexão sobre o suicidar-se e ao mesmo tempo poder identificar sinais de riscos e
partir para busca de ajuda profissional.
19
2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
2.1 DEFININDO A TENTATIVA DE SUICIDIO
Macedo e Werlang (2007) nomeiam a tentativa de suicídio com a
expressão “O Traumático Via Ato-Dor”, o que significa que vivências traumática
no decorrer da vida dos sujeitos podem ser eventos desencadeantes para
tentativa de suicídio. Portanto, tentativa de suicídio é um ato decorrente da dor
excessiva tendo como única saída o falso alívio da morte.
“Tentativa de suicídio são atos deliberados de auto-agressão em que a
pessoa, manifesta uma intenção destrutiva e uma consciência vaga do risco de
morte.” (KOVACS, 2002, p.171). Essa autora considera que no suicídio o sujeito é
movido por uma hierarquia com idéias, planos, ameaças, tentativas e, finalmente,
o ato suicida. Afirma que, em cada caso, há uma particularidade que deve ser
estudada detalhadamente, sendo que as taxas de suicídios são mais altas entre
indivíduos portadores de melancolia e solidão.
Resmini (2004) considera o suicídio a tentativa que teve êxito. Além da
tentativa, considera também as idéias, os planos, as ameaças e os gestos, como
implicações importantes na evolução do ato suicida. Nessa hierarquia de
implicações, define que a tentativa de suicídio é um processo em que ocorre a
ambivalência, ou seja, o sujeito não quer morrer, e nem viver, mas ambas as
coisas ao mesmo tempo. O morrer está ligado a melhorar uma situação em que o
sujeito não suporta. O autor acrescenta que a tentativa de suicídio é um
comportamento, em que as ações provocadas no corpo pelas próprias pessoas
são formas de comunicações que substituem as palavras.
A compreensão da tentativa de suicidio, para Cassorla (1991) é: a
pessoa tenta fugir do sofrimento provocado por situações de dor no percurso de
sua vida, e que isso não se refere ao querer morrer e sim por uma questão de não
agüentar viver, ou seja, não suportar a dor e o sofrimento. Relaciona tentativa de
suicídio como uma série de ocorrências, que vão se construindo e acumulando
desde o inicio da formação da pessoa, com influências de fatores constitucionais,
ambientais, biológicos, sociais, culturais, e psicológicos.
20
2.2 TENTATIVA DE SUICÍDIO E DINÂMICA DE COMPREENSÃO
De acordo com Resmini (2004), os estudos científicos sobre o suicídio
iniciaram no século XIX com Emile Durkheim com a obra intitulada “O Suicídio”,
publicada em 1897. Após essa obra, seguiram-se as teorias de Freud, “Luto e
Melancolia” em 1917 e “Além do Princípio do Prazer,” em 1920. Conforme Kaplan
(1997) a teoria de Durkeim foi a primeira contribuição importante para os estudos
sociológicos e explicação das elevadas estatísticas, assim como a teoria de Freud
foi uma das primeiras para o entendimento psicológico sobre o suicídio.
Os sofrimentos analisados apenas em seus aspectos individuais e
psicológicos não explicam as elevadas estatísticas de suicídio. A compreensão
sociológica é aquela em que o indivíduo é regulado pela sociedade, e sendo essa,
opressora, pode resultar nos sujeitos sentimentos de destruição, o qual leva os
homens a tentarem ou cometerem suicídio (DURKHEIM, 1983).
Durkheim classificou o suicídio em três categorias, o egoísta, o
altruísta e o anômico. O egoísta não se vincula a qualquer grupo social, isola-se e
torna-se mais vulnerável ao suicídio; no altruísta a tendência ao suicídio deriva de
uma excessiva integração em um grupo, como por exemplo, o soldado que se
sacrifica e nome da batalha; o suicida anômico refere-se a uma instabilidade social
súbita na vida do sujeito, alterada pela sociedade, tendo como solução o suicídio
(DURKHEIM, apud KAPLAN, 1997).
Quanto às teorias, “Luto e Melancolia” e “Além do Principio do Prazer”,
Freud (1969), em relação ao suicídio, aborda uma relação causal que ocorre com
o sujeito. Descreve a questão de luto como a perda de um objeto real importante,
auto-estima baixa, vazio e empobrecimento do mundo. Mas quando o luto for
elaborado o “Eu” do sujeito se torna livre para investir a libido em outro objeto
substitutivo. Na melancolia, existe a perda do ideal do objeto, com a diminuição
significante de auto-estima, incapacidade de amar e o empobrecimento do ego, ou
seja, o vazio do próprio “Eu” do sujeito. Nesse sentido, a libido se identifica com o
objeto perdido, havendo uma satisfação sádica do sofrimento sob a forma de
autopunição. É nesse momento que Freud considera sadismo, e o enigma da
tentativa de suicídio.
21
O estudo de Macedo e Werlang (2007) apresenta uma discussão sobre
os traumas vividos pelos sujeitos, sendo que esses podem levar às tentativas de
suicídio. A explicação se baseia pela busca do sujeito, por uma saída para se
livrar de uma dor psíquica insuportável, tendo no suicídio a possibilidade única de
enfrentamento dessa dor. Para o acompanhamento de casos de tentativas de
suicídio e para se obter recursos técnicos preventivos, essas autoras referem a
importância de se compreender os processos intrapsíquicos e intersubjetivos dos
sujeitos em sofrimento. Referenciando-se a entendimentos de compreensão dessa
problemática, a proposta desse trabalho é de caracterizar a intervenção do
psicólogo nos atendimentos de casos de tentativa de suicídio.
Segundo Puente (2008), o suicídio é ainda visto como um tabu e um
assunto polêmico, inclusive no âmbito universitário. O autor comenta ser
importante, além de discutir as taxas estatísticas crescentes na atualidade, rever
os cuidados necessários, frente àqueles que tentam tirar suas vidas. Ao mesmo
tempo, refere-se também à necessidade de apoio aos familiares e amigos, que
ficam chocados diante da tentativa ou da morte por suicídio. Tomando como base
que o suicídio é uma questão de saúde e que causa danos psíquicos a terceiros, é
de fundamental importância promover discussões para medida de prevenção e
evitar, ainda, a visão como um tabu.
Resmini (2004) referencia o suicídio como um assunto cercado por
mitos, tabus e preconceitos, fundamentados em regras sociais, as quais se
baseiam ainda nos valores morais e religiosos, além dos preconceitos e
julgamentos aos que atentam sobre sua própria vida. Todavia, esse autor adverte
que em se tratando de suicídio ou tentativa, a melhor conduta é promover ações
na prevenção e acrescenta como medida importante identificar fatores de risco,
que podem contribuir para que ocorra o suicídio. Assim, define fator de risco como
“qualquer característica ou acontecimento na vida de uma pessoa, ou de seu
ambiente,
que
contribui
para
alterar
negativamente
suas
reações
comportamentais” (RESMINI, 2004, p. 45).
Ainda em Resmini (2004), percebe-se que áreas como a sociologia, a
medicina e a psicologia têm se esforçado para a aplicação de um conceito para
uma prática interdisciplinar no atendimento dos casos de tentativa de suicídio,
porém esse empenho tem sido insatisfatório. A cada uma dessas áreas por
22
desenvolverem sua própria explicação, passa a ter uma compreensão individual
desse fenômeno, dificultando um referencial mais abrangente para intervenção.
Conforme Cassorla (1991), a teoria mais divulgada para esse assunto é a
pertencente à Psicanálise, entretanto, afirma que nenhuma teoria consegue
explicar todos os casos de comportamento suicida, devido a múltiplos fatores
envolvidos em cada situação.
Para Hillman (2009), o atendimento em casos de tentativas de suicídio é
um dos grandes temas limites da psicologia e considera dentre outros, o mais
desafiador para um psicólogo. O autor descreve que na maioria das vezes, o
atendimento ocorre da seguinte forma:
A morte do cliente é sempre, para o analista, sua própria morte, seu
próprio suicídio, seu próprio fracasso. Um analista que continuamente se
defronte com pessoas suicidas é forçado a considerar sua própria morte
e em que ele está falhando, porque as pessoas que vem para terapia o
fazem confrontar-se seus próprios problemas. Esta atitude difere da do
médico, que não encara as doenças e queixas trazidas a seu consultório
como pertencendo, de algum modo, também a ele. Ao mesmo tempo, o
relacionamento singular que envolve o analista com outro impede
terceiros de terem igual participação no caso, de sorte que um analista
carrega sozinho cada morte. (HILLMAN, 2009, p. 30).
Para Schneidman (1996) (apud FONTENELLE, 2008), a tentativa de
suicídio é uma atuação em que o sujeito quer acabar com sua dor, uma enorme
dor psicológica chamada dor psíquica, relacionada, muitas vezes, a solidão. Ainda
em Schneidman (1996), o Manual de Diagnóstico Estatístico (DSM-IV), trata a
tentativa de suicídio como se fosse um fígado ou um rim, o que se baseia num
diagnóstico psiquiátrico. Esclarece que sua abordagem clínica não é estabelecer o
foco principal em um diagnóstico, e sim, identificar a dor e tratar adequadamente,
com certa importância ao diagnóstico e relevância na história de vida do sujeito.
Percebe-se que os autores Schneidman e Garcia apontam para novas
perspectivas de compreensão, ou seja, afastar-se do padrão biomédico, que
busca na farmacologia, a sua principal forma de intervir. ”Eu como psiquiatra, não
acho que as drogas resolvem grandes problemas humanos, eu acho que é um
arsenal terapêutico para tratamento de determinadas doenças, de apoio, nada
mais do que isso”. (GARCIA apud FONTENELLE, 2008, p.64).
23
Mello (2000) descreve que transtorno mental, pode ocasionar tentativas
de suicídio, cita como exemplo, que pode ocorrer nas alucinações auditivas
estabelecidas por comando das vozes. Refere-se, aos transtornos mentais, como
um dos fatores preditivos para o suicídio. O autor comenta que, independente do
caráter patológico ou não, é importante o tratamento. Sendo que a importância do
tratamento está em estabelecer aproximação com a pessoa, rever historicamente,
o que está acontecendo em sua vida, e analisar os significados frente ao morrer e
o viver. A partir de então, o autor lembra aos profissionais da saúde, que, para o
atendimento de casos de tentativas de suicídio, é indispensável, capacitar-se com
visão numa abordagem qualitativa histórica, além da individual. Percebe-se que é
importante, para uma avaliação eficaz, discutir formas de intervenção nos casos
de tentativas de suicídio, da mesma forma que as pesquisas divulgam os elevados
dados estatísticos na confirmação de que se trata de um problema de saúde
pública.
2.3 INTERVENÇÂO DA PSICOLOGIA E A UNIDADE BÁSICA DE SAÚDE
A humanidade em toda sua história vem construindo saberes em busca
de respostas para lidar com seus sofrimentos, o que constitui práticas diferentes
da intervenção da psicologia. Conforme Bock (1999), a psicologia como área da
ciência vem se desenvolvendo desde 1875 com a contribuição dada pelo
psicólogo Wilhelm Wundt, que criou o primeiro laboratório de experimentos em
psicofisiologia na Alemanha. A partir desse marco que a psicologia começa a se
fortalecer, quanto a seus métodos científicos e a idéia de homem capaz de se
responsabilizar, pelo seu próprio desenvolvimento e por sua vida.
Na antiguidade, o conceito de saúde estava ligado à religião e ao
trabalho, de forma que a saúde do corpo era estudada pelo fisiologista, e a mente
pela teologia e filosofia. No século XVIII e XIX, a saúde pública, em busca da
cientificidade, apropria-se desse espaço social, numa proposta medicamentosa no
sentido de doença e cura. A história de vida da população era descartada no
processo de adoecimento, onde o conceito de saúde é ausência de doença. Esse
conceito, no decorrer da história é definido pela OMS, como completo bem estar
24
físico, mental e social. Assim, a preocupação com a saúde passa a ser, não só
pelo biológico, mas também pelo psíquico e social. (KAHHALE, 2003).
Percebe-se que, para o cuidado da saúde, no sentido da promoção
humana, é importante a discussão do homem enquanto ser histórico. Kahhale
(2003) relata que, a promoção de saúde é uma questão que começa a ser
discutida desde a década de 70, como cuidados primários à saúde. Iniciam-se
nesse período, ações da saúde mais amplas, envolvendo além dos aspectos
médicos, os sociais e psicológicos, exigindo, um trabalho interdisciplinar. Entendese que, nessa busca do atendimento à saúde de forma mais ampla é que ocorre a
inserção do psicólogo na saúde publica.
Conforme (OLIVEIRA e colaboradores, 2004), a criação do SUS com
seu conceito de saúde na integralidade, implicou uma proposta de reformulação
das práticas profissionais. Sendo que a questão fundamental desse processo de
mudança refere-se ao principio da integralidade na UBS. É uma nova visão
ecológica, a sócio-cultural do processo saúde-doença, que segundo os autores,
deveriam os profissionais da saúde transmitir esse conhecimento à população.
Percebe-se que essa visão de saúde, para a psicologia é importante, e ao mesmo
um desafio, pois envolve mudanças em ações diferenciadas para um novo modelo
de intervenção, diferentemente do biomédico.
Ainda conforme (OLIVEIRA e colaboradores, 2004), as atividades
psicológicas de maior ocorrência nas Unidades Básicas de Saúde se refere à
psicoterapia de adulto, orientação a gestante, a hiper-tensos, entrevistas, testes,
dinâmica de grupos e grupos operativos, sendo a Psicanálise, a teoria mais usada.
Os autores relatam a inexistência de inovações teóricas nas UBS, que a psicologia
precisa de pensar em novas formas de ações, para evitar a continuação de um
fracasso, do cumprimento aos princípios do SUS.
O Projeto SUS foi criado em 1988, defendido pelos setores políticos e pelos
movimentos da sociedade civil. Nasce para o acesso de toda a população ao
direito do atendimento à saúde. Em 1990, teve seus princípios, universalidade,
integralidade, resolutividade, intersetorialidade, humanização no atendimento,
equidade, participação popular, estabelecido pela Lei Orgânica da Assistência
Social (LOAS) com base no artigo da Constituição Federal de 1988. (KUJAWA,
BOTH e BRUTSCHER, 2003). A criação do SUS e o que ele preconiza em relação
25
a esses princípios, vai ao encontro das ações da psicologia, e com isso torna-se
importante discutir aspectos de como acontece a intervenção do psicólogo no
campo da saúde pública. Assim, a psicologia se insere nos três níveis de atenção
a saúde proposto pelo SUS, a alta complexidade (Hospitais gerais), média
complexidade (CAPS) e atenção básica (UBS).
Deslandes (1999) sobre tentativa de suicídio na emergência de um
hospital, observou que os casos foram atendidos clinicamente e logo foram
mandadas para casa, e que os pacientes demonstravam estados melancólicos e
os profissionais em atendimentos pronunciavam as seguintes palavras “aquele
tentou se matar”, “não tem juízo e vem dar trabalho”. Frente a isto, o autor referese ao suicídio estar associado ao mito e ao estigma social. Afirma quer esses
espaços são oportunidades “únicas” para reflexão das práticas dos profissionais
da
saúde,
principalmente
a
intervenção
da
psicologia,
no
sentido
do
encaminhamento adequado nos casos de tentativa de suicídio.
Por outro lado, Deslandes (1999) relata que o setor de emergência é
uma via complexa, além das variáveis referentes aos profissionais da saúde,
como, baixos salários, demandas de violência e falta de apoio na capacitação.
Adverte que, um dos pontos importantes para uma intervenção adequada, frente a
tentativa de suicídio é investir na capacitação dos profissionais da saúde.
Percebe-se que, por meio das inter-relações num setor de emergência do hospital,
o autor traz que, o atendimento da saúde pública expressa enfrentamentos
contraditórios socioeconômicos, em que se faz pensar na noção de saúde mental,
que perpassa a população de uma maneira geral, no seu dia-a-dia, além dos
conhecidos transtornos mentais mais graves.
Os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) surgem na década de 80
como serviço substitutivo do hospital psiquiátrico, cujo objetivo é o atendimento
diário a saúde mental para acompanhamento, e inserção social da pessoa na
sociedade. Com a finalidade de melhorar o serviço de prevenção ao suicídio no
Brasil, no Manual, Prevenção ao Suicídio (CAIS e colaboradores, 2006) apresenta
diversas diretrizes para orientar e facilitar o trabalho dos profissionais de saúde
que lidam com essa problemática. Esse manual foi distribuído para os 918 CAPS
das Unidades do Sistema Único de Saúde (SUS), no qual, informa como identificar
a pessoa com risco ao suicídio, e sugere maneiras de lidar com essas pessoas.
26
Sobre o Manual de Prevenção ao Suicídio, Delgado (2006), afirma ser
um manual criado, exclusivamente, para os CAPS com objetivo de reduzir o
número de tentativas de suicídio, danos associados a esse comportamento, e
informações para combater justamente a dificuldade de abordar tal assunto.
A Organização da Atenção básica de Saúde. , fundada na Lei no
8080/90, caracteriza-se por um conjunto de ações de saúde a nível individual e
coletivo, tem como fundamento os princípios do SUS. São atendimentos
referentes a singularidade do sujeito, inserido no contexto sócio-cultual que visa a
integração de ações na promoção, proteção, recuperação. E uma das propostas
de atuação que visa propiciar essa integração é o Programa da Saúde da Família
(PSF), nas UBS, criado em 1990, composto por uma equipe de médico,
enfermeiro, auxiliar de enfermagem e agentes comunitários, pretende-se atender
ao princípio da Integralidade na Atenção Básica. Desta forma, vem investindo na
promoção da saúde das famílias e da comunidade, a qual se depara
frequentemente com problemas na saúde mental. Compreende-se, então, que
todo problema de saúde é sempre de saúde mental. (KUJAWA, BOTH e
BRUTSCHER, 2003). Nas UBS há diversos problemas de saúde com sofrimentos
psíquicos, que procuram pelos serviços de psicologia, inclusive casos de tentativa
de suicídio.
O Plano Nacional direcionado a Atenção Primária, (UBS) Informa que
no ano de 2000 estimou-se um milhão de pessoas que cometeram o suicídio no
mundo, que a cada 40 segundos acontece uma morte e em 3 segundos uma
tentativa. O Manual comenta que o suicídio é uma situação de grande impacto,
mas acredita que pode ser prevenido. Nesse sentido o Manual fala da importância
de capacitar Equipe da Atenção Primária da saúde e cita como medida de
prevenção a própria Atenção Primária. Daí traz a pergunta, por que esse enfoque
na Atenção Primária? Em resposta, elucida que, a Atenção Primária tem amplo e
próximo contato com a comunidade; que os profissionais de saúde possibilita um
vínculo entre comunidade e sistema de saúde; o profissional e Atenção Primária é
o primeiro recurso de atenção à saúde e que há uma facilidade no vínculo e apoio
a familiares, amigos e comunidade. Além de possibilitar uma atenção continuada.
Devido esses requisitos a OMS relata que, a Atenção Primária
entrada aos serviços de saúde.
é a porta de
27
Kahhale (2003), aborda a compreensão do homem como ser histórico,
social e dialético. Afirma que toda intervenção deve considerar a historicidade do
sujeito. Portanto a intervenção do psicólogo na UBS, não deve seguir um modelo
tradicional e sim, dinamizar ações coletivas na recuperação,
promoção e
prevenção da saúde, bem como proporcionar uma transformação do homem por
melhores condições de vida:
A prática profissional do psicólogo envolve um projeto de intervenção,
onde se explicita a intencionalidade e a transformação almejada. Seu
trabalho envolve um processo de recriar sentido, e refazer projetos de
vida, o que permitirá apropriação da subjetividade individual e social,
possibilitando o controle social da saúde. (KAHHALE, 2003, p. 188)
28
3. MÉTODO
3.1 CARACTERIZAÇÃO DA PESQUISA
A presente pesquisa é caracterizada de acordo com sua natureza como
qualitativa. Moreira (2002) aborda que o foco da pesquisa qualitativa é a
interpretação, com ênfase na subjetividade, na flexibilidade e orientação para o
processo e não para os resultados. Segundo Bosi e Mercado (2004), a pesquisa
qualitativa é uma abordagem que baseia-se em narrativas, conteúdos e discursos.
Segundo esses autores a pesquisa qualitativa nos serviços de saúde, tem muito a
oferecer para análise das relações e vivências, trazendo as singularidades do
adoecer, da produção dos cuidados e da busca da saúde.
Esse estudo quanto aos seus objetivos se caracteriza como uma
pesquisa exploratória. Segundo Gil (2002, p.41), a pesquisa exploratória tem como
objetivo “proporcionar maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo
mais explicito ou a constituir hipóteses”. Esta pesquisa envolve um planejamento
flexível que pode assumir tanto a pesquisa bibliográfica como o estudo de caso
(GIL, 2002). Por sua vez, quanto ao procedimento técnico foi utilizada a pesquisa
de levantamento. Segundo Gil (2004), a pesquisa do tipo levantamento
caracteriza-se pela interrogação direta das pessoas cujo comportamento se
deseja conhecer.
3.2 POPULAÇÃO E AMOSTRA DA PESQUISA
A presente pesquisa teve como população alvo entrevistada, 4 (quatro)
profissionais da Psicologia que exercem suas funções como Psicólogas nas
Unidades Básicas de saúde (UBS) do Município de Palhoça/SC, independente de
gênero, idade e tempo de formação. No entanto, o gênero predominante como
população desta Pesquisa foi o feminino, porque no quadro funcional de
profissionais da Psicologia, lotados nas UBS do Município de Palhoça/SC, é todo
composto por mulheres. O local onde foram realizadas as entrevistas, optou-se
por ser os respectivos ambientes de trabalho das entrevistadas.
29
3.3 PROCEDIMENTO DE COLETA DE DADOS
A fim de que fosse possível essa pesquisa, com as psicólogas das UBS
do Município de Palhoça/SC, houve um primeiro contato por telefone com a
coordenadora dessas Unidades, a qual viabilizou com as demais participantes, a
entrevista para a coleta dos dados. Desta forma, foi informado que havia nas UBS
um número de seis psicólogas em atividades, sendo que destes profissionais, uma
delas encontrava-se de licença gestação. No mês de agosto de 2009, foi mantido
contato com essas seis psicólogas para se ter uma resposta da confirmação da
participação destas na pesquisa.
Como instrumento de Coleta de Dados, foi utilizado a entrevista semiestruturada. Segundo Moreira (2002), esse tipo de entrevista estabelece uma
ordem nas perguntas, mas o entrevistado tem a liberdade de ampliar suas
respostas, além de permitir outras questões, se necessário. May (2001),
acrescenta que esse tipo de entrevista fornece uma estrutura maior de
comparabilidade do que nas entrevistas focalizadas.
No inicio de cada entrevista foi lido pela pesquisadora, o termo de
consentimento (ver em anexos) para que os participantes estivessem cientes de
sua participação ou das possibilidades de desistência a qualquer momento,
durante a entrevista, não os obrigando a responder perguntas que lhes
causassem algum tipo de desconforto. Foi explicado também sobre o sigilo dos
dados e seu uso para fins científicos. Após as dúvidas esclarecidas, solicitou-se a
assinatura dos entrevistados, como concordância com o termo de consentimento,
para que a entrevista fosse validada.
3.4 DESCRIÇÃO DOS PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS
O procedimento da Coleta de Dados teve início no mês de julho de
2009, quando foi mantido o primeiro contato por telefone à coordenadora das
Unidades Básicas de Saúde (UBS) sobre a possibilidade de realização das
entrevistas com os profissionais da Psicologia. A resposta a esse contato foi que
havia 5 (cinco) Psicólogas nas UBS, contando com a própria coordenadora, que
poderiam ser entrevistadas, na condição delas concordarem. Frente a essa
30
possibilidade, foi combinado com a coordenadora que retornaria o contato no mês
de agosto de 2009, assim que iniciassem as aulas.
Chegado o mês de agosto, não foi possível viabilizar contato conforme
havia combinado com a coordenadora da UBS por motivo da gripe suína. Nesse
sentido os alunos que prestavam estágio nas UBS, estavam dispensados das
atividades durante o mês de agosto, por ordem da Instituição de Ensino - UNISUL.
Portanto, no mês de agosto a pesquisadora se organizou, planejou e realizou a
Entrevista Piloto com uma estudante da décima fase do Curso de Psicologia da
UFSC, a qual lhe trouxe experiência, segurança e mais clareza para o
desenvolvimento das entrevistas.
Somente no dia 1º de setembro de 2009, por consentimento da UNISUL,
é que se obteve o retorno das atividades de estágio das UBS. Assim, na primeira
semana do mês de setembro, foi mantido contato por telefone e e-mails com a
coordenadora, a qual autorizou e passou os endereços, telefones e e-mails das
psicólogas que exercem suas atividades nas UBS. A partir de então, foi viabilizado
o devido contato com as psicólogas, verificado a possibilidade e concordância das
possíveis entrevistadas a participarem da pesquisa. Tendo em vista que, seriam 4
(quatro) Psicólogas, incluindo a coordenadora, e não 5 como havia sido informado
no mês de junho. Uma das psicólogas não se encontrava mais em uma das UBS,
tinha saído recentemente, pois havia passado num concurso em Curitiba. De
posse da concordância de 4 psicólogas a serem entrevistadas, foram agendados
os dias 11, 15, 16 e 21 do mês de setembro em seus locais de trabalhos, nos
respectivos horários 18hs, 14hs, 14hs e 8 hs, sendo esses dias, escolhidos
conforme a disponibilidade de cada uma. Percebia-se por parte das Psicólogas,
receptividade e colaboração para com a pesquisa e com isso, um respeito ao
trabalho que estava sendo apresentado.
Para o agendamento das 4 (quatro) entrevistas, 3 (três) delas o contato
foi por telefone e por e-mail, sendo que para uma delas, o contato foi
feito
pessoalmente, não sendo possível o agendamento via telefone ou e-mail, apesar
das tentativas serem feitas no período de 2 (duas) semanas numa freqüência de 3
(três) a 4 (quatro) telefonemas ao dia.
Inicialmente, parecia ser isto uma
dificuldade, mas foi resolvido de forma eficaz, uma vez que, foi decidido ir até o
local e providenciar a possibilidade do agendamento de forma pessoal, conforme
31
concordância e disponibilidade da Psicóloga. Quanto ao tempo todas as 4 (quatro)
entrevistas, tiveram em média a duração de 1 (uma) hora e ocorreram dentro dos
prazos estabelecidos.
O desenvolvimento do processo para realização das entrevistas teve
uma rotina de início, meio e fim, sem maiores dificuldades, ou seja, não houve a
incidência de quaisquer eventos emergentes que pudessem interferir, tanto em
mudanças de agendamentos, como durante a realização das entrevistas. Para
iniciar as entrevistas foi lido junto com cada entrevistada, os termos de
compromisso da pesquisa e autorização para utilização de gravações das
entrevistas. Para ter mais segurança e poder dedicar mais atenção à relação entre
as entrevistadas, a pesquisadora contratou um técnico para organizar os
instrumentos para as gravações. Assim, para todas as entrevistas, antes que
fosse dado o início, as salas encontravam-se preparadas para as gravações. O
ambiente para as entrevistas era adequado, composto de mesas, cadeiras,
iluminação com luz natural e sem qualquer ruído, o qual viesse prejudicar a
qualidade das gravações. As gravações se procederam eficientemente.
Procurou-se ouvir as entrevistas e transcrevê-las logo em seguida,
ainda no mesmo dia, uma de cada vez, para melhor organização e reprodução
das falas. Foi utilizado um tempo médio de 8 horas para cada transcrição. Após as
transcrições foram definidas as seguintes categorias:
1 – Procedimentos;
2 – Percepção do risco
3 – Interdisciplinaridades
4 – Prevenção ao risco
5 – Realidade
Acadêmica
6 – Conceito de tentativa de suicídio.
Para a categoria procedimento foram selecionadas unidades de conteúdos
elementares, referentes às respostas da primeira pergunta para todas as
entrevistadas, cujos pseudônimos adotados por: Entrevistada 1 – Melancia;
Entrevistada 2 – Uva; Entrevistada 3 – Pêra; Entrevistada 4 - Jabuticaba
32
3.5 PROCEDIMENTOS DE ANÁLISE DE DADOS
A avaliação dos dados foi feita por análise de conteúdo e categorização.
A análise de conteúdo é muito usada na análise de dados da pesquisa qualitativa
no campo da saúde. Segundo Gil (2002, p.89), a análise de conteúdo “é uma
técnica que possibilita a descrição do conteúdo manifesto e latente das
comunicações,” que desenvolve-se em três fases: a primeira se refere a escolha
dos documentos, hipóteses e preparação do material para análise; a segunda
envolve a exploração do material e a terceira o tratamento e a interpretação dos
dados. Campos (2004) define análise de conteúdo como um conjunto de técnicas
de pesquisa, cujo objetivo é a busca do sentido ou dos sentidos de um
documento.
As categorias são tipos de procedimentos utilizados nas diversas
análises em pesquisa qualitativa. São empregadas para classificar idéias que
abrangem características comuns. Podem ser estabelecidas em qualquer fase da
pesquisa. (MINAYO, 2004).
As
entrevistas
foram
gravadas,
transcritas
e
armazenadas
no
computador da pesquisadora, ficando assim, o acesso restrito somente a ela e sua
orientadora. Também foram feitas anotações, para pontuarem tópicos que vieram
a facilitar com mais clareza, o momento da transcrição e análise do conteúdo.
Quanto ao local, as entrevistas foram realizadas conforme a disponibilidade de
cada participante, e para facilitá-las, optou-se em realizar as entrevistas, nos
próprios consultórios das respectivas UBS.
33
4 CRONOGRAMA
A seguir, é apresentado o cronograma que norteou e organizou esta
Pesquisa, quanto cumprimento das atividades e os períodos estabelecidos.
Atividades/Períodos
Ago
Set
Out
1. Revisão Literária
X
X
X
2. Coleta de dados
X
X
3. Análise de Dados
X
Nov
X
4. Revisão de Texto/Conteúdo
X
5.
Entrega
do
Trabalho
(Relatório)
6. Apresentação do Trabalho
X
TABELA 1: Cronograma de atividades
Fonte: Elaboração da própria pesquisadora, 2009.
X
Dez
34
5. ANÁLISE DE DADOS
A seguir, são apresentados os dados por Categorias e Sub-Categorias,
para, assim, explicitar melhor a Análise de Conteúdo.
5.1 PERFIL DOS ENTREVISTADOS
Para distinguir os Profissionais da Saúde utilizou-se os seguintes
parâmetros: idade, tempo de serviço e gênero.
Os profissionais selecionados para a etapa de Coleta de Dados, são
Psicólogas pertencentes à Rede Pública Municipal, lotadas nas Unidades Básicas
de Saúde (UBS) do Município de Palhoça/SC. Como sujeitos desta pesquisa,
estão atendendo pelos pseudônimos de: Melancia, Uva, Pêra e Jabuticaba, e
respectivamente identificados por sua idade, o que localiza este profissional dentro
de sua caminhada de vida; o tempo de serviço, expressando o tempo de
experiência na profissão e o gênero, caracterizando a configuração mais comum,
em uma equipe de saúde dentro de uma Unidade Básica. Para facilitar maior
compreensão
do
leitor,
Melancia,
Uva,
Pêra
e
Jabuticaba,
referem-se
respectivamente as entrevistadas 1, 2, 3 e 4.
Tabela 2 – Perfil das Entrevistadas
Sujeitos da
Idade
Pesquisa
Melancia
41 anos
Uva
35 anos
Pêra
29 anos
Jabuticaba
39 anos
Tempo de Serviço
16 anos
11 anos
1 ano e meio
17 anos
Gênero
Feminino
Feminino
Feminino
Feminino
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
A seguir, serão apresentados os dados coletados para esta pesquisa. A
apresentação dos dados inicia com a síntese de cada entrevista realizada com as
psicólogas, para maior precisão dos dados.
35
5.2 SÍNTESE DAS ENTREVISTAS
A seguir, será apresentada a síntese das entrevistas de cada
participante desta Pesquisa, para assim, propiciar uma melhor contextualização
aos leitores deste Trabalho.
5.2.1 SÍNTESE DA ENTREVISTA COM A MELANCIA
A entrevistada Melancia pontuou que as demandas da Atenção Básica
são grande, que além de ter atendido casos de tentativas de suicídio atendeu
também a outros sofrimentos, como abuso sexual, relacionamento conjugal e
crianças com dificuldade de aprendizagem. Revela serem histórias sofridas com
características de depressão.
As histórias de abuso sexual em mulheres,
desencadeavam em tentativa de suicídio. Na época, pensou em recrutar grupos
para trabalhar questões relacionadas ao suicídio e abuso sexual. Cita a
importância de um trabalho individual, grupal e comunitário, destacando o vínculo,
acolhimento como ponto fundamental desse processo. Pontua que a psiquiatria se
preocupa mais com a dinâmica voltada pela via medicamentosa, Esclarece que
sabe da importância da medicação, mas que um acolhimento vai além disso, que
precisa a união de todos os profissionais da saúde para uma intervenção
adequada. Que a postura dos profissionais da saúde é individualizada, quanto ao
pensar e o agir na forma de tratamento. Afirma que a possibilidade de intervenção
adequada é para o coletivo e no coletivo. Para isso sugere aos psicólogos, “sair
da salinha do consultório para uma atenção à saúde ampliada”. Pontua que sua
formação quanto ao tema suicídio, foi isenta de base teórica e exemplos práticos,
sem condições de um aprendizado para intervenções possíveis. Segundo
Melancia, a intervenção, há 15 anos atrás, era via medicamentosa, pela
psiquiatria. Sugere que as Universidades trabalhem o tema suicídio para que os
profissionais possam intervir de forma mais segura no processo de procedimento,
percepção, tratamento e prevenção dessa problemática.
5.2.2 SÍNTESE DA ENTREVISTA COM A UVA
A entrevistada Uva relatou que a forma inicial de atender paciente com
36
história de tentativa de suicídio é identificando o diagnóstico, em caso do risco e
necessidade de internação, mantém contato com a família para encaminhamento.
Uva relata que o procedimento para tratamento envolve médico, família,
medicação ou internação, dependendo do caso.
Percebe o risco de suicídio
quando há um plano por parte do paciente. Para essa percepção, observa o
comportamento do paciente ou investiga-o por meio de perguntas sobre a história
de vida. Relata que geralmente os pacientes apresentam depressão profunda ou
então tem alucinações e delírios. Comenta que as famílias colaboram quanto aos
cuidados do paciente. Uma das dificuldades relatadas é a locomoção para
internação, que muitas vezes não se encontra disponível. A parceria com a
psiquiatria é fundamental no caso de encaminhamento, considera isso uma forma
de prevenção. Relata que sente falta de um trabalho interdisciplinar da equipe de
saúde e que todos deveriam aprender conceito de humanização e acolhimento
para uma recepção adequada a todos que chegam na UBS. Considera isso uma
das formas de lidar com a prevenção ao risco de suícidio. Relata também que
esse assunto deveria ser mais abordado na universidade com teoria e exemplos
práticos. Disse que em sua prática durante a formação acadêmica foi insuficiente.
Considera que quanto mais o aluno for preparado em relação ao conhecimento
teórico e prático, maior é a oportunidade de desenvolver capacidades como
comprometimento e curiosidade pela história humana (‘anamnese’) e assim,
melhor será administrado o trabalho.
5.2.3 SÍNTESE DA ENTREVISTA COM A PÊRA
A entrevistada Pêra relata que tem atendido casos de tentativa de
suicídio. Quanto ao procedimento, primeiro trabalha a pessoa individualmente, fala
da importância do vínculo e também o contato com a família para se comprometer
quanto aos cuidados de proteção e controle de remédios. Comenta que percebe o
risco de suicídio, quando o paciente tem um plano ou quando diz que não tem
vontade de viver. Relata que sente falta de um trabalho interdisciplinar, que a troca
de experiência faz parte da construção de um trabalho mais seguro. Pontua que a
comunicação é muito falha ainda, entre os profissionais, que cada um desenvolve
37
ações de forma individual. Relata que para prevenção ao risco do suicídio, o
trabalho de equipe é fundamental. Sugere a importância de ser administrado no
curso de Psicologia disciplina com mais vivencias com exemplos de estudo de
caso. Comenta ainda que é um assunto polêmico e que deveria ser dado uma
atenção maior, que na sua formação acadêmica teve a oportunidade de assistir
TCC. Pêra refere que encontra dificuldade no próprio atendimento individual em
relação aos casos de tentativa de suicídio, mas que procura estabelecer vínculo,
ser continente, acolhedora e atenciosa, que sempre busca outras alternativas.
Sobre seus atendimentos, uma das formas de proceder, se o paciente permanecer
atormentado por esse sofrimento, fornece o número do telefone de sua casa e o
celular para que ele possa pedir auxilio, caso necessite. Observa que a maioria
dos casos de tentativa de suicídio estão associados a depressão, transtorno
bipolar e outro transtornos mentais. Para prevenção do risco, uma das coisas que
Pêra considera ser necessário é um trabalho com a pessoa que está em
sofrimento e a família nesse contexto. Sobre a tentativa de suicídio diz que “é uma
questão de escolha, querer acabar com o sofrimento, mas que é uma escolha
disfuncional, é uma atitude disfuncional, não é saudável tirar as vidas.”
5.2.4 SÍNTESE DA ENTREVISTA COM A JABUTICABA
A entrevistada Jabuticaba relata que tem atendido casos de tentativas de suicídio.
Como procedimento inicial procura saber o motivo pelo qual a pessoa quer se
matar. Comenta que estabelece um processo de reflexão quanto a outras
possibilidades a favor do viver e que trabalha a partir da esperança pela vida e
que costuma dizer para seus pacientes que tem jeito, que tem saída, que uma
delas é a terapia. Quanto ao risco, avalia pelo fato do paciente dizer que não quer
viver. Para prevenção do risco sugere a terapia. Quanto a interdisciplinaridade
comenta que não vê em nenhuma das áreas da saúde. Refere-se que o próprio o
município é uma via de prevenção, pelo fato de oportunizar às pessoas
atendimentos, inclusive psicológico. Destaca que foi uma das primeiras a trabalhar
na UBS, que há 14 anos atrás não era oferecido o trabalho da psicologia que
atualmente a comunidade conta com esse recurso e disse que faz a diferença.
38
Quanto a sua formação, relata que, o suicídio era um tema passageiro na
Universidade, que pouco se falava desse assunto. Nesse sentido comenta que,
não teve referencial teórico prático em sua formação. Que aprendeu por meio de
suas próprias buscas. Sugere que para uma atuação no caso de tentativa de
suicídio, o atendimento deve ser feito de forma especial, para que seja acolhido e
visto, diz considerar isso uma saída humana.
5.3 CATEGORIZAÇÃO DAS PROFISSIONAIS
A seguir, serão apresentadas as Categorias originadas das perguntas
das Entrevistas. Na seqüência, apresenta-se a Análise de Conteúdo, envolvendo
as respostas das Entrevistadas, as Conceituações dos Autores e as Articulações
da Pesquisadora com relação a esses dados.
5.3.1 Você já atendeu caso de tentativa de suicídio? Como foi seu
procedimento na ocasião?
Sim!
Quanto aos procedimentos as respostas das entrevistadas, Melancia,
Uva, Pêra e Jabuticaba referem-se ao vínculo/acolhimento, encaminhamento,
diagnóstico, família, medicamento, internação, trabalho individual, uma questão de
atenção, motivo, esperança técnica e terapia. No entanto, foram organizadas para
compor o quadro das Sub-Categorias as respostas Vínculo/Acolhimento,
Encaminhamento e o Processo Terapêutico, as quais contemplam em si, os
demais itens relatados e descritos.
39
Tabela 3 – VINCULO E ACOLHIMENTO
Melancia
Uva
Pêra
“(...) o vínculo (...)
acolhimento
ampliado (...) para
essa pessoa ir se
colocando (...) e
minimizando o
sofrimento (...)
com outras
possibilidades (...)
para que a
tentativa de
suicídio ficasse
mais diminuída.”
-------------------“(...) colocar essa
proximidade (...)
uma intervenção
de trabalhar a
família in lócus (...)
para ampliar
contato com essa
pessoa e alguns
encaminhamentos”
Jabuticaba
“(...) o profissional
(...) e sua capacidade
empática,
comprometimento,
levar a sério, estudar,
ter paciência, ter
compaixão e
curiosidade pela
história humana.”
“(...) como ele é
acolhido, isso é
fundamental (...) é
necessário dar
atenção, acolher,
escutar (...) não ter
julgamento, mas
perceber, isso no
primeiro contato é
fundamental para o
vínculo.”
“(...) é dando uma
atenção especial,
para que se sinta
visto (...) acolhido e
encorajado (...)
seria uma saída
humana naquele
momento (...)”
----------------------------“Quando percebo o
risco real, chamo a
família, não posso
deixar o paciente sair
sozinho está
correndo o risco, é
uma questão ética
com meus princípios”
-----------------------
--------------------------“era mais medo da
família, mas eu
aproveitava o uso
da família, e
trabalhava numa
direção de deixar
bem sólida essa
não possibilidade,
sem tratar isso com
o paciente (...)”
“Eu trabalho
individualmente com
essa pessoa, as
razões do que
acontece, a família
para que ela possa
se comprometer com
essa pessoa (...)com
os cuidados da
medicação”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
Conforme Souza (2008), o acolhimento é importante no inicio de um
atendimento, é instrumento útil para estabelecimento de vínculo, denominado
como um processo de vinculação, por ser um movimento constante numa relação
que envolve sentimentos de confiança. Para Resmini “O vínculo com o terapeuta
representa o elo que o paciente estabelece com o futuro...” (RESMINI, 2004,
p.112). Percebe-se que a entrevistada Melancia, Uva, Pêra e Jabuticaba, falam do
vínculo e acolhimento como um procedimento que se estabelece entre terapeuta e
paciente num clima de confiança para outras possibilidades e outros plano de
vida. Isso confirma a idéia de Souza e Resmini as quais coloca o acolhimento e o
vínculo presente na relação paciente-terapeuta como suporte importante para
outras interações com a vida. Tendo em vista que a entrevistada Uva, usou
palavras semelhantes como: empatia e comprometimento ao invés de vínculo e
acolhimento.
Estellita-Lins et all (2006) acrescentam que, em beneficio do tratamento
a relação terapêutica deve pautar em vínculos com o paciente e também aos
40
familiares. Percebe-se que as entrevistadas utilizam a colaboração da família
como ajuda no procedimento quanto a proteção dos seus entes queridos em
relação ao risco. Resmini (2004) relata que a ligação entre os membros da família
tem sido apontada como fator protetor contra a tendência ao suicídio. Em
concordância, Puente (2008) relata que além do atendimento individual com a
colaboração dos familiares é fato que esses necessitam também de cuidados
psicológicos por ficarem chocados e desesperados diante de tal fenômeno.
Os relatos das entrevistadas, conforme Tabela 3, Melancia, Uva, Pêra e
Jabuticaba, mostram a relação do vínculo terapeuta – família – paciente, como
colaboração dos familiares quanto ao encaminhamento da internação, proteção do
paciente e cuidados com os remédios, o que se percebe a seguir nas falas de
Melancia, Uva e Pêra. “(...) colocar essa proximidade (...) uma intervenção de
trabalhar a família in lócus (...) para ampliar contato com essa pessoa e alguns
encaminhamentos” (Melancia). “Quando percebo o risco real, chamo a família, não
posso deixar o paciente sair sozinho está correndo o risco, é uma questão ética
com meus princípios” (Uva). “Eu trabalho individualmente com essa pessoa, as
razões do que acontece, a família para que ela possa se comprometer com essa
pessoa (...) com os cuidados da medicação”. (Pêra).
Nesse sentido percebe-se que as fala da Melancia, Uva e da Pêra se
refere a família como sujeitos aos cuidados de proteção e encaminhamento e com
a medicação. Quanto aos sentimentos dos familiares, conforme retrata Puent
(2008) a importância dos cuidados psicológicos dos familiares frente ao sofrimento
da tentativa de suicídio, não foi apresentado a existência desse trabalho. Apenas a
Jabuticaba refere-se trabalhar o medo do familiar, que diz o seguinte sobre seus
atendimentos “era mais medo da família, mas eu aproveitava o uso da família, e
trabalhava numa direção de deixar bem sólida essa não possibilidade, sem tratar
isso com o paciente”, ou seja, percebe-se na fala da Jabuticaba que, quando o
paciente se encontra em acompanhamento psicológico, em sua percepção, está
fora do riso de suicídio, e por ventura a família do mesmo se apresenta mobilizada
por medo do risco de morte, ela (Jabuticaba) intervém tranqüilizando-os dessa
não possibilidade.
No dicionário de Psicologia, o termo procedimento refere-se a um
conjunto de regras que são necessárias para aplicar rigorosamente uma
41
determinada situação (DORON e PAROT, 2002 p. 612). Para Resmini (2004), os
procedimentos de um terapeuta frente a tentativa de suicídio ou em risco devem
ser imediatos, organizados, firmes e decisivos em um menor tempo possível. Ao
mesmo tempo, devem prevalecer cuidados para que não ocorra o reforço do
comportamento destrutivo.
Tabela 4 – ENCAMINHAMENTO
Melancia
Uva
“(...) uma situação
“Primeiro faço um
aguda foi feita
diagnóstico,
visita domiciliar e
geralmente
encaminhamento
encaminho para o
para o CAPS (...)
psiquiatra, tomar
sentia que tinha
medicação (...)
dependendo do
um risco iminente
caso, vai direto para
(...)”
“(...) de incluir a internação para
área da psiquiatria vigilância 24 horas.”
na atenção básica
para
poder
minimizar
esta
questão
da
tentativa
de
suicídio.”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
Pêra
Jabuticaba
“(...) faço
agendamento com o
psiquiatra da rede,
essa é a primeira
intervenção, o
primeiro passo.”
Percebe-se por parte das entrevistadas que a busca por um modelo de
Atenção Integral, na Unidade Básica de Saúde, continua fazendo parte das
mudanças e um desafio no campo da saúde mental.
Melancia refere-se aos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), os
quais surgem na década de 80, como serviço substitutivo do Hospital Psiquiátrico
para acompanhamento e inserção social da pessoa. Mas o que é o CAPS? São
instituições que constituem a principal estratégia do processo de Reforma
Psiquiatra. Destina-se ao acolhimento a pacientes com transtornos mentais,
estimulação de sua autonomia, integração, atendimento médico e psicológico.
Nesse sentido as pessoas que são tendidas nos CAPS apresentam intenso
sofrimento psíquico que impossibilita seu projeto de vida. (MINISTÉRIO DA
SAÚDE, 2004)
Melancia por meio de seu relato revela como se utilizou desse espaço
CAPS em um de seus atendimentos, próximo de um final de semana. Disse que,
houve necessidade de viabilizar o procedimento encaminhamento para o CAPS.
42
Sem que o paciente revelasse o sofrimento. A entrevistada percebeu que era uma
situação aguda, de risco de suicídio iminente. Segundo Resmini (2004) risco
iminente está presente claramente o desejo de morrer. Foi feita visita domiciliar, e
acabou levando o paciente, primeiramente para conhecer o CAPS, em seguida foi
encaminhado para o programa com o consentimento do mesmo. Conta a
entrevistada Melancia, que ficou constatado que realmente era um risco naquele
final de semana. Conta ainda que durante esse processo de realização para esse
encaminhamento, foi ampliando a aproximação com o paciente, onde foi
emergindo e sentindo que tinha um sofrimento. Frente a isso, conclui Melancia por
meio de suas palavras, “a cada momento minha grande questão, é ter um vínculo
maior, fazer um acolhimento mais amplo, ter uma base de relação maior. E isso é
refletido na modificação do outro”. Risco iminente para Resmini (2004), é quando
o paciente demonstra claramente por meio de comportamentos, ameaças, ideação
e desejo de morrer, que o fator tempo é de grande importância e o primeiro a ser
considerado.
Percebe-se a necessidade do vínculo e acolhimento tanto num processo
terapêutico como numa situação de encaminhamento a outros profissionais.
Quanto ao encaminhamento as entrevistadas Melancia, Uva e Pêra relataram na
tabela 4, como acontece nas UBS.
Segundo Resmini (2004), áreas como a sociologia, a medicina e a
psicologia tem se esforçado pra aplicação de um conceito para uma prática
interdisciplinar no atendimento dos casos de tentativa de suicídio. No entanto,
esse empenho tem sido insatisfatório em decorrência de cada uma dessas áreas
desenvolverem sua própria compreensão.
Conforme Fontenelle (2008) a falta de médicos especializados nos
sistemas públicos de saúde no Brasil é um dos principais empecilhos. Em relação
ao suicídio é um processo que está se engatinhando com um número reduzido de
profissionais que se dedicam ao estudo deste fenômeno.
De acordo com o que preconiza os princípios do SUS, percebe-se que
nas UBS a primeira questão levantada por Resmini (2004) é pertinente. Ao se
referir a integração, os profissionais da saúde apresentam-se em um quadro
insatisfatório para as demandas apresentadas. Nas palavras de Fontenelle (2008),
percebe-se que não só o número de médicos especializados é precário, mas o
43
quadro de profissionais da saúde, de um modo geral, não está preparado para
atender questões como o suicídio.
Resmini (2004) sobre o diagnóstico, refere-se que a conduta suicida
pode ser conseqüência de um transtorno de humor, no entanto existem
contradições quanto a importância desse diagnóstico. Muitos que cometeram
suicídio ou tentaram estavam no curso de um transtorno de humor, embora a
maioria dos que sofrem desse transtorno nunca tentaram suicídio. Desta forma o
diagnóstico é condição ou não para desencadear a tentativa de suicídio.
Ainda em relação ao diagnóstico Nordstron (2006) relata que, muitos
vezes, a vontade de morrer é por conseqüência de como as pessoas recebem a
notícia de um diagnóstico. A OMS faz um alerta aos profissionais da saúde, que
tenham mais atenção no processo de avaliação, como medida de prevenção e
não aumentar sofrimento.
Percebe-se que Uva refere-se em seus atendimentos a questão do
diagnóstico, a qual avalia que a maioria dos casos de tentativa de suicídio estão
associados a depressão grave, com presença de delírios e alucinações. Para
Resmini (2004), a conduta suicida pode estar associada a um transtorno de
humor, no entanto, isso não pode ser generalizado, porque nem todas as pessoas
que passaram por um transtorno de humor, pensaram, tentaram ou até mesmo,
cometeram suicídio.
Quanto ao encaminhamento, Resmini (2004) relata que, ás vezes, após
uma avaliação inicial, é necessário encaminhar o paciente com risco de suicídio
para outro profissional. As entrevistadas Uva e Pêra relatam que, quando
necessário, encaminha o paciente com risco de suicídio, para um médico
psiquiatra.
Ainda Resmini (2004) quanto a internação, refere ser um processo que
traz vantagens ou não. A vantagem está relacionada a um acolhimento ao
paciente com maior proteção para não se auto-ferir e uso adequado da
medicação. No entanto, a hospitalização pode servir de reforço negativo no
sentido de acentuar atitudes de rejeição e cronicidade. A entrevistada Uva se
utiliza ao que Resmini (2004) denomina de processo vantajoso, pois quando
percebe um risco real no paciente, a mesma chama a família, e encaminha para
internação para vigilância 24 horas, ou seja maior proteção do próprio paciente.
44
Tabela 5 – PROCESSO TERAPÊUTICO
Melancia
Uva
Pêra
(...) a percepção
do profissional de
psicologia nessas
situações deve
intensificar o
contato, buscando
uma vinculação
maior, um suporte
com bases largas
de vínculo,
objetivando a
alteração do
fechamento de
possibilidades para
a vida.”
(...) O profissional
tem que desenvolver
sua capacidade
empática (...)
conhecer, ter
particularidades
técnicas (...) fazer
terapia é também
algo essencial (...) e
não acreditar
somente no processo
terapêutico, contar
sempre com apoio de
outros profissionais e
da família.”
(...).se ela coloca ,
Ah! Não quero viver,
mas também não tem
coragem... , pensa
nos filhos, é uma
questão de atenção
(...).faço intervenção
(...)
“atendi uma
sra...colocava que
não queria mais
fazer parte desse
mundo, que as
pessoas na
sociedade são muito
ruins-apresentava
auto-estima baixa”
Jabuticaba
“Primeiro saber o
motivo (...) resgatar
o motivo (...) de ter
tentado se matar
(...) E quando tu
acrescentas uma
esperança técnica
(...) aí começa um
trabalho não
baseado no suicídio
(...) digo que tem
saída (...) claro,
uma delas é a
terapia (...)”
“Mostrar muita
atenção e interesse
pela vida, de uma
forma especial, ta
mostrando saída
começando pela
terapia (...) sempre
encorajando, que
se sinta visto,
acolhido e
encorajado. Eu vejo
isso que seria uma
saída humana que
precisa naquele
momento (...)”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
Conforme Kaplan (1997) e Resmini (2004), a teoria de Freud foi uma
das primeiras a ser usada para atendimento psicológico, onde descreveu através
do trabalho “Luto e Melancolia [1917]”, a perda do ideal de ser. Esta perda do ideal
de ser é um dos motivos percebidos na tentativa de suicídio, conforme pontua
Jabuticaba, na sua intervenção, vai ao encontro da re-significação de seu ideal de
ser: “(...) Mostrar muita atenção e interesse pela vida” (...) “seria uma saída
humana que precisa naquele momento(...)” .
Conforme Marx, “as pessoas agem entre si como estranhas, numa
relação de hostilidade, lutas e competições impiedosas... somente resta ao
individuo ser vitima ou carrasco de si mesmo. Eis, portanto, o contexto social que
explica o motivo de um desespero e o suicídio.” (MARX , 2006, p. 16). A
entrevistada Pêra ao se referir a um de seus atendimentos, em que a
45
Sra.(paciente) diz: “não quero mais fazer parte desse mundo”, nas palavras de
Marx somente resta ao individuo a ser vítima e carrasco de si mesmo. “as pessoas
na sociedade são muito ruins.” Para Marx as pessoas agem entre si como
estranhas numa relação de lutas e competições impiedosas.
Percebe-se que a sra atendida por Pêra, em sua forma de expressar
contempla ao que Marx denominou o contexto social que explica o motivo de um
desespero e o suicídio. Assim como em Durkheim que a questão da tentativa ou
do suicídio não pode entendida apenas em seus aspectos individuais e
psicológico, a compreensão é sociológica em que o individuo é regulado pela
sociedade, sendo essa opressora, pode resultar no individuo sentimento de
destruição.
Para lidar com o comportamento suicida no processo de intervenção,
Macedo e Werlang (2007) comentam ser importante à compreensão da dinâmica
intrapsíquica e intersubjetiva do paciente.
Percebe-se esta compreensão na
descrição dos relatos das entrevistadas, quando estas pontuam: “(...) intensificar o
contato, buscando uma vinculação maior (...) – [Melancia]; “(...) desenvolver sua
capacidade empática (...)” – [Uva]; “(...) é uma questão de atenção (...).faço
intervenção (...)” – [Pêra]; “(...) sempre encorajando, que se sinta visto, acolhido
e encorajado (...)” – [Jabuticaba].
Para Hillman (2009) atendimento de caso de tentativa de suicídio é uma
das situações mais complexas para um psicólogo em relação a outros tipos de
sofrimento ou violência. Compara diferenças entre o médico e o psicólogo, o
Médico pela sua formação, dispõe de remédios como recurso, enquanto que do
psicólogo é exigido um comprometimento de sua personalidade. Percebe-se que o
esforço das entrevistadas, está em utilizar seus próprios recursos humanos,
fazendo uso do principal instrumento da Psicologia: o uso da palavra.
Jabuticaba destaca a importância do processo terapêutico nos
atendimentos nos casos de tentativa de suicídio, e informa que tem tido resultados
rápidos. O autor Hillman (2009) se refere, a exigência da personalidade do próprio
psicólogo, como pontua Jabuticaba, a qual descreve que se utiliza de seus
recursos humanos.
Percebe-se na entrevistada Jabuticaba, quanto ao motivo da tentativa
de suicídio: “(...) Primeiro saber o motivo (...) resgatar o motivo (...) de ter tentado
46
se matar (...)”, Resmini (2004) se refere a questão motivo, coloca a idéia da razão
para viver, dada por não suportar magoar outras pessoas: “(...) Não quero viver,
mas também não tem coragem..., pensa nos filhos (...)” – [Pêra], apesar do próprio
estado de sofrimento do paciente (aquele que pensa em tirar sua vida). Resmini
(2004) acrescenta, a maioria dos pacientes responderia ter todos os motivos para
tirar sua própria vida, entretanto, pela sobreposição do altruísmo sobre egoísmo, o
que traduz o motivo para viver, encontra uma proteção para evitar se autodestruir.
O relato de Pêra, permite identificar esta relação considerada por Resmini (2004).
A paciente em vias de buscar a própria morte para aplacar sua dor psíquica,
enfrenta-a na condição de que é útil ao outro, reconhecendo em si mesma seu
valor como fator de proteção contra a autodestruição.
Resmini (2004) fala da relação entre desesperança, desespero e
suicídio. Que o sentimento de desesperança evolui para um desespero que
influenciam no potencial suicida de uma pessoa. A entrevistada Jabuticaba fala
em esperança técnica, conforme o que se refere Resmini, em relação a desespero
e suicídio, pois Jabuticaba sinaliza que desesperança pode constituir um fator de
risco no comportamento suicida de uma pessoa. Hillman (2009) relata que a
esperança é a própria vontade de viver, assim como o desamparo é a atmosfera
do suicídio. Gutz (2007), em sua pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso,
pontua que a desesperança é um indicador, que pode ser potencializado, tanto
para a ideação de morte, como também, para ideação suicida.
5.3.2 Como você percebe o risco de tentativa de suicídio, em um paciente em
atendimento?
Quanto a essa pergunta, as respostas das entrevistadas referem-se aos
seguintes conteúdos Tristeza, necessidade afetiva, vida comprometida, depressão
grave, pensamento, abuso sexual, delírios, alucinações, psicótico, bipolar,
esquizofrenia, abuso sexual, não tem vontade de viver, não vê outra saída,
tentativa anterior, o concreto, o plano, estratégia criada, medo da família. Para
explicar melhor esses dados coletados criou-se duas sub- categorias sobre a
Percepção do Risco: Sofrimento Psíquico e Tentativa Anterior ou Plano Definido.
Categoria – Percepção do Risco
Sub-categorias - Sofrimento Psíquico e Tentativa Anterior ou Plano Definido.
47
Tabela 6 – PERCEPÇÃO DO RISCO
Melancia
Uva
SOFRIMENTO
PSÍQUICO
------------------
TENTATIVA
ANTERIOR
OU
PLANO
DEFINIDO
“(...) Uma
tristeza onde
o paciente
descreve um
fechamento
de
possibilidade
s na vida,
algumas
vezes diz
claramente
que não tem
mais jeito,
não tem
saída (...)”
“(...) O
sofrimento
que coloca a
pessoa em
condição de
risco (...)”
--------------(...)
pacientes
com
tentativas
anteriores de
suicídio,
carregam as
marcas no
corpo ainda,
identificando
a eminência
de um novo
risco de
atentar
contra a vida
(...)
“(...) percebo no
olhar, olhar opaco
(...) quase não
fala (...) se houve
tentativa anterior
(...) se não fala é
uma hipótese (...)
mas a postura do
corpo (...) o corpo
fala (...)”
“(...) se ele diz
que a família quer
matá-lo que todos
estão contra ele,
fica isolado, ou
estar em surto, ou
ainda anda com
uma faca, não
precisa dizer que
quer se matar
(...)”
“(...) se você não
me atender
agora, vou me
matar (...) atendi
(...) ela tinha uma
faca na bolsa (...)”
“(...) através do
diagnóstico
mesmo,
geralmente é uma
depressão
profunda ou
alucinações
visuais e
auditivas, delírios
(...)”
-----------------(...) se está muito
próximo do
concreto, que eu
percebo, que
para executar
falta pouco, o
risco é muito
grande (...) busco
informações, se
já tentou (...) se
planejou (...).
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
Pêra
Jabuticaba
“(...) não quer
viver (...) eu
observo que são
pessoas que
tem uma vida
comprometida
(...) que tem
uma
necessidade
afetiva (...)”
“(...)Já houve
casos que não
estão ligados
aos transtornos,
mas a maioria
estão ligados,
associados,
realmente a
depressão, o
transtorno
bipolar ou
outros
transtornos
mentais (...)”
(...) “é a
única saída”
(...) só pensa
em suicídio
(...)
----------------“(...)foi ao
psiquiatra, deu a
receita pra 3
meses...tomou
20, 30, 40,
comprimidos,
fez uso de
muitas
medicações.”
“Quando tem
um plano
definido, posso
afirmar. Quando
diz que não tem
vontade de
viver, tem que
dar atenção.
Não digo que a
pessoa que não
tem um plano,
não vai tentar
(...)”
-------------“(...) só
pensa em
suicídio... o
suicídio
como única
saída...vem
porque
tentou e não
conseguiu...
a tentativa
foi inválida
(...)”
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Segundo Resmini (2004) a maioria dos casos de tentativa e suicídio são
antes sinalizados e às vezes negados pelo próprio paciente, familiares e até
mesmo os profissionais da saúde. Nesse sentido, este autor, sugere um modelo
didático para mensurar o risco que vai desde o mínimo, moderado e iminente. O
mínimo não há demonstração clínica em relação ao ato; o moderado o paciente
apresenta desanimo prolongado e o iminente o paciente demonstra ameaças e
ideação por meio de comportamentos.
5.3.2.1 – SOFRIMENTO PSIQUICO
Para Clark (2007) Sobre as causas, não se sabe exatamente o porquê
do suicídio, embora, pesquisas evidencie fatores físicos e químicos que afetam o
cérebro, além dos fatores sociais e pessoais. Mello (2000) relata que os
transtornos mentais são fatores preditivos para que o suicídio aconteça. Resmini
(2004) comenta que a conduta suicida pode estar associada a um transtorno
mental, mas nem todo transtorno mental leva a á tentativa ou suicídio. Fontanelle
(2008), baseado em dados da OM, estima-se que 90% das pessoas que tiraram
suas próprias vidas, nos últimos 6 meses, apresentaram algum tipo de transtorno
mental. Ainda no ano de 2002, um estudo da OMS em diferentes regiões do
mundo, em uma amostra de 17 mil suicídios, apenas 3% não foram detectados
um diagnóstico psiquiátrico, e que a depressão era o dado de maior freqüência,
sendo considerada a quarta doença mais presente no mundo com previsão de
ocupar o segundo lugar no ano de 2020.
Oliveira (2006) relata que estudos demonstram que 40% dos suicidas,
semanas antes de tentarem tirar suas vidas procuraram pelos serviços de saúde,
sem especificar claramente o que estão sentindo, o que exige dos profissionais da
saúde preparo em identificar o risco. As entrevistadas Uva e Pêra observam o
comportamento não verbal do paciente para perceber o risco de suicídio, cujo
relato confirma “percebo no olhar, olhar opaco, quase não fala, o corpo fala” –
[Uva]. “Observo que são pessoas que tem uma vida comprometida, que tem uma
necessidade afetiva” – [Pêra]. Isso é pertinente ao que Oliveira (2006) comenta,
49
que pacientes chegam em busca de atendimento, sem especificar claramente o
que estão sentindo.
Referindo-se a entrevistada Uva, quando se diz perceber o risco “o
corpo fala”, nota-se que pode associar ao que Resmini (2004) tem como definição,
que “a tentativa de suicídio é um comportamento em que as ações provocadas no
corpo pelas próprias pessoas são formas de comunicação que substituem as
palavras.”
Ainda referindo-se a Uva, a qual comenta que o risco de tentativa de
suicídio está presente como hipótese frente ao silêncio do paciente, permitindo
avaliar a possibilidade do risco frente a este silêncio ou a própria
corporal.
expressão
Por outro lado, para todas as entrevistadas, o risco é percebido
claramente, sendo demonstrados pelos relatos das expressões como: “se você
não me atender agora vou me matar” – [Uva]. “Não tem jeito, não tem saída” –
[Melancia]. “Não quero viver” – [Pêra]. “É a única saída” – [Jabuticaba]. Nesse
sentido a percepção do risco da tentativa ou suicídio pode ser manifestada
claramente ou não.
Sobre a identificação dos fatores de risco ao suicídio (OLIVEIRA, 2008)
em sua pesquisa de Trabalho de Conclusão de Curso, aponta que em primeiro
lugar aparece o transtorno depressivo, pois 11 dos 12 respondentes assinalaram
esta alternativa. Em segundo lugar a de ter tentado anteriormente, sendo que 8
dos 12 respondentes assinalaram esta alternativa. A autora acrescenta que a idéia
é compreender o sujeito, seu sofrimento para além de um transtorno para não
caracterizar a questão organicista. Nesse sentido, a autora comenta ainda que o
preparo técnico do profissional da saúde se revela especial para condução do
manejo e possibilidades de prevenção nos casos que envolvem tentativa e o risco
de suicídio.
Quanto a percepção do risco relacionado a tentativa ou o suicídio, o relato
das entrevistadas apresentam na seqüência a tristeza, o silencio, o isolamento,
tentativa anterior, olhar opaco, a faca para se matar, não querer viver e a
necessidade afetiva, considerados sofrimentos psíquicos, como fator de risco.
Neste sentido, Uva e Pêra fala do transtorno mental da seguinte forma: Uva: “a
gente percebe através do diagnóstico mesmo, geralmente é uma depressão
profunda” e nas palavras de Pêra: “já houve casos que não estão ligados aos
50
transtornos, mas a maioria estão ligados, associados, realmente a depressão, o
transtorno bipolar ou outros transtornos mentais”.
Essas duas percepções são pertinentes com o que relatam os autores
Clark (2007), Mello (2000), Resmini (2004), e Fontanelle (2008) que pontuam o
transtorno mental como fator de risco para que ocorra o suicídio, sendo
destacada a depressão por Fontanelle (2008) como índice de maior prevalência
do risco, igualmente nos relatos de Uva e Pêra. Ainda ao que se refere Resmini
(2004), que “ a conduta suicida pode estar associada a um transtorno mental, mas
nem todo transtorno mental leva a tentativa de suicídio.” Isso procede nas
palavras de Pêra “Já houve casos que não estão ligados aos transtornos (...)”.
Um outro fator de risco apresentado foi a questão do abuso sexual
relatado por Melancia “os casos de tentativa de suicídio estavam relacionado a
questão de abuso sexual, a maioria deles (...) em mulheres (...) 6 ou 7 mulheres
tinha essa associação (...) não sei se isso são dados de pesquisa, se existe, não
me aprofundei (...)
Para Resmini (2004) a existência de eventos pregressos ou atuais deve
ser avaliada na influência de mobilizar a pessoa para o ato suicida. Dentre outros
cita a questão do abuso sexual estar associado.
5.3.2.2 – TENTATIVA ANTERIOR OU PLANO DEFINIDO
Resmini (2004) considera tanto a tentativa anterior como as idéias, os
planos, as ameaças e os gestos como implicações para que ocorra novas
tentativas ou o suicídio. Fontenelle (2008) comenta que é preciso ficar alerta
quando uma pessoa já teve histórico de tentativa de suicídio, pois estima-se que
em 40% a 60% dos suicídios tinha uma tentativa anterior.
A partir dessas
contribuições, percebe-se que os relatos das entrevistadas demonstram
uma
compreensão compatível de que a tentativa anterior sinaliza um novo risco de
suicídio, visto na expressões: “marcas no corpo ainda, identificando um novo risco
de atentar contra a vida” [Melancia]. “Busco informação se já tentou... se já
planejou” [Uva]. “Ela foi ao psiquiatra, deu a receita por uns 3 meses...tomou 20,
30, 40 comprimidos, fez uso de muitas medicações.” [Pêra]. “Vem porque tentou e
51
não conseguiu (...) a tentativa foi inválida” Jabuticaba. Relatos como esses,
Fontenelle (2008) sinaliza que é preciso ficar em alerta quanto a possibilidade de
novos riscos.
Para Resmini (2004) a conduta adequada em relação ao fenômeno
suicídio é a prevenção. Alerta que é errônea a idéia de quem ameaça não o
comete. Geralmente os sinais são manifestados tanto de forma verbal como não
verbal. Muitas vezes, esses sinais são menosprezados ou negados, não sendo
levado em consideração à importância que têm. Para o autor sinais de
possibilidades de risco faz necessário encaminhamento adequado e seguro para
profissionais capacitados. Isso constitui o primeiro passo para o tratamento e
evitar o impulso auto-destrutivo.
5.3.3 – Existe alguma rotina interdisciplinar nas UBS em prol da prevenção
ao risco da tentativa de suicídio? Se a resposta for afirmativa, como é esta
campanha?
Não!
Tabela 7 – INTERDISCIPLINARIDADE
Melancia
Uva
Pêra
“... não, não existe. O
“Não, nenhuma!”
que acontecia era a
postura do
profissional naquele
momento lá.”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora.
“Não! Não existe!”
Jabuticaba
“Não, não tem isso
aqui. Não conheço
nenhuma área”
Esta pergunta foi respondida com unanimidade pelas entrevistadas, que
não existe nenhuma rotina interdisciplinar nas UBS, em prol da prevenção ao risco
da tentativa de suicídio.
A proposta da interdisciplinaridade, segundo Kahhale (2003) visa
discutir resposta com a reintegração das diferentes áreas do conhecimento para o
desenvolvimento de ações para solução de problemas. A importância dessa
proposta está diante do enfrentamento de situações complexas, que limita um
atendimento por ações isoladas.
52
Em relação a essa categoria todas as psicólogas da UBS responderam
que não existe uma rotina interdisciplinar em prol da prevenção ao suicídio, no
entanto há nas respostas de uma maneira geral as seguintes colocações:
Para Melancia:
“Necessidade de associar outros profissionais(...)
(...) mais profissionais no atendimento, incluir. Também área da psiquiatria (...)
(...)a psiquiatria consegue por via medicamentosa, (...) mas não acolhimento.
(...) trabalhar no coletivo para o coletivo”.
“(...)chamar os profissionais para que estejam juntos(...),
(...) Não tem como isoladamente trabalhar isso (o suicídio) (...)”
“(...) vai ter que sair da salinha, da salinha do consultório
Para ver como a coisa funciona, rararara (...)”
Para Uva:
“(...) encaminho para psiquiatria (...)
(...) profissional com capacidade de perceber o risco, ou não (...)
(...) treinamento para todos os profissionais para trabalhar com o risco (...)”
Para Pêra:
“(...) eu faço agendamento com o psiquiatra da rede (...)
(...) que existisse de certa maneira esse tipo de equipe interdisciplinar.
(...) o trabalho em grupo(...) os profissionais (...) de ter a troca de experiência.
Tem uma demanda, não só para psicologia, mas para outros grupos(...)
(...) sinto, tanto como a formação de grupo (...)”
5.3.4 – Caso não exista nenhuma rotina preventiva ao risco de tentativa de
suicídio, como você percebe a melhor maneira de prevenir este tipo de
risco?
As respostas das entrevistadas sobre essa pergunta refere-se aos
seguintes conteúdos: equipe, grupo, comunidade, integrado, capacitar,
treinamento, acolhimento, humanização, o município, psicólogo, atenção básica.
Quanto a categoria prevenção ao risco, para melhor compreensão foi
criada 4 subcategorias, a saber: Trabalho Integrado, Capacitação, Atendimento
Humanizado, e Práticas Psicológicas.
53
Categoria – Prevenção ao Risco.
Sub-categorias- Trabalho Integrado, Capacitação, Atendimento Humanizado, e
Práticas psicológicas.
Tabela 8 – PREVENÇÃO AO RISCO
Uva
Melancia
TRABALHO
INTEGRADO
Pêra
Jabuticaba
“(...)
Interdisciplinarie
dade, não tem
isso aqui, não
conheço em
nenhuma área
(...)”
“(...)
trabalhar
grupo (...)
comunidade
(...) que os
profissionais
pudessem
estar
integrados
(...) inclusão
é prevenção
(...) pensar
com o
usuário o
que é mais
importante e
interessante
(...)”
“(...) uma coisa que
coloquei várias
vezes precisaria
estar reunidos tanto
técnicos como
profissionais de
nível superior (...)”
“(...)
interdisciplinaridade
não tem (...)”
“(...) que
existisse
esse tipo de
trabalho
interdisciplin
ar, e o
trabalho
com as
famílias (...)”
---------------
------------------
--------------------------------
-----------------
CAPACITAÇÃO
“(...) Os
profissionais
integrados
que se
pudesse
pensar na
prevenção
(...)”
“(...) a
questão do
suicídio é
uma
atenção que
a Atenção
Básica não
vai fazer (...)
vai colocar
para o
CAPS, para
uma
atenção
especializad
a (...)”
(...) treinamento
para todos os
profissionais de
saúde para
trabalhar o risco (...)
a pessoa deveria
ser atendida e
ouvida por um
profissional que
tivesse capacidade
de perceber o risco
(...)
(...) os
profissionais
ter
conheciment
o da
temática, de
troca (...)
xxxxxxxxxxx
-------------------------------(...) com a
disponibilida
-------------- ------------------“(...) atenção
54
ATENDIMENTO
HUMANIZADO
-------------------
PRÁTICAS
PSICOLÓGICAS
de muito
maior de
atenção do
profissional
da
psicologia.
Aquela
questão da
equidade
mesmo (...)
atenção
mais
ampliada
(...)
trazendo as
pessoas ao
convívio
(...) não
tem como
trabalhar
isoladament
e essa
questão (...);
---------------(...) os
profissionais
tem uma
visão de
que território
é o território,
que a UBS
é a UBS (...)
esse
conceito
tem que ser
trabalhado
(...) é poder
modificar
isso na
gente
enquanto
profissional
(...) que
inclua o
usuário.
Isso ainda é
um grande
desafio.
-----------------(...) aprender
conceitos de
humanização e
acolhimento para
reconhecer
pacientes
vulneráveis, ou não
(...) toda pessoa
que entra na UBS
deveria ser
recepcionada e
acolhida (...)
(...) a
maneira
como
aborda,
como ele é
acolhido,
isso é
fundamental
(...)
especial mesmo
(...) para que
sinta acolhido
(...) que seria
uma saída
humana para
aquele momento
(...)”
-------------------------------- (...) nessa
-----------------(...) acho que toda
pessoa que chega
a UBS, ela precisa
ser atendida e
ouvida (...)
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
(...) os
profissionais
terem
conheciment
o da
temática, de
ter a troca
de
experiência,
que possa
tornar um
trabalho
mais
tranqüilo(...)
abertura que o
município dá (...)
vejo a maior
prevenção (...) o
acesso a nós
psicólogos (...)
55
5.3.4.1 – TRABALHO INTEGRADO
A criação do SUS e o que ele preconiza em relação aos princípios
universalidade, integralidade, equidade e participação social vai ao encontro das
ações da psicologia. Essas ações estão pautadas numa busca pelo atendimento
à saúde de forma mais ampla, que nas palavras de Kahhale (2003) envolve os
aspectos médicos, sociais e psicológico, exigindo um trabalho integrado dentro de
um processo interdisciplinar. Essa autora aborda ainda a compreensão do homem
como ser histórico, social e dialético e que as práticas psicológicas devem pautar
em ações integradas evitando seguir o modelo biomédico.
Conforme Oliveira (2004) a criação do SUS com seus conceitos de
promoção, prevenção e recuperação de saúde, implicou uma proposta de
reformulação das práticas profissionais principalmente em relação ao principio da
integralidade nas UBS. Essa prática de saúde envolve mudanças nas ações para
um processo de intervenção diferente do biomédico. As entrevistadas Melancia e
Pêra ao pontuarem que a psicologia na UBS estabelece uma postura individual,
constata ao mesmo tempo que segue um modelo biomédico e não ações que
venham cumprir os Princípios do SUS. Ao analisar a fala da Uva, parece que a
relação estabelecida de fato é de forma individual, e que a parceria se determina
simplesmente no caso de encaminhamento e fim. Em relação a isso, Oliveira
(2004) retrata que o trabalho de equipe nas UBS não passa de alguns
encaminhamentos, solicitações de laudos, pareceres ou esparsas ações conjuntas
em casos de emergências psicológicas e médicas.
5.3.4.2 – CAPACITAÇÃO
Conforme Cais (2006) o Manual de Prevenção ao Suicídio lançado em
2006 no Brasil é um dos recursos disponíveis para orientar e facilitar o manejo dos
profissionais que lidam com esse tipo de problemática. Delgado (2006) afirma ser
um Manual criado exclusivamente para o CAPS com o objetivo de auxiliar as
equipes de saúde a lidar com a prevenção do risco de suicídio.
As entrevistadas Melancia, Uva e Pêra referem a questão da
capacitação da seguinte maneira, para Melancia “os profissionais integrados que
pudessem pensar na prevenção”. Para Uva “treinamento para todos os
56
profissionais de saúde para trabalhar o risco, a pessoa deveria ser atendida e
ouvida por um profissional que tivesse capacidade de perceber o risco”. Para
Pêra, “os profissionais ter conhecimento da temática.” constam que há
necessidade de um trabalho de capacitação, que a prevenção do comportamento
suicida exige empenho e treinamento de todos os profissionais da saúde.
Percebe-se que a criação do Manual de Prevenção ao Suicida conforme Cais
(2006) e Delgado (2006), foi criado para orientação e manejo para lidar com
questões referentes aos relatos das entrevistadas.
Percebe-se que para um trabalho de prevenção do comportamento
suicida é exigido da equipe de saúde preparação quanto a compreensão desse
fenômeno É percebido também que o Ministério da Saúde relata a importância de
se conhecer o plano de Prevenção ao Suicídio, traz informações fundamentais
como um referencial para os profissionais da saúde. Para Kahhale (2003) é
indispensável para atendimento de tentativa de suicídio, capacitar-se com visão
numa abordagem qualitativa histórica, além da individual.
5.3.4.3 – ATENDIMENTO HUMANIZADO
A Política de Humanização da Assistência a saúde (PHAS) foi
desenvolvida no ano de 2003 com a proposta de uma prática profissional na
atenção a saúde numa visão do ser em sua totalidade. Nesse sentido foi criada
como um desafio aos profissionais da saúde para orientá-los a ter um olhar
participativo do ser no processo saúde-doença (ANGNES, 2004 apud Souza,
2008). Conforme Souza (2008), com a criação do Sistema Único de Saúde (SUS),
garantido pela Constituição Federal Brasileira de 1988, houve mudanças na
concepção de saúde para uma atenção integral em garantir uma qualidade de vida
a todos os cidadãos. A partir do conceito de saúde como direito de todos e dever
do Estado entra em vigor os princípios de Universalidade, Equidade, Integralidade
e participação Social. Essa autora aborda um estudo sobre o tema humanização
no atendimento na saúde pública em que reflete e examina aspectos sobre a
relação entre o profissional da psicologia e o usuário.
57
Sobre o principio da Equidade Sisson (2007), relata que é um princípio
de justiça social, é a igualdade que supõe oportunidade para alcançar a saúde.
Para Travassos (1997), Equidade no sistema de saúde é a igualdade tomada
como condição importante para diminuir as desigualdades existentes entre o
adoecer e morrer.
Souza (2008) comenta que uma das maneiras de proporcionar o
atendimento humanizado é através do acolhimento, definindo-o como um
atendimento integral com valorização das questões do ser humano, desde a sua
entrada e saída no sistema de saúde. Uva, Pêra e jabuticaba, comungam formas
semelhantes a esse conceito, como também ao que preconiza o (PHAS). Assim
as entrevistadas se referem. “Aprender conceito de humanização para recepcionar
todos aqueles que chegam à UBS (Uva). “A maneira como aborda, como ele é
acolhido, isso é fundamental” (Pêra). “Atenção especial mesmo, para que sinta
visto e acolhido, que seria uma saída humana” (Jabuticaba). Percebe-se que
esses relatos associam ao conceito de atendimento integral com valorização das
questões do ser humano dado por Souza (2008). Diferente de Uva, Pêra e
Jabuticaba na forma de se apresentar, Melancia apresenta relato comentando
sobre a Equidade da seguinte forma: “com disponibilidade muito maior de atenção
do profissional da psicologia. “Àquela questão da Equidade mesmo, para uma
atenção mais ampliada, que não tem como trabalhar isoladamente essa questão”.
Sobre Equidade, Sisson (2007) e Travassos (1997) relatam que é um
princípio da justiça social que supõem igualdade e oportunidade para alcançar a
saúde e diminuir as desigualdades existentes entre os grupos sociais no adoecer
e morrer.” Percebe-se que, a associação abordada por Melancia quanto a
prevenção do risco de tentativa e Equidade contempla os conceitos de
humanização dados por Souza (2008), Sisson (2007) e Travassos (1997). Nesse
sentido as 4 entrevistadas comentam sobre o atendimento humanizado na
prevenção do risco de suicídio.
5.3.4.4 – PRÁTICAS PSICOLÓGICAS
A Atenção Básica se caracteriza por atendimento individual e coletivo
que se baseia nos princípios do Sistema Único de Saúde, a saber: saúde como
58
direito, Integralidade, Universalidade, Equidade, humanização e participação
social. A Atenção Básica é um dos níveis de atenção que a psicologia da saúde
se insere. As respostas dadas pelas entrevistadas parecem demonstrar
preocupação em cumprir práticas psicológicas ao que preconiza os princípios do
SUS. Ao mesmo tempo se vêem frente a desafios, em virtude do tipo de
sofrimento (prevenção ao suicídio) e de terem que pensar novas ações
interventivas.
A entrevistada Melancia relata “os profissionais tem uma visão de que o
território é o território, que a UBS é a UBS, esse conceito tem que ser trabalhado,
que inclua o usuário (...) mesmo o PSF, muito individualizado”, assim, Melancia
sinaliza que é preciso viabilizar mudanças para uma atenção integral, partindo da
visão do conceito de Território e UBS como unidades únicas, ao mesmo tempo
que crítica o PSF que deveria assumir ações conjuntas.
As palavras da entrevistada Uva “acho que toda pessoa que chega a
UBS, ela precisa ser atendida e ouvida”, nesse sentido Uva sinaliza que todos os
profissionais da saúde deveriam se capacitar para realizar atendimento
humanizado para uma atenção integral.
A fala da entrevistada Pêra “o trabalho em grupo, comunidade e os
profissionais terem conhecimento da temática de ter a troca de experiência, que
possa tornar um trabalho mais tranqüilo” a entrevistada Pêra pontua que deve
haver um trabalho integrado para adequar um modelo ampliado para que a
psicologia possa transitar com mais tranqüilidade e segurança.
Segue a fala da entrevistada Jabuticaba está relacionada ao município
“nessa abertura que o município dá, exatamente, exatamente vejo a maior
prevenção”.
5.3.5 – Como você percebe que esta temática poderia ser trabalhada nas
disciplinas do Curso de Psicologia?
As respostas das entrevistadas sobre essa questão referem-se aos seguintes
conteúdos:
Ter mais aulas de saúde mental, textos, técnicas, coletivo, disciplinas,
teoria, pratica, psicologia da saúde, estudo de caso, psicologia clínica, pesquisa,
questão curricular. Para esses conteúdos foi criada a categoria Realidade
Acadêmica.
59
Tabela 9 – REALIDADE ACADÊMICA
Melancia
Uva
Pêra
“(...) tive
Psicofarmacologia
que ia tratar dessa
sintomatologia por
remedinho
hahahaha, tu
entendes? Mas
não de
intervenções
possíveis (...)
(...) eu não tive
(disciplina no
curso)”
“(...) que o
profissional
consiga trabalhar a
saúde mental (...)”
“(...) Deve haver
disciplina sobre esse
assunto, tanto teórica
como prática.”
“(...) a matéria sobre
psicologia da saúde
eu não tive, nem sei
se agora tem (...)”
“(...) prática(...) na
minha época(...) não
é falado e nem
abordado, né, na
academia, há pouca
prática, era no final,
somente no
estágio(...)”
“(...) no curso que
tivesse pelo menos
2 cadeiras
(disciplinas) pra
trabalhar o
sofrimento
psíquico (...) a
condição do risco
(...)”
“(...) nós tivemos
disciplinas, saúde
mental,
psicopatologia,
políticas publicas, né
centrado no
diagnóstico (...)”
“(...) um sofrimento
no campo da saúde
mental, deveria ter
uma atenção maior
durante o curso (...)
fizemos o curso,
enquanto acadêmico,
e depois?
(...) mais vivencia,
estudo de caso”
“(...) Tema Polemico
(...) bem subjetivo (...)
fechado, e muito
pouco trabalhado.
Quando tive na
Universidade, foi até
mesmo em relação a
pesquisa, TCC e só.”
Jabuticaba
“(...) uma disciplina
clínica, né,
psicologia clínica
(...)na minha época
eram temas
passageiros,
citavam alguma
coisas(...) a não
ser que você
fizesse estagio
numa clínica, e tal,
e surgia esta
questão, e aí
trabalhava (...)”
“(...) usar uma base
teórica e exemplos
prático (...) talvez
até na questão do
estágio, para
quando vir para o
campo de trabalho
com entendimento
um pouco maior(...)
eu tive que
aprender na prática,
eu não tive (durante
o curso)”
“(...) usar uma base
teórica e exemplos
prático (...) talvez
até na questão do
estágio, para
quando vir para o
campo de trabalho
com entendimento
um pouco maior (...)
eu tive que
aprender na prática,
eu não tive (durante
o curso).”
“(...) precisa
despertar nos
alunos mais
pesquisas sobre o
assunto, usarem
uma base teória e
exemplos práticos
que despertasse
interesse no aluno,
talvez até na
questão do estágio
(...).”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
60
Conforme Camon (2002), morte, saúde pública, hospitalização e outras
temáticas devem ser assuntos necessários para formação do Psicólogo. Afirma
ainda que, a formação acadêmica dos Psicólogos é desproporcional a uma prática
dos serviços públicos, no âmbito da saúde. Nesse sentido, os modelos de atuação
acadêmica que tem sido oferecido, não comportam as demandas apresentadas
por uma determinada realidade. (CAMON, 2002)
Será que a psicologia acadêmica evita o tema da morte apenas porque
a morte não é assunto para investigação empírica? (HILLMAN, 2009, p. 67)
Para Hillman (2009) o suicídio é um dos grandes temas
limites da
psicologia e complexo em relação a outros tipos de sofrimento, considera, talvez,
o mais desafiador para um psicólogo.
Segundo Puent (2008), o suicídio é ainda visto como um tabu e um
assunto polêmico, inclusive no âmbito universitário. Relata que deve proceder
estudos sobre esse fenômeno para os devidos cuidados e especificação quanto
ao risco.
Isso que o autor comenta referencia ao que as entrevistadas Melancia,
Uva, Pêra e Jabuticaba relatam como sugestão no curso de psicologia, para
Melancia “(...) que trabalhasse a questão desse sofrimento psíquico que coloca a
pessoa em condição de risco (...) a gente tem profissionais que as vezes vão para
o CAPS com bastante dificuldade em atuar (...)”. Para Uva “Mais prática (...) na
minha época (...) não é falado e nem abordado, né na academia, há pouca prática,
deveria ter mais a prática”(...). Para Pêra “(...) é um sofrimento no campo da
saúde mental, deveria ter uma atenção maior durante o curso, enquanto
acadêmico tudo bem, e depois? È um tema polemico e pouco trabalhado (...)”
Para jabuticaba “(...) precisa despertar nos alunos mais pesquisa sobre o assunto,
usarem uma base teórica e exemplos práticos que despertasse interesse no
aluno, talvez até na questão do estágio(...)”.
Percebe-se que os relatos das entrevistadas estão em acordo tanto com
Puent (2008), que deve proceder estudos sobre esta problemática, como para
Camon (2002), cujo comentário é que
a formação dos psicólogos é
desproporcional a uma prática dos serviços públicos, no âmbito da saúde, que os
modelos de atuação acadêmica que tem sido oferecidos, não comporta demandas
apresentada por uma realidade. Em paralelo a isso, é que as entrevistadas
61
relatam que o assunto suicídio deveria ser abordado mais claramente, e com
novas formas de estudos dirigidos, para capacitar o aluno a lidar melhor quanto
aos cuidados, especificação e prevenção do risco de morte.
Para tanto, as
entrevistadas sugerem estudos sobre saúde mental, psicologia da saúde e que
fosse definida uma disciplina para trabalhar especificamente esse tema. E ainda,
que o assunto fosse abordado por meio de textos, teoria com exemplos práticos,
técnicas e proposta de pesquisa para incentivo aos alunos a se interessarem
estudar sobre o tema . Igualmente, Melancia, Uva, Pêra e Jabuticaba relataram
que a
formação acadêmica de cada uma, foi limitada.. Daí a base e origem
dessas sugestões.
5.3.6 – O que é a tentativa de suicídio?
A partir da pergunta de número 6 da Entrevista: “Gostarias de tecer
algum comentário de como se deve atender um paciente com risco de
tentativa de suicídio?” Optou-se utilizar esta pergunta, de maneira a obter uma
definição dos entrevistados, sobre o que para elas vem a ser a “tentativa de
suicídio”.
As respostas relatadas pelas entrevistadas referem-se aos seguintes
conteúdos: sofrimento, depressão, problema, tristeza, diagnóstico, risco, plano.
Sobre esse conteúdos definiu-se a categoria dor e sofrimento psíquico.
Tabela 10 – DOR E SOFRIMENTO PSIQUICO
Melancia
Uva
Pêra
“ Uma tristeza
“É a elaboração de
onde o paciente
um plano. Um olhar
descreve um
opaco, sem brilho em
fechamento de
que o corpo fala”
possibilidade,
algumas vezes diz
claramente que
não tem mais jeito
e nem saída.”
Fonte: autoria da própria Pesquisadora
“É uma depressão
profunda, um
sofrimento de não
querer fazer parte
desse mundo.”
Jabuticaba
“É quando não vê
outra saída para a
vida”
Callahan (1988) comenta que o sofrimento é mais amplo e complexo em
relação a dor. Essa pode ser definida como uma perturbação ou sensação no
62
corpo, e o sofrimento é um sentimento de angustia, vulnerabilidade, perda do
controle e ameaças a integridade do eu. O autor avalia ser importante essa
diferença para permitir um tratamento que vai além da dimensão física. Nesse
sentido cita a medicina psicossomática e a psicologia que tentam regatar o ser
humano tanto na dimensão físicobiológica como na social, psíquica e espiritual.
Sendo assim, para esse autor a dor não aliviada pode causar depressão e até
levar a pessoa a pedir para morrer. (CALLAHAN, 1988 apud PESSINI, 2002)
Cassorla (1991) quanto a tentativa de suicídio, coloca que a pessoa
tenta fugir do sofrimento provocado por situação de dor no percurso de sua vida, e
que isso não se refere ao querer morrer, e sim uma questão de não agüentar
viver, ou seja, não suportar dor e sofrimento.
Para Macedo e Werlang (2007) tentativa de suicídio “é um ato
decorrente da dor excessiva, tendo como única saída o falso alívio da morte”.
Kovacs (2002) descreve que “na tentativa de suicídio o sujeito é movido por uma
hierarquia com idéias e planos”. Para Cassorla (1991) “é a fuga do sofrimento
provocada por situação de dor”. No entanto, em Resmini (2004) “é um processo
em que ocorre a ambivalência, ou seja o sujeito não quer morrer e nem viver, mas
ambas as coisas ao mesmo tempo”.
Em paralelo a esses autores, as entrevistadas Melancia, Uva, Pêra e
Jabuticaba na rotina de seus atendimentos em busca de uma prática que favoreça
a saúde, têm para si, a elaboração de conceitos de um sofrimento psíquico – a
tentativa de suicídio. Conceitos demonstrados na tabela 10.
63
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Muitos são os conceitos que pairam sobre o fenômeno suicídio, no
entanto, o sofrimento que atropela uma pessoa, colocando-a na eminência de tirar
sua própria vida, foge do entendimento popular e cega de qualquer saída a aquele
que padece.
A relevância cientifica desta Pesquisa, refere-se à produção do
conhecimento a respeito das práticas psicológicas, que poderá ser utilizado pela
psicologia e outros profissionais de saúde como forma de tratamento e prevenção
ao risco de suicídio. Tendo em vista que há uma escassez de publicação sobre
essas práticas, esse material poderá também ser útil em abolir a negação, o
preconceito e o tabu presente ainda nesse assunto. Além da relevância científica,
terá a relevância social que proporcionará a sociedade de uma maneira geral, a
obter esclarecimentos da necessidade e importância do tratamento nos casos de
tentativa de suicídio. Igualmente por ser o suicídio um assunto cercado de tabus e
preconceitos. De posse desse conhecimento, as pessoas poderão ter um novo
olhar, ou seja, o suicídio poderá passar a ser visto como uma questão de saúde.
De acordo com os resultados obtidos através do levantamento de dados
junto às entrevistadas desta pesquisa, em relação ao primeiro objetivo específico,
identificar entendimentos teóricos e procedimentos de intervenção de psicólogos,
utilizados nos atendimentos de casos de tentativas de suicídio nas UBS de
Palhoça/SC, atingiu-se este objetivo específico, porque obteve-se através das
entrevistas realizadas com as psicólogas da UBS a identificação de que a
intervenção nos casos de tentativa de suicídio se estabelece por atendimento de
forma individual, familiar e psiquiátrica.
Nesse sentido, os entendimentos teóricos e práticos se referem aos
procedimentos, percepção do risco e prevenção ao risco. Quanto aos
procedimentos foram identificados como sendo estes: o vínculo, o acolhimento, o
encaminhamento a psiquiatria e o processo terapêutico. Quanto à percepção do
risco foi detectado que o sofrimento psíquico nem sempre está associado aos
transtornos mentais. E para prevenção ao risco da tentativa de suicídio foi
detectada a necessidade de um trabalho integrado com os profissionais da saúde
tanto de nível técnico, como de nível superior.
64
Em relação ao segundo objetivo específico, identificar quais facilidades
e dificuldades encontradas por psicólogos nos atendimentos de tentativas de
suicídio na UBS de Palhoça/SC, foi atingido porque encontrou-se nas respostas
apresentadas pelas entrevistadas, como facilidade, o reconhecimento da
oportunidade de oferecer o trabalho da Psicologia atualmente e o apoio da maioria
das Família. Como dificuldade, encontrou-se na fala das entrevistadas, a falta de
um trabalho interdisciplinar, seguido da ineficiência de um trabalho integral, assim
como, a falta da compreensão de um atendimento humanizado na área da saúde,
e capacitação por parte dos profissionais na área da saúde.
Em relação ao terceiro objetivo específico, identificar procedimento do
psicólogo em relação a ações preventivas frente ao fenômeno do suicídio, este
objetivo foi respondido na fala das entrevistadas, como a inexistência de ações
sistematizadas, quanto à prevenção da tentativa ou risco do suicídio. O risco é
detectado na relação com o paciente, por meio da observação, de sofrimento
psíquico verbalizado ou não e da tentativa de suicídio anterior.
O foco desta Pesquisa foi o de caracterizar a intervenção do Psicólogo
frente a casos de tentativas de suicídio, para evitar novas tentativas ou o suicídio,
em pacientes atendidos na UBS de Palhoça. Este objetivo foi atingido ao ser
pontuado pelas entrevistadas que estabelecem um trabalho terapeutico com o
paciente num atendimento baseado no vínculo e acolhimento, sendo utilizado
como parceria a família e a psiquiatria como recursos de apoio.
No processo de desenvolvimento desta Pesquisa, como trabalho de
conclusão de curso, teve-se como dificuldade para dar seqüência a esta Pesquisa,
o atraso para início da coleta de dados, pois não foi possível viabilizar contato
conforme havia sido combinado anteriormente, com a coordenadora da UBS por
motivos de contágio da gripe suína. Nesse sentido os alunos que prestavam
estágio nas UBS, estavam dispensados das atividades durante o mês de agosto,
por ordem e prevenção da Instituição de Ensino - UNISUL. O número de
profissionais da Psicologia lotados nas UBS encontra-se atualmente reduzido, o
que não inviabilizou a Pesquisa, no entanto, esta amostra representa 100% do
quadro destes profissionais em atividade, o que refere-se a 4 (quatro). Quanto à
coleta de dados, para realização das entrevistas teve uma rotina de início, meio e
fim, sem maiores dificuldades, ou seja, não houve a incidência de quaisquer
65
eventos
emergentes
que
pudessem
interferir,
tanto
em
mudanças
de
agendamentos, como durante a realização das entrevistas.
Um dos momentos de dificuldades percebidos na elaboração desta
Pesquisa foi o processo de análise de dados, o qual exigiu esforços para em
nenhum momento, perder o foco em relação à temática proposta. Esses esforços
exigiram um tempo maior na articulação das falas das entrevistadas, com literatura
pesquisada, para com isso, obter um estudo claro e preciso.
66
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69
APÊNDICE
70
UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA COMISSÃO
DE ÉTICA EM PESQUISA - CEP UNISUL TERMO DE
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
O presente Projeto de Pesquisa intitulado “TENTATIVA DE SUICÍDIO E A
INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO”, consiste no Trabalho de Conclusão de Curso
e é uma atividade da disciplina TCC-I, dentro do Núcleo da Saúde, do Curso de
Psicologia da Universidade do Sul de Santa Catarina (UNISUL).
Eu,___________________________________________________
confirmo que a acadêmica e pesquisadora Regina Lúcia Castiglioni Guidoni,
informou-me do que se trata esta pesquisa, onde estou ciente de que
disponibilizarei cerca de 30 minutos para responder as suas perguntas, durante
somente um encontro, o qual será combinado previamente, data e hora. O local
será combinado previamente, e a entrevista decorrerá com base em um
questionário com cerca de 7 perguntas, as quais tenho plena liberdade de não
respondê-las, se assim achar necessário. Não é necessário nenhum tipo de roupa
especial, posso me apresentar para a entrevista com a roupa que costumo usar no
meu dia-a-dia.
Sei que o objetivo desta Pesquisa é caracterizar a intervenção do psicólogo
frente a pacientes de tentativa de suicídio na UBS de Palhoça/SC, e tais perguntas
não oferecem nenhum tipo de risco para o paciente investigado, assim como
também, não apresentam nenhum tipo de desconforto para a pessoa que irá
respondê-lo. Minha participação nesta pesquisa é muito importante, porque ao
responder suas perguntas estarei colaborando para o desenvolvimento de seu
trabalho, o que amanhã ou depois, poderá estar beneficiando outros psicólogos
em lidar com pacientes com risco e ou tentativa de suicídio. Estou ciente também,
que no decorrer da entrevista, somente o entrevistador estará presente.
Este trabalho de pesquisa pode ser utilizado como base para publicação, e
caso eu tenha alguma dúvida, poderei contatar com o pesquisador pelo telefone
(48) 8408-0632 ou pelo e-mail [email protected].
Ainda assim, poderei
71
contatar com sua orientadora, a Profª. Zuleica Pretto, pelo telefone da UNISUL (48) 3279-1084.
TERMO DE CONSENTIMENTO
Declaro que fui informado sobre todos os procedimentos da pesquisa e que
recebi, de forma clara e objetiva, todas as explicações pertinentes ao projeto e que
todos os dados a meu respeito serão sigilosos. Eu compreendo que neste estudo
as medições dos experimentos/procedimentos de tratamento serão feitas em mim.
Declaro que fui informado que posso me retirar do estudo a qualquer momento.
Nome por
extenso:
RG :
Local e Data:
Assinatura:
Adaptado de: (1) South Sheffield Ethics Committee, Sheffield Health Authority, UK;
(2) Comitê de Ética em pesquisa - CEFID - Udesc, Florianópolis, BR.
72
ANEXO
73
QUESTIONÁRIO:
Dados de Identificação:
Nome:___________________________________________________________
Idade:__________
Estado Civil:________________________________
Profissão:__________________________________
Local de Trabalho:_________________________________________________
Instituição que se Formou:__________________________________________
Tempo de Trabalho:________________________________________________
1) Você já atendeu casos de tentativa de suicídio? Como foi seu procedimento na
ocasião?
2) Como você percebe o risco de tentativa de suicídio, em um paciente em
atendimento?
3) Existe alguma rotina interdisciplinar nas UBS em prol da prevenção ao risco de
tentativas de suicídio? Se a resposta for afirmativa, como é essa campanha?
4) Caso não exista nenhuma rotina preventiva ao riso de tentativa de suicídio,
como você percebe a melhor maneira de prevenir esse tipo de risco?
5) Como você percebe que esta temática poderia ser trabalhada nas disciplinas do
Curso de Psicologia?
6) Gostaria de tecer algum comentário de como se deve atender um paciente com
risco de tentativa de suicídio?
74
ENTREVISTA MELANCIA
Entrevista número - 1 Sra. Melancia
Idade – 41 anos
Estado civil – casado
Profissão – psicologia
Local de trabalho – prefeitura de palhoça
Instituição que se formou – UFSC
Tempo de trabalho – 1 ano e meio na prefeitura, e 15 anos na saúde publica
1Você já atendeu caso de tentativa de suicídio? Como foi seu
procedimento na ocasião?
Sra. Melancia - sim. Já atendi. Então, na UBS trabalhei 10 anos, vou tentar
caracterizar um pouquinho a questão da pessoa que solicitava esse atendimento,
né, então eram mulheres, né, em sua maioria, a gente tem isso estatisticamente
meio que comprovado. Havia não só a tentativa de suicídio, mas também outros
sofrimentos como o relacionamento no casamento, crianças com dificuldades de
aprendizagem. O sofrimento que mais aparecia era a situação de relacionamento,
o sofrimento conjugal que na maioria das vezes era apresentado pelas mulheres,
né, o sofrimento já vinha da própria família nuclear, né, desde de criança, né,
aquela historia sofrida e, muitas já caracterizando a depressão.
Pesquisadora – além desses sofrimentos que você está falando, era anunciado a
questão tentativa de suicídio?
Sra. – sim, sim, não era via sofrimento, mas teve um período, foi até bem
interessante, me parece que a impressão que dava, que o período localizava a
sintomatologia, parece que todas vinham procurar naquele mesmo período, era
muito interessante. Não foram muitos casos, até digo, nesse tempo era mais uma
questão depressiva. E os casos de tentativa de suicídio estavam relacionado a
questão de abuso sexual., a maioria deles. A questão de abuso sexual, tá, a gente
sempre tinha a questão da tentativa de suicídio. Não sei se são dados de pesquisa
se existe em alguma, não me aprofundei. Assim, na época, até lembro-me, que
pensei montar um grupo que a gente pudesse trabalhar um pouquinho com essas
mulheres, para fazer uma partilha, claro, que a gente teria que fazer todo um
trabalho, para poder, ir colocando a essa dinâmica diferenciada, que numa
situação, assim, néee de tentativa de suicídio, a idéia era buscar atendimento
individual para primeiro fazer um vínculo, vínculo mais forte, e tal, era ligado a
pessoa da queixa, de colocar que tinha tentado suicídio.
Pesquisadora – Você disse que a tentativa de suicídio, a maioria dos casos,
estava ligada a questão do abuso sexual. Podes falar sobre isso?
Sra, Melancia - Muito ligado a questão de abuso sexual, em mulheres. Em
homens nunca consegui identificar, durante o período todo.
Pesquisadora – Então, como foi seu procedimento nos casos de atendimento de
tentativa de suicídio?
Sra Melancia – Porque assim, na verdade, que essas pessoas procuravam, é
claro que, ela talvez, vem e não colocam, assim, oh...! No segundo ou terceiro dia
do atendimento, como já tinha um vínculo ela discorria tranquilamente sobre esta
questão, né, e um pouquinho mais ela fazia, né, essa associação com o abuso
sexual, pelo menos 6 ou 7 mulheres tinham essa associação, né, com relação ao
abuso, o que na verdade, quando isso tava sendo colocado, uma primeira
75
possibilidade assim que eu tomava era na verdade, tornar um vínculo mais
continuo com esse sofrimento, com a pessoa com esse sofrimento. Então, assim,
tu sabes que, a gente tem uma demanda muito grande na Atenção Básica. E o
que acontece? Tu acabas fazendo um acolhimento mais ampliado com esse tipo
de situação, como se criasse um vínculo mais próximo para que tu pudesses ter
um vínculo de confiança, para essa pessoa ir se colocando cada vez mais e
minimizando esse sofrimento de alguma forma, com outras possibilidades na vida
dela, para que essa tentativa, é claro, ficasse diminuída. Na verdade, uma outra
questão, era também, tá, assim poder está trabalhando com outros profissionais,
né, alguns casos que tu visse, que realmente, já havia, que esse vínculo até se
fazia, mas que tu ainda permanecia com esse risco, de associar outros
profissionais, de, né poder trabalhar um pouquinho com o médico, dar uma
olhada com o médico. A gente fez, ver no prontuário uma das pacientes.
Trabalhou um pouco mais com o médico ali da UBS, que a gente via que tinha
uma questão mais assim, para trabalhar, fortalecer esse vínculo. E uma outra
necessidade se, a gente, conseguisse, mais profissionais no atendimento, incluir
também a área da psiquiatria na atenção básica para poder minimizar essa
questão da tentativa.
Pesquisadora – Você disse que havia uma maior relação com a tentativa de
suicídio e abuso sexual. E havia outras situações que você relacionava?
Sra. Melancia – Em pouquíssimas situações, em pouquíssimas situações mesmo,
na verdade, até posso te falar de 2 grupos que eu via. Alguns com intensidade
que via seqüelas no corpo, já sentia que houve um agravo, que estava em
recuperação mesmo. Uma das situações, uma das situações, que era realmente
uma situação aguda. Foi feita visita domiciliar, a gente fez encaminhamento para o
Caps para poder, né ter essa situação no final de semana, a idéia de perceber que
nesse momento não havia uma colocação de tentativa de suicídio, mas sabia,
sentia, né que tinha um risco iminente. Então, acabei levando essa paciente para
conhecer o Caps, de conseguir fazer uma interação maior, que na época isso era
distante,hoje isso já mudou. E essa pessoa acabou entrando no programa, e aí a
gente viu que era um risco naquele final de semana. Nessa situação, essa
aproximação que vai fazendo, tu vai sentindo que tem esse sofrimento, que vai
aparecendo, cada vez mais que está iminente. A cada momento, minha grande
questão é ter um vínculo maior. Fazer um acolhimento mais amplo, ter uma base
de relação maior, e isso é refletido na situação de modificação do outro.
Aí né nesse caso, deixei, né, tive que deixar as outras pessoas aguardando para
poder fazer essa intervenção imediata, né. Mas sem fala, sem esta explicita.
Então, nesse, mas, olha! Foi o momento sim. Ou aí tem algumas possibilidades,
ou a minha percepção não estava aguçada para essa situação, que não foram
tantos casos assim, né, e do que a gente saiba, pelo menos, as pessoas que
estavam sendo atendidas, não havia. Não cometeram suicídio, entendeu? Ou
então se o índice era maior, que eu não tenha percepção do profissional. Depois
se constatou, que realmente, não era porque a gente não teve, né suicídio nessas
situações aí. Mas essa pessoa que estava em atendimento, ela realmente, né,
houve a iminência da coisa, mas sem a verbalização e de tomar atitude mesmo.,
né. E as outras eram pessoas que já tinham passado pela tentativa, acho, que
nessa foi na angustia de todo, do sofrimento anterior, inclusive, relatando a história
do abuso, e que alguma já chegaram com alguma superação, entende? Então,
76
não, não tinha isso tão iminente na situação, ou discurso, ou do físico do próprio
corpo.
Pesquisadora – Então você quis dizer que percebia a tentativa de suicídio em 2
situações, em decorrência do sofrimentos pelo abuso sexual, e pelas marcas no
corpo. Fora isso, o que tens a dizer?
Sra. Melancia – Isso que te coloco, assim, na verdade, a princípio na Atenção
Básica, talvez a questão dos homens. Aí a gente vai falar da procura desse
acolhimento é desproporcional, né, é enorme a procura pro atendimento em
mulheres. Bem raro esse atendimento entre os homens. Cheguei atender um caso
de homem, que tinha droga envolvida, que ele verbalizou. Pela agonia de usar de
drogas, e como meio de solucionar isso, queria morrer como meio de solucionar,
de solucionar esse sofrimento, de querer, de querer mais e mais a droga.
Solucionar isso pela tentativa de suicídio.
Pesquisadora – E qual foi seu procedimento nesse caso?
Sra. Melancia – Isso é o que te coloco, com relação a ele, que na verdade, colocar
essa proximidade aí, que passei a fazer, uma intervenção de trabalhar um
pouquinho mais a família in lócus, mesmo. Na família. Então, aí que está, acho
que,muitos dos profissionais, é, o quanto que tem se deslocar, nessas situações,
para poder ampliar essa possibilidade de contato com essa pessoa e alguns
encaminhamentos, até poder fazer em conjunto.
2 – Como você percebe o risco de tentativa de suicídio em um paciente em
atendimento?
Sra. Melancia – Regina, uma tristeza onde o paciente descreve um fechamento de
possibilidades na vida, algumas vezes diz claramente que "não tem mais jeito",
"não tenho saída"; terapeuticamente busca-se construir com este "pequenas
possibilidades e outras maiores" a longo prazo, pautando para estas a paulatina
melhora da tristeza que envolve a vida deste sujeito. Outros pacientes com
tentativas anteriores de suicídio carregam as marcas no corpo ainda identificando
a eminência de um novo risco de atentar contra a vida. Trabalhar as conquistas
diárias e os "ferimentos emocionais" aparentes no corpo, simultâneamente nestas
situações, dá suporte para a discriminação e exclusão que sofre este pcte. A
percepção do profissional de Psicologia nestas situações deve intensificar o
contato com estes usuários, buscando uma vinculação maior, um suporte com
bases largas de vínculo, objetivando a alteração do fechamento de possibilidades
para a vida.
3 – Existe alguma rotina interdisciplinar nas UBS em prol da prevenção ao
risco de tentativa de suicídio?
Não, não existe, o que acontecia era a postura do profissional naquele momento
lá, o que? Na verdade fazer uma ampliação do contato do profissional e ver o que
ta acontecendo.
4 – Como você percebe a melhor maneira de prevenir o risco de tentativa de
suicídio?
Assim, de inicio, tem algumas questões, que não consegue formar equipes. A
idéia, realmente, que se pudesse trabalhar em grupo, ou também de outra forma,
algum trabalho na própria comunidade, que os profissionais pudessem estar
integrado ali naquele trabalho em grupo. Mas no município isso é muito difícil, é
77
uma questão muito difícil. E não só grupo lá dentro da UBS, promover um grupo
lá dentro. Primeiro que os próprios profissionais tem uma visão de que o território
é o território, que a UB é a unidade de saúde. Mas é assim, né. Esse conceito tem
que ser trabalhado. É difícil. E uma outra questão é poder modificar isso na
gente, enquanto profissional, e também possibilitando, seja nos conselhos
locais, e tal, essa outra possibilidade de atuar, né que inclua né, o usuário. Então
isso ainda é um grande desafio.
Pesquisadora,- - Isso que você esta me dizendo, considera formas de prevenção?
Sra. Melancia - Isso é inclusão,e forma na prevenção. A forma de pensar seria, a
forma de pensar, de como seria interessante, inclusive com esse usuário, pensar
o que é mais importante e interessante, o que achas, o que mais importante na
atenção a esse sintoma que tem um sofrimento, que tem, né.
Pesquisadora – Como você vê o trabalho na atenção básica?
Sra. Melancia – Na atenção ao suicídio? Muito ruim, ruim, ruim. A atenção básica
não faz. O que vai fazer? É colocar para o CAPS. Porque, na verdade, quando
você vai falar dessa questão, você vai falar de uma atenção é, que, a AB não vai
fazer, vai passar pelos meios dos dedos da AB, tu entende?
Pesquisadora, o que é passar pelos meios dos dedos?
Sra. Melancia – ninguém vai pegar essa atenção. O que vai fazer, simplesmente,
é colocar para o Caps para uma atenção especializada, tu entendes? Acho que
nessa condição, o profissional de psicologia, ele, até consegue, tu entendes, com
toda a questão.
Pesquisadora – Você fala da importância do trabalho em conjunto,, equipe. Como
você vê esse trabalho?
Sra.Melancia – Eu vejo como algo primordial, na verdade o que acontece na rede
– o Caps é um programa multiprofissional, essa atenção é discutida, precisa
sentar e discutir possibilitando. Como estão no mesmo espaço e tempo, né isso
facilita. Na AB, isso poderia ser desenvolvido. A psiquiatria consegue por uma via
medicamentosa tentar fazer esse movimento, mas não de um acolhimento, de um
acolhimento ampliado, tu entendes? Que o multiprofissional daria pra fazer.
Pesquisadora – fale um pouco de como seria esse trabalho integrado –
Sra.Melancia – Os profissionais integrados que tivesse um horário, para fazer
individualizado, que se pudesse pensar na prevenção, na, inclusive na
comunidade, porque não é integrado? Porque a gente tem a condição de postura,
ainda a questão de postura, né, mesmo na equipe da saúde da família ,no PSF,
de ainda ser muito individualizado, tanto dos profissionais como de incluir o
usuário, de pensar no tratamento dele.
5 – Como você percebe que esta temática poderia ser trabalhada na
disciplina do curso de psicologia?
Sra. Melancia - nossaaaaaaaaaa! Ra,rararaaaaa! Isso seria uma maravilha! Me
diz aqui, minha formação, assim, oh! Claro, nós fomos para IPQ, a questão do
risco de suicídio, né, numa prática extremamente fora da ousada do psicólogo,
como se ele não conseguisse fazer intervenção na situação de suicídio, naquela
época lá, o que era , era o tratamento medicamentoso e fim. Entende, então
prevenção não. Depois que, que a coisa aconteceu, né, iria para o IPQ. Ou já
tava, já, realmente, conseguido acabar com sua vida, era o final da coisa. Então,
não se pegava nada. Hoje, ainda na AB você consegue pegar isso, de alguma
forma, dentro dessa percepção, do relato, aé incluindo outros atores, como a
78
família que, acho que nos auxilia, inclusive, não no relato das coisas, mas tu
consegues perceber na situação da própria família. Mas assim, Oh, a gente com
relação a questão suicídio, a gente passava batido, quando tu entravas lá no IPQ,
é que iria aproximar disso e deu. A gente não tinha uma disciplina, eu não tive.
Entende! Eu não tive na questão curricular. Assim, claro que teve
psicofarmacologia que ia tratar dessa sintomatologia por remedinho hahahaha,
tu entende? Mas, não de intervenções possíveis. Ao meu ver,
quanto mais
intenso o sofrimento, mais intensivo seria a aproximação do vínculo. É um
trabalho intenso que precisa se colocar. Da Universidade não houve. Sobre a
formação pra gente, que o profissional consiga trabalhar a saúde mental, desde
da relação familiar, e trabalhar a questão do grupo. Trabalhar textos ou técnicas,
ou possibilidades de intervenções em conjunto. Porque o que vejo é muito
individualismo, a nossa formação é muito individualista, de consultório. Entende?
Nossa postura é individualista, é o mesmo que se vê também na área médica.
Acho que tem uma questão do ser humano que é assim, eu fico com o meu.
Entende? E aí, essa é a questão né, que a gente vê na área médica. Então, a
gente tem uma postura que é mesmo individualista. Rarararara, enquanto a gente
não trabalhar pro coletivo e no coletivo, acho que fica complicado qualquer
possibilidade de intervenção, entende? E o trabalho no curso, que tivesse pelo
menos umas 2 cadeiras, né, que trabalhasse essa questão, ou a quetão do
sofrimento psíquico, sei lá, em condição de risco, algo do gênero, ta, né. O
sofrimento que coloca a pessoa em condição de risco, seja suicídio, seja a
questão da própria violência. Por isso que a gente tem também, os profissionais
que, as vezes, vão para os Caps com bastante dificuldades em atuar. Atuando
frente a uma sintomatologia instalada e tal.
6 – Gostaria de tecer algum comentário de como se deve atender um
paciente com risco de tentativa de suicídio?
Sra. Melancia - Com a disponibilidade muito maior de atenção do profissional de
psicologia, entende? Aquela questão da equidade mesmo, onde vai fazer essa
atenção mais ampliada, e assim, oh, chamar os profissionais para que estejam
juntos, né, essa possibilidade de ta trazendo as pessoas ao convívio direto com
essa pessoa. Porque acho, não tem, né como isoladamente trabalhar isso
também, essa questão. Né, essa teia de relações que essa pessoa tem, de poder
estar em contato com ela. E para isso, vai ter que sair da salinha do consultório,
néé, verdade, sair do consultório para saber como a coisa funciona,
rarararararararararararraaarara.
79
ENTREVISTA UVA
Entrevista número 2 – UVA
Idade – 35 anos
Estado civil - casada
Profissão – psicóloga
Local de trabalho – UBS – prefeitura de Palhoça
Instituição que se formou – UFSC
Tempo de trabalho – 11 anos.
1 - Você já atendeu casos de tentativas de suicídio? Qual foi seu
procedimento?
- Já atendi sim.
Quanto ao procedimento, primeiro faço uma avaliação, um diagnóstico, eu então
avalio, pra mim, a gravidade está relacionada muito ao concreto, o elaborar tal
plano para o suicídio. Se é uma idéia que apenas passou pela cabeça, eu fico
atenta,, né, e, geralmente, encaminho para o psiquiatra. Tomar medicação, se já
tentou fico mais cuidadosa, porque assim, se o plano está muito próximo do
concreto, né, que a pessoa já pensou, por exemplo já separou material. As vezes,
já me contaram que colocou a corda no pescoço. Quando percebo o risco real
chamo a família, não posso deixar o paciente sair sozinho porque está correndo o
risco, é uma questão ética com meus princípios. Chamo a família para fazer uma
internação. Dependendo do caso vai direto para internação para vigilância 24 h.
− Pesquisadora: Você quis dizer que seu procedimento envolve o médico...
− Uva -Sim , médico, a família, a medicação ou internação dependendo do
caso.
2 - Como você percebe o risco de tentativa de suicídio em um paciente em
atendimento?
- Uva - Então se está muito próximo do concreto, que eu percebo que para
executar falta pouco, o risco é muito grande. Trago, busco informações, se já
tentou, quando? Se planejou – tu já tentou? De que forma? Tu pensas fazer isso
mesmo? Quando vou investigando, vou entrando na história, como? Quando?
Pesquisadora – e quando ele não fala?
-Uva –É difícil não falar, é difícil não falar. Mas daí agente percebe, através do
diagnóstico mesmo, geralmente é uma depressão profunda, ou então tem
alucinações visuais ou auditivas, delírio persecutório, fico mais atenta.
Pesquisadora – você está me dizendo a tentativa de suicídio nos processos de
depressão – Há casos de tentativa de suicídio sem o sujeito estar em
depressão?
Uva- Nos casos, as vezes de psicótico, ou paciente em surto, e falam. Ou
percebo sim, se está tendo algum tipo, como te falei, de delírio percecutório,
alucinação. Percebo no olhar, olhar opaco, sem brilho, quase não fala. A postura
do corpo diz, o físico diz, o corpo fala. Percebe-se toda a situação, o olhar é para
baixo, não consegue olhar pra ti. Estou falando de uma maneira geral, do grau de
depressão. São questões que eu avalio. A maioria dos casos em relação ao
suicídio são de depressão grave, com delírios e alucinações.
Pesquisadora Fale de suas facilidades encontradas nos atendimentos-
80
Uva – a colaboração das famílias, estão sempre disponíveis e geralmente
seguem as orientações, o que facilita bastante, o que ela dão.
Pesquisadora – e as dificuldades encontradas –. A questão da locomoção, muitas
vezes não tem como levar para internação. È algo que não é fácil.
Pesquisadora – Você considera que a psiquiatria auxilia –
Uva – sim, bom, como te falei, por exemplo, vou dar um exemplo; caso de
depressão, né, os 3 tipos, leve, moderada e grave. Por exemplo na moderada e
grave – os pensamentos de suicídio são algo que normalmente aparece nos
relatos. Então, o auxilio é justamente isso, é uma prevenção, o encaminhamento.
Nesse sentido a parceria com a psiquiatria é fundamental, fundamental.
Pesquisadora – você falou que percebe o risco da tentativa de suicidio quando o
paciente fala, e quando ele não fala, podes falar um pouco mais sobre isso?
-Uva – quando ele não fala fica difícil porque a gente não tem bola de cristal, né?
Então como te falei, o que percebo é o grau de comprometimento daquela pessoa
ou daquele individuo. O que está apresentando é o grau de comprometimento.
Com isso daí, já fico atenta, né. Com a história anterior, se houve tentativa, e aí
fico mais atenta ainda. Mas se ele não fala, realmente, é só hipótese.
Pesquisadora – você quer dizer que percebe as hipótese –
Uva – sim as hipóteses eu sempre levanto, são possibilidade, depende do quadro
dele, como te falei, dependendo da história fico mais atenta ou não. Se ele está
num grau muito elevado de depressão eu sei que é um risco. Se está
acontecendo delírio percecutório. Se ele diz que a família quer mata-lo. Que todos
estão contra ele, fica isolado. Ou está em surto. Ou ainda anda com uma faca, não
precisa de dizer que quer se matar. É claro que vou ficar atenta, muito atenta, vou
ficar ligada, atenta. Um exemplo que aconteceu comigo: tive a experiencia com
uma moça, em que não havia vinculo algum com ela. Bateu na porta e disse que
queria ser atendida. Expliquei que no momento não tinha vaga, teria que deixar o
nome e marcar um horário. Ela me respondeu: “se você não me atender agora,
vou me matar.” Aí, imediatamente, foi aonde que parei com tudo, e a atendi .
Quando uma pessoa, fala isso, nem penso a possibilidade de que ela está
brincando, eu levo a sério. Ela tinha uma faca na bolsa, aí imediatamente, tomei
algumas atitudes.
Pesquisadora- Essa paciente disse que estava precisando de atendimento Uva – É, ela só falou, “preciso de atendimento, mas ela não falou de inicio que
queria se matar. Geralmente eles falam, principalmente se tem um vínculo. Já
atendi pessoas que na segunda sessão já falaram ou mesmo no inicio do
tratamento.
Pesquisadora – você fala da tentativa de suicídio nos casos de depressão – há
outros casos sem estar relacionado a depressão?
Uva – Não, não, geralmente tem depressão junto, né. Por exemplo, atendi um
outro menino bipolar, né, estava na fase deprimida, né. Ele falava nessa
possibilidade. Agora por exemplo, paciente com esquizofrenia eles vão para os
CAPS.
_Quando o paciente não fala, tem como avaliar, não tem como ter certeza, levanto
hipótese de possibilidades. Se estar deprimido, fico atenta. Ou com mania de
perseguição, enfim coisa desse tipo. Mas, não posso afirmar, ele não me contou.
Através do corpo eu posso criar hipóteses.
Pesquisadora – As hipóteses já se confirmaram?
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Uva – sim, sim, sim. Muito também da intuição, da experiencia, da expressão
corporal, do não verbal e a intuição mesmo.
Pesquisadora – Você disse que a expressão corporal sinalisa riscos
Uva – sim, sim ,sim, possibilidades.
3 - Existe alguma rotina interdisciplinar Nas UBS em prol da prevenção ao
risco de tentativa de suicídio?
Uva – não, nenhuma.
4 - Como não existe nenhuma rotina ao risco de tentativa de suicídio, como
você percebe a melhor maneira de prevenir esse risco?
Uva -Uma das maneiras que levanto é: acho que toda pessoa que chega a UBS,
ela precisa ser atendida, ouvida por um profissional que tivesse a capacidade de
perceber, né o risco ou não, né. Então isso é uma coisa que coloquei varias vezes
precisaria estar reunindo tanto técnicos como profissionais de nível superior eles
mesmos poderiam estar encaminhando ao especialista, solicitando por exemplo
uma internação. Muitas vezes vem procurar o médico, se não tem vaga, ela não
foi escutada, nem ouvida e nem acolhida. Esta pessoa não teve atendimento, não
foi acolhida. Eu acredito se houvesse um treinamento para todos os profissionais
para trabalhar o risco, isso seria um trabalho de prevenção. Toda pessoa que
entra na UBS deveria ser recepcionada e acolhida. Poderia se revesar, um dia um
faz o papel de acolhedor e assim vai. Não seria um plantão, seria um trabalho de
acolhimento mesmo, porque as pessoas não são acolhidas, pra mim isso não é
acolhimento, se ela vai para o medico ou não. A pessoa que chega, ela tem que
ter um encaminhamento, tem que sair com alguma solução, ou pelo menos ser
escutada. Para esse trabalho, não precisa de formação especifica, é uma questão
de capacita. Aprender os conceitos de humanização, acolhimento, coisas básicas
para reconhecer pacientes vulneráveis ou não. Isso deveria ser para todos os
profissionais. Talvez seja um pouco utópico, no atual sistema é difícil acontecer.
5 – como você percebe que esta temática poderia ser trabalhada nas
disciplinas do curso de psicologia?
Uva – Não é falado e nem abordado, né na academia, há pouca prática, deveria
ter mais prática. Continua muito técnico teórico. Na UFESC por exemplo, pelo
menos na minha época a prática era no final, somente no estagio. E a matéria
psicologia da saúde não tive, nem sei se agora tem. Deve haver tanto disciplina
sobre esse assunto, tanto teórica como prática.
6 – Gostaria de tecer algum comentário de como se deve atender um
paciente com risco de tentativa de suicídio?
Uva – Vejo não só paciente com tentativa de suicídio, mas qualquer sofrimento.
O profissional tem que desenvolver sua capacidade empática, comprometimento
de levar a sério, estudar, ter paciência, capacidade de fazer vinculo, ter a
compaixão, e curiosidade pela historia humana.
Como te falei, não acho diferente das outras temáticas. Tanto o suicídio como
qualquer outra temática, por exemplo, o abuso sexual, enfim. Quanto mais o
profissional tiver habilitado e com conhecimento técnico teórico, melhor será o
trabalho administrado.
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Buscar conhecer, ser acolhedor, empático, e ter particularidades técnicas. Fazer
terapia é também algo essencial. E mais levar a sério quando alguém falar, não
achar que é bobagem, não ser onipotente e não acreditar somente no processo
terapêutico, contar sempre com apoio de outros profissionais e da família.
83
ENTREVISTA PÊRA
Entrevista número 3 – Sra. Pera
Idade – 29 anos
Estado civil – união estáve
Profissão – Psicóloga
Local de trabalho – Prefeitura de Palhoça – UBS
Instituição que se formou – UNISUL
Tempo de trabalho – 1 ano e meio.
1 – Você já atendeu algum caso de tentativa de suicídio? Como foi seu
procedimento na ocasião?
Pera: Sim, já atendi. Quanto ao procedimento, atendi 3 casos de tentativas.
Então, faço intervenção da seguinte maneira: eu trabalho individualmente com
essa pessoa, as razões do que acontece, a família para que ela possa se
comprometer com essa pessoa, com os cuidados mais intensivo dessa pessoa,
com relação a casos diversos, que cada pessoa está num contexto familiar,
totalmente diferente. A comunidade é diferente uma da outra. Como te falei, eu
trabalho em 5 comunidades diferentes. Além de fazer contato com a família, de tá
, é, respeitando sempre, é claro a individualidade, explicando os riscos que ela ta
correndo, que ela se comprometa com os cuidados da medicação, que esteja
junto dessa pessoa, que procura não deixar dirigir naquele momento, no período
que isso ta bem presente. E faço agendamento com o psiquiatra da rede. Essa é a
primeira intervenção, o primeiro passo.
Pesquisadora – Você falou que durante seu tempo trabalho, você atendeu 3 casos
de tentativa de suicídio.
Sra. Pera – isso, que passaram, realmente, por atendimento médico, hospital, de
ficar internados em observação por 2 dias. Mas também houveram casos que não
foram notificados, realmente.
2 – Como você percebe o risco de tentativa de suicídio em um paciente em
atendimento?
Sra. Pêra - Quando tem um plano definido, uma estratégia criada. É em cima de
um plano.
Pesquisadora – Você percebe outra forma, diferente de um plano?
Sra. Pêra – Olha! Quando, realmente existe o plano, posso afirmar. Quando diz
que não tem vontade de viver, tem que dar atenção. Não digo que a pessoa que
não tem um plano, não vai tentar. Se ela coloca, ah! Não quero viver, mas
também não tenho coragem ,penso nos filhos. É uma questão de atenção, e
também faço intervenção, né. Mas se realmente está com plano, faço contato com
a família.
3 – Existe alguma rotina interdisciplinar nas UBS em prol da prevenção ao
risco de tentativa de suicídio?
Sra. Pêra – não, não existe.
84
4 – Como não existe, nenhuma rotina preventiva ao risco de tentativa de
suicídio, como você percebe a melhor maneira de prevenir esse tipo de
risco?
Sra. Pêra – Realmente, que fosse diferente, que existisse de certa maneira esse
tipo de trabalho de equipe interdisciplinar, e o trabalho com as famílias. Nós,
psicólogos da UBS... eu, pessoalmente, Janaína, sinto-me muito sozinha,
nesse...lamento, né. No inicio que entrei no serviço público, sozinha, e ao mesmo
tempo sem chão. Né, como vou, é, encaminhar. Vou encaminhar? Para o Caps?
O Caps? Não atende, demanda cheia, o psiquiatra da rede? Né, então? Naquele
momento fico sozinha. Mas com o conhecimento que vai adquirindo, né, vai
tornando o dia mais tranquilo de atendimento dessas pessoas.
Pesquisadora – Você fala de sentir-se sozinha no seu trabalho, o que você tem a
dizer sobre isso?
Sra. Pera – acho que com a própria mudança, da dinâmica, né, do atendimento,
né. O programa da família, o trabalho em grupo, a comunidade e os profissionais,
terem conhecimento da temática, de ter a troca de experiencia, que possa tornar
um trabalho mais tranquilo, né, como coloquei. O profissional sente-se sozinho,
torna-se muito individual.
Pesquisadora – Fale desse individual, como você vê isso?
Sra. Pera – Como vejo? Tem fatores que nos direciona a trabalhar só, como te
coloquei, trabalho em 5 UBS, ao mesmo tempo que faço parte das 5, não me sinto
inserida em nenhuma delas. Né, então, assim por questão do tempo fica difícil.
Tem uma demanda não só para psicologia, mas para outros serviços, o que não
seria o ideal diante da realidade. O médico no seu, o dentista no seu. A
comunicação é muito falha.
Pesquisadora – Você quer dizer que sente falta de um trabalho interdisciplinar?
Sra. Pera – Sinto, tanto como a formação de grupos.
5 – Como você percebe que esta temática poderia ser trabalhada nas
disciplinas do curso de psicologia?
Sra. Pêra – Boa pergunta Regina, Boa pergunta mesmo, mesmo. Não sei o que te
repondo, sinceramente, rodei. Não sei como poderia ser focado, trabalhar no
nosso curso. Até mesmo, a gente tem, não sei como está isso agora, no momento.
Nós tivemos disciplinas, saúde mental, psicopatologia, politicas publicas, né,
centrado no diagnóstico. Mais vivencia, estudo de caso, é um sofrimento no
campo da saúde mental, deveria ter uma atenção maior durante o curso, né, como
te falei, fizemos o curso, enquanto acadêmico, e depois?
Pesquisadora – como você vê esse tema na Universidade?
Sra. Pêra – Polemico, polemico, né. Bem subjetivo, né. Muito fechado. É muito
pouco trabalhado. Quando estive na universidade, foi até mesmo em relação a
pesquisa, alguns TCC, e só. E pra você, Regina ta tranqüilo.
Pesquisadora – Sim, apesar de algumas dificuldades, estou tendo apoio, inclusive
de vocês, psicólogas da UBS.
Pesquisadora – Então, Pêra, por falar em dificuldades, quais são as suas
dificuldades encontradas nos casos de tentativas de suicídio?
Sra. Pêra – Na prática já tive dificuldades, de certa maneira não tenho apoio, não
tenho muitos caminhos, não tenho muitas alternativas. Encontro, dificuldades no
próprio atendimento individual,esta pessoa do sofrimento.
Tem que ser
85
continente, procurar ser acolhedor, atencioso. O terapeuta interfere no
atendimento, na relação que estabelece, no vínculo com o usuário, de certa
maneira estar deslumbrando alternativas. Tem que ser né, procurar né, a conduta
do terapeuta interfere no atendimento, no pensamento tem que estar construído
isso. Eu procuro, mesmo que há uma demanda grande na lista de espera, com
toda dificuldade , atender uma vez por semana, de ter o contato telefônico. Dou o
meu telefone, caso sinta necessidade, ou esteja atormentado pelo sofrimento, dou
o também o numero de meu celular. A própria compreensão da família, a maneira
como esta interfere as vezes ajuda ou não, umas ajudam outras não.Depende,
tem-se as duas experiências. E quando não tem apoio da família, como por
exemplo uma estérica que quer chamar a atenção, realmente é uma dificuldade
no tratamento.
Pesquisadora – e quanto aos resultados de seu trabalho, tem sido positivo, a vida
antes, o depois, conseguiram dar um sentido?
Sra. Pêra – Sim, sempre, simmm. Atendi uma senhora sexta feira passada, onde
ela colocava que não queria fazer mais parte desse mundo, que as pessoas na
sociedade são muito ruim, apresentava alto-estima baixa. Eu sempre, dê conta
mesmo, e a questão de não querer viver. Depois respondem, nem tou pensando
mais nisso. Então esta senhora, veio para o atendimento porque tinha um
sofrimento no trabalho, assédio moral. Era uma pessoa que tinha de dar conta de
muitas coisas. Ela foi ao médico psiquiatra, num certo dia, deu a receita para uns
três meses. Comprou a medicação, conseguem no posto, e tomou muitas
medicações
20, 30 ou 40 comprimidos, fez uso de muitas medicações.
Normalmente os casos de tentativas de suicídio têm acontecido em mulheres e
por medicamentos. Não tenho atendido nenhum caso do sexo masculino. Atendi
uma pessoa, em que o marido se suicidou. Foi indicado pelo médico para
tratamento, e não foi. A esposa veio me procurar, que sentia culpada pela morte, e
por não ter feito o tratamento.
Pesquisadora – E quando não verbaliza, como você percebe o risco? Fale um
pouco disso.
Sra. Pêra - É, é, de acordo com o discurso, e com aquilo que está vivendo no
momento. É, como posso dizer, tem como observar.
Pesquisadora – você observa casos de tentativa de suicídio que não estão ligados
aos transtornos. –
Sra. Pêra – sim, já houve casos que não estão ligados aos transtornos, mas a
maioria estão ligados, associados, realmente a depressão, o transtorno bipolar ou
outros transtorno mentais.
Pesquisadora – e você já acompanhou casos sem outras áreas do conhecimento?
Sra. Pêra – É compartilhado. Mas, não me expressei adequadamente. A gente
não quer passar uma informação, né, poxa. Se tem psicólogo na unidade, vou
passar o caso para psicóloga, entende. O médico, a enfermagem tem o
conhecimento, mas a minha decepção, é que passa adiante. Eu percebo assim,
passa para o psicólogo que ele é responsável.
Pesquisadora – Fale um pouco como seria um trabalho de prevenção na UBS.
Sra. Pêra – Olha1 acredito que deveria ser feito com a pessoa que está sofrendo,
a família deve ser tratada no contexto. Compartilhar com quem vive.
Pesquisadora – Em relação a tentativa de suicídio, fale um pouco da questão
liberdade, escolha, opção.
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Sra. Pêra – na tentativa de querer acabar com o sofrimento é uma questão de
escolha, é de querer acabar com o sofrimento. É uma escolha disfuncional, é uma
atitude disfuncional, mas há outras alternativas, né. Bom a própria atitude é
disfuncional, não é saudável tirar as vidas.
6 – Gostaria de tecer algum comentário de como se deve atender um
paciente com risco de tentativa de suicídio?
Sra. Pera - Olha! No meu entendimento é a maneira como se aborda, como ele é
acolhido, isto é fundamenta,. Uma pessoa de um sofrimento psíquico, né. Tem a
tentativa, ou esta para direção, tem um motivo. Eu observo que são pessoas que
tem é, uma vida comprometida, ou ela por ela mesma., que tem muita
necessidade afetiva. Um sofrimento. É necessário dar atenção, acolher, escutar.
Não ter um julgamento. Não, é, sabe, ser autoritário com ela, mas perceber. No
primeiro contato é fundamental para o vínculo, acho que é isso Regina.
87
ENTREVISTA JABUTICABA
Entrevista numero 4 Jabuticaba
Idade 39
Estado civil – divorciada
Profissão – psicóloga
Local de trabalho – Posto central de palhoça
Instituição que se formou – UFSC
Tempo de trabalho – 17 anos
1 – Você já atendeu casos de tentativa de suicídio?
Já sim,
Pesquisadora – E como foi seu procedimento?
- Primeiro saber o motivo, né, porque uma coisa pra mim ta clara, a pessoa só
pensa em suicídio, só pensa em suicídio quando não vê outra saída pra sua vida.
Então ela vê o suicídio como única saída, então quando ela não consegue,
geralmente vem porque tentou e não conseguiu, ou porque alguém a salvou, ou a
tentativa foi inválida, né, com droga, essas coisas. E aí a gente logo tenta resgatar
o motivo na visão dela de ter tentado se matar. Logo em seguida eu coloco pra
ela, e faço ela ver, dentro da realidade dela, que ela esta enganada a respeito de
pensar que é a única saída, né, que o fato dela estar aqui é outra saída, que
através do trabalho muitas outras saídas vão aparecer, que não faz sentido ela
continuar pensando nisso. Que através do trabalho muitas outras saídas vão
aparecer. E a cliente logo recebe com muita abertura esse retorno. Até porque
quando vem aqui, ta mais assustada do que qualquer outra coisa, né, e
convencida de que o caminho é esse, praticamente convencida pelo susto só. Só
aí quando tu acrescenta isso, uma esperança técnica, o cliente fica muito
satisfeito, Aí começa um trabalho não baseado no suicídio, mas em toda a
embolação, que ela faz, e é isso aí.
Pesquisadora – e dificuldade no atendimento você tem encontrado?
Sra. Jabuticaba – não encontro, não, porque é assim que ele vem, todos, não vi
resistência, tanto é que eles vêem aqui porque estão conscientes e ficam muito
contentes quando digo que tem saída, porque é isso que eles querem ouvir, né.
Pesquisadora – Você disse que tem saídaSra. Jabuticaba – Claro uma delas é a terapia, e a terapia vai dar a ela uma
abrangência de visão que ela não consegue ver. Por isso ela só vê o suicídio.
Eles ficam muitos satisfeitos.
Pesquisadora – E suas facilidades, pode fala um pouco disso –
Sra. Jabuticaba – è ligado a isso que estou tentando te dizer, são pessoas que
vem como uma receptividade muito grande, uma disposição muito grande,
realmente não, vamos ver qual é, viu que não é o caminho, isso assustou e deu
resultado positivo, né, positivo de tentar novamente, então, o fato de estar
advertidos, o fato deu estar demonstrando disposição, encorajando e ajudando, é
claro, né, baseada em toda a realidade do cliente, né, isso é tremendo, o resultado
é rápido, muito rápido.
2 – Como você percebe o risco de tentativa de suicídio, em um paciente em
atendimento?
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Quando ele não verbaliza -Não entendi, um paciente que estou tratando.
Pesquisadora – É durante seus atendimentos, quando chega um paciente.
Sra. Jabuticaba – Nunca vi, nem ouvi, nem constatei a tentativa de suicídio,
enquanto estava em atendimento, nenhum paciente meu, nem no meu consultório
particular, nem aqui, nunca.
Pesquisadora – então você quer dizer que não tem percebido paciente em risco
de suicídio, quando ele não verbaliza sua vontade.Sra. Sem ele falar, nunca. Percebia sim o medo da família, mas eu não via isso no
paciente., era mais medo da família, do que uma constatação do meu trabalho.
Mas eu aproveitava o uso da família e trabalhava numa direção de deixar bem
sólida essa não possibilidade, sem tratar isso com o cliente.
Pesquisadora – Então você quer dizer que não observava, o comportamento no
paciente, ou seja, o risco da tentativa de suicídio ?
Sra. Jabuticaba – se houve isso, não me lembro, ta.
3 – Existe alguma rotina interdisciplinar em prol da prevenção ao risco de
tentativa de suicídio?
- Não, não tem isso aqui. Não conheço em nenhuma área.
Pesquisadora – qual a melhor maneira que voce indicaria para prevenir esse
risco?
Sra.Jabuticaba – eu vejo - essa abertura que o município dá nos últimos anos,
que até 14 anos atrás não tinha psicólogo, nessa época abriu concurso, aí a
Sandra entrou, eu e outra. E depois a mente deles foram abrindo para essa
possibilidade, as pessoas mais carentes e sem nível de instrução tem uma
abertura enorme. Hoje a demanda tem sido enorme, e vejo isso como um
verdadeiro trabalho de prevenção, que a procura é muito grande,e eles tem
acesso a gente e começa a entender as coisas de uma forma que ajuda muito, o
povo é muito carente de atenção, inclusive, né só o fato de estar tendo a função
do psicólogo aqui, esta tendo mudanças radicais.
Pesquisadora – você fala da atenção como medida de prevenção...
Sra. Jabuticaba - sim, atenção do profissional nessa abertura que o município da,
né e fora as outras coisas que a gente ta trabalhando. Mas, a atenção é básico
desse povo carente disso, onde tem essas perspectivas de mudança,
perspectivas de saída, né, amplia a visão deles na limitação deles, mas acontece.
4 – Qual a melhor maneira de prevenir esse risco?
- nessa abertura que o município da, exatamente, exatamente, vejo a maior
prevenção, que a gente ta oferecendo, que eles tem acesso a nós, sabendo que
tem a nós, ele já chamam quem ta com ameaças, chamam, trazem né, família,
vizinho, aqueles que estão correndo risco, aqueles que já tentaram, as pessoas
que estão com problemas, que pode ta correndo risco e ninguém saber, mas
vêem e esse acesso faz a diferença.
5 – Como você percebe que esta temática poderia ser trabalhadas na
disciplinas do curso de psicologia?
Acho que uma disciplina de clínica, né, psicologia clínica, alguma coisa ligado a
isso. Currículo da UFSC era diferente, não sei como esta agora, mas acho que
uma disciplina ligada ao atendimento clinico, acho que seria a melhor abordagem.
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Pesquisadora – como você percebe esse tema nna Universidade –
Sra. Jabuticaba – Desconheço, atualmente, na minha época era temas
passageiros, assim né, citavam algumas coisas, mas temas passageiros, não
existia uma disciplina que tratava diretamente desse assunto, a menos que você
fizesse estagio numa clinica, e tal, e surgia essa questão, e aí trabalhava, mas não
na disciplina assim.
Pesquisadora – como você vê isso na relação de trabalho dessa temática?
Sra. Jabuticaba – complicado, complicado, porque são questões que vc vai
aprender só na pratica, se tu não tem lá.
Pesquisadora – E o que vc tem a dizer mais sobre isso?
Sra. Jabuticaba – diria que não só essa temática, como outras muito evidente,
precisava de despertar nos alunos mais pesquisas sobre o assunto, usarem uma
base teórica e exemplos práticos, que despertasse interesse no aluno, talvez até
na questão do estagio, para quando vir para o campo de trabalho com
entendimento um pouco maior. Eu tive que aprender na pratica, eu não tive
Pesquisadora – como foi pra vc isso?
Sra Jabuticaba – eu, eu me baseava na abordagem que escolhi, dentro da
metodologia que escolhi.
Pesquisadora – E qual é a abordagem?
Sra jabuticaba – fenomenológica existencialista.
6 – Gostaria de tecer algum comentário de como se deve atender um
paciente com risco de tentativa de suicídio?
-Mostrar muita atenção, muito interesse pela vida, de uma forma especial. Ta
mostrando saída começando pela terapia, porque já ta buscando uma saída, que
não é o suicídio, e através dessa saída, não que as outras não possa abrir, muitas
coisas vão acontecer. Mas sempre encorajando, dando atenção, é dando uma
atenção especial mesmo, para que ele se sinta visto, se sinta acolhido e
encorajado. Eu vejo isso, que seria mais uma saída humana, que ele precisa
naquele momento, porque ele não vê nada, né. E isso vai ajudar.
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