0 Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática Área de Concentração: Ensino de Biologia UNIDADES DIDÁTICAS: uma proposta metodológica humanista sobre alimentação e saúde no ensino fundamental LUZIMAR CÉLIA DE SOUZA Belo Horizonte 2009 1 LUZIMAR CÉLIA DE SOUZA UNIDADES DIDÁTICAS: uma proposta metodológica humanista sobre alimentação e saúde no ensino fundamental Dissertação apresentada ao Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Ensino de Ciências e Matemática. Orientadora: Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves Co-Orientadora: Profa. Dra. Lídia Maria L. P. R. de Oliveira Belo Horizonte 2009 2 FICHA CATALOGRÁFICA Elaborada pela Biblioteca da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Souza, Luzimar Célia de S729u Unidades didáticas: uma proposta metodológica humanista sobre alimentação e saúde no ensino fundamental./ Luzimar Célia de Souza. Belo Horizonte, 2009. 83f. : il. Orientadora: Andrea Carla Leite Chaves Co-Orientadora: Lídia Maria L. P. R. de Oliveira Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática. 1. Educação nutricional. 2. Didática. 3. Ensino fundamental. 4. Ciências – Estudo e ensino. I. Chaves, Andrea Carla Leite. II. Oliveira, Lídia Maria L.P.R. de. III. Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais. Programa de PósGraduação em Ensino de Ciências e Matemática. IV. Título. CDU: 612.39 3 Dedico o meu trabalho, primeiramente a Deus por ser o maestro da vida. Aos meus pais, irmãos, e sobrinhas por sempre acreditarem na minha capacidade. A minha afilhada Marielly e a minha amiga Luciana Sabino. 4 AGRADECIMENTOS Agradeço a todos aqueles que contribuíram para a realização deste trabalho, em especial... À Profa. Dra. Andréa Carla Leite Chaves, pela orientação, amizade e competência profissional na elaboração deste trabalho, compartilhando o seu saber no sentido de ampliar meus horizontes sobre a pesquisa em Ensino de Ciências. À querida Profa. Dra. Lídia Maria L. P. R. Oliveira pelos conselhos e sugestões carinhosamente dialogados durante a concretização deste estudo, e pela competente co-orientação. À querida Profa. Dra. Agnela da Silva Giusta, pela orientação durante o curso do mestrado e por apontar os caminhos que me levaram à concretização de um sonho, pela competência, paciência, compromisso, liberdade e incondicional acesso e amizade, meus eternos agradecimentos. À Ângela Rocha, secretária do mestrado em Ensino de Ciências e Matemática, pelo carinho e atenções dadas. Aos colegas e amigos de mestrado: Adriana, Alessandro, Alexandra, Édila, Elaine, Fábio, Márcia, Marilene, Natália, Raphael, Sandra, Santher e Sebastião, que sempre estiveram somando conhecimentos e favorecendo o meu crescimento pessoal e profissional. Aos meus pais, aos quais faço da minha conquista um instrumento de gratidão e reconhecimento por tudo que recebi deles. Aos meus irmãos, Luzimary, Washington e Sheila, pelo apoio, incentivo e compreensão na minha constante ausência. As minhas sobrinhas Stéphane, Larissa, Brenda, Anna Clara, Lara e Luanna, pelo carinho e alegria que me proporcionaram nos momentos mais difíceis. Aos amigos e colegas de trabalho do CTPM, E.E. Israel Pinheiro e ETFG-SEBRAE, pelo incentivo, trocas e ajuda em diferentes ocasiões ao longo deste período. À direção e funcionários do CTPM- GV, e a todos os alunos que participaram da seqüência didática e responderam os questionários, propiciando os dados necessários para esta dissertação. As professoras Ednésia, Edith e Sueli do CTPM, que participaram e contribuíram para a realização deste trabalho. Aos amigos Liege e José Aragão, pela amizade, acolhimento e por todo o apoio e incentivo nos momentos necessários. À nutricionista Patrícia Tarbes pelo apoio, amizade e participação em etapas deste trabalho com sugestões valiosas nas atividades realizadas com os alunos. 5 Às queridas amigas Adalgisa, Beth e Karine por dividirem comigo momentos deste trabalho e da vida. Enfim, a todos os que, de uma forma ou de outra, diretamente ou indiretamente, contribuíram para que este trabalho se realizasse. 6 “De tudo ficaram três coisas: a certeza de que estava sempre começando, a certeza de que era preciso continuar e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo, fazer da queda, um passo de dança, do medo, uma escada, do sonho, uma ponte, da procura, um encontro.” (Fernando Pessoa) 7 RESUMO Este trabalho apresenta um conjunto de Unidades Didáticas sobre o tema Alimentação e Saúde com o propósito de mudar a abordagem do conteúdo Nutrição, estudado no 8º ano do ensino fundamental, de modo a levar os alunos a fazerem questionamentos, pesquisas pessoais e a desenvolverem um olhar crítico no que se refere à aquisição de hábitos alimentares saudáveis e à melhoria da qualidade de vida. Para a elaboração das referidas Unidades Didáticas, foi construída uma seqüência de passos a serem seguidos, a partir dos conhecimentos sobre alimentos e práticas alimentares dos alunos do Colégio Tiradentes da Polícia Militar de Governador Valadares-MG (CTPM), obtidos por meio da investigação sobre o que eles dominavam, previamente, a respeito do tema. A sequência didática, elaborada a partir de um modelo proposto por Zabala (1998) e com base no referencial teórico de Max Horkheimer (2002) e Carlos Nelson Coutinho (1972), configurou-se no produto educacional desta dissertação. As unidades didáticas consistem de atividades intra e extra-classes com o objetivo de desenvolver, nos alunos, conteúdos conceituais, procedimentais e atitudes críticas sobre os alimentos disponíveis para o consumo. Após a elaboração das mesmas, passamos à fase da testagem, quando ficou evidenciada a importância para o processo ensinoaprendizagem dos assuntos abordados por meio dessa estratégia de ensino. Após o desenvolvimento das unidades didáticas, observamos uma mudança de comportamento dos alunos em relação aos hábitos alimentares e um aumento do consumo de alimentos saudáveis no ambiente escolar. Finalmente, foi consolidado um caderno com as Unidades Didáticas em sua versão final, intitulado “Alimentação e Saúde”, apresentado, também, sob a forma de CD-Rom, destinado aos professores que tratam do tema em foco. Palavras-chave: Educação nutricional. Unidades didáticas. Ensino de Ciências. 8 ABSTRACT This work presents a set of Didactic Units on the subject Feeding and Health with the intention to change the boarding of the content Nutrition, studied in 8º year of basic education, in order to take the personal pupils to make questionings, research and to develop a critical look as the acquisition of healthful alimentary habits and to the improvement of the quality of life. For the elaboration of the related Didactic, Units a sequence of steps was constructed to be followed, from the knowledge on alimentary practical foods of the CTPM, students _ Tiradentes High School of the Military Policy of Governador Valadares, MG, gotten by means of the inquiry on what they dominated, previously, regarding the subject. The didactic series , elaborated from a model considered for Zabala (1998) and on the basis of the theoretical referencial of Max Horkheimer (2002) and Carlos Nelson Coutinho (1972), has configured in the educational product of this dissertation . The didactic units consist of activities intra and extra-classroom with the objective to develop, in the pupils, conceptual content, procedural and critical attitudes on available foods for the consumption. After the elaboration of the same ones, we pass to the phase of the tests, when it was evidenced the importance for the process teach-learning of the boarded subjects by means of this strategy of education . After the development of the didactic units we observe a change of behavior of the pupils in relation to the alimentary habits and an increase of the healthful food consumption in the pertaining to school environment. Finally, a notebook with the Didactic Units in its final version was consolidated, intitled “Feeding and Health”, presented, also under the form of CD-ROM, destined to the teachers who deal with the subject in focus. Keywords : Nutritional Education. Didactic Units. Education of Science. 9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Alunos do Colégio Tiradentes da Polícia Militar respondendo o questionário durante o desenvolvimento da pesquisa. .............................. 30 Figura 2: Mandala organizada por alunos do 8º ano do Colégio Tiradentes da Polícia Militar – GV – Feira de Cultura, novembro, 2008...................... 53 Figura 3: Alunos do 8º ano do ensino fundamental do CTPM durante o estudo e resolução de questões do paradidático “Alimentos em pratos limpos”. .... 59 Figura 4: Alunos do 8º ano, ensino fundamental, CTPM recebendo instruções da Professora pesquisadora referente a visita ao supermercado Araújo de Gov. Valadares Novembro 2008 .............................................................. 61 Figura 5: Alunos do 8º ano, ensino fundamental, CTPM durante a visita ao Supermercado Araújo de Governador Valadares- Novembro 2008 .......... 62 Figura 6: Exemplo de rótulo de alimento. ................................................................. 63 Figura 7: Exemplo de tabela de produtos escolhidos no supermercado por alunos do 8º ano do ensino fundamental do CTPM. ............................................. 64 Figura 8: Exercício de verificação de aprendizagem sobre aditivos alimentares realizados por alunos do 8º ano do CTPM. .............................................. 65 Figura 9: Propaganda de alimentos elaborada por alunos da 8º ano A do CTPM de Governador Valadares. ........................................................................ 69 Figura 10: Propaganda de alimentos elaborada por alunos da 8º ano B do CTPM de Governador Valadares. ...................................................................... 70 10 LISTA DE TABELA Tabela 1: Conhecimentos dos alunos do CTPM sobre Alimentação Saudável e Qualidade de Vida .................................................................................. 32 Tabela 2: Abordagem do tema “Alimentação e Nutrição” no CTPM ......................... 34 Tabela 3: Freqüência Alimentar e de Ingestão de Água dos Alunos do CTPM ........ 37 Tabela 4: Atitudes dos alunos do CTPM em relação ao consumo e aquisição de alimentos .................................................................................................. 42 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 1- CTPM: Colégio Tiradentes da Polícia Militar 2- CD: Compacto Disco 3- PCN: Parâmetros Curriculares Nacionais 4- MG: Minas Gerais 5- IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 6- SMED: Secretaria Municipal de Educação 7- PMMG: Polícia Militar de Minas Gerais 8- OMS: Organização Mundial de Saúde 9- GV: Governador Valadares 12 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 13 2 REFERENCIAL TEÓRICO.................................................................................... 17 3 CONHECIMENTO SOBRE ALIMENTO E PRÁTICAS ALIMENTARES DE ALUNOS ADOLESCENTES DO COLÉGIO TIRADENTES DA POLÍCIA MILITAR DE GOVERNADOR VALADARES-MG ................................................. 25 3.1 Justificativa e objetivo ........................................................................................ 25 3.2 Metodologia ........................................................................................................ 27 3.2.1 Cenário da Pesquisa ....................................................................................... 27 3.2.2 Instrumento da pesquisa ................................................................................. 29 3.2.3 Organização e análise dos dados ................................................................... 30 3.3 Resultados e discussão...................................................................................... 30 3.3.1 O conhecimento dos alunos do CTPM sobre alimentação saudável e qualidade de vida ............................................................................................ 31 3.3.2 Abordagem do tema “Alimentação e Nutrição” no CTPM................................ 33 3.3.3 Análise da freqüência alimentar dos alunos do CTPM ................................... 36 3.3.4 Atitudes dos alunos do CTPM em relação ao consumo e aquisição dos alimentos ......................................................................................................... 41 3.4 Considerações sobre os resultados apresentados............................................. 43 4 ELABORAÇÃO E TESTAGEM DAS UNIDADES DIDÁTICAS ............................ 45 4.1 Seqüência Didática como Metodologia de Ensino ............................................. 45 4.2 Elaboração da Sequência didática ................................................................... 47 4.3 Organização da Sequência Didática ............................................................... 48 4.4 Testagem das Unidades didáticas .................................................................... 49 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 74 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 76 APÊNDICE ................................................................................................................ 81 13 1 INTRODUÇÃO A situação alimentar e nutricional das crianças e adolescentes no Brasil é marcada por duas características, a princípio contraditórias: de um lado a permanência da desnutrição e anemias, e, de outro, a tendência cada vez maior de casos de sobrepeso e obesidade em uma considerável parcela da população. Outro conjunto de questões subjacentes aos hábitos alimentares relaciona-se às maneiras de se alimentar, ou ao como se come aquilo que se come (MIELNICZUK, 2005). Para Fischler (1995), as práticas alimentares obedecem as orientações culturais, sociais, biológicas e econômicas. No entanto, o autor reconhece que ainda hoje não se sabe, ao certo, como se formam os hábitos alimentares ou a que instâncias estão mais submetidos. Por este motivo, propõe uma metodologia de estudo para o fenômeno alimentar que procure integrar as dimensões sociais, normalmente marcadas pelo signo da arbitrariedade cultural, às dimensões biológicas, explicadas a partir da melhor adaptação ao meio em seu sentido funcional (Fischler apud Douglas, 1976). Tomando por base o que afirmam os autores acima, justifica-se que a promoção da saúde no ambiente escolar venha sendo fortemente recomendada por órgãos internacionais, principalmente porque as crianças maiores de cinco anos se encontram, com freqüência, excluídas das prioridades estratégicas das políticas oficiais de saúde, apesar de serem biológica, nutricional e socialmente suscetíveis. Entende-se que o ensino sobre nutrição seja fundamental na promoção de saúde, que deva ter lugar na escola, e, por isso, a educação nutricional não pode deixar de compor, criticamente, um plano nacional oficial de ensino (BIZZO; LEDER, 2005). A educação nutricional como conteúdo escolar visa ampliar, aprofundar e modificar as condutas dos alunos diante de questões de saúde alimentar, na busca de propiciar-lhes conhecimentos que os conduzam a posturas críticas e hábitos alimentares saudáveis. Neste sentido, é preciso dispor de elementos para elaboração e execução de propostas educativas condizentes com as realidades problemáticas desses alunos, decorrentes de suas condições econômicas e da má conduta alimentar da população. A tomada de consciência das questões aqui em destaque é objeto de atenção especial junto aos temas transversais Saúde e Meio Ambiente, sugeridos nos PCN, 14 levando-se em conta as demandas individuais e as possibilidades coletivas de obter alimentos. Interpretamos que essa seja uma medida para contrabalançar a força da mídia, que tem se incumbido de veicular propagandas de alimentos apenas com o objetivo comercial de ditar diferentes hábitos de consumo. Portanto, é papel da escola formar alunos com conhecimentos e capacidades que os tornem aptos a discriminar informações, identificar valores agregados a essas informações e realizar escolhas no que diz respeito ao assunto (BRASIL, 2000, p. 47). Ao desempenhar o papel citado, a escola possibilita ao aluno formar sua própria opinião e desenvolver atitudes críticas que o tornem consumidor atento no que se refere à composição química, à propaganda, às datas de validade, ao estado de conservação dos produtos alimentícios e às possibilidades alternativas de consumo de alimentos menos descaracterizados e mais saudáveis (BRASIL, 1998, p. 74). A educação nutricional inserida no programa da disciplina Ciências para o ensino fundamental deve ter como finalidade, conforme proposto por Boog: Possibilitar ao ser humano assumir com plena consciência a responsabilidade pelos seus atos relacionados à alimentação. O educador em nutrição deve fortalecer os educandos (alunos, clientes, pacientes, coletividade, comunidade) para que eles passem a agir em relação aos alimentos e à alimentação de forma a prescindir, cada dia mais, das intervenções profissionais. A educação nutricional não é uma ferramenta mágica para levar o educando a obedecer a dieta, pelo contrário, ela deve ser conscientizadora e libertadora, por isso deve buscar justamente o oposto: a autonomia do educando. (BOOG, 1997, p.17). Diante dos argumentos apresentados, torna-se claro que embora não se espere do professor o papel de especialista ou dirigente, a ele compete, necessariamente, assumir o lugar de capacitador ou de facilitador na educação nutricional. Para isso, é preciso que ele saiba manejar uma ampla variedade de estratégias de ensino e situações de aprendizagem, coordenar recursos, facilitar discussões e promover a aprendizagem de um acervo substancial de experiências possíveis (PELICIONI; TORRES, 1999). Durante minha caminhada docente no ensino fundamental e no ensino médio, foi possível constatar, em escolas públicas e particulares da cidade de Governador Valadares-MG, a partir de experiências com acadêmicos, desenvolvimento de projetos de extensão e de estágios curriculares que envolviam o tema alimentação e saúde, a necessidade de desenvolver propostas para inserir, na formação do educando, novos conhecimentos relacionados aos hábitos alimentares, à escolha 15 correta dos alimentos e às atitudes críticas como consumidores. Isso me motivou a elaborar um trabalho de final de curso no Mestrado em Ensino de Ciências e Matemática visando ao desenvolvimento de atividades educativas em nutrição que venham enriquecer e facilitar o processo de ensino-aprendizagem dos alunos do 8º ano do ensino fundamental sobre o tema. O produto desta dissertação consiste em um conjunto de unidades didáticas com atividades intra e extraclasses, com recursos pedagógicos que potencializem a construção de interrelações do conhecimento científico com o cotidiano desses alunos. Este trabalho foi, então, iniciado com a investigação e análise das necessidades, dificuldades e possibilidades de conhecimento sobre alimentos e práticas alimentares dos sujeitos da pesquisa, isto é, alunos do oitavo ano do ensino fundamental do Colégio Tiradentes da Policia Militar de Governador Valadares – MG. Tal ano escolar tem como um de seus objetivos a abordagem conceitual dos alimentos, estimulando o aluno, por meio do conhecimento científico, a desenvolver o pensamento lógico e o espírito crítico utilizados para identificar problemas, formular perguntas e hipóteses e fazer suas escolhas, de modo a contribuir para a melhoria das condições ambientais, da saúde e das condições gerais da própria vida e da sociedade. Sendo a adolescência uma fase importante para aprendizagem dos princípios da alimentação adequada, que poderão conduzir a uma vida mais saudável, os dados da investigação em pauta foram fundamentais para nortear a elaboração das unidades didáticas propostas como material didático de apoio sobre a temática Alimentação e Saúde. Este material será apresentado separado desta dissertação, na versão impressa e digital (CD-Rom). Embora voltado para a aprendizagem do público-alvo estabelecido, ele poderá ser adaptado e utilizado por professores como recurso didático de apoio ao desenvolvimento do tema alimentação. Desta forma, pretendeu-se ampliar a conscientização dos escolares para a tomada de decisões quanto ao consumo de alimentos e sua relação com a saúde e o bem-estar. Intencionou-se despertar nos alunos curiosidades e questionamentos, que proporcionarão análise reflexiva de questões sociais sobre a importância da alimentação e sua interferência na vida e no meio ambiente. Em resumo, os objetivos específicos deste trabalho são: a) identificar conhecimentos, dificuldades e necessidades dos alunos sobre o tema; 16 b) responder às necessidades constatadas e incorporar novas possibilidades, produzindo um material pedagógico condensado em um CD, ou seja, uma série de unidades didáticas com atividades contextualizadas na realidade dos sujeitos da pesquisa; c) testar o material educativo produzido e analisar dados de sua aplicação. Para alcançar o que se pretende, esta dissertação está organizada em cinco capítulos: o primeiro corresponde a esta introdução; o segundo traz o referencial teórico adotado, sendo importante para a fundamentação e estruturação do tema abordado na dissertação; o terceiro apresenta os conhecimentos sobre alimentos e práticas alimentares dos alunos do CTPM obtidos por meio da investigação sobre o que eles sabem acerca do tema; o quarto descreve o processo de elaboração do produto educacional – um conjunto de unidades didáticas sobre “Alimentação e Saúde” - e relata a experiência referente à sua aplicação; encerrando o trabalho, apresentam-se as considerações finais. 17 2 REFERENCIAL TEÓRICO Esta dissertação pretende ampliar a conscientização dos escolares para a tomada de decisões quanto ao consumo de alimentos e sua relação com a saúde e o bem-estar, tornando-se necessária a reflexão crítica acerca da ciência fundada na razão instrumental e sua relação com a sociedade capitalista, a fim de se dar consistência à estruturação das unidades didáticas em que este trabalho se constitui. Coutinho (1972) localiza duas fases marcantes na história da razão burguesa na produção de conhecimento no percurso da modernidade. A primeira, que compreende desde os pensadores renascentista até Hegel, é caracterizada por um movimento progressista, ascendente, orientado no sentido da elaboração de uma racionalidade humanista, historicista e dialética. Já a segunda, formatada a partir do período de 1830 -1848, faz um movimento inverso: entra em progressiva decadência ao afastar-se das conquistas do período anterior, em especial do humanismo, do historicismo e da razão dialética, assim resumidas pelo autor citado: [...] o humanismo, teoria de que o homem é um produto da sua própria atividade, de sua história coletiva; o historicismo concreto, ou seja, a afirmação do caráter ontologicamente histórico da realidade, com a conseqüente defesa do progresso e do melhoramento da espécie humana; e, finalmente, a razão dialética, em seu duplo aspecto, isto é, o de uma racionalidade objetiva imanente ao desenvolvimento da realidade (que se apresenta sob a forma da unidade dos contrários), e aquele das categorias capazes de apreender subjetivamente essa racionalidade objetiva, categorias que englobam, superando as provenientes do “saber imediato” (intuição) e do “entendimento” (intelecto analítico)” (COUTINHO,1972,p.14). É inegável que o capitalismo, inicialmente, operou extraordinária revolução na história da humanidade no plano socioeconômico, político e cultural. Entretanto, embora a burguesia fosse, na época, uma classe progressista, acaba fundando objetivamente um regime de exploração e torna-se limitada pelas formas de divisão do trabalho que o modo de produção capitalista introduz na vida social. A partir de 1830, a filosofia burguesa clássica começa a se enfraquecer e é, praticamente, derrotada, sendo suas categorias básicas submetidas a um movimento que inverte todos os fatores do progresso ao transformá-los em fonte do aumento cada vez maior da alienação humana. A razão, como meio de 18 conhecimento, passa a ser relegada a um plano inferior e limitada a esferas menos significativas da realidade. Aqui, cabe citar Horkheimer, que expõe a perda ocorrida nessa transformação, afirmando que: [...] durante longo tempo predominou uma visão diametralmente oposta do que fosse a razão. Esta concepção afirmava a existência da razão não só como uma força da mente individual, mas também do mundo objetivo: nas relações entre os seres humanos e entre classes sociais, nas instituições sociais, e na natureza e suas manifestações. Os grandes sistemas filosóficos, tais como os de Platão e Aristóteles, o escolasticismo, e o idealismo alemão, todos foram fundados sobre uma teoria objetiva da razão. Esses filósofos objetivavam desenvolver um sistema abrangente, ou uma hierarquia, de todos os seres, incluindo o homem e os seus fins. O grau de racionalidade de uma vida humana podia ser determinado segundo a sua harmonização com essa totalidade. A sua estrutura objetiva, e não apenas o homem e os seus propósitos, era o que determinava a avaliação dos pensamentos e das ações individuais. Esse conceito de razão jamais excluiu a razão subjetiva, mas simplesmente considerou-a como a expressão parcial e limitada de uma racionalidade universal, da qual se derivam os critérios de medida de todos os seres e coisas[...] (HORKHEIMER, 2002, p.10). A filosofia de Hegel representa o final e a culminância dessa trajetória progressista, cujas categorias constituem a herança valiosa dessa grande época da humanidade para o conhecimento do real. Entre o que a burguesia abandonava dessa tradição sobressaia-se a categoria da razão dialética, ou seja, do movimento essencial da história. Assim, a burguesia torna-se uma classe conservadora, reacionária. Por ser Hegel o depositário da trajetória apontada, julga-se que a dissolução do pensamento hegeliano representa não só uma ruptura no interior da filosofia burguesa, o abandono dessa trajetória, mas, e também, a necessária decadência e empobrecimento daqueles pensadores que, depois de Hegel, deixam de lado mais ou menos inteiramente o seu conceito de Razão. É ainda pelo mesmo motivo que o desenvolvimento crítico da tradição progressista, efetivado pelo marxismo, parte diretamente de Hegel e não de outro qualquer de seus predecessores. Assim, não é arbitrário afirmar que o rompimento com a tradição progressista pode ser considerado, concomitantemente, como um rompimento com o pensamento de Hegel. Ao mesmo tempo, o aprofundamento das contradições capitalistas dá lugar ao aparecimento do proletariado moderno como força política e como movimento social que tem como papel histórico superar tais contradições pela revolução socialista. 19 Apesar disso, como enfatiza Coutinho (1972), “a burguesia tinha uma exata noção do fato de que todas as armas que forjara contra o feudalismo voltavam seu gume contra ela, que todos os meios de cultura que criara rebelavam-se contra sua própria civilização, que os deuses que inventara a tinham abandonado”. Indicar a realidade como algo essencialmente contraditório passou a significar, então, fornecer armas teóricas ao movimento anticapitalista da classe operária – hoje melhor expressa como a classe-que-vive-do-trabalho1. O primeiro movimento nessa direção, teorizado por Marx e Engels, é a expressão filosófica do processo pelo qual o proletariado recolhe a bandeira abandonada pela burguesia, supera seus limites e suas contradições, elevando a racionalidade dialética a um nível superior, materialista. Dado ao fato de que as categorias do humanismo, do historicismo e da Razão dialética são os únicos instrumentos capazes de fundar cientificamente a ética e a ontologia, a tendência ideologizante da decadência da razão burguesa começa, exatamente, por romper com tais categorias. O que realmente interessa é assinalar o caráter nitidamente ideológico das novas categorias “corrigidas” que ocupam agora o primeiro plano. Em lugar do humanismo, surge ou um individualismo exacerbado que nega a socialidade do homem, ou a afirmação de que o homem é uma “coisa”, ambas as posições levando a uma negação do momento (relativamente) criador da práxis humana; em lugar do historicismo, surge uma pseudohistoricidade subjetivista e abstrata ou uma apologia da positividade, que transformam a história real (o processo do surgimento do novo) em algo “superficial” ou irracional; em lugar da Razão dialética, que afirma a cognoscibilidade da essência contraditória do real, vemos o nascimento de um irracionalismo fundado na intuição arbitrária ou um profundo agnosticismo decorrente da limitação da racionalidade as suas formas puramente intelectivas. (COUTINHO,1972, p.17). A crescente ideologização referida não é um processo proposital da burguesia. Ainda que seja necessária à sua preservação como classe dominante, o irracionalismo e o agnosticismo da ideologia nem sempre são conscientemente elaboradas a partir dos interesses imediatos de classe. Seu caráter conservador deve ser buscado na submissão de ambos aos limites impostos, na superfície da realidade, pela divisão capitalista do trabalho e por suas conseqüências sociais e culturais. O critério para avaliar a cientificidade de uma filosofia social reside no modo pelo qual ela apreende (ou ignora, ou mistifica) as categorias econômicas (categorias da produção das necessidades materiais para a vida dos homens), que 1 Expressão criada por Ricardo Antunes. Cf. ANTUNES, Ricardo. Os sentidos do trabalho. 20 constituem a modalidade fundamental da objetividade humana (COUTINHO,1972). Daí, a afirmação de Marx de que Não se deve formar a concepção estreita de que a pequena burguesia, por princípio, visa a impor um interesse de classe egoísta. Ela acredita, pelo contrário, que as condições gerais sem as quais a sociedade moderna não pode ser salva, nem evitada a luta de classes. (MARX, apud COUTINHO, p.18). O desenvolvimento dessas novas categorias, com a conseqüente alteração de toda a sistemática conceitual, não poderia ocorrer sem um exame atento da nova objetividade social posta pela economia capitalista. Por outro lado, ligadas àquele progresso técnico que o capitalismo é obrigado a promover, surgem nos países altamente capitalistas novas e originais investigações científicas, levando inclusive ao nascimento de novas ciências e tecnologias, a exemplo da cibernética e das ciências teoria da informação; mas tais investigações limitam-se a domínios particulares, cuidadosamente delimitados, sem desempenharem papel positivo na construção de uma concepção do mundo científica (no sentido abrangente). Ainda de acordo com Coutinho, o que determina essa incapacidade do pensamento burguês decadente de penetrar na essência da realidade não é tão somente uma intencionalidade de classes, uma vez que nas condições do capitalismo evoluído os traços regressivos da formação econômica burguesa começam, progressivamente, a assumir o primeiro plano. Em tais condições, a práxis humana, tende a objetivar-se contra os próprios homens, tende a tornar-se uma objetividade alienada. Marx analisou o processo ao tratar do “fetichismo da mercadoria”, mas é inegável que o movimento de fetichismo (resultado da alienação) estende-se a todas as esferas da vida humana. [...] o fetichismo da mercadoria é o exemplo mais simples e universal do modo pelo qual as formas econômicas do CAPITALISMO ocultam as relações sociais a elas subjacentes, como, por exemplo, quando o CAPITAL, como quer que seja entendido, e não a MAIS-VALIA, é tido como fonte de lucro. A simplicidade do fetichismo da mercadoria faz dele um ponto de partida e uma boa referência para a análise das relações nãoeconômicas. Sua análise esclarece uma dicotomia entre aparência e realidade ocultada (sem que a primeira seja necessariamente falsa) [...] (BOTTOMORE,1997,p.150). Um traço essencial do capitalismo consiste em impor a completa sujeição da produção às leis anárquicas do mercado, ou seja, à lógica do capital. Essa 21 mercantilização da práxis tem uma clara conseqüência sobre a consciência dos homens: a atividade deles tende a se tornar irracional e agnóstica, a converter-se na essência oculta e dissimulada de uma aparência inteiramente reificada. Todas as relações sociais entre os homens aparecem sob a forma de relações entre coisas, sob a aparência de realidades “naturais” estranhas e independentes da sua ação. Os produtos da atividade do homem social, desde a esfera da economia à da cultura, revelam-se aos indivíduos como algo inteiramente alheio à sua essência; opera-se uma cisão entre a essência (a práxis criadora) e a existência (a da vida social) dos homens. Essa vida social converte-se num objeto reificado, ”coisificado”, desumano, que não pode mais comportar nenhuma subjetividade autêntica, como assinala Horkheimer (2002), essa subjetividade, por sua vez, desliga- se de suas objetividades concretas, nas quais e por meio das quais se constitui e ganha conteúdo, transformando-se igualmente num fetiche vazio. Essa fetichização simultânea do sujeito e do objeto, paralela à ruptura dos laços imediatos entre individuo e comunidade, é a mais evidente conseqüência social da divisão capitalista do trabalho em sua fase madura. Assim, quando se atribui algum valor à “razão”, esta se refere a algumas esferas restritas da realidade, que estão a serviço da lógica do capital. A totalidade do mundo – o objeto da ontologia – aparece como dominada por uma irracionalidade que parece ser imanente. Irracionalismo e “miséria da razão” completam-se. As reflexões feitas por Coutinho, que assumimos neste trabalho, orientam-nos na busca de um caminho que problematize a razão instrumental típica da ciência moderna e supere o irracionalismo de nossas ações na sociedade de consumo regulada pela ideologia capitalista. Tais ações revelam a alienação de nossas escolhas também no que concerne à alimentação, além de nossa submissão ao poder da propaganda, hoje, mais do que nunca, alienante quer pelo uso de recursos tecnológicos altamente sofisticados, quer pelos princípios da psicologia de massa que são usados para que a mensagem das publicidades seja internalizada acriticamente. Ocorre, então, o que Horkheimer realça, quando se passa para o plano da razão subjetiva a qual: [...] relaciona-se essencialmente com meios e fins, com a adequação de procedimentos a propósitos mais ou menos tidos como certos e que se presumem auto-explicativos. Concede pouca importância à indagação de se os propósitos como tais são racionais. Se essa razão se relaciona de qualquer modo com os fins, ela tem como certo que estes são também racionais no sentido subjetivo, isto é, de que ao interesse do sujeito quanto 22 à autopreservação – seja a do indivíduo isolado ou a da comunidade de cuja subsistência depende a preservação do indivíduo. A idéia de que um objetivo possa ser racional por si mesmo – fundamentada nas qualidades que se podem discernir dentro dele – sem referência a qualquer espécie de lucro ou vantagem para o sujeito, é inteiramente alheia à razão subjetiva, mesmo quando esta se ergue acima da consideração de valores utilitários imediatos e se dedica a reflexões sobre a ordem social como um todo. (HORKHEIMER, 2007, p.9-10). Coerentemente, para levar nossos alunos a esse plano de conscientização, as unidades didáticas que propomos devem assentar-se em referenciais teóricometodológicos que tenham como foco a autonomia do sujeito para agir com discernimento no que diz respeito à alimentação e saúde. Para responder a esses requisitos, buscamos em Zabala o apoio devido, uma vez que esse autor, apresenta uma composição construtivista do processo ensino-aprendizagem, ou seja, a de que o aluno deve ser considerado em sua capacidade de organizar internamente as informações que provêm do meio físico e social(GIUSTA,2003), retoma a metodologia de unidades didáticas propondo uma seqüência de atividades favoráveis à constituição, pelo aluno, da autonomia referida. De acordo com Zabala, a unidade didática é definida como “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que tem um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos”(Zabala,1998). Estabelecidos os objetivos do processo ensino-aprendizagem de conteúdos determinados, Zabala recomenda verificar a pertinência da unidade didática a ser desenvolvida, iniciando-se com um levantamento do que já foi abordado anteriormente e do que será feito depois, com vistas a melhor determinar o que fazer na unidade presente. Além disso, é preciso deixar claros o papel do professor e do aluno no decorrer da unidade, os meios e materiais a serem usados e os momentos, os critérios e os instrumentos de avaliação da aprendizagem e da efetividade da própria unidade didática como opção metodológica (ZABALA, 1998). O planejamento de uma unidade didática, conforme Zabala (1998), configurase como uma sequência de atividades, a seguir sintetizada: 1. Apresentação por parte do professor de uma situação problemática relacionada com o tema proposto. Geralmente, desenvolve-se o tema em torno de um fato ou acontecimento, destacando problemáticos e os que os alunos não conhecem; os aspectos 23 2. Proposição de problemas e questões: os alunos, orientados e ajudados pelo professor, expõem as respostas intuitivas ou suposições sobre cada um dos problemas e situações propostos pelo professor; 3. Proposta das fontes de informações: os alunos em grupos ou individualmente, orientados e auxiliados pelo professor, propõem as fontes de informação mais apropriadas para cada situação: pesquisa bibliográfica, trabalho de campo, visita técnica, entrevista, observação, experiência ou o próprio professor; 4. Busca da informação: os alunos, em grupo ou individualmente, orientados e auxiliados, realizam a coleta de dados nas diversas fontes de informações. Em seguida, eles selecionam e classificam esses dados; 5. Elaboração das conclusões: os alunos, em grupo ou individualmente, orientados e auxiliados pelo professor elaboram as conclusões referentes às questões e aos problemas propostos; 6. Síntese e conclusões: com as contribuições de cada grupo sobre o problema analisado, o professor estabelece as leis, os modelos e os princípios deduzidos do trabalho realizado; 7. Exercícios: em grupo ou individualmente, os alunos realizam exercícios para comprovar dados e resolver problemas; 8. Avaliação: os alunos respondem perguntas objetivas ou subjetivas relacionadas com o tema proposto na unidade didática; 9. Avaliação do professor em relação à unidade didática: a partir de observações feitas pelo professor durante o desenvolvimento da unidade didática e da avaliação, o professor comunica aos alunos o resultado das aprendizagens. As atividades que formam uma seqüência didática podem restringir-se, apenas, a conteúdos conceituais, mas Zabala chama atenção para a necessidade de ampliação dos objetivos de ensino para abranger, também, conteúdos procedimentais e atitudinais. Os conteúdos assim classificados envolvem variadas dimensões da formação do aluno, porque articula o saber (conteúdos conceituais) com o saber fazer (conteúdos procedimentais) e com o ser (conteúdos atitudinais). Uma das características dos conteúdos conceituais é que a aprendizagem nunca pode ser considerada acabada, uma vez que sempre existe a possibilidade de ampliação ou aprofundamento de conteúdos já apropriados. Os conteúdos 24 procedimentais apresentam um conjunto de ações ordenadas e com um fim, quer dizer, dirigidas para a realização de um objetivo, enquanto os conteúdos atitudinais englobam uma série de conteúdos que, por sua vez, podemos agrupar nas categorias valores, atitudes e normas. Finalmente, reafirmamos que o trabalho proposto será permeado pelas considerações teóricas aqui sintetizadas. 25 3 CONHECIMENTO SOBRE ALIMENTO E PRÁTICAS ALIMENTARES DE ALUNOS ADOLESCENTES DO COLÉGIO TIRADENTES DA POLÍCIA MILITAR DE GOVERNADOR VALADARES-MG Este capítulo apresenta um estudo cujo objetivo foi investigar o conhecimento, as necessidades e as dificuldades de alunos do oitavo ano do ensino fundamental sobre o tema alimentação. Os dados foram obtidos a partir da análise de questionários respondidos por eles. Conforme já dito, os resultados apresentados aqui foram utilizados como base para a elaboração de um material didático sobre o tema alimentação, de caráter educativo. 3.1 Justificativa e objetivo A promoção da saúde no ambiente escolar vem sendo fortemente recomendada por órgãos internacionais, pois as crianças maiores de cinco anos habitualmente sentem-se excluídas das prioridades estratégicas das políticas oficiais de saúde, apesar de serem biológica, nutricional e socialmente suscetíveis (BIZZO; LEDER, 2005). Para Fischler (1998) as práticas alimentares obedecem às orientações culturais, sociais, biológicas e econômicas. No entanto, o autor reconhece que ainda hoje não se sabe ao certo como se formam os hábitos alimentares ou a que instância eles estão mais subjugados. Por este motivo, propõe uma metodologia de estudo para o fenômeno alimentar que procure integrar as dimensões sociais, normalmente marcadas pelo signo da arbitrariedade cultural, às dimensões biológicas, explicadas a partir da melhor adaptação ao meio em seu sentido funcional. Com isto, o autor mostra que nem os argumentos da corrente materialista/funcionalista, nem os da relativista/culturalista podem, exclusivamente, responder às questões formuladas sobre a alimentação (DOUGLAS, 1976). É possível perceber que a situação alimentar e nutricional das crianças e adolescentes do Brasil é marcada por duas características a princípio contraditórias. De um lado a permanência da desnutrição e anemias, e, de outro, a tendência cada vez maior ao 26 aumento de casos de sobrepeso e obesidade para uma considerável parcela da população. Outro conjunto de questões subjacentes aos hábitos alimentares se relaciona às maneiras de se alimentar, ou como se come aquilo que se come. Segundo Mielniczuk (2005), é preciso extrair categorias utilizadas pelos executores para definir esses hábitos e os significados dos “bons hábitos alimentares” relacionados às “boas maneiras”. Ao oferecer informações atualizadas do ponto de vista científico, a escola possibilita ao aluno formar a sua própria opinião e desenvolver atitudes críticas ao se tornarem consumidores atentos em relação à composição química, a propaganda, as datas de validade e ao estado de conservação dos produtos alimentícios e as possibilidades alternativas de consumo de alimentos menos descaracterizados e mais saudáveis (BRASIL, 1998, p. 74). O desenvolvimento da educação nutricional na escola significa poder ampliar, aprofundar e aprimorar a avaliação da postura dos adolescentes diante de questões de saúde alimentar, e dispor de elementos para elaboração e desenvolvimento de propostas educativas condizentes com as realidades problemáticas devido à má conduta alimentar da população, na busca de propiciar-lhes conhecimentos que impliquem posturas críticas e hábitos alimentares saudáveis. De acordo com os PCN, na escola os alunos vivenciam situações que possibilitam valorizar conhecimentos, práticas e comportamentos saudáveis. A adolescência é uma fase de vida importante para aprendizagem dos princípios da alimentação adequada que poderá conduzir o indivíduo para uma vida mais saudável. A proposta aqui apresentada visa desenvolver uma unidade didática com atividades intra e extra-sala de aula com recursos didáticos que potencializam a construção de interrelações entre o conhecimento científico e o cotidiano social sobre o tema alimentação. Diante disto, inicialmente, neste trabalho foram investigadas e analisadas as necessidades, dificuldades e possibilidades sobre alimentos e práticas alimentares dos alunos do Colégio Tiradentes da Polícia Militar (CTPM), considerando as concepcões prévias que os alunos tinham sobre alimentação. Os dados da investigação ora apresentados foram fundamentais para nortear e orientar a elaboração de um material didático de apoio para os professores, apresentado no capítulo 4 desta dissertação, sobre a temática - Alimentação e Saúde. 27 3.2 Metodologia Este estudo combina a pesquisa qualitativa e tratamento estatístico complementar para análise dos dados. Mais especificamente, trata-se de uma pesquisa-ação uma vez que ela permite o levantamento de problemas que possibilitaram intervenções (ações educativas), em conjunto com os participantes, na tentativa de buscar caminhos para a resolução de problemas (FRANCO, 2005). A abordagem utilizada focaliza o que as pessoas vivenciam e a forma como interpretam essas vivências, pois não poderíamos penetrar no universo dos adolescentes por meio de números e variáveis. Para alcançar o objetivo proposto foi necessário conhecer os significados, as dificuldades, as dúvidas e os anseios da nossa população de estudo. Nesse sentido, a escolha de um estudo de natureza qualitativa apresentou-se como a mais adequada, uma vez que a sua abordagem aprofunda-se no mundo dos significados das ações e relações humanas (MINAYO, 2000). 3.2.1 Cenário da Pesquisa A pesquisa foi realizada no Colégio Tiradentes da Polícia Militar (CTPM) do Ensino Fundamental, que pertence à Rede Estadual de Educação de Minas Gerais e está sob a jurisdição da Superintendência Regional de Ensino de Governador Valadares/MG. O município de Governador Valadares fica situado na meso-região do Vale do Rio Doce. A cidade foi fundada em 1938 e conta atualmente com uma população aproximada de 260.396 habitantes (IBGE-2006). A rede de ensino do Município possui 178 estabelecimentos escolares, sendo 100 escolas públicas e 78 particulares. Governador Valadares recebe alunos procedentes de 85 municípios. (Secretaria Municipal de Educação – SMED, 2006). A PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais) possui uma rede de colégios, sediados na capital e interior do estado, que constitui o Sistema de Educação Escolar na Polícia Militar da qual a Unidade do Colégio Tiradentes, do município de 28 Governador Valadares/MG, está inserida. Os níveis e modalidade de Ensino do CTPM consistem em Ensino Fundamental (1ª a 9ª série) e Ensino Médio (1ª a 3ª série). A opção em desenvolver a pesquisa no CTPM, deveu-se ao fato desta escola constituir um espaço ideal para a concretização da educação alimentar, pois destaca-se como um local privilegiado para a realização de ações educativas relacionadas à qualidade de vida, saúde e nutrição. Com o intuito de ampliar a conscientização dos escolares sobre a tomada de decisões quanto ao consumo de alimentos, e a sua relação com a saúde e o bem-estar, é importante valorizar o recurso da educação nutricional como conteúdo programático do ensino das Ciências na educação fundamental. A escola e o ensino fundamental são, indubitavelmente, os melhores espaços sociais para se atuar nesse sentido (PIPITONE, 2003). Participaram desta pesquisa 101 alunos do oitavo ano do ensino fundamental, sendo 55 (54,4%) do sexo feminino e 46 (45,6%) do sexo masculino. A maioria dos alunos participantes apenas estuda e tem entre 12 e 15 anos de idade. A escolha do ensino fundamental deve-se também ao fato de os PCN expressarem a relação existente entre questões relacionadas à qualidade da alimentação e o papel da escola como espaço privilegiado para a aquisição de conhecimentos sobre esse tema e para o desenvolvimento de hábitos saudáveis referentes à alimentação (MONTEIRO;LEVY-COSTA, 2004). Nos PCN, os temas transversais que abordam Educação para a Saúde explicitam que ao iniciar sua vida escolar, a criança traz consigo valores referentes aos comportamentos, favoráveis ou desfavoráveis à saúde, oriundos da família e de outros grupos de relação mais direta. Essa constatação conduz à conclusão de que durante a infância e a adolescência, épocas decisivas na construção de condutas, a escola possa assumir papel de destaque na reformulação ou consolidação de tais conceitos (Brasil, 2000). 29 3.2.2 Instrumento da pesquisa A pesquisa qualitativa tem como um de seus instrumentos a entrevista individual semi-estruturada. Nesta modalidade, o investigador está presente e o informante tem todas as perspectivas possíveis de responder a questionamentos básicos com liberdade e espontaneidade, o que, obviamente, enriquece a investigação (GAUTHIER, 1998). As pesquisas qualitativas, voltadas ao cotidiano escolar, vêm oferecendo subsídios para analisar, repensar e reconstruir o saber didático. Para Estrela, Madureira e Leite (1999) a aplicação de questionário é a técnica mais frequentemente utilizada em análise de necessidades e dificuldades na área da educação. As vantagens do uso do questionário relacionam-se ao fato de sua utilização permitir, em pouco tempo, atingir populações maiores e possibilitar o tratamento estatístico da informação. Portanto, para a realização desta atividade investigativa, utilizou-se como técnica de coleta de dados, um questionário constituído de treze (13) questões sendo oito (08) questões fechadas e cinco (05) questões abertas, possibilitando que os alunos pudessem expor suas opiniões livremente (APÊNDICE A). Os itens que integram o questionário resultaram de uma reflexão sobre questões pertinentes à alimentação e também de modelos de outros questionários que avaliam hábitos e conhecimentos alimentares encontrados na literatura. Cabe esclarecer que foi solicitada a permissão da direção da escola para o desenvolvimento da pesquisa (APÊNDICE B). Antes da aplicação dos questionários (figura 1) os objetivos da pesquisa foram explicitados para os alunos e foi solicitada a colaboração para a participação. Os participantes foram informados a respeito do direito à privacidade e a preservação do anonimato e foi reafirmada a liberdade de não participar da pesquisa. Os alunos permitiram a divulgação de suas imagens apresentadas neste trabalho. 30 Figura 1: Alunos do Colégio Tiradentes da Polícia Militar respondendo o questionário durante o desenvolvimento da pesquisa. Fonte: Foto de Luzimar Célia de Souza 3.2.3 Organização e análise dos dados Para a organização dos resultados coletados realizou-se o levantamento dos dados por meio do método qualitativo e os resultados da pesquisa foram apresentados na forma de tabelas. Os dados levantados foram interrelacionados, analisados e discutidos mediante revisão de literatura. 3.3 Resultados e discussão Com o intuito de conduzir o leitor a ter uma visão mais acurada da realidade pesquisada, apresentam-se a seguir os resultados e as análises decorrentes das informações obtidas na coleta de dados junto aos alunos do oitavo ano do ensino fundamental, destacando-se as considerações feitas por eles sobre a alimentação saudável. 31 3.3.1 O conhecimento dos alunos do CTPM sobre alimentação saudável e qualidade de vida Ao analisar os dados apresentados na tabela 1 sobre o conhecimento prévio dos alunos acerca da alimentação saudável e qualidade de vida, observa-se que quando foi perguntado o que eles entendiam por “alimentação saudável”, 35,6% opinaram que é uma alimentação balanceada, com alimentos que fazem bem para a nossa saúde, 13, 8% afirmaram que é comer alimentos que não fazem mal à saúde e 11,8% dos alunos correlacionaram com o hábito de fazer as refeições básicas com legumes e verduras, sem massa, gorduras e açúcares. Verifica-se que o conceito de alimentação saudável está diretamente ligado à ingestão de alimentos “bons” ou “ruins”. Segundo o Ministério da Saúde (2005), uma alimentação saudável deve favorecer o deslocamento do consumo de alimentos pouco saudáveis para alimentos mais saudáveis; entretanto, deve também ser respeitada a identidade cultural-alimentar das populações ou comunidades. As principais características de uma alimentação saudável devem ser: (1) respeito e valorização das práticas alimentares culturalmente identificadas; (2) garantia de acesso, sabor e custo acessível; (3) variada; (4) colorida; (5) harmoniosa e (6) segura (PINHEIRO et al, 2005). Enfatiza-se que o trabalho de educação em saúde se propõe a ampliar, diversificar e aprofundar a visão sobre os hábitos alimentares, abordando os diferentes pontos de vista existentes na sociedade a esse respeito, considerando que a alimentação tem função primordial para o atendimento das necessidades energéticas e nutricionais das crianças e adolescentes e, ainda, que exerce papel fundamental para prevenção de doenças na fase adulta. A conscientização das crianças e adolescentes sobre o conceito de alimentação saudável faz-se necessária e pode contribuir para a promoção e consolidação de hábitos saudáveis. 32 TABELA 1: Conhecimentos dos alunos do CTPM sobre Alimentação Saudável e Qualidade de Vida O que é Alimentação Saudável? Alimentação balanceada, com alimentos que fazem bem para nossa saúde Comer alimentos que não faz mal à saúde Fazer as refeições básicas com legumes, verduras, sem massa, gorduras e açúcares Alimentação rica em vitaminas Comer a quantidade certa Comer frutas, legumes e verduras frequentemente Alimentação que faz bem para saúde Alimentação que não faz mal a saúde n 36 14 % 35,5 13,8 12 9 8 6 5 4 11,8 8,9 7,9 5,9 4,9 3,9 Quais os grupos de alimentos devem estar presentes numa alimentação saudável? n % 25 21 9 8 8 5 4 3 3 24,7 20,7 8,9 7,9 7,9 4,9 3,9 2,9 2,9 n 46 23 15 9 8 % 45,5 22,7 14,8 9,9 7,9 Verduras Legumes Feijão Carboidratos Carnes Vitaminas Laticínios Cereais Sucos naturais O que é Qualidade de Vida? Alimentação saudável e praticar exercícios Ter uma alimentação saudável Ter uma boa saúde Ser feliz Alimentação adequada para ter o peso ideal de acordo com a idade Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Os dados da Tabela 1 mostram que sobre o significado de “Qualidade de Vida” 45,5% dos alunos dizem que é ter uma alimentação saudável e praticar exercícios e 22,7% opinaram que é ter uma alimentação saudável apenas. Outras alternativas apontadas foram: ter uma boa saúde, ser feliz, ter alimentação adequada, ter o peso ideal. Percebe-se que os alunos têm consciência e/ou conhecimento da importância de uma alimentação salutar para se alcançar qualidade de vida. Quanto aos grupos de alimentos perguntou-se aos alunos quais deveriam estar presentes numa alimentação saudável. Dentre as citações feitas por eles destacam-se as verduras (24,7%) e legumes (20,7%) entre os alimentos saudáveis que devem ser consumidos diariamente. Vale registrar que os alunos atribuem ao legume o conceito de fruto de forma alongada e achatada, que se abre, quando seco, para soltar as sementes, e identificam a verdura como uma erva da qual se 33 aproveitam as folhas, que se comem cruas ou cozidas (Mattos, 2001). Deve-se enfatizar a freqüência de citações atribuídas ao feijão (8,9%), alimento considerado tradicionalmente como integrante básico da dieta da população brasileira. É interessante notar que os cereais (2,9%) e os laticínios (3,9%) foram pouco citados pelos alunos. Destaca-se a ausência das gorduras, algumas delas essenciais na alimentação, segundo as respostas dos alunos. Esses resultados indicaram a priorização por eles dos alimentos que devem ser incluídos e consumidos e que, realmente, devem fazer parte de uma alimentação saudável. 3.3.2 Abordagem do tema “Alimentação e Nutrição” no CTPM Ao analisar os dados apresentados na tabela 2, verifica-se que 55,4% dos alunos pesquisados afirmam que o tema “Alimentação e Nutrição” já foi abordado na escola, enquanto 45,5% relatam que esse tema não foi abordado. Ainda na tabela 2 estão as disciplinas apontadas pelos informantes como aquelas nas quais o tema foi abordado. As disciplinas em que mais se abordou o tema foram Ciências (52,4%), Educação Física (31,6%) e Matemática (12%). Algumas disciplinas, como Geografia e História, não aparecem nas respostas dos alunos. Este dado mostra que o tema não vem sendo tratado de forma transversal como orientam os PCN. Tendo em vista uma educação para a cidadania, os PCN levam-nos a uma visão educacional que almeja a inclusão dos temas transversais no currículo escolar. Ainda segundo os referidos parâmetros, a saúde foi eleita como um tema transversal e, por esta razão, seu conjunto de conteúdos educativos pode ser comum a todas as disciplinas (PIPITONE, et al., 2003). O tema transversal que contempla a saúde aborda as relações entre os problemas de saúde e fatores econômicos, políticos e históricos. O documento em foco manifesta a preocupação com a construção da cidadania, que é o objetivo principal da educação, e incorpora a alimentação como tema transversal, valorizando a nutrição como contextos significativos para a aprendizagem e como conteúdo essencial para formação integral dos indivíduos na conquista dos direitos de cidadania (BRASIL, 2000). 34 TABELA 2: Abordagem do tema “Alimentação e Nutrição” no CTPM Na escola o tema “Alimentação e Nutrição” já foi abordado? n % Não Sim O tema “Alimentação e Nutrição” já foi abordado em que disciplina? 56 45 n 55,4 45,5 % Ciências Educação Física Matemática Português Inglês O que você aprendeu na escola sobre estes temas? 53 32 12 2 2 n 52,4 31,6 11,8 1,9 1,9 % Necessidade de se ter uma boa alimentação e praticar exercícios para ter uma vida melhor 36 35,6 Preocupação com a qualidade dos alimentos Alimentos ricos em gordura podem levar a obesidade e só prejudica a nossa saúde 21 14 14,8 13,8 Como cuidar do nosso corpo para ter uma vida saudável Que os nutrientes fazem bem à saúde A nutrição é muito importante Não comer sal em excesso Quais os assuntos sobre alimentação e nutrição você gostaria de obter mais informações? 12 9 8 1 n 11,8 8,9 7,9 1 % Funções que fazem bem para a saúde Alimentos orgânicos Alimentos construtores Atividade física e alimentos Alimentos transgênicos Doenças Alimentos que fazem bem para a saúde Gordura insaturada Informação sobre dietas Alimentos funcionais Alimentos energéticos 26 12 14 10 9 8 7 6 4 3 2 25,7 13,8 11,8 9,9 8,9 7,9 6,9 5,9 3,9 2,9 1,9 Fonte: Dados da pesquisa, 2008 Sobre o que se aprendeu na instituição escolar sobre o tema, os itens mais citados foram a necessidade de se ter uma boa alimentação e a prática de exercícios para ter uma vida melhor (36%), seguidos da preocupação com a qualidade da alimentação (21%), dos prejuízos do consumo de alimentos ricos em gordura (14%) e do cuidado com o corpo para ter uma vida saudável (12%). Percebemos que os alunos citam as informações recebidas sobre o tema, mas não citam em nenhum momento, mudanças de postura e atitudes em relação à escolha 35 da sua alimentação ou alteração de hábitos de vida. Esse fato sinaliza que a forma de abordagem do tema tem seguido a linha da concepção empirista da aprendizagem, ou seja, da concepção behavorista, em que o ensino é centrado no professor como transmissor de informações, cabendo aos alunos, apenas, receber passivamente essas informações e reproduzir os comportamentos esperados pelo educador (Giusta, 2003). Acreditamos que esta não seja uma abordagem que possa contribuir para a educação alimentar na escola. Considerando que, de acordo com as recomendações curriculares oficiais, as questões relacionadas à alimentação devem ser trabalhadas no ensino fundamental, perguntamos aos alunos o que eles aprenderam sobre esse tema. Então, 35,6% responderam que aprenderam como é necessário ter uma boa alimentação, para ter uma vida melhor e praticar exercícios. Essa necessidade é bastante trabalhada na escola, entretanto, acreditamos que isto não basta. É preciso que a escola propicie ao aluno suporte e incentivo para que eles adotem medidas efetivas no seu cotidiano, melhorando realmente sua qualidade de vida. Foi perguntado aos alunos qual seria o assunto sobre nutrição e alimentação que eles gostariam de obter mais informações. Os assuntos mais solicitados foram: alimentos que fazem bem à saúde (25,7%), informações sobre dietas (14%), alimentos funcionais (12%) e funções dos diferentes tipos de alimentos (10%). Atualmente os adolescentes têm demonstrado interesse em adquirir conhecimentos sobre assuntos relacionados à nutrição principalmente devido à importância e preocupação com a imagem e a aparência. Nos dias atuais, o ideal de um corpo magro ou bem delineado quando não é alcançado proporciona, principalmente nos adolescentes, desconforto e insatisfação à pessoa que o busca. Percebemos que os alunos demonstraram grande interesse em informações sobre dietas, neste caso quase sempre restritivas que levariam à perda de peso. Observa-se durante as discussões em sala de aula, que os alunos não demonstram interesse em obter informações sobre alimentos energéticos. Acreditase que isto ocorra porque, do ponto de vista dos alunos, os alimentos energéticos são aqueles que apresentam alto valor calórico, que levam a um aumento de peso corporal. Eles não os reconhecem como sendo alimentos que têm a função de fornecer energia ao nosso organismo, fundamental para a manutenção da vida. 36 3.3.3 Análise da freqüência alimentar dos alunos do CTPM Na Tabela 3 estão relacionados os alimentos consumidos com maior freqüência pelos alunos do CTPM e também dados referentes à freqüência de ingestão de água. Dentre as citações, destacam-se a maior freqüência de consumo do arroz (98,9%), legumes e verduras (95,8%), feijão (84,8%), leite e derivados (80,8%), carnes (70,7%), pães e biscoitos (56,5%), frutas e sucos de frutas (47,4%). Cabe destacar o consumo elevado de margarina (59,5%), achocolatado (53,5%), café (43,4%), condimentos (23,2%) e refrigerantes (12,1%). Os alimentos menos citados foram os embutidos e massas (9%), enlatados (6%), salgadinhos (5%), sorvetes (4%), sanduíches (4%) e defumados. Esses resultados, se corresponderem à realidade, indicam a priorização dos alimentos naturais em detrimento dos alimentos industrializados na alimentação desses escolares. Destacamos a freqüência de citações do arroz e do feijão, alimentos considerados integrantes básicos da dieta da população brasileira. A principal refeição feita em casa, durante a semana, pelos alunos é o almoço. Segundo Garcia (1997), durante a semana, o arroz e o feijão são os componentes básicos da alimentação, sendo o cardápio variado principalmente pelos vegetais e em segundo plano, pelas preparações à base de carne, já que não são todos os que a consomem regularmente. O consumo de carne pelo grupo de alunos investigados foi de 70,7%, fato que pode estar diretamente relacionado ao nível socioeconômico dos alunos pesquisados, pois a carne é um alimento de custo elevado. Dentre os alunos pesquisados, 68,3% relataram consumir carne diariamente e 26,7% a consomem de duas a três vezes por semana. A carne é um alimento rico em proteína, considerado essencial para o organismo, por exercer funções estruturais, reguladoras, de defesa e de transporte nos fluidos biológicos. Nossos dados contradizem os achados de Novaes (2006) em sua pesquisa sobre o comportamento do consumo de carne bovina e hortaliças no Brasil, observou uma possível tendência de redução do consumo de carne. Segundo o autor, dados obtidos em pesquisa de campo demonstraram que conforme se eleva o nível de escolaridade, a tendência da 37 freqüência do consumo de carne bovina é decrescente, mesmo isolando o efeito de renda no consumo. TABELA 3: Freqüência Alimentar e de Ingestão de Água dos Alunos do CTPM Alimentos Arroz Legumes e verduras Feijão Leite e Derivados Carnes Doces Margarina/Manteiga/Maionese Pão/Biscoito Achocolatados Frutas/Suco de Frutas Café Condimentos Biscoitos recheados Salgadinhos chips Refrigerantes Cereais Massas Embutidos Chocolates Enlatados Ovos Salgados (coxinha, pastel,...) Sorvetes Lanches e sanduíches Defumados n 98 95 84 80 70 69 59 56 53 47 43 23 22 12 12 11 9 9 9 6 5 5 4 4 2 % 98,9 95,8 84,8 80,8 70,7 69,8 59,5 56,5 53,5 47,4 43,4 23,2 22,2 12,1 12,1 11,1 9 9 9 6 5 5 4 4 2 Quantos copos de água você toma por dia? n % 8 a 11 copos (1,6 a 2,2 L) 4 a 7 copos (800 a 1,4 L) 1 a 3 copos (200 a 600 mL) 12 a 15 copos (2,4 a 3,0 L) Mais de 20 copos (mais de 4,0 L) 16 a 19 copos (3,2 a 3,8 L) 35 32 12 12 6 4 34,6 31,6 11,8 11,8 5,9 3,9 Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Em relação aos pães e biscoitos, uma explicação possível para o seu consumo seria o curto tempo que as pessoas têm para o ato de se alimentar, transformando a pressa num dos traços visíveis, abreviando o ritual alimentar em suas diferentes fases, da preparação ao consumo. Deve-se ressaltar que, estudando o consumo alimentar de jovens da região metropolitana de São Paulo, verificou-se que os mesmos estão substituindo o jantar tradicional por lanches, cuja composição nem sempre satisfaz os requisitos de uma alimentação adequada (MAESTRO apud LERNER, 2002). 38 O número de citação da freqüência do consumo de legumes e verduras foi bastante elevado (95,8%). Entretanto, ao analisar dados obtidos nas três séries do 8˚ ano do ensino fundamental do Colégio Tiradentes encontrou-se que apenas 49,9% dos alunos os consomem diariamente, enquanto 36,3% o fazem apenas duas a três vezes por semana. As vitaminas são compostos encontrados nos alimentos naturais como frutas, verduras, legumes e vegetais de folhas, com atuação essencial em muitos aspectos do metabolismo, necessários à manutenção, ao crescimento e ao funcionamento adequado do organismo. No campo das políticas de alimentação e nutrição, a promoção do consumo de frutas, legumes e verduras ocupa posição de destaque dentre as diretrizes de promoção de alimentação saudável. A Estratégia Global sobre Alimentação Saudável, Atividade Física e Saúde, elaborada pela OMS, recomenda o aumento do consumo de legumes e verduras para prevenção de doenças crônicas. No cenário nacional, o Ministério da Saúde do Brasil recomenda o consumo diário de três porções de legumes e verduras em seu Guia Alimentar, enfatizando a importância de variar o consumo desses alimentos nas refeições ao longo da semana (Ministério da Saúde, 2005). Watt e Sheiham (1996), estudando os hábitos alimentares de 479 adolescentes ingleses, com a idade entre 13 e 14 anos, verificaram que somente 25,9 % consumiam frutas com freqüência maior que uma vez por dia. Para suco de frutas, a percentagem observada foi de 22%. Em nosso estudo a freqüência de citação referente às frutas e sucos de frutas foi de 47,4% contra 12,1% para os refrigerantes. Segundo Berkey et al. (2004), tem-se observado que o consumo excessivo de frutas e sucos de frutas pode contribuir também para uma elevada ingestão energética. Mas tais bebidas apresentam uma composição nutricional mais adequada e, portanto, superior em comparação à observada em refrigerantes, tendo em vista que os últimos fornecem baixo conteúdo de micronutrientes e elevado teor calórico. Nesta pesquisa, o número de citações relacionadas ao consumo de leite e derivados (80,8%), pode ser considerado um bom indicador. A pesquisa realizada por Maestro (2002), envolvendo adolescentes matriculados na rede pública, revelou que o consumo de leite entre os adolescentes também foi alto (79,1%). Segundo Maestro, o leite se caracterizou como principal alimento do desjejum, entre a população avaliada (Maestro, apud Lerner, 1994). 39 A freqüência de citações para o achocolatado revelou-se maior que a do café. Maestro (2002) encontrou resultados contrários, a citação do café foi maior que a do achocolatado e registrou ainda que os achocolatados são alvos de maior volume de propaganda veiculada pela mídia e, freqüentemente, tem maior preço. Vale lembrar também que se analisado o rendimento desses dois tipos alimentos, é possível que o café revele um maior rendimento e, portanto a população tem, dessa forma, acesso a um alimento de menor preço. De acordo com Guesry (1996), o café contém cerca de 80mg de cafeína/xícara, podendo causar problemas de insônia em crianças. Além disso, registra-se que esse alimento apresenta baixo valor nutricional quando comparado ao achocolatado, geralmente enriquecido com vitaminas e sais minerais e, pois, de maior valor nutricional. Alguns estudos recentes mostram que o o consumo diário e moderado de café é benéfico para o cérebro, pois, a bebida estimula o sistema normal de vigília, aumentando a atenção, a concentração e a memória, melhorando assim a atividade intelectual normal. Segundo informações obtidas do site da indústria de alimentos Nestlé, o grão do café é composto principalmente por água, carboidratos, gorduras, proteínas, sais minerais e cafeína, que são fontes de diversos benefícios para o organismo. O consumo moderado de café estimula a atenção e concentração, além de possuir substâncias antioxidantes. Em termos de calorias, o café é uma bebida saborosa e de baixo teor calórico, contendo cerca de 4 calorias por xícara pequena não adoçada. (Site da Nestlé, 2009). O consumo de lanches e sanduíches (4%) e de salgadinhos (4%) é característica da alimentação dos jovens e faz parte de vida moderna. Esta atitude pode ser justificada pela falta de tempo disponível para dedicar a uma refeição, preferências individuais, modismo e por ser uma refeição que pode ser feita com os amigos (SARGENT et al., 1994; ANDERSEN et al., 1995). Observamos que os alunos omitiram o consumo destes alimentos, o que provavelmente não corresponde à realidade. Suas respostas podem ter sido influenciadas pela necessidade de estar respondendo o questionário de maneira correta e não de acordo com a realidade. Isto evidencia uma limitação da metodologia utilizada neste trabalho. Sabe-se que o impacto nutricional dos lanches e “fast foods” pode ser influenciado por alguns fatores como a freqüência de consumo e valores nutricionais dos alimentos escolhidos. Tais preparações podem ser aceitáveis, quando parte de uma dieta adequada e balanceada, mas, geralmente apresentam alta quantidade de energia e 40 baixa quantidade de ferro, cálcio, vitamina A e fibras (Bull, 1992). Segundo Gambardella et al. (1999), os adolescentes passam, gradativamente, maior tempo fora de casa, na escola e com os amigos que influenciam na escolha dos alimentos e estabelecem o que é socialmente aceito. Observou-se que os alunos pesquisados consomem doces (69,8%), biscoitos recheados (22,2%), sorvetes (4%) e chocolates (9%). Esses dados mostram a preferência por alimentos com elevado teor de gordura, colesterol e carboidratos. Ao analisar a alimentação de adolescentes, Garcia et al. (2003) constataram um consumo elevado de bebidas gaseificadas e alimentos ricos em açúcar. Apesar da disponibilidade de alimentos saudáveis como a merenda escolar, os adolescentes têm preferência por bolachas, batatas fritas, pizzas, refrigerantes e chocolates. Segundo Carmo (2006), a tendência apresentada nos alimentos ricos em açúcares simples é motivo de preocupação tendo em vista os efeitos deletérios desses alimentos quando consumidos de forma desarmoniosa em relação ao conjunto da alimentação. A ingestão energética excessiva pode ser proveniente do aumento da oferta de alimentos em grandes quantidades, podendo repercutir sobre o aumento da prevalência do excesso de peso. Quando questionados sobre quantos copos de água eles tomam por dia, 34,6% dos alunos responderam que tomam de 8 a 11 copos e 31,6% tomam de 4 a 7 copos por dia. Segundo o Ministério da Saúde (2005), deve-se beber de 8 a 16 copos por dia (2 a 4 litros), não menos de 8 copos (2 litros) por dia. O nosso corpo é formado de 65% de água que precisa ser renovada continuamente a cada hora para que nosso organismo realize todas as funções vitais como: respiração, circulação, digestão, excreção e defesa. A pouca ingestão de água pode causar desidratação, cansaço, indisposição, pele seca, dores de cabeça, problemas digestivos, inflamações, cistites, formação de cálculos, alterações de pressão arterial, da circulação, do sistema hormonal, irritabilidade e insônia. Embora a água seja essencial para o funcionamento de todos os organismos vivos e do corpo humano, ela está misturada a uma série de componentes no sangue. Desses, alguns dos mais importantes são os íons de sódio e potássio. Estes íons estão presentes numa proporção que é mantida mais ou menos fixa por mecanismos reguladores, eles ajudam a controlar a entrada e saída de substâncias da célula. O excesso de água no organismo, se não for eliminado pela urina ou pela transpiração, por exemplo, destrói esse equilíbrio. Os íons ficam muito mais 41 dissolvidos do que o normal, e isso força as células a absorver mais água do que deveriam. Elas inflam e podem simplesmente estourar, como um balão cheio de líquido. Portanto, no processo de excesso de ingestão de água há uma reação anormal das células do cérebro. Como o líquido é mais do que o corpo está acostumado e necessita, os rins demoram mais tempo para filtrar. Por isso, até completar a absorção, as células se incham e podendo levar a transtornos nervosos, coma e morte. 3.3.4 Atitudes dos alunos do CTPM em relação ao consumo e aquisição dos alimentos Na tabela 4, verifica-se que quando foi perguntado aos alunos se eles deixam de consumir algum alimento por achar que faz mal a saúde, 63,5% responderam que não e 36,4% responderam que deixam de consumir. Isto mostra que os alunos não estão dispostos a mudar seus hábitos alimentares apesar de conhecer a importância disto para melhorar sua qualidade de vida. Foi questionado aos alunos sobre o que deve ser observado nas embalagens dos alimentos para saber se estão em boas condições e saudáveis para consumo. A maioria respondeu que é importante observar as informações nutricionais (34,6%) e a quantidade de calorias (19,8%). Isso mostra que eles estão mais preocupados com as questões relacionadas à qualidade nutricional e ao valor calórico dos alimentos. As questões relacionadas à segurança alimentar não foram enfatizadas pelos alunos. Eles responderam que é importante observar as informações nutricionais e a data da validade, 34,6 e 17,8% respectivamente. Isso mostra que eles estão mais preocupados com as questões relacionadas à segurança alimentar do que com a informação nutricional dos alimentos. 42 TABELA 4: Atitudes dos alunos do CTPM em relação ao consumo e aquisição de alimentos Você deixa de consumir algum alimento por achar que faz mal à saúde? Sim Não n % 54 31 63,5 36,4 O que devemos observar nas embalagens dos alimentos para saber se está em boas condições e saudável pra o consumo? n % Informações nutricionais Quantidade de calorias Data de validade Gordura trans Embalagem intacta Porcentagem de colesterol 35 20 18 12 10 6 34,6 19,8 17,8 11,8 9,9 5,9 Além de se alimentar na escola, quantas vezes na semana você costuma comer fora de casa? n % Nenhuma 1 vez 2 vezes 3 vezes 4 vezes 5 vezes 31 31 25 10 5 1 30,7 30,7 24,7 9,9 4,9 0,9 Em que local(is) você costuma comer fora de casa? n % Restaurantes/Pizzarias Lanchonetes Redes “fast food” Bares Feiras Ambulante 69 62 40 10 6 9 68,3 61,4 39,6 9,9 5,9 4,0 Você faz algum tipo de dieta ou regime? n % Não Sim 90 11 89,1 10,9 Fonte: Dados da pesquisa, 2008. Na presente pesquisa, quando se considera o consumo de alimentos fora do domicílio, 30,7% dos alunos registraram que costumam comer fora de casa uma vez por semana, sendo que os locais preferidos foram: restaurantes/pizzarias (68,3%), lanchonetes (61,4%), bares (9,9%) e ambulantes (4%). Nos últimos anos houve um aumento no número de refeições fora do lar, sendo que, atualmente, existem várias opções, envolvendo desde a alimentação em restaurantes mais tradicionais, fast food e locais de trabalhos, até a aquisição e consumo de lanches comercializados por vendedores ambulantes, como, por exemplo, em “carrinhos de cachorro-quente” (VIEIRA e PRIORE, 2001). Os resultados contidos na tabela 4 referentes à realização de algum tipo de dieta ou regime revelam que 89,1% dos adolescentes afirmaram não fazerem dieta e 10,9% que o fazem. Segundo Albano (2000), as grandes mudanças físicas que 43 ocorrem durante a adolescência levam os indivíduos a uma profunda valorização de sua imagem corporal, o que muitas vezes acaba afetando os hábitos alimentares e levando-os a fazerem dieta. Em geral, as informações dadas pelos alunos do CTPM acerca do conhecimento que eles têm de alimentação saudável e qualidade de vida, da abordagem do tema “Alimentação e Saúde”, da frequência alimentar desses alunos e de suas atitudes em relação ao consumo e aquisição dos alimentos revelam a alienação a que somos submetidos, e a predominância do irracionalismo em nossas escolhas alimentares. O referencial teórico elaborado principalmente com base em Horkheimer e Coutinho, deu-nos oportunidade de chegar a essa interpretação e de reconhecer a incapacidade do pensamento burguês decadente de penetrar na essência da realidade, fazendo com que a práxis humana se objetive contra os próprios homens. Podemos observar, também, que o “fetichismo da mercadoria” que, segundo Marx, exerce grande poder de influência nas mais variadas instâncias de nossas vidas, aparece claramente em relação à alimentação e à saúde que são, assim, reificadas. A esse respeito, basta retomar o contingente da ordem de 63,5% de alunos que responderam não deixar de consumir algum alimento por achar que faz mal a saúde. 3.4 Considerações sobre os resultados apresentados Considerando os conhecimentos sobre alimentos e alimentação dos alunos do Colégio Tiradentes da Polícia Militar (CTPM), verifica-se que os alunos e preocupam com o tipo de alimento que estão ingerindo, eles relatam consumir com alta freqüência alimentos saudáveis (tabela 3). Entretanto, observamos também práticas alimentares incorretas, como por exemplo, a presença de alimentos ou preparações gordurosas, alimentos ricos em açúcar com reduzido conteúdo de fibra e menor valor nutricional (pães, bolos, balas, doces, gomas de mascar, bombons, sorvetes, refrigerantes e tabletes de chocolate). Nota-se que os alunos consomem alimentos que eles mesmos julgam não serem saudáveis. Como alimentos não saudáveis ou pouco saudáveis, o refrigerante, as balas e os chocolates são os mais citados pelos alunos. Entretanto, alimentos como esfirra e pizza, entre outros, foram 44 apontadas por alguns como alimentos saudáveis. Isto mostra que o conceito ou os critérios pelos quais os alimentos são classificados como não saudáveis não estão bem estabelecidos pelos alunos. Os resultados apresentados neste estudo indicam que os alunos do CTPM de Governador Valadares necessitam da aquisição de novos conhecimentos sobre alimentação com a finalidade de desenvolver hábitos alimentares saudáveis. É importante ressaltar que saúde é um tema transversal e segundo as concepções presentes nos PCN deve ser tratado por todas as áreas do currículo. Amodio e Fisberg (2002) consideram que mais do que a simples proibição da comercialização de alimentos, as ações educativas na merenda escolar e na cantina devem estar baseadas na implementação de projetos possíveis, com o apoio educacional necessário. Segundo os autores, as escolas devem oferecer uma alimentação equilibrada e orientar seus alunos para a prática de bons hábitos de vida, pois o aluno bem alimentado apresenta maior aproveitamento escolar, tem o equilíbrio necessário para seu conhecimento e desenvolvimento e mantém as defesas imunológicas adequadas. Com base nas análises elaboradas neste trabalho, é possível concluir que os alunos do CTPM possuem algum conhecimento sobre alimentação saudável, a necessidade de se ter uma boa alimentação, a prática de exercícios e os alimentos que fazem bem para a saúde, embora não deixem de consumir alimentos que fazem mal à saúde. Ou seja, embora eles tenham consciência da importância de uma boa alimentação, eles não transformam este conhecimento em ações concretas no seu cotidiano. Sendo assim, esta pesquisa evidencia a necessidade de se investir em ações com o objetivo de promover o conhecimento crítico dos alunos do CTPM de Governador Valadares sobre educação alimentar. Nesta dissertação iremos, com base nos dados coletados, propor uma metodologia e construir material educativo com o objetivo de promover atividades elaboradas a partir das dificuldades e necessidades dos alunos no sentido de ampliar o conhecimento sobre o tema alimentação, revisar valores, aprofundar conceitos e incentivar mudanças de atitude nos escolares. 45 4 ELABORAÇÃO E TESTAGEM DAS UNIDADES DIDÁTICAS Este capítulo é dedicado ao processo de elaboração e testagem das unidades didáticas sobre “Alimentação e Saúde” que foram pensadas e construídas a partir da importância, das dificuldades e das necessidades apresentadas no capítulo 3 desta dissertação; da proposta da educação e saúde como tema transversal nos Parâmetros Curriculares Nacionais; de artigos e materiais didáticos sobre alimentação disponíveis na literatura. 4.1 Seqüência Didática como Metodologia de Ensino Segundo os autores Luz e Oliveira (2008), a aprendizagem de Ciências deve basear-se na proposição de problemas que levem em conta as idéias, habilidades e interesses dos alunos. Essas atividades devem, portanto, ser acessíveis, de modo a permitir aos estudantes a análise da situação problemática, e sob orientação do professor, formular hipóteses, estratégias de resolução de problemas e analisar os resultados obtidos na investigação, cotejando-os com os da comunidade científica. Dessa forma, torna-se possível a realização de atividades de síntese que favoreçam aos alunos seu aprendizado. Pozo (1998, p.70) ao tratar da solução de problemas, destaca ainda que, embora seja essencial diferenciar os problemas científicos dos cotidianos, é também importante ensinar aos alunos os modos de solução de problemas característicos do conhecimento científico. Na direção apontada por Pozo, para a elaboração do material proposto centramos em aspectos do tema como: aditivos alimentares, pirâmide alimentar, segurança alimentar, alimentos alternativos e funcionais, visando estudo e aplicação dos conhecimentos no campo da alimentação e saúde. As unidades didáticas que serão apresentadas destinam-se a alunos do 8º ano do ensino fundamental e constituem material de apoio didático para o professor. Tais unidades podem ser aplicadas na forma em que estão apresentadas, ou selecionadas e modificadas para atender às necessidades do professor e de seus alunos, de acordo com a realidade 46 da turma. As atividades foram testadas com nossos alunos nos anos de 2007 e 2008, no 8º ano do CTPM. Vale ressaltar que para a elaboração do conjunto de unidades didáticas aqui propostas, apoiamo-nos em pesquisas desenvolvidas sobre os aspectos dos temas citados anteriormente a fim de exemplificar o estudo referente à alimentação dos alunos do 8º ano do ensino fundamental. A intenção da busca desse tipo de apoio expressa nosso compromisso de tentar uma abordagem do conteúdo pelo uso de atividades mais produtivas quanto ao processo ensino-aprendizagem. Com as atividades planejadas em conformidade com a seqüência didática recomendada por Zabala (1999), então, pretendemos facilitar o levantamento, pelos alunos, de questionamentos próprios e pesquisas pessoais, além do desenvolvimento de um olhar crítico sobre hábitos alimentares saudáveis e boa qualidade de vida. Nessas atividades, o tema é abordado por meio de artigos, reportagens, práticas e uso de espaços alternativos com exemplos da utilização da alimentação, na tentativa de contextualizar ações que gerem no adolescente o compromisso da aprendizagem. Para facilitar ao leitor o acompanhamento das seqüências de atividades em que as unidades didáticas serão desdobradas, julgamos ser justificável retomar do referencial teórico a conceituação de unidade didática e os itens que elas devem conter, de maneira seqüenciada. No que diz respeito à conceituação mencionada, citamos novamente Zabala para lembrar que se trata de “um conjunto de atividades ordenadas, estruturadas e articuladas para a realização de certos objetivos educacionais, que tem um princípio e um fim conhecidos tanto pelos professores como pelos alunos” (ZABALA, 1998, p.18). Quanto à seqüência de atividades a ser respeitada na abordagem de um assunto, ela deve constar de: • Apresentação por parte do professor de uma situação problemática relacionada com o tema proposto; • Proposição de problemas e questões problemas e questões proposta das fontes de informações, busca da informação e classificação das mesmas pelos alunos; • Elaboração das conclusões: pelos alunos com a mediação do professor; síntese e conclusões das contribuições de cada grupo sobre o problema analisado; • Exercícios: em grupo ou individualmente; 47 • Avaliação da aprendizagem, avaliação do professor em relação à unidade didática; • Comunicação aos alunos, pelo professor, do resultado das aprendizagens. 4.2 Elaboração da Sequência didática A proposta aqui apresentada foi desenvolvida na terceira etapa do ano letivo com três turmas identificadas A, B e C. Lembremos que os dados relativos ao conhecimento dos alunos sobre alimentação foram obtidos por meio da pesquisa qualitativa (capítulo 3) ou, melhor dizendo, pelo método de pesquisa-ação que oferece um quadro de referências para integrar estudos da mudança social (SOMMER e AMICK, 2003). As unidades didáticas que seguem determinada sequência didática levam em conta que o estudo da alimentação, conforme disposto nos Parâmetros Curriculares Nacionais para a disciplina ciências (BRASIL,1998), relaciona-se ao tema transversal “Corpo Humano e Saúde”. Sendo assim, levantou-se um referencial teórico para a elaboração de atividades de investigação em Ciências que contribuísse para a formação de ligações interativas entre os assuntos que compõem o currículo do ensino fundamental, que é o foco desta pesquisa. Para elaboração das unidades didáticas selecionamos temas visando ao estudo e à aplicação do conhecimento no campo da alimentação e da saúde. Foram analisadas as interações estabelecidas entre esses temas com outros assuntos de Ciências e também com outras áreas de conhecimento. A sequência, cuja versão impressa é disponibilizada separada desta dissertação, é composta de sete unidades que, como já frisamos, podem ser apropriadas como estão ou adaptadas segundo a conveniência do professor e dos alunos. A condensação das unidades didáticas com suas seqüências independente da dissertação foi realizada no sentido de facilitar a disponibilização, utilização e divulgação do produto dissertado. Desta forma, os profissionais interessados podem utiliza-lo, sem que precisem ler a dissertação, fazendo as adaptações necessárias a 48 sua realidade. O CD, que acompanha a versão impressa, é uma variante tecnológica de divulgação do produto referido. 4.3 Organização da Sequência Didática Cada unidade didática apresenta a seguinte estrutura geral: • Título: identifica o tema central a ser abordado; • Objetivos: refere-se aos possíveis ganhos pretendidos com o desenvolvimento daquela atividade; • Duração: o tempo previsto para a realização da atividade; • Número de participantes: refere-se ao número de alunos que participam da atividade, sendo na maioria em grupos de 5 alunos; • Material: expressa o tipo de material usado na atividade para realizar a experiência ou oficina; • Desenvolvimento: descreve a seqüência didática detalhada, ou seja, os passos que devem ser seguidos para o desenvolvimento da atividade proposta; No quadro 1 apresentamos as unidades didáticas e os conteúdos trabalhados na sequência didática. O desenvolvimento desses conteúdos se deu por meio de estratégias variadas como: leitura e análise de textos, discussões, exercícios, relatos de experiência, uso de espaços alternativos de aprendizagem, atividade prática e produção de material de divulgação. 49 UNIDADE DIDÁTICA 1 - JOGO DOS ERROS – PIRÂMIDE ALIMENTAR 2 -CONSTRUÇÃO MANDALA DE UMA 3 - COZINHA EXPERIMENTAL 4 -CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS -ESTUDO DO PARADIDÁTICO “ALIMENTOS EM PRATOS LIMPOS” 5 -CONSERVAÇÃO E DOS ALIMENTOS 6 -INFLUÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO 7 -DIETAS DA MODA ROTULAGEM MÍDIA NA CONTEÚDOS TRABALHADOS ALIMENTOS REGULADORES, CONSTRUTORES E ENERGÉTICOS. COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS. DIETA EQUILIBRADA. SEGURANÇA ALIMENTAR. PRESERVAÇÃO AMBIENTAL. PRODUÇÃO DE ALIMENTOS. GEOMETRIA ALIMENTOS ALTERNATIVOS. COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS. DESPERDÍCIO E REAPROVEITAMENTO DE ALIMENTOS. INGLÊS. ADITIVOS ALIMENTARES CONSERVAÇÃO DOS ALIMENTOS COMPOSIÇÃO DOS ALIMENTOS ANÁLISE DO VALOR CALÓRICO E DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DOS ALIMENTOS. ADITIVOS ALIMENTARES ROTULAGEM DOS ALIMENTOS. ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL. VISÃO CRÍTICA DA DIVULGAÇÃO E PROPAGANDA DE ALIMENTOS RISCOS DAS DIETAS RESTRITIVAS DISTÚRBIOS ALIMENTARES RELAÇÃO DATIVIDADE FÍSICA E DOS HÁBITOS ALIMENTARES COM A SAÚDE. Quadro 1. Unidades didáticas e conteúdos trabalhados na sequência didática “Alimentação e Saúde”. 4.4 Testagem das Unidades didáticas Todas as unidades didáticas foram testadas, com nossos alunos, nos anos de 2007 e 2008, no 8º ano do ensino fundamental do CTPM. Antes das experimentações, os alunos foram informados sobre nossos objetivos e a nossa intenção de utilizar aquele material numa dissertação de mestrado ressaltando a importância da contribuição deles, ao realizarem as atividades. Essa estratégia nos trouxe ganhos, uma vez que os alunos forneceram uma série de observações, críticas e sugestões que contribuíram para o enriquecimento e adequação das atividades testadas. A seguir descreveremos o desenrolar das unidades didáticas por meio das seqüências didáticas em que cada uma delas se objetiva. 50 Unidade didática 1 A primeira unidade, denominada “Jogo dos Erros – Pirâmide Alimentar” focaliza os tipos de alimentos e propõe discussões relativas aos alimentos construtores, energéticos e reguladores para a compreensão da construção da pirâmide alimentar. A atividade foi aplicada em setembro/2008, no 8º ano do ensino fundamental no CTPM, em uma turma de trinta e três (33) alunos, divididos em grupos formados por três alunos. Todos os grupos resolveram a atividade no tempo estimado, cinqüenta minutos. Essa atividade está relacionada com a identificação e o entendimento da função dos alimentos na pirâmide alimentar. Os alunos, durante a resolução da atividade, tiveram dificuldade para distribuir os tipos de alimentos nos patamares da pirâmide alimentar. Inicialmente, muitos consideraram que carboidratos e lipídios devem ser consumidos em maior quantidade (base da pirâmide) por serem alimentos “gostosos”, sendo que os vegetais e frutas não devem ser consumidos em grande quantidade, por não serem os alimentos preferidos dos adolescentes, e, nem sempre apresentarem sabor agradável. Após o trabalho de pesquisa, orientado pela professora, cada grupo de alunos discutiu sobre as informações, sobre os tipos de alimentos e sobre a pirâmide alimentar, relacionando as variações no número de porções de cada grupo alimentar, de acordo com o sexo, idade, massa corporal, altura e atividade física de cada pessoa. Ficou evidenciado na aplicação da atividade, o conhecimento adquirido sobre os tipos de nutrientes e a adequação das porções nas principais refeições de acordo com a pirâmide alimentar. Observamos que esta atividade possibilitou aprendizagem referente aos tipos e funções de cada grupo de alimentos no organismo. Os alunos se mostraram motivados para fazer a pesquisa que promoveu um aprofundamento conceitual sobre o tema em questão. Os alimentos energéticos, reguladores e construtores ao serem pesquisados, favoreceram, aos alunos, a discussão de artigos referentes às propostas de pirâmides alimentares atualizadas, onde os autores comentam que nem todas as gorduras fazem mal e nem todos os carboidratos fazem bem. Os alunos concluíram, então, que é necessário ter uma alimentação moderada em relação a quantidade de cada nutriente (carboidrato, proteínas, lipídio, fibras, etc.) e que não é necessário eliminar os alimentos mais saborosos da dieta tidos como vilões da saúde. Esses alimentos podem estar presentes em pequenas quantidades 51 na dieta, ou seja, o consumo deles deve ser regrado para evitar comprometimento da saúde. Ficou evidenciado, após a atividade, que os alunos compreenderam que a quantidade e os tipos de alimentos distribuídos em cada patamar da pirâmide, estão associados à função e ao valor calórico de cada um e à quantidade necessária para o corpo realizar suas funções orgânicas. A maioria dos alunos compreendeu por que os alimentos não podem ser distribuídos em qualquer patamar da pirâmide, sendo que essa compreensão foi obtida por meio de pesquisa e de leitura, que são metodologias enriquecedoras para a aprendizagem do aluno. Portanto, esta atividade permitiu trabalhar as seguintes questões com os alunos: A pirâmide alimentar é um instrumento de identificação dos alimentos, de acordo com a sua função? Podemos atribuir a quantidade correta de alimentos que deve ser consumida por um adolescente, aos dados pesquisados recentemente na pirâmide atualizada? Unidade didática 2 A segunda unidade denominada “Construção de uma Mandala”, tem como principal foco apresentar ação concreta em prol da produção, qualidade e quantidade de alimentos, da preservação ambiental e da qualidade de vida. A atividade apresenta abordagem integrada com a disciplina Matemática para desenvolver a inteligência espacial no aprendizado de geometria. A atividade foi elaborada durante o desenvolvimento do Projeto Semeando que, em 2007, abordou entre outros temas, a segurança alimentar e a sustentabilidade. Os alunos realizaram pesquisa referente ao tema “Mandala Criativa” em revistas, Internet, jornais e livros. A mandala consiste na produção de alimentos em uma área pequena, sendo cultura de subsistência para pessoas que não possuem grandes áreas para o plantio. O mundo globalizado convive com o fenômeno da fome e a mandala, de acordo com as fontes de pesquisas, representa uma solução para as famílias que possuem uma pequena área para o plantio. A construção da mandala foi realizada no mês de outubro de 2008 pelos alunos do 8º ano do ensino fundamental, em uma turma de trinta e cinco (35) alunos, e estes foram organizados em grupos formados por cinco (5) alunos. Todos os 52 alunos realizaram tarefas no tempo estimado de quatro aulas de cinqüenta (50) minutos. A construção da mandala pelos alunos aconteceu na feira de cultura do CTPM que ocorre anualmente, representando uma amostra dos trabalhos desenvolvidos por alunos e professores da escola. Percebemos que a organização da mandala criativa para a feira de cultura foi um desafio para os alunos. Eles tiveram que colocar em prática os conceitos aprendidos nas disciplinas Ciências e Matemática. Construir oito círculos para a construção da mandala envolveu conceitos e cálculos matemáticos. Os alunos tiveram que usar os conhecimento de trigonometria, conteúdo considerado difícil por eles, para organizar os canteiros com a quantidade correta de terra para cada tipo de cultura. Auxiliados pela professora pesquisadora, os grupos de alunos construíram um posto central de irrigação representado por uma piscina pequena de forma circular, funcionando como habitat de peixes e aves. Em seguida, construíram oito círculos sendo os três primeiros para cultura de subsistência e os quatro seguintes para o plantio de verduras e hortaliças para serem comercializadas e no último círculo eles colocaram a vegetação nativa e plantas medicinais (Figura 2). Os alunos explicaram para o público visitante da feira a importância da mandala para a agricultura sustentável e para a qualidade do solo, uma vez que consiste em um ecossistema agrícola completo, capaz de proporcionar alimentação e energia de forma sustentável. Participar da feira de cultura foi, assim, muito importante para os alunos, pois para informar os visitantes sobre os benefícios da mandala, eles pesquisaram, assistiram vídeos e discutiram o tema. Os participantes dessa atividade ficaram responsáveis em divulgar o projeto ambiental do CTPM que desenvolve atividades de conscientização sobre a preservação do meio ambiente, plantação de mudas, palestra para as séries iniciais sobre segurança alimentar e sustentabilidade, isso deveu-se a aprendizagem adquirida no desenvolvimento da construção da mandala. 53 Figura 2: Mandala organizada por alunos do 8º ano do Colégio Tiradentes da Polícia Militar – GV – Feira de Cultura, novembro, 2008. Fonte: Acervo do autor. Observamos que esta atividade possibilitou uma integração com a Matemática favorecendo o aprendizado da Geometria. No ensino de Ciências o desenvolvimento desta atividade permitiu, com sucesso, aprendizagem sobre a importância dos alimentos in natura na alimentação diária; a importância da preservação e da sustentabilidade ambiental, qualidade de vida, saúde e renda de famílias que a usam para sua subsistência. Unidade didática 3 A terceira unidade, denominada “Cozinha Experimental” foi aplicada em maio/2008, no 8º ano do ensino fundamental no CTPM, em uma turma de trinta e três (33) alunos, organizados em grupos formados por três (3) alunos. Todos os grupos resolveram a atividade no tempo estimado, cem (100) minutos. Esta 54 atividade despertou os alunos para a preparação de alimentos alternativos e motivou a discussão sobre a importância dos alimentos in natura para a obtenção e manutenção da saúde. Foi incentivada a pesquisa de receitas saborosas em livros, jornais e sites da Internet, orientando os alunos a fazerem uma comparação entre os lanches tipo “fast food” e os alimentos naturais levando em conta os tipos de nutrientes oferecidos por cada tipo de alimento e a sua importância para o crescimento e o equilíbrio do organismo. A atividade foi realizada com entusiasmo pelos alunos. De forma descontraída eles discutiram sobre a variedade, a quantidade de calorias e funções dos alimentos naturais. Inicialmente os alunos pesquisaram receitas de alimentos feitos com cascas, folhas, talos, farelos, etc. Esses alimentos são considerados alimentos alternativos por serem pouco usados e ricos em nutrientes essenciais para o organismo. Posteriormente, eles organizaram um caderno de receitas, denominado “Alimentos Alternativos”. Neste caderno as receitas selecionadas foram escritas também em inglês, com o objetivo de exercitar vocabulário e tradução e promover a integração entre as disciplinas Ciências e Inglês. Apresentamos no quadro abaixo seis receitas selecionadas pelos alunos como “preferidas” para exemplificar receitas do caderno elaborado pelos alunos. O caderno de receitas de Alimentos Alternativos pode ser visualizado na íntegra no arquivo material de apoio para o professor disponível no CD que acompanha o caderno “Alimentação e Saúde”. Cada grupo escolheu cinco (5) receitas e selecionou uma ou duas para serem experimentadas na cozinha do CTPM. A experiência de usarmos a cozinha do CTPM como um espaço alternativo de aprendizagem foi muito prazeroso. Foi um momento de integração entre os alunos e o professor e possibilitou trabalhar conteúdos relacionados à higiene dos alimentos e à importância dos alimentos naturais para a saúde, além de saborearmos as receitas experimentadas. 1 - SUCO DE BETERRABA, CENOURA E ACEROLA Ingredientes: 2 beterrabas com casca e cozidas 2 cenouras sem casca acerola açúcar água Modo de preparo: Bata no liquidificador: a beterraba cozida, a cenoura e a acerola. Ponha um pouco de açúcar e água. Sirva gelado. 55 1 – BEET JUICE, CARROT AND ACEROLA Ingredients: 2 boiled beets with peel 2 carrots without peel acerola sugar water Preparation: Blend: boiled beets, carrots and acerola. Pour some sugar and water. Serve it cold 2 - DOCE DE CASCA DE ABÓBORA Ingredientes: 7 xícaras ( chá ) de casca de abóbora picada 3 xícaras ( chá ) açúcar 3 xícaras ( chá ) de água 6 cravos Modo de preparo: Misture todos os ingredientes, com exceção do cravo. Leve-os ao fogo pra cozinhar. Quando a casca de abóbora estiver macia, acrescente o cravo e deixe ferver até engrossar a calda. Sirva gelado. 2 - PUMPKIN SKIN SWEET Ingredients: 7 cups of chopped pumkin skin 3 cups of sugar 3 cups of water 6 cloves Preparation: Mix all the ingredients, except the cloves. Take them to boil. When the pumpkin skin is soft , add the cloves and let it boil until the syrup gets thick. Serve it cold. 3- PUDIM DE GOIABA COM CASCA Ingredientes: 3 goiabas vermelhas picadas 2 xícaras ( chá ) de água 2 xícaras ( chá ) de leite 6 colheres ( sopa ) de maisena 2 xícaras ( chá ) de açúcar Modo de preparo: Lave as goiabas, corte-as em pedaços. Bata as goiabas no liquidificador com água e passe na peneira. Junte os demais ingredientes e bata tudo no liquidificador. Leve ao fogo até engrossar, mexendo bem. Despeje em uma fôrma de pudim umedecida e leve à geladeira. 3– GUAVA SKIN PUDDING Ingredients: 3 chopped red guavas 2 cups of water 2 cups of milk 6 teaspoons of cornflower 2 cups of sugar Preparation: Wash the guavas, cut them in pieces. Blend them with water and sieve. Add the other ingredients and blen. Heat it until it gets thick, mixing it well. Pour it in a moistened pudding mold and put in the fridge. 4 – GELÉIA DE GOIABA Ingredientes: 2 kg de goiabas descascadas 1 kg de açúcar 1 colher ( sopa ) de suco de limão 1 casca de canela 56 Modo de preparo: Cortar as goiabas, levar ao fogo baixo e tampadas, até ficarem pré-cozidas. Deixar esfriar, bater no liquidificador e peneirar. Juntar os demais ingredientes , levar ao fogo e misturar. 4 – GUAVA JELLY Ingredients: 2 k of guavas without skin . 1 k of sugar 1 teaspoon of lemon juice 1 skin of cinnamon Preparation: Chop the guavas , put them in a covered pot until they boil . Let them get cold, then blend and sieve. Join the other ingredients, heat and mix it. 5- BOLO DE CASCA DE ABACAXI Ingredientes: 2 xícaras de caldo de casca de abacaxi 2 ovos 2 xícaras ( chá ) de açúcar 3 xícaras ( chá ) de farinha de trigo 1 colher ( sopa ) de fermento em pó Modo de preparo: Ferva a casca de um abacaxi, com 5 xícaras ( chá ) de água, por 20 minutos. Bata no liquidificador a casca, coe e reserve o caldo e o bagaço separadamente. Bata as claras em neve, misture as gemas e continue batendo. Misture aos poucos, o açúcar e a farinha de trigo, sem parar de mexer. Acrescente 2 xícaras ( chá ) do suco da casca e o fermento. Misture bem. Asse em uma fôrma untada em forno médio. Depois de assado, perfure todo o bolo com um garfo , umedeça com o restante do caldo e se preferir, coloque a casca como cobertura . 5- PINEAPPLE SKIN CAKE Ingredients: 2 cups of pineapple skin juice 2 eggs 2 cups of sugar 3 cups of flour 1 teaspoon of baking powder Preparation: Boil the pineapple skin with 5 cups of water for 20 minutes. Blend the skin , sieve and set the syrup and fruit aside. Blend the egg white, mix the yolks and keep blending. Keep pouring and blending the sugar and flour. Add 2 cups of the skin juice and the baking powder. Mix it well. Bake in a buttered mold in medium heat. After baked, make small holes with a fork, moist the cake with the rest of the syrup and, if you want , top the cake with the skin. 6- SALADA DE CASCA DE ABÓBORA Ingredientes: 2 xícaras ( chá ) de casca de abóbora 1 xícara ( chá ) de tomate picado ½ xícara ( chá ) de cebola picada sal 2 colheres ( sopa ) de azeite Modo de preparo: Lave a abóbora, descasque e rale a casca. Em uma panela, coloque água para ferver e cozinhe a casca da abóbora. Depois de cozida, escorra a água e deixe esfriar. Junte o tomate, a cebola, o sal e o azeite. Leve à geladeira. Sirva fria. 6- PUMPKIM SKIN SALAD Ingredients: 2 cups of pumpkim skin 1 cup of chopped tomato ½ cup of chopped onion salt 57 2 tablespoons of olive oil Preparation: Wash the pumpkim, peel and grate the skin. In a pot, put water to boil and cook the pumpkim skin. After boiled, darin the water and let it be cooler. Add the tomato, onion, salt and olive oil. Put it in the fridge. Serve it cold. Quadro 2- Exemplos de receitas do Caderno “Alimentos Alternativos” elaborado pelos alunos do 8º ano do ensino fundamental do CTPM O caderno Alimentos Alternativos foi produto da união das receitas selecionadas por cada grupo de alunos. Este caderno foi divulgado na feira de cultura do CTPM em novembro de 2008. Os alunos trouxeram de casa alimentos preparados a partir das receitas testadas na cozinha do CTPM, em maio de 2008, para serem degustados pelo público da feira. O desenvolvimento desta unidade didática possibilitou uma integração com a disciplina Inglês e, mais que isso, favoreceu aprofundamento conceitual e conscientização sobre o desperdício e o reaproveitamento dos alimentos. Destacamos também na pesquisa o estímulo aos alunos para fazerem comparação entre os lanches tipo “fast food” e os alimentos naturais quanto aos tipos de nutrientes oferecidos e a sua importância para o crescimento e o equilíbrio do organismo. No decorrer do ano letivo, observamos mudança de hábitos alimentares dos alunos em relação aos lanches que traziam para a escola. Eles trocaram os biscoitos recheados e salgados pelas frutas e sucos. Sendo assim, entendemos que o desenvolvimento desta atividade incentivou os alunos a adotarem hábitos mais saudáveis na sua alimentação diária. Unidade didática 4 A quarta unidade denominada Conservação dos Alimentos - Estudo do paradidático – “Alimentos em pratos limpos” teve como principal objetivo o estudo dos aditivos alimentares e das técnicas de conservação dos alimentos. Ela propõe discussões no que se refere aos alimentos ricos em aditivos presentes em nossa alimentação. A atividade foi aplicada em setembro de 2008, no 8º ano do ensino fundamental no CTPM em uma turma de trinta e cinco (35) alunos, e estes foram organizados em grupos formados por cinco (5) alunos. Esta dinâmica está relacionada com a função dos aditivos alimentares na conservação dos alimentos, 58 as vantagens de se consumir alimentos naturais e a necessidade de ponderar sobre o consumo de alimentos industrializados. A professora pesquisadora apresentou o material paradidático aos alunos, destacando a quantidade e os tipos de aditivos alimentares presentes nos rótulos dos alimentos que consumimos, com a função de conservar, manter a cor, e o sabor dos alimentos. O material paradidático utilizado, ”Alimentos em pratos limpos” (disponível no CD) consiste em um texto dinâmico, ilustrado com informações e exemplos dos principais aditivos utilizados na indústria brasileira e também as técnicas utilizadas para a conservação dos alimentos. A leitura compartilhada em grupos gerou expectativas entre os participantes com relação às opiniões do grupo sobre o tema em questão e a interação entre professor/alunos e tornou a atividade dinâmica por representar um momento para compartilhar fatos, histórias e notícias referente aos aditivos alimentares, divulgados em revistas, livros, Internet, etc (Figura 3). Os grupos discutiram sobre os alimentos ricos em aditivos presentes na nossa alimentação, e a professora comentou a função dos aditivos, as vantagens de se consumir alimentos naturais e ponderou sobre os riscos do consumo exagerado de alimentos industrializados pela população. As atividades propostas nesta unidade possibilitaram um aprofundamento sobre os temas trabalhados. Os alunos aprenderam a identificar os aditivos nos rótulos dos alimentos e a diferenciar técnicas de conservação dos alimentos. 59 Figura 3: Alunos do 8º ano do ensino fundamental do CTPM durante o estudo e resolução de questões do paradidático “Alimentos em pratos limpos”. Fonte: Acervo do autor Verificamos que os adolescentes despertaram para os problemas do uso de aditivos nos alimentos industrializados e adotaram uma postura crítica, passando a refletir sobre as implicações do consumo de aditivos alimentares para a saúde. Isto ficou evidenciado pelos grupos durante a apresentação das respostas para as 60 questões propostas pela professora na conclusão do trabalho. A leitura do texto paradidático, referente a um tema que não é abordado no livro texto de Ciências adotado no CTPM, foi muito importante para os alunos. Observamos que eles adquiriram conhecimentos importantes após o estudo do livro e durante o desenvolvimento das atividades propostas nesta unidade didática. Unidade didática 5 A quinta unidade denominada “Conservação e Rotulagem dos Alimentos – Visita ao Supermercado e Confecção de Rótulos”, teve o objetivo de trabalhar os aspectos relativos à: leitura de rótulos, escolha, compra, conservação, condições de armazenamento e composição dos alimentos que estão à disposição no comércio. Uma das atividades foi realizada em um supermercado da rede Araújo, na cidade de Governador Valadares, em novembro de 2008, com os alunos do 8º ano do ensino fundamental, em uma turma de trinta e cinco (35) alunos, e estes foram organizados em grupos de três (3) e cinco (5) alunos. Todos os grupos fizeram a pesquisa no tempo estimado de cem (100) minutos (Figuras 4 e 5). Esta atividade focaliza os aditivos alimentares, destacando questões relativas à quantidade, tipos e utilização nos alimentos. 61 Figura 4: Alunos do 8º ano, ensino fundamental, CTPM recebendo instruções da Professora pesquisadora referente a visita ao supermercado Araújo de Gov. Valadares Novembro 2008 Fonte: Acervo do autor 62 Figura 5: Alunos do 8º ano, ensino fundamental, CTPM durante a visita ao Supermercado Araújo de Governador Valadares- Novembro 2008 Fonte: Acervo do autor 63 Observamos que os alunos durante a visita ao supermercado tiveram dificuldade na leitura dos rótulos dos alimentos escolhidos, principalmente com relação à composição química dos alimentos, expressa por termos técnicos que o aluno desconhece. Durante a visita, a professora pesquisadora explicou os termos técnicos para os alunos sempre que era solicitada por eles. Na sala de aula estas explicações foram retomadas por meio da apresentação e análise do rótulo apresentado na figura 6. Os alunos tiveram que identificar nos rótulos dos produtos selecionados por eles no supermercado: os ingredientes (composição nutricional), conteúdo líquido em peso ou volume, origem (endereço do fabricante ou importador), o lote, o prazo de validade, o preparo e as instruções de uso. Figura 6: Exemplo de rótulo de alimento. Fonte: Disponível em: GOOGLE IMAGENS, 2009 Os alunos utilizaram uma tabela (veja exemplo na figura 7) para coletar as informações sobre os dez (10) produtos alimentícios escolhidos no supermercado e depois da pesquisa responderam questões propostas para verificação de aprendizagem sobre os aditivos alimentares (Figura 8). 64 Figura 7: Exemplo de tabela de produtos escolhidos no supermercado por alunos do 8º ano do ensino fundamental do CTPM. Fonte: Acervo do autor 65 Figura 8: Exercício de verificação de aprendizagem sobre aditivos alimentares realizados por alunos do 8º ano do CTPM. Fonte: Acervo do autor 66 Os grupos destacaram, durante a atividade, a repetição da maioria dos alimentos escolhidos por eles (batata frita, wafer, biscoito recheado, Kapo, leite condensado, maionese, salsicha, chocolate, refrigerante, todinho, “chips”). Eles mesmos concluíram que isto aconteceu por gostarem de alimentos ricos em açúcares e gordura. A leitura e análise dos rótulos, além de possibilitar aprendizagem sobre composição, conservação e preparo dos alimentos, fizeram os alunos refletirem sobre questões tais como: “o que estou comprando?”, “o consumo deste alimento é saudável?”. Após a atividade, a maioria dos alunos considerou que o refrigerante, a batata frita, o chocolate, o “chips”, a salsicha, a maionese entre outros, são alimentos que contêm alto teor de aditivos e conservantes, e, portanto, não são saudáveis para o consumo diário e devendo ser consumidos com moderação ou evitados. Os rótulos de alimentos elaboradas pelos participantes e veiculados na sala de aula demonstraram que eles aprenderam e se preocuparam com informações relacionadas à validade, modo de preparo, procedência, valor calórico e composição química dos alimentos. Observamos que, após a atividade, os alunos ampliaram seus conhecimentos sobre as informações nutricionais dos alimentos, demonstram preocupação com a sua alimentação e manifestam o desejo de mudança de comportamento em relação aos hábitos alimentares. Na apresentação dos rótulos, alguns alunos citaram que: “a leitura do rótulo permite ao consumidor conhecer melhor o produto” “seguir as instruções de preparo e armazenamento ajuda no rendimento e na conservação do valor nutritivo do alimento e também pode facilitar o seu aproveitamento pelo organismo”. Esta atividade despertou os alunos para os hábitos alimentares não saudáveis, sendo este o foco da discussão dos grupos na elaboração dos rótulos. Ficou evidenciada, nos comentários dos alunos, a necessidade de mudança de comportamento em relação à alimentação: “Vou tentar evitar mais frituras, comer mais verduras, legumes e muitas frutas e também praticar esportes”. 67 “Preciso tomar menos refrigerantes, tem muitos aditivos, pois, isso não é uma boa para a saúde”. “Como pizzas, alimentos enlatados e tomo muito sorvete, preciso mudar completamente a minha dieta. Devo colocar na minha dieta mais frutas, verduras e legumes.” “Depois dessa visita ao supermercado e do estudo do paradidático, preciso fazer uma reeducação alimentar”. “Os confetes (chocolate), e a pipoca Elma Chips (sensação ao forno), tem muitos aditivos, agora com tanta informação, vou tentar diminuir o consumo.” Observamos que as atividades desenvolvidas nesta unidade didática possibilitaram ainda o desenvolvimento da capacidade de observar e criticar aspectos relacionados ao “marketing” promovido pelas indústrias de alimentos, através de propagandas, que incentivam o consumo de alimentos ricos em aditivos. Interessante foi o fato de, na atividade de confecção de rótulos, a maioria dos alunos escolherem alimentos naturais para criar os produtos (sucos de frutas e vegetais, frutas, salada de frutas com granola, verduras e outros), e durante a apresentação da atividade, justificarem a escolha por serem alimentos saudáveis e não apresentarem aditivos em sua composição. Consideramos que os alunos adquiriram, portanto, postura crítica em relação à escolha de alimentos. Isto foi evidenciado pela criação de rótulos de alimentos naturais ricos em vitaminas, proteínas, fibras, sais minerais, etc, ao invés de alimentos ricos em gordura, açucares e aditivos. As atividades em grupo possibilitaram também uma integração entre os alunos . A troca de informações entre eles foi fundamental para auxiliar o grupo que apresentava dificuldades, por exemplo, para descrever o prazo de validade dos alimentos, por serem informações específicas atribuídas a cada tipo de alimento. 68 Unidade didática 6 A sexta unidade “Influência da mídia na alimentação” dá continuidade aos conteúdos trabalhados na unidade 5 e tem como foco principal a aplicação de conhecimentos sobre alimentação saudável de forma atraente, com as atividades de elaboração de propaganda e desenvolvimento de júri simulado. As atividades foram aplicadas no 8º ano do ensino fundamental do CTPM de Governador Valadares, em novembro de 2008, em uma turma de trinta e cinco (35) alunos, que foram organizados em grupos de 2 ou 3 alunos. Todos os grupos realizaram a atividade no tempo estimado de 100 minutos. Nesta unidade trabalhamos com as propagandas de alimentos veiculadas nos meios de comunicação e estimulamos a visão crítica dos alunos em relação ao “marketing” que a indústria faz para induzir a população, em especial os adolescentes, a consumir alimentos que não são saudáveis e que não devem estar presentes com freqüência na alimentação. Os alunos em duplas ou em grupos de três escolheram figuras de alimentos naturais representados por frutas, verduras, cereais, leguminosas, legumes, folhas, etc. distribuídas pelo professor. No momento da escolha observamos que os alunos demonstram conhecimento sobre a composição química dos alimentos considerados saudáveis, conteúdo abordado em atividades anteriores. Os alunos foram incentivados pela professora a criarem propagandas atrativas para o público adolescente que não tem conhecimento sobre os alimentos saudáveis. Os alunos foram orientados que ao ler ou assistir a propaganda criada o público adolescente deveria, por exemplo, desejar trocar um sanduíche tipo “fast- food” por uma salada de frutas com granola e uva passas. Constatamos que nas propagandas elaboradas os alunos utilizaram uma comparação crítica entre os alimentos que tem a função de promover a saúde versus os que não considerados saudáveis para o consumo diário (Figura 9 e 10). Observamos ainda que os alunos discutiram com interesse as informações sobre os alimentos divulgados na mídia, estratégias que utilizam cores vibrantes e recursos com o objetivo de despertar no adolescente o desejo de consumir. Os alunos concluíram também que os alimentos naturais são menos divulgados ou não tem a mesma estratégia de “marketing” dos alimentos industrializados. 69 Figura 9: Propaganda de alimentos elaborada por alunos da 8º ano A do CTPM de Governador Valadares. Fonte: Acervo do autor. 70 Figura 10: Propaganda de alimentos elaborada por alunos da 8º ano B do CTPM de Governador Valadares. Fonte: Acervo do autor. 71 Com relação ao desenvolvimento do júri simulado, os alunos consideraram uma atividade enriquecedora e interessante e manifestaram que ela proporcionou: possibilidade de aplicação dos conhecimentos sobre o tema; maior integração e envolvimento entre os componentes dos grupos da defesa e acusação; discussão sobre a propaganda dos alimentos vendidos na cantina da escola e no comércio (neste momento eles resgataram a visita feita ao supermercado); um momento descontraído e sério ao mesmo tempo, de conscientização sobre a influência da propaganda na escolha de alimentos. Esta unidade didática, juntamente com as anteriores, possibilitou reflexão sobre os tipos de alimentos que devem estar presentes na alimentação do adolescente, sobre a necessidade da mudança de hábitos alimentares e também sobre os tipos de alimentos comercializados na cantina da escola. Esta reflexão foi convertida em ação concreta uma vez que os alunos fizeram uma solicitação formal à direção do CTPM, que, no ano seguinte, eles gostariam que a cantina oferecesse frutas, diversos tipos de sucos, saladas de frutas e outras opções alimentares saudáveis, em lugar de priorizar os salgados, batata frita, todinho, balas e biscoitos recheados, visto que esses são alimentos que não devem ser consumidos com freqüência pelo adolescente. Esta reflexão dos alunos condiz com o referencial teórico deste trabalho, na medida em que o conhecimento, associado à razão, relaciona-se essencialmente com a consciência moral que se manifesta na capacidade de atos teleológicos, ou seja, na capacidade de escolhas conscientes, antes de lançar-se na ação. O referencial teórico escolhido procura oferecer subsídios para que os adolescentes, através de meios éticos – meios adequados a fins humanistas – atinjam fins também éticos, portanto, que valorizam o ser humano como um todo. Depois da aplicação das unidades didáticas propostas nesta pesquisa – subsídios oferecidos aos alunos para uma consciência racional e crítica – os adolescentes desenvolveram a capacidade de escolher, tendo como finalidade uma alimentação saudável e prazerosa, através do conhecimento dos alimentos e identificação de quais deles são, de fato, saudáveis e, verdadeiramente prazerosos. Os alunos optaram por uma alimentação rica em nutrientes, convencidos de que este é o meio para uma vida com saúde, com qualidade e, assim, que condiciona o corpo a uma imagem esteticamente desejável. Desta maneira, tornaram-se menos susceptíveis ao poder da lógica do capital, consubstanciada nas propagandas que 72 levam os adolescentes a comprar apenas por um determinado “marketing” e que através do invólucro com cores vibrantes, frases e imagens aparentemente interessantes, esconde sua verdadeira finalidade mercadológica e não humanista. Unidade didática 7 A sétima unidade, denominada “Dietas da Moda” incentivou os alunos para a leitura e pesquisa de textos informativos sobre dietas da moda, reflexão sobre os perigos das dietas populares na vida do adolescente e proporcionou informações a respeito dos princípios e conseqüências dos principais transtornos alimentares que os afetam. A atividade foi aplicada em dezembro/2008, no 8º ano do ensino fundamental no CTPM em uma turma de trinta e três (33) alunos, e estes foram organizados em grupos formados por três (3) alunos. Todos os grupos realizaram a atividade no tempo estimado, cem (100) minutos. As atividades desta unidade proporcionaram aprofundamento conceitual sobre a composição e importância dos alimentos saudáveis, sobre questões relacionadas ao padrão de beleza para o adolescente, sobre os principais transtornos alimentares e produziu momentos de discussão sobre a relação da prática de dietas restritivas e a ocorrência dos transtornos alimentares. A professora entregou cópias do texto “A dieta da Moda” (Educação Nutricional para os alunos do ensino fundamental, 2001, p.47-49), para os grupos formados por três (3) alunos. Após a leitura os grupos discutiram os aspectos principais do texto e socializaram as informações. A professora participou da discussão e pediu para três (3) grupos apontarem as vantagens e desvantagens de cada tipo de dieta pesquisada. Este foi um momento interessante, pois, todos os grupos começaram a relatar experiências pessoais de casos de dietas na família, ou com amigos próximos. Aproveitamos este momento para comentar sobre a bulimia e a anorexia, transtornos alimentares com incidência alta entre a população adolescente, considerados perigosos por causar prejuízos graves à saúde. Durante as discussões que ocorreram nesta unidade, observamos que o conhecimento referente aos grupos e composição de alimentos estudados em atividades anteriores fora resgatado. Os alunos ponderaram que o consumo de alimentos nutritivos em quantidades corretas, ricos em nutrientes essenciais para o 73 organismo associados à atividade física é à alternativa ideal para o adolescente que deseja controlar o peso e ter saúde. O desenvolvimento desta unidade possibilitou reflexão sobre temas importantes para os adolescentes como: atividade física e alimentação equilibrada hábitos de vida considerados essenciais para o controle de peso corporal com responsabilidade e sem prejuízo para a saúde. As discussões sobre os padrões de beleza retomaram as questões referentes ao “marketing” dos cosméticos, confecções, sapatos e acessórios de beleza associados à imagem de moda e de sucesso. Os alunos perceberam que é preciso ter cuidado com os modelos de “ideais de beleza” que circulam na mídia. É importante cuidar do corpo e ter saúde, e não ter os padrões de beleza como referência para sua vida. Ficaram evidenciadas na apresentação do roteiro informativo sobre transtornos alimentares elaborados pelos alunos a conscientização referente aos riscos oferecidos por dietas restritivas e a relação entre a prática destas diesas e a ocorrência de transtornos alimentares. 74 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta dissertação descreveu o planejamento, a produção e a testagem das unidades didáticas consolidadas sob o título “Alimentação e Saúde”. A produção deste material teve como objetivo contribuir com a prática profissional do professor de Ciências, para enfrentar desafios no sentido de despertar a curiosidade e o interesse dos alunos e, assim, propiciar a aprendizagem de conteúdos relacionados à alimentação e saúde. Os alunos do 8º ano, sujeitos de nossa pesquisa-ação, estão no momento da adolescência em que a cobrança imposta pela sociedade por determinada imagem corporal é muito forte. Não há dúvida de que a adolescência é um período da vida no qual existe uma profunda valorização dessa imagem, podendo ter reflexos nos hábitos alimentares. Partindo desse pressuposto, procuramos encaminhar, por meio de um referencial humanista, nossa preocupação em tratar deste assunto em sala de aula. Desta maneira, procuramos proporcionar aos alunos vivências de situações que possibilitassem a valorização do conhecimento para que eles pudessem valorizar, também, práticas e comportamentos saudáveis. Abordamos temáticas que não são abordadas normalmente no conteúdo programático da 8º ano, e a aglutinação desses temas mostrou-se enriquecedora por proporcionar, aos alunos, uma seqüência de atividades contextualizando o conteúdo e suas aplicações. Por isso, permitiu que a aprendizagem do aluno fosse além das discussões cotidianas, o que inferimos se dever à pesquisa e às atividades práticas atraentes, que buscaram desenvolver, no aluno, a responsabilidade em relação aos hábitos alimentares saudáveis e o espírito crítico sobre os alimentos industrializados consumidos, diariamente, em virtude da alienação decorrente do “marketing” a serviço da lógica do capital que faz com que tais alimentos sejam vistos como essenciais para a vida do adolescente. Neste trabalho, o tipo de pesquisa usado foi o da pesquisa qualitativa, que através do método técnica de pesquisa-ação. Os resultados encontrados foram organizados em tabelas, sendo interrelacionados e analisados com base no referencial teórico crítico da supremacia da razão instrumental, que gera nossa submissão à sociedade de consumo e o irracionalismo de nossas “escolhas” produzido por força do sistema capitalista. 75 Os resultados e registros obtidos por meio da investigação, do relato da experiência e das discussões dos alunos do Colégio Tiradentes da polícia Militar – MG apresentados neste trabalho, apontam para a necessidade de realizar atividades relacionadas a temática “Alimentação e saúde” no espaço escolar. O interesse manifestado pelos alunos, durante as atividades, fortalece a suposição de que se trata de um tema e de atividades muito importantes na vida deles e que deve ser abordado na escola. Verificamos, então, a importância de propostas pedagógicas que ajudem o professor e o aluno a trabalharem, na prática de sala de aula, um tema que traz conhecimentos atualizados em artigos, jornais, livros, etc, proporcionando conhecimento e aprendizagem apoiados na metodologia científica. Observamos, pois, que no contexto de vida dos adolescentes, no qual estão presentes variáveis como grande apelo ao consumo e forte influência da mídia, a escola pode exercer um papel fundamental na promoção da educação e saúde. A cantina e a cozinha da escola mostraram-se espaços alternativos para o ensino de conteúdos de Ciências relacionados a alimentação e saúde de forma a permitir a articulação entre a teoria e a prática. Dando continuidade ao trabalho, o material será implementado no CTPM/GV e em outras unidades do CTPM que desejarem, devendo ser submetido a novas análises que sirvam de base para alterações e aperfeiçoamento. Isto é importante uma vez que o assunto tratado constitui uma área da Ciência que está em constante transformação. Pretende-se, também, tornar este material disponível para outras escolas de ensino fundamental de Governador Valadares, por meio de divulgação do trabalho entre os professores de Ciências. Finalmente, espera-se que o material de apoio didático para o professor, aqui apresentado, seja proveitoso para sua prática e a aprendizagem dos alunos, contribuindo para a construção de conhecimentos, e de desenvolvimento de habilidades e competências na área de ensino de ciências, mais especificamente na área da nutrição, e possa ser útil nos processos de atualização/capacitação dos professores do ensino fundamental de Governador Valadares. 76 REFERÊNCIAS ALBANO, R. D. Estado nutricional e consumo alimentar de adolescentes. 2000.79f. Dissertação (Mestrado) – Faculdade de Saúde Pública, Universidade de São Paulo. São Paulo, 2000. AMODIO M. F. P.; FISBERG M. 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( ) 1 vez ( ) 4 vezes ( ) 2 vezes ( ) 5 vezes ( ) 3 vezes ( ) Nenhuma 2) Em que local(is) você costuma comer fora de casa? ( ) Bares ( ) Redes “fast food” ( ) Lanchonetes ( ) Ambulantes ( ) Restaurantes/Pizzarias ( ) Feiras 3) Quantos copos de água (líquidos) você toma por dia? ( ) 1 a 3 copos ( 200 a 600 mL) ( ) 12 a 15 copos (2,4 a 3,0L) ( ) 4 a 7 copos (800 mL a 1,4L) ( ) 16 a 19 copos (3,2 a 3,8L) ( ) 8 a 11 copos (1,6 a 2,2L) ( ) Mais de 20 copos (mais de 4,0L) 4) Você deixa de consumir algum alimento por achar que faz mal à saúde? Sim. Qual(is)? _________________________________________________________ ( ) Não Porquê?_____________________________________________________ 83 5) Você faz algum tipo de dieta ou regime? Sim ( ) _________________________________________________________ Porquê?_________________________________________________________ Não ( ) 6) Escreva o que devemos observar nas embalagens dos alimentos para saber se ele está em boas condições e é saudável para o consumo. ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 7) Marque com um X a frequência que você consome os alimentos apresentados abaixo: Alimento Todo dia 2 -3 vezes por semana 1 vez por mês Nunca Arroz Feijão Massas (macarrão, nhoque, lasanha, pizza, etc) Pão/Biscoito Café Cereais Ovos Carnes Leite e derivados Margarina, manteiga e maionese Verduras (alface, couve, etc) Legumes (tomate, cenoura, etc.) Frutas/Suco de frutas Refrigerante Lanches e sanduíches (Fast Food) Achocolatados (nescau, toddy, etc) Doces Chocolates e bombons Sorvetes Enlatados Embutidos (linguiça, salsicha, mortadela, etc.) Defumados Condimentos ( catchup, mostarda, etc.) Biscoitos recheados Salgadinhos “chips” Salgados (coxinha, pastel, etc.) Outros. Quais? _____________________________ _____________________________ 8) O que é alimentação saudável? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 84 9) Na sua opinião, quais os grupos de alimentos devem estar presentes numa alimentação saudável? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 10) O que você entende por qualidade de vida? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 11) Na sua Escola, o tema “Alimentação e Nutrição” já foi abordado em sala de aula? ( ) Sim ( ) Não 12) Em que disciplina(s)? ( ) Matemática ( ) Ciências ( ) Português ( ) Educação Física ( ) História ( ) Educaçào Artística ( ) Geografia ( ) Inglês ( ) Outra: ________________________________________________ 13) O que você aprendeu na escola sobre estes temas? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 14) Quais os assuntos sobre alimentação e nutrição você gostaria de obter mais informações? ___________________________________________________________________ ___________________________________________________________________ 85 APÊNDICE B CONSENTIMENTO LIVRE E INFORMADO Governador Valadares, 09 de fevereiro de 2009 Consentimento Livre e Informado: À Direção do Colégio Tiradentes da PMMG/Governador Valadares. Endereço: Rua Marechal Floriano, nº 2781 – Bairro de Lourdes, cep. 35030-330, Governador Valadares – MG. Diretora Pedagógica: Vânia Rios de Assis Siqueira Venho por meio deste, solicitar permissão da direção desta Escola, para o desenvolvimento da pesquisa com os alunos da 8º (oitavo) ano do Ensino Fundamental desta instituição, referente ao projeto de mestrado “Unidades Didáticas: Uma Proposta Metodológica Humanista Sobre Alimentação e Saúde no Ensino Fundamental, para a realização da pesquisa deste trabalho. A pesquisa ocorrerá durante a aula de Ciências no Colégio Tiradentes da Polícia Militar – GV. Trata-se de uma pesquisa de caráter qualitativo com o objetivo de realizar um estudo da pertinência da proposta e da validade das atividades de uma Seqüência Didática para coloca-la em prática. Informamos que a pesquisa é a base para minha dissertação de Mestrado em Ensino de Biologia, da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais PUC-MINAS. Salientamos que os dados são confidenciais, os nomes dos alunos não serão utilizados em nenhum momento, garantindo sua privacidade e anonimato. Este é um procedimento necessário em pesquisa. Por estarem de acordo com este termo, ambos os envolvidos assumem o compromisso de levarem-no adiante, subscrevendo-se abaixo. ___________________________ Professora pesquisadora Luzimar Célia de Souza ___________________________ Diretora do Colégio Tiradentes da Polícia Militar - GV Vânia Rios de Assis Siqueira