Leia na íntegra o artigo de Hélio Duque

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Inflação e preços artificiais
Hélio Duque
Controlar preços para maquiar a inflação, é criar um monstro com
tentáculos assustadores. É questão de tempo a conta chegar e a grande vítima
será a sociedade, com efeito devastador para as classes trabalhadoras. Com a
inflação reprimida pela irresponsabilidade de um governo, ao ser atualizada pela
irrevogável lei da economia, a perda de poder aquisitivo será massacrante para
os assalariados. Uma economia séria e saudável se alicerça nos binômio “preços
livres + preços administrados”. Desde a milenar Mesopotânia, a lei da oferta e da
procura é fundamento inegociável para quantificar valores de bens e serviços.
Preços livres são aqueles definidos pelo marcado, se a inflação cresce eles são
automaticamente atualizados. Preços administrados
são controlados pelo
governo. Quando a mágica contábil é praticada por governos, a falsificação das
expectativas inflacionárias torna-se realidade. A racionalidade econômica é
atropelada com objetivos populistas e eleitoristas. Autêntico estelionatarismo
econômico. O economista Armínio Fraga é objetivo: “O custo de tomar medidas
impopulares é muito menor do que a de não tomar.”
“Dilma fará discurso de que segurar preço é melhor para o
trabalhador”, era a manchete da página B3, do jornal “Folha de S.Paulo” (6-42014). Relatava a reunião reservada no Palácio da Alvorada, com vários
ministros, “a presidente da República, discutiu estratégia para desconstruir
discurso da oposição de que o governo segura artificialmente os preços
administrados, empurrando para 2015 reajustes da gasolina e da energia”. Na
reunião, pontificou o ministro Paulo Bernardo, das Comunicações: “Ao criticar o
governo por segurar os preços administrados, o que Aécio e Dudu Campos
defendem é o aumento da gasolina e da conta de luz. Os investidores aplaudem
esse discurso, ficam excitados, mas, quando o povo souber o que isso significa,
não vai gostar nem um pouco”. Fica claramente comprovado que o achatamento
artificial dos preços administrados é uma política oficial de curto prazo. No médio
e longo prazo fadada a gerar situação insustentável e dramática para a
população.
As “mães e tutores” da representação popular chegam ao
surrealismo de advertir os candidatos da oposição de, supostamente, o povo não
gostar nem um pouco, eles falarem a verdade. O ministro da Fazenda amplia o
irrealismo afirmando que “a inflação está estável, sob controle e não preocupa”. É
contestado pela escalada dos preços, penetrando agressivamente no bolso dos
trabalhadores. Do quitandeiro às redes de supermercado. Sinaliza permanentes
reajustes, fruto da inflação reprimida, em vários segmentos econômicos. A última
pesquisa Datafolha aponta que a população em 65% acredita que a inflação vai
aumentar e 45% consideram que o desemprego vai crescer nos próximos meses.
Nesse cenário adverso não será surpresa se o governo optar por aumento de
impostos, numa escalada de desespero, para financiar a gastança pública.
Naquela reunião do Palácio da Alvorada, a presidente da República,
deveria ter convidado o fundador do PT, economista sério e independente Amir
Khair. Em “O Estado de S.Paulo” (6-4-2014), o antigo militante petista é objetivo:
“Este ano vão piorar ainda mais os fundamentos macroeconômicos do País. Além
de piora nos fundamentos, deverá continuar o desgaste nas duas maiores
empresas estatais: Petrobrás e Eletrobrás entupidas de dívidas, que continuam
em ascensão por serem obrigadas a praticar preços e tarifas artificiais e
funcionar como biombos da inflação, em vez de cumprir objetivos de expansão
estratégicos ao País.” E sentencia: “O represamento dos preços administrados
parece já estar atuando no sentido oposto do que o governo deseja, ou seja, os
agentes econômicos prevendo os reajustes que virão já estão se antecipando no
reajuste de bens e serviços dos combustíveis e da energia elétrica há o risco de
rompimento da meta de inflação neste ano. É o feitiço virando contra o feiticeiro”.
O fato determinante é indiscutível: o governo Dilma Rousseff herdou
do antecessor uma sucessão de erros e equívocos que foram aperfeiçoados na
sua administração. Com isso atingiu no coração a estabilidade econômica, onde a
manipulação dos preços administrados afetou a sua própria credibilidade de
gestora. As contas públicas foram desestruturadas, fruto de submissão distribuída
a mancheia a bancos públicos e setores privados, é outro indicativo. Igualmente a
irresponsável mexida na taxa de juros, reduzindo para 7,25%, acreditando que
estimularia o crescimento econômico. Hoje a taxa Selic está em 11%, a inflação
indomesticada agregada a baixo crescimento da economia. O agravamento das
contas externas, de acordo com o Banco Central, em 2013, gerou um déficit de
US$ 82 bilhões. E para 2014, a performance deve se repetir. Vale dizer o Brasil é
hoje vulnerabilíssimo aos capitais internacionais especulativos. A sucessão de
erros, equívocos e notável autossuficiência na condução da política econômica,
vai cobrar terrível preço da sociedade brasileira. O ano de 2015 não será fácil.
Preparem os cintos, o vôo vai ser muito turbulento.
Hélio Duque é doutor em Ciências, área econômica, pela Universidade Estadual
Paulista (Unesp). Foi Deputado Federal (1978-1991). É autor de vários livros
sobre a economia brasileira e suplente do Senador Alvaro Dias
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