AULA Nº 10 TEMA: MODELO RELACIONAL INTERPESSOAL DE HARRY STACK SULLIVAN OU Prof. Dr. Alexandre Pereira de Mattos PSICOLOGIA CLÍNICA E PSICODINÂMICA CONTEÚDOS A SEREM TRABALHADOS Modelo Relacional (ou Psicanálise Interpessoal e Cultural). Principais conceitos de Harry Stack Sullivan. CONTEÚDO Psicanálise Interpessoal - ênfase no modelo relacional. Principais teóricos que ampliaram os conceitos psicanalíticos para uma compreensão com ênfase nos aspectos relacionais: Fairbain, Harry S. Sullivan, Eric Fromm, Karen Horney, entre outros. Estes autores não consideram que o sujeito vive uma luta entre impulsos sexuais e agressivos proibidos e a repressão empreendida por sanções sociais (realidade e Superego). A dificuldade do sujeito resulta de distúrbios severos em seus primeiros relacionamentos com pessoas importantes em sua vida. Sendo assim, o sucesso psicoterápico dependerá da reparação engendrada na relação paciente e psicoterapeuta. A ação terapeutica não dependerá somente da interpretação que o terapeuta faz (tornar cs o que é ics), mas na atitude com o paciente: aceitação, empatia, respeito pelos seus medos e ansiedades. Isto se dá porque a psicoterapia é uma nova experiência relacional que surge para o paciente. E será justamente por meio desta nova experiência que os padrões relacionais antigos podem ser reeditados. O CONCEITO DE PERSONALIDADE Segundo estes autores (embora eles tenham alguma diferença entre si) consideram que tudo que nos envolve (nossa compreensão sobre nós mesmos e sobre o mundo) é construído e formatado pelas nossas experiências relacionais. Como se nas experiências primordiais passássemos a criar um Mapa Representacional, ou num exemplo mais palpável, como se fosse um Template. Um exemplo simples: imaginem uma criança brincando livremente e contente com seus brinquedos enquanto sua mãe lê. Depois de um tempo, a criança fica entediada com o brinquedo e se aproxima da mãe para começar uma nova atividade ou brincadeira. A mãe, que está pronta para iniciar uma nova atividade com a criança, fica satisfeita pelo fato da criança ter se aproximado dela para uma nova interação. Os dois encontram então uma atividade prazerosa para ambos. A representação mental desta experiência para a criança terá três componentes: REPRESENTAÇÃO DO SELF: a criança irá se ver como uma pessoa que sente necessidades e fica confortável em se aproximar do outro para satisfazêlas. A resposta da mãe indica que a criança é digna de respeito e interesse. A resposta da mãe (e de outros significativos) começa a indicar que tipo de pessoa a criança é. REPRESENTAÇÃO DA MÃE: a mãe é representada como uma pessoa interessada, amorosa, capaz de satisfazer uma necessidade e satisfeita com a presença da criança. REPRESENTAÇÃO DA INTERAÇÃO: a interação é considerada satisfatória, com ambos capazes de dar e receber um do outro. Representação Mental não são simplesmente memórias e não são construídos a partir de eventos únicos. Eles são uma síntese de experiências vividas com o outro no curso da vida. Esta síntese será uma espécie de Template ou modelo que influenciará futuras experiências. Neste exemplo, a criança construirá uma fé na generosidade de outras pessoas, pois se aproximar delas será uma tarefa confortável em razão das experiências anteriores. Uma forma de entendermos o que seria uma Representação é pensá-la como Significados extraídos dessas experiências. Certamente uma mãe não estará sempre disponível para a criança. As vezes ela estará doente, com dor de cabeça, nervosa, preocupada, etc. A qualidade da interação dependerá do estado mental da criança e do outro significativo. A falha humana em satisfazer nossas necessidades na infância faz parte de nosso desenvolvimento. No caso da mãe indisponível, a criança poderá procurar o pai para a interação saudável. Em outras palavras, as experiências com nossos pais não são de um tipo só (acolhedora). Estas experiências podem abarcas interações mais conflitantes. O que determinará um padrão ou representação hostil sobre determinada relação são as experiências subsequentes. Se a criança passar por experiências mais hostis, esta representação pode ter um poder de influência maior, ainda que no início ela tenha tido uma experiência favorável e amigável.. O inverso também é verdadeiro. Pessoas que cresceram num lar hostil podem reconstruir suas representações a partir de novas interações. Outro fator importante no que diz respeito às Representações mentais é que elas não significados verídicos (como uma fotografia). Embora uma mesma mãe tenha três filhos, cada filho tem uma mãe diferente em razão das experiências e estados mentais distintos. A maneira como tanto o self como os outros são representados dependerá não só da percepção (como a criança percebe os pais, os observa), mas das necessidades da criança. A psicanálise relacional argumenta que todos nós temos necessidades de nos sentirmos seguros, fisicamente e emocionalmente, livres de ansiedade e protegidos de traumas externos. As vezes sentimos a necessidade não só de estarmos seguros, mas de sentirmos competentes, empolgados, energizados e livres para a autoexpressão. Estas duas categorias de necessidades (segurança e auto-expressão) podem ser complementares ou podem estar em conflito uma com a outra. Saúde mental e psicopatologia se apresentam num continuo. O conceito de representação mental e a prevalente necessidade de segurança e autoexpressão ajudam a definir o que é saudável de uma maneira mais ampla. Saúde requer que a pessoa integre, expresse e satisfaça suas várias necessidades de uma maneira que mantenha um sentido positivo do self e sentimentos realistas em relação ao outro. Isto fará com que o sujeito estabeleça relacionamentos sólidos e que use todas as suas potencialidades. No caso da patologia (sujeito disfuncional), os problemas da vida do sujeito também são produtos de representações disfuncionais. Num processo psicoterápico, o terapeuta precisa extrair informações dos aspectos qualitativos do fenômeno transferencial. Outro exemplo: Imaginem que uma criança esteja precisando de algo (necessidades) e sua mãe está depressiva e deseja ficar sozinha. Sob tais circunstâncias, a mãe considerará a aproximação da criança como um estorvo, uma imposição, e a criança vivenciará a reação da mãe como rejeição. Se este tipo de experiência se repetir várias vezes, a criança desenvolverá uma representação mental na qual ela é intrusiva, exigente e inadequada. A mãe será representada como indisponível e rejeitadora. Finalmente, a criança passará a acreditar que os outros não se interessam por ela, especialmente quando ela se sentir necessitada. Pode desenvolver também a noção de que suas necessidades são ruins, inadequadas. O MODELO INTERPESSOAL DE HARRY S. SULLIVAN Personificação: modelo que direciona a percepção interpessoal. Desenvolvida por meio das experiências que influenciarão as percepções do self e do outro. Pessoas aceitam certas características e experiências pertencentes ao self enquanto vêem outras características não pertencendo ao self, ou seja, pertencendo ao não-eu. Personificação do self Pode desempenhar um papel significativo na perpetuação de problemas clínicos. Personificações se desenvolvem a partir das reações e avaliações refletidos do outro. Bom-eu: características, experiências e sentimentos que o indivíduo valoriza em si mesmo. Mau-eu: o individuo acreditar serem estes sentimentos partes dele mesmo, mas não os aceita em si. Não-eu: não são reconhecidos imediatamente como seu e são considerados negativos (e primitivos). Personificação do outro: Pessoas organizam suas percepções sob influência de experiências anteriores. As distorções perceptivas sobre o outro Sullivan chamará de distorções paratáxicas (origem no conceito de transferência). ACERCA DAS PERSONIFICAÇÕES de operação de segurança por meio da desatenção seletiva. Esta desatenção controla o conteúdo da consciência focal. (ver força centrípeta ao lado). Assemelha-se aos mecanismos de defesa da psicanálise clássica. Para Sullivan, as personificações que um indivíduo desenvolve do self e do outro tem um importante papel causal na determinação desses padrões repetitivos. Como a informação que é incongruente com a personificação do self causa ansiedade, os indivíduos tendem a se comportar de modo a evocar informações que sejam congruentes com a personificação do self (ASPECTOS DO NÃO-EU PROVOCAM MUITA ANSIEDADE). Percepção e memórias são tendenciosas. Psicoterapia interpessoal: o comportamento maladaptativo persiste durante longos períodos de tempo, por ser ele baseado em percepções, expectativas ou construções das características de outras pessoas que tendem a ser confirmadas pelas consequências interpessoais do comportamento emitido. O indivíduo que personifica a si próprio de forma rígida como sendo fraco e dependente irá se comportar de modo a evocar informações que sejam congruentes com esta personificação. Esses padrões duradouros são chamados de dinamismos. Para Sullivan, personalidade seria ¨aquele padrão relativamente duradouro de situações interpessoais recorrentes que caracterizam a vida humana". Natureza circular e recíproca. O sujeito antecipa a hostilidade do outro comportando-se de forma hostil e confirmando suas expectativas. Esse modo de repetir as experiências passadas é chamado por Sullivan de DINAMISMOS. O QUE É IMPORTANTE É O GRAU DE ANSIEDADE PRESENTE NESTAS EXPERIÊNCIAS. As pessoas são motivadas por necessidades, estas descritas como "satisfação" e "segurança". Ansiedade são aflições emocionais que bombardeiam a auto estima por desencadear insegurança. Quando as experiências de ansiedade são intensas e frequentes, a criança as personifica como não-eu. "A mãe que se sente tensa ou ansiosa pode transmitir isso ao bebê". A ansiedade obstrui a percepção e o entendimento da experiência. A sensação básica de segurança está associada a ser valorizado ou não pelo outro. A vida adulta a pessoa fará de tudo para diminuir a ansiedade (OPERAÇÕES DE SEGURANÇA). Desatenção seletiva (operação de segurança): Informações inconsistentes com o self foram originalmente recusadas e recebidas com ansiedade no passado. Entram em ação o que Sullivan chamará Para Sullivan, a busca da segurança, em suas várias formas e por meio de suas várias operações, torna-se o princípio motivacional privilegiado na maioria das pessoas. EM TERAPIA. O paciente pode não estar ciente de certos dinamismos, o que implica que o terapeuta deva prestar atenção aos fenômenos transferenciais e contratransferenciais. Terapeuta como observador-participante: o terapeuta é parte do campo interpessoal (não há neutralidade). Atenção às próprias reações automáticas aos pacientes. O paciente incita respostas do outro que sejam congruentes com seus esquemas. Isso inclui o terapeuta.