Estenose aórtica

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GHORAYEB N
e cols.
Estenose aórtica:
diagnóstico e
exercício
ESTENOSE AÓRTICA: DIAGNÓSTICO E EXERCÍCIO
NABIL GHORAYEB, GIUSEPPE S. DIOGUARDI, SÍLVIA
DANIEL J. DAHER
VON
T.
DE
SOUSA-C ARMO ,
Setor de Cardiologia do Esporte — Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia
Endereço para correspondência: Av. Dr. Dante Pazzanese, 500 — Ibirapuera — CEP 04012-909 —
São Paulo — SP
A estenose aórtica é uma das cardiopatias associadas à morte súbita relacionada ao esporte.
Quando da suspeita clínica, a investigação diagnóstica visa à confirmação e à estratificação de sua
gravidade, com atenção especial a seus riscos na atividade esportiva. O exame clínico habitual consta de anamnese e exame físico detalhados, eletrocardiografia, radiografia de tórax e ecocardiografia
com Doppler colorido, e, obrigatoriamente, teste ergométrico procurando chegar até sintoma-sinal
limitante ou freqüência cardíaca máxima prevista. O estudo hemodinâmico é necessário conforme a
abordagem individual. O fato de ser atleta nos obriga, em várias ocasiões, a ser mais invasivos na
conduta escolhida. A etiologia é fator de grande importância para a continuidade no esporte, porque
as causas congênita e reumática, em sua história natural, podem ter evolução desfavorável ainda
com o atleta no auge da atividade esportiva profissional; assim sendo, entendemos recomendável
desencorajar o início ou o prosseguimento da carreira esportiva competitiva, mesmo que naquele
momento o indivíduo ainda esteja assintomático, isto é, sem repercussão clínica e hemodinâmica.
Neste artigo são revisadas as recomendações para a orientação de atividades físicas competitivas e
recreativas em indivíduos com estenose aórtica em seus diversos graus de evolução e após procedimento intervencionista. Também são abordados aspectos peculiares ao atleta.
Palavras-chave: estenose aórtica, exercício físico, esporte, morte súbita.
(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2003;3:325-32)
RSCESP (72594)-1327
INTRODUÇÃO
A estenose aórtica valvar é a causa mais
comum de obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo(1-4). Podendo ser de etiologia congênita, degenerativa e reumática(1-4), essa entidade permanece sendo causa importante de
mortes cardíacas relacionadas ao exercício e
responde por 4% das mortes súbitas entre jovens atletas (5, 6). Depreende-se disso a importância de uma cuidadosa investigação clínica,
sempre que houver suspeita clínica dessa cardiopatia num atleta, cujo futuro esportivo deverá ser modificado. No exame físico, classicamente, é possível auscultar-se sopro sistólico em
borda esternal direita alta com irradiação para
carótidas (1, 2, 4, 7, 8). É uma doença de evolução
insidiosa e a maioria dos portadores de este-
nose aórtica apresenta-se assintomática. O interrogatório deve ser detalhado, dirigido para
possíveis sintomas aos esforços físicos. São
sintomas indicativos de estenose aórtica grave
as queixas de síncope, angina, arritmia cardíaca e aqueles decorrentes de insuficiência cardíaca.
A associação entre síncope, morte súbita e
estenose aórtica é largamente conhecida(1-4, 9-11),
e considera-se a síncope ao esforço como risco inerente dessa valvopatia(10, 12). Para vários
autores, quando identificada como tal, a síncope deve ser encarada como possível morte súbita abortada(13) e deve ser investigada detalhadamente. Há vários mecanismos propostos para
a ocorrência de síncope ao esforço na estenose aórtica, entre eles a disfunção de barorreceptores ventriculares (10, 14). Essa hipótese ba-
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seia-se na observação de aumento abrupto
da pressão intraventricular ao esforço, não
acompanhada por aumento correlato na pressão aórtica; com isso, haveria estimulação
excessiva dos receptores ventriculares com
resposta vagal levando a vasodilatação arterial e venosa, e conseqüentes hipotensão e
redução do débito cardíaco. Outra complicação é a ocorrência de arritmias (10); entretanto,
Schwartz e colaboradores(15) demonstraram,
com monitorização contínua de pacientes com
estenose aórtica, que o episódio sincopal estava associado à hipotensão, e que arritmias
ventriculares, quando presentes, ocorriam
pelo menos 20 segundos após a síncope.
Outros mecanismos(10) incluem a hipersensibilidade dos seios carotídeos, a isquemia cerebral e a disfunção súbita do ventrículo esquerdo.
A angina do peito pode ocorrer na ausência
de doença obstrutiva coronariana significativa,
por isquemia relativa (1, 2, 4). Como se sabe, a progressão da estenose aórtica, com obstrução
progressiva da via de saída ventricular esquerda, leva ao aumento paulatino da pressão intracavitária ventricular, com o desenvolvimento
de hipertrofia concêntrica, não necessariamente
acompanhada por aumento relativo da circulação. Além disso, a ejeção ventricular torna-se
cada vez mais prolongada na tentativa de vencer o obstáculo mecânico. Com isso, quando
há aumento do consumo de oxigênio pelo miocárdio, causado por esforço físico, pode haver
desbalanço entre a oferta e o consumo, com o
aparecimento de angina. Outro mecanismo proposto de redução na oferta de oxigênio ao miocárdio nessa situação de exercício físico é que
a contração ventricular vigorosa leva à “ordenha” das artérias intramurais, interferindo na
perfusão tecidual.
A hipertrofia ventricular, embora sendo um
mecanismo compensatório, causa redução da
complacência, pois há aumento da massa muscular, mas não das propriedades diastólicas das
células miocárdicas, além de se observar maior deposição de colágeno intersticial. Isso se
reflete na pressão diastólica final do ventrículo
esquerdo elevada, característica da estenose
aórtica grave. Essa elevação, somada ao aumento da pressão capilar pulmonar decorrente
do aumento compensatório do volume intravascular, predispõe à congestão pulmonar. E situações que interferem no enchimento ventricular, como a fibrilação atrial ou mesmo a taquicardia, também podem desencadear insuficiência cardíaca.
A estenose aórtica é caracterizada por longo período latente e grande variabilidade individual na evolução, requerendo seguimento clínico criterioso, com realização de ecocardiograma com Doppler colorido, periódico. É o acompanhamento periódico que surpreende as mudanças evolutivas (13) que auxilia na determinação do momento ideal de intervenção cirúrgica.
No atleta, várias considerações devem ser destacadas, como qual o momento melhor do estudo hemodinâmico, para se decidir pela indicação ou não da intervenção, em geral determinada pelo aparecimento de sintomas, caracteristicamente tardios, mas representando alto
grau de comprometimento valvar. Difere da abordagem habitual de esperar pelo aparecimento
de sintomas associados à estenose aórtica(1,13).
INVESTIGAÇÃO DIAGNÓSTICA
No atleta ou no indivíduo que pratica atividades físico-esportivas, portador de valvopatia
aórtica tipo estenose, faz-se a avaliação clínica
habitual, incluindo anamnese, com ênfase nos
sintomas em repouso e principalmente durante
o exercício físico, como precordialgia, pré-síncope ou síncope, e outros de disfunção ventricular esquerda, como a dispnéia aos esforços.
As referências de sopro cardíaco na infância,
palidez ou dispnéia aos exercícios são sugestivas de comprometimento valvar aórtico. O diagnóstico prévio de coarctação aórtica deve
levantar a hipótese de presença de valva aórtica bicúspide concomitante, assim como o relato de febre reumática, que deve sempre apontar a possibilidade de valvopatia reumática em
valva aórtica isolada ou associada à lesão mitral.
No exame físico, na dependência do grau
de estenose, podem ser observados os seguintes sinais(1, 2, 4, 7, 8):
— pulso arterial “parvus” e “tardus”;
— pulso e pressão venosos normais;
— frêmito sistólico carotídeo e em foco aórtico;
— icto mantido com expansão sistólica de ponta e retração paraesternal, podendo estar
deslocado inferiormente e para a esquerda;
— onda a pode ser palpável, sendo a 4ª bulha sinal sugestivo de estenose aórtica grave;
— 1ª bulha normal, seguida de clique sistólico
de ejeção (na estenose aórtica leve a moderada), a partir do qual se inicia sopro sistólico “in crescendo-in decrescendo” com
acentuação mesossistólica no foco aórtico
e com irradiação para pescoço;
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— 2ª bulha única ou com desdobramento parae cols.
doxal (pela sístole mecânica esquerda proEstenose aórtica:
longada);
diagnóstico e
—
3ª
bulha no caso de insuficiência ventricular
exercício
esquerda;
— sopro diastólico regurgitativo, por insuficiência aórtica, precoce, fraco e curto.
Exames complementares podem apresentar características comuns aos de um coração
de atleta e de um cardiopata. Isso torna a investigação extremamente importante para definição do que pertence a cada situação.
O eletrocardiograma de superfície de um
atleta bem treinado, sem cardiopatia, pode ser
confundido com o de um paciente com estenose aórtica, por terem características semelhantes: ritmo sinusal com sobrecarga atrial esquerda em 80% e ventricular esquerda em 85% dos
casos (1, 2, 4). Quanto aos distúrbios de ritmo e da
condução: bloqueio atrioventricular de graus
variáveis, na estenose aórtica, pelo comprometimento do nó atrioventricular e o feixe de His
em alguns casos, como quando ocorre extensão da calcificação valvar ou então na vigência
de endocardite infecciosa complicada por abscesso perivalvar. A ocorrência de arritmias é
observada em fase tardia da história natural
dessa valvopatia, sendo a fibrilação atrial a mais
comum e seu aparecimento pode indicar doença mitral, doença aterosclerótica coronária ou
disfunção cardíaca concomitante(4).
O estudo radiológico do tórax (17, 18) pode evidenciar estenose aórtica compensada:
— em incidência póstero-anterior — índice cardiotorácico normal ou pouco aumentado,
com arco superior direito saliente (pela dilatação pós-estenótica da aorta) e hiperconvexidade do arco inferior esquerdo (pela hipertrofia ventricular esquerda concêntrica)
com vascularização pulmonar normal;
— em incidência oblíqua anterior esquerda —
aumento do arco superior (aorta);
— em incidência de perfil e oblíqua anterior direita — sem alterações.
Na vigência de insuficiência ventricular esquerda, haverá aumento da área cardíaca, por
aumento de câmaras esquerdas, e hipertensão
venosa pulmonar, com cefalização da trama
vascular, edema intersticial e até edema alveolar.
Além disso, pode ser vista deposição de
cálcio em valva em mais de 90% dos portadores de estenose aórtica com mais de 40 anos
de idade(18), e essa calcificação tem sido associada a gradiente pressórico de pico maior que
30 mmHg(18).
A monitorização eletrocardiográfica de 24
horas (sistema Holter) tem importância no diagnóstico das arritmias ventriculares e possíveis períodos de fibrilação atrial paroxística, sendo importante na identificação da etiologia de síncopes. As alterações do segmento ST também contribuem na suspeita de isquemia miocárdica.
A ecocardiografia com Doppler(19-21), exame imprescindível na avaliação de doenças
orovalvares, permite a avaliação objetiva da
estenose aórtica, fornecendo informações sobre toda a estrutura valvar e definindo a lesão, a etiologia, a gravidade e a repercussão
hemodinâmica, além de dados de tamanho e
função cardíacos, auxiliando sobremaneira na
escolha da abordagem mais adequada.
Conquanto sejam usados diferentes gradientes de pressão entre ventrículo esquerdo e aorta na determinação da gravidade da
estenose aórtica (gradiente de pico na estenose aórtica congênita(22, 23) e gradiente médio(24) na adquirida), é consensual que a estenose aórtica leve apresenta área valvar
> 1,5 cm²; a moderada, entre 0,76 cm² e 1,5
cm²; e a grave, igual ou inferior a 0,75 cm²,
em valores absolutos. Levando em consideração o índice de área, em que a área do orifício valvar é correlacionada com a superfície
corporal, os valores são(13), respectivamente,
> 0,9 cm²/m², entre 0,6 cm²/m² e 0,9 cm²/m²,
e menor que 0,6 cm²/m².
A ecocardiografia transesofágica, que permite melhor visualização anatômica do aparelho valvar, pode ser de grande auxílio em
pacientes selecionados.
Outro aspecto de relevância na determinação da gravidade pelo gradiente transvalvar é o desempenho do ventrículo esquerdo,
que influencia o gradiente medido(1, 2, 19, 20). O
indivíduo portador de estenose aórtica com
insuficiência ventricular esquerda avançada
pode se apresentar com baixos gradientes
transvalvares. Essa situação deve ser diferenciada da pseudo-estenose aórtica, quando o
paciente apresenta disfunção miocárdica primária grave e estenose aórtica leve, que também pode se apresentar com baixos gradientes transvalvares. Essa diferenciação é importante porque é improvável que o portador
de pseudo-estenose se beneficie com a abordagem cirúrgica. Testes provocativos, como
o de infusão de doses crescentes de dobutamina durante estudo ecocardiográfico ou hemodinâmico associada à medida do débito
cardíaco, da área valvar e do gradiente trans-
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diagnóstico e
exercício
valvar a cada dose, permitem essa diferenciação. Com a infusão de dobutamina, na estenose aórtica há aumento do débito cardíaco e do
gradiente transvalvar, enquanto na pseudo-estenose observa-se aumento significativo do
débito cardíaco com pouca mudança no gradiente transvalvar.
No caso de avaliação ecocardiográfica nãoconclusiva, pode-se lançar mão da ressonância magnética(3) para avaliação do volume, espessura de paredes, massa e função ventricular esquerda.
Embora contra-indicado no caso de estenose aórtica grave, o teste ergométrico ou de esforço é útil para a avaliação objetiva da capacidade funcional e da resposta pressórica ao esforço, para esclarecer sintomas e para auxiliar
numa possível indicação de intervenção operatória(1, 2,4, 12, 14, 25). Devemos atentar para o fato
de que, nesse grupo, há grande prevalência de
resultados considerados falsos positivos no diagnóstico de doença coronariana obstrutiva.
O teste de esforço deve ser realizado com
cautela(12, 14, 25) e atenção especial à pressão arterial minuto-a-minuto, ao aparecimento de sintomas, à resposta lentificada da freqüência cardíaca e à ocorrência de extra-sístoles ventriculares e atriais. Se houver resposta pressórica
anormal, deve haver período de caminhada de
pelo menos dois minutos em estágio de menor
carga para evitar sobrecarga aguda do ventrículo esquerdo, que pode ocorrer com a posição supina(12, 14, 25). Na avaliação do indivíduo
portador de estenose aórtica congênita, a incapacidade de a pressão arterial sistólica elevar-se acima de 15 mmHg com o exercício ou
depressão de ST > 2 mm são sinais sugestivos
de gradiente de pico > 50 mmHg(22).
Pode ser necessário, em algumas situações,
complementar a investigação com cintilografia
miocárdica de perfusão e/ou cateterismo cardíaco, para melhor elucidação do quadro clínico ou para a identificação de doença aterosclerótica coronária associada.
CLASSIFICAÇÃO E RECOMENDAÇÕES
PARA A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS
E ESPORTES
Os esportes podem ser classificados por tipo
de exercício e intensidade, bem como por seu
risco de lesão por colisão ou decorrente de síncope(26). No exercício dinâmico, ocorre mudança do comprimento muscular e movimento articular; há o uso de grande massa muscular, de
forma rítmica, e aumento do consumo de oxi-
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gênio. Isso acarreta aumento significativo de
débito cardíaco, freqüência cardíaca, volume
sistólico e pressão arterial sistólica, aumento
moderado da pressão arterial média e diminuição da pressão arterial diastólica e da resistência vascular periférica. Há resultante sobrecarga de volume, com hipertrofia ventricular excêntrica. No exercício estático, por sua vez, ocorre
pouca ou nenhuma mudança no comprimento
muscular e no movimento articular, com desenvolvimento de grande força intramuscular; grande aumento da pressão arterial sistólica, média e diastólica, e pequeno aumento de consumo de oxigênio, débito cardíaco e freqüência
cardíaca, com sobrecarga de pressão e hipertrofia ventricular concêntrica resultante.
Sabe-se, entretanto, que os esportes, de
uma forma geral, apresentam concomitância de
esforços dinâmicos e estáticos, em diferentes
graus. Portanto, os esportes podem ser classificados em níveis crescentes de intensidade em
relação a seus componentes estático (I, II e III)
e dinâmico (A, B e C), em combinação, conforme pode ser apreciado na Tabela 1, reproduzida, parcialmente, a seguir(26). Ademais, devese levar em consideração o risco de colisão
corporal e de lesão, caso ocorra episódio de
síncope durante a prática do exercício.
A prescrição de exercícios e a liberação para
a prática esportiva baseiam-se em abordagem
cautelosa direcionada à participação em esportes extenuantes. Isso é preconizado pelo risco
de morte súbita e pela dificuldade de avaliação
freqüente da gravidade da lesão.
Recomendações para o portador de
estenose aórtica congênita (10, 13, 23, 24, 27)
Caso o débito cardíaco esteja normal, situação esperada no caso de esportistas, a
gravidade da estenose aórtica é definida como
leve quando o gradiente de pressão ventrículo esquerdo/aorta de pico é inferior ou igual a
20 mmHg, moderada se entre 21 mmHg e 49
mmHg, e grave se igual ou superior a 50
mmHg.
Grau leve
Autorizada a prática de todos os esportes
competitivos se:
— for demonstrada ausência de precordialgia, síncope ou arritmia sintomática relacionada ao esforço;
— eletrocardiograma normal em repouso e
em exercício;
— tolerância ao esforço normal;
— ausência de hipertrofia ventricular;
— ausência de arritmias complexas.
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Tabela 1. Classificação de esportes (baseada nos componentes dinâmico e estático de pico durante
e cols.
(26)
Estenose aórtica: a competição).
diagnóstico e
exercício
A — Dinâmico baixo
B — Dinâmico moderado
C — Dinâmico alto
I – Estático
baixo
Bilhar
Boliche
Golfe
Tiro ao alvo
Beisebol
Tênis de mesa
Tênis (duplas)
Voleibol
Badminton
Corrida (fundo)
Futebol
Tênis (individual)
II – Estático
moderado
Motociclismo
Mergulho
Hipismo
Arco e flecha
Esgrima
Nado sincronizado
Corrida (“sprint”)
Surfe
Basquetebol
Natação
Handebol
Corrida
(meio-fundo)
III – Estático
alto
Artes marciais
Ginástica olímpica
Vela
Levantamento
de peso
Fisiculturismo
Luta greco-romana
Esqui “downhill”
Boxe
Decatlon
Ciclismo
Remo
Grau moderado
Autorizada a prática de esportes competitivos IA e IIA se:
— assintomáticos;
— eletrocardiograma normal (inclusive sem
“strain”);
— teste de esforço normal, com duração normal
e resposta fisiológica da pressão arterial;
— ausência de hipertrofia ventricular (ou leve)
no ecocardiograma com Doppler.
Grau grave
Contra-indicação formal para a participação
em esportes competitivos. A prática de atividades físicas recreativas dependerá da avaliação
médica individualizada.
Recomendações para o portador de
estenose aórtica adquirida (10, 13, 24)
Caso o débito cardíaco esteja normal, situação esperada no caso de esportistas, a gravidade da estenose aórtica é definida como leve
quando o gradiente médio de pressão ventrículo esquerdo/aorta é inferior ou igual a 20 mmHg,
moderada se entre 21 mmHg e 39 mmHg, e
grave se igual ou superior a 40 mmHg.
Grau leve
Autorizada a prática de todos os esportes
competitivos se:
— for demonstrada ausência de precordialgia,
síncope ou arritmia sintomática relacionada
ao esforço;
— eletrocardiograma normal em repouso e em
exercício;
— tolerância ao esforço normal;
— ausência de hipertrofia ventricular.
Grau leve sintomático (exceto síncope) ou
grau moderado
Autorizada a prática de esportes competitivos IA sempre orientada pelo teste de esforço:
Atletas selecionados
Autorizada a prática de esportes IA e IIA se
o teste de esforço for normal até pelo menos o
nível atingido na competição.
Grau leve ou moderado associado a
taquiarritmia supraventricular ou arritmias
ventriculares múltiplas ou complexas
ao esforço ou no repouso
Autorizada a prática de esportes competitivos IA.
Grau grave ou grau moderado sintomático
Contra-indicação formal à participação em
atividades físicas.
Recomendações para o portador de
prótese valvar biológica ou mecânica e
no pós-valvuloplastia(10, 13, 24)
Há algumas premissas a serem consideradas nesse grupo. Sabe-se que a maioria dos
pacientes apresenta melhora clínica após a troca valvar, mas que a mortalidade a longo prazo
é maior que na população de mesma idade.
Também é de conhecimento geral que pode
haver gradiente transvalvar de grau variável com
a prótese e que a resposta hemodinâmica ao
esforço pode ser anormal. Por outro lado, o exer-
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diagnóstico e
exercício
cício vigoroso aparentemente não causa hemólise se a prótese estiver normofuncionante. Ademais, não se sabe qual o efeito a longo prazo
do exercício vigoroso repetitivo sobre a função
ventricular ou da prótese, sendo útil a avaliação do atleta com teste de esforço no mínimo
até a intensidade exigida pelo esporte escolhido.
Prótese aórtica
Autorizada a prática de esportes classe IA
se:
— não estiverem em uso de anticoagulantes;
— função valvar normal;
— função ventricular normal ou próxima ao normal.
Atletas selecionados
Autorizados os esportes IA, IB, IIA e IIB.
Em uso de agentes anticoagulantes
Restrita a prática de esportes com risco de
colisão corporal.
ASPECTOS PECULIARES AOS ATLETAS
E CONCLUSÕES
Um problema adicional é que alguns atletas, em decorrência de atividade esportiva intensa, podem se apresentar sintomáticos em
estágios mais precoces da doença. Isso é um
aspecto fundamental, uma vez que o aparecimento de sintomas é um indicador importante
para intervenção. Geralmente, evita-se intervir
precocemente em atletas cujos sintomas sejam
produzidos por esforços extremos, por causa
do risco imediato da cirurgia, da vida finita de
várias próteses valvares e da necessidade de
terapia anticoagulante vitalícia em próteses mecânicas.
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A atitude do atleta pode também complicar
a decisão terapêutica. Alguns omitem sintomas
e tentam evitar tratamento cirúrgico, mesmo em
situações de risco de vida. Outros preferem intervenção precoce se o fato de esperar significar redução da atividade física ou diminuição
do desempenho esportivo. Estes últimos precisam ser orientados quanto aos riscos imediatos da cirurgia comparativamente à manutenção do tratamento clínico. Detalhes específicos
de cada modalidade esportiva precisam ser
considerados de forma individualizada, objetivando a redução do risco de eventos, como, por
exemplo, não subestimar o risco de sangramento associado a determinados esportes de contato físico ou choques corporais, bem como do
contato repetitivo do calcanhar com o solo de
um corredor de fundo, ou do corpo com o colchão em um saltador. Sempre deve ser considerada a possibilidade de síncope precipitada
por aumento pressórico em situações de estresse emocional, inclusive nos momentos que
antecedem qualquer competição.
No Serviço de Cardiologia do Exercício e Esporte do Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, recomendamos aos iniciantes de esportes
profissionais, portadores de cardiopatias como
estenose aórtica, que, pela história natural, pode
cursar desfavoravelmente, a abandonar ou a não
ingressar no esporte como profissão. Isso se justifica porque a eventual necessidade de abandono no apogeu profissional costuma trazer enorme trauma psicossocial, pessoal e familiar, o que,
sem dúvida, dificulta ao atleta a aceitação dessa
tomada de decisão, levando a conflitos emocionais desgastantes, além de prejudicar a saúde e
a confiança do paciente em seu médico.
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Estenose aórtica:
diagnóstico e
exercício
AORTIC STENOSIS: DIAGNOSIS AND PHYSICAL ACTIVITY
NABIL GHORAYEB, GIUSEPPE S. DIOGUARDI, SÍLVIA
DANIEL J. DAHER
VON
T.
DE
SOUSA-C ARMO ,
Aortic stenosis is a cardiopathy implicated in the event of exertion-related sudden death. Whenever it is suspected to be present, a thorough investigation must be proceeded to confirm this diagnosis
and to stratify its severity, with special attention to its risks for the practice of sports. As usual, this
evaluation includes careful review of systems and physical examination, electrocardiogram, chest
radiography, echocardiography with color Doppler, and, mandatorily, exercise stress test even limit
symptom-signal or the maximum heart rate foreseen. Cardiac catheterization may be necessary in an
individual basis. While dealing with athletes, we may need to act more boldly than normal. The etiology
is a very important factor for the engagement in physical activities because congenital and rheumatic
aortic stenosis may evolve unfavorably while the athlete stands competitive performance. Therefore,
we deem advisable that these individuals are discouraged to begin or to proceed with a professional
sports career, even when still asymptomatic, with no hemodynamic repercussion. In this article, the
authors reviewed recommendations for engagement in physical activities, as well as athletic competition, for individuals with aortic stenosis and with aortic prosthetic valves. At the end, some peculiarities of athletes are discussed.
Key words: aortic stenosis, athletes, physical activity, sports, sudden cardiac death.
(Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo 2003;3:325-32)
RSCESP (72594)-1327
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Rev Soc Cardiol Estado de São Paulo — Vol 13 — No 3 — Maio/Junho de 2003
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