EFEITO DA SUPLEMENTAÇÃO COM ÓLEO DE PEIXE SOBRE O CURSO DA INFECÇÃO EXPERIMENTAL in vivo E in vitro POR Trypanosoma cruzi. 2015-2016 Helena Tiemi Suzukawa, Maria Isabel Lovo-Martins, Phileno Pinge Filho, [email protected] Universidade Estadual de Londrina, Centro de Ciências Biológicas (CCB) Área e subárea do conhecimento: Ciências Biológicas/Imunologia. Palavras-chave: Trypanosoma cruzi; óleo de peixe; Células Dendríticas. Resumo A resposta imune inata na fase aguda da infecção por Trypanosoma cruzi, com participação de macrófagos e células dendríticas, é importante para o controle da carga parasitária e desenvolvimento da resposta imune adaptativa contra o parasito. A suplementação com fontes de ácidos graxos poli-insaturados n-3 (PUFAs n-3), ou ômega-3, está associada com redução da inflamação e diminuição da resistência a doenças infecciosas. O objetivo deste trabalho foi investigar a influência dos PUFAs n-3 na infecção experimental in vivo e in vitro por T. cruzi. Camundongos C57BL/6 foram suplementados diariamente por gavagem com PBS, óleo de milho (rico em PUFAs n-6) ou óleo de peixe (rico em PUFAs n-3) (0,6% v/w) por 15 dias antes da infecção por T. cruzi Y e durante o curso da infecção. Para posteriores estudos in vitro foram testados protocolos de derivação de células dendríticas a partir da medula óssea de camundongos C57BL/6. No 7º dia pós infecção (dpi), camundongos tratados com óleo de peixe apresentaram maior parasitemia (p<0,0001), melhora na contagem de plaquetas (p<0,001) e de leucócitos (p<0,0001) e menor parasitismo cardíaco (p<0,001) no 12º dpi. A obtenção de células dendríticas a partir da medula óssea de camundongos está sendo padronizada utilizando a metodologia descrita por Lutz e cols. (1999), com modificações. Nossos resultados indicam que a suplementação com óleo de peixe apresenta potencial em atenuar o curso da infecção por T. cruzi em camundongos. Introdução A Doença de Chagas (DC) é uma doença tropical negligenciada que acomete cerca de 6 a 7 milhões de pessoas na América Latina, entretanto têm sido relatados casos de pacientes chagásicos em outros continentes em que a doença não é endêmica (WHO, 2016). 1 O uso de suplementos à base de PUFAs n-3 ou popularmente conhecido como ômega-3, é largamente utilizado pelas pessoas visando a redução de triglicerídeos, diminuição de arritmias cardíacas, tromboses, diminuição da pressão arterial e pelo seu próprio efeito anti-inflamatório (BRADBERRY; HILLEMAN, 2013), entretanto ainda não são bem elucidados seus efeitos em doenças infecciosas, onde uma resposta imunológica eficiente é necessária para controlar e eliminar o agente etiológico da doença, como no caso da DC, o protozoário T. cruzi. Procedimentos metodológicos Foram utilizados camundongos isogênicos das linhagens C57BL/6 machos de 8 a 12 semanas de idade (Processo 111/2015), tratados via gavagem com óleo de milho, óleo de peixe e PBS por 15 dias antes da infecção por 5x10 3 formas tripomastigotas sanguíneas de T. cruzi. Após 3 dias pós infecção (dpi), foi realizada parasitemia em dias alternados, sendo os resultados expressos por números de parasitas/ml de sangue. A hematologia dos animais experimentais foi realizada no 5º, 7º, 12º dpi. Para análise histológica, foram coletados os corações no 12º dpi, sendo as lâminas contadas em aumento de 400x. Para derivação de células dendríticas de medula óssea foi testado o protocolo descrito por Lutz (1999). Protocolos com alterações estão sendo padronizados em nosso laboratório. Para a análise estatística foram empregados testes de Análise de Variância (ANOVA), seguido do pós-teste de comparação múltipla Bonferroni. Os dados foram analisados no programa de computador PRISM (versão 5.0, GraphPad, San Diego, USA). Valores de p<0,05 foram considerados significativos. Resultados e Discussão No 7º dia após a infecção, camundongos tratados com óleo de peixe apresentaram maior parasitemia (p<0,0001) como pode ser observado na Figura 1. Figura 1: Efeito da suplementação com PUFAs no curso da infecção por T. cruzi. Segundo Marcondes e colaboradores (2000), a infecção por T. cruzi pode estar associada à anemia, trombocitopenia, leucopenia e aplasia medular, aliado a 2 isso, PUFAs n-3 podem ser substratos para as enzimas cicloxigenases 1 e 2 (COX-1 e COX-2) e 5-lipoxigenase (5-LO), produzindo eicosanoides e leucotrienos menos inflamatórios (CALDER, 2002). Além disso, PUFAs n-3 também possuem a capacidade de suprimir monócitos de sintetizarem citocinas pró-inflamatórias, importantes para o controle do parasito na fase aguda da doença (PUERTOLLANO et al., 2005). No entanto, em nossos experimentos o tratamento com óleo de peixe demonstrou uma melhora na contagem de plaquetas (p<0,001) e de leucócitos (p<0,0001), além de menor parasitismo cardíaco (p<0,001) no 12º pós-infecção (Figura 2). Figura 2: I) Efeito da suplementação com PUFAs na leucopenia (A) e trombocitopenia (B) em camundongos infectados por T. cruzi (Y) no 5º, 7º e 12º dia após a infecção. II) Efeito da suplementação com PUFAs nos ninhos de amastigotas no tecido cardíaco de camundongos C57BL/6 infectados por T. cruzi (12º dia após a infecção). A padronização dos protocolos de células dendríticas provindas da medula óssea, seguiu o protocolo proposto por Lutz (1999), com alterações. Resultando em duas fenotipagens. Na Figura 3B, foram obtidas células através do protocolo original e fenotipadas com os marcadores CD11c (marcador de células dendríticas) e CD45 (molécula coestimulatória), mostrando que 33,2% das células obtidas selecionadas no gate R2 são CD11c+ e 1,8% CD11C+/CD45+. A fenotipagem seguinte foi feita a partir de células que foram diferenciadas pelo mesmo protocolo, mas com redução dos dias de cultivo e estímulo. As marcações foram feitas com CD11c, CD11b (marcador de monócitos e macrófagos, mas pode estar presente em células dendríticas também) e MHCII. Entretanto, obtivemos alta concentração de células marcadas com CD11b+, indicando a predominante presença de macrófagos na cultura. A caracterização mostra que 51,3% das células obtidas selecionadas no gate R2 são CD11b+/MHCII+(Figura 4B). Figura 3: Caracterização de células dendríticas diferenciadas a partir da medula óssea de camundongos C57BL/6. A) Estratégia de gate. B) Células de R2 analisadas por citometria de fluxo (Accuri C5, BD biosciences) para a presença de marcadores CD11c e CD45 (eBioscience). 3 Figura 4: Caracterização de células dendríticas diferenciadas a partir da medula óssea de camundongos C57BL/6. A) Estratégia de gate. B) Células de R2 analisadas por citometria de fluxo (Accuri C5, BD biosciences) para a presença de marcadores CD11b e MHCII (eBioscience). Conclusões Nossos resultados indicam que a suplementação com óleo de peixe apresenta potencial em atenuar o curso clínico da infecção por T. cruzi em camundongos. A investigação dos efeitos dos PUFAs em células do sistema imune inato, como células dendríticas, é pertinente para elucidar os mecanismos que levam aos fenômenos observados in vivo. Referências WHO. American Tripanosomiasis (Chagas Disease). Disponível em: <http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs340/en/> Acesso em: 05 abr. 2016. BRADBERRY, J. C.; HILLEMAN, D. E. Overview of Omega-3 Fatty Acid Therapies. P&T, v. 38, n. 11, 681-691, 2013. LUTZ, M. B.; KUKUTSCH, N.; OGILVIE, A. L. J.; RÖBNER, S.; KOCH, F.; ROMANI, N.; SCHULER, G. An advanced culture method for generating large quantities of highly pure dendritic cells from mouse bone marrow. 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