Psicologia da Personalidade II HARRY SULLIVAN HISTÓRICO Este é mais um dos teóricos pós-freudianos. Embora ele aceite a idéia de inconsciente esse não é o seu objeto de estudo. Dessa forma não é considerado psicanalista, além disso, sua teoria é desenvolvida em hospitais psiquiátricos. Para Sullivan a personalidade se constrói na relação com o outro. Ele só pode estudar esse conceito na prática clínica porque como psiquiatra trabalhava em um hospital psiquiátrico, o que permitia ver as pessoas se relacionando. PRINCIPAIS IDÉIAS 1. Faz uma teoria psicológica social da personalidade. 2. A personalidade como conceito relacional - foi o criador da teoria interpessoal da psiquiatria. Acredita que a personalidade é o padrão relativamente duradouro de situações interpessoais recorrentes que caracteriza uma vida humana. Desta forma, a personalidade é uma entidade hipotética que não pode ser isolada das situações interpessoais, e o comportamento interpessoal é tudo o que podemos observar como personalidade. PERSONALIDADE __ COMPORTAMENTO INTERPESSOAL O comportamento é o que se observa. A personalidade não existe a priori, se constrói na relação com o outro. Os padrões de comportamento são uma característica da personalidade. De acordo com o efeito do comportamento ele se repete ou é evitado. Parecido com o behaviorismo S _ R _ efeito (positivo ou negativo). Mas não exatamente igual, pois Sullivan considera o dinamismo. Não acha que pode se fazer com o ser humano o mesmo que faz com os animais, pois para ele o ser humano é um ser social, diferente do animal. Diferente do behaviorismo Sullivan inclui sentimentos, atitudes, valores, hábitos ou seja “coisas da mente”, análogo ao inconsciente de Freud mas não igual. Para Freud as marcas no psiquismo determinam o comportamento. Sullivan não estuda o que acontece entre o estímulo e a resposta. O dinamismo é a menor parte da personalidade. 3. É inútil falar do indivíduo como objeto de estudo, o que importa é o indivíduo nas suas relações interpessoais. Estas é que são o objeto de estudo da psiquiatria e da teoria da personalidade. Tudo que é distintamente humano depende das interações sociais. 4. Experiências relacionais podem alterar nosso biológico – passa a ser um organismo social e não mais biológico. 5. Psiquiatria ` Psicologia social 6. Teoria da personalidade ` Psicologia social A ESTRUTURA DA PERSONALIDADE – Personalidade é uma hipótese teórica, cuja unidade de estudo é a relação interpessoal e não a pessoa. Sua organização consiste em eventos interpessoais. Ela só se manifesta quando a pessoa está se comportando em relação a um ou mais indivíduos, mesmo que estes não estejam presentes. Todos os processos psicológicos têm um caráter interpessoal. Personalidade como um centro dinâmico de vários processos que ocorrem em vários campos interpessoais. Dinamismo – menor unidade empregada no estudo do indivíduo. É o padrão relativamente duradouro de transformações de energia (qualquer forma de comportamento), que recorrentemente caracteriza o organismo em sua duração como um organismo vivo. É mais ou menos um hábito. Padrão para Sullivan é: um invólucro contendo diferenças particulares insignificantes. Ou seja, uma nova característica pode ser acrescentada a um padrão sem mudar o mesmo, desde que não seja significativamente diferente dos outros conteúdos do invólucro. Dinamismos humanos caracterizam as relações interpessoais. Ex. dinamismo de ódio, de luxuria, etc. Qualquer relação habitual de uma pessoa em relação a outras, seja na forma de sentimento,atitude, ação manifesta, é um dinamismo. Todas as pessoas têm os mesmos dinamismos básicos, mas o modo de expressão varia de acordo com a situação e a experiência de vida do indivíduo. Um dinamismo normalmente emprega uma determinada zona do corpo para interagir com o ambiente. A maioria dos dinamismos tem o objetivo de satisfazer as necessidades básicas do organismo, com exceção do dinamismo do self ou do auto-sistema, que se desenvolve em resultado da ansiedade.Os dinamismos surgem das necessidades básicas.O bebê se relaciona com o mundo a partir da mãe e ai começa a se constituir sua personalidade, na inter-relação. Não nasce com personalidade.À medida que tem necessidades básicas como fome, frio, limpeza, a mãe vai providenciar o atendimento dessas necessidades. Se for satisfeito rapidamente não gera ansiedade, mas se não for, vai gerar. Conforme passa por ansiedades na espera da satisfação de uma necessidade vai gerando mecanismos de defesa para essa ansiedade. A defesa é necessária, mas quando exacerbada é negativa. Para Sullivan, as defesas vêm de aspectos irracionais da sociedade. Como Freud, ele trabalha com a idéia de inconsciente, mas as defesas não se resumem ao recalque de Freud, que seria apenas um desses mecanismos, mas não o único (diferença pra Freud). Ex: racionalmente ninguém iria repetir um comportamento que não trouxesse bom resultado.Se um rapaz acha que é abandonado nos relacionamentos por medo de sofre não se entrega a um novo relacionamento, mas como não se entrega acaba afastando as pessoas. Se fosse racional é claro que investiria pra não ser novamente abandonado. Exemplo de dinamismo: uma pessoa pode ter uma personalidade tímida e então sempre será tímida, mas o comportamento tímido se mostrará de diversas formas dependendo do contexto. No trabalho pode aparecer menos tímido que numa festa onde não conheça ninguém. Se uma criança fica ansiosa em relação à ausência da mãe, de acordo com o self desenvolvido terá os seguintes comportamentos quando a mãe chega: Self eu-bom _ a criança diz que sentiu muitas saudades Self eu-mau _ fica agressiva e não deixa ela se aproximar, grita, briga, dá chutes na mãe Self não-eu _ a criança se isola afastando-se da mãe Uma boa ilustração é comparar o sistema de self não-eu a uma reação do organismo a uma infecção, onde isola o agente da infecção para que não se espalhe e ao mesmo tempo tenta destruí-lo.No nosso psiquismo, tanto para Freud quanto para Sullivan, a infecção seria um corpo estranho (algo de ruim), mas este isolamento gasta muita energia e isso pode gerar neurose. O auto-sistema ou sistema de self – ansiedade é produto das relações interpessoais, sendo transmitida primeiramente da mãe para o bebê e depois por ameaças à segurança da pessoa. Para minimizar a ansiedade, a pessoa adota vários tipos de medidas protetoras e controles para supervisionar seu comportamento. Essas medidas de segurança formam o autosistema ou sistema de self, que permite certos modos de comportamento (o self eu-bom), proíbe outros (o self eu-mau) e exclui da consciência certos modos que são estranhos ou desagradáveis demais para serem considerados (o self não-eu). Assim, o autosistema age como um filtro da consciência. O autor usa o termo atenção seletiva para a recusa do inconsciente a prestar atenção a sentimentos e eventos geradores de ansiedade. O auto-sistema é o guardião da segurança e tende a isolar-se do resto da personalidade. É muito valorizado e protegido de críticas. Conforme cresce na pessoa, impede a mesma de fazer julgamentos objetivos de seu próprio comportamento e atenua contradições básicas entre o que a pessoa é e o que o auto-sistema diz ser. Quanto mais experiências de ansiedade a pessoa tem, mais o seu auto-sistema cresce e se dissocia do restante da personalidade. Serve para reduzir a ansiedade, mas, em excesso, interfere na capacidade da pessoa de viver construtivamente com os outros. Auto-sistema é um produto dos aspectos irracionais da sociedade _ o autosistema como defesa irracional seria então inconsciente. Auto-sistema é o principal obstáculo a mudanças favoráveis na personalidade. PERSONIFICAÇÕES – Imagem que o indivíduo tem de si mesmo ou de uma outra pessoa. É um complexo de sentimentos, atitudes e concepções que decorrem de experiências de satisfação de necessidade e de ansiedade. Relacionamentos interpessoais agradáveis geram personificações favoráveis das pessoas envolvidas. Várias personificações da mesma pessoa podem fundir-se para formar uma personificação complexa. Essas imagens que temos dos outros – que podem ou não corresponder à realidade – influenciam nossa atitude em relação a estas pessoas. As personificações também podem ser projetadas em outras pessoas (projetada _ idéia de Freud). Essas imagens que servem para lidarmos com a ansiedade, podem influenciar na nossa relação com as pessoas. (mecanismo de defesa × gerador de neurose). Personificações acontecem também com relação ao self – eu-bom e eu-mau. Estereótipos – personificações compartilhadas por várias pessoas. De acordo com a imagem que construímos de nós mesmos e das outras pessoas o nosso comportamento irá ser influenciado. As personificações não existem a priori, são construídas. Os estereótipos são generalizações de personificações. Ex: se um aluno chega atrasado associo que ele é desinteressado, mas nem todo aluno que se atrasa é por esse motivo.Generalizei. PROCESSOS COGNITIVOS – Lugar da cognição nas questões relativas à personalidade – classificação tripla da experiência: prototáxico, paratáxico, sintáxico. Experiência Prototáxica – série descontínua de estados momentâneos do organismo sensível. São sensações, imagens, sentimentos brutos que não tem conexão entre si e não possuem significado para quem experimenta. Encontrado nos primeiros meses de vida do bebê e é precondição para o aparecimento dos outros dois modos. Pensamento paratáxico – ver as relações causais entre os eventos que ocorrem aproximadamente no mesmo momento, mas que não têm nada a ver uma com a outra.Ex: supertições. Pensamento sintáxico – modo mais elevado de pensamento, que consiste na atividade simbólica consensualmente válida (que possui significado-padrão para um grupo de pessoas), especialmente verbal. Ex: palavras e números. Esse modo produz ordem lógica entre as experiências e permite que as pessoas se comuniquem umas com as outras. Importância da previsão no funcionamento cognitivo. Ela depende da memória e da interpretação do presente. Experiência prototáxica _ são os primeiros momentos _ tem a ver com o período sensório motor.Essa experiência prototáxica vai desaparecendo ao longo da vida, diferente do paratáxico que pode continuar na forma de supertições. Existe uma diferença dos estágios de desenvolvimento de Piaget para os de Sullivan. Para Piaget quando você passa pro estágio superior não apresenta mais as características do anterior. Pra Sullivan isso é possível. E vai além, Sullivan aceita a regressão a um estágio anterior causada por algum evento significativo. DINÂMICA DA PERSONALIDADE A forma como o indivíduo lida com suas necessidades e ansiedades. Personalidade é um sistema de energia cuja principal função é reduzir a tensão. Duas fontes principais de tensão: o Necessidades orgânicas. o Ansiedade – tensão gerada pelas ameaças reais ou imaginárias. Resultado da redução da necessidade é uma experiência de satisfação (de Freud). Muita ansiedade prejudica a pessoa na satisfação de suas necessidades, perturba o pensamento, etc. A ansiedade varia em intensidade, dependendo da gravidade da ameaça à segurança da pessoa. Ansiedade é transmitida ao bebê pela pessoa que faz a maternagem (próximo a Winicott – mãe geradora ou não de ansiedade). Quando o bebê não pode escapar à ansiedade, ele tende a adormecer. Uma das grandes tarefas da psicologia – descobrir as vulnerabilidades básicas à ansiedade nas relações interpessoais _ mais ligada a psicologia clínica na tarefa de achar defesas mais saudáveis. ESTÁGIOS DO DESENVOLVIMENTO – Personalidade com perspectiva de estágios bem definidos. Esse desenvolvimento da personalidade, para ele, é mais social. Detectou também as influências maléficas da sociedade sobre o indivíduo. Seis estágios mostram a forma como a personalidade se constrói: 1. Infância – nascimento até o aparecimento da fala articulada. Zona oral é a mais importante. Amamentação é a primeira experiência interpessoal. Dependendo das experiências que a criança tem com o seio/ mamilo, este pode ser: bom; bom, mas insatisfatório; seio errado porque não dá leite; seio mau da mãe ansiosa. Aspectos característicos da infância – dinamismo apatia-sonolência; transição do pensamento prototáxico para o paratáxico (essa passagem define a mudança pro nível da meninice); personificações da mãe; rudimentos do autosistema; diferenciação do corpo do bebê; aprendizagem de movimentos coordenados. Similar a Melaine Klein, Sullivan define: Seio bom _ tem o leite a disposição o tempo todo _ não gera ansiedade _ não cria defesa Serio bom, mas insatisfatório _ tem leite, mas não prontamente o tempo todo _gera alguma ansiedade Seio errado _ não dá leite _ gera muita ansiedade Seio mau _ até dá leite, mas a mãe é ansiosa no momento da amamentação _ gera muita ansiedade. Uma das defesas geradas pela não satisfação da necessidade e conseqüente ansiedade é a criança dormir. 2. Meninice – aprendizagem da linguagem e organização do mundo de modo sintáxico. Vai da fala articulada até da necessidade de companheiros para brincar. Fusão de diferentes personificações (gerado pela capacidade simbólica – uma pessoa pode ser boa e má ao mesmo tempo); auto-sistema como concepção de gênero; desenvolvimento da capacidade simbólica; sublimação e transformação malevolente surgem aqui. 3. Idade juvenil – anos iniciais do ensino fundamental (ler e escrever). Período de socialização, subordinação, competição e cooperação (aqui começam os jogos – antes as crianças ficavam em grupo mas cada um brincava sozinho com seus brinquedos, agora brincam realmente juntos), distinção entre realidade e fantasia (até então não existia essa diferenciação – deixa de acreditar em papai Noel, coelhinho da Páscoa, etc). Emergência de uma concepção de orientação de vida. 4. Pré-adolescência – relativamente breve, período marcado pela necessidade de um relacionamento íntimo com um igual do mesmo sexo (relacionamento estreito formando clube do Bolinha e da Luluzinha). Início dos relacionamentos interpessoais genuínos. 5. Adolescência inicial – desenvolvimento de um padrão de comportamento e relação heterossexual. Dinamismo do desejo sensual. Separação entre necessidade erótica (pessoa do sexo oposto) e necessidade de intimidade (pessoa do mesmo sexo). Conflitos gerados por necessidades opostas de gratificação sexual, segurança e intimidade.Persiste até o encontro de um padrão estável de desempenho que satisfaça suas pulsões sexuais. 6. Adolescência final – Vai até o estabelecimento de um repertório plenamente maduro(integrar amor e sexo) das relações interpessoais. Iniciação em privilégios, deveres,satisfação, responsabilidade. Aperfeiçoamento das relações interpessoais, modo sintáxico de pensamento. Auto-sistema se estabiliza _ a partir daqui a personalidade estará completamente formada, ainda pode mudar, mas pouco.Esse processo transforma um organismo animal em pessoa humana Personalidade pode mudar a qualquer momento, à medida que surgirem novas situações interpessoais. Podem ocorrer regressões quando o sofrimento, ansiedade e fracasso tornam-se intoleráveis. Assim como Freud Sullivan acredita em regressão. O comportamento regride em função de um sofrimento.