REVISTA BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA vol. 69 - nº 4 - Julho / Agosto 2010 JUL/AGO 2010 VOLUME 69 NÚMERO 4 P. 211-78 Oftalmomiíase 211 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Indexada nas bases de dados: SciELO WEB OF SCIENCE Scientific Electronic Library OnLine Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral Editor Chefe Raul N. G. Vianna - Niterói - RJ Co-editores Acácio Muralha Neto - Niterói - RJ Ana Luisa Hofling de Lima - São Paulo - SP Helena Parente Solari - Niterói - RJ Jaco Lavinsky - Porto Alegre - RS José Beniz Neto - Goiania - GO Marcelo Luis Occhiutto - São Paulo - SP Marcio Bittar Nehemy - Belo Horizonte - MG Marcos Pereira de Ávila - Goiania - GO Paulo Fadel - Curitiba - PR Roberto Lorens Marback - Salvador - BA Sergio Kwitko - Porto Alegre - RS Corpo Editorial Internacional Baruch D. 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Rehder- Sao Paulo- SP Laurentino Biccas Neto- Vitoria- ES Leiria de Andrade Neto- Fortaleza- CE Liana Maria V. de O. Ventura- Recife- PE Luiz Claudio Santos de Souza Lima - Rio de Janeiro - RJ Manuel Augusto Pereira Vilela- Porto Alegre- RS Marcelo Palis Ventura- Niteroi- RJ Marco Antonio Rey de Faria- Natal- RN Maria de Lourdes Veronese Rodrigues- Ribeirao Preto- SP Maria Rosa Bet de Moraes Silva- Botucatu- SP Mario Luiz Ribeiro Monteiro - São Paulo- SP Maurício Bastos Pereira - RJ Mario Martins dos Santos Motta- Rio de Janeiro- RJ Miguel Angelo Padilha Velasco- Rio de Janeiro- RJ Miguel Hage Amaro - Belém - PA Milton Ruiz Alves- Sao Paulo- SP Nassim da Silveira Calixto- Belo Horizonte- MG Newton Kara Jose - Sao Paulo - SP Newton Kara José Jr. - São Paulo - SP Octávio Moura Brasil do Amaral Fo.- Rio de Janeiro- RJ Oswaldo Moura Brasil- Rio de Janeiro- RJ Paulo Augusto De Arruda Mello- Sao Paulo- SP Paulo Schor- Sao Paulo- SP Remo Susanna Jr.- Sao Paulo- SP Renato Ambrosio Jr.- Rio de Janeiro- RJ Renato Luiz Nahoum Curi- Niteroi- RJ Riuitiro Yamane - Niterói - RJ Rogerio Alves Costa- Araraquara- SP Rubens Camargo Siqueira- S.J do Rio Preto- SP Sebastiao Cronemberger So.- Belo Horizonte- MG Sergio Henrique S. Meirelles- Rio de Janeiro- RJ Silvana Artioli Schellini - Botucatu- SP Suel Abujamra- Sao Paulo- SP Tadeu Cvintal- Sao Paulo- SP Valenio Peres Franca- Nova Lima- MG Virgilio Augusto M. Centurion- Sao Paulo- SP Walton Nose- Sao Paulo- SP Wesley Ribeiro Campos- Passos- MG Yoshifumi Yamane- Rio de Janeiro- RJ Redação: Rua São Salvador, 107 Laranjeiras CEP 22231-170 Rio de Janeiro - RJ Tel: (0xx21) 3235-9220 Fax: (0xx21) 2205-2240 Tiragem: 5.000 exemplares Edição: Bimestral Secretaria: Marcelo Diniz Editoração Eletrônica: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: Marco Antonio Pinto DG 25341RJ Publicidade: Sociedade Brasileira de Oftalmologia Responsável: João Diniz [email protected] Contato publicitário: Westinghouse Carvalho Tels.: (11)3726-6941 / 9274-0724 [email protected] Revisão: Eliana de Souza FENAJ-RP 15638/71/05 Normalização: Edna Terezinha Rother Assinatura Anual: R$240,00 ou US$210,00 Impressão: Gráfica Colorset 212 Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras - CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Tels: (0xx21) 3235-9220 - Fax: (0xx21) 2205-2240 - e-mail: [email protected] - www.sboportal.org.br Revista Brasileira de Oftalmologia, ISSN 0034-7280, é uma publicação bimestral da Sociedade Brasileira de Oftalmologia Diretoria da SBO 2009-2010 Presidente Mário Motta Vice-presidente RJ Aderbal de Albuquerque Alves Jr. Vice-presidentes regionais Fernando Trindade João Borges Fortes Filho Miguel Hage Amaro Roberto Marback Secretário Geral Armando Crema 1º Secretário Almir Ghiaroni 2º Secretário Lília Muralha Tesoureiro Sansão Kac Diretor de Cursos Arlindo Portes Diretor de Publicações Raul Vianna Diretor de Biblioteca Ricardo Lima de Almeida Neves Conselho Consultivo Aderbal de Albuquerque Alves Celso Marra Pereira Morizot Leite Filho Luiz Carlos Portes Miguel Ângelo Padilha Oswaldo Moura Brasil Conselho Fiscal Efetivos Paiva Gonçalves Neto Gilberto dos Passos Giovanni Colombini Suplentes Mário Nagao Octávio Moura Brasil Roberli Bichara Pinto SOCIEDADES FILIADAS A SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA Associação Brasileira de Banco de Olhos e Transplante de Córnea Presidente: Dr. Ari de Souza Pena Sociedade Capixaba de Oftalmologia Presidente: Dr. César Fracalossi Barbieri Associação Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Fabiano Saulo Rocha Jr. Sociedade Catarinense de Oftalmologia Presidente: Dr. Walbert de Paula e Souza Associação Pan-Americana de Banco de Olhos Presidente: Dr. Elcio Hideo Sato Sociedade Goiana de Oftalmologia Presidente: Dr. Solimar Moisés de Souza Associação Paranaense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ezequiel Portella Sociedade Maranhense de Oftalmologia Presidente: Dr. Mauro César Viana de Oliveira Associação Rondoniense de Oftalmologia Presidente: Dr. Cleiton Cassio Bach Sociedade de Oftalmologia da Bahia Presidente: Dra. Cláudia Galvão Brochado Associação Sul Matogrossense de Oftalmologia Presidente: Dr. Beogival Wagner Lucas Santos Sociedade de Oftalmologia do Ceará Presidente: Dr. David da Rocha Lucena Associação Sul-Mineira de Oftalmologia Presidente: Dr. Elias Donato Sociedade Norte Nordeste de Oftalmologia Presidente: Dr. Raimundo Emanuel Menezes Maciel Sociedade Alagoana de Oftalmologia Presidente: Dr. Jack Arnold Oliveira Lima Sociedade de Oftalmologia do Nordeste Mineiro Presidente: Dr. Mauro César Gobira Guimarães Sociedade Brasileira de Administração em Oftalmologia Presidente: Dr. Renato Ambrósio Jr. Sociedade de Oftalmologia de Pernambuco Presidente: Dr. João Pessoa de Souza Filho Sociedade Brasileira de Catarata e Implantes Intraoculares Presidente: Dr. Marco Rey Faria Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Norte Presidente: Dr. Uchoandro Bezerra Costa Uchôa Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Ocular Presidente: Dra. Suzana Matayoshi Sociedade de Oftalmologia do Rio Grande do Sul Presidente: Dr. Afonso Reichel Pereira Sociedade Brasileira de Cirurgia Refrativa Presidente: Dr. José Ricardo Lima Rehder Sociedade Paraibana de Oftalmologia Presidente: Dr. Ivandemberg Velloso Meira Lima Sociedade Brasileira de Ecografia em Oftalmologia Presidente: Dr. Celso Klejnberg Sociedade Paraense de Oftalmologia Presidente: Dr. Ofir Dias Vieira Sociedade de Oftalmologia do Amazonas Presidente: Dr. Manuel Neuzimar Pinheiro Junior Sociedade Sergipana de Oftalmologia Presidente: Dr. Fábio Ribas Matos e Silva 213 Revista Brasileira de ISSN 0034-7280 Oftalmologia PUBLICAÇÃO OFICIAL: SOCIEDADE BRASILEIRA DE OFTALMOLOGIA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CATARATA E IMPLANTES INTRAOCULARES SOCIEDADE BRASILEIRA DE CIRURGIA REFRATIVA Fundada em 01 de junho de 1942 CODEN: RBOFA9 Indexada nas bases de dados: SciELO Scientific Electronic Library OnLine WEB OF SCIENCE Disponível eletronicamente: www.sboportal.org.br Publicação bimestral LILACS Literatura Latino-americana em Ciências da Saúde Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior http://www.capes.gov.br Rev Bras Oftalmol, v. 69, n. 4, p. 211-78, Jul./Ago. 2010 Sumário - Contents Editorial 215 Senescência ocular e o século XXI Cláudio Chaves Artigos originais 217 Implante de plug lacrimal termosensível para tratamento da síndrome da disfunção lacrimal Thermo sensitive punctum plug implant for the treatment of dysfunctional tear syndrome Juliana Silverio, Priscila Dalla Vechia Ferreira, Leonardo Verri Paulino, Vicente Vitielo Neto, José Ricardo Carvalho Lima Rehder 222 Atendimento oftalmológico dos recém-nascidos examinados nas maternidades públicas em Manaus Ophthalmological evaluations of the newborn at the public maternities in Manaus José Cavalcanti Campos Júnior 226 Espessura central da córnea: catarata congênita, pseudofacia e afacia Central corneal thickness: congenital cataracts, pseudophakia and aphakia Weika Eulálio de Moura Santos, José Joarez de Siqueira Junior, Gustavo Salomão, José Ricardo Carvalho Lima Rehder 230 Desempenho visual após implante de uma lente intraocular asférica multifocal difrativa Visual performance after implantation of an aspheric multifocal diffractive intraocular lens Leonardo Akaishi, Camila Brito Messias, Patrick Frensel de Moraes Tzelikis 214 236 Avaliação econômica das associações fixas de prostaglandina/prostamida e timolol no tratamento do glaucoma e da hipertensão ocular Economic evaluation of Prostaglandin/Prostamide and timolol fixed combinations in the treatment of glaucoma and ocular hypertension. Ricardo Augusto Paletta Guedes, Vanessa Maria Paletta Guedes, Julia Linhares Borges, Alfredo Chaoubah 241 Comparação pressórica e visual entre a facoesclerectomia profunda não penetrante e a facotrabeculectomia Intraocular pressure and visual results from combined surgery: phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy and phacoemulsification with trabeculectomy 247 Descolamento da retina após tratamento do retinoblastoma Rhegmatogenous retinal detachment after succesful treatment of retinoblastoma Juliana Almodin, Eduardo Cavalheiro Pedroso, Tadeu Cvintal, Flavia Almodin João Alberto Holanda de Freitas, Hélio Fernando Heitmann de Abreu, Maristela Amaral Palazzi 252 Vitrectomia transconjuntival 25 gauge via pars plana para opacidade vítrea persistente em pacientes com implante de lentes multifocais Transconjunctival sutureless 25-gauge vitrectomy for visually significant vitreous floaters in patients with multifocal intraocular lens Leonardo Akaishi, Fábio Canamary, Patrick Frensel de Moraes Tzelikis 259 Ocular lesions in sickle cell disease patients from Bahia, Brazil Lesões oculares em pacientes com doença falciforme da Bahia, Brasil Dayse Cury, Ney Boa-Sorte, Isa Menezes Lyra, Angela Dias Zanette, Humberto Castro-Lima†, Bernardo Galvão-Castro, Marilda Souza Gonçalves Relato de Caso 264 Oftalmomiíase pós-traumática: relato de caso e revisão de literatura Ophthalmomyiasis post-traumatic: case report and literature review José Carlos Martins Junior, Frederico Santos Keim, Joana Iarocrinski 269 Síndrome de Posner-Schlossman. Relato de três casos Posner-Schlossman syndrome. Report on three cases. Cesar Gomes da Silveira, Paulo Ricardo Pereira de Oliveira, Renato Macedo da Silveira Instruções aos autores 276 Normas para publicação de artigos na RBO EDITORIAL 215 Senescência ocular e o século XXI O sentido da visão é responsável por cerca de oitenta e cinco por cento da integração do ser humano com o meio que o rodeia. Isso é perfeitamente compreendido quando fechamos os olhos por um breve intervalo de tempo de apenas cinco segundos, e percebemos como tudo fica diferente. Os órgãos maiores da visão - os olhos - são estruturalmente pequenos em dimensão e frágeis na consistência, porém extremamente importantes na função, além de serem riquíssimos na expressão. Os olhos são as janelas da alma; ao brilhar na alegria ou lacrimejar no choro, a tradução do sentimento e das sensações, enfim, os nossos guias tanto nos momentos de satisfação quanto nas desilusões! Esse dom divino, assim como as outras partes do corpo humano, também envelhece, sofre desgastes, pode sediar doenças e ser alvo de processos degenerativos. Se considerarmos as linhas de cortes epistemológicos relacionadas com a envelhescência ocular que se estabelecem no decorrer da vida, podemos registrar três momentos como os mais significativos: o primeiro é o que acontece por volta da quarta década, em que já não é mais possível ler sem o auxílio de óculos. É a presbiopia, definida como a dificuldade de visão para perto causada pela perda da acomodação - capacidade de enfocar objetos e diferentes distâncias. Também nesse momento, aproximadamente 2% da população de todas as raças começa a desenvolver uma doença ocular denominada glaucoma - oftalmopatia que, se não controlada, lesa gradualmente o nervo óptico, podendo causar cegueira. Essa entidade tem na elevação dos níveis suportáveis de pressão intraocular o seu principal fator de risco. Ainda a partir dos quarenta anos, enfermidades como a hipertensão arterial e a diabetes, se não compensadas, podem cursar com manifestações oculares na região do fundo do olho, a urgirem pela aplicação de tratamento a base de raios laser para evitar o comprometimento severo da visão. O segundo momento ocorre na quinta década quando, somados aos antes descritos, podem se instalar dois outros males de considerável relevância (detectados mais frequentemente no sexo feminino, de provável correlação com distúrbios hormonais), que são: o Olho Seco, causado pela diminuição e/ou desorganização do filme lacrimal, o que requer a utilização permanente de colírios de lágrima artificial; e as deformidades da pálpebra, causadas pela deposição de excesso de gorduras, que produzem as bolsas palpebrais e os xantelasmas, situações resolvíveis com procedimentos cirúrgicos de pequeno porte. O terceiro momento ocorre a partir dos sessenta anos, quando as primeiras estruturas oculares que se formam na vida embrionária evidenciam que também são as primeiras que desenvolvem senescência. É quando advêm as doenças do cristalino, da retina e dos nervos cranianos relacionados com o aparelho visual. Com a perda da transparência da lente natural do olho, instala-se a catarata, que leva à baixa da acuidade visual, sendo tal situação quase sempre reversível com a aspiração do cristalino envelhecido e sua respectiva substituição por uma lente intraocultar artificial. Também, a partir dessa faixa de idade, pode ocorrer comprometimento da retina, em especial, a mácula, quando pode instalar-se a doença conhecida como Degeneração Macular Relacionada com a Idade (DMRI) que leva, na maioria das vezes, à perda significativa da eficiência visual. Entretanto, os avanços no melhor conhecimento das drogas que atuam, impedindo o crescimento vascular e a sua respectiva aplicação diretamente no interior do olho, despontam como direção alvissareira para o controle dessa enigmática doença. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 215-6 216 Senescência ocular e o século XXI Ainda no transcorrer da idade avançada podem advir distúrbios neurológicos, denunciados por meio de alteração dos movimentos oculares, tanto na horizontalidade quanto no sentido vertical, como, por exemplo, a perda da capacidade de girar os olhos na direção para cima, que pode vir a representar um alerta sobre o possível futuro estabelecimento de doença como o Mal de Parkinson. O conhecimento dessas noções, por parte da população em geral, deve ser entendido como princípio de educação em saúde, na busca por viver mais e com qualidade, assim como a atenção da comunidade oftalmológica em voltar-se, cada vez mais, para a gerontologia é deveras importante, considerando-se ser a população de idosos centenários uma realidade crescente em todo mundo no século XXI. Cláudio Chaves Instituto de Oftalmologia de Manaus e Universidade Federal do Amazonas Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 215-6 ARTIGO ORIGINAL 217 Implante de plug lacrimal termosensível para tratamento da síndrome da disfunção lacrimal Thermo sensitive punctum plug implant for the treatment of dysfunctional tear syndrome Juliana Silverio1; Priscila Dalla Vechia Ferreira1; Leonardo Verri Paulino1; Vicente Vitielo Neto2; José Ricardo Carvalho Lima Rehder3 RESUMO Objetivo: Avaliar os resultados da oclusão de ponto lacrimal reversível com o uso de plugs termosensíveis para o tratamento da síndrome da disfunção lacrimal. Métodos: Dezoito olhos de 9 pacientes com diagnóstico de olho seco foram selecionados e submetidos à oclusão reversível de ponto lacrimal com o uso de plugs termosensíveis, e acompanhados por 60 dias através de questionário OSDI e testes com fluoresceína, rosa bengala e Schirmer. Resultados: Em todos os pacientes estudados houve melhora nos sintomas de olho seco e melhora nos parâmetros oftalmológicos pesquisados. Em apenas 1 dos pacientes a melhora dos sintomas foi pequena, e não houve diminuição na dependência de colírio lubrificante. Nos outros 8 pacientes houve diminuição no uso de colírio. Durante o estudo não ocorreram complicações infecciosas ou de extrusão. Conclusão: Oclusão temporária do ponto lacrimal com SmartPlugtmparece ser uma opção efetiva para o tratamento da síndrome da disfunção lacrimal quando o uso de lubrificantes não é suficiente. Sua colocação é relativamente simples e segura, porém estudos mais longos são necessários. Descritores: Síndrome do olho seco/terapia; Aparelho lacrimal/cirurgia; Próteses e implantes; Resultados de tratamento 1 Médicos Colaboradores do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP) - Brasil; Chefe do Setor de Doenças Externas e Córnea do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC Santo André (SP) - Brasil; 3 Professor Titular e Chefe do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP) - Brasil. 2 Trabalho realizado no Setor de Doenças Externas e Córnea do Departamento de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC FMABC - Santo André (SP) - Brasil Os autores declaram inexistir conflitos de interesse. Recebido para publicação em: 9/12/2009 - Aceito para publicação em 12/7/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 217-21 218 Silverio J, Ferreira PDV, Paulino LV, Neto VV, Rehder JRCL INTRODUÇÃO A Síndrome da Disfunção Lacrimal (olho seco) é caracterizada por uma desordem multifatorial lacrimal e da superfície ocular(1), associado com sintomas que podem variar de discreto incômodo até quadros mais intensos com complicações oculares(1-2). O diagnóstico é baseado na queixa do paciente associada à positividade de alguns testes específicos para tal(1,3-4). Condições sistêmicas e locais podem alterar esse equilíbrio na composição da lágrima(4). As causas desta síndrome são variadas e complexas, originando uma sintomatologia de intensidade variável que pode incluir: ressecamento, vermelhidão, irritação ou outras sensações oculares relacionadas, que provêm de alterações na quantidade ou qualidade do filme lacrimal(5). O filme lacrimal é composto pelas camadas mucínica, aquosa e lipídica, cada qual com sua função e local de produção específica. Qualquer alteração que ocorra em uma das camadas pode favorecer o aparecimento de sintomas da síndrome. A camada mucínica consiste em glicoproteínas de alto peso molecular que se aderem ao epitélio e formam uma superfície hidrofílica(6). A camada aquosa constitui o maior volume da lágrima e fica acima da camada de mucina. Por último, as glândulas de Meibomius produzem a camada lipídica, que é responsável pela estabilização do filme aumentando a tensão superficial e diminuindo a evaporação(3). As opções de tratamento clínico (colírios, géis e higiene) têm como objetivo principal melhorar a qualidade ou fornecer as substâncias deficitárias para a composição do filme lacrimal ou ainda aumentar a produção da glândula lacrimal (como a ciclosporina). Os tratamentos cirúrgicos são indicados em casos extremos quando o uso de medicação tópica não se faz suficiente, sendo os mais comuns a tarsorrafia (sutura das margens palpebrais) ou a oclusão definitiva do ponto lacrimal de drenagem. A primeira diminui a exposição ocular, diminuindo a fenda palpebral, e a outra mantém o filme lacrimal por mais tempo em contato com os olhos. O implante de plug no ponto lacrimal é um tratamento intermediário entre a opção clínica e o procedimento cirúrgico e tem sido demonstrado como um tratamento reversível efetivo para a Síndrome do Olho Seco(7-11). Plugs de ponto lacrimal são usados a mais de 20 anos e neste período, sofreram várias modificações de design e tipos de material empregados. O material mais comum é o silicone, que apesar de ser um material inerte, causa em alguns pacientes a sensação de corpo estranho. O implante exige aprendizado técnico e material específico (dilatadores e pinças), além da descrição de Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 217-21 casos de complicações infecciosas como canaliculites e dacriocistites relacionadas ao seu uso(12-14). Os plugs termosensíveis são fabricados com material acrílico hidrofóbico que se apresenta de forma sólida à temperatura ambiente e torna-se um gel maleável em contato com a temperatura do corpo humano (ou qualquer temperatura maior que 30°C). Por esta característica o plug permite a inserção sem dilatação prévia do ponto lacrimal e molda-se de acordo com a anatomia do canalículo do indivíduo, sendo fabricado em tamanho único. Ocorre ainda expansão do diâmetro de 0,4mm para até 1 mm, ao mesmo tempo em que diminui o comprimento(5). A remoção do plug é realizada através de irrigação da via lacrimal de drenagem com soro fisiológico. O material usado foi testado seguindo as normas da ISO10993 (Avaliação Biológica de Aparatos Médicos) e o Memorando de Matrizes de Biocompatibilidade do FDA como demonstrado na tabela 1. O objetivo desta investigação clínica é avaliar os resultados do tratamento da síndrome da disfunção lacrimal de diferentes etiologias com a oclusão reversível do ponto lacrimal com plugs termosensíveis, bem como avaliar o grau de dificuldade no implante e possíveis complicações decorrentes da presença do plug nas vias lacrimais de drenagem. MÉTODOS O estudo foi analisado e aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade de Medicina do ABC. Foram selecionados 9 pacientes do ambulatório de Patologia Externa do Instituto de Olhos da Faculdade de Medicina do ABC, portadores de olho seco e usuários de lubrificante de forma contínua. Estes pacientes, após ler e assinar consentimento informado, foram submetidos à avaliação oftalmológica completa, incluindo o exame com fluoresceína, rosa bengala, tempo de ruptura do filme lacrimal (BUT), teste de Schirmer I e o questionário ODSI (Ocular Surface Disease Index). Os pacientes diagnosticados com a síndrome da disfunção lacrimal com queixa apesar do tratamento clínico foram submetidos a implante de plug termossensível de acrílico hidrofóbico nos pontos lacrimais inferiores de ambos os olhos, e foram acompanhados por um período de 60 dias. Os materiais específicos necessários para a técnica incluem: Smart Plug tm produzido pela empresa Medennium e uma pinça de ponto oftálmica. O estudo teve duração de 60 dias. O seguimento dos pacientes foi feito no D1, D7, D30 e D60, com exa- Implante de plug lacrimal termosensível para tratamento da síndrome da disfunção lacrimal me oftalmológico completo, teste de Schirmer I, teste de fluoresceína, BUT lacrimal e teste de coloração com rosa bengala. O questionário ODSI foi reaplicado no D30 e D60. Os dados analisados ao fim do acompanhamento foram: melhora dos sintomas de irritação ocular, diminuição da frequência do uso de lubrificantes, complicações infecciosas e alterações de superfície ocular determinada pela fluoresceína, rosa bengala e BUT lacrimal. Estes dados foram comparados com os resultados da literatura. Os critérios de exclusão foram: pacientes com olho único, PIO maior que 21mmHg, glaucoma ou história familiar, cirurgia corneana prévia, retardo mental, contraindicações palpebrais. Foram avaliados antes do procedimento: data de nascimento, sexo e raça, patologias pré-existentes, melhor acuidade visual corrigida em ambos os olhos, biomicroscopia de córnea, BUT do filme lacrimal, teste de rosa bengala graduado em pontos de acordo com a escala de Van Bijsterveld's(15), teste de fluoresceína também graduada em pontos de acordo com o critério proposto por Shimmura et al.(16), teste de Schirmer I e avaliação de possíveis obstruções de vias lacrimais através de irrigação. RESULTADOS A média de idade da população estudada foi de 42,9 anos (37-67 anos). A maioria dos pacientes era do sexo feminino 7 (77,8%) e apenas 2 (22,2%) eram do sexo masculino. Foi realizada irrigação do canal lacrimal; e em todos os pacientes ele se encontrava pérvio, sendo que apenas em um paciente houve pequeno refluxo pelos canais lacrimais superiores. Dentre as doenças sistêmicas relacionadas encontradas nos pacientes estudados, tivemos 2 casos de lúpus eritematoso sistêmico, 2 casos de síndrome de Sjögren, 1 de fibromialgia, 1 de hipotireoidismo e 1 de diabetes mellitus. O implante dos plugs termossensíveis nos pontos lacrimais inferiores dos pacientes selecionados ocorreu sem dificuldades, com auxílio de uma pinça de ponto. Os pacientes toleraram bem o procedimento e não se queixaram de sensação de corpo estranho ou qualquer tipo de incômodo. A média no Teste de Schirmer I inicialmente era de 17,31mm (de 0 a >35mm, mediana = 16,5) e houve um aumento para 25mm (5 - >35mm, mediana = 29,5).O Teste de rosa bengala mostrou um decréscimo importante de 6,87 pontos (0-8, mediana = 3) para 2,12 pontos (0-5, mediana = 0,5). A média no Teste de fluoresceína apresentou uma melhora considerável de 4,5 pontos (2- 219 Tabela 1 Biocompatibilidade do material do plug termossensível(4) Teste Resultado ISSO Agarose Overlay ISSO MEM elution Mutagenicidade ISSO Teste Implantação Máxima sensibilização Extração exaustiva - Não polar Extração exaustiva - Aquosa Toxicidade sistêmica aguda Toxicidade sub-crônica Não tóxico Não tóxico Não mutagênico Aceitável 0% Sensibilização 0% Extratos 0% Extratos Não tóxico Não tóxico Fonte: Tseng SC, Tsubota K. Important concepts for treating ocular surface and tear disorders. Am J Ophthalmol. 1997;124(6):82535. Review 10, mediana = 4) antes do tratamento, para 1 ponto (0-4, mediana = 0) após a colocação do plug. Apenas os valores do BUT tiveram uma pequena mudança de 4,94 segundos (2-15, mediana = 4) para 5,12 segundos (2-18, mediana = 5). No primeiro dia após o implante, nenhum dos pacientes referiu diferença em relação aos sintomas e à frequência do uso de colírio lubrificante. No sétimo dia todos os pacientes referiram melhora dos sintomas de olho seco, como sensação de areia, ardor e irritação, exceto uma paciente que não apresentou melhora dos sintomas. A dependência de colírios diminui em 6 (66,7%) dos pacientes, e em 3 (33,3%) deles a dependência foi a mesma. No trigésimo dia após o implante todos os pacientes apresentaram melhora dos sinais e sintomas de olho seco, passando da faixa de moderado-severo para levenormal pela escala OSDI. No sexagésimo dia após o implante todos referiram melhora dos sintomas de olho seco, e apenas uma paciente referiu pouca melhora, permanecendo na faixa moderado-leve da escala. A diminuição do uso de lubrificante ocorreu em 8 (88,9%) pacientes, exceto uma paciente que manteve a mesma dependência. Durante o estudo não ocorreram complicações infecciosas ou de extrusão. DISCUSSÃO Plugs de ponto lacrimal são usados no tratamento de olho seco em pacientes com sintomas importantes apesar do uso contínuo de lágrimas artificiais ou naqueles que não pedem instilá-las com tanta frequência(17). A oclusão do ponto lacrimal ajuda a reter, na superfície ocular, tanto a lágrima natural quanto as lágrimas artificiais, bloqueando a sua drenagem(18). Esta oclusão pode Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 217-21 220 Silverio J, Ferreira PDV, Paulino LV, Neto VV, Rehder JRCL ser alcançada de varias formas: por plugs (ou tampões), através de cauterização e cirurgicamente(19-20). Os plugs são utilizados com maior freqüência pelo fato de ser um procedimento ambulatorial e reversível. A cauterização definitiva pode ser feita através de laser, cautério ou diatermocoagulação. Embora a cirurgia seja raramente usada, o recobrimento conjuntival é a técnica cirúrgica mais utilizada por ser reversível(18). A oclusão dos pontos lacrimais tem demonstrado uma melhora tanto nas medidas objetivas quanto subjetivas do olho seco(7,18), porém pode exacerbar o quadro ocular em casos inflamatórios instalados, já que mantém os componentes inflamatórios presentes na lágrima mais tempo em contato com o olho(21). Nestes casos recomenda-se o tratamento desta condição inflamatória antes da colocação dos plugs(22). Freeman(8) foi o primeiro a usar plugs de ponto lacrimal para o tratamento de olho seco. Plugs de silicone permanecem intactos por seis meses ou mais e podem ser removidos quando desejado(23). A questão com esse tipo de plug é a exposição em longo prazo a um corpo estranho, podendo resultar em complicações irritativas e inflamatórias(23,24). Uma vantagem importante do SmartPlugtm comparado ao de silicone é que ele se molda na anatomia canalicular e não há nenhuma porção exteriorizada para irritar a superfície ocular, além de não necessitar de dilatação prévia do canal lacrimal. O SmartPlugtm está disponível para o uso clínico desde 2002(24). O ponto lacrimal inferior é o principal responsável pela drenagem lacrimal(7). Deste modo optamos por ocluir apenas os pontos lacrimais inferiores. Alguns autores(10,11) concluíram que as oclusões de ponto lacrimal com plugs em casos de olho seco aumentam o componente aquoso da lágrima e diminuem a osmolaridade, melhorando a estabilidade do filme lacrimal e as colorações com rosa bengala e fluoresceína. Weber et al.(5) realizaram um estudo prospectivo, randomizado comparando o plug termossensível com o plug de silicone foi realizado com 31 pacientes com síndrome do olho seco em Bellflower, CA, EUA. Os pacientes tiveram seus pontos lacrimais inferiores ocluidos com um dos tipos de plugs de cada lado e foram avaliados por 3 meses, após os quais ambos os plugs foram removidos. Os mesmos pacientes foram reavaliados 2 semanas após a remoção dos mesmos. Os resultados demonstraram que houve melhora de sintomas e aumento da secreção basal de lágrima em ambos os olhos. Os olhos com os plugs termossensíveis demonstraram menos erosões e defeitos de superfície demonstrados com fluoresceína, enquanto os olhos com plugs de silicone mostraram mais tecido desvitalizado, determinado pelo exame com rosa bengala. Seis plugs de silicone extruíram espontaneamente durante o estudo, e tiveram que ser reposicionados. Após 2 semanas todos os pacien- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 217-21 tes referiram piora dos sintomas de olho seco. Neste estudo observamos uma melhora no teste de Schirmer de 17,32 mm para 25 mm, assim como uma diminuição na coloração por rosa bengala de 6,87 para 2,12 pontos e no teste de fluoresceína de 4,5 para 1 ponto, o que corrobora com a literatura(7,10,11,18,24). Porém, os valores do BUT lacrimal foram praticamente os mesmos, discordando com alguns autores(18,25-26). A partir da análise dos dados obtidos no estudo, observamos que o implante do plug foi bem-sucedido em 8 pacientes (88,9%), que apresentaram melhora dos sintomas e diminuíram a dependência de lubrificação ocular. Um dos pacientes, apesar de apresentar pouca melhora clínica apresentou melhora importante no exame oftalmológico: antes do implante apresentava ceratite puntacta epitelial em área de fenda palpebral em ambos os olhos, e no sexagésimo dia a córnea não mostrava ceratite. O teste de rosa bengala também mostrou melhora, apresentava pontuação de 1 em olho direito e 5 em olho esquerdo antes do implante, e no D60 nenhum ponto em olho direito e 1 ponto em olho esquerdo. Uma grande desvantagem relacionada ao SmartPlugtm é a impossibilidade de se confirmar a sua exata localização após a colocação. No entanto, as permanentes baixas taxas de depuração lacrimal e a melhora significativa dos sinais e sintomas ao longo de todo o estudo sugerem que os plugs estavam bem posicionados, com exceção de uma paciente que supostamente pode ter tido seu plug deslocado ou extruído. A taxa de extrusão desta nova modalidade de plug ainda não está clara e deverá ser investigada em estudos futuros(25). Em nenhum dos pacientes houve complicações relacionadas ao implante ou à permanência do plug nas vias lacrimais de drenagem, e em nenhum dos pacientes houve necessidade de remoção do plug, apesar de ter sido um período curto de acompanhamento para avaliar as complicações a longo prazo do implante. CONCLUSÃO Oclusão temporária do ponto lacrimal com SmartPlugtm parece ser uma opção efetiva para o tratamento da síndrome da disfunção lacrimal quando o uso de lubrificantes não é suficiente. Sua colocação é relativamente simples e segura, porém estudos mais longos e com um n maior são necessários para uma melhor avaliação estatística. ABSTRACT Purpose: To evaluate the results of occlusion of the lacrimal punctum reversible with the use of thermosensitive plugs to treat the dysfunctional tear syndrome. Methods: Implante de plug lacrimal termosensível para tratamento da síndrome da disfunção lacrimal Eighteen eyes of 9 patients with dry eye were selected and subjected to reversible occlusion of the lacrimal punctum with the use of thermosensitive plugs and were followed for 60 days through the OSDI questionnaire, fluorescein staining, rose bengal staining and Schirmer's test. Results: in all studied patients there was improvement in dry eye symptoms and in ophthalmic parameters studied. In only 1 of the patients, symptom improvement was small, and no decrease in dependence on lubricating drops. In the other 8 patients there was a decrease in the use of eye drops. During the study there were no infectious complications or extrusion. Conclusion: Temporary occlusion of the lacrimal punctum with SmartPlugtm seems to be an effective option for treating the dysfunctional tear syndrome when the use of lubricants is not enough. Its placement is relatively simple and safe, but longer studies are needed. Keywords: Dry eye syndrome/therapy; Lacrimal apparatus/surgery; Prostheses and implants; Treatment outcome REFERÊNCIAS 1. The definition and classification of dry eye disease: report of the Definition and Classification Subcommittee of the International Dry Eye WorkShop (2007). Ocul Surf. 2007;5(2):7592. Review. 2. Lemp MA. Report of the National Eye Institute/Industry workshop on Clinical Trials in Dry Eyes. CLAO J. 1995;21(4):221-32. 3. Rolando M, Zierhut M. The ocular surface and tear film and their dysfunction in dry eye disease. Surv Ophthalmol. 2001;45 Suppl 2:S203-10. Review. 4. Tseng SC, Tsubota K. 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Behrens A, Doyle JJ, Stern L, Chuck RS, McDonnell PJ, Azar DT, Dua HS, Hom M, Karpecki PM, Laibson PR, Lemp MA, Meisler DM, Del Castillo JM, O'Brien TP, Pflugfelder SC, Rolando M, Schein OD, Seitz B, Tseng SC, van Setten G, Wilson SE, Yiu SC. Dysfunctional tear syndrome study group. Dysfunctional tear syndrome: a Delphi approach to treatment recommendations. Cornea. 2006;25(8):900-7. Comment in: Cornea. 2007;26(7):901. 23. Cohen EJ. Punctal occlusion. Arch Ophthalmol. 1999;117(3):389-90. 24. Chen SX, Lee GA. SmartPlug in the management of severe dry eye syndrome. Cornea. 2007;26(5):534-8. 25. Burgess PI, Koay P, Clark P. SmartPlug versus silicone punctual plug therapy for dry eye: a prospective randomized trial. Cornea. 2008;27(4):391-4. 26. Kojima T, Dogru M, Ishida R, Goto E, Matsumoto Y, Tsubota K. Clinical evaluation of the Smart Plug in the treatment of dry eyes. Am J Ophthalmol. 2006;141(2):386-8. Endereço para correspondência: Juliana Silverio Rua Álvaro Rodrigues, 792 CEP04582-001 - São Paulo (SP), Brasil Fax (11)55318042 [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 217-21 ARTIGO ORIGINAL 222 Atendimento oftalmológico dos recém-nascidos examinados nas maternidades públicas em Manaus Ophthalmological evaluations of the newborn at the public maternities in Manaus José Cavalcanti Campos Júnior1 RESUMO Objetivo: Determinar o tipo e a frequência de diagnóstico ocular dos recém-nascidos atendidos no ambulatório, UCI e UTI neonatais das Maternidades Públicas Estaduais na cidade de Manaus (AM). Métodos: Tratou-se de um estudo retrospectivo dos prontuários dos recém-nascidos, obtidos nas Maternidades Públicas Estaduais no município de Manaus, estado do Amazonas. Foram incluídos todos os pacientes avaliados durante trinta meses (setembro de 2005 a março de 2008). O trabalho foi submetido e aprovado pelas direções das unidades de saúde, que permitiram a execução do estudo sem restrições. Resultados: Do total dos 4.591 atendimentos realizados, 1880 (40,9%) foram provenientes da Maternidade Balbina Mestrinho, enquanto que 1.360 (29,6%) foram atendidos na Maternidade Ana Braga, 788 (17,2%) na Maternidade Nazira Daou, 315 (6,9%) na Maternidade Azilda Marreiro e 248 (5,4%) na Maternidade da Alvorada. Em relação ao tipo de diagnóstico, encontramos RN Normais em 2.462 (53,6%) casos e 2.129 (46,4%) casos de RN com alterações oculares - 69,8% (ROP), 18,9% (Conjuntivites), 4,1% (Catarata), 3,6% (Estrabismo), 2,5% (Uveítes), 0,8% (anormalidades congênitas) e 0,3% (Outros). Conclusão: As alterações oculares foram encontradas em quase metade dos pacientes: ROP, conjuntivites, catarata, estrabismo, uveítes. Descritores: Oftalmopatias/diagnóstico; Saúde ocular; Recém-nascido 1 Pós-graduando (Doutorado) em Doenças Tropicais e Infecciosas pela Fundação de Medicina Tropical do Amazonas e Universidade do Estado do Amazonas - UEA - Manaus (AM), Brasil; Oftalmologista das Maternidades Públicas Estaduais - Manaus (AM), Brasil; Trabalho realizado nas Maternidades Públicas do Estado do Amazonas Ana Braga, Balbina Mestrinho, Azilda Marreiro e Alvorada Manaus (AM), Brasil. Recebido para publicação em: 2/12/2009 - Aceito para publicação em 13/4/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 222-5 Atendimento oftalmológico dos recém-nascidos examinados nas maternidades públicas em Manaus INTRODUÇÃO S egundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) existem no mundo mais de 20 milhões de cegos, sendo que 2/3 destes casos são determinados por causas preveníveis (1). Em 1992, estimativas mundiais apontavam para a alta cifra de 1,5 milhão o número de cegos menores de 16 anos, e destes, em torno de 90% viviam em países em desenvolvimento. (2,3) Os transtornos no desenvolvimento da visão afetam o processo de aprendizagem da criança e sua integridade, tanto física como psíquica, sendo fundamental a prevenção e sua identificação precoce. (4)Os programas de saúde pública em oftalmologia devem priorizar as ações relacionadas à prevenção da cegueira e da incapacidade visual, promoção de saúde ocular, organização de assistência oftalmológica e reabilitação de deficientes visuais. (3,5) A avaliação oftalmológica criteriosa dos recémnascidos tem sido uma constante nas maternidades brasileiras. O teste do olhinho, ou do reflexo vermelho, possibilita uma triagem de doenças oculares que afetam a transparência dos meios (catarata, retinoblastoma, Doença de Coats, etc.) e que consequentemente, podem provocar deficiências visuais e até cegueira. Apesar de ter sido descrita há mais de 50 anos, a Retinopatia da Prematuridade (ROP) se tornou uma das maiores causas de cegueira infantil (definida pela OMS como cegueira, ocorrendo até os 15 anos de idade) nos países desenvolvidos, em função da maior sobrevivência de recém-nascidos prematuros (RNP) com menor peso de nascimento e com menor idade gestacional.(6) O exame oftalmológico inicial deve ser realizado sob oftalmoscopia binocular indireta e dilatação das pupilas, entre a 4ª e a 6ª semana de vida, em todos os recém-nascidos com peso igual ou menor do que 1500 gramas e/ou com idade gestacional igual ou inferior a 32 semanas. O acompanhamento das crianças com ou sem retinopatia identificada deverá seguir periodicamente até a normalização da vascularização da retina temporal na Zona III, o que poderá tardar até mais do que os primeiros seis meses de vida e deverá ser mantido pelos dois primeiros anos para a prevenção da ambliopia e do estrabismo e para a correção das altas ametropias relacionadas com a prematuridade. (6) Define-se catarata infantil a opacificação do cristalino que reduz a visão em indivíduos de 0 a 15 anos. (7) Apresenta incidência de 1/2000 nascidos vivos e 10 novos casos/milhão população/ano. Estima-se que ela seja responsável por 10-38,8% de toda a cegueira prevenível e tratável na infância (AV corrigida inferior a 20/400 ou 0,05 no melhor olho em indivíduos menores de 16 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde) em crianças 223 de todo o mundo. (8) A prevalência em crianças é de 1 a 4/ 10.000 nos países em desenvolvimento e aproximadamente 0,1 a 0,4/10.000 nos países desenvolvidos. (9)Considera-se que 40 a 50% dos portadores de catarata infantil apresentam baixa visão.(7) A toxoplasmose é a maior causa de uveítes do polo posterior do olho. (10)A retinocoroidite é a manifestação mais importante da doença e a lesão pode se apresentar ao exame fundoscópico de uma forma ativa ou cicatrizada, e está associada à considerável perda de campo visual quando ocorre próximo ao nervo óptico. (11, 12) A doença é principalmente adquirida através da ingestão de cistos presentes em carnes cruas ou mal cozidas, especialmente suínas, e através de frutas e verduras mal lavadas contendo os cistos (9,10). Outra via de transmissão é a transplacentária, na qual se a gestante adquirir a primo infecção durante a gestação, o feto será infectado, sendo que 85% destes desenvolvem retinocoroidite durante a infância ou adolescência.(11, 12) O diagnóstico de toxoplasmose ocular é frequentemente feito somente pelo aspecto clínico da lesão. A conjuntivite neonatal é uma condição potencialmente séria, tanto pelos efeitos locais ao olho, quanto pelo risco de disseminação sistêmica. Os fatores predisponentes às conjuntivites neonatais são decorrentes de parto vaginal, asfixia neonatorum e ruptura prolongada da membrana amniótica. (13) A esotropia congênita, geralmente deve-se a hipóxia ou anóxia que ocorre durante o parto, com lesão do sistema nervoso central, podendo se associar ao quadro de paralisia cerebral e ambliopia.(14) O Estado do Amazonas, com dimensão continental e 62 municípios, possui em Manaus, apenas cinco maternidades públicas:Ana Braga, Balbina Mestrinho, Nazira Daou, Azilda Marreiro e Alvorada. Até o ano de 2005, não dispunham de nenhum oftalmologista para o diagnóstico e tratamento de patologias oculares dos recém-nascidos (RNs). Após a elaboração de projeto específico, o autor iniciou a prestação dos serviços junto a estas instituições. O estudo foi realizado com o objetivo de identificar a frequência e o tipo de diagnóstico ocular encontrado nos pacientes recém-nascidos examinados no ambulatório, UCI (Unidade de Cuidados Intermediários) e UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) neonatais das Maternidades Públicas Estaduais na cidade de Manaus, orientando o seguimento e tratamentos necessários o mais precoce possível. MÉTODOS Tratou-se de um estudo retrospectivo realizado através dos prontuários médicos dos recém-nascidos existentes nas Maternidades Públicas Estaduais, no mu- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 222-5 224 Campos Júnior JC Figura 1: Distribuição dos pacientes atendidos nas maternidades estaduais Figura 2: Distribuição dos RNs quanto ao acometimento ocular Figura 3: Distribuição dos RNs atendidos nas maternidades segundo o tipo de diagnóstico. nicípio de Manaus, Estado do Amazonas. Os dados obtidos foram consolidados em planilha eletrônica e representados em tabelas e gráficos. Para estatística descritiva será utilizada a frequência relativa. Foram incluídos no estudo todos os pacientes avaliados durante trinta meses (setembro de 2005 a março de 2008). O trabalho foi submetido e aprovado pelas direções das unidades de saúde, que permitiram sem restrições a execução do estudo. DISCUSSÃO RESULTADOS Do total dos 4.591 atendimentos realizados (Figura 1), 1880 (40,9%) foram provenientes da maternidade Balbina Mestrinho, enquanto que 1360 (29,6%) foram atendidos na maternidade Ana Braga, 788 (17,2%) na maternidade Nazira Daou, 315 (6,9%) na maternidade Azilda Marreiro e 248 (5,4%) na maternidade da Alvorada. Em relação ao acometimento ocular e o tipo de diagnóstico (Figuras 2 e 3), encontramos RNs normais em 2462 (53,6%) casos, e 2129 (46,4%) casos de RN com alterações oculares, sendo 69,8 % de ROP, 18,9% com conjuntivites, 4,1% (Catarata), 3,6% (Estrabismo), 2,5% (Uveítes), 0,8% (anormalidades congênitas) e 0,3 % (Outros). Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 222-5 Sabemos que no recém-nascido, o sistema nervoso central e, consequentemente o sistema visual, é pouco desenvolvido. Todos nós nascemos com baixa visão (15). A partir do nascimento há evolução orgânica e funcional do sistema visual se utilizado adequadamente. Qualquer fator que impeça o desenvolvimento normal da visão pode causar alterações anatômicas e funcionais do sistema visual, levando à baixa visão. (16,17) Nos países em desenvolvimento, os escassos recursos destinados à área de saúde devem atender a prioridades múltiplas e distintas, nem sempre privilegiando programas preventivos. Ressalta a escassez de informações na literatura nacional quanto ao exame oftalmológico do recém-nato, visando à identificação precoce de doenças oculares. (18) A catarata congênita constitui a causa mais frequente de cegueira evitável na infância, podendo atingir um porcentual de 10 a 15%. Neste trabalho, encontramos em pouco mais de 4% dos RNs. Assim, o diagnóstico precoce da catarata congênita, bem como a realização da facectomia e correção da ametropia em tempo hábil determinam a resposta visual do indivíduo. A proporção de cegueira causada por ROP é muito influenciada pelo nível de cuidado neonatal Atendimento oftalmológico dos recém-nascidos examinados nas maternidades públicas em Manaus (disponibilidade de recursos humanos, equipamentos, acesso e qualidade de atendimento), assim como pela existência de programas eficazes de triagem e tratamento. Por conseguinte, existe uma grande variabilidade de ocorrência da doença em países desenvolvidos e em desenvolvimento. (6) Neste trabalho, observamos dentre os RNs, com alteração ocular (46,4%), cerca de 70 % dos casos, algum estágio de ROP, ressaltando que todas as maternidades são unidades de referência de tratamento intensivo para bebês de alto risco. Em relação às uveites, encontrou-se em 2,5% dos RNs, sendo a lesão retinocoroideana da toxoplasmose a manifestação mais importante da doença, em especial ao afetar a mácula, pois leva a perda permanente da capacidade visual, implicando em detrimento da qualidade de vida, com restrições ocupacionais, econômicas, sociais e psicológicas. Neste contexto, a assistência oftalmológica aos RNs nas maternidades do SUS no Amazonas iniciou-se com um trabalho, objetivando o maior grau de resolutividade possível, onde a maioria dos atendimentos necessitou de tratamento clínico; os de intervenção cirúrgica (cataratas, estrabismos e ROP) foram encaminhados para unidades de saúde capacitada de recursos cirúrgicos para a resolução dos casos. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. ABSTRACT 13. Purpose: Determine the type and frequency of diagnosis of newborn seen in the ambulatories, ICU and ITU at the Public Maternities in Manaus. Methods: We present a retrospective study done at the Public Maternities in Manaus, Amazon state. We include all patients seen during thirty months (september 2005 to march 2008). The study was submitted and approved by the head of health units that allowed the execution of the study without restrictions. Results: Of the total 4.591 patients seen, 1.880 (40,9%) were from at the Balbina Mestrinho Maternity, while 1.360 (29,6%) were seen at the Ana Braga Maternity, 788 (17,2%) at the Nazira Daou Maternity, 315 (6,9%) Azilda Marreiro Maternity and 248 (5,4%) at the Alvorada Maternity. The type of diagnoses were found: Normal Newborn in 2.462 (53,6%) cases e 2.129 (46,4%) cases of Ocular alterations newborn - 69,8% cases of ROP, 18,9% cases of conjunctivitis, 4,1% cataract, 3,6% cases of strabismus, 2,5% uveitis, 0,8% ocular congenital abnormalities. Conclusions: Almost half of patients showed the ocular alterations: ROP, conjunctivitis, cataract, strabismus, and uveitis. Keywords: Eye diseases/diagnosis; Eye health, Infant, newborn 225 14. 15. 16. 17. 18. Adam Netto A, Peres SO. Catarata na infância - estudo de 106 casos. Rev Bras Oftalmol. 1998;57(12):903-8. Foster A, Gilbert C. Epidemiology of childhood blindness. Eye (Lond). 1992;6(Pt 2):173-6. Brito PR, Veitzman S. Causas de cegueira e baixa visão e crianças. Arq Bras Oftalmol. 2000;63(1):49-54. Lucena AR, Cantanhede TM, Trigueiro SA, Tavares S, Ventura LO. Frequência e causas da ambliopia em pacientes assistidos na Fundação Altino Ventura- Recife-PE. Rev Bras Oftalmol. 2001;60(1):50-4. Temporini ER. Pesquisa de oftalmologia em Saúde Pública: considerações metodológica sobre fatores humanos. Arq Bras Oftalmol. 1991;54(6):279-81. Gilbert C. Retinopathy of prematurity: epidemiology. J Comm Eye Health. 1997;10(22):22-4. Curso de Salud Ocular Comunitaria Pro Vision 2. In: Manual de Salud Ocular Comunitaria. London: Escuela de Salud Publica y Medicina Tropical; 2002. p.32-6. Arieta C, José NK. 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Professor Nilton Lins, nº 500 - Casa 27 Bairro Flores CEP 69058-400 - Manaus (AM), Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 222-5 ARTIGO ORIGINAL 226 Espessura central da córnea: catarata congênita, pseudofacia e afacia Central corneal thickness: congenital cataracts, pseudophakia and aphakia Weika Eulálio de Moura Santos1, José Joarez de Siqueira Junior2, Gustavo Salomão3, José Ricardo Carvalho Lima Rehder4 RESUMO Objetivo: Comparação da espessura central da córnea entre crianças com cristalino transparente (controle), catarata, pseudofácicas e afácicas. Estudo prospectivo, observacional. Métodos: Noventa e quatro olhos de 47 crianças foram submetidos à medida da espessura central corneana (ECC) e comparou-se o grupo controle (cristalino transparente) aos pacientes que apresentavam catarata, afacia ou pseudofacia. Pacientes com Síndrome de Down, aniridia, Síndrome de Marfan, glaucoma, anormalidades do segmento anterior ou pressão intraocular maior que 30 mmHg foram excluídos do estudo. Resultados: Dos 94 olhos estudados, 52 faziam parte do grupo controle com ECC média 533,6 µm. No grupo com catarata (n=27) a ECC média foi de 532,3 µm, enquanto no grupo de afácicos (n=8) e pseudofácicos (n=12) de 585,63 µ e 585,7 µ, respectivamente. Conclusão: A espessura central da córnea é semelhante em olhos com catarata congênita e olhos fácicos, sendo mais espessa após a cirurgia de catarata com ou sem implante de lente intraocular. Descritores: Córnea/anatomia & histologia; Topografia da córnea; Catarata/congênito; Pseudofacia; Afacia 1 Estagiário do 3º ano do Setor de Oftalmopediatria da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP), Brasil; Estagiário do 3º ano do Setor de Córnea e Patologia Externa da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo Andre (SP),Brasil; 3 Chefe do Setor de Oftalmopediatria da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP), Brasil; 4 Professor Titular da Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP), Brasil. 2 Disciplina de Oftalmologia da Faculdade de Medicina do ABC - FMABC - Santo André (SP), Brasil Recebido para publicação em: 22/9/2009 - Aceito para publicação em 5/5/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 226-9 Espessura central da córnea: catarata congênita, pseudofacia e afacia INTRODUÇÃO A tonometria de aplanação de Goldmann tem sido o padrão ouro para a medida da pressão intraocular desde sua introdução em 1956(1) e pode ser falseada pela variação da espessura central corneana (ECC) em adultos (2,4) e crianças. (4,6) A medida da ECC através do paquímetro óptico foi descrita pela primeira vez em 1951 por Maurice e Giardini. O primeiro paquímetro ultrassônico foi descrito por Kremer em 1980. (7) A ECC é menor na área central, aumentando em direção à periferia. A córnea da criança prematura e recém-nascida é mais espessa que a córnea do adulto; após 48 horas do nascimento, a córnea já está menos espessa e próximo aos 3 anos atinge o valor definitivo. (7) Crianças com história de catarata congênita que são afácicas ou pseudofácicas possuem ECC maior que crianças com cristalino transparente(8,9), mas é desconhecido se o aumento da espessura central da córnea ocorre antes da cirurgia ou se desenvolve após a mesma. O glaucoma é uma consequência comum em cirurgia de catarata congênita(10), e uma espessura corneana fora dos limites normais talvez seja um fator importante no diagnóstico e conduta de crianças pseudofácicas e afácicas com glaucoma, pois o efeito da ECC pode falsear a medida da pressão intraocular (PIO). MÉTODOS Crianças atendidas no ambulatório de Oftalmopediatria do Instituto de Olhos da Faculdade de Medicina do ABC entre agosto de 2006 a setembro 2008 participaram do estudo, sendo incluídas aquelas com história de catarata congênita, afácicas, pseudofácicas e com cristalino transparente. Pacientes com história de cirurgia de glaucoma ou com diagnóstico conhecido de glaucoma, idade acima de 15 anos, anormalidades do segmento anterior, pressão intraocular maior que 30 mmHg, incapacidade de cooperar com a mensuração da ECC, bem como pacientes com Síndrome de Down (11), Aniridia (12) e Síndrome de Marfan (13), que estão associados com uma espessura central da córnea alterada, foram excluídos do estudo. A coleta de dados incluiu: idade, sexo, história de cirurgia, diagnóstico ocular, ECC e tonometria de aplanação de Perkins. A mensuração padrão da ECC foi realizada previamente em alguns dos pacientes do estudo. Para anestesia da córnea, cloridrato de proximetacaína 0,5% tópico foi instilado e com a sonda do paquímetro ultrassônico no centro da córnea, dez medidas foram anotadas para cada olho. O paquímetro utilizado para mensuração foi OcuScan (Alcon)®, fór- 227 mula Herndon e a mensuração foi realizada por um único examinador. Cada olho de cada grupo foi avaliado individualmente. Os grupos avaliados foram comparados separadamente com o grupo controle. Foi utilizado o Teste de Correlação de Spearman e o Teste de Kruskal-Wallis. RESULTADOS Noventa e quatro olhos de quarenta e sete pacientes foram incluídos no estudo, sendo vinte e nove pacientes do sexo masculino e dezoito do feminino, com a média de idade de 5,5 anos (variando de 1 mês a 15 anos). Os participantes foram separados em 4 grupos: controle (Tabela 1), catarata (Tabela 2), afácicos (Tabela 3) e pseudofácicos (Tabela 4) e avaliados em relação a ECC, idade e pressão intraocular. Dos 94 olhos, 52 faziam parte do grupo controle e a média da ECC foi 533,6 µm.A média da ECC dos pacientes com catarata foi 532,3 µm, enquanto no grupo afácico e pseudofácico foi de 585,63 µm e 585,7 µm, respectivamente (Tabela 5). No grupo controle e no grupo pseudofácico, com média de idade de 7 anos, não houve correlação significativa entre os valores de ECC, PIO e idade. Em contrapartida, nos grupos com catarata e afácicos, observamos um aumento da pressão intraocular com o aumento da idade, com média de 5 e 2,8 anos, respectivamente. Dez olhos possuíam catarata congênita unilateral e a média da ECC do olho com catarata antes da cirurgia era maior que o olho contralateral (controle): 527,3 µm e 514 µm, respectivamente (Tabela 6). DISCUSSÃO No nosso estudo, os vinte pacientes submetidos à cirurgia de catarata não desenvolveram glaucoma até o presente momento. Sabe-se que olhos afácicos de crianças possuem uma espessura central da córnea maior que olhos fácicos (8,9). Kelly et al. recentemente relataram um aumento de 45% de crianças afácicas (maior ECC) que desenvolveram glaucoma (14). Se o aumento da ECC é um fator protetor contra o desenvolvimento do glaucoma como sugeriu Ocular Hypertension Treatment Study (15) , por que estas crianças evoluíram com glaucoma? Esses autores relataram também que um maior tempo de afacia se correlacionou com uma maior média na espessura central da córnea(14). Nilforushan e associados relataram em um estudo semelhante, um aumento na ECC em crianças afácicas comparadas com crianças fácicas de idade e contagem celular endotelial semelhante. (16) Porém, não observamos no presente estudo correlação entre duração do estado de afacia e au- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 226-9 228 ECC PIO Idade Santos WEM, Siqueira Junior JJ, Salomão G, Rehder JRCL Tabela 1 Tabela 2 Grupo controle Grupo com catarata Descritiva Descritiva Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo 533,6 44,7 449 632 11,7 2,2 6 16 7,3 3,5 9 15,0 ECC PIO Idade Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo 532,3 45,0 449 621 10,7 2,8 7 15 5 3,9 1 15,0 Nesse grupo (n=52) não houve correlação significante entre os valores de ECC, PIO e Idade; Teste de Correlação de Spearman ECC x PIO: r = -0,143; p = 0,312 / ECC x Idade: r = 0,065; p = 0,646 / PIO x Idade: r = 0,232; p = 0,098 Nesse grupo (n=27) houve correlação significante entre os valores de PIO e Idade; ECC x PIO: r = 0,071; p = 0,726 / ECC x Idade: r = -0,213; p = 0,287 / PIO x Idade: r = 0,533; p = 0,004 (aumento de PIO com aumento de idade) Tabela 3 Tabela 4 Grupo afácico Grupo pseudofácico Descritiva Descritiva ECC PIO Idade Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo 585,63 54,764 510 662 10,50 2,726 7 13 2,875 3,6354 1 10,0 ECC PIO .Idade Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo Média Desvio padrão Mínimo Máximo 585,7 79,6 487 730 11,4 2,7 7 14 7,0 2,8 3,0 10,0 Nesse grupo (n=8) houve correlação significante entre os valores de PIO e Idade; Teste de Correlação de Spearman ECC x PIO: r = -0,128; p = 0,763 / ECC x Idade: r = -0,024; p = 0,955 / PIO x Idade: r = 0,910; p = 0,002 (aumento de PIO com aumento de idade) Nesse grupo (n=12) não houve correlação significante entre os valores de ECC, PIO e Idade; Teste de Correlação de Spearman ECC x PIO: r = -0,157; p = 0,627 / ECC x Idade: r = 0,403; p = 0,194 / PIO x Idade: r = 0,556; p = 0,060 mento da ECC durante um ano de acompanhamento. Verificamos que olhos pseudofácicos (585,7µm [n= 12]) e olhos afácicos (585,63 µm [n=8]) possuíam maior ECC que olhos fácicos (533,6 µm [n=52]) e olhos com catarata (532,3 µm [n=27]). A influência da idade na ECC não é clara. Day e Gunderson (17) não encontraram diferença na ECC entre um grupo de crianças mais jovens com 2 anos de idade e um grupo com 18 anos de idade. Neste estudo, no grupo controle e no grupo pseudofácico (média de idade de 7 anos) não houve correlação significativa entre os valores de ECC, PIO e idade. Entretanto, nos grupos com catarata e afácicos, observamos um aumento da pressão intraocular com o aumento da idade (5 e 2,8 anos res- pectivamente). Nesses dois grupos (catarata e afácicos) a média de idade era menor, sendo necessário avaliação sob sedação inalatória em alguns casos, podendo ter ocorrido influência do anestésico na aferição da PIO. A diferença na ECC entre os grupos sugere que o aumento da espessura central da córnea ocorre após cirurgia. Porém, a razão deste aumento da ECC ser devido aos danos causados às células endoteliais durante a remoção da catarata ou ser consequência do estado de afacia ou pseudofacia permanece desconhecido. Uma avaliação, a longo prazo, mais detalhada da ECC antes e após a extração da catarata seria necessária para elucidar esta questão; e assim avaliar seu papel no desenvolvimento de glaucoma nessas crianças. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 226-9 Espessura central da córnea: catarata congênita, pseudofacia e afacia Tabela 5 REFERÊNCIAS Teste de Kruskal-Wallis referente à espessura central da córnea (ECC) 1. Grupo N Média ECC Controle Catarata Cirurgia sem lente Cirurgia com lente 52 27 8 12 533,58 532,33 585,63 585,67 Significante (X2 = 9,266; p = 0,026); Houve diferenças significativas entre os valores médios de ECC, quando comparamos os grupos entre si. Os grupos submetidos à cirurgia, com ou sem lente, apresentam valores médios de ECC maiores que os dos grupos controle e com catarata N Média 2. 3. 4. 5. Tabela 6 6. Teste de Correlação de Spearman 7. Descritiva N Controle 10 514,0 229 8. Catarata 10 527,3 Significante (r = 0,685; p = 0,029); Houve correlação significante e positiva entre os valores de ECC, quando comparamos o olho com catarata antes da cirurgia e o olho controle ABSTRACT Purpose: To evaluate central corneal thickness (CCT) in phakic children (controls) and in those with cataracts, pseudophakia and aphakia.Study prospective, observational Methods: Central corneal thickness was measured in 94 eyes of 47 children. Subjects with Down Syndrome, aniridia, Marfan Syndrome, glaucoma, anterior segment abnormalities or intraocular pressure over 30 mmHg were excluded. Groups were compared for controls and for eyes with pediatric cataracts, pseudophakia and aphakia. Results: Twenty-nine patients were male and eighteen female and the mean age was 5.5 years (range, 1 month to 15 years). Of the 94 eyes, 52 were part of the control group and the CCT average was 533.6 µm. The average measurement of the CCT for all patients with cataract was 532.3 µm (n = 27). The average CCT aphakia the group was 585.63 µm (n = 8) and pseudophakic was 585.7 µm (n = 12). Conclusion: In the absence of factors known to affect CCT (Down syndrome, aniridia, and Marfan syndrome), CCT is similar in eyes with pediatric cataracts and normal controls and increases after cataracts surgery. Keywords: Cornea/anatomy & histology; Corneal topography; Cataract/congenital; Pseudophakia; Aphakia 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. Goldmann H. Applanation tonometry. In: Newell F, editor. Glaucoma: transactions of the second conference. New York: Josiah Macy, Foundation; 1956. p.167-220. Ehlers N, Hansen FK, Aasved H. Biometric correlations of corneal thickness. 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Endereço para correspondência: Weika Eulalio de Moura Santos Rua Dr. Eduardo Amaro, nº 99, Apto 1814 - Paraíso CEP 04104-080 - São Paulo (SP),Brasil Tel: (11) 8343-3843 E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 226-9 ARTIGO ORIGINAL 230 Desempenho visual após implante de uma lente intraocular asférica multifocal difrativa Visual performance after implantation of an aspheric multifocal diffractive intraocular lens Leonardo Akaishi1, Camila Brito Messias2, Patrick Frensel de Moraes Tzelikis3 RESUMO Objetivo: Avaliar a acuidade visual a distancia, intermediária e perto após o implante de uma lente intraocular (LIO) asférica multifocal difrativa AcrySof® ReSTOR® SN6AD1. Métodos: Estudo prospectivo de 50 pacientes com catarata submetidos à facoemulsificação e implante de LIO AcrySof® ReSTOR®. Foram avaliados acuidade visual sem correção (AVSC), acuidade visual com correção (AVCC) para longe, acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) e acuidade visual intermediária corrigida para longe (AVIC). Um questionário de satisfação e fenômenos visuais foi administrado ao final do estudo. Resultado: Após três meses de cirurgia, a média das acuidades (logMAR) era: AVSC, 0,05 ± 0,07; AVCC, 0,00 ± 0,01; AVPC, 0,00 ± 0,0, e AVIC, 0,15 ± 0,05. A AVCC e AVPC era de 20/25 ou melhor em todos os pacientes, sendo a AVIC J3 ou melhor em 83% dos pacientes. Pacientes relataram excelente desempenho visual nas questões relacionadas a atividades para distância, intermediário, e perto com pouca ou nenhuma dificuldade. Nenhum paciente relatou halos ou ‘glare’ severos, sendo os mesmos caracterizados entre nenhum a moderado. Conclusão: A LIO asférica AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 mostrou excelentes resultados na visão para longe, perto e intermediário, além de apresentar uma baixa incidência de fenômenos visuais. ClinicalTrials.gov Identifier: NCT01065064 Descritores: Lentes intraoculares; Acuidade visual; Avaliação; Satisfação do paciente 1 Mestre, Chefe do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil; Estagiária do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil; 3 Doutor, Médico Assistente do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil; 2 Trabalho realizado no Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil. Os autores não apresentam nenhum interesse financeiro no material apresentado. Recebido para publicação em: 20/2/2010 - Aceito para publicação em 27/6/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 Desempenho visual após implante de uma lente intraocular asférica multifocal difrativa INTRODUÇÃO A história do desenvolvimento das lentes intraoculares (LIOs) está relacionada à idéia de se alcançar a melhor acuidade visual associada a uma excelente função visual, aliados ao menor número de complicações possíveis. Partindo deste princípio, a invenção de novos materiais e diferentes modelos têm influenciado no aparecimento e aperfeiçoamento de novas LIOs. O implante de LIOs que ofereçam correção visual refracional completa em todas as distâncias é o objetivo principal na cirurgia refrativa baseada na retirada do cristalino. Hoje o implante de LIOs multifocais parece ser a forma mais eficaz de se atingir estes objetivos. No presente, uma grande variedade de modelos de LIOs multifocais encontra-se a disposição. Entre elas encontram-se lentes difrativas como a AcrySof ® ReSTOR ® (Alcon Laboratories) e Tecnis ZMA00 (AMO, Abbott Medical Optics), lentes refrativas como a ReZoom (AMO), lentes pseudoacomodativas como a Crystalens (Bausch & Lomb), e diversos novos modelos de LIOs. (1-3) Diversos estudos envolvendo a LIO AcrySof® ReSTOR® relatam resultados visuais satisfatórios. (3,5) Recentemente foi realizada mudança na plataforma desta LIO tornado-a asférica. O objetivo da plataforma asférica seria reduzir os fenômenos visuais associados às diversas LIOs multifocais e aumentar a profundidade de foco, com isso, melhorando a qualidade visual. Além da mudança na plataforma, uma nova LIO Acrysof® ReSTOR® foi desenvolvida com uma menor adição (+3,00 D), equivalente a aproximadamente +2,40 D no plano dos óculos, diferente da adição padrão (+4,00 D), equivalente a aproximadamente +3,20 D no plano dos óculos. Para os pacientes, essa mudança teoricamente levaria o foco para perto, a uma posição mais fisiológica e possibilitaria uma melhor visão intermediária. O objetivo deste trabalho é avaliar a acuidade visual para longe, intermediário, e perto dos pacientes submetidos ao implante desta nova LIO AcrySof ® ReSTOR® SN6AD1. MÉTODOS Este estudo clínico, prospectivo e intervencionista, foi desenvolvido no Setor de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB, após ter sido analisado o protocolo e aprovado pelo Comitê de Ética Médica do HOB. Todos os pacientes incluídos neste estudo foram informados, de forma detalhada, sobre a natureza da investigação, técnica cirúrgica, possíveis riscos e complicações e alternativas de tratamento. Antes da cirurgia e após os devidos esclarecimentos, todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento incluído na pesquisa. 231 Foram selecionados, consecutivamente, 70 pacientes, portadores de catarata, examinados no ambulatório de Catarata e Refrativa do Hospital Oftalmológico de Brasília. Dentre os casos, 50 foram selecionados pelo preenchimento dos critérios de inclusão e constituíram a amostra do estudo. Estes pacientes procuraram o setor de catarata do HOB por demanda espontânea ou foram referenciados por outros setores do mesmo hospital, entre março e junho de 2009. Os dados coletados incluem sexo, idade, contagem endotelial (CE) pré-operatória, acuidade visual sem correção (AVSC) pré e pós-operatória, acuidade visual com correção (AVCC) para longe, acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) a uma distância de 40 cm e acuidade visual intermediária corrigida para longe (AVIC) a uma distância de 60 cm, equivalente esférico (EE) pré e pós-operatório, e complicações. Neste estudo, as medidas de acuidade visual foram registradas em logMAR. Os critérios de inclusão eram comprometimento visual bilateral e motivação pelo paciente quanto ao desejo de não utilizar ou reduzir a necessidade de correção visual para perto e longe. Os critérios de exclusão foram: cirurgia ocular prévia, olho único, alteração sistêmica que pudesse alterar a cicatrização pós-operatória (diabetes mellitus, doenças autoimunes, doenças do tecido conjuntivo), enfermidade ocular pré-existente que pudesse alterar a acuidade visual ou contraindicar a cirurgia (doença ocular herpética, olho seco moderado ou grave, uveíte, glaucoma, doenças retinianas), falta de colaboração para efetuar exames e a cirurgia, e complicações per-operatórias. A avaliação pré-operatória foi realizada em ambos os olhos, dentro do período de 30 dias antes da cirurgia, e incluiu uma revisão da história clínica e oftalmológica dos pacientes e uma série de exames oculares. A LIO utilizada neste estudo foi a AcrySof® ReSTOR® modelo SN6AD1. Essa LIO combina uma função difrativa apodizada central e uma refrativa periférica. A parte óptica difrativa apodizada ocupa a zona de 3,6 mm centrais na superfície anterior da LIO, e compreende 9 degraus concêntricos que gradualmente diminuem a altura, criando bifocalidade de perto para longe. A parte refrativa encontra-se perifericamente, ao redor da região difrativa. Esta área direciona a luz para um ponto focal distante em pupilas de maior diâmetro e é responsável para visão à distância. A LIO apresenta um desenho biconvexo simétrico com uma superfície anterior asférica que seria responsável por reduzir a aberração esférica (aberração esférica desta LIO é 0,10 µm numa pupila de 6,0 mm). A superfície óptica asférica é responsável por um afinamento da LIO de aproximadamente 4,5% em comparação ao modelo esférico para uma LIO de 20,0 D. O diâmetro total da LIO é de 13,0 mm e o diâmetro óptico de 6,0 mm. A adição presente nesta LIO multifocal é de + 3,0 D. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 232 Akaishi L, Messias CB, Tzelikis PFM Todos os pacientes foram operados da mesma maneira. No pré-operatório os pacientes utilizaram colírio antibiótico de quinolona de 4ª geração gatifloxacina (Zymar®, Allergan, EUA) ou moxifloxacina (Vigamox®, Alcon, EUA) 4 vezes por dia (6/6h), dois dias antes da cirurgia. No dia da cirurgia, aproximadamente 30 min antes, iniciavase a dilatação pupilar com solução de tropicamida a 1% (Mydriacyl®,Alcon, EUA) e cloridrato de fenilefrina a 10% (Allergan, EUA), numa proporção de 1:1 (uma gota de 5 em 5 min, por 3 vezes). A anestesia em todos os casos foi tópica, com instilação de cloridrato de lidocaína a 2%, geléia, (Astra Zeneca,Argentina) sem vasoconstrictor no fundo de saco conjuntival, iniciado 30 min. antes da cirurgia, duas vezes, com intervalo de 10 min. Por via endovenosa foi utilizado 1,0 mg de midazolam 5,0 mg/ml (Roche, Brasil). Após assepsia e antisepsia da pele com iodo-povidona a 10% (Cinord Sul, Brasil), equivalente a 1% de Iodo ativo, um campo plástico adesivo era colocado em contato com as pálpebras dos pacientes, de forma a isolar os cílios do campo operatório, e o blefarostato inserido. Uma solução de iodo-povidona a 3% (Ophthalmos, São Paulo) foi usada com finalidade antiséptica no fundo de saco conjuntival após anestesia tópica. Na cirurgia, inicialmente era realizada paracentese de 0,8 mm de tamanho. Em todos os casos, a incisão foi em córnea clara com sulco prévio de 300 µm de profundidade e 2,2 mm de extensão com lâmina de diamante. O humor aquoso foi substituído pelo viscoelástico, contendo hialuronato de sódio a 3% e sulfato de condroitina a 4% (Viscoat®, Alcon, EUA) para realização da capsulorrexe com o cistítomo no início, sendo terminada com pinça de Utrata no sentido antihorário. O diâmetro da capsulorrexe variou de 5,0 mm a 5,5 mm. Para a emulsificação foi utilizado os aparelhos Infiniti (Alcon) e Sovereign (AMO). Em todas as cirurgias as LIOs foram implantadas no saco capsular por meio de injetores (Alcon Surgical Laboratories, EUA). No período pós-operatório, o paciente foi orientado para utilizar topicamente: cetorolaco de trometamina a 0,5% (Acular®, Allergan Produtos Farmacêuticos, São Paulo, Brasil) quatro vezes ao dia por quatro semanas, gatifloxacina (Zymar®) ou moxifloxacina (Vigamox®) quatro vezes ao dia por 10 dias, e acetato de prednisolona a 1% (Predfort®, Allergan Produtos Farmacêuticos, São Paulo, Brasil) quatro vezes ao dia por quatro semanas. Medicação analgésica via oral também foi prescrita em caso de dor. Todos os pacientes foram avaliados no período pré-operatório e pós-operatório de 1 dia, 1, e 3 meses. Um questionário relacionado à satisfação e a fenômenos visuais foi realizado ao final do estudo. A satisfação do paciente foi baseada em questões relacionadas à visão para longe, intermediário, perto e direção noturna. A pontuação foi apresentada em uma escala que variava de 1 a 10, sendo 1 = incapacitante e 10 = excelente. Os pacientes também foram questionados a respeito de Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 fenômenos visuais (‘glare’, halos) e orientados a responder de acordo com a seguinte escala de pontuação: 0 = nenhum; 1 = mínimo; 2, 3, e 4 = moderado; 5 = intenso. A avaliação estatística dos resultados foi realizada por meio da utilização do programa estatístico SPSS para Windows, versão 12.0 Chicago: SPSS Inc; 2004. Foi realizado test t para comparação dos resultados pré-operatórios com pós-operatórios. As diferenças foram consideradas significativas quando P < 0,01. RESULTADOS Foram avaliados prospectivamente 100 olhos de 50 pacientes, destes 35 (70,0%) eram homens e 15 (30,0%) mulheres, com média de idade de 64 ± 8,7 anos (variando de 45 a 84 anos). A contagem endotelial (CE) média pré-operatória resultou em 2302 ± 267 cél/mm2. O comprimento axial (AL) médio no pré-operatório foi de 23,66 ± 1,10 mm. O poder médio da LIO implantada foi de + 21,39 ± 3,40 D (Tabela 1). No exame pré-operatório observava-se uma média de AVSC (logMAR) de 0,59 (20/80) (DP: ± 0,33), variando de 0,01 a 1,30. No período pós-operatório, após 1 mês a média de AVSC era de 0,05 (20/23) (DP: ± 0,06) (P<0,01), e ao final de 3 meses a média de AVSC era de 0,05 (20/23) (DP: ± 0,07) (P<0,01). Em ambos os períodos foi possível observar uma diferença significativa entre o pré e o pós-operatório. Ao final de 3 meses,100,0% dos casos (100 olhos) apresentavam AVSC melhor ou igual a 0,30 logMAR (20/40), 89,0% (89 olhos) AVSC melhor ou igual a 0,10 logMAR (20/25), e 54,0% (54 olhos) AVSC melhor ou igual a 0,00 logMAR (20/20). No exame pré-operatório, a média da AVCC para longe era de 0,18 (20/30) (DP: ± 0,15), variando de 0,00 a 0,70. No período pós-operatório, após 1 mês a média de AVCC para longe era de 0,00 (20/20) (DP: ± 0,03) (P<0,01), e ao final de 3 meses a média era de AVCC para longe era de 0,00 (20/20) (DP: ± 0,01) (P<0,01). Em ambos os períodos foi possível observar uma diferença significativa entre o pré e o pós-operatório. Ao exame final de 3 meses, a AVCC era melhor ou igual a 0,10 logMAR (20/25) em 100,0 % dos olhos e melhor ou igual a 0,00 logMAR (20/20) em 99,9% dos olhos. Ao final de 3 meses de seguimento, 100,0% dos pacientes apresentavam acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) de J1 ou melhor. Em relação à acuidade visual intermediária corrigida para longe (AVIC), 96,0% dos pacientes eram J4 ou melhor, 83% eram J3 ou melhor, e 35% J2 ou melhor (Tabela 2). O EE médio pré-operatório na refração dinâmica era de 1,13 D (DP: ± 3,39), variando de -4,50 D à + 7,00 D. No seguimento de 1 mês pós-operatório, a média do EE era de -0,18 (DP: ± 0,36), variando de -1,00 D a + Desempenho visual após implante de uma lente intraocular asférica multifocal difrativa 233 Tabela 1 Características demográficas dos pacientes avaliados Características Pacientes /nº olhos Média Idade (anos) Sexo (masculino/feminino) Poder médio LIO (D) Comprimento axial médio (mm) Equivalente esférico pré-operatório (D) Equivalente esférico pós-operatório (D) 50 / 100 64 ± 8,7 35 / 15 + 21,39 ± 3,40 23,66 ± 1,10 1,13 ± 3,39 -0,20 ± 0,33 Tabela 2 Resultado da acuidade visual para longe, intermediário e perto ao final de 3 meses de seguimento Medidas Pré-operatório Pós-operatório Valor P AVSC (média) AVSC de 20/25 ou melhor, n (%) AVSC de 20/40 ou melhor, n (%) AVPC (média) AVPC de J1 ou melhor, n (%) AVIC (média) AVIC de J3 ou melhor, n (%) AVCC (média) 0,59 ± 0,33 5 (5%) 26 (26%) 0,18 ± 0.15 0,05 ± 0,07 89 (89%) 100 (100%) 0,00 ± 0,0 100 (100%) 0,15 ± 0,05 83 (83%) 0,00 ± 0,01 <.001 <,001 AVSC: acuidade visual sem correção; AVPC: acuidade visual para perto corrigida para longe a uma distância de 40 cm; AVIC: acuidade visual intermediária corrigida para longe a uma distância de 60 cm; AVCC: acuidade visual com correção para longe Medidas em logMAR. Tabela 3 Resultado do questionário relacionado à satisfação e a fenômenos visuais realizado 3 meses após a cirurgia Questão *Qual o grau de satisfação com o resultado visual obtido após a cirurgia? Qual o grau de dificuldade em relação à seguinte tarefa: Visão para longe? Visão para perto? ‘Glare’? Visão noturna? Halos? Assistir TV? Realizar leitura (jornal, revista)? Cozinhar? Direção noturna? Computador? Utilizar celular? Barbear / Maquiagem? Realizar compras? Média de pontos ± DP (Variação) 8,48 ± 1,16 (6 a 10) 0,16 ± 0,37 (0 a 1) 0,04 ± 0,19 (0 a 1) 0,54 ± 0,76 (0 a 2) 0,40 ± 0,57 (0 a 2) 1,08 ± 0,48 (0 a 2) 0,18 ± 0,38 (0 a 1) 0,00 ± 0,0 (0 a 0) 0,00 ± 0,0 (0 a 0) 0,42 ± 0,57 (0 a 2) 0,58 ± 0,64 (0 a 2) 0,00 ± 0,0 (0 a 0) 0,00 ± 0,0 (0 a 0) 0,00 ± 0,0 (0 a 0) (*) Escala de satisfação com pontuação que variava de 1 a 10, sendo 1 = incapacitante e 10 = excelente Escala referente a todas as outras questões com a seguinte pontuação: 0 = nenhum; 1 = mínimo; 2, 3, e 4 = moderado; 5 = intenso Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 234 Akaishi L, Messias CB, Tzelikis PFM 0,50 D. No seguimento de 3 meses, a média do EE era de -0,20 (DP: ± 0,33), variando de -0,75 D a + 075 D. Ao final de 3 meses de seguimento, nenhum olho necessitou de uma segunda intervenção. Nenhuma complicação pósoperatória grave foi observada como edema corneano, bloqueio pupilar, descolamento de retina e endoftalmite. O questionário referente à satisfação dos pacientes mostrou que a grande parte dos pacientes estava satisfeita com o resultado visual obtido com a LIO implantada (média de pontos 8,48 ± 1,16; variando de 6 a 10). Todos os pacientes relataram um bom desempenho visual nas atividades para longe, perto e intermediário. Nenhum paciente relatou halos ou ‘glare’ severos ou incapacitantes, sendo citado apenas como leve a moderado por alguns pacientes (Tabela 3). DISCUSSÃO Diversos estudos que avaliaram os resultados funcionais e a qualidade de vida, envolvendo pacientes submetidos ao implante da LIO AcrySof® ReSTOR® mostraram que essa LIO é capaz de melhorar a acuidade visual para perto e manter ao mesmo tempo uma boa acuidade visual para longe. (4-8) Pacientes submetidos a implante de LIO multifocal relatam uma menor dependência dos óculos, quando comparados a pacientes submetidos a implante de LIO monofocal. No entanto, é comum a queixa destes pacientes em relação às atividades realizadas a uma distância intermediária. No presente estudo, nós avaliamos o desempenho visual da nova LIO AcrySof® ReSTOR® asférica. Trata-se de uma LIO baseada na antiga ReSTOR® asférica que além de apresentar uma superfície óptica modificada com a tecnologia asférica apresenta também uma menor adição para perto, o que resultaria num aumento da distância focal e melhor desempenho na visão intermediária. No presente estudo encontramos excelente AVCC (média logMAR 0,00 ± 0,01), com todos os pacientes apresentando AVCC de 20/25 ou melhor ao final de 3 meses. A acuidade visual sem correção também apresentou ótimos resultados, com 89,0% dos pacientes alcançando AVSC melhor ou igual a 0,10 logMAR (20/25). Resultado semelhante foi obtido por Alfonso et al.(9) ao estudarem 40 olhos de 20 pacientes submetidos ao implante da LIO AcrySof® ReSTOR® SN6AD1. Neste estudo, foi observada uma excelente AVCC (média logMAR -0,064 ± 0,04), com todos os pacientes apresentando AVCC de 20/ 25 ou melhor e 90,0% dos pacientes alcançando AVSC melhor ou igual a 0,10 logMAR (20/25) ao final de 6 meses. Kohnen et al.(6) em um estudo, envolvendo 118 pacientes que receberam a LIO esférica AcrySof ReSTOR SA60D3, encontraram excelente resultado na AVCC (média logMAR -0,05; 97,5% dos pacientes 20/25 ou melhor) e AVSC (83,9% dos pacientes 20/25 ou melhor) Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 ao final de 120 a 180 dias de seguimento. No nosso estudo, a LIO asférica com adição de +3,00 D apresentou excelente resultado no desempenho para perto, com todos os pacientes obtendo acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) de J1 (média logMAR 0,00 ± 0,0). No estudo de Alfonso et al.,(9), envolvendo a mesma LIO, os mesmos também obtiveram 100% dos pacientes com AVCP de 20/25 ou melhor (média logMAR -0,04). Em outro estudo de Alfonso et al.,(10) envolvendo a LIO asférica AcrySof® ReSTOR® com adição de +4,00 D, mais uma vez 100% dos pacientes obtiveram uma AVPC de 20/25 ou melhor. Centurion et al.,(4) em um estudo envolvendo 100 olhos que receberam o implante da LIO AcrySof® ReSTOR® SN60D3, observaram uma acuidade visual para perto sem correção de 20/25 ou melhor em 100% dos pacientes e 20/20 ou melhor em 95%. Apesar da nova LIO AcrySof® ReSTOR® asférica (+3,00 D) apresentar uma adição inferior (uma dioptria a menos) a LIO AcrySof® ReSTOR® asférica prévia (+4,00 D), os resultados visuais obtidos para visão perto são semelhantes entre as duas LIO. No entanto, deve ser lembrado que a LIO AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 com adição de +3,00 D é equivalente a um óculos com adição de +2,40 D, portanto, com bom desempenho a 40 cm de distância. É de se esperar que a LIO AcrySof® ReSTOR® SN60D3 com adição de +4,00 D (equivalente a um óculos de +3,20 D) apresente um desempenho superior a essa LIO caso as medidas para perto sejam realizadas a uma distância inferior a 40 cm. Essa observação deve ser lembrada e transmitida ao paciente para que o mesmo possa escolher sua LIO de acordo com o interesse na sua distância focal para perto. Em relação à acuidade visual intermediária a nova LIO AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 apresentou bons resultados no presente estudo. Ao final de 3 meses, a média logMAR era de 0,15 ± 0,05 a uma distância de 60 cm, com 83% dos pacientes obtendo J3 ou melhor, e 35% J2 ou melhor. No trabalho de Alfonso et al.,(9) a média de acuidade visual intermediária foi ainda melhor (média logMAR 0,036 e 0,14 a uma distância de 60 cm e 70 cm, respectivamente), com 75% dos pacientes atingindo J2 ou melhor a 60 cm de distância. Em outro estudo de Alfonso et al.,(10) utilizando a LIO AcrySof® ReSTOR® SN6AD3, a média de acuidade visual intermediária foi bastante inferior (média logMAR 0,35 e 0,40 a uma distância de 60 e 70 cm, respectivamente), com apenas 1% dos pacientes atingindo J2 ou melhor a 60 cm de distância. Vries et al., (11) em um estudo prospectivo, envolvendo 44 olhos submetidos ao implante da LIO AcrySof® ReSTOR® SA60D3, observaram uma visão intermediária média de 0,35 (logMAR) a uma distância de 60 cm após 3 anos de seguimento. O que é possível verificar nos estudos apresentados é que Desempenho visual após implante de uma lente intraocular asférica multifocal difrativa a mudança na plataforma asférica e uma adição reduzida (+3,00 D) na nova LIO AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 representa uma importante melhora função na questão da acuidade visual intermediária. O presente estudo também realizou um questionário de satisfação dos pacientes ao final de 3 meses de seguimento e verificou que a LIO AcrySof® ReSTOR® proporcionou uma excelente acuidade visual para longe e perto com uma média de satisfação de 8,48 numa escala de 1 a 10 (1= incapacitante e 10=excelente). Em relação aos distúrbios visuais como halos e ‘glare’ (presentes em 46% e 19% respectivamente), a grande maioria dos pacientes classificou os mesmos entre ausente a moderado, sendo que em nenhum caso foi considerado severo. O que se observa em estudos envolvendo LIOs multifocais é que fenômenos visuais são 3,5x mais frequentes em pacientes submetidos a implante de LIO multifocal comparado a LIO monofocal, apesar dos resultados de acuidade visual para longe serem parecidos. (12) Nosso questionário foi capaz de identificar uma baixa prevalência de sintomas visuais e uma alta satisfação dos pacientes com o implante da LIO multifocal. Em conclusão, a LIO multifocal difrativa AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 proporcionou aos pacientes uma boa acuidade visual para longe e perto, sendo ligeiramente inferior nas atividades a distância intermediária, apesar de se mostrar superior as LIOs multifocais previamente estudadas. Além disso, apresentou uma alta satisfação por parte dos pacientes e uma baixa incidência de fenômenos visuais. Estudos com maior seguimento e com avaliação da sensibilidade ao contraste e análise de frente de ondas são necessários para melhor esclarecimento da qualidade óptica das novas lentes multifocais. ABSTRACT Purpose: To evaluate distance, intermediate, and near vision after aspheric multifocal diffractive AcrySof® ReSTOR® SN6AD1 intraocular lens (IOL) implantation. Methods: Prospective study of 50 patients with cataract that had phacoemulsification and AcrySof® ReSTOR® IOL implantation. Uncorrected distance vision acuity (UDVA), corrected distance visual acuity (CDVA), distance-corrected near visual acuity (DCNVA), and distance-corrected intermediate visual acuity (DCIVA) were measured postoperatively. A patient-satisfaction and visual phenomena questionnaire was administered at the end of the study. Results: Three months postoperatively, the mean acuities (logMAR) were: UCDV, 0,05 ± 0,07; CDVA, 0,00 ± 0,01; DCNVA, 0,00 ± 0,0, and AVIC, 0,15 ± 0,05. The CDVA and DCNVA were 20/25 or better in all patients, with DCIVA of J3 or better in 83% of the patients. Patients reported good performance for distance, 235 intermediate, and near visual tasks with no or minimal difficulty with specific tasks. No patient reported severe visual phenomena; halos and glare were rated as none to moderate. Conclusion: The aspheric IOL AcrySof ® ReSTOR® SN6AD1 provide good functional vision at far, intermediate, and near distance, and a low incidence of visual disturbances. Keywords: Intraocular lenses; Visual acuity; Evaluation; Patient satisfaction. REFERÊNCIAS 1. Pepose JS, Qazi MA, Davies J, Doane JF, Loden JC, Sivalingham V, Mahmoud AM. Visual performance of patients with bilateral VS combination Crystalens, ReZoom, and ReSTOR intraocular lens implants. Am J Ophthalmol 2007; 144: 347-357. 2. Knorz MC. Multifocal intraocular lenses: overview of their capabilities, limitations, and clinical benefits [editorial]. J Refract Surg 2008; 24 (3): 215-217. 3. de Santhiago MR, Netto MV, Gomes BAF, Schaefer A, KaraJunior N. A contralateral eye study comparing apodized diffractive and full diffractive lenses: wavefront analysis and distance and near uncorrected visual acuity. Clinics 2009; 64(10): 953-960. 4. Centurion V, Lacava AC, Caballero JC. Lente intraocular multifocal difrativa apodizada: resultados. Rev Bras Oftalmol 2007; 66(6): 383-387. 5 . Souza CE, Muccioli C, Soriano ES, Chalita MR, Oliveira F, Freitas LL, Meire LP, Tamaki C, Belfort R Jr. Visual performance of AcrySof ReSTOR apodized diffractive IOL: a prospective comparative Trial. Am J Ophthalmol 2006; 141: 827-832. 6. Kohnen T, Allen D, Boureau C, et al. European multicenter study of the AcrySof ReSTOR apodized diffractive intraocular lens. Ophthalmology 2006; 113: 578-584. 7 . Alfonso JF, Fernández-Vega L, Baamonde B, Montés-Micó R. Prospective visual evaluation of apodized diffractive intraocular lenses. J Cataract Refract Surg 2007; 33: 1235-1243. 8 . Fernández-Vega L, Alfonso JF, Rodríguez PP, Montés-Micó R. Clear lens extraction with multifocal apodized diffractive intraocular lens implantation. Ophthalmology 2007; 114: 1491-1498. 9. Alfonso JF, Fernández-Vega L, Amhaz H, Montés-Micó R, Valcárcel B, Ferrer-Blasco T. Visual function after implantation of an aspheric bifocal intraocular lens. J Cataract Refract Surg 2009; 35: 885-892. 10. Alfonso JF, Fernández-Vega L, Valcárcel B, Montés-Micó R. Visual performance after AcrySof ReSTOR aspheric intraocular lens implantation. J Optom 2008; 1: 30-35. 11. Vries NE, Webers CAB, Montés-Micó R, Tahzib NG, Cheng YYY, Brabander J, hendrikse F, Nuijts RMMA. Long-term follow-up of a multifocal apodized diffractive intraocular lens after cataract surgery. J Cataract Refract Surg 2008; 34: 1476-1482. 12. Woodward MA, Randleman JB, Stulting RD. Dissatisfaction after multifocal intraocular lens implantation. J Cataract Refract Surg 2009; 35: 992-997. Endereço para correspondência: Patrick F. M. Tzelikis SQN 203, bloco G, apto. 405 CEP 70833-070, Brasília - (DF),Brasil E-mail: [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 230-5 ARTIGO ORIGINAL 236 Avaliação econômica das associações fixas de prostaglandina/prostamida e timolol no tratamento do glaucoma e da hipertensão ocular Economic evaluation of Prostaglandin/Prostamide and timolol fixed combinations in the treatment of glaucoma and ocular hypertension. Ricardo Augusto Paletta Guedes1, Vanessa Maria Paletta Guedes2, Julia Linhares Borges3, Alfredo Chaoubah4 RESUMO Objetivo: Avaliar o custo ao final de 5 anos, a efetividade e a relação custo-efetividade das associações fixas de prostaglandina ou prostamida com timolol 0,5% para o tratamento do glaucoma e da hipertensão ocular no Estado de Minas Gerais, Brasil. Métodos: Este estudo transversal avaliou as seguintes associações fixas: bimatoprosta/timolol 0,5% (BT), latanoprosta/timolol 0,5% (LT) e travoprosta/timolol 0,5% (TT). O custo foi calculado a partir do número médio de gotas de 5 frascos de cada associação, da duração (dias) e do preço máximo ao consumidor (PMC). A efetividade na redução da pressão intraocular (PIO) foi obtida na literatura. Para cada uma das associações, calculou-se o custo diário, mensal, anual e em 5 anos. A relação custo-efetividade foi definida como o custo em 5 anos de cada percentual de redução da PIO. Resultados: O PMC, número médio de gotas por frasco e a duração média (dias) foram, respectivamente: R$ 83,07; 109,4 e 54,7 para BT; R$ 126,03; 97,0 e 48,5 para LT e R$ 97,47; 96 e 48,0 para TT.A capacidade de redução percentual da PIO encontrada na literatura foi 35,10% para BT, 35,00% para LT e 34,70% para TT. O custo em 5 anos para cada percentual de redução da PIO foi de R$ 61,02 para BT, R$ 104,71 para LT e R$ 82,53 para TT.A associação BT é dominante sobre as demais. Conclusões: BT apresentou em 5 anos menor custo e maior efetividade que LT e TT. Descritores: Glaucoma/economia; Glaucoma/quimioterapia; Pressão intraocular/economia; Pressão intraocular/quimioterapia; Anti-hipertensivos/economia; Antihipertensivos/administração & dosagem; Timolol/administração & dosagem; Timolol/ economia; Prostaglandinas F sintéticas/administração & dosagem; Prostaglandinas F sintéticas/economia; Combinação de medicamentos; Análise custo-efetividade 1 Mestre em Saúde Coletiva; Especialista em glaucoma pelo Hospital des Quinze-Vingts (Paris, França); Pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora (MG), Brasil; 2 Especialista em glaucoma pelo Hospital des Quinze-Vingts (Paris, França); Pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora UFJF - Juiz de Fora (MG), Brasil; 3 Acadêmica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF); 4 Doutor, Professor do Departamento de Estatística e Pesquisador da Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF - Juiz de Fora (MG), Brasil Instituição onde o estudo foi realizado: Universidade Federal de Juiz de Fora. Os autores afirmam a inexistência de conflitos de interesse Recebido para publicação em: 9/11/2009 - Aceito para publicação em 27/6/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 236-40 Avaliação econômica das associações fixas de prostaglandina/prostamida e timolol no tratamento do glaucoma... INTRODUÇÃO O tratamento da hipertensão ocular e do glaucoma consiste na redução da pressão intraocular (PIO) a níveis que impeçam o aparecimento ou a progressão de neuropatia óptica (PIOalvo). A redução da PIO pode ser realizada através de medicamentos, laser ou cirurgia.(1) A terapia inicial do glaucoma e da hipertensão ocular é geralmente feita através do uso de colírios em monoterapia. Caso haja uma redução suficiente da PIO, com uma única medicação, aconselham-se controles periódicos. Segundo o Consenso da Sociedade Brasileira de Glaucoma (SBG), nos casos em que a PIO-alvo não foi atingida com uma medicação e houve pelo menos 10% de redução da PIO, uma segunda droga deverá ser adicionada à primeira.(1,2) Dados do Ocular Hypertension Treatment Study (OHTS) mostram que quase metade dos hipertensos oculares necessitaram 2 ou mais drogas para atingirem a PIO-alvo.(3) Já no Early Manifest Glaucoma Trial (EMGT), aproximadamente 70% dos portadores de glaucoma inicial usavam 2 ou mais medicamentos para atingirem a PIOalvo.(4) Quanto mais avançado o glaucoma, um maior número de colírios é necessário. Em uma avaliação multicêntrica dos custos relacionados ao glaucoma na Europa, a média mensal de colírios por paciente variou de 1,1 nos casos iniciais a 2,4 nos casos mais avançados.(5) As associações fixas de análogos de prostaglandinas ou prostamida com o maleato de timolol a 0,5% foram recentemente introduzidas como opções terapêuticas válidas, trazendo diversas vantagens. São colírios com duas medicações de efeitos complementares em um mesmo frasco. O maleato de timolol a 0,5% reduz a produção do humor aquoso, enquanto que os análogos de prostaglandina/prostamida, aumentam o escoamento pela via não convencional. Por serem utilizados uma vez ao dia, facilitam o regime terapêutico, evitam o efeito wash-out, proporcionando uma melhora da aderência e eficácia do tratamento. (6) O objetivo deste estudo de fármaco-economia foi uma análise de custo-efetividade das seguintes associações fixas para o tratamento do glaucoma e da hipertensão ocular: bimatoprosta 0,03%/timolol 0,5% (BT; Ganfort, Allergan, Inc, Irvine, CA, EUA); latanoprosta 0,005%/timolol 0,5% (LT, Xalacom, Pfizer, New York, NY, EUA) e travoprosta 0,004%/timolol 0,5% (TT, DuoTravatan, Alcon, Fort Worth, TX, EUA). MÉTODOS Este estudo transversal avaliou o preço máximo ao consumidor, no mês de novembro de 2009, (alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços, 237 ICMS, de 18% para o Estado de Minas Gerais) das diferentes apresentações farmacológicas das seguintes associações fixas: BT, LT e TT disponíveis no mercado em relação a sua efetividade. Os dados clínicos referentes à efetividade das medicações estudadas foram obtidos do estudo de Hommer et al. (7) Estes autores realizaram uma revisão sistemática da literatura de ensaios clínicos randomizados, envolvendo as associações fixas supracitadas. O custo das medicações foi obtido do guia das farmácias (mês de novembro de 2009) através do preço máximo ao consumidor. Os autores calcularam o número médio de gotas no frasco de cada uma das medicações estudadas. Este cálculo foi realizado da seguinte maneira: foi feita uma contagem do número de gotas em 5 frascos de cada associação fixa (BT, LT e TT). Os frascos foram segurados com o conta-gotas para baixo em uma angulação de 90° pela mesma pessoa. Após a contagem das gotas, obteve-se a média e o desvio padrão para cada associação fixa estudada. Uma vez obtido o número médio de gotas no frasco de cada associação fixa, calculou-se a duração média do frasco, o custo diário, mensal, anual e em 5 anos. A relação custo-efetividade foi definida como o custo em 5 anos para cada unidade percentual de redução da PIO, sendo calculada pela divisão do custo em 5 anos de cada associação fixa por sua respectiva efetividade (medida em percentual de redução da PIO). Calculou-se ainda a razão de custo-efetividade incremental (ICER). Seguindo as diretrizes para estudos econômicos do Ministério da Saúde brasileiro, foi aplicada uma taxa de desconto de 5%.(8) A robustez dos resultados de análise de custoefetividade foi testada através de análises de sensibilidade univariadas. Diferentes taxas de descontos (0 e 10%), bem como mudanças no custo das associações fixas e da duração do frasco (20% a mais em casos de baixa aderência ou duração fixa de 30 dias para os casos de desperdício de gotas) foram avaliadas. Todos os cálculos foram feitos usando-se Excel 2007 (Microsoft). RESULTADOS O preço máximo ao consumidor, no mês de novembro de 2009, das medicações estudadas foi o seguinte: R$ 83,07 para a associação BT, R$ 126,03 para a associação LT e R$ 97,47 para a associação TT. A Tabela 1 mostra o número de gotas obtido na contagem dos frascos, bem como o número médio de Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 236-40 238 Guedes RAP, Guedes VMP, Borges JL, Chaoubah A Tabela 1 Número de gotas obtido na contagem dos frascos e o número médio de gotas e o desvio padrão para cada associação fixa Medicação Frasco 1 Frasco 2 Frasco 3 Frasco 4 Frasco 5 Média DP BT LT TT 110 99 100 111 102 95 110 94 95 108 95 94 108 95 96 109,4 97,0 96,0 1,3 3,4 2,3 BT- associação fixa Bimatoprosta 0,03%/Timolol 0,5%; LT- associação fixa Latanoprosta 0,005%/ Timolol 0,5%; TT- associação fixa Travoprosta 0,004%/Timolol 0,5%; DP- desvio padrão Tabela 2 Duração média do frasco (admitindo-se 1 gota em cada olho por dia sem desperdício ou esquecimento), o custo diário, mensal, anual e em 5 anos para cada associação fixa de medicações (preços em reais) Medicações Duração média (dias) Custo diário (R$) Custo mensal (R$) Custo anual (R$) Custo em 5 anos (R$) BT LT TT 54,70 48,50 48,00 1,52 2,60 2,03 45,56 77,96 60,92 546,71 935,48 731,03 2.733,56 4.677,40 3.655,13 BT- associação fixa Bimatoprosta 0,03%/Timolol 0,5%; LT- associação fixa Latanoprosta 0,005%/ Timolol 0,5%; TT- associação fixa Travoprosta 0,004%/Timolol 0,5%. Tabela 3 Análise de custo-efetividade das associações fixas Medicações BT LT TT Custo em 5 anos (R$) * Efetividade (% de redução da PIO) ** 2.141,82 3.664,87 2.863,89 35,10 35,00 34,70 Relação custo-efetividade (R$ / %) Custo incremental (R$) Efetividade incremental (%) ICER (R$ / %) 61,02 104,71 82,53 -1.523,05 -722,07 0,1 0,4 Dominante Dominado Dominado BT- associação fixa Bimatoprosta 0,03%/Timolol 0,5%; LT- associação fixa Latanoprosta 0,005%/Timolol 0,5%; TT- associação fixa Travoprosta 0,004%/Timolol 0,5%; ICER- Razão de custo-efetividade incremental * Custo em 5 anos com desconto de 5%.(8) ** Valores obtidos de Hommer A et al.(7) gotas e o desvio padrão para cada associação fixa. A duração do frasco, o custo diário, mensal, anual e em 5 anos para cada associação de medicações estudada está demonstrado na Tabela 2. A análise de custo-efetividade está apresentada na Tabela 3. O custo de cada percentual de redução da PIO ao final de 5 anos foi de R$ 61,02 para a associação BT, R$ 104,71 para a associação LT e R$ 82,53 para a associação TT. A associação BT é dominante sobre as demais, pois possui uma efetividade maior com um custo menor. Na análise de sensibilidade, mudando-se a taxa Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 236-40 de desconto para 0% ou para 10%, não há mudança do resultado, ou seja, a associação BT continua sendo dominante. Levando-se em consideração uma aderência de 80% para cada um dos medicamentos (ou seja, uma duração de 20% a mais de cada frasco) ou uma duração fixa de 30 dias (admitindo-se desperdício de gotas), o resultado também continua inalterado. Pela análise de sensibilidade, seria preciso abaixar o custo da associação TT em 30% (custo de R$ 68,23 por frasco) e da associação LT em 50% (custo de R$ 63,02 por frasco) para que eles se tornem uma opção custo-efetiva comparável à associação BT. Avaliação econômica das associações fixas de prostaglandina/prostamida e timolol no tratamento do glaucoma... DISCUSSÃO O custo com tratamento de doenças crônicas, entre elas o glaucoma, têm um grande impacto no orçamento global da saúde.(9) Os economistas especializados em saúde acreditam que a inovação nas tecnologias médicas (fármacos, procedimentos médicos-cirúrgicos, e equipamentos médicos) é o fator primário do aumento do custo da saúde, observado nos últimos anos.(10) Os recursos destinados à saúde são limitados, portanto estudos de avaliação econômica ganham cada vez mais importância, por facilitar a tomada de decisões por parte dos gestores da saúde. Os principais tipos de avaliação econômica de tecnologias em saúde são estudos de custo-minimização, custo-efetividade, custo-benefício e custo-utilidade. Os estudos de custo-efetividade têm valor, pois agregam no resultado tanto o custo desta tecnologia estudada quanto o resultado que ela proporciona.(10) As prostaglandinas (e prostamida) são consideradas, na maioria das vezes, como as medicações de primeira escolha no tratamento do glaucoma e da hipertensão ocular, graças ao perfil de segurança e eficácia.(1,2) Guedes et al. estudaram qual seria a prostaglandina mais custo-efetiva para a população brasileira. Neste estudo, a bimatoprosta foi superior à latanoprosta e à travoprosta.(11) Este mesmo resultado foi obtido por pesquisadores em outros locais do mundo.(12,13) No entanto, em grande parte dos casos, faz-se necessário a adição de uma segunda droga com o objetivo de se atingir a PIO-alvo.(3,4) As associações fixas de prostaglandina/timolol foram recentemente incorporadas no mercado mundial e brasileiro. Ao disponibilizar duas medicações de ações complementares em um mesmo frasco, elas têm a vantagem de facilitar a posologia, aumentar a aderência e reduzir a PIO de maneira eficiente.(6) Diversos estudos mostraram a segurança clínica e a eficácia destas associações fixas para o tratamento clínico do glaucoma e da hipertensão ocular.(6) Do ponto de vista econômico, Martinez et al., na Espanha, concluíram que a associação fixa BT seria a melhor opção. Nesse estudo, o custo de cada percentual de redução da PIO ao final de 3 meses foi de 5,34 euros para BT, 5,40 euros para LT e 5,45 euros para TT.(14) Hommer et al. encontraram resultado semelhante ao comparar os resultados de custo-efetividade das associações fixas em 5 países europeus: Reino Unido, Suécia, Noruega, Itália e Espanha.(7) No presente estudo, a associação fixa BT foi superior às demais quando avaliada do ponto de vista econômico. O custo para cada percentual de redução da PIO ao final de 5 anos foi de R$ 61,02 para BT, R$ 104,71 para LT e R$ 82,53 para TT. Isto leva uma razão de custo- 239 efetividade incremental (ICER) negativa, fazendo com que a associação BT seja dominante sobre as demais. Algumas razões podem ser apontadas para o resultado encontrado. A associação BT possui 0,5 ml a mais no frasco do que as demais (3 ml versus 2,5 ml). Isto leva a uma duração maior do frasco, consequentemente um menor custo por gota. No estudo de Guedes et al. sobre a relação de custo-efetividade das prostaglandinas, observa-se que o volume do frasco tem uma grande influência no resultado de custo-efetividade (bimatoprosta em frascos de 5 ml é mais custo-efetiva que a bimatoprosta em frascos de 3 ml).(11) Outra razão importante é que o preço máximo ao consumidor (PMC) da associação BT é menor que das outras (R$ 83,07 versus R$ 126,03 para a associação LT e R$ 97,47 para a associação TT). A combinação dos fatores citados: conteúdo maior do frasco e PMC menor faz com que a associação BT tenha um menor custo diário, mensal, anual e em 5 anos. Além do fato de a associação BT ser mais barata, existe ainda evidência de que ela é mais eficaz. Dados da literatura compilados e analisados por Hommer et al. mostram que a redução percentual média da PIO é de 35,1% para BT, 35,0% para LT e 34,7% para TT com PIO média basal variando de 25,6 a 26,0 mmHg.(7) Barnebey et al. encontraram uma redução média percentual de 38,1% para a associação TT, (15) porém a PIO basal média era de 30,2 mmHg, bem acima da médias dos outros estudos clínicos. Por esta razão, os autores do presente estudo escolheram para efetividade os valores apresentados por Hommer et al.(7) Este estudo usa dados clínicos secundários, portanto está sujeito a limitações. Os dados de efetividade foram obtidos de estudos diferentes, pois não há ainda na literatura uma comparação direta de maneira randomizada e prospectiva entre as 3 associações fixas estudadas. A diferença observada na efetividade entre as associações fixas é muito pequena,(7) podendo-se levantar a questão da real validade clínica desta diferença. Outra limitação é que o cálculo do custo foi baseado no PMC, seguindo as orientações do painel para estudos de custo-efetividade. (16) O preço real de aquisição do medicamento pode ser diferente tanto do ponto de vista individual (programas de fidelização dos laboratórios ou farmácias) quanto coletivo (ao comprar grandes quantidades, gestores de sistemas de saúde conseguem preços menores). Na análise de sensibilidade, o único fator que poderia alterar o resultado foi o preço.Ao se reduzir o custo da associação LT em 50% e da TT em 30% estas passam a apresentar relação de custo-efetividade semelhante. Se o custo das associações fixas (custo/gota) fosse semelhante, a relação custo-efetividade provavelmente também seria, visto que a efetividade delas mostra muito pouca diferença. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 236-40 240 Guedes RAP, Guedes VMP, Borges JL, Chaoubah A No ambiente do Sistema Único de Saúde (SUS), os resultados de avaliações econômicas como esta podem se transformar em um importante instrumento nos processos de decisão sobre a incorporação de tecnologias e a alocação de recursos em saúde. Estas análises devem auxiliar na seleção de intervenções mais efetivas por um menor custo e agregar elementos para aprimorar políticas públicas de saúde.(8) REFERÊNCIAS 1. 2. 3. CONCLUSÃO 4. A associação BT apresentou menor custo ao final de 5 anos, assim como uma capacidade de redução percentual da PIO maior. Portanto, a associação fixa de prostaglandina ou prostamida com timolol mais custoefetiva é a associação BT. ABSTRACT Purpose: To assess the 5-year cost, effectiveness and costeffectiveness of fixed combinations of prostaglandin or prostamide and timolol 0.5% on glaucoma and/or ocular hypertension in the state of Minas Gerais, Brazil. Methods: This cross-sectional study evaluated the following fixed combinations: bimatoprost/timolol 0.5% (BT), latanoprost/timolol 0.5% (LT) and travoprost/ timolol 0.5% (TT). Cost was obtained through mean number of drops in a sample of 5 containers of each medication, duration (days) and the average wholesale price (AWP). Effectiveness in reducing intraocular pressure IOP was derived from the literature. Daily, monthly, annually and 5-year cost was calculated. Costeffectiveness was defined as cost by each percentage of IOP reduction over 5 years. Results: AWP, mean number of drops and mean duration (days) were: R$ 83.07; 109.4 and 54.7 for BT; R$ 126.03; 97.0 and 48.5 for LT and R$ 97.47; 96.0 and 48.0 for TT. Mean percentage of IOP reduction, obtained from literature, was: 35.10% for BT, 35.00% for LT and 34.70% for TT. Cost-effetiveness ratio (R$/%) was: 61.02 for BT, 104.71 for LT and 82.53 for TT. BT was dominant over LT and TT. Conclusion: BT presented lower costs and better effectiveness when compared to LT and TT. The most cost-effective fixed combination was BT. Keywords: Glaucoma/economics; Glaucoma/drug therapy; Intraocular pressure/economics; Intraocular pressure/drug therapy; Antihypertensive agents/ administration & dosage Antihypertensive agents/ economics; Timolol/administration & dosage; Timolol/ economics; Prostaglandins F, Synthetic/administration & dosage; Prostaglandins F, synthetic/economics; Drug combinations; Cost-effectiveness analysis Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 236-40 5. 6. 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. European Glaucoma Society. Terminology and guidelines for glaucoma. 2nd ed. Savona: Dogma; 2003. Sociedade Brasileira de Glaucoma. 2º Consenso Brasileiro de Glaucoma Primário de Ângulo Aberto. São Paulo: PlanMark; 2005. Kass MA, Heuer DK, Higginbotham EJ, Johnson CA, Keltner JL, Miller JP, et al. The Ocular Hypertension Treatment Study: a randomized trial determines that topical ocular hypotensive medication delays or prevents the onset of primary openangle glaucoma. Arch Ophthalmol. 2002;120(6):701-13; discussion 829-30. Leske MC, Heijl A, Hussein M, Bengtsson B, Hyman L, Komaroff E; Early Manifest Glaucoma Trial Group. Factors for glaucoma progression and the effect of treatment: the early manifest glaucoma trial. Arch Ophthalmol. 2003;121(1):48-56. Traverso CE, Walt JG, Kelly SP, Hommer AH, Bron AM, Denis P, et al. Direct costs of glaucoma and severity of the disease: a multinational long-term study of resource utilization in Europe. Br J Opthalmol. 2005;89(10):1245-9. Cox JA, Mollan SP, Bankart J, Robinson R. 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Endereço para correspondência: Ricardo Augusto Paletta Guedes Av. Rio Branco, nº 2337 sls 801, 807, 808 - Centro CEP 36010-905 - Juiz de Fora - (MG), Brasil ARTIGO ORIGINAL 241 Comparação pressórica e visual entre a facoesclerectomia profunda não penetrante e a facotrabeculectomia Intraocular pressure and visual results from combined surgery: phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy and phacoemulsification with trabeculectomy Juliana Almodin1, Eduardo Cavalheiro Pedroso2, Tadeu Cvintal3, Flavia Almodin4 RESUMO Objetivo: O presente estudo tem como objetivo comparar os resultados do controle pressórico e acuidade visual (AV) entre a facoesclerectomia profunda não penetrante (FACOEPNP) e facotrabeculectomia (FACOTREC). Métodos: Estudo observacional, retrospectivo através da revisão de prontuários. Foram selecionados 148 olhos de 127 pacientes submetidos à cirurgia no período de janeiro de 1998 a janeiro de 2007 do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal em portadores de glaucoma primário de ângulo aberto (GPAA) com diagnóstico de catarata coexistente. Destes pacientes 77 eram do sexo feminino, sendo que 49 (59%) foram submetidos à FACOEPNP e 28 (63,6%) foram submetidos à FACOTREC. Cinquenta pacientes eram do sexo masculino sendo, 34 (41%) submetidos à FACOEPNP e 16 (36,4%) a FACOTREC. O estudo teve duração de 12 meses e os pacientes tiveram pressão intraocular (PIO) (tonômetro de Goldmann) e AV (LogMar) aferidos no pré-operatório e um ano após o procedimento cirúrgico, além do número de medicações hipotensoras oculares que foram adicionados no pósoperatório.Resultados: Os grupos se mostraram homogêneos quanto a AV pré (p = 0,067), AV pós (p = 0,924) e variação da AV (p = 0,099). A média de variação de AV no grupo FACOTREC foi de -0,31 (dp = 0,59) (p < 0,001), enquanto que a média de variação da AV no grupo da FACOEPNP foi de -0,45 (dp 0,51) com p<0,001. A média de variação de PIO no grupo FACOEPNP de -6,2 (dp = 5,1) foi estatisticamente significante (p < 0,001) e a média de variação de PIO no grupo FACOTREC foi de -6,6 (dp = 5,3) (p < 0,001). Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto ao uso de medicações na avaliação pós (p = 0,398). Conclusão: A esclerectomia não penetrante (EPNP) combinada com cirurgia de catarata resulta em uma redução da PIO similar a encontrada na FACOTREC com o mesmo resultado com relação a melhor AV. Descritores: Glaucoma de ângulo aberto /cirurgia; Trabeculectomia; Esclera /cirurgia; Facoemulsificação; Pressão intraocular; Acuidade visual; Terapia combinada 1 Assistente do Departamento de Glaucoma do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; Residente do Terceiro ano de oftalmologia do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 3 Diretor e Chefe do Departamento de Córnea do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 4 Estagiária do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; Departamento de Glaucoma do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal - São Paulo (SP), Brasil; 2 Recebido para publicação em: 18/3/2010 - Aceito para publicação em 13/4/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 241-6 242 Almodin J, Pedroso EC, Cvintal T, Almodin F INTRODUÇÃO G laucoma e catarata são duas entidades que frequentemente ocorrem ao mesmo tempo, e a realização de uma cirurgia combinada é uma alternativa terapêutica que dispomos no momento.(1) A facotrec tem sido a intervenção mais popular quando se deve combinar a cirurgia de catarata e glaucoma em um mesmo ato cirúrgico, constituindo um procedimento gratificante para o paciente, combinando a reabilitação visual com menor dependência do tratamento médico antiglaucomatoso.(2) A EPNP tem surgido como uma alternativa a trabeculectomia convencional, com menor número de complicações pós-operatórias associadas. São cada vez mais numerosos os estudos que confirmam sua eficácia e sua segurança.(3) A decisão de se optar por uma cirurgia combinada para a catarata e o glaucoma depende de alguns fatores individuais de cada paciente, como: PIO alvo, estágio do glaucoma e expectativa de vida.(4) Entretanto, a EPNP não é superior a trabeculectomia (TREC) em relação ao controle da PIO, porém reduz as complicações tanto intraoperatórias como pós-operatórias.(5) O uso de implantes esclerais parece melhorar a filtração e diminuir a fibrose, porém pode aumentar o custo da cirurgia, o que em algumas ocasiões pode restringir o seu uso.(6) O uso de antimetabólitos, que modulam a resposta cicatricial, podem ser utilizados para aumentar a taxa de sucesso, mas não é um processo livre de complicações.(7) Há estudos que mostram o benefício da aplicação da mitomicina C (MMC) como um coadjuvante na cirurgia combinada de catarata e glaucoma, particularmente em pacientes com risco para a falência da cirurgia filtrante.(5) Alguns fatores de risco conhecidos para a falência na cirurgia filtrante são: presença de inflamação, olhos submetidos à cirurgia ocular prévia, uso prolongado de medicação tópica antiglaucomatosa, raça negra e jovens.(7) Não há ainda evidência científica suficiente para determinar qual a técnica de cirurgia combinada mais efetiva.(8) Por esse motivo, nos propusemos a avaliar a eficácia de ambos os procedimentos. MÉTODOS Este foi um estudo observacional, retrospectivo através da revisão de prontuários. Foram selecionados 148 olhos de 127 pacientes submetidos à cirurgia no pe- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 241-6 ríodo de janeiro de 1998 a janeiro de 2007 do Instituto de Oftalmologia Tadeu Cvintal em portadores de GPAA com diagnóstico de catarata coexistente. Destes pacientes 77 eram do sexo feminino, sendo que 49 (59%) foram submetidos à FACOEPNP e 28 (63,6%) foram submetidos à FACOTREC. Cinquenta pacientes eram do sexo masculino, sendo que 34 (41%) foram submetidos à FACOEPNP e 16 (36,4%) à FACOTREC. Todos os pacientes tinham PIO não controlada com medicação antiglaucomatosa máxima tolerada ou PIO controlada clinicamente no período pré-operatório e a opção pela cirurgia combinada foi tomada a critério médico se o paciente estivesse com glaucoma em estágio avançado ou glaucoma controlado com duas ou mais medicações hipotensoras oculares; e que também necessitavam de cirurgia para a catarata. Consideramos para este estudo como catarata sendo qualquer opacidade do cristalino e GPAA como tendo alteração típica de nervo óptico (NO), e/ou alteração típica campimétrica e/ou insuficiente controle clínico da PIO. Foram excluídos do trabalho pacientes portadores de glaucoma congênito, glaucomas secundários, glaucoma primário de ângulo fechado, cirurgia ocular prévia, história de trauma ocular e descolamento de retina. O estudo teve duração de 12 meses e os pacientes tiveram PIO (tonômetro de Goldmann) e AV (LogMar) aferidos no pré-operatório e um ano após procedimento cirúrgico, além do número de medicações hipotensoras oculares que foram adicionados no pós-operatório. A cirurgia foi realizada por um cirurgião experiente do próprio serviço e a técnica cirúrgica adotada foi a seguinte: Facotra(11)eculectomia: 1.Retopexia do músculo reto superior com seda 4-0; 2.Peritomia de base fórnice e hemostasia com cautério bipolar; 3.Aplicação de MMC 0,025 mg/ml por 3 minutos; 4.Irrigacão com solução salina balanceada; 5. Confecção do retalho escleral quadrangular de 4 x 4 mm; 6. Incisão em córnea clara com 3,2 mm de largura; 7.Capsulorrexis e hidrodissecção do núcleo; 8.Facoemulsificação e aspiração dos restos corticais; 9. Implante de lente intraocular (LIO); 10.Retirada de um bloco de tecido escleral de aproximadante 1,5 mm x 1,5 mm; 11. Iridectomia com tesoura de Vannas; 12.Sutura do retalho escleral com mononylon 10-0; 13.Sutura conjuntival com mononylon 10-0; 14.Injeção subconjuntival de dexametasona e gentamicina Comparação pressórica e visual entre a facoesclerectomia profunda não penetrante e a facotrabeculectomia Facoesclerectomia: 1. Retopexia do músculo reto superior com seda 4-0; 2. Abertura da conjuntiva e cápsula de Tenon com base fórnice; 3. Confecção do retalho escleral superficial quadrangular de 5 x 5 mm com 1/3 de profundidade; 4. Confecção de retalho escleral profundo triangular de base de 4 a 5 mm até o plano pré-ciliar; 5. Excisão do retalho profundo, retirando junto a parede externa do CS; 6. Excisão da membrana trabecular externa, que inclui a parede interna do CS e o trabeculado justacanalicular; 7. Sutura do retalho superficial com dois pontos com mononylon 10-0; 8. Sutura conjuntival com pontos separados de mononylon 10-0; 9. Incisão em córnea clara com 3,2 mm de largura; 10. Capsulorrexis e hidrodissecção do núcleo; 11. Facoemulsificação e aspiração dos restos corticais; 12. Implante de lente intraocular (LIO); 13.Injeção subconjuntival de dexametasona e gentamicina No pós-operatório de ambas as técnicas, os pacientes foram instruídos a utilizar uma combinacão fixa de dexametasona, polimixina B e neomicina a cada 4 horas e tropicamida 1% a cada 12 horas por 4 a 6 semanas. Foram adotados pelos autores como critérios de sucesso: sucesso absoluto: pacientes com PIO menor/ igual a 21 mmHg sem a necessidade de tratamento clínico após o procedimento e sucesso relativo: PIO menor/igual a 21 mmHg associado ao tratamento clínico. Os dados relativos à AV, PIO, número de medicações hipotensoras foram analisados no pré-operatório e 12 meses após o procedimento cirúrgico. RESULTADOS Os grupos se mostraram homogêneos quanto à média de idade (p = 0,153) e distribuição por sexo dos pacientes (p = 0,614). Nas avaliações de AV LogMAR foram encontrados os seguintes resultados: os grupos se mostraram homogêneos quanto à AV pré (p = 0,067), AV pós (p = 0,924) e variação da AV (p = 0,099); a média de variação de AV no grupo FACOEPNP de -0,45 (dp = 0,51) foi estatisticamente significante (p < 0,001), da mesma forma que a média de variação de AV no grupo FCOTREC foi de 0,31 (dp = 0,59) (p < 0,001). Nas avaliações de PIO os grupos se mostraram homogêneos quanto a PIO pré (p = 0,190), PIO pós (p = 243 0,376) e variação da PIO (p = 0,856); (Tabela 1) A proporção de pacientes com PIO ≤ 21mmHg foi semelhante nos grupos nas avaliações pré (p = 0,144) e pós (p = 0,264); A média de variação de PIO no grupo FACOEPNP de -6,2 (dp = 5,1) foi estatisticamente significante (p < 0,001), assim como a média de variação de PIO no grupo FACOTREC de -6,6 (dp = 5,3) (p < 0,001). Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto ao uso de medicações na avaliação pós (p = 0,398) e não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto à distribuição dos resultados de eficácia dos procedimentos (p = 0,253). (Tabela 2) DISCUSSÃO A FACOTREC tem sido o procedimento eleito para cirurgia combinada de catarata e glaucoma desde a década de 90. Apresenta vantagem sobre a TREC isolada por permitir uma reabilitação visual mais rápida e um retorno as atividades habituais mais precocemente.(1) O uso adjunto da MMC reduz a queda da PIO durante a cirurgia do glaucoma, porém traz um risco maior de complicações tardias.(9) Apesar da EPNP não ser superior a TREC no controle da PIO ela reduz as complicações tanto no intraoperatório como no pós-operatório. O uso de implantes esclerais mostra um aumento da filtração e uma redução da fibrose, porém aumenta o custo da cirurgia o que em algumas ocasiões poderia restringir a sua utilização.(5) A decisão por uma cirurgia combinada de catarata e glaucoma depende de vários fatores individuais incluindo a queda da AV, PIO alvo, estágio do glaucoma, idade e expectativa de vida. (4) Já a FACOEPNP é considerada uma técnica eficaz de cirurgia combinada de catarata e glaucoma, pois proporciona uma redução importante da PIO e da necessidade de tratamento antiglaucomatoso, por apresentar menor hiperfiltração evitando a descompressão brusca que se produz na TREC. Por outro lado, a realização da iridectomia pode favorecer um menor risco da hifema e uveíte serofibrinosa.(1) O presente estudo mostra que a FACOEPNP obteve uma importante redução da PIO durante o seguimento pós-operatório, onde a PIO inicial média pré-operatória foi de 20,1 mmHg (dp 4,7) tendo uma redução média de -6,2 (dp 5,1) com p<0,001. Gianoli após 12 meses de estudo obteve uma redução da PIO de 26,5 mmHg para 14,8 mmHg. (10) Negrete em seu estudo também observou redução estatisticamente significante da Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 241-6 244 Almodin J, Pedroso EC, Cvintal T, Almodin F Tabela 1 FACOEPNP X FACOTREC - Grupos Variáveis Grupo Idade (anos) Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo Sexo - n (%) Feminino Masculino AV LogMAR Pré Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo AV LogMAR Pós Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo AV LogMAR Variação (Pós - Pré) Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo FACOEPNP (n = 98) FACOTREC (n = 50) Valor de p n = 83 68,9 (9,8) 69 39 - 92 n = 83 49 ( 59,0) 34 ( 41,0) n = 44 71,6 (10,5) 71 48 - 99 n = 44 28 ( 63,6) 16 ( 36,4) 0,80 (0,60) 0,6 0,0 - 3,0 0,64 (0,50) 0,4 0,0 - 2,0 0,067 0,35 (0,61) 0,2 0,0 - 3,0 0,33 (0,56) 0,2 0,0 - 3,0 0,924 -0,45 (0,51) -0,3 -2,0 - 2,0 -0,31 (0,59) -0,2 -1,9 - 1,7 0,099 0,153 0,614 Tabela 2 FACOEPNP X FACOTREC - Valores de PIO pré e pós-cirurgia Variáveis PIO Pré (mmHg) Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo PIO Pré - n (%) < 21 mmHg ≥ 21 mmHg PIO Pós (mmHg) Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo PIO Pós - n (%) < 21 mmHg ≥ 21 mmHg PIO Variação (Pós - Pré) (mmHg) Média (dp) Mediana Mínimo - Máximo Méd Pós - n (%) 0 1 2 Sucesso - n (%) Sucesso absoluto Sucesso relativo Não Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 241-6 Grupo FACOEPNP (n = 98) FACOTREC (n = 50) Valor de p 20,1 (4,7) 20 12 - 48 20,8 (4,2) 20,5 14 - 34 0,190 65 ( 66,3) 33 ( 33,7) 27 ( 54,0) 23 ( 46,0) 0,144 13,8 (2,9) 14 7 - 22 14,2 (3,3) 14 6 - 22 97 ( 99,0) 1 ( 1,0) 48 ( 96,0) 2 ( 4,0) -6,2 (5,1) -5 -31 - 4 -6,6 (5,3) -5 -22 - 3 0,856 76 ( 77,6) 14 ( 14,3) 8 ( 8,2) 42 ( 84,0) 4 ( 8,0) 4 ( 8,0) 0,398 75 ( 76,5) 22 ( 22,4) 1 ( 1,0) 41 ( 82,0) 7 ( 14,0) 2 ( 4,0) 0,253 0,376 0,264 Comparação pressórica e visual entre a facoesclerectomia profunda não penetrante e a facotrabeculectomia PIO em todas as visitas de pós-operatório; a redução média da PIO foi de 8,63 mmHg (dp 8,55) com 12 meses de seguimento correspondendo a uma redução de 32,78%.(1) O grupo da FACOEPNP apresentou AV LogMar pré-média de 0,80 (dp 0,60) evoluindo para AV LogMar pós-média de 0,35 (dp 0,61) com variação média da AV LogMar de -0,45 (dp 0,51) com p<0,001. Segundo Luke seu estudo mostrou uma melhora na AV LogMar em 1,6 linhas (dp 2,4).(11) Em relação ao grupo submetido à FACOTREC a PIO pré-média era de 20,8 mmHg (dp 4,2) e após 12 meses de seguimento a PIO pós-média foi de 14,2 mmHg (dp 3,3) com p<0,001. Gianoli mostrou PIO pré-média de 25,9 mmHg, caindo para 14,8 mmHg no pós-operatório com o mesmo procedimento cirúrgico.(10) Jurowski em 6 meses após FACOTREC obteve uma queda de pressão de 62,9%.(12) Em estudo realizado por Luke com PIO inicial média de 26,5 mmHg (dp 7,8) obteve PIO média no pós-operatório de 14,4 mmHg (dp 4,0) com p<0,001.(13) A média de variação da AV LogMar no grupo FACOTREC foi de -0,31 (dp 0,59), apresentando AVLogMar média pré de 0,64 (dp 0,50) com AV Logmar média pós de 0,33 ( dp 0,56) com p<0,001. Em nosso estudo 76 pacientes (77,6%) não necessitaram de medicação antiglaucomatosa no pós-operatório, 14 (14,3%) necessitaram de 1 uma droga antiglaucomatosa e 8 (8,1%) necessitaram de 2 medicações no grupo submetido à FACOEPNP. No grupo da FACOTREC, 42 pacientes (84,0%) não necessitaram de medicação antiglaucomatosa, 4 (8,0%) necessitaram de 1 medicação e 4 (8,0%) necessitaram de 2 drogas no pós-operatório. Segundo Yuen, o número de medicações antiglaucomatosas para o controle da PIO diminuiu de 3,28 para 0 após 6 meses de seguimento.(14) Em outro trabalho,Yeun obteve significante redução no número de medicações antiglaucomatosas oscilando de 2,9 (dp 0,8) para 1,0 (dp 1,2).(15) Na FACOEPNP a taxa de sucesso absoluto foi de 76,5% (75 pacientes) e 22,4% (22 pacientes) obtiveram sucesso relativo. Já na FACOTREC, 82,0% (41 pacientes) obtiveram sucesso absoluto e 14,0% (7 pacientes) sucesso relativo após 12 meses de seguimento. De acordo com os mesmos critérios de sucesso absoluto e relativo adotados pelo trabalho, Gianoli obteve sucesso absoluto em 59% de seus pacientes e sucesso relativo em 80% após 12 meses de cirurgia. Não foi encontrada diferença estatisticamente significante entre os grupos quanto à distribuição dos resultados de eficácia dos procedimentos (p=0,253), assim como demonstrado em estudos realizados por Gianoli.(10,16) 245 CONCLUSÃO Podemos concluir que ambas as cirurgias resultam em uma queda da PIO similar e mesmo resultado em relação a melhor AV.Cabe ao cirurgião optar pela técnica a ser utilizada, comparando as possíveis complicações e a curva de aprendizado. ABSTRACT Purpose: the aim of the present study is to compare the intraocular pressure (IOP) and visual acuity (VA) after combined surgery: phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy and phacoemulsification with trabeculectomy. Methods: this is an observacional and retrospective study by chart review. We selected 148 eyes from 127 patients from Tadeu Cvintal Ophthalmolgy Institute during January 1998 thru January 2007. All patients had primary angle glaucoma and cataract. Seventy seven patients were female, 49 (59%) had phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy and 28 (63,6%) had phacoemulsification with trabeculectomy. Fifty patients were male, 34 (41%) had phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy and 16 (36,4%) phacoemulsification with trabeculectomy. The patients had IOP (Goldmann) and VA (LogMar) measured before surgery and one year after surgery, also the number of glaucoma medications that patients had to drop after surgery. Results: the groups were equals comparing VA before (p = 0,067), and after VA (p = 0,924) with variation VA (p = 0,099). The mean VA in the group that had phacoemulsification with trabeculectomy was 0,31 (dp = 0,59) (p < 0,0001), and the mean variation in the group that had phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy was -0,45 (dp 0,51) with p , 0,001. The IOP mean variation in the patients that had phacoemulsification with non penetrating deep sclerectomy -6,2 (dp = 5,1) had stastistically difference (p < 0,001) and the mean variation of IOP in the patients that underwent phacoemulsification with trabeculectomy was -6,6 (dp = 5,3) (p < 0,001).There was no statistically difference between the groups evaluating the glaucoma medications. Conclusion: non penetrating deep sclerectomy combined with phacoemulsification causes IOP reduction similar phacoemulsification with trabeculectomy with the same result evaluating VA. Keywords: Open-angle glaucoma/surgery; Trabeculectomy; Sclera/surgery; Phacoemulsification; Intraocular pressure; Visual acuity; Combined modality therapy Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 241-6 246 Almodin J, Pedroso EC, Cvintal T, Almodin F REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Muñoz Negrete FJ, Rebolleda G, Noval S. [Non-penetrating deep sclerectomy combined with phacoemulsification. Results and complications]. Arch Soc Esp Oftalmol. 2003;78(9):499-506. Spanish. Lyle WA, Jin JC. Comparision of a 3- and 6-mm incision in combined phacoemulsification and trabeculectomy. Am J Ophthalmol 1991; 111(2):189-96. Lachkar Y, Hamard P. Nonpenetrating filtering surgery. Curr Opin Ophtalmol. 2002; 13(2):110-5. Funnell CL, Clowes M, Anand N. Combined cataract and glaucoma surgery with mimomycin C: phacoemulsificationtrabeculectomy compared to phacoemulsification-deep sclerectomy. Br J Ophthalmol 2005; 89: 694-698. Moreno-López M, Pérez-Alvarez MJ. 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Combined phacoemulsification and nonpenetrating deep sclerectomy in the treatment of chronic angle-closure glaucoma with cataract. Eur J Ophthalmol. 2007;17(2):208-15. 16. Gianoli F, Schnyder CC, Bovey E, Mermoud A. Combined surgery for cataract and glaucoma: phacoemulsification and deep sclerectomy compared with phacoemulsification and trabeculectomy. J Cataract Refract Surg. 1999;25(3):340-6. Endereço para correspondência: Juliana Almodin Rua Xavier Curado, nº 351 - apto 131 - Ipiranga CEP 04210-100 - São Paulo (SP), Brasil E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 247 Descolamento da retina após tratamento do retinoblastoma Rhegmatogenous retinal detachment after succesful treatment of retinoblastoma João Alberto Holanda de Freitas1, Hélio Fernando Heitmann de Abreu2, Maristela Amaral Palazzi3 RESUMO Objetivo: Avaliar a apresentação de descolamento de retina nos pacientes tratados de retinoblastoma no Centro Infantil Dr. Domingos Boldrini - Campinas (SP), Brasil. Métodos:Estudo retrospectivo de 220 pacientes submetidos a tratamento clínico e cirúrgico de retinoblastoma, no período de janeiro de 1978 a dezembro de 2008. Resultados: Encontramos dois pacientes com descolamento de retina após tratamento de retinoblastoma sem atividade tumoral, corrigidos com sucesso pelo método cirúrgico de cerclagem+criopexia. Conclusão: É possível a correção de descolamento secundário de retina nos pacientes portadores de retinoblastoma, sem atividade tumoral. Descritores: Descolamento retiniano; Retinoblastoma 1 Livre-docente; Professor do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Pontifícia Universidade Católica CCMB-PUC - (SP),Brasil; Médico Oftalmologista do Centro Infantil Boldrini - Campinas (SP), Brasil; 2 Médico Oftalmologista do Centro Infantil Boldrini - Campinas (SP), Brasil; 3 Doutora, Médica Oftalmologista do Centro Infantil Boldrini - Campinas (SP), Brasil. Recebido para publicação em: 8/5/2008 - Aceito para publicação em 6/5/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 247-51 248 Freitas JAH, Abreu HFH, Maristela Amaral Palazzi MA INTRODUÇÃO O tratamento do retinoblastoma depende do estadio do tumor ao diagnóstico e envolve, em geral, várias modalidades terapêuticas.(1) O emprego associado e sequencial de diferentes métodos de tratamento focal é prática e rotineira na tentativa de conservação de olhos com retinoblastoma. (2-3) A associação da quimioterapia no tratamento dos tumores intraoculares contribuiu para o emprego da crioterapia, laserterapia e braquiterapia em maior escala, possibilitando a preservação de muitos olhos com tumores em estadio avançado. (3-7) A medida em que um maior número de olhos puderam ser conservados, complicações secundárias ao tratamento focal foram sendo observados, durante o seguimento destes pacientes.(7) Entre as complicações que podem ocorrer, após o tratamento conservador, destacam-se a catarata, atrofia focal da íris, obstruções vasculares retinianas, hemorragia vítrea, membrana neovascular sub-retiniana, afinamento da retina; roturas e descolamento regmatogênico ou exsudativo da retina (6). Algumas destas complicações podem ocorrer anos após a conclusão da terapia do retinoblastoma. (1-7) A maioria não requer intervenção terapêutica, entretanto quando há risco de perda da visão, especialmente em se tratando de olho único, a viabilidade de uma intervenção terapêutica deve ser criteriosamente avaliada. Os autores apresentam os resultados da correção cirúrgica do descolamento regmatogênico da retina diagnosticado após a conclusão do tratamento oncológico em pacientes com retinoblastoma. MÉTODOS Na avaliação retrospectiva de 220 pacientes com retinoblastoma, tratados e seguidos no Centro Infantil Boldrini, de 1978 a 2008, dois casos apresentaram descolamento regmatogênico da retina após a conclusão do tratamento oncológico .Todos os pacientes eram acompanhados através de mapeamento de retina, sob anestesia inalatória, até aos sete anos de idade. Os dois pacientes, que apresentaram descolamento regmatogênico da retina, foram submetidos à crioterapia transescleral,pela técnica do triplo congelamento como tratamento focal dos tumores. Em um dos pacientes foi associado à radioterapia complementar, após a crioterapia transescleral, em função do aparecimento de novos focos tumorais, não responsivos à crioterapia. A técnica cirúrgica para a correção do descolamento Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 247-51 regmatogênico foi a crio-retinopexia com cerclagem escleral, obedecendo os tempos descritos abaixo: a) Peritomia limbar da conjuntiva 360º; b) Isolamento dos músculos oculares externos; c) confecção de quatro túneis intraesclerais, nos quatro quadrantes do globo a 12 mm do limbo; d) Passagem da faixa de silicone nº 240 por entre os túneis; e) Criopexia transescleral, sobre as roturas retinianas, sob oftalmoscopia binocular indireta e congelamento com óxido nitroso; f)Confecção de retalho escleral no local a ser drenado o fluido sub-retiniano; g) Drenagem do líquido sub-retiniano com agulha do fio de Mersilene 4.0; h) Fixação das duas extremidades da faixa de silicone com tubo cilíndrico de silicone nº 70; i) Injeção intraocular de gás SF6 na concentração de 50%; j) Sutura do retalho escleral com Mersilene 4.0; k)Avaliação do estado da retina sob oftalmoscopia binocular indireta; l) Fechamento conjuntival com Vycryl 7.0; m) Oclusão monocular por 24 horas; A evolução pós-cirúrgica desses pacientes e os resultados visuais são apresentados e discutidos a seguir. Apresentação dos casos Caso 1 Paciente do sexo feminino, 22 anos, submetida a tratamento de retinoblastoma aos 3 anos e 10 meses de idade. Ao diagnóstico, apresentava em olho direito tumor anterior ao equador, situado em QNI, medindo 4-5 mm de diâmetro (estádio III, pela classificação ReeseEllsworth). O olho esquerdo apresentava tumor extenso, envolvendo mais da metade da retina nasal associado a descolamento da retina (Estadio V de Reese Ellsworth). Na ocasião foi submetida à enucleação do olho esquerdo e a duas sessões de crioterapia transescleral para o tumor retiniano do olho direito. Após enucleação, recebeu quimioterapia(Vincristina (0,05 mg/kg/dia D1) e Ciclofosfamida (30mg/kg/dia D1) a cada 21 dias , perfazendo um total de 10 ciclos, em função da extensão tumoral verificada ao exame histopatológico (por volume tumoral, maior ou igual a 10% do globo ocular) , considerado, aquela época como fator de risco de disseminação extraocular da doença.(Protocolo Brasileiro de Tratamento do Retinoblastoma). (8) Descolamento da retina após tratamento do retinoblastoma 249 Figura 1: Observa-se área de atrofia do epitélio pigmentar superior correspondendo a faixa de silicone Figura 2: Retinografias ilustram área de demarcação e de atrofia do epitélio pigmentar correspondente a crioaplicação Caso 2 Paciente do sexo masculino, atualmente com 17 anos, apresentou aos 11 meses de idade diagnóstico de retinoblastoma bilateral. Em olho direito, apresentava 3 focos tumorais localizados nos meridianos das 12h, 4h, e 7h na região equatorial e pré-equatorial, medido até 3,5 mm de altura e 12 mm de diâmetro (Estadio III classificação Reese-Ellsworth). Em olho esquerdo apresentava tumor, envolvendo mais que metade da retina, associado à hemorragia. À época foi submetido à enucleação de olho esquerdo, e à crioterapia transescleral do olho direito. O exame histopatológico do globo ocular esquerdo revelou a presença de extensa necrose tumoral, hemorragia sem extensão tumoral ao nervo óptico. Após enucleação, recebeu quimioterapia (Vincristina (0,05 mg/ kg/dia D1) e Ciclofosfamida (30mg/kg/dia D1) a cada 21 dias , perfazendo um total de 10 ciclos, em função da extensão tumoral verificada ao exame histopatológico (por volume tumoral, maior ou igual a 10% do globo ocular), considerado aquela época como fator de risco de disseminação extraocular da doença (Protocolo Brasileiro de Tratamento do Retinoblastoma). (8) Devido ao surgimento de novos focos tumorais em olho direito, não responsivos à crioterapia, recebeu tratamento radioterápico, por feixe externo (3500 cGy), desta vez com controle das lesões tumorais. Caso 1 Seis meses após a conclusão da terapia, sem qualquer sinal de atividade tumoral residual ou recorrência, a paciente apresentou-se com descolamento total, plano, da retina, associado à degeneração em treliça junto à área da crioaplicação prévia. Foi então submetida à correção do DR pela técnica acima descrita. Apresentou recorrência do descolamento 7 meses após sua correção, sendo submetida à nova cirurgia, desta vez, esclerectomia posterior com drenagem do fluido sub-retiniano, criopexia e colocação de gás SF6. Permaneceu com descolamento plano da retina, restrito ao polo posterior, poupando a mácula por, aproximadamente, 18 meses. Decidiu-se pela conduta expectante. Após 2 anos houve resolução espontânea do DR. Há 18 anos e 10 meses após a correção do DR, a paciente mantém se, com a retina colada. Atualmente com 22 anos apresenta-se com acuidade visual de 0.2, com lentes para visão subnormal. (Figura 1) Resultados No período de 1978 a 2008, 220 pacientes com diagnóstico de retinoblastoma receberam tratamento e foram seguidos no Centro Infantil Boldrini. Destes, dois desenvolveram descolamento regmatogênico da retina. Caso 2 Oito anos após a conclusão do tratamento, o paciente apresentou piora da visão de OD, ocasião em que se identificou a presença de descolamento dos quadrantes inferiores da retina e rotura próxima à área da crioaplicação prévia, no quadrante nasal. O descolamento da retina foi corrigido por cerclagem equatorial com faixa de silicone n° 240, criopexia e colocação de gás SF6. O paciente mantém-se com a retina aplicada e com acuidade visual de 0.3 há 10 anos e 10 meses após a correção do DR.(Figura 2) Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 247-51 250 Freitas JAH, Abreu HFH, Maristela Amaral Palazzi MA DISCUSSÃO O descolamento regmatogênico da retina, embora pouco frequente, pode se desenvolver após a terapia prévia do retinoblastoma. (3,5,9) Olhos com tumores que requerem sucessivas intervenções terapêuticas estão mais susceptíveis a desenvolverem complicações como o descolamento da retina. Nesta série de pacientes, o descolamento regmatogênico da retina foi diagnosticado em aproximadamente 1% dos pacientes, após a conclusão do tratamento oncológico. Percentagens variando de menos de 1% a pouco mais de 10% têm sido relatadas na literatura. (9,12) Nos dois pacientes desta série o descolamento ocorreu respectivamente, 6 meses e 8 anos após o tratamento do retinoblastoma. Algumas complicações podem ocorrer tardiamente nestes pacientes o que justifica seu seguimento a longo prazo. (13) Complicações como hemorragia intrarretiniana focal, descolamento exsudativo localizado e hemorragia vítrea leve têm sido descritas após crioterapia e, de modo geral, evoluem para resolução espontânea, sem tratamento. (1,10,13) Tanto a crioterapia quanto a laserterapia podem produzir afinamento corioretiniano, condição favorecedora da formação de rotura retiniana, predispondo ao descolamento. (13) Pequenas roturas podem ser de difícil identificação, especialmente considerando as extensas cicatrizes resultantes de tratamentos focais sucessivos, por vezes, necessários para a destruição total do tumor.(10,13) A avaliação histopatológica da retina, após tratamento por crioterapia, demonstrou a ocorrência de extensa atrofia retineana e da coróide, associada à hiperplasia do epitélio pigmentar no local do tratamento. Enquanto na periferia da cicatriz da crioterapia a retina e a coróide se fundem, com perda dos segmentos externos dos fotoreceptores, na porção central da cicatriz há acentuado afinamento e substituição por fibras gliais. (6) A crioterapia dos tumores envolve o congelamento da espessura total do tumor e do vítreo cortical adjacente, aspecto que pode favorecer a separação vítreorretiniana a qual também pode exercer papel no desenvolvimento do descolamento regmatogênico da retina, após tratamento do retinoblastoma. Outra condição que pode predispor ao descolamento é a tração vítreorretiniana causada pela aderência da membrana hialóide posterior nas áreas de Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 247-51 cicatrizes glióticas causadas pela laserterapia. (10) A realização de cirurgia intraocular, após tratamento do retinoblastoma, pode ser justificada em situações especiais como a de paciente com olho único, com visão preservável e tumor controlado e fora de terapia. (12,13) Entretanto, não há um consenso em relação ao intervalo de tempo considerado ideal e seguro para uma intervenção cirúrgica após tratamento de um tumor intraocular. A possibilidade de extensão extraocular da doença ser causada por cirurgia que promove violação da integridade do globo ocular e saída de células tumorais viáveis são uma preocupação legítima, quando se considera tumores em terapia ou não controlados pelo tratamento instituído. É fato indiscutível que os tumores tratados devem exibir sinais de total inatividade, antes que, qualquer cirurgia possa ser considerada. Havendo dúvida quanto à viabilidade do tumor, a violação da esclera para drenagem do fluido sub-retiniano ou a vitrectomia pars plana são contraindicadas. A avaliação periódica da retina, a longo prazo, é necessária para monitorizar a atividade dos tumores e também a ocorrência de potenciais complicações tardias pós-terapia, como pequenas roturas junto às áreas tratadas e pontos de tração vítreorretinina, condições predisponentes a um futuro descolamento da retina. A cerclagem escleral com faixa de silicone tem se mostrado um procedimento útil, suficiente e seguro para a reparação do descolamento de retina após tratamento do retinoblastoma, quando realizado após controle clínico inquestionável dos tumores. (9,13) A cirurgia pode ser bem-sucedida mesmo sem a drenagem do fluido sub-retiniano, opção que deve ser considerada, sempre que possível. A recorrência do descolamento ocorreu em um dos pacientes desta série, cerca de 7 meses após a cirurgia inicial, e foi corrigida com sucesso em um segundo procedimento cirúrgico. Não se observou qualquer sinal de atividade tumoral nestes olhos, por ocasião da recorrência do descolamento e após sua correção. Segundo alguns autores o insucesso na reaplicação da retina pode estar relacionado à recorrência do tumor. (12) A reaplicação da retina tem sido obtida pela técnica de cerclagem escleral, em grande parte dos pacientes que desenvolvem DR pós-terapia, conforme relatam diferentes autores e tem resultado na preservação da visão do olho afetado. (9,12) Contudo, o estado da doença e os riscos da cirurgia devem ser avaliados individualmente e com rigor. (10,11,15) 251 Descolamento da retina após tratamento do retinoblastoma CONCLUSÃO 9. A reparação cirúrgica do descolamento regmatogênico da retina que se desenvolve após conclusão do tratamento do retinoblastoma deve ser considerado apenas em olhos com inatividade tumoral. A correção cirúrgica, indicada e realizada com rigor, pode contribuir para a preservação da função visual e da qualidade de vida destes pacientes. 10. 11. 12. 13 . ABSTRACT 14. Purpose:To evaluate the characteristics and evolution of the retinal detachment developed after successful treatment of retinoblastoma. Methods: A retrospective analysis of 220 consecutive patients treated for retinoblastoma from january 1978 to december 2008 disclosed two patients who developed retinal detachment during the follow-up. Results: Retinal detachment was found in two patients several months after the treatment of retinoblastoma. Both were managed by surgery with restoration of their monocular vision. Conclusion: Surgical management of retinal detachment is indicated to preserve visual function and quality of life in patients successfully treated for retinoblastoma. Keywords:Retinal detachment. Retinoblastoma 15. Lim TH, Robertson DM. Presumed rhegmatogenous retinal detachment in patients with retinoblastoma. Retina. 000;20(1):22-7. Baumal CR, Shields CL, Shields JA, Tasman WS. Surgical repair of rhegmatogenous retinal detachment after treatment for retinoblastoma. Ophthalmology. 1998;105(11):2134-9. Moshfeghi DM, Wilson MW, Grizzard S, Haik BG. Intraocular surgery after treatment of germline retinoblastoma. Arch Ophthalmol. 2005;123(7):1008-12. Bovey EH, Fernandez-Ragaz A, Héon E, Balmer A, Munier FL. Rhegmatogenous retinal detachment after treatment of retinoblastoma. Ophthalmic Genet. 1999;20(3):141-51. Madreperla SA, Hungerford JL, Cooling RJ, Sullivan P, Gregor Z. Repair of late retinal detachment after successful treatment of retinoblastoma. Retina. 2000;20(1):28-32 Honavar SG, Shields CL, Shields JA, Demirci H, Naduvilath TJ. Intraocular surgery after treatment of retinoblastoma. Arch Ophthalmol. 2001;119(11):1613-21 Schefler AC, Cicciarelli N, Feuer W, Toledano S, Murray TG. Macular retinoblastoma: evaluation of tumor control, local complications, and visual outcomes for eyes treated with chemotherapy and repetitive foveal laser ablation Ophthalmology. 2007;114(1):162-9. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. Lumbroso-Le Rouic L, Aerts I, Lévy-Gabriel C, Dendale R, Sastre X, Esteve M, et al. Conservative treatments of intraocular retinoblastoma. Ophthalmology. 2008;115(8):140510, 1410.e1-2. Abramson DH. Retinoblastoma in the 20th century: past success and future challenges the Weisenfeld lecture. Invest Ophthalmol Vis Sci. 2005;46(8):2683-91 Shields CL, Mashayekhi A, Cater J, Shelil A, Meadows AT, Shields JA. Chemoreduction for retinoblastoma: analysis of tumor control and risks for recurrence in 457 tumors. Trans Am Ophthalmol Soc. 2004;102:35-44 Abramson DH, Schefler AC. Update on retinoblastoma. Retina. 2004; 24(6):828-48. Erwenne C, Pacheco JC, Antonelli CG, Sabal LB Retinoblastoma: sobrevida atuarial. Arq Bras Oftalmol.1989; 52(1):24-6. 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Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 247-51 ARTIGO ORIGINAL 252 Vitrectomia transconjuntival 25 gauge via pars plana para opacidade vítrea persistente em pacientes com implante de lentes multifocais Transconjunctival sutureless 25-gauge vitrectomy for visually significant vitreous floaters in patients with multifocal intraocular lens Leonardo Akaishi1, Fábio Canamary2, Patrick Frensel de Moraes Tzelikis3 ABSTRACT Purpose: The aim of this study was to evaluate the role of 25-gauge transconjuntival sutureless vitrectomy (TSV) in patients with persistent vitreous floaters who underwent multifocal intraocular lens (IOL) implantation. Methods: Fourteen eyes of 11 patients with multifocal IOL implant associated with vitreous opacities that underwent 25-gauge vitrectomy were prospectively analyzed. Information collected included near (UCNVA) and distance uncorrected visual acuity (UCDVA), best corrected distance visual acuity (BCDVA), and the spherical equivalent (SE) before and 3 months after vitrectomy. Patients were questioned about surgery satisfaction and visual improvement after vitrectomy. Results: Three months after 25-gauge TSV the mean visual acuities were: UCDVA, 0,10 ± 0,14; BCDVA, 0,02 ± 0,08; UCNVA, 0,00 ± 0,0; SE, +0,16 ± 0,34. Thirteen eyes (92.9%) had a UCDVA of 0.5 (20/40) or better, and 11 (78.5%) achieved a UCDVA of 0.8 (20/25) or better. Ten (90.9%) patients demonstrated satisfaction with surgery, and floaters have gone away in thirteen eyes (92.8%), while one patient expressed no satisfaction with her postoperative visual acuity because of the cystoid macular edema that occurred. Conclusion: 25-gauge TSV was a safe and accurate option for patients with multifocal lens and visual disturbing vitreous floaters providing subjective improvement of symptoms. ClinicalTrials.gov Identifier: NCT00870597 Keywords: Vitrectomy; Lens implantation, Intraocular; visual acuity; Cataract extraction; Patient satisfaction; Treatment outcome 1 Mestre, Chefe do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil; Estagiário do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil; 3 Doutor, Médico Assistente do Departamento de Catarata do Hospital Oftalmológico de Brasília HOB - Brasília (DF), Brasil. 2 Trabalho realizado no Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB - Brasília (DF), Brasil. Os autores não apresentam nenhum interesse financeiro no material apresentado Recebido para publicação em: 23/3/2010 - Aceito para publicação em 19/6/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 Vitrectomia transconjuntival 25 gauge via pars plana para opacidade vítrea persistente em pacientes com... 253 INTRODUÇÃO MÉTODOS s opacidades vítreas (floaters) são bastante conhecidas como distúrbios visuais que podem ser acompanhadas objetivamente e subjetivamente de uma diminuição na acuidade visual. Embora geralmente sem nenhuma consequência, os floaters correspondem a alterações na arquitetura vítrea que geralmente resulta de um descolamento do vítreo posterior (DVP). O DVP consiste na liquefação do corpo vítreo e o enfraquecimento da aderência entre a cortical posterior do vítreo e a membrana limitante interna que posteriormente se separam. Com a idade o vítreo tornase mais fluido, de modo que sua movimentação aumenta muito com os movimentos do globo ocular. Apesar de menos comum, a presença de floaters sintomáticos pode resultar de rupturas ou descolamento de retina, hemorragia vítrea, inflamação intraocular, ou hialite asteróide. (1-3) Em uma pequena porcentagem de pacientes, os sintomas visuais relacionados aos floaters podem ser significativos. Para estes pacientes, um tratamento mais agressivo pode ser necessário na tentativa de reduzir o desconforto ocular produzido por essas opacidades vítreas. As medidas de acuidade visual nem sempre refletem de maneira acurada o desconforto visual dos pacientes, e os sintomas oculares relacionados às opacidades vítreas podem se mostrar bastante debilitantes. Já foi demonstrado o papel da vitrectomia em pacientes com distúrbio visual significativo relacionado à presença de floaters, com a maioria dos pacientes relatando uma elevada satisfação com sua visão no período pós-operatório. (4-7) Recentemente, com o advento de novos materiais com um novo sistema de vitrectomia transconjuntival permite hoje a realização de vitrectomia via pars plana sem sutura 25-gauge (VVPP-25-gauge). Tratase de uma técnica potencialmente menos invasiva e que não compromete a eficácia do procedimento. Além disso, apresenta um número variado de benefícios, como redução do tempo operatório, redução do desconforto do paciente, redução do processo inflamatório pós-operatório, reabilitação visual mais rápida, e menor risco teórico de irregularidade corneana no pós-operatório. O objetivo do presente estudo é relatar o resultado visual obtido após realização de VVPP-25-gauge em pacientes com opacidades vítreas persistentes e debilitantes previamente submetidos à cirurgia de facectomia com implante de lente intraocular (LIO) multifocal. Este estudo clínico, prospectivo, intervencionista, foi desenvolvido no Setor de Catarata e Setor de Retina do Hospital Oftalmológico de Brasília - HOB, após ter sido analisado o protocolo e aprovado pelo Comitê de Ética Médica do HOB. Todos os pacientes incluídos neste estudo foram informados, de forma detalhada, sobre a natureza da investigação, técnica cirúrgica, possíveis riscos e complicações e alternativas de tratamento. Antes da cirurgia e após os devidos esclarecimentos, todos os pacientes assinaram o Termo de Consentimento incluído na pesquisa. Foram analisados prospectivamente 14 olhos de 11 pacientes, tratados com VVPP-25-gauge, no período de agosto de 2006 a novembro de 2008. Foram incluídos pacientes com implante de LIO multifocal e que apresentavam opacidades vítreas persistentes há pelo menos 3 meses e intensamente desconfortáveis. Os critérios de exclusão foram: olho único, alteração sistêmica que pudesse alterar a cicatrização pós-operatória (diabetes mellitus, doenças autoimunes, doenças do tecido conjuntivo), enfermidade ocular pré-existente que pudesse alterar a acuidade visual ou contraindicar a cirurgia (doença ocular herpética, olho seco moderado ou grave, uveíte, glaucoma, doenças retinianas), e falta de colaboração para efetuar exames e a cirurgia. A Técnica operatória de vitrectomia via pars plana 25-gauge Todas as cirurgias foram realizadas pelo mesmo cirurgião. No pré-operatório os pacientes utilizaram colírio antibiótico de quinolona de 4ª geração gatifloxacina (Zymar®, Allergan, EUA) ou moxifloxacina (Vigamox®, Alcon, EUA) 4 vezes por dia (6/6h), dois dias antes da cirurgia. No dia da cirurgia, aproximadamente 30 min antes, iniciava-se a dilatação pupilar com solução de tropicamida a 1% (Mydriacyl®, Alcon, EUA) e cloridrato de fenilefrina a 10% (Allergan, EUA), numa proporção de 1:1 (uma gota de 5 em 5 min, por 3 vezes). A anestesia em todos os casos foi tópica, com instilação de cloridrato de lidocaína a 2%, geléia, (Astra Zeneca, Argentina) sem vasoconstrictor no fundo de saco conjuntival, iniciado 30 min antes da cirurgia, duas vezes, com intervalo de 10 min. Por via endovenosa foi utilizado 1,0 mg de midazolam 5,0 mg/ml (Roche, Brasil). Após assepsia e antissepsia da pele com iodo-povidona a 10% (Cinord Sul, Brasil), equivalente a 1% de Iodo ativo, um campo plástico adesivo era colocado em contato com as pálpebras dos pacientes, de forma a isolar os cílios do campo operatório, e o Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 254 Akaishi L, Canamary F, Tzelikis PFM blefarostato inserido. Uma solução de iodo-povidona a 3% (Ophthalmos, São Paulo) foi usada com finalidade anti-séptica no fundo de saco conjuntival após anestesia tópica. Na cirurgia, com sistema VVPP-25-gauge, não era realizada peritomia conjuntival, sendo apenas necessário deslocar a conjuntiva para provocar um desalinhamento entre a conjuntiva e a incisão escleral. A primeira microcânula era introduzida diretamente através da conjuntiva (3,5 mm posterior ao limbo) na região temporal-inferior na qual era introduzida a cânula de infusão. As outras duas microcânulas eram introduzidas nos quadrantes supero temporal e supero nasal. Uma vitrectomia completa e cuidadosa era então realizada com aparelho da Accurus® Surgical System (Alcon Surgical Laboratories, Fort Worth, Texas, EUA) com baixos parâmetros de aspiração e níveis elevados de corte, no intuito de evitar trações periféricas. Após remoção vítrea, era realizada uma identação com o intuito de avaliar a ausência de roturas periféricas, e para remover resquícios de vítreo periférico. Ao término da cirurgia as microcânulas eram removidas e não era feito sutura escleral uma vez identificado ausência de extravasamento de fluido. No período pós-operatório, o paciente foi orientado para utilizar topicamente: cetorolaco de trometamina a 0,5%, (Acular®, Allergan Produtos Farmacêuticos, São Paulo, Brasil) quatro vezes ao dia por quatro semanas, gatifloxacina (Zymar®) ou moxifloxacina (Vigamox®) quatro vezes ao dia por 10 dias, e acetato de prednisolona a 1% (Predfort®, Allergan Produtos Farmacêuticos, São Paulo, Brasil) quatro vezes ao dia por quatro semanas. Medicação analgésica via oral também foi prescrita em caso de dor. Todos os pacientes foram avaliados no período pré-operatório e pós-operatório de 1 dia, 1, e 3 meses. Pacientes examinados Os dados coletados incluem sexo, idade, comprimento axial, tempo entre a cirurgia de catarata e a cirurgia de VVPP-25-gauge, tipo de LIO multifocal implantada, acuidade visual sem correção (AVSC) pré e pósoperatória a vitrectomia, acuidade visual com correção (AVCC) para longe, acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) a uma distância de 40 cm, equivalente esférico (EE) pré e pós-operatório, e complicações. Neste estudo, as medidas de acuidade visual foram registradas em logMAR. Um questionário relacionado à satisfação foi realizado ao final do estudo. A satisfação do paciente foi baseada em questões relacionadas à visão para longe, Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 perto e direção noturna. A pontuação foi apresentada em uma escala que variava de 1 a 10, sendo 1 = incapacitante e 10 = excelente. Os pacientes também foram questionados a respeito de fenômenos visuais (glare, halos) e orientados a responder de acordo com a seguinte escala de pontuação: 0 = nenhum; 1 = mínimo; 2, 3, e 4 = moderado; 5 = intenso. A avaliação estatística dos resultados foi realizada através da utilização do programa estatístico SPSS para Windows, versão 12.0 Chicago: SPSS Inc; 2004. Foi realizado test t para comparação dos resultados pré-operatórios com pós-operatórios. As diferenças foram consideradas significativas quando P < 0,01. RESULTADOS Foram avaliados prospectivamente 14 olhos de 11 pacientes, destes 4 (36,4%) eram homens e 7 (63,6%) mulheres, com média de idade de 69,5 anos ± 5,2 (desvio padrão - DP) (variando de 45 a 84 anos). A média de tempo entre a cirurgia de catarata e a VVPP-25-gauge foi de 5,5 ± 6.7 meses (variando de 3 a 25 meses). O comprimento axial médio foi de 23,43 mm ± 0,80 mm (variando de 22,29 a 25,79 mm). As opacidades vítreas foram consequência de hialose asteróide em 1 olho e descolamento do vítreo posterior em 13 olhos. Dos 14 olhos estudados, 12 olhos (85,7%) receberam a LIO Tecnis ZM900 multifocal e dois olhos (14,3%) a LIO ReSTOR multifocal. Após cirurgia de catarata e antes da vitrectomia 25-gauge, o EE médio foi +0,07 ± 0,45 D (variando -0,50 a +0,75 D). A AVSC média para longe após cirurgia de catarata foi de 0,12 ± 0,08 (variando 0,00 a 0,30), e a AVCC média para longe foi de 0,02 ± 0,04 (variando 0,00 a 0,10). Quatorze olhos (100,0%) apresentavam AVSC para longe de 0,5 (20/40) ou melhor, e 8 (57,1%) atingiram AVSC de 0,8 (20/25) ou melhor. Três meses após vitrectomia 25-gauge, o EE médio foi de +0,16 ± 0,34 D (variando -0,25 a +0,50 D). A AVSC média para longe foi de 0,10 ± 0,14 (range 0,00 a 0,54), e a AVCC média para longe de 0,02 ± 0,08 (variando 0,00 a 0,30). Treze olhos (92,9%) obtiveram AVSC para longe de 0,5 (20/40) ou melhor, e 11 (78,6%) de 0,8 (20/25) ou melhor. Diferenças no EE, AVSC e AVCC para longe antes e após vitrectomia 25-gauge não apresentaram diferença estatisticamente significativa ao final do último exame (P>0,05) (tabela 1). Não foram observadas complicações intraoperatórias e pós-operatórias como: hipotonia, extravasamento nas incisões, vítreo e retina encarcerado na ferida cirúrgica, descolamento de coróide, roturas Vitrectomia transconjuntival 25 gauge via pars plana para opacidade vítrea persistente em pacientes com... 255 Tabela 1 Resultado visual da acuidade visual para longe e perto ao final de 3 meses de seguimento pré e pós-vitrectomia Medidas AVSC (média) AVSC de 20/25 ou melhor, n (%) AVSC de 20/40 ou melhor, n (%) AVPC (média) AVPC de J1 ou melhor, n (%) AVCC (média) Pré-operatório Pós-operatório Valor de P 0,59 ± 0,33 8 (57,1%) 14 (100%) 0,00 ± 0,0 14 (100%) 0,18 ± 0.15 0,10 ± 0,14 11 (78,6%) 13 (92,9%) 0,00 ± 0,02 13 (92,9%) 0,00 ± 0,01 0,68 0,70 0,67 AVSC: acuidade visual sem correção; AVPC: acuidade visual para perto corrigida para longe a uma distância de 40 cm; AVCC: acuidade visual com correção para longe Medidas em logMAR Tabela 2 Resultado do questionário relacionado à satisfação e a fenômenos visuais realizado 3 meses após a cirurgia de vitrectomia Média de pontos ± DP (Variação) Questões (*)Qual o grau de satisfação com o resultado visual obtido após a cirurgia? Pré-vitrectomia Pós-vitrectomia Valor de P 7,27 ± 0,78 (6 a 8) 8,09 ± 1,22 (5,0 a 9,0) 0,02 * 0,36 ± 0,92 (0 a 3) 0,27 ± 0,64 (0 a 2) 0,18 ± 0,64 (0 a 1) 0,45 ± 0,68 (0 a 2) 0,72 ± 0,64 (0 a 2) 0,18 ± 0,60 (0 a 2) 0,09 ± 0,30 (0 a 1) 0,18 ± 0,60 (0 a 2) 0,63 ± 0,67 (0 a 2) 0,63 ± 0,92 (0 a 3) 0,18 ± 0,60 (0 a 2) 0,81 ± 0,98 (0 a 3) 0,27 ± 0,64 (0 a 2) 0,72 0,002 * 0,08 0,34 0,08 0,19 0,01 * 0,34 0,34 0,02 * 0,19 0,08 0,19 Qual o grau de dificuldade em relação à seguinte tarefa: Visão para longe? Visão para perto? Glare? Visão noturna? Halos? Assistir TV? Realizar leitura (jornal, revista)? Cozinhar? Direção noturna? Computador? Utilizar celular? Barbear/Maquiagem? Realizar compras? 0,45 ± 0,52 (0 a 1) 1,18 ± 0,40 (1 a 2) 0,45 ± 0,52 (0 a 1) 0,63 ± 0,67 (0 a 2) 1,00 ± 0,63 (0 a 2) 0,45 ± 0,52 (0 a 1) 0,54 ± 0,52 (0 a 1) 0,36 ± 0,50 (0 a 1) 0,81 ± 0,60 (0 a 2) 1,18 ± 0,87 (0 a 2) 0,45 ± 0,52 (0 a 1) 1,09 ± 1,1 (0 a 3) 0,54 ± 0,52 (0 a 1) (*)Escala de satisfação com pontuação que variava de 1 a 10, sendo 1 = incapacitante e 10 = excelente. Escala referente a todas as outras questões com a seguinte pontuação: 0 = nenhum; 1 = mínimo; 2, 3, e 4 = moderado; 5 = intenso. retinianas, descolamento de retina e endoftalmite. A AVCC média para longe ao final de 3 meses de seguimento pós-vitrectomia 25-gauge não apresentou diferença quando comparado aos valores antes da cirurgia de vitrectomia (P=0,08). Três olhos (21.4%) ganharam 1 linha de visão na AVCC para longe, 1 olho perdeu 1 linha de visão, e 1 olho perdeu duas linhas de visão porque desenvolveu edema macular cistóide, confirmada por angiografia fluorescente. A queixa principal de todos pacientes foi a presença persistente e debilitante das opacidades vítreas que interferiam nas atividades diárias e no trabalho, especialmente para perto. A acuidade visual média antes da indicação da vitrectomia foi de 20/25 ou melhor, mas apesar deste nível de visão, todos os pacientes tinham embaçamento visual transitório causado pelas opacida- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 256 Akaishi L, Canamary F, Tzelikis PFM des que entravam no eixo visual. Os pacientes geralmente relatavam que necessitavam piscar ou mover a cabeça para que as opacidades se deslocassem para fora do eixo visual. O questionário referente à satisfação dos pacientes mostrou que a grande parte dos pacientes estava satisfeita com o resultado visual obtido após vitrectomia 25-gauge (média de pontos 8,09 ± 1,22; variando de 5 a 9). Nenhum paciente relatou halos ou glare severos ou incapacitantes, sendo citado apenas como leve a moderado por alguns pacientes (Tabela 2). A maior parte dos pacientes (90,9%) ficou satisfeita com o tratamento e afirmaram que sua ansiedade foi dramaticamente reduzida. As opacidades vítreas sumiram em 13 olhos (92,8%), com consequente melhora da qualidade funcional, enquanto apenas um paciente afirmou a não resolução das opacidades e demonstrou insatisfação com a acuidade visual pós-operatória, provavelmente pelo edema macular cistóide desenvolvido. Durante os 3 meses de seguimento nenhum paciente demonstrou recorrência subjetiva dos sintomas. DISCUSSÃO Mosca volante ou floaters é uma queixa comum dos pacientes que procuram consulta oftalmológica. Pode se apresentar como um sintoma indicativo de graves patologias vítreorretinianas, ou ocorrer comumente em olhos perfeitamente normais em decorrência a um descolamento de vítreo posterior (DVP), debris, degeneração filamentar e sinérese vítrea.(8-9) Uma grande parte dos pacientes com floaters ao decorrer do tempo acaba por se habituar à presença dos mesmos, na qual a sua percepção no campo visual passa a ocorrer particularmente quando se observa uma superfície branca ou um espaço aberto monocromático. No entanto, em uma minoria dos casos, as opacidades vítreas podem tornarse persistentes, desconfortáveis e ocasionar redução na acuidade visual por obstruir o eixo visual. Nestes pacientes, o que se observa é um comprometimento na qualidade de vida. A avaliação pré-operatória dos pacientes com moscas volantes deve incluir uma análise aprofundada do vítreo para determinar a presença e a posição das opacidades vítreas. Em 1983, Murakami et al.(10) relatou alterações vítreas em 148 olhos com aparecimento súbito de moscas volantes. Eles observaram que 76% dos pacientes identificavam uma ou poucas moscas volantes e 24%, identificavam um número elevado, sendo que as opacidades estavam localizadas principalmente na Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 área central de visão. Oitenta e seis por cento dos pacientes tinham 50 anos ou mais de idade. Em nosso estudo, os pacientes tinham em média 65 anos ou mais, e o número de opacidades era geralmente descrito como reduzido por 72,7% dos pacientes. O descolamento do vítreo posterior (DVP) foi observado em 92,8% dos olhos após a cirurgia de catarata em nosso estudo. A detecção de um descolamento completo da face posterior do vítreo é essencial, porque um DVP induzido cirurgicamente pode causar rupturas da retina, aumentando o risco de descolamento de retina.(11) Já é conhecido que a presença de floaters está geralmente relacionada à existência de um DVP.(10) No presente estudo, dos 14 olhos com floaters, 12 apresentavam DVP. Os sintomas apresentados pelos nossos pacientes incluíam visão borrada intermitente e opacidades móveis no campo visual, comprometendo principalmente atividades realizadas a pequena distância. No exame oftalmológico, apesar das queixas, todos os pacientes apresentavam uma excelente acuidade visual tanto para longe como para perto, o que evidencia que as medidas de visão realizadas através da tabela de Snellen não são suficientes para avaliar a qualidade visual destes pacientes. Como todos os pacientes eram pseudofácicos e submetidos a implante de lente intraocular multifocal, alterações como opacidade de cápsula posterior (OCP) e de superfície corneana (edema, olho seco) foram previamente descartadas como possíveis causas de comprometimento visual antes da indicação da vitrectomia. Além disso, os pacientes deveriam apresentar sintomas há pelo menos 3 meses. No período pré e pós-vitrectomia, os pacientes foram submetidos a uma série de perguntas relacionadas à qualidade de visão para avaliar o ganho de visão após a realização da vitrectomia. O que o presente estudo pode identificar é que a grande maioria dos pacientes ficou satisfeita com a visão após o procedimento, sendo que o resultado foi ainda melhor em relação às atividades realizadas a uma pequena distância. Em relação à acuidade visual, medida pela tabela de Snellen, não foram observadas alterações significativas quando comparados o período pré e o pós-operatório da vitrectomia. Entre as diferentes maneiras de se tratar a presença de floaters, a fotodisrupção com Nd:YAG laser já foi relatado com sucesso.(4) Em 1993, Tsai et al. (4) relatou quinze olhos submetidos ao procedimento de Nd:YAG laser para tratamento de floaters com muito sucesso e sem complicações, porém alguns pacientes relataram a presença contínua de opacidades menores sendo necessário, em alguns casos, a realização de várias sessões de laser. Este procedimento parece ser mais eficaz quando Vitrectomia transconjuntival 25 gauge via pars plana para opacidade vítrea persistente em pacientes com... as opacidades são mais localizadas e menos difusas. Como desvantagem para o uso rotineiro de Nd:YAG laser no tratamento de alterações vítreas encontra-se o risco potencial de causar danos corio-retinianos como: hemorragia coroidal, hemorragia retiniana e danos ao epitélio pigmentar da retina. (12) No entanto, estudos mostram que as complicações relacionadas ao uso de Nd:YAG laser estão relacionadas à potência do laser e a distância do foco do laser a retina. (13-14) A vitrectomia via pars plana (VPP) com 20-gauge convencional também tem sido utilizada para remover floaters em pacientes selecionados. (5) Várias vantagens da técnica de 25-gauge em relação a 20 gauge já foram descritos. Durante a realização da VPP 25-gauge certos passos desnecessários podem ser eliminados. Por exemplo, a necessidade de peritomia conjuntival, e a hemorragia resultante que pode ocorrer em alguns olhos. Irritação no pós-operatório por suturas expostas também podem ser eliminada. Além disso, o tempo cirúrgico e inflamação ocular são reduzidos devido à não realização dos passos anteriormente descritos, resultando numa recuperação visual mais rápida. (15) Entre as possíveis desvantagens relacionadas à vitrectomia 25-gauge comparada, por exemplo, a 20-gauge seria a maior dificuldade em realizar a vitrectomia do vítreo periférico devido a maior flexibilidade dos instrumentais utilizados na 25gauge que resultaria numa pior movimentação do globo ocular no intraoperatório.(8,16) Dessa forma, um maior vítreo periférico residual ocasionaria maior área de tração retiniana e consequentemente maior risco de rasgaduras e descolamentos da retina. No presente trabalho, as cirurgias foram realizadas com a 25-gauge por se tratar em sua totalidade de cirurgias de baixa complexidade e com excelente potencial visual final. Teoricamente, complicações potenciais inerentes a vitrectomia podem ocorrer em ambos os tipos de vitrectomia, como descolamento de retina, hipotonia ocular, membrana epirretiniana, endoftalmite e hemorragia expulsiva. Em nossa série, a única complicação observada após 3 meses de seguimento foi a presença de um edema macular cistóide (EMC), tratado clinicamente. Não existem estudos clínicos comparando o desempenho visual, sensibilidade ao contraste, e qualidade de vida entre pacientes pseudofácicos com LIO monofocal e multifocal que apresentam queixas significativas de moscas volantes. Não sabemos se os pacientes com implante de lentes intraoculares (LIOs) multifocais têm menor tolerância a opacidades vítreas e floaters do que os pacientes com implante de LIOs monofocais. Estudos prospectivos serão necessários para esclarecer esses fatos. 257 A propriedade de difração da LIO multifocal foi primeiramente descrita por Fresnel, em 1818, um fenômeno que ocorre com as ondas quando elas passam por um orifício ou contornam um objeto cuja dimensão é da mesma ordem de grandeza que o seu comprimento de onda. (5) A difração é o nome dado historicamente à transição oscilatória entre a luz e a sombra quando a luz é obstruída por um anteparo. Quando temos um anteparo com uma abertura, se verificado em detalhe a região de transição entre a luz e a sombra, é possível observar a presença de oscilações de diferentes intensidades próximas à região da borda. Posteriormente, estes fatos forma comprovados experimentalmente e chamou-se de ponto de Arago que ajudou a confirmar a importância das zonas de Fresnel. (17-18) Isto poderia explicar porque pacientes queixam-se quando uma opacidade vítrea passa pelo seu campo de visão, e porque a vitrectomia ajuda na melhora dos sintomas e na qualidade visual, especialmente para perto. Concluindo, nosso estudo mostrou que em pacientes cuidadosamente selecionados a remoção das opacidades vítreas (floaters) usando a vitrectomia transconjuntival 25-gauge se mostrou segura, e resultou em alto nível de satisfação dos pacientes, com resolução dos sintomas na sua quase totalidade, e uma melhora subjetiva da qualidade funcional da visão. RESUMO Objetivo: O objetivo do presente estudo é relatar o resultado visual obtido após realização de vitrectomia via pars plana 25 gauge (VVPP-25-gauge) em pacientes com opacidades vítreas persistentes e debilitantes previamente submetidos à cirurgia de facectomia com implante de lente intraocular (LIO) multifocal. Métodos: Estudo prospectivo de 14 olhos com implante de LIO multifocal e presença de opacidade vítrea submetidos à VVPP-25-gauge. Foram avaliados acuidade visual sem correção (AVSC), acuidade visual com correção (AVCC) para longe, acuidade visual para perto corrigida para longe (AVPC) e equivalente esférico (EE) antes e 3 meses pós-vitrectomia. Um questionário de satisfação e melhora visual foi administrado antes e após a realização da vitrectomia para avaliar a satisfação dos pacientes. Resultado: Após três meses da VVPP25-gauge, a média das acuidades (logMAR) era: AVSC, 0,10 ± 0,14; AVCC, 0,02 ± 0,08; AVPC, 0,00 ± 0,0; EE, +0,16 ± 0,34. Treze olhos (92,9%) apresentavam AVSC de 20/40 ou melhor, e 11 (78,5%) de 20/25 ou melhor. Dez (90,9%) pacientes demonstraram satisfação com o procedimento cirúrgico, obtendo eliminação de todos os floaters em 13 olhos (92,8%). Apenas um paciente apresentou insatisfação com o resultado visual final devido ao aparecimento de edema macular cistóide pós-vitrectomia. Conclusão: A Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 252-8 258 Akaishi L, Canamary F, Tzelikis PFM remoção das opacidades vítreas, usando a VVPP-25-gauge se mostrou segura, e resultou em alto nível de satisfação dos pacientes, com resolução dos sintomas na sua quase totalidade, e uma melhora subjetiva da qualidade funcional da visão. Descritores: Vitrectomia; Implante de lente intraocular; Acuidade visual; Extração de catarata; Satisfação do paciente; Resultado de tratamento. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. 5. 6. 7. 8. 9. Coffee RE, Westfall AC, Davis GH, Mieler WF, Holz ER. Symptomatic posterior vitreous detachment and the incidence of delayed retinal breaks: case series and meta-analysis. Am J Ophthalmol 2007; 144: 409-413. Parnes RE, Zakov ZN, Novak MA, Rice TA. Vitrectomy in patients with decrease visual acuity secondary to asteroid hyalosis. Am J Ophthalmol 1998; 125: 703-704. Mossa F, Delaney YM, Rosen PH, Rahman R. Floaterectomy: combined phacoemulsification and deep anterior vitrectomy. 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Tzelikis SQN 203, bloco G, apto 405 CEP 70833-070 - Brasília (DF), Brasil E-mail: [email protected] ARTIGO ORIGINAL 259 Ocular lesions in sickle cell disease patients from Bahia, Brazil Lesões oculares em pacientes com doença falciforme da Bahia, Brasil Dayse Cury1, Ney Boa-Sorte2, Isa Menezes Lyra3, Angela Dias Zanette4, Humberto Castro-Lima†5, Bernardo Galvão-Castro6, Marilda Souza Gonçalves7 ABSTRACT Objective: The present study aims to describe ocular alterations in sickle cell disease patients in Bahia, a Northeast state, with the highest prevalence of the disease in Brazil. Methods: We carried out a cross-sectional study in a group of 146 (292 eyes) sickle cell disease patients (90 HBSS and 56 HBSC). Ophthalmologic examination including indirect binocular ophthalmoscopy was performed. Examination was completed by fluorescein angiography to detect retinal lesions. Results: The most frequent ocular lesions identified were “vascular tortuosity” and “black sunburst”. Proliferative retinopathy was found in 22 (12.2%) eyes of HBSS patients and 25 (22.3%) eyes of HBSC patients (OR=2.06; CI95%: 1.5-4.06, p=0.022); Its frequency was higher among HBSS patients aged 20-39 years, while in HBSC patients, it peaked after 40 years (35.7% and 42.8%) and dropped sharply afterwards. Conclusion: Proliferative retinopathy was described as early as 10 years of age in both patients groups. Proliferative sickle retinopathy can result in blindness and the knowledge of the most prevalent ocular alterations and age risk will be important to establish a protocol of ophthalmologic follow-up, in order to prevent a severe visual loss and increase patient's life quality. Keywords: Anemia, sickle cell; Hemoglobin SC disease; Eye injuries; Retinal diseases 1 Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção a Cegueira (IBOPC) Salvador (BA), Brasil; Escola de Medicina e Saúde Pública da Bahia; Fundação para o Desenvolvimento das Ciências da Bahia - EBMSP/FBDC - Salvador (BA), Brasil; 2 Escola de Medicina e Saúde Pública da Bahia/Fundação para o Desenvolvimento das Ciências da Bahia - EBMSP/FBDC - Salvador (BA), Brasil; Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz - Fundação Oswaldo Cruz- (CPqGM-Fiocruz)- Salvador (BA), Brasil; 3 Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (HEMOBA), Salvador (BA), Brasil; 4 Fundação de Hematologia e Hemoterapia da Bahia (HEMOBA), Salvador (BA), Brasil; 5 In memorian. Instituto Brasileiro de Oftalmologia e Prevenção a Cegueira (IBOPC) Salvador (BA), Brasil; Escola de Medicina e Saúde Pública da Bahia/Fundação para o Desenvolvimento das Ciências da Bahia - EBMSP/FBDC - Salvador (BA), Brasil; 6 Escola de Medicina e Saúde Pública da Bahia/ Fundação para o Desenvolvimento das Ciências da Bahia - EBMSP/FBDC - Salvador (BA), Brasil; Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz- Fundação Oswaldo Cruz - (CPqGM-Fiocruz)- Salvador (BA), Brasil; 7 Centro de Pesquisas Gonçalo Moniz - Fundação Oswaldo Cruz- (CPqGM-Fiocruz) - Salvador (BA), Brasil; Departamento de Análises Clinicas e Toxicológicas, Faculdade de Farmácia, Universidade Federal da Bahia (FF/UFBA) Salvador (BA), Brasil. There is no conflict of interests in this work. Recebido para publicação em: 2/12/2009 - Aceito para publicação em 12/7/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 259-63 260 Cury D, Boa-Sorte N, Lyra IM, Zanette AD, Castro-Lima H, Galvão-Castro B, Gonçalves MS INTRODUCTION T he sickle cell hemoglobin (HbS) is characterized by a single nucleotide change (GAG→GTG) in the sixth codon of the β-globin gene, which leads to a valine instead of glutamine in the sixth position of the β-globin chain. (1) Because of its decreased solubility under deoxygenated conditions, hemoglobin S polymerizes in red blood cells, forming a highly ordered fiber aggregates that distort the cells’ shape into an elongated forms. The polymer makes reversible and irreversible changes in sickle cell erythrocytes and is responsible for the sickle cell phenotype, including the homozygous state of HBSS and heterozygous combinations such as HBSC and HBS-β thalassemia that have a less severe manifestations than those found in sickle cell anaemia patients. The sickle cell trait (HBAS) is an exception and is not considered a sickle cell disease since the carriers do not have any clinical manifestations.(1) The overall frequency of HbS is high worldwide, and in Brazil its distribution is heterogeneous. In Northeastern Brazil, mainly in Bahia, the population is a tri-racial mixture of Europeans (mostly Portuguese), Africans and indigenous. (2) The frequency of HbS in the state of Bahia is the highest in Brazil, varying from 4.5 to 14.7% in several population groups studied. (3) The sickle cell disease is characterized by a variety of clinical abnormalities frequently linked to hemolytic anaemia and vaso-occlusive processes, which are responsible for causing pain and other clinical features such as retinopathy. (1,4) Ocular lesions results from stasis and occlusion of the small eye vessels by sickled erythrocytes. Transient dark red spots, representing plugs of sickled erythrocytes within superficial capillaries can be seen on the surface of the optic disc and conjunctiva. Vaso-occlusive disease of the retina can be responsible for nonproliferative and proliferative ocular changes. The nonproliferative lesions consist of ocular lesions such as a “salmon patches”, vessel tortuosity, “black sunbursts”, iridescent spots and angioid streaks that characterize hemorrhagic, infarctive, and resolving lesions of sickle retinopathy.(1) Proliferative ocular lesions can result in partial or total loss of vision and are classified into different clinical stages. Stage I is characterized by arteriolar obstruction; stage II, by arteriovenous anastomoses; stage III, by neovascularization; stage IV, by vitreous hemorrhage and stage V, by retinal detachment. (5) Despite the high prevalence of sickle cell disease Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 259-63 in Bahia and the high frequency of ocular changes in sickle cell disease patients, there have been no studies of these alterations with sickle cell retinopathy in Bahia, a state with African ethnic characteristics. (2) We therefore consider important to characterize the ocular lesions found among sickle cell patients from northeast Brazil. METHODS This study was approved by the Oswaldo Cruz (Research Foundation’s Human Research Ethics Committee), and informed consent was obtained in accordance with ethical principles and the Helsinki Declaration of 1975, and by the Brazilian resolution 196/ 96, of the Ministry of Health, Law 6,638/79 and Normative Resolution 04/97. Ophthalmologic examinations were carried out, and peripheral blood samples were collected only after signed informed consent was obtained. The cross-sectional study involved a group of 146 (292 eyes) sickle cell patients (90 HBSS and 56 HBSC) from the State of Bahia in northeast Brazil and was carried out between july, 2002, and april, 2006. The patients were selected among those attending the hematology ambulatory at the Bahia Foundation of Hematology and Hemotherapy (HEMOBA), a reference center attending to sickle cell disease patients who are seen in routinely visits. Patients were then sent to the Brazilian Institute of Ophthalmology and Blindness Prevention (IBOPC) for an ocular examination, including fundus biomicroscopy, indirect binocular ophthalmoscopy and fluorescein angiography when the retinopathy could not be adequately characterized solely by means of a fundoscopic examination. We observed the following in the fundoscopic examination: vascular tortuosity, alterations of papila, “salmon patches”, angioid streaks and iridescent spots. The pathologic classification of fundoscopic alterations as proliferative was based on Goldberg’s five-stage groups; stage I - peripheral arteriolar occlusions, stage II - peripheral arteriovenous anastomoses, stage III - preretinal neovascularization, stage IV - vitreous hemorrhage and stage V - retinal detachment. Patients presenting with proliferative retinopathy were separated by age and classified as severe when displaying stages III to V when retinal neovascularization was seen. The hemoglobin pattern was confirmed at the Pathology and Molecular Biology Laboratory of Fiocruz and UFBA using High Performance Liquid Chromatography (HPLC - VARIANT I / BIO-RAD, CA, USA). EpiInfo software for Windows, version 3.3.2 was used Ocular lesions in sickle cell disease patients from Bahia, Brazil to store and analyze data. The Chi-squared Pearson's test or the Fisher’s exact test was used when necessary to compare both groups of hemoglobinopathy carriers. A p-value of less than 0.05 was considered statistically significant. RESULTS The number of sickle cell disease patients enrolled in the study was 146 (292 eyes): 90 (61.6%) with sickle cell anemia or HBSS and 56 (38.4%) with HBSC disease. The majority of these patients (58.9%) were from Salvador, and the others came from other cities in the state. Overall, the patients had an average age of 26.7 (+ 11.6) years. The HBSS patients group had an average age of 26.7 (+10.1) years and the HBSC group had an average age of 26.9 (+13.9) years. Eighty-four (57.5%) were women, and 62 (42.5%) were men. Among the HBSS patient group, there were 39 (43.3%) men and 51 (56.7%) women, while among the HBSC group, there were 23 (41.1%) men and 33 (58.9%) women. Statistically nonsignificant differences were found when comparing the age (p=0.625) of the HBSS and HBSC patients. There were no significant differences in gender (p=0.923) when comparing both patient groups studied. Two HBSC disease patients had an intraocular pressure ≥ 20mmHg; however, no overall change in intraocular pressure was observed among the different patient groups. Visual acuity was 20/20 or 20/25 for the best eye in 133 patients, corresponding to 91.1% of the total number of cases. Age-related ocular lesions, including nonproliferative and proliferative lesions, were very frequent among both groups of patients (HBSS and HBSC). Table 1 shows the ocular lesion distribution across six age groups. The HBSS group had more ocular changes in the age range of 20-39. In the HBSC group of patients these changes became more frequent in the age range of 40 to more than 50 years. Vascular tortuosity and “black sunbursts” were the most frequent fundoscopic ocular lesions found in both sickle cell disease groups (HBSS and HBSC ). Table 2 shows that the vascular tortuosity percentage was similar in both sickle cell disease patients’ groups. The “black sunburst” was more frequent in the HBSC disease group. The frequency of “salmon patches” and angioid streaks, however, was low in both groups, and the disc-shaped signal and iridescent spots were only found in the HBSS group. In both the HBSS and HBSC disease groups, there were patients with proliferative ocular lesions; however, 261 the HBSC group had more proliferative ocular lesions than the HBSS group. The HBSS group had more severe ocular disease in the age range of 30-39 than the HBSC group. Table 3 shows the distribution of proliferative ocular lesions across six age groups related to stages I to V and III to V. The HBSS group had the highest frequency of proliferative changes, mainly in the age range of 20-39. The HBSC patient group had more ocular changes in the age range of 40-49. Table 4 shows that the HBSC group had more cases of proliferative ocular lesions per eye than the HBSS group. Figure 1 shows fluorescein angiography of peripheral arteriolar occlusions, peripheral arteriovenous anastomoses, preretinal neovascularization and extensive capillary non-perfusion from a 31-year-old woman with sickle cell anemia (HBSS ). DISCUSSION Several ocular changes were observed in the studied patient groups; however, no change in visual acuity was found, as previously reported. (5-10) With regard to the fundoscopic lesions, vascular tortuosity and “black sunbursts” were the most frequent changes identified, corroborating previous Brazilian studies. (7-10) The overall frequency of vascular tortuosity was similar in both patient groups (HBSS and HBSC ), as previously described. (10,11) The “black sunburst” lesion was seen in both groups, although its frequency in HBSC patients was much lower than that described in other studies. (10,12,13) The low frequency of other ocular lesions such as the disc sign and iridescent spots could be attributed to their transient status and to the fact that they do not produce clinically visual impairment that requires serial follow-up testing. (14) Proliferative retinopathies were significantly more frequent in the HBSC group than in HBSS group, as described previously.(1,7,15-17) When the HBSC patients were stratified according to age, however, we observed two peaks of ocular changes, one between 10 and 19 years of age and another between 40 and 49 years of age that subsequently dropped sharply. This finding is in contrast to previous studies. (15,18,19) Indeed, Fox et al. (18) studied Jamaican patients and observed that ocular proliferative lesions increased with age in both genotypes. Interestingly, the HBSS patients had more severe proliferative changes (stages III to V) between the ages of 10 to 19 years and 30 to 39 years when compared to the HBSC group, characterizing an elevated frequency when compared with others studies.(20,21) On the basis of Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 259-63 262 Cury D, Boa-Sorte N, Lyra IM, Zanette AD, Castro-Lima H, Galvão-Castro B, Gonçalves MS our results, additional studies are warranted to determine if these findings are related to an increase of vasoocclusive crisis among these specific ages or with the presence of others biomarkers for assessing relative risk in these group of SCA patients. This is the first study of ocular lesions among HBSS and HBSC patients from Bahia. The lower percentage of severe proliferative retinopathy found among HBSS patients when compared to HBSC patients could be attributed to auto infarction or a spontaneous regression of proliferative retinopathies, a phenomenon described in sickle cell disease. (21) A milder disease phenotype was previously described among these patients, (22,23) protecting against the early vessel occlusion described in HBSS 1 and contributing to proliferative lesion development among the older patients. In addition, the age-related variation in proliferative lesions observed in HBSC patients could be related to more severe anemia, resulting in a decrease in blood viscosity. The results presented here show that sickle cell disease patients from Bahia could have specific risk factors for retinal vessel changes other that those described before. (24,26) CONCLUSION In conclusion, the ocular lesions described here could help to define the clinical and ophthalmologic protocols of HBSS and HBSC patient’s follow-up in specific ages. The presence of proliferative ocular alterations are a well documented cause of blindness and the knowledge of the most prevalent ocular alterations and age risk of these in HBSS and HBSC patients will be important to establish ophthalmologic follow-up protocols, preventing a severe visual loss. Further studies, including the association between ocular lesions and hematological, environmental and genetic factors - in a larger number of HBSS and HBSC patients in Brazil should contribute to improving patient quality of life, bringing new knowledge of ophthalmologic alterations among these patients. Acknowledgements We thank the medical staff of the institutions where the study was developed and parents and patients whose gave their informed consent to participate in the study.This study was supported by CNPq, DECIT contract grant numbers: 305427/2007-7 (MSG); and 409800/20066 (MSG); FAPESB / UNESCO, contract grant number: 013/03 (MSG). Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 259-63 RESUMO Objetivo: O presente estudo teve como objetivo descrever as alterações oculares em pacientes portadores de doença falciforme, na Bahia, um estado do Nordeste, que tem a maior prevalência da doença no Brasil. Métodos: Nós conduzimos um estudo de corte transversal em um grupo de 146 (292 olhos) pacientes com Doença Falciforme (90 HBSS e 56 HBSC). Para exame oftalmológico foi realizada oftalmoscopia binocular indireta complementada pela retinografia fluorescente para detecção de lesões retinianas decorrentes da Doença Falciforme. Resultados: As lesões mais frequentemente encontradas foram o aumento da tortuosidade vascular e “black sumburst” Retinopatia proliferativa foi encontrada em 22 (12,2%) olhos de pacientes HBSS e 25 (22,3%) olhos de pacientes HBSC (OR=2.06; CI95%: 1.5-4.06, p=0.022); essa frequência foi maior entre os pacientes HBSS com idade entre 20 - 39 anos, enquanto que nos pacientes HBSC foi maior nos acima de 40 anos (35.7% e 42.8%), decaindo abruptamente após essa idade. Conclusão: Retinopatia proliferativa foi descrita por volta dos dez anos de idade em ambos os grupos. A prevalência da retinopatia falciforme proliferativa pode resultar em cegueira e o conhecimento das alterações oculares mais prevalentes e idade de risco destas em pacientes com Doença Falciforme será importante para estabelecer um protocolo de acompanhamento oftalmológico, para prevenir um dano visual clinicamente grave, aumentando a qualidade de vida destes pacientes. Descritores: Anemia falciforme; Doença de hemoglobina SC; Traumatismos oculares; Doenças retinianas REFERENCES 1. 2. 3. 4. 5. Ohene-Frempong K, Steinberg MH. Clinical aspects of sickle cell anemia in adults and children. In: Steinberg MH, Forget BG, Higgs DR, Nagel RL, editors. Disorders of hemoglobin: genetics, phatophysiology and clinical management. New York: Cambridge University Press; 2001. p.611-670. Azevêdo ES, Fortuna CM, Silva KM, Sousa MG, Machado MA, Lima AM, et al. Spread and diversity of human populations in Bahia, Brazil. Hum Biol. 1982; 54(2): 329-41. Azevêdo ES, Alves AF, Da Silva MC, Souza MG, Muniz Dias Lima AM, Azevedo WC. Distribution of abnormal hemoglobins and glucose-6-phosphate dehydrogenase variants in 1200 school children of Bahia, Brazil. Am J Phys Anthropol. 1980; 53(4):509-12. Vilela RQ, Bandeira DM, Silva MA. Alterações oculares nas doenças falciformes/ Ocular complications in sickle cell disease. Rev Bras Hematol Hemoter. 2007; (29):285-7. Goldberg MF. 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Corresponding authors: Marilda Souza Goncalves Rua Waldemar Falcão, 121, Candeal CEP 40296-710 - Salvador (BA), Brazil Phone: 55-71-3176-2226 Fax: 55-71-3176-2327 E-mail: [email protected]; [email protected] Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 259-63 RELATO 264 DE Oftalmomiíase pós-traumática: relato de caso e revisão de literatura Ophthalmomyiasis post-traumatic: case report and literature review José Carlos Martins Junior1, 2, Frederico Santos Keim2, Joana Iarocrinski2 RESUMO O relato mostra um caso de oftalmomiíase pós-traumática em um paciente etilista crônico, com fratura orbitozigomática, descrevendo a importância do tratamento precoce e a necessidade de associar Ivermectina à remoção cirúrgica das larvas. Descritores: Miíase; Oftalmoplegia; Infecções oculares parasitárias; Fraturas orbitárias; Ivermectina/uso terapêutico; Ferimentos e lesões 1 Responsável pelo Trauma Maxilofacial dos Hospitais Santa Catarina e Santo Antônio de Blumenau - Blumenau (SC), Brasil; Interno do Curso de Medicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB - Blumenau (SC), Brasil; 2 Realizado na Faculdade de Medicina da Fundação Universidade Regional de Blumenau - FURB - Blumenau (SC), Brasil. Recebido para publicação em: 4/3/2010 - Aceito para publicação em 1/7/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 264-8 CASO Oftalmomiíase pós-traumática: relato de caso e revisão de literatura INTRODUÇÃO O termo miíase (grego myia, mosca e iasis, afecção, moléstia) inicialmente foi introduzido por F. W. Hope,(1) como sendo uma afecção causada pela presença de larvas de moscas em órgãos e tecidos do homem ou de outros animais vertebrados, onde se nutrem, pelo menos durante certo período, dos tecidos vivos ou mortos do hospedeiro, de suas substâncias corporais líquidas ou do alimento por ele ingerido(2) e evoluem como parasitos.(3) Trata-se de um tipo de patologia muito frequente nos pacientes de regiões tropicais, com nível sócioeconômico baixo, íntimo contato com animais, ou ainda naqueles com higiene corporal precária, alcoólatras, pacientes epilépticos e em deficientes mentais ou saúde geral debilitada.(4) Quanto ao local de ocorrência, elas podem ser cutâneas, subcutâneas ou cavitárias (seios da face, nariz, olhos, ouvidos e boca) podendo esta última resultar em morte do hospedeiro.(5) Podem ser úteis ao hospedeiro, pois auxiliam na extração de tecido necrótico, há relato de terem sido usadas para o debridamento terapêutico de feridas.(6) Segundo Pessoa,(7) as miíases são classificadas em dois grandes grupos de acordo com os aspectos biológicos evolutivos: a) biontófagas ou obrigatórias: quando as larvas são capazes de invadir tecidos sadios ou feridas recentes. b) necrobiontófagas ou facultativas, que são larvas invasoras secundárias de tecidos necrosados, vivendo como saprófitas de feridas e cavidades pré-existentes. 265 A C. hominivorax é a mosca conhecida por "varejeira" ou "mosca da bicheira" e foi descrita, pela primeira vez, como parasita em seios frontais e das fossas nasais do homem em 1970.(8) Suas larvas são biontófagas obrigatórias e suas fêmeas depositam de cada vez, de 20 a 400 ovos em feridas, arranhões, etc., eclodindo em menos de 1 dia, invadindo tecidos sãos, onde causam feridas profundas e supuradas. As larvas que eclodem em 24 horas são vorazes e destroem tecidos sãos, podendo acarretar hemorragias graves, quando se proliferam em cavidades.(9) As larvas tendem a abandonar o hospedeiro após 4 a 8 dias e dar continuidade ao ciclo biológico, que em condições favoráveis se completa de 21 a 24 dias, fora do hospedeiro primário. Podem atravessar tecidos íntegros, causando uma miíase furunculosa. A oftalmomiíase refere-se à invasão das pálpebras, conjuntiva, córnea, segmento anterior, segmento posterior ou órbita pela larva.(10) A órbita afetada por um quadro de miíase quase sempre está relacionada a processos necróticos em neoplasias. O diagnóstico é clínico através da visualização direta das larvas ou fibroscopia, podendo ser usados exames complementares como tomografia computadorizada para avaliar a extensão do envolvimento e a invasão de tecidos vizinhos. Existem várias formas de tratamento da miíase descritas e a escolha do tratamento varia em cada caso, segundo o número de larvas e o tecido envolvido. O tratamento escolhido normalmente é o mecâ- Figura 1: Edema periorbitário e ptose palpebral; Miíase açular Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 264-8 266 Martins Junior JC, Keim FS, Iarocrinski J nico, ou seja, a catação das larvas, processo dolorido, incômodo e constrangedor, para o paciente e para o médico. A retirada mecânica das larvas também pode ser realizada por desbridamento cirúrgico.(11) Normalmente pacientes acometidos por essa afecção, por suas características, não são cooperantes, dificultando o processo de cura. RELATO DE CASO O presente relato faz referência a um paciente de 42 anos, sexo masculino, etilista crônico, atendido no ambulatório de Traumatologia Maxilofacial do Hospital Santo Antônio de Blumenau-SC, com história de queda de escada há 4 dias. Ao exame clínico notava-se edema periorbitário direito com hiperemia e ptose palpebral com larvas de moscas em toda extensão do globo ocular e conjuntiva (Figura 1). Encontrava-se lúcido, orientado, sem sinais de alterações neurológicas. História médica pregressa não revelava particularidades. Trazia uma incidência de Water’s, realizada no dia do trauma em outro serviço, que evidenciava uma fratura orbitozigomática direita (Figura 2). O familiar que o acompanhava informou que o paciente morava sozinho e em condições precárias de higiene e cuidados pessoais. Devido às condições clínicas favoráveis do paciente, optou-se pela retirada mecânica das larvas em centro cirúrgico sob anestesia geral. Antes da indução anestésica iniciou-se com administração de 2 comprimidos de Ivermectina via oral e esquema tríplice de antibióticoterapia endovenosa com penicilina G cristalina 5.000.000 UI a cada 6 horas, Gentamicina 80 mg a cada 12 horas e metronidazol 500 mg a cada 8 horas. Associou-se ainda hidrocortisona 500 mg EV a cada 6 horas mais plano de hidratação e analgesia. As larvas foram retiradas com pinças de Addison, após reparo das pálpebras superior e inferior com fio de algodão 2.0, e colocadas em uma cuba rim com éter. Conseguiu-se a remoção de 48 larvas da episclera e conjuntivas palpebrais, seguida do debridamento cirúrgico das margens palpebrais necrosadas (Figura 3). Foi realizado curativo com neomicina pomada mais tarsorrafia frouxa com fio de algodão. Vinte e quatro horas depois observou-se a presença de larvas em canto interno de olho, quando o paciente foi novamente levado ao bloco cirúrgico e removida mais 8 larvas sob anestesia local infiltrativa. Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 264-8 Figura 2: Rx da fratura zigomático maxilar Figura 3: Catação por pinças Figura 4: Oftalmoplegia Oftalmomiíase pós-traumática: relato de caso e revisão de literatura Em seguida o paciente foi encaminhado ao centro de imaginologia para tomada de tomografia e avaliação do grau de comprometimento intraorbitário e encaminhamento ao serviço de residência em oftalmologia de outro hospital. Quarenta e oito horas após a segunda intervenção e após o desaparecimento do edema observou-se oftalmoplegia com desvio superior do globo ocular, opacidade da córnea e amaurose direita, evoluindo com sinéquia da pálpebra superior à conjuntiva episcleral (Figura 4). Após a avaliação pelo serviço de oftalmologia optou-se pela preservação do globo ocular seguida de reparo da fratura orbitozigomática com fixação por placas e parafusos. DISCUSSÃO O quadro de miíase no ser humano espelha péssimas condições de higiene e cuidados e, normalmente ocorre nos pacientes acometidos de doenças necrosantes como as ulcero-granulomatosas ou tumorais. Frequentemente, ocorre em pacientes idosos ou com transtornos mentais, alcólatras e desassistidos. Essas pessoas podem ficar expostas à postura de moscas, vendo-se acometidas de miíase, o que sugere o caso relatado, onde o paciente refere ter ficado desacordado e provavelmente exposto às moscas. Roupas sujas com alimentos, fluidos corporais ou pus são altamente atrativas para moscas causadoras de miíase. Rao(9) relatou três casos de miíase nasal e observou que ulceras nasais e rinorreia que tenham cheiro ruim são atrativos para que as moscas deixem seus ovos, enquanto os pacientes estão dormindo.(12) Pessoas sãs podem ser acometidas quando a miíase é provocada por uma larva biontófoga (que se alimenta de tecidos vivos) e apresentar quadro de hemorragias ou comprometimento do sistema nervoso central, podendo levar o paciente a óbito. A miíase cutânea ou cavitária pode provocar destruição maciça dos tecidos como as cavidades bucal, nasal, ocular ou sinusais e ainda estar acompanhada por intensas reações inflamatórias e infecciosas secundárias, expondo o paciente ao risco de desenvolver uma bacteremia ou septicemia em virtude de uma infecção secundária.(13) Quesada et al. descreveram um caso de miíase nasal e detectaram também a presença do Oestrus ovis invadindo, inclusive, os seios maxilares.(14) Denion et al., num estudo retrospectivo de 267 oftamomiíase externa, afirmaram que a Dermatobia hominis é o agente causador da maioria das miíases humanas.(15) Na Europa, América do Norte, Austrália, Ásia e África, o ser humano pode ser contaminado principalmente na conjuntiva ocular e mucosa nasal por larvas de Oestrus ovis, que normalmente se desenvolve em seios frontais de ovinos.(16-17) Há relatos de aparecimento de miíases em pacientes com lesões cavitárias, como colesteatomas na orelha média, tumores nasais, tumores orais, anais ou vaginais e oftálmicos, assim como lesões da pele.(16-18) Gregory et al.(19) e Baliga et al.(20) relatam que a maioria dos casos de miíase orbitária é causada pela família de mosca Oestrus ovis. Quanto ao tratamento, tem-se tentado vários métodos como a remoção mecânica e debridamento e medicação para combater infecções secundárias e dor. Deve-se observar o quadro clínico do doente e condições de higiene e, posteriormente, proceder a remoção mecânica das larvas, remoção dos tecidos necróticos e uso de medicamentos tópicos e sistêmicos.(13) O tratamento sistêmico no combate às infecções secundárias e também no combate às larvas de localização cavitária é atualmente utilizada(13,15,21-9) e recomendada o uso de antimicrobianos no combate a infecções secundárias. Vários métodos já foram descritos para o tratamento clínico da miíase humana. Historicamente, há referência ao uso de vários antissépticos, asfixiantes e mercuriais utilizados na forma de lavagens nasais, inalações, instilações em orelha externa e de forma sistêmica. Foram feitas várias tentativas de forçar a saída das larvas com medicamentos tópicos asfixiantes como o iodofórmio em pó. Em miíases cavitárias, a identificação de todas as larvas torna-se impossível, e o uso desses medicamentos podem torná-las agitadas e migrarem para regiões profundas de difícil acesso. Medicamentos sistêmicos como o óleo canforado, o oxicianureto de mercúrio, o sulfureto de mercúrio foram tentados para expulsar as larvas com resultados pouco eficazes. A ivermectina de uso oral tem sido descrita na literatura para o tratamento de miíase, usada em dose única de 200 µg/Kg, obtendo-se resolução do quadro em 48 horas.(23) Apresenta uma absorção rápida, com elevada concentração sanguínea em relativamente pouco tempo.(24) A ivermectina usada na dosagem de 300 µg/kg Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 264-8 268 Martins Junior JC, Keim FS, Iarocrinski J erradica as larvas de miíases cavitárias sem causar toxicidade ao paciente. As larvas morrem e são eliminadas espontaneamente ou através de lavagem, sem os incômodos da catação unitária.(9) Em um estudo sobre a eficácia da ivermectina utilizada por via oral, em dose única, foi constatada a sua eficácia e praticidade na eliminação das larvas, permitindo um controle adequado da infecção secundária, tornando possível a realização da exenteração orbitária para a remoção de um carcinoma basocelular. Observou-se neste estudo a resolução completa do quadro de miíase num período de 48 horas, sem a necessidade de remoção mecânica das larvas.(4) Há relatos na literatura da eficácia da medicação no tratamento da fitiríase palpebral.(25) São descritos alguns casos na literatura de tratamento de miíase com ivermectina tópica, com taxa de 100% de sucesso.(26) O tratamento da oftalmomiíase deve ser baseada na erradicação total das larvas, mecânica e medicamentosa, tratamento da infecção associada e prevenção da propagação intracraniana. Exames de imagens são fundamentais para avaliação da extensão da afecção. ABSTRACT The report shows a case of post-traumatic ophthalmomyiasis in a chronic alcoholic patient with orbitozygomatic fracture, it describes the importance of early treatment and the association of Ivermectin and surgical removal of larvae. Keywords: Myiasis; Ophthalmoplegia; Eye infections parasitic; Orbital fractures; Ivermectin/ therapeutic use; Wounds and injuries 7. 8. 9. 10. 11. 12. 13. 14. 15. 16. 17. 18. 19. 20. 21. 22. 23. REFERÊNCIAS 24. 1. 2. 3. 4. 5. 6. Hope FW. On insects and their larvae occasionally found in the human body. Trans R Soc Entomol. 1840;2:256-71. Albernaz PM. De algumas localizações raras das miíases, Rev Oto-Laringol S. Paulo. 1933;1(4):275-80. Abkari A, Jouhadi Z, Hamdani A, Mikou N, Guessous N, Khalifa HH. [Gastrointestinal myiasis. Apropos of 1 Moroccan case]. Bull Soc Pathol Exot. 1999;92(1):20-2. French. Rodriguez MEL, Aoki L, Nicoletti AGB, Matayoshi S, Fernandes JBVD. 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Report on three cases Cesar Gomes da Silveira1, Paulo Ricardo Pereira de Oliveira2, Renato Macedo da Silveira3 RESUMO A Síndrome de Posner-Schollsman caracteriza-se por episódios intermitentes de glaucoma agudo acompanhados por leves uveítes anteriores. As crises são unilaterais, recorrentes e caracterizadas por pupilas discretamente dilatadas, ao contrário, das pupilas mióticas, mais comumente vistas nas irites. Neste artigo temos o relato de três casos de pacientes do sexo masculino com síndrome de Posner-Schlossman (SPS), possuindo dois deles um grau de consanguinidade em primeiro grau. Baseando-se em sinais e sintomas típicos, e cuidadoso exame oftalmológico, que aqui são discutidos e analisados, é possível realizar o diagnóstico da crise glaucomatociclítica. A rara ocorrência da doença em questão justifica a importância de um diagnóstico preciso para seu tratamento correto a fim de evitar cirurgias desnecessárias ou doenças secundárias por equívocos diagnósticos. Descritores: Uveíte/diagnostico; Pressão intraocular; Síndrome; Glaucoma/diagnóstico 1 Médico Residente do primeiro ano do Centro de Estudos e Pesquisas Oculistas Associados - CEPOA - Rio de Janeiro ( RJ), Brasil; Médico Oftalmologista e Professor Assistente da Faculdade de Medicina da Universidade Luterana do Brasil - ULBRA - Canoas (RS), Brasil; 3 Médico Oftalmologista. Chefe e presidente do Centro de Estudos da Clínica de Olhos Santa Lúcia, Cruz Alta (RS), Brasil. 2 Recebido para publicação em: 28/1/2010 - Aceito para publicação em 12/7/2010 Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 270 Silveira CG, Oliveira PRP, Silveira RM INTRODUÇÃO E m 1948, Posner e Schlossman relataram o primeiro caso concreto de crise glaucomatociclítica, descrevendo assim uma síndrome rara e de importante distinção entre os tipos de glaucoma associados a uveítes.(1,2) A maioria dos autores considera a sua etiologia desconhecida,(1,3-8) entretanto uma série de trabalhos mais recentes estuda possíveis relações de outros agentes, como o herpes simplex, o citomegalovírus, e o helicobacter pylori, (3,9-11) bem como a associação com HLA-Bw54 positivo em 40% dos pacientes com síndrome de PosnerSchlossman (SPS).(4,6) Contudo, ainda não se pode atribuir definições absolutas em relação à causa da doença. Em um dos estudos,(9) pesquisando associação com o virus Herpes Simplex (HSV), observou-se a presença de fragmentos de DNA do HSV em amostras de humor aquoso dos pacientes com SPS, enquanto que no grupo controle o resultado foi negativo na pesquisa do vírus, sugerindo a possibilidade de associação do HSV com a síndrome.(3,9) Relatos recentes indicam que não há associação de citomegalovírus (CMV) como causa da crise glaucomatociclítica.(10) Ainda em investigação de possíveis causas, outro estudo(11) realizou uma análise sorológica para pesquisa de Helicobacter Pylori em associação ou não com SPS.(11) Também houve divisão entre pacientes com SPS e grupo controle. Foram encontrados, em 80% do grupo com SPS, os anticorpos anti-IgG, para H. Pylori no soro, enquanto que no grupo controle a taxa de positividade foi de 56,2%, estando o H. Pylori relatado como um importante fator de risco para SPS.(11) Ainda outros mecanismos têm sido postulados: possíveis processos vasculares anormais e/ou mecanismos imunológicos, aumento dos níveis de prostaglandinas, defeitos anatômicos e condições alérgicas, hipersecreção aquosa, e reação mediada por IgE.(4,12) A SPS é mais reconhecida em adultos jovens, do sexo masculino entre 20 e 50 anos de idade.(1-7) Porém há relatos de sua ocorrência também em crianças, e mais raramente em idosos.(1,2) As crises se caracterizam pela ocorrência de ataques agudos e recorrentes de uveíte anterior leve, associado ao aumento da pressão intraocular (PIO) - entre 40 e 60 mm Hg - unilateralmente, quase sempre. Entretanto em uma porcentagem dos casos há envolvimento bilateral não-simultâneo.(1-8,12) Cada crise pode se estender de poucas horas a várias semanas, mas em geral cessam entre 7 e 14 dias. A frequência dos ataques varia, com períodos de remissão que podem durar de um mês a muitos anos, de modo que com o passar do tempo o intervalo entre as crises tende a ser maior.(1-5) Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 Os sintomas mais frequentes são leve desconforto ocular, diminuição da visão e aparecimento de halos coloridos em torno de luzes.(1-3,7,8) À inspeção, observa-se um olho calmo com discreta hiperemia conjuntival.(1-3,7) Cabe salientar que a literatura atual também considera importante o acompanhamento efetivo de pacientes com síndrome de Posner-Schlossman, pois um percentual significativo desses poderá desenvolver glaucoma crônico de ângulo aberto, o que sugere assim, uma alteração degenerativa da malha trabecular, dificultando o escoamento do humor aquoso.(1,2,4-6) Sugere-se que o diagnóstico da crise glaucomatociclítica deva se dar através de um rigoroso acompanhamento do caso, sendo identificadas as repetidas crises de ciclíte, geralmente autolimitadas, somadas a um quadro clínico característico.(5) Ao diagnóstico diferencial, deve-se considerar glaucoma primário de ângulo estreito com bloqueio pupilar ou outras uveítes hipertensivas, principalmente a ciclíte heterocrômica de Fuchs, na qual o glaucoma tende a se desenvolver mais tardiamente, pois o aumento da PIO se dá pela deposição de células inflamatórias na malha trabecular e à esclerose desta.(1,5) O tratamento visa a minimizar os danos causados pela pressão sobre o nervo óptico, ao longo do tempo, e reduzir a inflamação.(7,12) É importante já se destacar que, a longo prazo, os corticóides poderão causar a elevação da PIO induzindo riscos adicionais de glaucoma secundário e/ou opacificação subcortical posterior do cristalino i.e. catarata secundária.(1,5) Atualmente existem relatos do uso experimental de tonômetro portátil (Phosphene), cujo mecanismo possibilita a automonitorização e controle da PIO pelo paciente em uso domiciliar, nos períodos de remissão dos ataques.(13) Classicamente a cirurgia pode não estar indicada na SPS; porém, em alguns casos, com recorrência elevada, poderá se instalar glaucoma crônico simples de ângulo aberto, levando a necessidade de manutenção cirurgica.(1,5,7,8) Os autores consideram importante este relato de caso por sua raridade e pela importância do diagnóstico preciso para seu tratamento correto, evitando, deste modo, terapêutica clínica imprópria e/ou cirurgias desnecessárias.(1,5) Descrição dos casos e resultados Caso 1 F.G.B., 44 anos, sexo masculino, branco, casado, agrônomo, procedente do interior do Estado do Rio Grande do Sul. Em 1998 procurou atendimento oftamológico com Síndrome de Posner-Schlossman. Relato de três casos relato de várias crises de “uveíte hipertensiva” em olho direito (OD), há 28 anos, com “pesquisas clínicas e laboratoriais negativas para classificação da uveíte, e acompanhamento oftalmológico prévio”. Relatou ainda glaucoma em avô e tio (sic). Nega trauma ocular e infecção em atividade. Referiu tosse seca após início do uso de colírios. Estava em uso diário de acetazolamida 250mg, por via oral (VO), latanoprost 50mcg 1x/dia, maleato de timolol 0,5% 1x/dia, e acetato de prednisolona a 1% de 4/4 horas, tópicos. Ao exame ocular apresentou edema de córnea, íris heterocrômica , leve midríase, flare raro e precipitados retroceráticos (PK) no terço inferior da córnea, com opacificação cristaliniana subcortical posterior inicial em OD, e fundoscopia normal (Figura 1). O olho esquerdo (OE) não apresentava alterações dignas de nota. O exame refracional demonstrava astigmatismo misto em OD e emetropia em olho esquerdo (OE), atingindo 20/20. A PIO do OD era de 16 mm Hg e a PIO do OE 12 mm Hg (10:30 h), por tonometria de aplanação de Goldmann. A gonioscopia apresentava ângulo aberto em 360°. Com estes dados, foi realizado o diagnóstico de SPS e instituído o tratamento, com a manutenção de latanoprost 50 mcg, às 21 horas, cloridrato de dorzolamida tópico de 12/12 horas, e cetorolaco de trometamina, 0,4% 5x/dia, e tropicamida 1% 3x/dia.(1,4-8,12) Após dez dias, em revisão, o OD apresentava ausência de flare, PK e PIO de 10 mm Hg, tendo sido então sugerida a suspensão do tratamento, com controle ambulatorial subsequente. Quatro meses depois, o paciente recorre com queixas de OD dolorido e hiperemiado há dois dias. Apresentava PIO em OD de 28 mm Hg (14:00 h), PK finos, e flare ++++/4+. OE sem alterações. Foi reinstituído o mesmo tratamento da crise anterior, com revisões semanais. Na primeira semana de acompanhamento, a PIO em OD se estabeleceu em 10 mm Hg (14:00 h), os aspectos inflamatórios desaparecem, mas com PK finos ainda presentes. Optou-se pela redução gradual da medicação, mas com a suspensão do inibidor da anidrase carbônica. Na semana seguinte os padrões oculares se mantiveram em ambos os olhos (AO), porém com redução nos PK para +/4+. Destituiu-se o tratamento. O paciente permaneceu por um ano e meio sem crises, quando em 2000 tornou a apresentar nova crise. O tratamento instituído foi idêntico ao da primeira crise, somando-se o uso de acetazolamida, 500mg/dia, VO.(1,4-8,12) A evolução foi favorável, sendo retirados, gradualmente, os medicamentos. Após isso, passou a apresentar 2 a 3 episódios por ano de crise glaucomatociclítica em OD. Comparecia às consultas durante as crises, com queixas de hiperemia ocular, visão embaçada, halo nas luzes, desconforto ocu- 271 Figura 1: Olho direito : discreta atrofia de íris e edema de córnea devido ao aumento da pressão intra-ocular; Fotografia do paciente em crise. Cortesia dos arquivos da Clínica de Olhos Santa Lucia - Cruz Alta - RS lar (sic). Chegou a apresentar, em algumas crises, níveis pressóricos de 44 mm Hg em OD, enquanto no OE, manteve-se assintomático e com PIO média de 10 mm Hg. Quando instalada a crise, o tratamento com AINE, cicloplégico leve e hipotensor ocular demonstrou sempre ser efetivo. Foram realizados exames de campo visual computadorizado que se mantiveram normais no decorrer da evolução do paciente. Em abril de 2007, o paciente procurou atendimento com OE normal, apresentando PIO de 10 mm Hg (11:00 h) e acuidade visual (AV) de 20/20, enquanto OD apresentava hiperemia bulbar +++/4+, Fundus Ocular impossível, PK +++/4+, edema de córnea +++/4+, PIO de 43 mm Hg (11:00 h) e AV de 20/200. Na ocasião, foi instituído novamente o tratamento com latanoprost 50 mcg, às 21 horas, cloridrato de dorzolamida tópico de 12/12 horas, e cetorolaco de trometamina, 0,4% 5x/dia(1,4-8,12) e tropicamida 0,1% 3x/ dia, porém sem remissão de sintomas. Sugeriu-se a infiltração subconjuntival de corticóide, mas após acompanhamento seriado por duas semanas, não se observou baixa da PIO no OD, aquém da média de 38 mm Hg. Foi sugerida cirurgia filtrante, considerando-se a evolução de todas as crises, objetivando a manutenção da visão do paciente. O procedimento de eleição foi a trabeculectomia, sendo administrado o seguinte tratamento no pós-operatório: cloridrato de moxifloxacino 0,5% 5x/dia, cicloplégico colírio 3x/dia e acetato de prednisolona 1,0% 4x/dia.(14) Na primeira semana após a cirurgia, o OD apresentou-se com câmara anterior preservada, sem sinais inflamatórios, edema de córnea discreto e PIO de 16 mm Hg (10:30 h). O antiinflamatório esteróide foi então Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 272 Silveira CG, Oliveira PRP, Silveira RM substituído por AINE tópico (diclofenaco sódico 0,1%, 3x/dia), embora haja a sugestão para a manutenção desse medicamento por tempo mais prolongado. Manteve-se acompanhamento sequencial semanal, e o pós-operatório de 30 dias apresentou olho sem sinais inflamatórios, edema de córnea no terço inferior leve e AV corrigida para 20/25. A conduta sugerida manteve o AINE colírio, sendo gradualmente retirado. Em novembro de 2007, o paciente retornou à consulta com queixa de “névoa” em OD. Ao exame apresentava discreta irite, PIO do OD de 12 mm Hg (10:00 h) e PIO do OE de 10 mm Hg (10:00 h). Foi prescrito novamente o mesmo AINE em doses decrescentes. Em sua última consulta, em fevereiro de 2008, apresentou ambos os olhos dentro da normalidade, com PIO OD de 13 mm Hg e PIO OE de 11mm Hg, sem uso de medicação. Caso 2 A.D.B., 22 anos, sexo masculino, branco, solteiro, estudante, procedente de Santo Ângelo-RS. No início de 2007, paciente procurou atendimento para saber se possuía o mesmo diagnóstico que o seu pai (Caso 1). Estava acompanhando com oftalmologista de sua cidade. Referiu seis crises de aumento da PIO em olho esquerdo (sic), com a última medida de 42 mmHg em OE, com OD normal na ocasião da consulta anterior (sic). Usou na última crise, que se encerrou há alguns dias da data desta consulta, dexametasona 0,1% tópico, atropina tópica 0,5% 3x/dia, maleato de timolol 0,25% tópico, 2x/dia, sob indicação do médico de origem. Possui história familiar de síndrome de PosnerSchlossman confirmada em genitor do sexo masculino (Caso 1). Ao exame inicial, apresentou ambos os olhos sem sinais inflamatórios, e segmento anterior normal, à exceção de anisocoria discreta, com midríase média reagente em OE, e OD sem alterações. À fundoscopia, foi observada escavação papilar grau I/IV em OD e grau II/IV em OE. Não apresentava ametropias dignas de nota. No exame de biomicroscopia não apresentou alterações da normalidade. Apresentava-se com PIO de OD 14 mm Hg e PIO de OE de 20 mmHg (15:00 h), por tonometria de aplanação de Goldmann e gonioscopia normal. Considerando como hipótese plausível a SPS, paciente recebeu colírio de maleato de timolol 0,5%, 2x/ dia por um mês, e suspensão do colírio de corticoesteróide. Um mês depois, retornou ao exame apresentando PIO de OD de 14 mm Hg e PIO de OE de 12 mm Hg. Realizou-se campo visual computadorizado na ocasião, em AO, não apresentando alterações campimétricas significativas. Sugeriu-se reencaminhamento ao seu oftalmolo- Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 gista original, com sugestão diagnóstica de SPS em OE, e com orientação para abstenção do uso de corticoesteróide tópico crônico, para se evitarem complicações decorrentes de seu uso a longo prazo. Caso 3 P.R., 43, masculino, branco, casado, comerciante, procedente de Ibirubá - RS. Em 2001, paciente procurou atendimento na C.O.S.L de Cruz Alta - RS relatando “glaucoma em OD, há 10 anos”, tendo passado por várias avaliações oftalmológicas anteriores (sic), com crises intermitentes de dor e perda de visão(sic), e “enxergando arcos de luz”. Informou o uso de colírios de acetato de fluormetolona 0,001g, acetato de prednisolona 1,2mg/ ml, pilocarpina, maleato de timolol e cloridrato de dorzolamida associados, 2x/dia. Na primeira consulta estava em uso de AINE tópico, 3x/dia. Ao exame, hiperemia bulbar em OD e anisocoria com leve midríase à direita. Ao exame de fundo de olho, encontrou-se escavação de papila grau II/IV em OD, com OE preservado. A biomicroscopia revelava flare escasso, e PK no terço inferior da córnea com opacificação cristaliniana subcortical posterior central em OD. Gonioscopia sem alterações. A AV aferida foi 20/80 e J6 em OD.O olho esquerdo, emétrope. A PIO do OD era de 36 mm Hg e 10 mm Hg a PIO do OE (11:30h), à tonometria de aplanação de Goldmann. Baseando-se nesses achados, cogitou-se possível SPS e se iniciou o tratamento tópico com tropicamida 1 %, tartarato de brimonidina 0,15%, maleato de timolol e cloridrato de dorzolamida em associação 2x/dia. Uma semana depois, em nova reavaliação, apresentou AV de 20/30 em OD. Persistia o flare mínimo e PIO do OD era de 12 mm Hg (11:00 hrs). Foi acrescentado colírio de cetorolaco de trometamina 0,5%, 2x/dia, mantendo-se os demais colírios por quatro semanas restantes. Um mês depois, sua AV sem correção no OD foi de 20/25 e J3. PIO do OD 8 mm Hg, com ausência de flare. Recebeu alta, com manutenção do colírio de tropicamida 1%, 1x/dia, por um mês. Cinco meses depois, paciente retornou com queixa de dor e “sensação de pressão no olho”, há dois dias. A AV sem correção: OD 20/40 e J5 / OE 20/25 e J1. A PIO média do OD foi de 26 mm Hg e PIO do OE 10 mm Hg. Apresentava um flare importante, +++/4. Novamente, foi instituído cetorolaco de trometamina 0,5%, 2x/dia, tropicamida 1%, 3x/dia, e maleato de timolol associado a cloridrato de dorzolamida, 2x/dia. Uma semana depois, à biomicroscopia, apresentava flare raro, PIO de Síndrome de Posner-Schlossman. Relato de três casos OD 12 mm Hg. Manteve-se a tropicamida 1% 3x/dia, por mais duas semanas, acrescido de AINE colírio 3x/ dia por uma semana. Em nova revisão, não apresentava alterações oculares, com PIO média de 8 mm Hg em ambos os olhos. Após três meses, retornou à consulta com queixas de dor “em pressão” em OD, há cerca de 24 horas. Sua AV era de 20/40 e J3 em OD. À biomicroscopia, flare importante novamente, com PIO de OD de 38 mm Hg e PIO de OE 10 mm Hg (14:00 h). Diante de outra crise, optou-se por AINE colírio (flurbiprofeno 0,03%) 5x/dia, tropicamida 1% 3x/dia, maleato de timolol associado a cloridrato de dorzolamida, 2x/dia, e tartarato de brimonidina 0,15%, 2x/dia. Dez dias depois, o paciente se mostrava assintomático, sendo então, destituído o tratamento. Mais uma vez, após dez meses apresentou novo episódio similar aos anteriores: com PK e flare brando em OD. PIO de OD 36 mm Hg e PIO de OE 12 mm Hg. Repetiu-se a terapia da última crise, por uma semana. Na revisão, após uma semana, estava com PIO de OD ainda elevada (22 mmHg). Seguiu-se, então, com acompanhamento semanal, e com o tratamento mantido. Houve, entretanto, um aumento da PIO em OD para 30 mm Hg, em uma semana após a consulta anterior. A partir disso, foi associado o uso de colírio de prostaglandina (travaprosta 0,004%) 1x à noite. Após uma semana, o paciente apresentou PIO do OD de 10 mm Hg, o olho calmo, e assintomático. Passados dois meses, apresentou novo episódio com remissão do quadro em uma semana, em resposta à última terapêutica proposta. Manteve-se estável, ao passar de um ano assintomático e sem novas recorrências de SPS. Em outubro de 2004, teve novo episódio da SPS, com PIO de OD chegando à média de 38 mm Hg, e 12 mm Hg no OE. Teve remissão dos sintomas em duas semanas de tratamento. Permaneceu, então até o ano de 2007, assintomático. A última crise glaucomatociclítica ocorreu em outubro de 2007 com o quadro sintomático idêntico ao da primeira consulta. PIO do OD de 30 mm Hg e 8 mm Hg em OE. Usou colírios de brimonidina e maleato de timolol, cetorolaco de trometamina 0,5% e tropicamida 1%, por uma semana, reapresentando olho “calmo” e PIO de OD 10 mm Hg. Mantém-se desde outubro de 2007 estável, sem recorrência dos sintomas. DISCUSSÃO Os casos relatados são uma combinação de sinais e sintomas típicos da síndrome de Posner-Schlossman, que se caracteriza por manifestações glaucomatosas e 273 ciclíticas específicas.(18,12,15) De todos os pacientes com diagnóstico de uveíte, 1.19 por cento apresentam esta síndrome.(1) Quando se classifica glaucoma secundário à uveítes, a síndrome de Posner-Schlossman é responsável por apenas 0,9 % dos casos.(16) Caracterizada por acometimento unilateral, na maioria dos casos,(1,3-6) e tipicamente em adultos masculinos na faixa etária de 20 a 50 anos ,(1-7) a doença evolui com episódios recorrentes de freqüência variada, como podemos ver aqui.(1-6) Na crise, um desconforto ocular leve é o sintoma mais frequente, seguido de discreta diminuição da AV e aparecimento de halos coloridos.(1-3) Nos casos expostos acima, encontramos tanto estes sintomas, como também os sinais de ciclíte revelados na biomicroscopia e o aumento significativo da PIO, chegando à máxima média de 44 mm Hg no paciente do Caso 1, no período dos ataques. Ainda, à biomicroscopia, observou-se midríase do olho afetado nos três casos relatados. Esse achado contraria a presença de miose que normalmente pode se fazer presente durante crises de irite, e não se formam sinéquias anteriores ou posteriores.(1-5,7) Além disso, encontramos PK concentrados no terço inferior da córnea, íris heterocrômica, flare, edema de córnea e hiperemia bulbar, os quais são típicos da doença relatada.(1-7,15) É importante destacar a ausência de sinéquias.(1-6) A gonioscopia mostrou o seio camerular aberto nos quatro quadrantes, em todos os casos.(1,4,5) A PIO do olho contralateral manteve-se sempre dentro da normalidade, independente das crises. A PIO do olho afetado, fora dos períodos de crise glaucomatociclítica, apresentou-se também dentro de valores fisiológicos. Os tratamentos instituídos se mostraram eficazes com uso de corticóide tópico e/ou AINE durante as crises para conter o processo inflamatório,(1,4-8) associados a hipotensores oculares e cicloplégico, conforme demonstra a literatura.(6,8) Porém, com a recorrência dos ataques o tratamento farmacológico mostrou-se ineficiente ao longo dos anos no paciente do Caso 1, instalando-se diminuição da AV, edema epitelial importante (+++/4+) e fundus ocular impossível. Esse quadro levou a realização da cirurgia filtrante, como sugere a bibliografia.(1,4,8) Como diagnóstico diferencial devemos considerar o glaucoma agudo primário e de uma forma mais complexa, outras formas de uveíte associadas a glaucoma, principalmente a Ciclite Heterocrômica de Fuchs. Aqui é importante mencionar que na síndrome de Posner-Schlossman a hipertensão intra-ocular ocorre em média de 1 a 2 dias antes da uveíte, podendo acontecer sem esta.(1) No glaucoma secundário à uveíte, como a nomeação sugere, o glaucoma é uma complicação da Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 274 Silveira CG, Oliveira PRP, Silveira RM Tabela 1 Características das apresentações dos casos de síndrome de Posner-Schlossman Sexo Idade HF de glaucoma Queixas Olho (s) acometido (s) PIO Máxima* Acometimento contralateral Achados ** Fundo de olho Complicações Caso 1 Caso 2 Caso 3 Masculino 44 anos Sim Hiperemia bulbar Visão embaçada Halo nas luzes OD 44 OD Íris heterocrômica, Midríase leve OD Flare raro PK Catarata inicial Edema de córnea Normal Masculino 22 anos Sim Seis crise de aumento de PIOE Perda de visão Masculino 43 anos Sim Dor e pressão no olho Duração Frequência Catarata Glaucoma de ângulo aberto 10 dias 2 a 3 crises por ano Cirurgias Evolução Trabeculectomia Irites sem HIO OE 20 OE*** Midriase média OE Olho calmo Escavação papilar: OD grau I/IV, OE grau II/IV 4 semanas - Acompanha com médico de origem Arcos nas luzes OD 38OD Hiperemia bulbar, Midríase leve OD Flare raro/importante PK Catarata inicial Edema de córnea Escavação papilar: OD grau II/IV, OE normal 7 a 21 dias 3 crises/ano remissão por 1 ano 2 crises/ano remissão por 2 anos 1 crise/ano remissão por 3 anos 2 anos assintomático * Pressão medida em mmHg por tonometria de aplanação de Goldman. ** Achados referentes ao olho afetado. Presume-se olho contralateral normal. *** Paciente vinha recebendo tratamento com hipotensores, porém referiu 42 mmHg no olho acometido. Legenda: HF de glaucoma: Historia familiar de glaucoma. PIOE: Pressão intra-ocular do olho esquerdo. PIO máxima: Pressão intraocular máxima. OD: Olho direito. OE: Olho esquerdo. PK: Precipitados retro-ceráticos. HIO: hipertensão intra-ocular. uveíte instalada e a clínica, então, difere: identifica-se a presença de sinéquias, miose e pupila irregular. A câmara anterior apresenta sinais inflamatórios caracteristicamente importantes e os PK variam em maior número na maioria dos casos, podendo ser pigmentados.(1,15) Os casos relatados trazem todas as características da síndrome de Posner-Schlossman, contudo cabe salientar que, no Caso 2, não ocorreu um pico hipertensivo intraocular marcadamente expressivo como nos demais, pois o paciente já se mantinha em tratamento no momento da consulta. No Caso 3, observa-se uma freqüência aparentemente maior de recidivas e também uma duração em seus episódios, em média, superior aos outros e à descrita na literatura, a qual sugere que cada crise cesse entre 7 e 14 dias.(1-5) Ainda se observou diminuição na freqüência das crises com o passar do tempo, com maiores períodos de remissão, concordando com a literatura.(1-5) Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 269-75 Cabe por último salientar que embora existam algumas considerações quanto ao uso de análogos de prostaglandinas em glaucoma inflamatório, lançamos mão dessa classe de droga para auxiliar a manutenção da PIO elevada e de difícil controle, uma vez que não há contra-indicação absoluta ao seu uso, e nos casos descritos obteve-se êxito com seu uso, considerando que é de suma importância atingir e manter a PIO em valores normais. Na tabela 1 é possível observar as diferenças entre os três casos. CONCLUSÃO Os pacientes descritos apresentaram quadros clínicos bem característicos de síndrome de PosnerSchlossman, permitindo sua exemplificação fidedigna. Os pacientes dos Casos 1 e 2 possuem laços de consangüinidade de primeiro grau. Ainda assim, o genitor Síndrome de Posner-Schlossman. Relato de três casos paterno (Caso 1) referiu antecedentes de glaucoma em tio e avô o que, sugere a possibilidade de uma SPS não diagnosticada no passado. A presença de SPS em seu filho (Caso 2) também nos sugere a possibilidade de linearidade genética. A SPS parece ser inicialmente autolimitada, porém, com o tempo, pode resultar em glaucoma crônico de ângulo aberto e em conseqüente perda permanente da AV. Portanto, a importância do diagnóstico correto reflete no estabelecimento do tratamento efetivo. Contudo o fato de ser uma patologia rara, autolimitada e de etiologia incerta, dificulta a elaboração de um estudo de acompanhamento dos efeitos das drogas na doença.(17) Assim nos vale o cuidado imperativo com o uso de glicocorticóides tópicos na síndrome, sendo eles responsáveis por possíveis iatrogenias, como as descritas anteriormente-glaucoma e catarata. Os pacientes com diganóstico de SPS podem ser tratados com colírios hipotensores, somados a um cicloplégico leve e AINE no período das crises. Embora seja difícil estabelecer um padrão terapêutico devido à raridade da doença, esses esquemas acima retratados são suficientes, como podemos ver. Guarda-se o procedimento cirúrgico para casos seletos e refratários ao tratamento proposto. ABSTRACT Posner-Scholssman Syndrom is characterized by intermittent acute episodes of glaucoma with mild anterior uveitis. Usually, the crisis is unilateral, recurrent and typified by discreet dilation of the pupils as opposed to constricted pupils, commonly seen in iritis. Herein this article, we report three cases of male patients with PosnerSchlossman syndrome, two of them showing a significant degree of first degree parenthood. Based upon typical signs and symptoms, and careful eye examination, thereby discussed and analyzed, it is possible to diagnose the glaucomatocyclitic crisis. The rare occurrence of the disease justifies the importance of an accurate diagnosis for a proper management in order to avoid unnecessary surgery or secondary diseases by diagnostic mistakes. Keywords: Uveitis/diagnosis; Intraocular pressure; Syndrome; Glaucoma/diagnosis; Case reports REFERÊNCIAS 1. 2. Tavares ADM, Holanda AGS, Tenório A, Dantas H, Araújo Z. Síndrome de Posner-Schlossman: relato de caso. Rev Bras Oftalmol. 2000;59(12):851-5. Sellem E. Attitudes pratiques. Quand l'hypertension oculaire est unilatérale. 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ISSN 0034-7280, publicação científica da Sociedade Brasileira de Oftalmologia, se propõe a divulgar artigos que contribuam para o aperfeiçoamento e o desenvolvimento da prática, da pesquisa e do ensino da Oftalmologia e de especialidades afins. Todos os manuscritos, após aprovação pelos Editores, serão avaliados por dois ou três revisores qualificados (peer review), sendo o anonimato garantido em todo o processo de julgamento. Os comentários dos revisores serão devolvidos aos autores para modificações no texto ou justificativa de sua conservação. Somente após aprovações finais dos revisores e editores, os manuscritos serão encaminhados para publicação. O manuscrito aceito para publicação passará a ser propriedade da Revista e não poderá ser editado, total ou parcialmente, por qualquer outro meio de divulgação, sem a prévia autorização por escrito emitida pelo Editor Chefe. Os artigos que não apresentarem mérito, que contenham erros significativos de metodologia, ou não se enquadrem na política editorial da revista, serão rejeitados não cabendo recurso. Os artigos publicados na Revista Brasileira de Oftalmologia seguem os requisitos uniformes proposto pelo Comitê Internacional de Editores de Revistas Médicas, atualizado em fevereiro de 2006 e disponível no endereço eletrônico http:// www.icmje.org APRESENTAÇÃO E SUBMISSÃO DOS MANUSCRITOS O artigo enviado deverá ser acompanhado de carta assinada por todos os autores, autorizando sua publicação, declarando que o mesmo é inédito e que não foi, ou está sendo submetido à publicação em outro periódico. A esta carta devem ser anexados: • Declaração de Conflitos de Interesse, quando pertinente. 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Deve ter: Introdução, Descrição objetiva do caso, Discussão, Resumo, Descritores, Título em Inglês, Abstract e Keywords e Referências. Cartas ao Editor: Têm por objetivo comentar ou discutir trabalhos publicados na revista ou relatar pesquisas originais em andamento. Serão publicadas a critério dos Editores, com a respectiva réplica quando pertinente. Preparo do Manuscrito: A) Folha de Rosto deverá conter: • Título do artigo, em português e inglês, contendo entre dez e doze palavras, sem considerar artigos e preposições. O Título deve ser motivador e deve dar idéia dos objetivos e do conteúdo do trabalho; • Nome completo de cada autor, sem abreviaturas, porém, se o autor já possui um formato utilizado em suas publicações, deve informar à secretaria da revista; • Indicação do grau acadêmico e/ou função acadêmica e a afiliação institucional de cada autor, separadamente. Se houver mais de uma afiliação institucional, indicar apenas a mais relevante. Cargos e/ou funções administrativas não devem ser indicadas. • Indicação da Instituição onde o trabalho foi realizado; • Nome, endereço, fax e e-mail do autor correspondente; • Fontes de auxílio à pesquisa, se houver; • Declaração de inexistência de conflitos de interesse. B) Segunda folha Resumo e Descritores: Resumo, em português e inglês, com no máximo 250 palavras. Para os artigos originais, deverá ser estruturado (Objetivo, Métodos, Resultados, Conclusão), ressaltando os dados mais significativos do trabalho. Para Relatos de Caso, Revisões ou Atualizações, o resumo não deverá ser estruturado. Abaixo do resumo, especificar no mínimo cinco e no máximo dez descritores (Keywords) que definam o assunto do trabalho. Os descritores deverão ser baseados no DeCS - Descritores em Ciências da Saúde - disponível no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/ Abaixo do Resumo, indicar, para os Ensaios Clínicos, o número de registro na base de Ensaios Clínicos (http:// clinicaltrials.gov)* C) Texto Deverá obedecer rigorosamente a estrutura para cada categoria de manuscrito. Em todas as categorias de manuscrito, a citação dos autores no texto deverá ser numérica e seqüencial, utilizando al 277 garismos arábicos entre parênteses e sobrescritos. As citações no texto deverão ser numeradas seqüencialmente em números arábicos sobrepostos, devendo evitar a citação nominal dos autores. Introdução: Deve ser breve, conter e explicar os objetivos e o motivo do trabalho. Métodos: Deve conter informação suficiente para saberse o que foi feito e como foi feito. A descrição deve ser clara e suficiente para que outro pesquisador possa reproduzir ou dar continuidade ao estudo. Descrever a metodologia estatística empregada com detalhes suficientes para permitir que qualquer leitor com razoável conhecimento sobre o tema e o acesso aos dados originais possa verificar os resultados apresentados. Evitar o uso de termos imprecisos tais como: aleatório, normal, significativo, importante, aceitável, sem definilos. Os resultados da pesquisa devem ser relatados neste capítulo em seqüência lógica e de maneira concisa. Informação sobre o manejo da dor pós-operatório, tanto em humanos como em animais, deve ser relatada no texto (Resolução nº 196/96, do Ministério da Saúde e Normas Internacionais de Proteção aos Animais). Resultados: Sempre que possível devem ser apresentados em Tabelas, Gráficos ou Figuras. Discussão: Todos os resultados do trabalho devem ser discutidos e comparados com a literatura pertinente. Conclusão: Devem ser baseadas nos resultados obtidos. Agradecimentos: Devem ser incluídos colaborações de pessoas, instituições ou agradecimento por apoio financeiro, auxílios técnicos, que mereçam reconhecimento, mas não justificam a inclusão como autor. Referências: Devem ser atualizadas contendo, preferencialmente, os trabalhos mais relevantes publicados, nos últimos cinco anos, sobre o tema. Não deve conter trabalhos não referidos no texto. Quando pertinente, é recomendável incluir trabalhos publicados na RBO. As referências deverão ser numeradas consecutivamente, na ordem em que são mencionadas no texto e identificadas com algarismos arábicos. A apresentação deverá seguir o formato denominado “Vancouver Style” , conforme modelos abaixo. Os títulos dos periódicos deverão ser abreviados de acordo com o estilo apresentado pela National Library of Medicine, disponível na “List of Journal Indexed in Index medicus” no endereço eletrônico: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/entrez/ query.fcgi?db=journals Para todas as referências, citar todos os autores até seis. Quando em número maior, citar os seis primeiros autores seguidos da expressão et al. Artigos de Periódicos: Dahle N, Werner L, Fry L, Mamalis N. Localized, central optic snowflake degeneration of a polymethyl methacrylate intraocular lens: clinical report with pathological correlation. Arch Ophthalmol. 2006;124(9):1350-3. Arnarsson A, Sverrisson T, Stefansson E, Sigurdsson H, Sasaki H, Sasaki K, et al. Risk factors for five-year incident agerelated macular degeneration: the Reykjavik Eye Study. Am J Ophthalmol. 2006;142(3):419-28. Livros: Yamane R. Semiologia ocular. 2a ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Dissertações e Teses: Cronemberger S. Contribuição para o estudo de alguns aspectos da aniridia [tese]. São Paulo: Universidade Federal de São Paulo; 1990. Publicações eletrônicas: Herzog Neto G, Curi RLN. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev Bras Oftalmol [periódico na Internet]. 2003 [citado 2006 Jul 22];62(1):[cerca de 5p.]. Disponível em: www.sboportal.org.br Tabelas e Figuras: A apresentação desse material deve ser em preto e branco, em folhas separadas, com legendas e respectivas numerações impressas ao pé de cada ilustração. No verso de cada figura e tabela deve estar anotado o nome do manuscrito e dos autores. Todas as tabelas e figuras também devem ser enviadas em arquivo digital, as primeiras preferencialmente em arquivos Microsoft Word(r)e as demais em arquivos Microsoft Excel(r), Tiff ou JPG. As grandezas, unidades e símbolos utilizados nas tabelas devem obedecer a nomenclatura nacional. Fotografias de cirurgia e de biópsias onde foram utilizadas colorações e técnicas especiais, serão consideradas para impressão colorida, sendo o custo adicional de responsabilidade dos autores. Legendas: Imprimir as legendas usando espaço duplo, acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotografias e ilustrações) e tabelas. Cada legenda deve ser numerada em algarismos arábicos, correspondendo as suas citações no texto. Abreviaturas e Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando citadas pela primeira vez no texto ou nas legendas das tabelas e figuras. Se as ilustrações já tiverem sido publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência onde foi publicada. O texto deve ser impresso em computador, em espaço duplo, papel branco, no formato 210mm x 297mm ou A4, em páginas separadas e numeradas, com margens de 3cm e com letras de tamanho que facilite a leitura (recomendamos as de nº 14). O original deve ser encaminhado em uma via, acompanhado de CD ou disquete 3,5", com versão do manuscrito, com respectivas ilustrações, digitado no programa “Word for Windows 6.0. A Revista Brasileira de Oftalmologia reserva o direito de não aceitar para avaliação os artigos que não preencham os critérios acima formulados. * Nota importante: A “Revista Brasileira de Oftalmologia” em apoio às políticas para registro de ensaios clínicos da Organização Mundial de Saúde (OMS) e do Intemational Committee of Medical Joumal Editors (ICMJE), reconhecendo a importância dessas iniciativas para o registro e divulgação internacional de informação sobre estudos clínicos, em acesso somente aceitará para publicação, a partir de 2008, os artigos de pesquisas clínicas que tenham recebido um número de identificação em um dos Registros de Ensaios Clínicos validados pelos critérios estabelecidos pela OMS e ICMJE, disponível no endereço: http://clinicaltrials.gov ou no site do Pubmed, no item <ClinicalTrials.gov>. O número de identificação deverá ser registrado abaixo do resumo. Os trabalhos deverão ser enviados à Capítulos de Livro: Oréfice F, Boratto LM. Biomicroscopia. In: Yamane R. Semiologia ocular. 2ª ed. Rio de Janeiro: Cultura Médica; 2003. Revista Brasileira de Oftalmologia Rua São Salvador, 107 - Laranjeiras CEP 22231-170 - Rio de Janeiro - RJ Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 276-8 278 Revista Brasileira de Oftalmologia Declaração dos Autores (É necessária a assinatura de todos os autores) Em consideração ao fato de que a Sociedade Brasileira de Oftalmologia está interessada em editar o manuscrito a ela encaminhado pelo(s) o(s) autor(es) abaixo subscrito(s), transfere(m) a partir da presente data todos os direitos autorais para a Sociedade Brasileira de Oftalmologia em caso de publicação pela Revista Brasileira de Oftalmologia do manuscrito............................................................. . Os direitos autorais compreendem qualquer e todas as formas de publicação, tais como na mídia eletrônica, por exemplo. O(s) autor (es) declara (m) que o manuscrito não contém, até onde é de conhecimento do(s) mesmo(s), nenhum material difamatório ou ilegal, que infrinja a legislação brasileira de direitos autorais. Certificam que, dentro da área de especialidade, participaram cientemente deste estudo para assumir a responsabilidade por ele e aceitar suas conclusões. Certificam que, com a presente carta, descartam qualquer possível conflito financeiro ou de interesse que possa ter com o assunto tratado nesse manuscrito. Título do Manuscrito___________________________________________________________________________ Nome dos Autores_______________________________________________________________________________ _____________________________________________________________________________________________ Minha assinatura abaixo indica minha total concordância com as três declarações acima. Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor____________________________________________________________ Data____________Assinatura do Autor_____________________________________________________________ Rev Bras Oftalmol. 2010; 69 (4): 276-8