1 TRATAMENTO: ASPECTOS GERAIS Capítulo de livro escrito em 1994 e esgotado. Sabemos que o AI é uma condição crônica, geralmente severa, que compromete de maneira significativa e definitiva as áreas da interação interpessoal, comunicação e comportamento e estas características devem ser levadas em conta ao se discutir os tratamentos que têm sido propostos. Esta condição está presente desde idades precoces e marcará, de forma indelével, seu portador. Já vimos que os sinais e sintomas do AI podem variar bastante quanto à severidade porém, mesmo naqueles casos menos comprometidos, não conseguiremos a “cura” do quadro mas, na melhor das hipóteses a minimização do quadro clinico. Ao discutirmos o tratamento do AI não devemos permitir que pais sejam ludibriados com a possibilidade de cura uma vez que sabemos que os casos “curados” descritos, se referem à melhoras substanciais assinaladas ou então a quadros mal diagnosticados. Isto não significa que estes indivíduos não devam receber o melhor tratamento disponível mas é preciso deixar claro que o que se pretende com o tratamento é fazer com o autista possa ter seu desempenho levado aos limites de suas potencialidades. É óbvio que a indicação do tratamento mais adequado dependerá, inicialmente, de um diagnóstico correto e precoce. Uma vez feito o diagnóstico de AI teremos que nos ocupar em identificar eventuais prejuízos associados, pois somente assim poderemos propor um plano de tratamento que seja o mais completo possível. Os defeitos associados nestas crianças impõem limitações adicionais entre os mais freqüentes poderíamos citar a Deficiência Mental, Epilepsia, prejuízos da atenção-concentração com hiperatividade e várias desordens psiquiátricas. Conforme já mencionamos, estima-se que 60-70% das crianças com AI têm Deficiência Mental variando entre leve e severa, 20-35% apresenta inteligência limítrofe-normal (QI entre 70-100) e menos de 5% tem QI superior a 100. Mesmo os assim chamados autistas de bom rendimento apresentam prejuízos comportamento. importantes na linguagem/comunicação e 2 Cerca de 20% dos casos apresenta Epilepsia e em akguns desses casos, fator que pode dificultar a identificação das manifestações epilépticas é que poderemos nos deparar com crises parciais complexas, de difícil reconhecimento num paciente com Deficiência Mental e distúrbios comportamentais. As crises de tipo tônico-clônicas, em qualquer idade, serão de muito mais fácil identificação. Em crianças autistas mais novas, uma associação relativamente freqüente se faz com à Síndrome dos Espasmos Infantis com Hipsarritmia (Síndrome de West) qualquer que seja sua etiologia. O tratamento da Epilepsia deverá ser feito da mesma forma que em indivíduos epilépticos não autistas. Deveremos tomar cuidado para não utilizar medicamentos que possam agravar o comportamento destes pacientes. Desordens da comunicação estarão sempre presentes e parece haver uma certa correlação entre o desenvolvimento de linguagem e as habilidades cognitivas e sociais da criança. Pacientes com os graus mais severos de Deficiência Mental e isolamento social tendem a apresentar maior comprometimento da linguagem. Muito embora várias crianças sejam levadas, inicialmente ao médico ou psicólogo por um” ätraso da linguagem” é preciso chamar a atenção para o fato de que crianças autistas não apenas tem um atraso no desenvolvimento da linguagem como também apresentam distúrbios evidentes da mesma. A presença de ecolalia, inversão pronominal, síndrome semântico-pragmática da linguagem e retardos na aquisição da fala são alguns destes problemas. Nossa experiência demonstra que uma parte substancial de crianças pequenas com AI pode ser encontrada em clinicas de fonoaudiologia ou de distúrbios da comunicação, tal a relevância que os sintomas desta natureza tem em idades mais precoces antes mesmo que outros aspectos anormais tenham sido observados. Não podemos nos esquecer da associação frequente e de dificil reconhecimento do AI com deficiência auditiva. Distúrbios do comportamento fazem parte integrante do quadro do AI. Comportamentos repetitivos e estereotipados são comuns e interferem com as atividades de vida diária destes indivíduos. Auto-agressão pode estar presente assim como hetero-agressão. Alterações do sono e da alimentação são frequentes. Algumas crianças apresentam uma seletividade anormal no 3 que se refere aos alimentos, podendo alimentar-se, exclusivamente, de um determinado alimento por meses. Outras demonstram grande dificuldade em aceitar alimentos sólidos, alimentando-se, então, apenas com refeições pastosas ou liquidas Após ter sido realizada cuidadosa avaliação da criança, teremos a possibilidade de planejar o tratamento que a ela será oferecido.O tratamento do AI deverá visar, como já deixamos claro, tornar o individuo o mais independente possivel em todas as areas de atuação. Todas as crianças afetadas requerem alguma forma especifica de educação e algumas intervenções comportamentais. Temos visto algumas exceções quanto a crianças autistas, excepecionalmente bem dotadas e que tem sido capazes de acompanhar o curriculo normal em escolas normais porem, seguramente, estes casos representam exceções à regra geral formulada anteriormente’. Algumas crianças poderão beneficiar-se de um tratamento medicamentoso porem em nenhuma hipótese esta forma de tratamento será a única e nem mesmo a mais importante. Não infrequentemente utilizaremos algum psicofármaco em situações emergenciais e por um periodo limitado de tempo. A participação do psicólogo é imprescindível no que se refere ã avaliação do paciente, à um trabalho de orientação sistemática à família e, excepcionalmente, num trabalho mais psicoterápico em poucos autistas de bom rendimento e que demonstrem uma vida interior capáz de se beneficiar de um trabalho deste tipo., entretanto, não podemos concordar com o tratamento psicoterapeutico de base analitica na maioria dos portadores de AI. uma vez que se conhece o prejuizo da linguagem envolvendo a compreensão literal do discurso, a dificuldade que eles apresentam, em geral, para a compreensão de metáforas a dificuldade na simbolização,etc. Pretender que uma criança com este nivel de dificuldade possa entender e introjetar uma interpretação verbal é, ao menos, ingênuo. Nas crianças com AI, os objetivos das intervenções educacionais dependerão, em grande medida, do grau de comprometimento nas várias áreas de atuação. Nos pacientes com prejuizos cognitivos importantes os esforços deverão se dirigir, de forma mais específica no sentido de se tentar aumentar a comunicação e interações sociais, na redução das alterações comportamentais (estereotipias, hiperatividade,etc) na maximização do 4 aprendizado e independencia nas atividades de vida diária. Sabe-se que crianças autistas repondem melhor, em geral, em classes pequenas e bem estruturadas. Como já afirmamos acima, o tipo de escola dependerá, de certa forma, do grau de comprometimento da criança em vários aspectos do comportamento e cognição. Um tipo de programa educacional que tem sido utilizado com bons resultados foi elaborado pela Division TEACCH (Treatment and Education of Autistic and Related CommunicationHandicapped Children) um programa aplicado no Estado da Carolina do Norte nos Estados Unidos (ver capítulo n° ). Os prejuizos da comunicação que encontramos nos indivíduos com AI incluem retardo na aquisição da linguagem, distúrbios na comunicação não verbal,.defeitos semânticos-pragmáticos, dificuldade para generalização, etc. Um aspecto particularmente interessante que se pode notar mesmo naqueles autistas com bom nivel de comunicação verbal refere-se às alterações na forma e conteúdo do discurso.No que se refere à forma, a fala pode estar alterada na sua melodia, entonação, altura e timbre. No tocante ao conteúdo, há uma tendência à verborragia, ao uso de palavras e expressões pedantes e de uso pouco habitual para a idade da criança. A compreensão também está comprometida pois a linguagem do interlocutor será apreendida de forma linear e literal. A criança não conseguirá entender metaforas, sentidos figurados ou expressões com duplo sentido.Sua fala estará repleta de frases e palavras repetidas de forma estereotipadas. A terapia da comunicação deverá trabalhar estes aspectos pragmáticos da linguagem e os autores tem se utilizado de várias formas de terapias: linguagem falada, linguagem de sinais , cartões com figuras e equipamentos computadorizados . Uma técnica que tem sido popularizada, mais recentemente, é a assim chamada Comunicação Facilitada em que a criança autista se utiliza de um teclado ou de cartões em que estão reproduzidas as letras do alfabeto para se expressar com o auxilio de um “facilitador”que segura ou ampara a mão e/ou o braço do paciente. O valor deste método é, ainda, controverso em razão da ausência de documentação definitiva a seu favor, da possivel participação (ainda que inconsciente) do facilitador sobre o resultado final do que é expresso, da grande variabilidade das habilidades da linguagem de acordo com diferentes facilitadores e do supreendente nivel de sofisticação da linguagem de algumas crianças que parece estar em franco desacordo 5 com as habilidades cognitivas préviamente avaliadas. Nos parece que se deveria evitar a confusão no sentido de que embora tecnicas de comunicação de alternativas (datilografia, linguagem sinais, computadores,etc) possam e devam ser utilizadas em autistas com bom rendimento e que demonstram boas habilidades de leitura e escrita e a possibilidade, apregoada pelos defensores da “Comunicação Facilitada” de fazer com que indivíduos sem habilidades de comunicação demonstraveis até então, pelo uso desta técnica se converteriam em literatos e habeis comunicaores chegando a produzir textos extremamente elaborados e complexos. O interessante é que temos visto a técnica ser defendida utilizando-se, como argumento maior, a leitura de materal obtido com o uso da técnica que está sendo discutida.( Bettison,1992; Prior & Cummins,1992;Eberlin et al,1993; Hudson,1993; Smith et al,1993 ). Terapias com base nas técnicas de modificação do comportamento tem sido amplamente utilizadas e com resultados bastante satisfatórios. Podem ser empregadas para reforçar habilidades sociais, acadêmicas e relacionadas à atividades de vida diária. Técnicas comportamentais podem representar um valioso auxiliar na classe de aulas onde uma tarefa complexa pode ser quebrada em etapas lógicas facilitando o aprendizado do aluno; uma série de “dicas”verbais ou físicas poderão ser relacionadas aos estagios e o aprendizado poderá ser reforçado por recompensas. Métodos comportamentais também poderão ser utilizados para tentar reduzir comportamentos indesejáveis que interferem com o funcionamento da criança. Ignorar comportamentos anormais e recompensar comportamentos desejáveis pode ser uma forma inespecífica e simples de ajudar a criança. De acordo com McEachin et al (1993), crianças autistas tratadas de forma precoce e intensa com técnicas comportamentais podem apresentar melhoras significativas e persistentes No capítulo n° encontraremos uma descrição pormenorizada destas técnicas. Os leitores poderão consultar o capitulo n° onde são apresentadas as normas gerais e os resultados que podem ser obtidos com o emprego judicioso de medicamentos psicoativos no tratamento do AI. Desde já seria importante deixar claro que não dispomos, até o presente momento, de nenhum medicamento que possa ser considerado específico para o tratamento desta condição e nenhum dos correntemente utilizados tráz 6 resultados significativos em todos os pacientes. Por outro lado, deveremos sempre lembrar em conta que o tratamento farmacológico nunca deverá ser considerado como o tratamento de base, prioritário do AI. Ele poderá ser utilizado em certos pacientes, em certos periodos, frente a certos comportamentos que podem responder aos varios medicamentos já utilizados. De todos os medicamentos já utilizados no AI, os neurolépticos são, sem dúvida alguma os mais usuais e destes, o haloperidol, droga antagonista da dopamina tem sido bastante estudado. Poderia, em alguns casos, facilitar a interação social, melhorar a atenção e diminuir as estereotipias sem promover sedação importante. Efeito indesejável é a ocorrência de discinesia tardia em número significativo de pacientes. Vários medicamentks tem sido testados mais recentemente, tais como a fenfluramina (droga dopaminérgica), naltrexone (antagonista opióide artificial) (Leboyer et al,1992; Zingarelli et al,1992)), clomipramina (antidepressivo tricíclico) , a fluoxetina (antidepressivo) (Rickards & Prendergast, 1992), a clonidina (agente hipotensor, agonista pacial dos receptores adrenérgicos alfa-2) (Jaselskis et al,19912) e o ORG 2766 ( hormônio adrenocorticotropico sintético) (Buitelar et al,1992) Possíveis efeitos benéficos tem sido descritos com o emprego de altas doses de piridoxina (vitamina B6) em associação com magnésio (Kleijnen e Knipschild,1991; Tolbert et al, 1993) e com altas doses de acido ascórbico (vitamina C) (Dolske et al,1993). Levando-se em conta a severidade do quadro do AI, seu aspecto crônico, a impossibilidade de uma “cura”, o custo dos tratamentos muldisciplinares e os resultados limitados que podem proporcionar tornam compreensivel a busca, por parte de vàrias familias das assim chamadas “Terapias Alternativas” Trata-se de formas não ortodoxas de tratamento, frequentemente baseadas em pressupostos teóricos duvidosos e que são apresentadas como tendo obtido resultados satisfatórios ou mesmo surpreendentes em alguns pacientes. Estas formas de terapias tem sido utilizadas não somente no AI mas em uma série bastante grande de condições que podem afetar as crianças tais como Deficiência Mental, Paralisia Cerebral, Distúrbios do Aprendizado Escolar, Hiperatividade,etc. Comportamento, Distúrbios do 7 Cabe ao profissional questionado sobre a eficacia destas terapias mostrar, de modo bastante claro e objetivo o que se conhece a respeito delas e sua posição frente à sua utilização. É claro que a decisão de seguir um destes tratamentos caberá aos responsáveis pela criança porém é nossa obrigação fornecer-lhes todas as informações para que sua decisão se faça levando em conta todos os dados disponíveis.Apesar de existirem vários métodos alternativos em uso no presente momento, podemos citar algumas características que são comuns a todas eles ou à quase todos (Golden, 1984): 1- suas bases teóricas não são totalmente consistentes com os princípios científicos estabelecidos; 2- são tratamentos liberalmente indicados para uma gama muito abrangente de distúrbios; 3- são métodos anunciados como “não prejudiciais”; 4- a sua eficácia é divulgada pela midia leiga e não por publicações especializadas; 5- estudos controlados não confirmam os bons resultados descritos; 6- grupos leigos promovem as terapias de forma entusiástica; 7- os pais que não aceitam os tratamentos são criticados de forma ostensiva e acusados de negligentes com relação a seus filhos. Os resultados positivos alardeados baseiam-se, na grande maioria dos casos em relatos anedóticos ou em estudos abertos, não controlados. Não são utilizados grupos controle e quase nunca encontramos referência à insucessos ou maus resultados e quando estes são citados são atribuidos à família que não estaria “fazendo o bastante”. Não há nenhuma preocupação em oferecer estatisticas e os bons resultados são apresentados na forma de relatos de indivíduos que teriam obtido melhoras e que se dispõem a fazer depoimentos a favor da referida técnica. Os médicos que não aceitam e não indicam estas terapias, por sua vez, são acusados de radicais, conservadores e retrógrados. Desta forma confunde-se uma atitude cautelos e crítica com uma postura intransigente, irracional e arraigada aos tratamentos tradicionais , impenetrável à metodos inovadores e modernos. Uma vez que os resultados positivos baseiam-se em relatos anedóticos temos que considerar os vários problemas metodológicos envolvidos quando os resultados são generalizados uma vez que vários 8 outros fatores, estranhos à técnica em questão poderão iinfluenciar os resultados. Um destes aspectos, da maior importância é a história natural da condição sendo tratada. Sabe-se, por exemplo, que a hiperatividade infantil tende à melhorar, independentemente de tratamentos, com o passar dos anos ,portanto, ao analisarmos possíveis efeitos de um determinado medicamento ou de uma técnica de tratamento, teremos que demonstrar que a melhora obtida foi mais pronunciada ou mais rápida do que teria ocorrido naturalmente pelo passar do tempo. Sabemos, também que, na enurese noturna primária, cerca de 10% dos casos se curam a cada ano, independentemente de tratamento. Desta forma, qualquer método que se proponha a tratar de forma positiva esta condição terá que mostrar resultados superiores aos que ocorreriam de qualquer forma. Outro fator que raramente é considerado quando frente aos resultados positivos de um determinado método de tratamento é o efeito placebo presente em número significativo de condições neuropsiquiátricas da infância. Segundo Lynoe (1990), este efeito estaria presente, em média, em 33% dos casos podendo chegar, eventualmente, a 95%. Deverá ficar claro ao leitor que quando se fala na possibilidade de efeito placebo não estamos nos referindo apenas ao uso de remédios mas a qualquer método de tratamento que poderá induzir este efeito. Dos vários tipos de tratamento alternativos disponíveis em nosso pais, vamos nos limitar aos mais conhecidos e difundidos e os discutiremos agrupando-os em categorias mais ou menos bem individualizadas. Vários tratamentos fundamentam-se em modificaçãos dietéticas sendo bastante conhecida, entre nós, a dieta proposta por Feingold (1975). Este autor aventou a hipótese de que certos aditivos, sabores artificiais e corantes usados pela indústria alimentícia levaria à dificuldades do aprendizado, hiperatividade e outros distúrbios comportamentais em crianças susceptíveis (Feingold,1975a;Feingold,1975b). Os sintomas seriam decorrentes de uma sensibilidade geneticamente determinada às substâncias implicadas e a retirada das mesmas levaria à uma evidente melhora clinica.Esta dieta foi recebida de forma entusiástica por alguns grupos porém a maioria dos estudos publicados não demonstrou sua eficiência (Harley et al,1978;Harley et al,1978;Wender,1977;Williams et al,1978). No 9 presente momento, a falta de evidências a seu favor e a possibilidade de prejuizos nutritivos e psicológicos fazem com ela deva ser contraindicada. Tratamento com altas doses de vitaminas tem sido preconizados para uma ampla gama de condições e se originaram de um modelo ortomolecular proposto por Hoffer et al (1954) e popularizado por Pauling em 1968. Segundo este modelo, as necessidades diárias de vitaminas não podem ser avaliadas pela média ,devendo suprir as quantidades exigidas por cada individuo e que seriam muito variadas. Ã esta conduta inicial da utilização de doses megavitaminicas acrescentaram-se outros componentes e dietas hipoglicemicas. Condições como a esquizofrenia, dificuldades de aprendizado, AI e lesões cerebrais tem sido tratadas por esta técnica. Além de inúmeros outros trabalhos publicados o Comitê de Nutrição da Academia Americana de Pediatria reviu a terapia megavitamínica e concluiu que faltam evidencias que justifiquem sua utilização. A terapia megavitaminica deve ser contraindicada por sua questionável eficácia e pela possibilidade de ocorrência de efeitos colaterais tais como desconforto intestinal e hepatoxicidade (Haslam et al,1984). No Brasil temos asistido à crescente utilização de fórmulas nas quais são associadas doses megavitaminicas à sais minerais, oligoelementos e vários medicamentos psicoativos tais como anticonvulsivantes, ansioíticos e andipressivos . A inadequação deste tipo de formulações nos parece bastante obvia. Deficiências em cálcio, cobre, cromo, ferro, magnésio, sódio e zinco tem sido delacionadas à varias condições neuropsiquiátricas da infância (Cott,1971) muito embora saibamos que estes elementos são ingeridos em quantidades adequadas em uma dieta equilibrada. A concentração destes elementos é medida, em geral, pela análise dos cabelos do paciente (Phil & Parkes,1977) e crianças com problemas de aprendizado, por exemplo, poderiam ser diferenciadas de crianças normais, com um grau de probabilidade de acerto de 98% pela avaliação quantitativa de 5 minerais havendo aumento na concentração de cádmio, manganês e cromo e diminuição em cobalto e litium. Outros trabalhos não conseguiram reproduzir estes resultados e segundo Golden (1984) as evidências existentes são extremaente débeis e não se jusfica o emprego destes elementos nas condições descritas. 10 Dietas hipoglicemicas tem sido propostas para crianças com desvios neuropsicológicos sendo a ingestão de açucar, per si, apontada como uma possivel causa destas dificuldades porem as afirmações neste sentido carecem de qualquer evidência mais definida. Da mesma forma, alergias alimentares tem sido implicadas como etiologia possível destes distúrbios e estes poderiam melhorar com a retirada dos alimentos implicados (Crook,1975). Mais uma vez, os estudos publicados neste sentido não são convincentes de tal modo que este tratamento não deverá ser utilizado. Outra vertente das terapias alternativas refere-se à varias modalidades de intervenção neurofisiológica e destas, merece especial atenção a técnica da Padronização que ttem sido exaustivamente utilizada em nosso pais. A teoria subjacente à técnica da Padronização se fundamenta na afirmação de que uma adequada Organização Neurológica sómente poderá ser alcançada quando no seu processo de desenvolvimento, o individuo passou por todas as etapas “normais”do desenvolvimento ontogenético o qual segue de perto o desenvolvimento filogenético. Foi proposta e divulgada por Doman,Sptiz e Zucman (1966). Na verdade, a teoria baseiou-se nos estudos anteriores de Temple Fay e colaboradores e teve importante participação de Delacto de tal forma que muitos referm-se à este tratamento como técnica de Doman-Delacato. De acordo com estes autores, para que o individuo possa atingir um bom nivel de desenvolvimento ele necessita atingir o desenvolvimento pleno em cada etapa sem que haja algum desvio na seqüência normal pois assim sendo, haveria uma interferência com o estabelecimento normal da dominância hemisférica o que acarretaria varios tipos de distúrbios neuropsiquiátricos. Ã partir destas idéias teóricas foi elaborado um programa de de movimentos e posturas que devem ser impostas aos pacientes, repetidos de forma estereotipada e exaustiva, em geral de forma passiva e com o concurso de vários técnicos As “fases”de arrastar, engatinhar são realizadas inúmeras vezes por sessão sendo facilitados outros movimenmtos como girar, cambalhotas, de balanço,etc. Este programa, assim realizado e independentemente da patologia de base que a criança apresenta (autismo, paralisia cerebral, distúrbios do aprendizado escolar, hiperatividade,etc.) levaria à umja Padronização que, em última análise promoveria uma Reorganização Neurológica com resultante melhora nas queixas clinicas.Fáz 11 parte do tratamento a respiração de ar saturado (reinspirado) em bióxido de carbono fazendo-se o indivíduo respirar, por um certo período de tempo, dentro de um saco de papel ou plástico. Este procedimento teria a finalidade de fazer aumentar a concentração em CO2 no sangue o que levaria à uma vaso-dilatação cerebral com consequente aumento do fluxo sanguineo cerebral. Esta técnica tem tido grande aceitação no Brasil sendo realizada por alguns grupos que se distinguem quanto à rigidêz com que a forma original, tal como descrita, é aplicada. Variam quanto ao tempo de tratamento a ser utilizado, quanto à forma com que alguns dos exercícios são realizados mas tem um embasamento muito próximo. Fato que nos parece importante de chamar a atenção ,mais uma vez, é de que a técnica é utilizada de modo muito similar em qualquer criança com qualquer tipo de patologia. Com frequência o profissional que segue este método trabalha sem o concurso de profissionais de outras áreas impossibilitando que a criança possa se beneficiar de um programa de fisioterapia, terapia ocupacional, etc. Alguns destes grupos são frontalmente contrários à utilização de medicamentos alopáticos exigindo dos pais a interrupção abrupta de medicamentos de uso crônico. Por mais de uma vez tive que atender à alguns destes pacientes em status de mal epiléptico, desencadeado pela interrupção abrupta de medicamentos anticonvulsivantes que vinham sendo utilizados pelas crianças.. Tentando esclarecer o público, a Comitê da Criança com Prejuizos da Academia Americana de Pediatria (1968) questionou os principios sobre os este método se apoia e concluiu que não havia nenhum indicio de benefício, que o teste utilizado pelos Institutos para o Desenvolvimento do Potencial Humano (criadores do método nos Estados Unidos da America do Norte) para avaliar o paciente e tentar aferir eventuais melhoras não havia sido validado e que a técnica proposta estava em evidente desacordo com as práticas usuais e aceitas para se lidar com crianças.Os defensores do método se utilizam, frequentemente de citações de teorias e conceitos validados para tentar justificar sua técnica . Citam, usualmente Piaget, Luria, Plasticidade Neuronal mas não conseguem demonstrar de que forma estas citações tem alguma a ver com suas proposições teóricas ou com a prática que apregoam. A imensa maioria das publicações sérias a respeito desta matéria não deixam dúvida no sentido de que não há, até o momento, evidencias de que este método tenha a 12 abrangência que afirmam e nem sequer que possam promover os resultados positivos apregoados. O fato de que alguns pacientes melhorem com a técnica não permite , é claro, que estes resultados possam ser generalizados. Lembrariamos que, frente à determinadas caracteristicas do técnico, frente à expectativa dos famjiliares e mesmo do proprio paciente, poderemos ter melhoras reais muito mais em função do técnico do que da técnica empregada. Desta forma, os bons resultados não decorreriam do método utilizado mas ocorreu em função do técnico e apesar da técnica. Outro método que se utiliza de exercícios motores e estimulos sensoriais para promover a melhora de vários quadros neuropsiquiátricos é e assim chamada técnica da Integração Sensorial. Os defensores deste método, que tem sido amplamente utilizado em crianças portadoras de prejuizos motores, distúrbios do aprendizado e AI tem se preocupado em tentar estabelecer uma base teórica válida bem como na normatização dos testes utilizados para a avaliação dos pacientes. Seus defensores apontam para a presença de possíveis anormalidades ou disfunções do sistema vestibular como base para os quadros clínicos que se propõem a tratar porem esta posição tem sido bastante questionada. Apesar de farta literatura a respeito da Integração Sensorial nos parece que, no presente momento, sua fundamentação teórica e seus resultados ainda não podem ser aceitos sem ressalvas. Outras modalidades de tratamentos que podem ser citados como älternantivos”, ao menos até o presente momento seriam a utilização das lentes de Irlen, da camera hiperbárica, de injeções à base de células, dos florais e outros tantos que merecem ser apenas mencionados mas que se afastam tanto daquilo que se considera aceito pela comunidade científica que não serão discutidos em maiores detalhes. Ã despeito de alguns relatos de “cura”,o prognóstico para os pacientes com AI é bastante reservado. Apenas cerca de metade destes pacientes desenvolve linguagem util. A presença de hiperlexia (habilidade precoce para a leitura) seria sinal favorável quanto ao prognóstico enquanto que a ausência de comunicação aos 5 anos de idade seria um indicador de prognóstico mais limitado (Mauk,1993; Tirosh & Canby,1993). De modo geral, os estereotipos e o isolamento melhoram com o passar do tempo e o adulto com autismo funciona, de modo geral, como o 13 portador de retardo mental severo sem autismo mas com linguagem mais pobre, melhor possibilidade de resolver problemas e menor interação social (Mauk,1993). Aspecto que merece ser referido é a possibilidade de mudanças substanciais no quadro do AI na epoca da adolescência. Neste sentido, Kobayashi et al.(1992) estudando um grupo de 201 autistas com idade igual ou superior a 18 anos observaram marcada deterioração no quadro ocorrendo em 31.5% e acentuada melhora em 43.2% . Autistas com bom rendimento intelectual poderão chegar, como adultos, a ter uma vida independente porem continuarão a ser solitários, a apresentar padrões peculiares de fala e comunicação e raramente chegarão a se casar. Embora alguns autistas possam chegar, portanto, a ter uma vida independente cerca de 70% deles necessitarão, como adultos, de algum tipo de auxilio proximo e assistência permanente.. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS American Academy of Pediatrics: The Doman-Delacato treatment of neurologically handicapped children. Pediatrics,v.70,p.810,1982. American Academy of Pediatrics,Comitee on Nutrition: Megavitamin therapy for childhood psychosis and learning disabilities. Pediatrics,v.58,p.910-912,1976. Bettison,S.Correction to previous evaluation of facilitated communication (letter).J.Autism Dev.Dis.,v.22,n.3,p.451-452,1992. Buitelar,J.K.; van Engeland,H.; de Kogel,K.H.;de Vries,H.; van Hooff, J.A.R.A.M.; van Ree,J.M. The use of adrenocorticotrophic hormone (4-9) analo ORG 2766 in autistic children:effects on the organization of behavior. Biol.Psychiatry,v.31,p.119-1129,1992. Cott,A. Orthomolecular approach to the disabilities.Schizophrenia,v.3,p.905-1005,1971 treatment of learning 14 Crook,W.G. 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