XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Flexibilidade dos Sistemas Logísticos – uma proposta Edelvino Razzolini Filho (UTP) [email protected] Carlos Manoel Taboada Rodriguez (UFSC) [email protected] Humberto Stadler (UNIVEL) [email protected] Gilmar Amilton Macohin (UTP) [email protected] Resumo Neste trabalho se procura relacionar os diferentes tipos de flexibilidade identificados, na literatura e na observação empírica, relacionando-os entre si para que seja possível uma tipificação da flexibilidade na gestão dos processos logísticos. Pode-se inferir, a partir dos estudos, que a flexibilidade logística deve ser sempre derivada do projeto (design) dos canais logísticos e da estratégia pensada para a cadeia de suprimentos como um todo, uma vez que somente a partir de um adequado alinhamento estratégico ao longo da cadeia de suprimentos é que se pode obter uma flexibilidade que seja, realmente, sistêmica. Numa visão mais abrangente dos processos logísticos que percorrem toda a cadeia, é possível concluir que existe uma relação entre os diferentes tipos de flexibilidade, propostos: flexibilidade de Estado ou Estrutural e Flexibilidade de Ação ou Processual, sob um foco externo ou interno e numa perspectiva espacial ou temporal. Palavras chave: Flexibilidade, Sistemas Logísticos, Flexibilidade Logística. Introdução Sem que se tenha uma dimensão estratégica ao se projetar a cadeia de suprimentos não é possível obter-se flexibilidade. Porém, flexibilidade sistêmica deve estar profundamente suportada por recursos humanos e tecnologia da informação também flexíveis, para possibilitar um gerenciamento flexível a partir de processos claramente desenhados e definidos para proporcionar a flexibilidade, sempre considerando-se as influências e pressões ambientais que afetam o cotidiano das operações das organizações, exigindo que, no ambiente de negócios contemporâneo, todas as áreas das organizações devem buscar a flexibilidade, sobretudo a logística, pela sua profunda interação com os clientes. Para garantir flexibilidade é necessário que a organização reveja todos seus processos, sua estrutura hierárquica e organizacional entre outros aspectos relevantes, numa visão estratégica. Um modelo de organização flexível, precisa incorporar articuladamente “as dimensões técnicas, sociais, econômicas e estratégicas da produção” (SALERNO, 1999, p. 24). De uma maneira geral e concreta, é necessário que a organização estabeleça uma política de capacitação dos seus empregados, compartilhe informações e encontre novas formas de redistribuir poder entre sócios, fornecedores e clientes. 2 Condições Necessárias a Sistemas Logísticos Flexíveis Uma vez que cabe aos sistemas logísticos criar utilidade de tempo e espaço, eles necessitam de flexibilidade, pois os fluxos de informações (que iniciam a movimentação física dos produtos) exigem flexibilidade dos sistemas de informações; os fluxos são sempre processuais, exigindo flexibilidade de processos; tais fluxos precisam ser gerenciados, o que pressupõe que o gerenciamento também seja flexível. Para a XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 efetivação dos fluxos é necessária a existência de uma estrutura, que também deve ser flexível e, por fim, são os recursos humanos que concretizam a execução dos processos, exigindo-se flexibilidade de recursos humanos. Portanto, na continuação se apresentam comentários sobre esses diferentes tipos de flexibilidade. 2.1 Flexibilidade de Sistemas de Informações A chamada Nova Economia não consegue materializar seus produtos e serviços sem o respaldo da “Velha Economia”, pois é inevitável a existência de estruturas físicas para suportar o mundo virtual da Nova Economia. Dessa forma, cabe aos sistemas logísticos essa “materialização” de produtos e serviços no local e no tempo desejados pelos clientes, pois empresas “ponto com” oferecem aos clientes a possibilidade de especificar datas de entrega ou pagamento, características de embalagem, atributos de lote, peso ou medidas e flexibilidade de alteração ou cancelamento de pedidos. Na verdade, independentemente da forma de comercialização (tradicional ou virtual), o abastecimento de toda a cadeia de distribuição continua sendo feito por um setor bastante real: o sistema logístico. Exigindo, ainda, uma atenção redobrada por parte dos sistemas de armazenagem para garantir a disponibilidade dos produtos, e do sistema de transportes para garantir a transferência de um ponto a outro. Para fazer frente às exigências de tempo e espaço das transações virtuais, existe a necessidade do desenho de novas estruturas logísticas que possuam a flexibilidade necessária para proporcionar velocidade e confiabilidade. Para conseguir isso exige-se uma flexibilidade organizacional sem precedentes, pois os “avanços na área da tecnologia da informação alteraram de forma irreversível a capacidade de fazer negócios, eliminando as restrições tradicionais de tempo e espaço” (NADLER e TUSHMAN, 2000, p. 60). Posto que dois dos principais objetivos da logística são justamente criar utilidade de tempo e espaço para satisfazer clientes, fica patente a exigência de sistemas logísticos cada vez mais flexíveis e ágeis. Os sistemas de informações logísticas têm levado as organizações a obterem maior flexibilidade, em virtude do fato que o adequado e rápido processamento de informações possibilita condições de respostas mais rápidas, e precisas, às demandas do mercado, com a conseqüente eficácia desejada (lucros). Porém, é necessário que o sistema seja altamente eficiente e, contando com eficácia e eficiência, o sistema poderá alcançar a necessária efetividade (lucros com serviços ótimos). Portanto, cada vez mais as organizações deverão ser flexíveis e adaptáveis às mudanças para suportarem os fluxos de informações e o fluxo físico de materiais que, dado seu volume e velocidade, são estratégicos para a sobrevivência das mesmas nesse cenário cada vez mais competitivo. 2.2 Flexibilidade de Estruturas Dois aspectos relevantes devem ser considerados pelas organizações: (1) o ambiente impulsiona a arquitetura estratégica da empresa, ou porque a empresa age proativamente ou reativamente às mudanças ambientais; (2) a estratégia impulsiona a arquitetura organizacional, ou seja, “a forma pela qual a organização estrutura, coordena e administra o trabalho das pessoas em busca de objetivos estratégicos” (NADLER e TUSHMAN, 2000) é impulsionada por uma estratégia articulada. Ainda, as organizações estão eliminando níveis hierárquicos e funções não competitivas, de forma a ganhar flexibilidade e rapidez. Além disso, “as organizações flexíveis usam seu desenho organizacional como vantagem competitiva” (OVERHOLT, 2000, p. 69). XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Tenório (2000) ainda, propõe mudar o atual processo produtivo num processo produtivo mais integrado e homogêneo. Porém, as empresas não devem estar preocupadas apenas em ser bem estruturadas, mas em encontrar o seu propósito, sua missão, enfim, sua função. Estruturas Logísticas flexíveis devem derivar da missão da organização e, ainda, serem desenhadas de forma a garantir a flexibilidade desejada. 2.3 Flexibilidade de Processos Os processos bem sucedidos precisam de flexibilidade, pois “o desafio da organização que pretende ser líder em serviço ao cliente é conhecer as exigências dos diferentes segmentos em que atua e reestruturar seus processos de logística em direção ao cumprimento dessas exigências” (CRHISTOPHER, 1999, p. 31). Além disso, “flexibilidade de um processo é a sua maior ou menor habilidade para responder às variações nas demandas sobre este processo” (MOREIRA, 1996, p. 78). Como as exigências são mutáveis de ambiente para ambiente e de momento para momento, é necessário que os processos logísticos sejam estruturados de forma flexível para atender a tais exigências. Além disso, a abordagem do supply chain management também exige que os subprocessos de suprimentos, comercialização e atendimento dos clientes (embora, muitas vezes, tratados como processos à parte) também tenham suas atividades incorporadas no desenho dos sistemas logísticos de forma integrada, também não se pode deixar de considerar a tecnologia de processos como uma limitante para a flexibilidade, embora a exigência de maior nível de serviço por parte dos clientes, a concorrência mais acirrada e as possibilidades de maior flexibilidade proporcionada pela tecnologia da informação exijam a identificação e o redesenho dos processos. A utilização de sistemas de ERP – Enterprise Resource Planning, pode ser uma alternativa viável para a necessária identificação, redesenho e integração dos processos logísticos. 2.4 Flexibilidade de Gestão Num ambiente competitivo extremamente turbulento e mutável, é de fundamental importância que a gestão das organizações esteja constantemente monitorando o ambiente externo (e até mesmo o interno) para agir prontamente de forma a atender às demandas dos clientes no mercado e, até mesmo, dos seus fornecedores. Ou seja, é necessário que a gestão organizacional seja extremamente flexível para permitir as ações, ou reações, necessárias ao atendimento de tais demandas. Assim, os gerentes das organizações que se preocupam com flexibilidade devem enxergar claramente “a necessidade de construir uma organização que possa crescer e aprender, que possa mudar para prever e atender às necessidades do ambiente externo” (OVERHOLT, 2000, p. 69). Para que isso aconteça, “o corpo gerencial dessas empresas precisa ter flexibilidade e agilidade para responder prontamente às mudanças” (BERTAGLIA, 2003, p. 31) e, além disso, deve ter um conhecimento pleno e profundo de sua cadeia de suprimentos e de todos os processos e sub processos aí envolvidos para atingir os resultados positivos desejados por todos os envolvidos. 2.5 Flexibilidade de Recursos Humanos Quando se fala de flexibilidade de recursos humanos é necessário entender que as empresas buscam profissionais flexíveis, que detêm competências específicas e sabem como integrá-las nas estratégias da organização, e que, por isso, são mais valorizados. XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Porém, para que se consiga atingir um nível satisfatório de flexibilidade e, principalmente, multifuncionalidade dos recursos humanos, é necessário que a área de recursos humanos da empresa esteja pensando no desenvolvimento da mão-de-obra, com uma visão de longo prazo através de treinamentos constantes e transmitindo a visão sistêmica aos trabalhadores, de forma que as empresas possam, então, implementar a flexibilidade de maneira satisfatória, possibilitando-lhes atingir seus objetivos de competitividade e lucratividade. Sistemas logísticos flexíveis somente podem conseguir sucesso na sua implementação e operacionalização se contarem com o envolvimento e, mais que isso, o total comprometimento dos recursos humanos envolvidos no processo. Em entrevista à revista Exame (VASSALO, 1998), o Sr. Soichiro Toyoda, da Toyota Motor Company, deixa clara a importância da mão-de-obra quando afirma que "o pessoal de fábrica, da produção, tem de trabalhar com prazer, com vontade" e, ressalta, "isso é um ponto importante no sistema de produção criado por nós". Na continuação, ele demonstra o "poder" concedido aos operadores pois, quando perguntado se as pessoas são fundamentais para o sucesso da Toyota responde que, "nosso operador tem o poder de parar toda a linha se perceber que há um defeito". Essa entrevista, demonstra a importância dos recursos humanos para o funcionamento de um sistema como o just in time, que se eqüivale, em termos de flexibilidade, aos sistemas logísticos. 2.6 Flexibilidade de Equipamentos Produtivos Empresas com produção flexível são capazes de responder prontamente às necessidades dos clientes e essa flexibilidade deriva da flexibilidade de produto ou da flexibilidade de volume, sendo que a flexibilidade de produto somente pode ser obtida com equipamentos produtivos flexíveis (de uso geral). Por outro lado, a flexibilidade de volume também necessita de equipamentos produtivos flexíveis, uma vez que implica em expansão ou redução do volume de produção desses produtos/serviços, rapidamente, para atender às oscilações da demanda. Uma questão importante, a ser considerada, é os equipamentos produtivos que podem ser utilizados como fonte de flexibilidade. Segundo TIXIER, MATHE e COLIN (1986, p. 316-317), para as pequenas e médias empresas (PME), quando a logística fornece informações de gestões atualizadas e permite sua flexibilidade, a linha de produção de uma PME pode ser subcontratada de uma grande empresa que integra essa PME “na sua rede logística ‘informativa’ e escoa sua produção na sua rede logística física” (op. cit. p. 317). Portanto, uma empresa com equipamentos produtivos flexíveis pode ter importante fonte de flexibilidade que, devidamente utilizada pelo sistema logístico, pode representar diferenciais competitivos. 2.7 Flexibilidade Tecnológica ou Técnica Desde o final da década de 80, as multinacionais investem bilhões de dólares em sistemas com o objetivo de automatizar operações de suprimentos, controle de inventários e vendas. Porém, o difícil disso tudo consiste em fazer com que parceiros comerciais, fornecedores, clientes e provedores de serviços utilizem tecnologias e formatos de dados comuns a todos os envolvidos. Essa dificuldade exige uma maior integração para que os sistemas possam oferecer e/ou suportar a necessária flexibilidade aos processos operacionais físicos. Uma das alternativas para resolver essas questões é a utilização da Internet. Segundo Symonds (1999, p. 58), XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 “nenhuma empresa pode mais se ver como uma entidade mais ou menos autônoma. Ela precisa se integrar ao ecossistema do comércio eletrônico, no qual as empresas que negociam umas com as outras usam a Internet para que seus parceiros e clientes possam se inteirar com mais profundidade de seus sistemas e processos internos. Para colher os frutos de uma cadeia de valores realmente integrada, é preciso que haja um grau de abertura e de flexibilidade que só algumas empresas possuem”. Para Drucker (1999, p.53), no comércio eletrônico, o que diferencia uma empresa de outra são as entregas, o que se constitui no ponto nevrálgico das operações suportadas por tecnologia da informação, como as operações na Internet. Para ele, a velocidade das entregas, “a qualidade e a eficiência de atendimento podem muito bem vir a ser o fator decisivo de competitividade, mesmo onde certas marcas parecem imbatíveis”. A flexibilidade tecnológica permite benefícios que são oriundos da velocidade e da automação dos processos internos e, além disso, “também da extensão desses ganhos aos fornecedores e clientes” (SYMONDS, 1999, p.57). Ou, no dizer de Drucker (1999, p. 54), “é verdade que qualquer negócio, qualquer instituição que seja capaz de fazer suas entregas organizadamente, pode operar em qualquer mercado, seja ele onde for, mesmo não estando presente ali fisicamente”, pois, na sua concepção, “no futuro, as empresas do comércio eletrônico venderão o que forem capazes de entregar”. As empresas devem buscar diferenciar seus processos logísticos diariamente. E, aquelas empresas que souberem enxergar a aplicabilidade dos recursos da tecnologia da informação aos processos logísticos, visando torná-los mais flexíveis, conseguirão importantes vantagens competitivas. 2.8 Flexibilidade Estrutural ou Processual Uma outra abordagem a ser considerada é o fato de que os sistemas logísticos são formados por dois elementos centrais: - as estruturas; e, - os processos. Estrutura entendida como as “características dos elementos (subsistemas) que compõem o processamento” (PEQUENO, 2003, p. 95) do sistema. Tais características se relacionam com as capacidades, qualidades e posicionamento relativo de tais elementos. Por outro lado, processos entendidos como elementos “que definem a capacidade dinâmica do sistema, definido através de sua capacidade operacional instalada e de acordo com a infra-estrutura oferecida” (PEQUENO, 2003, p. 102). Os elementos estruturais serão de fundamental importância para a geração de uma flexibilidade espacial, por se basear em ativos e focar-se nas estruturas organizacionais. Por outro lado, os elementos processuais serão de fundamental importância para gerar a flexibilidade interna ou externa, por basear-se nos subsistemas logísticos (suprimentos, produção e distribuição física) e focar-se em processos e atividades. Em síntese, os elementos estruturais podem gerar a flexibilidade de estado (com foco na eficiência, portanto interna) e, assim, são estratégicos no desenho do sistema logístico. Já os elementos processuais podem gerar a flexibilidade de ação (com foco na eficácia, portanto externa) e, contudo, derivar do eixo estratégico definido pela estrutura. A conjunção dos elementos estruturais com os elementos processuais deve gerar a chamada flexibilidade sistêmica, com foco na efetividade. 3 Proposta de Flexibilidade Pelo exposto até aqui, é possível entender que a flexibilidade pode ser analisada sob dois importantes aspectos: 1) Sob aspecto interno ou externo; e, 2) Sob o aspecto temporal ou espacial. Portanto, na continuação, se apresenta um quadro referencial para XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 desenhar sistemas logísticos flexíveis, a partir das necessidades de cada organização. Conforme se analise sob cada um dos aspectos, a flexibilidade poderá apresentar configurações diferentes. Isso pode ser melhor percebido nas figuras que seguem (1a, 1b, 2a e 2b) 3.1 Flexibilidade com Foco Interno ou com Foco Externo Sob o aspecto do foco interno flexibilidade pode ser conseguida a partir de um desenho baseado nos processos produtivos focado nos processos e atividades desenvolvidos para fazer a produção apresentar as necessárias características de flexibilidade. Isso já é alcançado por boa parte das empresas que utilizam recursos tecnológicos como sistemas flexíveis de manufatura (FMS), adoção do Just in Time entre outras práticas flexíveis. Porém, a idéia é desenhar um sistema para a logística de produção visando garantir a flexibilidade sistêmica para a logística num modelo de “flexibilidade de estado”, ou Estrutural. Essa idéia fica mais clara visualizando-se a figura 1a. Interna Base Produção Foco Processos e Atividades Figura 1a: Modelo para flexibilidade com foco Interno Fonte: dos autores Para se realizar a flexibilidade internamente é possível implantar-se processos de postergação da produção, implantar rotinas claras para todas as atividades logísticas e, ainda, realizar alianças à montante com os demais elos da rede de abastecimento, de forma que se consiga atingir o status quo da flexibilidade de estado (ou estrutural). No aspecto do foco externo a flexibilidade pode ser obtida a partir de um desenho baseado na cadeia de suprimentos por um lado e no canal de distribuição, por outro lado, focando também os processos e atividades executados para o abastecimento da empresa e para o abastecimento do mercado. Trata-se de desenvolver fornecedores flexíveis na ponta do abastecimento e um canal de distribuição também flexível na outra ponta, atingindo-se a flexibilidade de ação, ou Processual (ver figura). Externa Base em Suprimentos Foco Distribuição Processos e Atividades Figura 1b: Modelo para flexibilidade com foco Externo Fonte: dos autores Como o foco também está centrado nos processos e atividades logísticas, é possível se conseguir a flexibilidade de ação (ou processual) através da adoção da postergação de finalização, da definição clara de rotinas para as atividades logísticas e, também, através do estabelecimento de alianças à jusante com os demais elos da rede de abastecimento. 3.2 Flexibilidade com Foco Temporal ou com Foco Espacial Para competir baseada no tempo, uma organização precisa contar com investimentos significativos em tecnologia da informação e definir um desenho claro dos seus fluxos logísticos, sobretudo o fluxo de informações, que dá origem aos demais fluxos. Para atingir a flexibilidade temporal a organização precisa, ainda, estabelecer relacionamentos sólidos e duradouros com todos os elos da cadeia de abastecimento, através da utilização de ferramentas como os softwares de CRM – Customer relationship management e de PRM – Partner relationship management, investimentos XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 em tecnologias capacitantes, estabelecimento de alianças, parcerias etc., de forma a garantir que as ações logísticas sejam as mais rápidas possíveis. O modelo pode ser visualizado na figura 2a e trata-se de uma proposta baseada na logística de postergação, conduzindo a uma flexibilidade de Estado, ou Estrutural. Tempo Base em T. I. Foco Fluxos e Relacionamentos Figura 2a: Modelo para flexibilidade com foco Temporal Fonte: dos autores A utilização de outras ferramentas possibilitadas pela tecnologia da informação, como softwares de gerenciamento de armazéns – WMS, de gerenciamento de transportes – TMS, de planejamento das necessidades de materiais – MRP, entre outros, pode gerar a flexibilidade de estado (estrutural). Além disso, um adequado gerenciamento dos fluxos logísticos (facilitado pela adoção de softwares de planejamento dos recursos empresariais – ERP) e dos relacionamentos com os demais elos da rede de abastecimento (facilitado pelos softwares de CRM, PRM, VMI etc.), apoiados na rotinização de processos e atividades logísticas, se constitui numa alternativa viável para conferir a flexibilidade com foco temporal. Portanto, para competir baseada nas questões espaciais, a organização necessita contar com pesados investimentos em ativos financeiros (como armazéns, equipamentos de movimentação e de transporte), uma vez que o suportará a flexibilidade espacial serão as estruturas físicas disponíveis, por trata-se de um desenho claramente baseado na logística de antecipação, conforme se visualiza na figura 2b, suportada pela flexibilidade de Ação, ou Processual. Espaço Base em Ativos Financeiros Foco Estruturas Físicas Figura 2b: Modelo para flexibilidade com foco Espacial Fonte: dos autores Para suportar a flexibilidade com foco espacial é necessária a inversão de recursos financeiros em estruturas físicas como : - sistemas de armazenagem (para almoxarifado de matérias-primas, estocagem em processo e armazéns de produtos acabados) e equipamentos de movimentação (paleteiras, empilhadeiras etc.); - sistemas de produção (com equipamentos que permitam manufatura flexível); e, - sistemas de distribuição (equipamentos para picking automatizado, scaners, computadores, veículos etc.). 4 Conclusões É possível afirmar que o modelo proposto para a flexibilidade com foco interno ou externo está voltado, essencialmente, para questões relacionadas com aspectos do desenho do sistema logístico em termos estruturais, físicos (flexibilidade de Estado ou Estrutural) e que implicam em um foco claro na definição dos processos e atividades (Flexibilidade de Ação ou Processual), de forma a garantir as melhores práticas logísticas. Por outro lado, a flexibilidade com foco Temporal ou Espacial está mais relacionada com questões mais complexas que exigem mais do desenho do sistema logístico. Trata-se de um modelo mais adequado para aquelas organizações que desejam utilizar-se das práticas possibilitadas pelo comércio eletrônico, que exige uma certa dose de virtualidade das organizações. Portanto, muito mais voltado para a flexibilidade de Ação (ou Processual). XI SIMPEP - Bauru, SP, Brasil, 08 a 10 de novembro de 2004 Além disso, existem algumas etapas a serem cumpridas para se desenhar um sistema logístico flexível, sem as quais não será possível à organização obter vantagens competitivas significativas, conforme segue: – A partir de uma visão externa (do mercado), identificar necessidades da organização em relação ao Sistema Logístico, em termos de: - subsistema de suprimentos; - subsistema de produção; e, - subsistema de distribuição física; – Definir os recursos necessários para o funcionamento do Sistema Logístico (Físicos ou materiais, financeiros, tecnológicos, humanos, de comunicação), visando maximizar sua utilização; – Projetar expansões necessárias no longo prazo (a partir do planejamento estratégico da empresa como um todo); – Mapear todos os processos de cada um dos subsistemas logísticos; – Mapear os fluxos logísticos (de informações, físicos e financeiros); – Identificar cada uma das atividades envolvidas nos processos logísticos; – Estabelecer o nível de serviço desejado para cada classe de clientes; – Estudar formas de simplificar processos e atividades; – Efetivar o desenho do sistema logístico a partir da visão de flexibilidade desejada para a organização; – Planejar mecanismos de controle que possibilitem o acompanhamento operacional dos processos e atividades do Sistema Logístico; – Desenvolver condições para a avaliação periódica do desempenho de cada subsistema logístico, em termos: - Financeiros (visando mensurar custos); - de Produtividade (visando mensurar a eficiência do sistema logístico); - de tempo (visando mensurar a capacidade de resposta da organização; e, de qualidade (visando mensurar o nível de serviço da organização para satisfazer e/ou superar as expectativas dos clientes); – Definir um programa de auditoria do Sistema Logístico, ainda durante a fase do desenho, e desenvolver periodicamente a auditoria de cada subsistema; – Implementar o Sistema Logístico desenhado; e, – Retroalimentar o processo visando o aprimoramento contínuo. 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