Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Casa da Medicina – Unidade Gávea Coordenação Central de Extensão Rachel Siqueira de Queiroz Simões, Ph.D [email protected] [email protected] 22.03.2014 Aula Inaugural 1 22.03.2014 Aula Inaugural 2 I. OBJETIVOS O objetivo deste curso é introduzir os fundamentos teóricos do método epidemiológico subjacentes à formulação e avaliação de ações de saúde pública, e a apresentação de técnicas do raciocínio epidemiológico para aplicação prática. Objetiva a qualificação dos recursos humanos para o desenvolvimento da capacidade analítica dos serviços de vigilância em saúde. 22.03.2014 Aula Inaugural 3 II. PROGRAMA O curso “Epidemiologia e Saúde Pública” consiste na estrutura epidemiológica dos problemas de saúde coletiva e baseia-se na tríade agente, hospedeiro e ambiente. Esse módulo aborda a temática da Epidemiologia descritiva e saúde pública através da distribuição das doenças e problemas de saúde segundo características das pessoas, do espaço e do tempo; efeitos de faixa etária, coorte e período. Também está fundamentada nos indicadores de saúde e na transição epidemiológica e demográfica. Assim como os temas sobre vigilância epidemiológica, história natural das doenças, desenhos de estudos epidemiológicos, epidemiologia do câncer, de doenças infecciosas e não- infecciosas e tópicos em promoção da saúde, serão abordados no âmbito da saúde pública durante o módulo proposto. 22.03.2014 Aula Inaugural 4 III. METODOLOGIA Serão propostos estudos dirigidos como ferramentas para o desenvolvimento das atividades curriculares. Serão utilizados como material de apoio para o desenvolvimento das atividades: textos/slides descritivos, artigos científicos, dissertações de Mestrado ou Tese de Doutorado, indicação de fontes bibliográficas tais como sites específicos direcionados ao tema proposto do curso e livros textos de Epidemiologia. 22.03.2014 Aula Inaugural 5 IV. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES TEMÁTICAS Curso: Epidemiologia e Saúde Pública Professor(a): Profa. Dra. Rachel Siqueira de Queiroz Simões Programa: CCE / PUC - Rio Data Hora Unidade 9:00-10:30 Epidemiologia Básica 10:30-12:00 Epidemiologia Básica 13:00-14:30 Epidemiologia Básica 14:30-16:00 Epidemiologia Básica 22.03 22.03.2014 Aula Inaugural Atividades Temáticas Aula Inaugural. Apresentação do curso e cronograma. Introdução, História e Fundamentos epidemiológicos. Modelos Saúde-Doença. Delineamento Epidemiológico. Surtos epidemiológicos. Doenças Infecciosas – Hepatites virais Rastreamento. Sensibilidade e especificidade. 6 IV. DESCRIÇÃO DAS ATIVIDADES TEMÁTICAS Curso: Epidemiologia e Saúde Pública Professor(a): Profa. Dra. Rachel Siqueira de Queiroz Simões Programa: CCE / PUC - Rio Data Hora Unidade Atividades Temáticas 9:00-10:30 Epidemiologia Aplicada Tópicos em Promoção da Saúde Epidemiologia Molecular Epidemiologia do Câncer Doenças Infecciosas - Herpesvírus 10:30-12:00 Epidemiologia Aplicada 13:00-14:30 Epidemiologia Aplicada Amostragem 14:30-16:00 Epidemiologia Aplicada Bioestatística aplicada à epidemiologia 29.03 22.03.2014 Aula Inaugural 7 V. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Guia de vigilância epidemiológica. 6a ed. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. 2. Gordis, L. Epidemiologia. 4a ed. Rio de Janeiro: Editora Revinter, 2010. 3. Medronho, R.A, Bloch, K.V; Luiz, R.R; Werneck, G.L. Epidemiologia. 2a ed. São Paulo: Atheneu, 2009. 4. Pereira, M.G. Epidemiologia. Teoria e Prática. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1995. 5. Rouquayrol, M.Z; Almeida Filho, N. Epidemiologia & Saúde. 6a ed. Rio de Janeiro: MEDSI, 2003. 22.03.2014 Aula Inaugural 8 Curso: Epidemiologia e Saúde Pública Professor(a): Profa. Dra. Rachel Siqueira de Queiroz Simões Programa: CCE / PUC - Rio MATERIAL DE APOIO / LEITURA COMPLEMENTAR Vigilância Ambiental em Saúde – FUNASA, 2002 Epidemiologia Molecular - Tese de Doutorado, 2010 Epidemiologia Básica – Livro, 2010 Epidemiologia e Serviços de Saúde – Revista completa Investigação Epidemiológica e intervenção na saúde do trabalhador Epidemiologia e Saúde Pública Epidemiologia Molecular: Periodontia Definição de caso e vigilância epidemiológica Mapeamento do risco da Malária Áreas de aplicação de epidemiologia nos serviços de saúde 22.03.2014 Aula Inaugural 9 Curso: Epidemiologia e Saúde Pública Professor(a): Profa. Dra. Rachel Siqueira de Queiroz Simões Programa: CCE / PUC - Rio ARTIGOS CIENTÍFICOS 1. Epidemiologia do papilomavírus humano (HPV) em adolescentes: revisão bibliográfica (2010) 2. Óbitos e internações por tuberculose não notificados no município do Rio de Janeiro (2010) 3. O futuro da epidemiologia genética (2002) 4. Risco de câncer no Brasil: estudos epidemiológicos (2005) 5. Adesão e reações de usuários ao tratamento da malária: implicações para a educação em saúde (2010) 6. Soroprevalência da infecção pelo vírus da hepatite B em uma prisão brasileira (2009) 7. Satisfação dos usuários do sistema de saúde dos brasileiros: fatores associados e diferenças regionais (2009) 8. Informação em mortalidade: o uso das regras internacionais para a seleção de causa básica (2009) 22.03.2014 Aula Inaugural 10 SITE DO CURSO DE EPIDEMIOLOGIA: www.rachelmarins.webnode.com.br 22.03.2014 Aula Inaugural 11 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Casa da Medicina – Unidade Gávea Coordenação Central de Extensão INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA Rachel Siqueira de Queiroz Simões, Ph.D [email protected] [email protected] 22.03.2014 Aula Inaugural 12 INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA Epí = em cima de, sobre Demós = povo, população Logos = estudo I. Conceitos Ciência básica que estuda a distribuição das doenças e suas causas em populações humanas com objetivo de prevenção. O estudo dos fatores que determinam a frequência e a distribuição das doenças nas coletividades humanas. Estudo da distribuição e dos determinantes de estados ou eventos relacionados à saúde em populações específicas, bem como a aplicação desse estudo no controle de problemas ligados à saúde. INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA II. Objetivos Gerais • Elucidar os fatores causais; • Avaliar as associações a variáveis de exposição e ao risco; • Desenvolver medidas preventivas; • Identificar fatores de riscos ambientais e genéticos; INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA II. Objetivos Específicos 1. Identificar a etiologia ou causa da doença e os fatores de risco - Reduzir ou eliminar a exposição a esses fatores de risco: ↓morbidade e mortalidade 2. Determinar a extensão ou “carga da doença” (burden of disease) presente na comunidade - Qual é o grau de importância da doença na comunidade? - Planejamento de serviços e instalações na saúde - Treinamentos de agentes de saúde (profissional qualificado) INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA II. Objetivos Específicos 3. Estudar a história natural e os prognósticos da doença - Desenvolver novos modelos de intervenção por meio de práticas preventivas 4. Avaliar medidas preventivas e terapêuticas e modelos de assistência à saúde vigentes - Mensurar o impacto de uma nova medida na qualidade de vida do paciente Ex.: Rastreamento do câncer de próstata com o antígeno prostático específico (PSA) INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA Aumentar a resistência do hospedeiro ao agente. Ex.: vacinação III. Tríade Epidemiológica das doenças HOSPEDEIRO VETOR AGENTE Eliminar o agente e/ou vetor. Ex: pesticidas. AMBIENTE Tornar o ambiente hostil ao agente e/ou ao vetor . Ex: armazenamento de alimentos em temperaturas baixas. INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA AGENTES: FATORES ETIOLÓGICOS Biológicos (microorganismo) Químicos (metais pesados, álcool, medicamentos) Físicos (trauma, calor, radiação) Nutricionais (carência, excesso) INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA HOSPEDEIRO: FATORES QUE INFLUENCIAM A EXPOSIÇÃO E A SUSCEPTIBILIDADE OU A RESPOSTA AOS AGENTES Idade Sexo Estado civil Ocupação Escolaridade Características genéticas Estado imunológico INTRODUÇÃO À EPIDEMIOLOGIA AMBIENTE: FATORES QUE INFLUENCIAM A EXISTÊNCIA DO AGENTE, SUA SUSCEPTIBILIDADE E SEU CONTATO COM O HOSPEDEIRO Determinantes físico-químicos (temperatura, umidade, poluição, acidentes) Determinantes biológicos (acidentes, infecções) Determinantes sociais (comportamento, organização social) FATORES QUE PODEM EST AR ASSOCIADOS AO AUMENTO DE RISCO DE DOENÇA Características do hospedeiro Tipos de agentes Fatores ambientais Idade, sexo, raça Biológico (bactérias, vírus) Temperatura Religião Químicos (veneno, álcool, fumo) Umidade Perfil genético Físicos (trauma, radiação, fogo) Altitude Estado Imunológico Nutricionais (deficiência, excesso) Aglomeração, poluição MUDANÇAS AO LONGO DO TEMPO NOS PROBLEMAS DE SAÚDE EM UMA DERTERMINADA POPULAÇÃO • Dez maiores causas de mortes entre 1900 e 2004: Pneumonia e Influenza, Tuberculose, gastroenterite x doenças coronarianas, câncer e AVC DOENÇAS INFECCIOSAS Legenda :doenças crônicas :doenças infecciosas :injúrias :envelhecimento DOENÇAS CRÔNICAS MUDANÇAS AO LONGO DO TEMPO QUINZE MAIORES CAUSAS DE MORTES E SEUS PERCENTUAIS ~ 60% National Vital Statistics Reports (2006), 54:19 RELAÇÃO ENTRE TAXAS DE CÁRIE DENTAL EM DENTES PERMANENTES DE CRIANÇAS E O TEOR DE FLÚOR NA ÁGUA DE ABASTECIMENTO PÚBLICO níveis de cárie Experiência de cárie dental por 100 crianças examinadas (dentes permanentes) ↑ níveis de flúor = Teor de flúor na água de abastecimento público (partes por milhão) PARÂMETROS - Faixa Etária das crianças (12-14 anos) - Número de Cidades: 13 - Número de Estados: 14 CASOS CLÍNICOS RELAÇÃO CAUSAL ENTRE A INGESTÃO DE FLÚOR E O DECLÍNIO DA CÁRIE DENTAL ÍNDICE DE DENTES CARIADOS, PERDIDOS E OBTURADOS (CPO) EM 10 ANOS DE FLUORETAÇÃO EFEITO DA DESCONTINUIDADE DA FLUORETAÇÃO FL+: DURANTE A FLUORETAÇÃO FL - : APÓS A FLUORETAÇÃO SER INTERROMPIDA Newburgh: ↑níveis de flúor na água = ↓índice de CPO em 10 anos em cada grupo etário Newburgh: retirada de flúor na água = ↑ índice de CPO por criança examinada Kingston: nenhum flúor na água = ↑índice de CPO em 10 anos em cada grupo etário CONCLUSÃO: Flúor atua na prevenção da cárie dental HISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA IGNÁZ PHILIPP SEMMELWEIS MORTALIDADE MATERNA POR FEBRE PUERPERAL, NA PRIMEIRA E SEGUNDA CLÍNICAS, HOPITAL GERAL EM VIENA, NA ÁUSTRIA 10 clínica:↑índice de mortalidade materna = com contato com autópsias JAKOB KOLLESTSCHKA: 1847 MORREU PUNCIONADO ACIDENTALMENTE POR UMA LÂMINA CONTAMINADA DE UMA AUTÓPSIA = SIMILAR FEBRE PUERPERAL MORTALIDADE MATERNA DEVIDO À FEBRE PUERPERAL, POR TIPO DE CUIDADO RECEBIDO (18411850) NO HOSPITAL GERAL EM VIENA, NA ÁUSTRIA Mãos dos médicos e estudantes = veículo de partículas da doença 20 clínica:↓índice de mortalidade materna = sem contato com autópsias 10 clínica 20 clínica HISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA VARIOLIZAÇÃO: PRÁTICA DE INFECTAR INDIVÍDUOS SAUDÁVEIS COM MATERIAL DE PACIENTES DE VARÍOLA = MORTE DE INDIVÍDUOS VARÍOLA BOVINA = DOENÇA BRANDA EM ORDENHADORES DE VACA EDWARD JENNER FINAL SÉC. XVIII: 400.000PESSOAS MORRIAM DE VARÍOLA/ANO 1/3 DOS SOBREVIVENTES: SEQUELAS (CEGOS) PINTURA DE UMA DAS PRIMEIRAS VACINAÇÕES POR EDWARD JENNER 1967: DR. HENDERSON - DIRIGIU O PROGRAMA DE ERRADICAÇÃO DA VARÍOLA PARA OMS USANDO VACINAS COM O VÍRUS DA VARÍOLA BOVINA. 1980: OMS CERTIFICOU-SE QUE A VARÍOLA HAVIA SIDO ERRADICADA 1796: PRIMEIRA VACINAÇÃO = DERIVADA DE VACCA = PÚSTULA DE VARÍOLA INOCULADA NA CRIANÇA HISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA • 1839: Aviso no cemitério de Dudley, Inglaterra Séc. XIX:importância do cólera na consciência pública (↑ índices de mortalidade) HISTÓRIA EPIDEMIOLÓGICA Outro exemplo de observações epidemiológicas em políticas públicas 1854: Morte de 600 pessoas em Londres (suspeita da doença através da água contaminada) pelo rio Tâmisa EPIDEMIOLOGIA DO SAPATO DE COURO: INDO DE CASA EM CASA CONTANDO AS MORTES POR CÓLERA EM CADA UMA DELAS E DETERMINANDO QUAL A COMPANHIA QUE FORNECIA ÁGUA EM CADA CASA. JOHN SNOW MORTES POR CÓLERA POR 10.000 CASAS, CONFORME A FONTE DE ABASTECIMENTO DE ÁGUA, LONDRES, INGLATERRA EM 1854 TRANSFERIU SUA CAPTAÇÃO DE ÁGUA PARA MAIS ACIMA DO RIO TÂMISA = ÁREA MENOS POLUÍDA DO RIO Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Casa da Medicina – Unidade Gávea Coordenação Central de Extensão INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA Rachel Siqueira de Queiroz Simões, Ph.D [email protected] [email protected] 22.03.2014 Aula Inaugural 30 INTRODUÇÃO À SAÚDE PÚBLICA • As primeiras tentativas sistemáticas de construir teoricamente o conceito de Saúde, ainda na década de 70, partiram da noção de saúde como ausência de doença (Boorse, 1975, 1977). “Saúde é o completo bem-estar físico, mental e social” (OMS) 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 31 CONCEITOS DE SAÚDE • A saúde deve ser entendida em sentido mais amplo, como componente da qualidade de vida. Assim, não é um “bem de troca”, mas um “bem comum”, um bem e um direito social, em que cada um e todos possam ter assegurados o exercício e a prática do direito à saúde, a partir da aplicação e utilização de toda a riqueza disponível, conhecimentos e tecnologia desenvolvidos pela sociedade nesse campo, adequados às suas necessidades, abrangendo promoção e proteção da saúde, prevenção, diagnóstico, tratamento e reabilitação de doenças. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 32 CONCEITOS DE SAÚDE • Em outras palavras, é considerar esse bem e esse direito como componente e exercício da cidadania, que é um referencial e um valor básico a ser assimilado pelo poder público para a orientação de sua conduta, decisões, estratégias e ações. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 33 CONCEITOS DE DOENÇA • Durante muito tempo, houve a teoria mística sobre a doença, que os antepassados julgavam como um fenômeno sobrenatural, ou seja, ela estava além da sua compreensão do mundo, superada posteriormente pela teoria de que a doença era um fato decorrente das alterações ambientais no meio físico e concreto que o homem vivia. Em seguida, surge a teoria dos miasmas (gazes). 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 35 CONCEITOS DE DOENÇA • Com a urbanização e estratificação social, o poder de diagnosticar, controlar e explicar as doenças ficou concentrado em um segmento social urbano, os sacerdotes, sempre vinculados aos grupos dominantes. A capacidade de mediar as atenções de deuses e humanos passou a ser monopolizada por estes atores sociais, e o modo mágico de lidar com as doenças foi suplantado pelo modelo místico, ou religioso. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 36 CONCEITOS DE DOENÇA • A doença passou a ser vista como pecado, resultado da desobediência a códigos de condutas prescritos pelos deuses e vigiados pelos sacerdotes, sendo atribuído ao enfermo a responsabilidade, individual ou coletiva, por seus sofrimentos. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 37 CONCEITOS DE DOENÇA • Assim, diversas concepções de saúde e doença podem coexistir, através da persistência de modelos antigos, mas que ainda atendem a necessidades atuais. • Nas comunidades tradicionais de coletores e caçadores, a ocorrência de doenças era explicada de modo compatível com sua visão de mundo, pela influência de demônios e outras forças sobrenaturais, que conviviam com os homens e podiam ser por eles invocados ou controlados, desde que fossem utilizados os meios adequados. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 38 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Quando a Organização Mundial de Saúde (OMS) conceituou saúde como "o mais completo estado de bem estar físico, mental e social, e não apenas a ausência de doenças", certamente não estava propondo um critério classificatório, mas uma direção. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 39 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Já a idéia de doença é mais imediatista, sempre impondo, ao mesmo tempo, certas competências operacionais e algum tipo de explicação. Historicamente, ela é muito anterior à concepção de saúde, estando presente, de diferentes formas, em todas as organizações sociais conhecidas. Remetendo a questão da identificação e classificação da doença e dos doentes a um saber técnico, que pressupõe divisão de trabalho e transferência de poder. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 40 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Os processos saúde-doença podem ser reconhecidos, a partir da posição do observador e aparecem, segundo cada posição, como alteração celular, sofrimento ou problema de saúde pública. • A seleção de uma destas perspectivas é definida tanto por questões metodológicas como pelas possibilidades de ação eficaz do observador e sua visão de mundo. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 41 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Até que, com os estudos de Louis Pasteur na França, entre outros, vem a prevalecer a “teoria da unicausalidade”, com a descoberta dos micróbios (vírus e bactérias) e, portanto, do agente etiológico, ou seja, aquele que causa a doença. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 42 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Devido a sua incapacidade e insuficiência para explicar a ocorrência de uma série de outros agravos à saúde do homem, essa teoria é complementada por uma série de conhecimentos produzidos pela epidemiologia, que demonstra a multicausalidade como determinante da doença e não apenas a presença exclusiva de um agente. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 43 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA • Finalmente, uma série de estudos e conhecimentos provindos principalmente da epidemiologia social nos meados deste século esclarece melhor a determinação e a ocorrência das doenças em termos individuais e coletivo. O fato é que se passa a considerar saúde e doença como estados de um mesmo processo, composto por fatores biológicos, econômicos, culturais e sociais. 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 44 HISTÓRICO SAÚDE - DOENÇA 22.03.2014 Tópicos de Promoção de Saúde 45 Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Casa da Medicina – Unidade Gávea Coordenação Central de Extensão MODELOS DE SAÚDE E DOENÇA Rachel Siqueira de Queiroz Simões, Ph.D [email protected] [email protected] 22.03.2014 Aula Inaugural 45 SAÚDE E DOENÇA I. Etimologia - Doença (Latim) = dolentia derivado de dolor e dolore (dor e doer) - Saúde (Latim) = salutis, derivado do radical salus (salvar, livrar do perigo, afastar riscos) e (saudar, cumprimentar, desejar saúde) RACIOCÍNIO EPIDEMIOLÓGICO • Processo de Múltiplos Passos (i) Determinar se existe associação entre: Exposição a um fator Característica do indivíduo Exposição e doença: Relação causal? Exposição ambiental ↑ Nível Colesterol (ii) Buscar inferências sobre relação causal dos padrões de associação TIPOS DE MODELOS SAÚDE E DOENÇA 1. Modelo Biomédico; 2. Modelo Processual; 3. Modelo Sistêmico; 4. Modelos Socioculturais. I. MODELO BIOMÉDICO Conceito: desajuste ou falha nos mecanismos de adaptação do organismo ou uma ausência de reação aos estímulos a cuja ação está exposto(...) processo (que) conduz a uma perturbação da estrutura ou da função de um órgão, de um sistema ou de todo o organismo ou de suas funções vitais (Jénicek e Cléroux, 1985). Aplica-se a organismos de todas as espécies e por isso deve ser analisado em termos biológicos. I. MODELO BIOMÉDICO CONCEITO DE DOENÇA ABORDADO A PARTIR DE DUAS PERSPECTIVAS: • PATOLOGIA: Valoriza o mecanismo causador das doenças. • Infecciosas; • Não-infecciosas. • CLÍNICA MÉDICA: Privilegia uma abordagem terapêutica de sinais e sintomas. • Crônicas; • Agudas. I. MODELO BIOMÉDICO CLASSIFICAÇÃO DAS DOENÇAS QUANTO À DURAÇÃO E À ETIOLOGIA ETIOLOGIA DURAÇÃO INFECCIOSAS NÃO-INFECCIOSAS AGUDAS CRÔNICAS Tétano, raiva, Tuberculose, sarampo, gripe calazar, hanseníase Envenenamento por Diabetes, doença picada de cobras, coronariana, cirrose acidentes hepática OBJETIVO II. MODELO PROCESSUAL Dar sentido aos diferentes métodos de prevenção e controle de doenças e problemas de saúde. A produção do conhecimento epidemiológico possibilita a prevenção com a HND HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS CONCEITO O conjunto de processos interativos que cria o estímulo patológico no meio ambiente, passando pela resposta do homem ao estímulo, até às alterações que levam a um defeito, invalidez, recuperação ou morte (Leavell & Clark, 1976). II. MODELO PROCESSUAL MODELO HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS (HND) DOMÍNIOS: Meio externo e Interno Meio Externo: onde atuam determinantes e agentes. Desenvolvemse todas as etapas necessárias à implantação da doença. Fatores de natureza física, biológica e sociopolítico-cultural Meio Interno: locus onde se processa, de forma progressiva, uma série de modificações bioquímicas, fisiológicas e histológicas, próprias de uma determinada enfermidade. II. MODELO PROCESSUAL PERÍODOS DE EVOLUÇÃO: PRÉ-PATOGÊNESE Compreende a evolução das inter-relações dinâmicas entre condicionantes ecológicos e socioeconômicosculturais e condições intrínsecas do sujeito, até o estabelecimento de uma configuração de fatores propícios à instalação da doença (Leavell e Clark, 1976). Os processos patológicos ainda não se manifestaram AGENTES: Natureza física, química, biológica, nutricional ou genética DETERMINANTES: Econômicos, culturais, biológicos, psicossociais II. MODELO PROCESSUAL PERÍODOS DE EVOLUÇÃO: PATOGÊNESE Os processos patológicos já estão ativos. Este modelo considera quatro níveis de evolução da doença no período de patogênese: • Interação agente-sujeito • Alterações bioquímicas, histológicas e fisiológicas • Sinais e Sintomas • Cronicidade O modelo de HND representa um grande avanço em relação ao modelo biomédico clássico, na medida em que reconhece que saúde-doença implica um processo de múltiplas e complexas determinações. II. MODELO PROCESSUAL MODELO DE HISTÓRIA NATURAL DAS DOENÇAS (HND) SISTEMA EPIDEMIOLÓGICO-SOCIAL: Formado pelo ambiente, população, economia e cultura Fatores Políticos e Sócio-econômicos III. MODELO SISTÊMICO Escassez de Alimentos, Falta de Escolas, Pobreza, Desemprego e subemprego, Falta de estímulo agrícola, Habitação insalubre, baixo poder aquisitivo, Latifúndio. Fatores Culturais Crendices, Ignorância, Uso abusivo de Medicamentos, Desmame Precoce, Falta de Higiene. Fatores Ambientais Moscas, Lixo, Solo Fecal, Alimentos Contaminados, Falta de Esgoto, Água Contaminada. Agentes Patogênicos Bioagentes, F.Nutricionais, F.Congênitos IV. MODELO SÓCIO-CULTURAIS “Enfermidade não implicaria simplesmente uma condição biologicamente alterada, mas também um estado socialmente alterado que pode ser visto tanto como desviante quanto como (normalmente) indesejável (Field, 1976).” “As práticas médicas revelaram um importante componente político e ideológico, estruturando-se com base em relações de poder, que justificam uma distribuição social desigual das enfermidades e dos tratamentos, bem como as suas consequências (Yong, 1980).” Allan Young Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro Centro de Ciências Biológicas e da Saúde Casa da Medicina – Unidade Gávea Coordenação Central de Extensão ENDEMIA, EPIDEMIA E PANDEMIA Rachel Siqueira de Queiroz Simões, Ph.D [email protected] [email protected] 22.03.2014 Aula Inaugural 59 ENDEMIA É uma doença localizada em um espaço limitado denominado “faixa endêmica”. Isso quer dizer que, endemia é uma doença que se manifesta apenas numa determinada região, de causa local. Endemia é qualquer doença que ocorre apenas em um determinado local ou região, não atingindo nem se espalhando para outras comunidades. EXEMPLOS: - FEBRE AMARELA: comum Amazônia. No período de infestação da doença, as pessoas que viajam para a região precisam ser vacinadas. - DENGUE: são registrados focos da doença em um espaço limitado, ou seja, ela não se espalha por toda uma região, ocorre apenas onde há incidência do mosquito transmissor da doença. EPIDEMIA Este termo tem origem no grego clássico: epi (sobre) + demos (povo) e sabese ter sido utilizado por Hipócrates no século VI a.C. É uma doença infecciosa e transmissível que ocorre numa comunidade ou região e pode se espalhar rapidamente entre as pessoas de outras regiões, originando um surto epidêmico. Isso poderá ocorrer por causa de um grande desequilíbrio do agente transmissor da doença ou pelo surgimento de um novo agente. UM AMBIENTE ESTÁVEL A OCORRÊNCIA DE DOENÇA PASSA DE EPIDÊMICA PARA ENDÊMICA E DEPOIS PARA ESPORÁDICA. PANDEMIA Uma pandemia origina-se do grego (pan = tudo/ todo(s) e demos = povo). É uma epidemia que atinge grandes proporções, podendo se espalhar por um ou mais continentes ou por todo o mundo podendo levar ao óbito um grande número de pessoas por ser infecciosa. EXEMPLOS: AIDS (Retrovírus) e SARS (Coronavírus) ENDEMIA, EPIDEMIA E PANDEMIA ENDEMIA: Quando uma doença existe apenas em uma determinada região ou em proporções pequenas da doença que não sobrevive em outras localidades. EPIDEMIA: Quando a doença é transmitida para outras populações, infesta mais de uma cidade ou região. PANDEMIA: Quando uma epidemia se alastra de forma desequilibrada se espalhando pelos continentes ou pelo mundo. PANDEMIA PESTE DO EGITO (430 a.C) e FEBRE TIFÓIDE PRAGA DE ANTONINE (165-180): varíola. (251-266): 5.000 mortes/dia em Roma, Itália. PESTE DE JUSTINIANO (541): primeira contaminação registrada de peste bubônica no Egito e chegou à Constantinopla responsável por cerca de 10.000 mortes por dia, atingindo 40% da população. PESTE NEGRA (1300): peste bubônica iniciou na Ásia e alcançou à Europa em 1348 exterminando vinte milhões de europeus em seis anos, 1/4 da população total. CÓLERA: 1826: Índia e China (Europa, África e América do Norte) 1961-1965: Índia PANDEMIA GRIPE (1510): A primeira pandemia surgiu na África e se espalhou pela Europa. GRIPE ASIÁTICA (1889-1890): Na Rússia. Espalhou-se rapidamente alcançando a América do Norte, América do Sul, Índia, e Austrália. Era causada pelo subtipo H2N8 do vírus influenza e teve uma taxa de mortalidade muito alta. GRIPE ESPANHOLA (1919-1919): tropas dos EUA, atingindo todos os continentes. Em seis meses, 25 milhões de pessoas morreram. Causado pelo vírus H1N1. GRIPE ASIÁTICA (1957-1958): Identificado na China, a gripe asiática espalhou-se para os Estados Unidos. O vírus H2N2 causou aproximadamente 70.000 mortes nos EUA. GRIPE SUÍNA (2009): refere-se à gripe causada pelas estirpes de vírus da gripe, chamadas vírus da gripe suína, que habitualmente infectam porcos também conhecida como Influenza A H1N1 PANDEMIA Pessoas usando máscaras no metrô da Cidade do México durante durante o surto de gripe suína na América do Norte em 2009. PANDEMIA Teste de diagnóstico para detecção do vírus Influenza tipo A H1N1