EFEITO DA INIBIÇÃO DA CICLOOXIGENASE-2 SOBRE A INVASÃO DE CÉLULAS DENDRÍTICAS HUMANAS POR TRYPANOSOMA CRUZI Fernando Fernandes dos Santos (CNPq), Sandra Cristina Heim Lonien, Phileno Pinge Filho. E-mail: [email protected] Universidade Estadual de Londrina/Laboratório de Imunopatologia Experimental/CCB. Área e sub-área do conhecimento: Ciências Biológicas, Imunologia Celular Palavras-chave: Célula dendrítica, Ciclooxigenase-2, Trypanosoma cruzi Resumo A doença de Chagas é uma doença negligenciada causada pelo protozoário Trypanosoma cruzi. Este microorganismo possui formas infectantes chamadas tripomastigotas e formas esféricas conhecidas como amastigotas. Durante a infecção humana, o parasita provoca uma resposta inflamatória mediada por várias moléculas secretadas pelas células do sistema imune que mobilizam fagócitos mononucleares, tais como as células dendríticas (DCs). Tais compostos químicos são eicosanoides, óxido nítrico e citocinas que são responsáveis por modular a resposta celular diante da invasão do parasito. As células dendríticas são responsáveis por fagocitar, processar e apresentar antígenos para linfócitos e macrófagos com objetivo de controlar a infecção pelo protozoário. A obtenção de células dendríticas humanas ocorreu através da derivação de monócitos de sangue periférico de doadores voluntários saudáveis. As células dendríticas foram tratadas com celecoxibe, um inibidor seletivo da ciclooxigenase-2 (COX-2), em três concentrações diferentes, durante uma hora antes da infecção por formas tripomastigotas de cultura de T. cruzi cepa Y. Após 12 horas determinou-se o índice de internalização. As dosagens da produção de óxido nítrico pelas DCs foram realizadas através da reação de Griess. O tratamento com celecoxibe na concentração de 1,25mM provocou uma redução no índice de internalização do parasito em torno de 50% em relação ao controle. Estes resultados indicam que a COX-2 exerce um papel relevante na infecção de células dendríticas por T. cruzi. Introdução e objetivo Trypanosoma cruzi é o protozoário causador de uma doença negligenciada conhecida como Doença de Chagas. Este microorganismo possui formas 1 infectantes chamadas tripomastigotas e formas resistentes esféricas conhecidas como amastigotas (revisado por SOUZA, CARVALHO; BARRIAS, 2010). A doença de chagas é caracterizada por uma fase aguda e possíveis fases crônicas. A fase aguda pode ser sintomática ou não e sua sintomatologia é representada por febre, edema localizado e generalizado, hepatomegalia, esplenomegalia, poliadenia e sinal patognomônico de Romaña. Raramente a fase aguda leva a óbito, sendo esse causado normalmente por meningoencefalite e, mais raramente, falência cardíaca devido à miocardite aguda difusa. A fase crônica assintomática é caracterizada por ausência de sintomas relacionados a doença de Chagas. A fase crônica sintomática da doença pode ser subdividida em forma cardíaca e forma digestiva (Neves, 2005). Durante a infecção humana, o parasita gera uma resposta inflamatória pelo sistema imunológico a fim de combater sua internalização nas células do hospedeiro. Essa resposta é mediada por várias moléculas secretadas pelo sistema imune que mobilizam fagócitos mononucleares. As células dendríticas são responsáveis por fagocitar, processar e apresentar antígenos para linfócitos e macrófagos com objetivo de sensibilizá-los a um ataque ao invasor (Banchereau, Steinman, 1998). Durante o processamento, o qual envolve a lise do parasito e adição de moléculas as proteínas antigênicas para apresentação as células do sistema imune, são liberadas espécies reativas de oxigênio (ROSs) e óxido nítrico (NO) que “desmontam” a parede celular do invasor. A produção de citocinas inflamatórias durante a infecção depende da ação de enzimas ciclo-oxigenases (COX). Existem dois isotipos de COX. O isotipo-1 é constituinte e relacionada a função de housekeeping. O isotipo-2 é induzida e relacionada com a produção de citocinas, quimiocinas e prostaglandinas da inflamação. O Celecoxibe é um inibidor seletivo da COX-2. A inibição seletiva da COX-2 combate os sintomas da inflamação aguda devido ao bloqueio da produção de citocinas inflamatórias. O uso desse composto traz alivio aos sintomas da fase aguda da infecção na doença de chagas (ASHTON et al., 2007). Desta maneira, é importante compreender os mecanismos envolvidos na ativação e invasão de células dendríticas pelo protozoário e investigar os efeitos da inibição da ciclooxigenase-2 (COX-2), sobre o processo de invasão de células dendríticas por T. cruzi e sobre a produção de óxido nítrico pelas células infectadas. Procedimentos metodológicos Os protocolos experimentais que foram adotados foram aprovados pela Comissão de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos (Processo 54912012). Foram usados tripomastigotas derivados do sobrenadante de cultura de células LLC-MK2 infectadas com T. cruzi. As células dendríticas foram obtidas 2 a partir da cultura in vitro de monócitos do sangue periférico de doadores voluntários saudáveis. As células polimorfonucleares do sangue foram separadas por gradiente de densidade e colocadas para aderir em plástico durante 2 horas. Após a incubação, as células não aderentes foram desprezadas. As células aderidas foram incubadas por 6-7 dias na presença de reagentes que permitem a diferenciação celular. As células dendríticas foram tratadas com celecoxibe, um inibidor seletivo da ciclooxigenase-2 (COX-2), em três concentrações diferentes, durante uma hora antes da infecção por formas tripomastigotas de cultura de T. cruzi cepa Y. Após 12 horas determinou-se o índice de internalização. As dosagens da produção de óxido nítrico pelas DCs foram realizadas através da reação de Griess. Resultados e discussão O tratamento com celecoxibe na concentração de 1,25 mM reduziu o índice de internalização em 52,55% em contraste ao controle, enquanto que o tratamento na concentração de 0,625 mM reduziu em 37,5%. O tratamento na concentração 0,312 mM demonstrou menor efeito, reduzindo o índice de internalização em apenas 13,3%. Não houve relevância estatística na comparação entre a produção de óxido nítrico (NO) das células tratadas não infectadas com as tratadas e infectadas. O estado inflamatório causado pela infecção por T. cruzi inibe a produção de INF- e TNF-, consequentemente, aumentando os níveis de TGF- que é responsável por auxiliar na internalização do parasita ao recrutar para superfície celular e induzir a síntese de TLRs (Miao; Ndao, 2014). O uso do celecoxibe para a inibição da COX-2 levou à inibição da produção de PGE2 responsável pelo início e manutenção do estado inflamatório, podendo ter envolvimento na redução da capacidade fagocítica. O óxido nítrico tem grande importância na maturação e função das DCs quando associadas a outros citocinas, como TNF-alfa e IL-12 (Paolucci et al., 2003), mas estudos relatam que essas células em humanos não expressam a iNOS (Hänsel et al., 2011; Lowes et al., 2005). Conclusão O índice de internalização entre células tratadas com celecoxibe é menor que o índice encontrado no controle (p<0.05). Isso indica um papel da COX-2 na infecção parasitária. Mais estudos são necessários para elucidar especificamente esse papel. O tratamento das células com o fármaco parece não influenciar na produção de óxido nítrico, levando em conta que não há diferença estatística em comparação com os controles. Agradecimentos 3 Ao CNPq, Fundação Araucária e Capes pela concessão de uma bolsa de IC e uma bolsa de doutorado. Referências ASHTON, A. W. et al. Thromboxane A2 is a key regulator of pathogenesis during Trypanosoma cruzi infection. J Exp Med. v. 204 n. 4 p. 929-940. 2007. BANCHEREAU, J.; STEINMAN, R. Dendritic cells and the control of immunity. Nature. v. 392, p. 245-252. 1998. HÄNSEL, A. et al. Human slan (6-sulfo 11 LacNAc) dendritic cells are inflammatory dermal dendritic cells in psoriasis and drive strong T(H)17/T(H)1 T-cell responses. J Allergy Clin Immunol. v. 127 n. 3 p 787-794, 2011. LOWES, M. A. et al. Increase in TNFalpha and inducible nitric oxide synthaseexpressing dendritic cells in psoriasis and reduction with efalizumab (antiCD11a). Proc Natl Acad Sci; v. 102 n.52, p 19057-19062, 2005. MIAO, Q.; NDAO, M. Trypanosoma cruzi infection and host lipid metabolism. Mediators Of Inflammation, v. 2014, p. 10, 2014. NEVES, D. P.; MELO, A. L.; LINARDI, P. M.; VITOR, R. W. Almeida Parasitologia Humana. 11.ed. São Paulo: Atheneu, 2005. p. 494. PAOLUCCI, C. et al. Synergism of nitric oxide and maturation signals on human dendritic cells occurs through a cyclic GMP-dependent pathway. J Leukoc Biol. v. 73 n. 2 p. 253-262, 2003. SOUZA, W. de; CARVALHO, T. M. U. de; BARRIAS, E. S. Review on Trypanosoma cruzi: Host Cell Interaction. Int J Cell Biol. v. 2010 Article ID 295394, p. 18. 2010. 4