UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE – UNIVALE FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – FHS CURSO DE PSICOLOGIA Christiani Ferreira Barbosa Jaqueline Ferrari dos Santos Mayara Nunes Peres SUICÍDIO NO ESTADO DE DEPRESSÃO GRAVE Governador Valadares 2011 1 CHRISTIANI FERREIRA BARBOSA JAQUELINE FERRARI DOS SANTOS MAYARA NUNES PERES SUICÍDIO NO ESTADO DE DEPRESSÃO GRAVE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce para obtenção do grau de bacharel em Psicologia. Orientador: Prof. Roberto Jório Governador Valadares 2011 2 CHRISTIANI FERREIRA BARBOSA JAQUELINE FERRARI DOS SANTOS MAYARA NUNES PERES SUICÍDIO NO ESTADO DE DEPRESSÃO GRAVE Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Ciências Humanas e Sociais da Universidade Vale do Rio Doce para obtenção do grau de bacharel em Psicologia. Governador Valadares, 16 de Junho de 2011. Banca Examinadora: __________________________________________ Prof. Omar de Azevedo Universidade Vale do Rio Doce __________________________________________ Profa. Solange Coelho Universidade Vale do Rio Doce __________________________________________ Prof. Orientador: Roberto Jório Filho Universidade Vale do Rio Doce 3 RESUMO O presente trabalho enfatiza a relação de um ato suicida, em quadros de transtornos de humor, com a depressão grave. Os sintomas da depressão interferem drasticamente a qualidade de vida do indivíduo e promovem humor rebaixado, perda de interesse e de prazer, ideias de culpa e de inutilidade, apetite e sono perturbados. O suicídio melancólico é caracterizado pelo quadro de depressão grave. Vem acompanhado por ideação suicida e pelo sentimento de culpa e de ruína. A avaliação retrospectiva possibilita observar pistas diretas ou indiretas relacionadas ao comportamento letal, permitindo, através do método autópsia psicológica, compreender os aspectos psicológicos de uma morte por suicídio. A psicoterapia pode controlar casos leves ou moderados de depressão, sendo que, em casos graves, deve haver acompanhamento psiquiátrico e, até mesmo, hospitalização. A prevenção se fundamenta na informação e formação de consciência de pessoas que lidam com grupos de auto risco e também visa prevenir o aumento de risco – quando já se encontra configurado. Palavras-chave: Depressão Grave. Suicídio. Prevenção. 4 ABSTRACT The present work of course conclusion, emphasize the relationship of a suicidal act in frames of mood disorders with an emphasis on severe depression. The symptoms of depression interfere drastically with the quality of life and are associated with high social costs: lost days at work, psychological counseling and in extreme cases suicide. According to World Health Organization more than half the people who commit suicide have symptoms of the disease. Within this perspective of analysis, this study sought information data subsidiaries of people who committed suicide, thus enabling a greater understanding and study of the development of healthy behaviors that can check and prevent the suicide. Psychotherapy can control mild to moderate cases of depression. The method offers the theoretical advantage of not using drugs and reduce the risk of recurrence of the table, provided the person learns to recognize and deal with the problems that led to it. Keywords: Severe Depression, Suicide, mood Disorders 5 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 6 2 HISTÓRICO DO SUICÍDIO .......................................................................................... 8 2.1 MORTE E PROCESSO DE LUTO ................................................................................ 11 2.2 TIPOS DE SUICÍDIO E SUAS POSSÍVEIS CAUSAS ................................................. 15 2.3 FANTASIAS ................................................................................................................... 21 3 TRANSTORNO DE HUMOR......................................................................................... 23 3.1 EPISÓDIO DEPRESSIVO .............................................................................................. 25 3.2 EPISÓDIO DEPRESSIVO GRAVE E MELANCOLIA ................................................ 33 4 AUTÓPSIA PSICOLÓGICA EM CASOS DE SUICÍDIO .......................................... 36 4.1 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASO .......................................................................... 40 4.1.1 Caso ilustrativo 1 ........................................................................................................ 41 4.1.2 Caso ilustrativo 2 ........................................................................................................ 44 5 PAPEL DO PSICÓLOGO NA PREVENÇÃO DE CASOS DE SUICÍDIO ............... 48 5.1 PREVENÇÃO ................................................................................................................. 52 6 CONCLUSÃO................................................................................................................... 57 REFERÊNCIAS .................................................................................................................. 59 6 1 INTRODUÇÃO Este trabalho enfatiza a relação existente entre o ato suicida e a depressão grave, em casos de transtorno de humor. Na atualidade, muitos estudos desse tipo têm ajudado significativamente a aumentar a compreensão sobre essa temática, possibilitando o desenvolvimento de comportamentos sadios que conferem e previnem o ato suicida. Dessa forma, o suicídio demanda atenção, mas sua prevenção e seu controle, infelizmente, não são tarefas fáceis. Segundo Cassorla (1992, p. 22), o suicídio seria “a morte que alguém provoca a si mesmo, de uma forma deliberada, intencional”. Além disso, possui várias causas e depende de fatores determinantes e rompimentos que levem o sujeito ao descaso consigo mesmo. Portanto, inexiste causa única para o suicídio, mas “uma culminância de uma série de fatores que vão se acumulando na biografia do indivíduo, em que entram em jogo desde fatores constitucionais até fatores ambientais, culturais, biológico, psicológico, etc. O que se chama causa geralmente é o elo final dessa cadeia. (CASSORLA, 1992, p. 81 apud BROMBERG, 1996) O interesse maior das pessoas, que eliminam suas vidas, é fugir de sua vida atual, em meio a tantos conflitos que, às vezes, não suportam. O autoextermínio passa, então, a ser uma transgressão. É a fuga desesperada de algo insuportável. Algo que choca com os objetivos de vida dos grupos humanos. Na reflexão sobre as maneiras e os mecanismos utilizados pelas pessoas para se suicidarem ou para contribuírem à própria morte, percebe-se que se trata de um processo complexo, que inclui muitos atos e comportamentos, os quais, normalmente, são inimagináveis ao leigo (enquanto sendo ato suicida). Pacientes com insuficiência renal, que não controlam sua alimentação, fazem uso abusivo de líquidos como água e refrigerantes; pessoas que possuem câncer de pulmão por uso constante de cigarro, e continuam fumando; ou até mesmo indivíduos após término de relacionamento ou briga com o parceiro, que saem com seu veículo disposto a se matar. Todos esses casos com comportamentos de risco ou 7 autodestrutivos são exemplos que podem constituir suicídios mascarados (nome que se designa tais atos). De acordo com Berman e Farberow (apud BAPTISTA, 2004, p. 10), existem alguns comportamentos suicidas que aumentam a probabilidade de autolesão tais como: realização de jogo patológico e de esporte de risco; abuso de álcool e de outras substâncias psicoativas; uso de veículos em alta velocidade em semáforos vermelhos; prática de “roleta russa” e de sexo desprotegido com diversos parceiros; obesidade; automutilação etc. Nessa perspectiva, o objetivo geral deste trabalho é identificar a relação entre o suicídio e o quadro de episódio depressivo grave. Busca, também, realizar o levantamento de dados sócio demográficos do suicídio; caracterizar o nível dos diferentes episódios depressivos (leve, moderado e grave – com ou sem sintomas psicóticos); descrever os tipos de suicídio e a ação do suicídio melancólico em função do quadro de episódio depressivo grave; enumerar riscos de suicídio e transição de cuidados; e promover análise dos métodos de prevenção. A pergunta norteadora consiste em responder: “Existe uma relação entre suicídio e episódios depressivos e possíveis formas de prevenção”? Para desenvolvê-la, utiliza-se a pesquisa bibliográfica, especialmente de teóricos como Cassorla (1992), Durkheim (2000) e Kovács (1992). Este trabalho se estrutura em quatro capítulos. O primeiro tem o propósito de rever o histórico do suicídio. Já o segundo apresenta os transtornos de humor e psicológicos que promovem a ocorrência do ato suicida. O terceiro, por sua vez, expõe casos ilustrativos, com realização de avaliação retrospectiva, visando analisar relatos reais sobre a temática. Por fim, o último capítulo descreve o papel do psicólogo na prevenção de suicídios, o que ressalta sua importância na transformação do suicídio em um assunto de saúde pública e não em mero tabu social. 8 2 HISTÓRICO DO SUICÍDIO O suicídio pode ser considerado um grave problema de saúde pública, porque faz parte da realidade de vida de muitas pessoas que passam por problemas psicológicos e por sofrimento emocional. Porém, há um grupo que desconsidera o suicídio enquanto problema. Prefere não mencioná-lo ou o oculta com pudor. Daí ser de grande dificuldade afirmar quando o primeiro ato suicida ocorreu. Entre alguns povos orientais, por exemplo, devido a seu fanatismo religioso, o suicídio é um fato banal, e mesmo com medidas de repressão, ele ainda ocorre. Para Bruno (1979, p. 151), “Na Índia, até épocas recentes, a tradição determinava uma série de suicídios rituais, que ainda se praticam em religiões afastadas e contra os quais as autoridades indianas empreendem medidas de repressão”. Registram-se, em muitos relatos de camicases, pilotos orientais, principalmente durante a Segunda Guerra Mundial, a ocorrência do ato suicida. Já na Grécia Antiga, o suicídio foi condenado politica ou juridicamente. Não havia honras de sepultura ao suicidado e a mão do mesmo era amputada e enterrada à parte. O Estado tinha o poder para vetar ou autorizar um suicídio. Na Grécia, foram numerosos os suicídios de reis determinadas circunstâncias, ora como expiação, ora para não cair em mãos dos inimigos. Entre os filósofos gregos, suicidaram-se Hegesipo, Zenão e Diógenes Laércio. Na capital da ilha de Queos, suicidavam-se todos os cidadãos que atingiam setenta anos, sendo o ato acompanhado de uma cerimônia: o que ia morrer fazia-se coroar de flores e bebia uma taça de cicuta ou outro veneno vegetal. Os suicídios foram raros no período republicano de Roma, aumentando, porém, no período de corrupção generalizada. (BRUNO, 1979, p.152). Nota-se, em outras culturas, semelhante acontecimento: Na China antiga, o suicídio constituía ato bastante comum. Quando o imperador Chingue-Coangue-Ti mandou queimar os livros sagrados, quinhentos discípulos de Confúcio suicidaram-se a fim de não sobreviverem àquela perda. Até há poucos anos, o haraqui era considerado pelos japoneses em geral como o mais honroso dos suicídios, e esta tradição não está completamente extinta. Voltaire conta que, no seu tempo, no Japão, quando um homem de honra era ultrajado por outro, abria suas 9 entranhas na frente do ofensor, convidando-o a fazer o mesmo; se o segundo não seguisse o exemplo, ficava marcado pela desonra. [...] Na história do Egito, ficou célebre o suicídio de Cleópatra, que se deixou picar por uma áspide, depois de ter experimentado diferentes venenos em condenados, chegando à conclusão de que a picada de uma áspide era o meio de morte mais suave. [...] Durante a Idade Média, os suicídios foram raros devido ao anátema religioso lançado sobre os suicidas. Com a renascença, todavia parece ter aumentado em número. O protestantismo condenou formalmente o suicídio e tanto Lutero como Calvino declararam explicitamente que somente Deus é o Senhor único e absoluto da vida e da morte. Os suicídios, que diminuíram no século XVII, tornaram-se mais numerosos nos séculos XVIII e XIX, sobretudo após a aparição do Romantismo. Mesmo em tempos recentes, diversos acontecimentos políticos implicam uma verdadeira onda de suicídios. (BRUNO, 1979, p.152) A religião cristã sempre condenou o suicídio. O seguinte trecho do Direito Canônico relata o suicídio indireto, ocorrendo apenas à prática através de virtudes como a caridade e a castidade: “O Código de Direito Canônico determina que devam ser privados de sepultura eclesiástica os suicidas que, antes de morrerem, não derem qualquer sinal de arrependimento.” (BRUNO, 1979, p. 151) Segundo Kovács (1992), na época atual, os sujeitos têm maior autonomia de escolhas, o que implica opção pelo suicídio. Principalmente no ocidente, a solidão e o sentimento de irrelevância social acometem os suicidados. Chama-se suicídio todo caso de morte que resulta direta ou indiretamente de um ato, positivo ou negativo, realizado pela própria vítima a qual sabia que produziria esse resultado (DURKHEIM, 2000, p. 14). Durkheim (2000) diz que o suicídio é um ato individual com características da sociedade que o produz. É um ato complexo, indefinido e com contornos vagos. É um homicídio intencional de si mesmo. De várias maneiras, o indivíduo renuncia-se à sua existência. O suicídio é um ato desesperado de alguém que não quer viver: ele “inclui uma gama de situações muito complexas, o qual é muito vago e indefinido, então compreender este problema é quase um mito, as tentativas de compreensão são vagas e o método de prevenção é ainda pouco usado.” (KOVÁCS, 1992, p. 165) 10 O suicídio pode ser considerado uma inabilidade individual de se resolver problemas, associada a um estado de desequilíbrio emocional, em que o indivíduo encara os problemas como impossíveis de serem resolvidos, aumentando, assim, sua ansiedade e sua tristeza. Levy (1979 apud KOVÁCS, 1992, p. 165), sobre isso, coloca: “uma auto eliminação consciente, voluntária e intencional. Num sentido mais amplo, o suicídio inclui processos autodestrutivos inconscientes, lentos e crônicos”. Em sua etimologia, a palavra suicídio pode ser reduzida em sui (de si mesmo) e caedes (ação de matar); portanto, é sinônimo de “matar a si mesmo”. As suas causas podem ser as mais variadas, incluindo aspectos externos, normas sociais e motivações internas. Tentativas de suicídio são atos deliberados de auto-agressão, em que a pessoa não tem certeza da sobrevivência, manifestando uma intenção autodestrutiva e uma consciência vaga de risco de morte. Os suicidas inconscientes são atos que não se expressam de modo explícito e manifesto, e sim de forma incompleta, deslocada, simbólica como se verifica em acidentes e homicídios provocados pela vítima e automutilações. (KOVÁCS, 1992, p. 165) Segundo Schneidmann e Faberow (1959 apud KOVÁCS, 1992, p. 166-167): Deve-se levar em consideração o que chamaram de “Cry for Help”, onde o sujeito atenta a própria vida como forma de chamar a atenção das pessoas a sua volta, para as suas necessidades, buscando maior amor e valorização pessoal. É uma forma de comunicação. Há uma ambivalência entre o desejo de viver e morrer. Para Kovács (1992), o indivíduo que atenta contra a sua vida, atenta contra a sociedade. Na cultura social, há um aumento de suicídios justificado pelo discurso de que a pessoa se sente mais digna ao morrer do que ao viver. Além disso, no que diz respeito à existência tóxica, envolve-se um viver se suicidando, no qual o homem só termina de morrer. A existência tóxica é a vivência de forma que o ser humano se mata continuamente no cotidiano, ou seja, todos se matam em comum acordo, através de uma maneira de viver perigosa para a saúde. 11 O suicídio é um ato muito complexo, portanto, não pode ser considerado em todos os casos como psicose, ou como decorrente de desordem social. Também não pode ser ligado de forma simplista a um determinado acontecimento como rompimento amoroso, ou perda de emprego. Trata-se de um processo, que pode ter tido o seu início na infância, embora os motivos alegados sejam tão somente os fatores desencadeantes. (KOVÁCS, 1992, p. 167) 2.1 MORTE E PROCESSO DE LUTO Morte faz parte do desenvolvimento humano desde o nascimento. Durante todo o processo de desenvolvimento vital, entrelaçam-se vida e morte: “Em termos de função, a morte se caracteriza pela interrupção completa e definitiva das funções vitais de um organismo vivo, com o desaparecimento da coerência funcional e destruição progressiva das unidades tissulares e celulares” (KOVÁCS, 1992, p. 10). A morte, no contexto biológico, ocorre quando não há um funcionamento de todos os sistemas, de forma integrada. É a morte dos órgãos e dos tecidos. No contexto médico atual, a morte se caracteriza com especificidades. Kovács (1992, p. 11) ratifica: A morte clínica é definida como estado onde todos os sinais de vida (consciência, reflexos, respiração, atividade cardíaca) estão suspensos, embora uma parte dos processos metabólicos continue a funcionar. A morte clínica se tornou um conceito, pois atualmente todas essas funções vitais podem ser substituídas por máquinas, prolongando a vida indefinidamente. A morte total ocorre quando se inicia a destruição das células de órgãos altamente especializados, como cérebro, os olhos, passando depois para outros órgãos menos especializados. Sobre o sentimento de medo mediante a interrupção da vida, Kovács (1992, p. 14) disserta: “O medo é a resposta psicológica mais comum diante da morte. O medo de morrer é universal e atinge todos os seres humanos, independente da idade, sexo, nível sócio-econômico e credo religioso. Apresenta-se com diversas facetas e é composto por várias dimensões”. O objetivo 12 maior das pessoas, que eliminam suas vidas, é escapar de sua vida atual, em meio a turbulências, problemas, conflitos e rotinas, às vezes, insuportáveis. Durante a vida, o ser humano passa por períodos que julga difíceis. Entretanto, para alguns, esses momentos podem parecer insuportáveis. Assim, é importante salientar que os problemas de cada pessoa são diferentes e específicos, e a maneira como cada um avalia tais eventos é fundamental para explicar o que se chama “crise”. Segundo Reinecke (1995 apud BAPTISTA, 2004, p. 99), “o suicídio é, por si só, caracterizado e consequência de uma situação de crise”. Tal crise é perpassada por uma condição reativa do indivíduo frente a uma situação ameaçadora de sua integridade. Existe uma dependência entre o desejo de morrer e o de matar-se. A pessoa que se mata não quer necessariamente morrer (pois não sabe o que seja isso). A pessoa se mata porque deseja outra forma de vida, fantasiada, na terra ou em outro mundo, mas, na verdade, essa outra forma de vida está em sua mente. (CASSORLA, 1992, p. 29) No suicida, a morte se apresenta como um ato de vingança ao outro, tal como assevera Kovács (1992, p. 4): “Em muitas tentativas de suicídio, há a fantasia de „se morrer só um pouco‟, para que o outro possa sentir falta, ou para que se sinta culpado”. [...] Morte é algo totalmente abstrato e incognoscível, e que as pessoas, independentemente de fatores religiosos, comumente utilizam mecanismos para combater a angústia do incompreensível, e entre estes, um dos mais importantes é a visão (consciente ou inconsciente) de alguma espécie de vida pós-morte. Por isso, mesmo o suicida, não procura a morte (porque não sabe o que seja), mas sim está em busca de outra vida, fantasiada em sua mente. (CASSORLA, 1992, p. 28-29) Em Cassorla (1992, p. 24), pode-se encontrar a morte como subterfúgio para o sofrimento, onde: Infelizmente, em quadros de melancolia, às vezes, o suicida em potencial imagina que, com sua morte, deixará de sofrer a família ou pessoas próximas e acredita que cometerá um suicídio altruístico. Isso não é verdade, pois a análise cuidadosa 13 demonstrará que esse é apenas um mecanismo, de auto-engano, para justificar o ato, que tem motivações muito mais profundas. Também em Cassorla (1992), constata-se que o suicida não procura a morte, mas outra vida, fantasiada em sua mente. Nessa “nova vida”, surreal, inexistem problemas e angústias atormentadores, tal como os que perturbam a realidade. De acordo com Kovács (1992, p. 149), “a morte do outro se configura como a vivência da morte em vida. É a possibilidade de experiência da morte que não é a própria, mas é vivida como se uma parte nossa morresse, uma parte ligada ao outro pelos vínculos estabelecidos”. A perda e a sua elaboração são elementos contínuos no processo de desenvolvimento humano. A morte como perda nos fala em primeiro lugar de um vínculo que se rompe, de forma irreversível, sobretudo quando ocorre perda real e concreta. Nesta representação de morte estão envolvidas duas pessoas: uma que é “perdida” e a outra que lamenta esta falta, um pedaço de si que se foi. O outro é em parte internalizado nas memórias e lembranças, na situação de luto elaborado. A morte como perda evoca sentimentos fortes, pode ser então chamada de “morte sentimento” e é vivida por todos nós. É impossível encontrar um ser humano que nunca tenha vivido uma perda. (KOVÁCS, 1992, p. 150) Nessa perspectiva, o luto se configura: [...] Luto saudável é a aceitação da modificação do mundo externo, ligada à perda definitiva do outro, e a conseqüente modificação do mundo interno e representacional, com a reorganização dos vínculos que permaneceram. Os processos defensivos são constituintes regulares de todo o processo de luto, em qualquer idade, e se tornam patológicos quando assumem caráter irreversível, fazendo parte integrante da vida. (KOVÁCS, 1992, p. 157) Cassorla (1992) acredita que, após a perda da pessoa querida, o ser humano precisa de algum tempo para poder acostumar-se, readaptar-se. Nesse período, ocorre o que se chama processo de luto. Quando há dificuldade em se elaborar a perda, a tristeza pode se voltar para dentro. Além disso, podem-se seguir sentimentos agressivos em relação à pessoa perdida, desejos de morte conscientes ou inconscientes. Esses sentimentos geram culpa, que é, em parte, 14 reprimida, e que pode levar a atos inconscientes de autodestruição. A raiva em relação à pessoa morta, pelo seu abandono, gera sentimentos ambivalentes de amor e ódio. O morto ou o perdido é lembrado, chega-se a conversar com ele, a brigar, a suplicar. Ele é tratado dentro da mente como se ainda, em parte, existisse. Aos poucos, porém (e é só o tempo que cura o luto), essa imagem, esses pensamentos, vão se esvaindo, e o indivíduo (antes tristonho, arredio, voltado para dentro de si) passa, lentamente, a interessar-se pelo mundo, por outras pessoas, pela vida e após algumas semanas ou meses ele retoma a vida normal. (CASSORLA, 1992, p. 52) Para Bromberg et al. (1996, p. 104), “o luto é definido como uma crise, porque ocorre um desequilíbrio entre a quantidade de ajustamento necessário de uma única vez e os recursos imediatamente disponíveis para lidar com eles”. Sendo assim, o luto pode causar ideações suicidas, o que tem a ver com uma crise configurada pelo desequilíbrio. Muitas vezes, não se sabe se o suicida busca a morte ou outra forma de vida. A agressividade do ato suicida é uma forma de vingança contra a sociedade que condena a prática: “Evidentemente, sentir-se responsável pela morte de alguém pode levar a sentimentos de culpa e necessidade de punição, por vezes intensos [...]. O luto, então, se complica, e as necessidades de castigo podem conduzir a ideias suicidas” (CASSORLA, 1992, p. 54). Em prol da culpa que os entes sobreviventes a uma perda sentem, encubam-se de ideias imaginárias e consagradas para com os que morreram. Quase todas as pessoas são transformadas em “ótimas e maravilhosas” após a morte, como se os sobreviventes receassem uma vingança dos mortos, que agora não podem combater. Muitas vezes os elogios são proporcionais à culpa sentida por sentimentos negativos inconscientes em relação ao morto e pelo alívio proporcionado por sua morte. (CASSORLA, 1992, p. 32) O luto é, pois, uma demonstração sublime de tristeza e mágoa que afeta alguém. 15 A depressão, a tristeza é a reação normal que temos frente a uma perda. A perda pode ser mais variada: podemos perder um ente querido, que faleceu; podemos perder um amigo que nos deixou ou nos decepcionou; podemos perder um emprego, uma oportunidade. A perda pode ser de um objeto, de um encontro, de um amor, ou de algo que não tínhamos, mas que desejávamos e agora sabemos que isso será impossível. (CASSORLA, 1992, p. 51) A morte é sempre uma realidade difícil de ser enfrentada. Para quem morre, o sofrimento acaba; para quem fica, o sofrimento continua amplificado pela solidão – cruel pela ausência. Quando ocorre a perda, principalmente se for brusca, essa ligação ou esse investimento tem de se desfazer: isso trará sofrimento ao indivíduo, que não sabe o que fazer com essa energia livre. É como se por muito tempo vivêssemos num mundo constituído de uma forma determinada e de repente ele mudasse, e ficamos desorientados. (CASSORLA, 1992, p. 52) 2.2 TIPOS DE SUICÍDIO E SUAS POSSÍVEIS CAUSAS Enumeram-se alguns tipos de suicídio: Suicídio Maníaco. O doente se mata para fugir de um perigo ou de uma vergonha imaginários, ou para obedecer a uma ordem misteriosa provida de delírios e de alucinações. Segundo Durkheim (2000), as ideias, os sentimentos mais diversos e até mais contraditórios sucedem-se em velocidade extraordinária no espírito dos maníacos. É um eterno turbilhão. Mal nasce um estado de consciência e já é substituído por outro. Um doente desse gênero, querendo dar fim a seus dias, jogara-se num rio de modo geral pouco profundo. Estava procurando um local em que a submersão fosse possível quando um guarda aduaneiro, suspeitando de suas intenções, aponta-lhe a arma e ameaça atirar se ele não sair da água. Imediatamente, nosso homem volta tranquilamente para casa, sem pensar mais em se matar. (DURKHEIM, 2000, p. 40) 16 Suicídio Obsessivo. Segundo Durkheim (2000), o suicídio obsessivo não é causado por nenhum motivo, nem real nem imaginário, mas apenas pela ideia fixa da morte, que, sem razão representável, apoderou-se imperiosamente do espírito do doente. Como o indivíduo se dá conta do caráter absurdo de sua vontade, de início ele tenta lutar. Mas, durante todo o tempo que dura essa resistência, ele fica triste, oprimido e sente na cavidade epigástrica uma ansiedade que aumenta a cada dia. Por essa razão, deu-se às vezes a esse gênero de suicídio o nome de suicídio ansioso. (DURKHEIM, 2000, p. 42) Suicídio Impulsivo ou Automático. Está ligado às ideias delirantes do indivíduo. Não tem nenhuma razão de ser, nem na realidade nem na imaginação do doente. Mas, em vez de ser produzido por uma ideia fixa que persegue o espírito durante um tempo mais ou menos longo e que só gradualmente se apodera da vontade, resulta de um impulso brusco e imediatamente irresistível. (DURKHEIM, 2000, p. 43) O suicídio impulsivo tende a alcançar seu objetivo por quaisquer meios que lhe sejam mais fáceis e rápidos. Segundo Durkheim (2000, p. 43): A propensão ao suicídio eclode e produz seus efeitos com um verdadeiro automatismo, sem ser precedida por nenhum antecedente intelectual. A visão de uma faca, o passeio à beira de um precipício, etc. fazem nascer instantaneamente a idéia do suicídio e o ato se segue com tal rapidez que, muitas vezes, os doentes não têm consciência do que aconteceu. Suicídio altruísta. A sociedade moderna força a pessoa ser livre. Destaca ainda o valor da personalidade individual, facilitando esse tipo de suicídio. Para Kovács (1992), no “suicídio altruísta, o indivíduo perde a estima pública; motivos externos como a desonra ou brigas podem levar à condenação”. Nesses casos, são comuns os suicídios heroicos, através do qual o indivíduo vive uma espécie de impessoalidade; tem seus princípios de conduta regidos de fora; e a renúncia passa a ser o resultado de um adestramento prolongado. 17 Suicídio Anômico. Segundo Kovács (1992), o suicídio anômico é uma desorganização com as crises econômicas. Sem consciência do seu limite e do que necessita, o indivíduo busca um parâmetro social. Quando a sociedade falha nesse aspecto, o homem se sente desorientado. A anomia pode ser percebida também na vida familiar, após divórcios e devido à incerteza, o que resulta em um estado de perturbação. Suicídio egoísta. É um ato que se reveste de individualismo extremado. É o tipo de suicídio que predomina nas sociedades modernas e é geralmente praticado por aqueles indivíduos que não estão devidamente integrados à sociedade e geralmente se encontram isolados dos grupos sociais. O tipo de suicídio atualmente mais difundido e que mais contribui para aumentar o número anual de mortes voluntárias é o suicídio egoísta. O que o caracteriza é um estado de depressão e de apatia produzido por uma individuação exagerada. O indivíduo já não tem apego á existência, porque não tem mais bastante apego ao único intermediário que liga à realidade, isto é, a sociedade. Tendo um sentimento muito vivo de si mesmo e de seu próprio valor, quer ser ele mesmo seu próprio fim e, como tal objetivo não lhe pode bastar, arrasta, mergulhado em desânimo e tédio, uma existência que lhe parece então desprovida de sentimento. (DURKHEIM, 2000, p. 463) Suicídio melancólico. Esse tipo de suicídio está ligado a um estado geral de extrema depressão, de tristeza exagerada, que faz com que o doente já não aprecie sadiamente as relações que tem com ele as pessoas e as coisas que o cercam. Não sente nenhuma atração pelos prazeres; enxerga tudo sombrio. A vida lhe parece aborrecida ou dolorosa. (DURKHEIM, 2000, p. 41) Segundo a Psicologia, a excitação se altera com a depressão, podendo apresentar intervalos de higidez mental. É também chamada ciclotimia, sendo uma depressão constitucional, uma angústia que se encerra com o suicídio. Sabe-se que a depressão caracteriza o suicídio melancólico, e que a maioria dos suicídios e tentativas dele ocorre em pacientes diagnosticados com depressão. Segundo Fawcett et al. (1987 apud PRIETO; TAVARES, 2005, p. 150): 18 [...] a taxa de suicídio entre depressivos é maior do que entre outros grupos diagnósticos psiquiátricos (3,5-4,5 vezes) e muito superiores à incidência na população geral (22-36 vezes). [...] pacientes com distúrbio afetivo maior, que cometem suicídio, mostram características clínicas significativamente diferentes de pacientes com o mesmo diagnóstico que não tiram a própria vida. Destacam-se, entre tais características, intensos sentimentos de desesperança, perda da reatividade do humor e história de poucas amizades na adolescência. Há evidências de que a população de pacientes deprimidos que tenta suicídio teve poucos episódios anteriores de depressão maior (menos de três episódios). As tentativas de suicídio e o suicídio em si podem ocorrer também devido à melancolia, por causa da perda, principalmente a conjugal, que pode levar o indivíduo ao luto do objeto perdido e à depressão. De acordo com Bromberg et al. (1996, p. 17) “a perda na melancolia pode ser uma perda da vida, não é mais um objeto perdido que é chorado e sim a própria perda. Melancolia é a ação da pulsão de morte”. Nesse contexto, a pulsão de morte leva o sujeito à autodestruição – caso seja realmente mais forte que a pulsão de vida. Na melancolia, encontram-se aflição e dor, perda do interesse pelo mundo e pelas coisas e perda da capacidade de escolher um objeto novo. Freud assinalou que na melancolia a sombra do objeto cai sobre o ego, isto é, o sobrevivente se identifica com o morto. Não só com as facetas positivas (aliás, isso ocorre mais no luto normal), mas também com as negativas, projetadas. Poderemos ter, então, dentro da mente do indivíduo, identificados vivo e morto, uma entidade má, raivosa, resultado dos sentimentos negativos, e a pessoa passa a sentir-se assim, dominada e culpada. (CASSORLA, 1992, p. 55). De acordo com Cassorla (1992, p. 55): “Na melancolia, comumente, não existe uma perda real, visível ao observador. Trata-se sempre de perdas da infância precoce, que são revividas inconscientemente, a partir ou não de um desencadeante externo”. O suicídio melancólico, 19 segundo o teórico, relaciona-se geralmente a um estado de extrema depressão, de exagerada tristeza, que faz com que o doente já não sinta mais prazer pela vida. Processo melancólico: parou de comer e de dormir, e só pensava na filha. Sentia-se má, horrorosa, “uma bruxa” e foi definhando aos poucos. Achava que seu crime era tamanho que devia morrer; pedia a morte e pensava em matar-se. Joana estava se matando, não comendo e emagrecendo, e logo apareceu a tuberculose. Foi levada à força ao médico, que a internou, e pude conhecê-la no hospital. Não queria ajuda e chegou a tentar jogar-se pela janela. (CASSORLA, 1992, p. 57) Relacionar melancolia à perda é uma importante orientação para a clínica de desencadeamento. Cassorla (1992, p. 51) afirma que a maioria dos suicídios em pessoas com quadros mentais ocorre na melancolia e outra porção quando o indivíduo está frente à ameaça de desintegração psicótica. No entanto, compreendendo melhor que o ato em que está pensando cometer é um crime, renuncia a ele por algum tempo. Mas, depois de um ano, a tendência ao suicídio volta com maior força e as tentativas se repetem a pequenos intervalos. (...) Muitas vezes, a esse desespero geral vêm se sobrepor alucinações e idéias delirantes que levam diretamente ao suicídio. (...) São fixas, como o estado geral de que derivam. Os medos que assombram o indivíduo, as censuras que faz a si mesmo, as mágoas que sente são sempre as mesmas. (DURKHEIM, 2000, p. 41) Enfatiza novamente Durkheim (2000, p. 42): Os doentes dessa categoria preparam com calma seus meios de execução; até revelam, na perseguição de seu objetivo, uma perseverança e, ás vezes, uma astúcia incrível. Nada se assemelha menos a essa persistência do que a perpétua instabilidade do maníaco. Para finalizar, cita-se Cassorla (1992, p. 55): Poderemos ter, então, dentro da mente do indivíduo, identificados vivo e morto, uma entidade má, raivosa, resultado de sentimentos negativos, e a pessoa passa a sentirse assim, dominada e culpada. Essa evidência pode ser muito intensa, muito persecutória, impedindo a vida do sobrevivente que se sente mal, com o ódio e com 20 muita culpa. A idéia de suicídio pode surgir como uma maneira de livrar-se dessa vivência, de matar esse objeto dentro de si. No que diz respeito às possíveis causas do suicídio, inicia-se a discussão com as palavras de Garma (1973 apud KOVÁCS, 1992), o qual levantou hipóteses psicanalíticas para a explicação do suicídio. Esse autor acredita ser o suicídio uma deformação masoquista da personalidade. “Quando ocorre a perda do objeto, o suicídio aparece como possibilidade de reencontro com ele”. Dessa forma, o suicídio representa: possibilidade de se livrar de conflitos; busca de uma vida que não se tinha antes; fantasia de reencontro com outras pessoas; busca de um elemento de beleza na morte; fuga de uma situação intolerável; busca de uma união sexual, amorosa; busca de uma perfeição narcísica; satisfação de tendências masoquistas, com auto castigos; satisfação instintiva. Garma também acredita que, em alguns casos, o suicídio pode ser uma reação maníaca, sendo que o ideal de ego se confunde com o próprio ego e ocorre uma submissão ao superego, que exige sofrimento e renúncia. O prazer está ligado à autodestruição. Já o ficar sem dormir, sem comer e arriscando a vida, significa atingir o ideal, almejado pelo sujeito. A taxa mundial de suicídio, segundo dados da OMS (2000a apud PIETRO; TAVARES, 2005, p. 147): É estimada em torno de 16 por 100 mil habitantes, com variações conforme sexo, idade e país. Estima-se que as tentativas de suicídio sejam 20 vezes mais frequentes do que os suicídios consumados. Observou-se um aumento de 60% dos índices de suicídio nas últimas cinco décadas, considerando-se os dados do mundo inteiro. A morte por suicídio passou a ocupar a terceira posição entre as causas mais freqüentes de falecimento na população de 15 a 44 anos de idade em alguns países. O grupo de maior risco, tradicionalmente, é o idoso do sexo masculino. Contudo, os índices de suicídio têm aumentado entre pessoas jovens. Atualmente, os jovens representam o grupo de maior risco em 30 países. De acordo com Prieto e Tavares (2005), as pesquisas, principalmente com adolescentes e com jovens, que focalizam a presença de fatores estressores na história de vida de pessoas, as quais 21 tentam ou cometem suicídio, são convergentes em apontar uma elevada incidência de experiências adversas durante o desenvolvimento emocional. Prieto (2002 apud PIETRO; TAVARES, 2005) realizou estudos de casos clínicos de adolescentes e jovens com história de tentativa de suicídio e detectou a elevada importância dos eventos estressores na história de desenvolvimento desses indivíduos. As experiências estressoras se caracterizavam por uma infância marcada pela presença de indicadores de negligência emocional, violência física, violência verbal e violência sexual intrafamiliar. Os eventos que assumiram a função de desencadeadores das tentativas foram conflitos relacionais graves e separações recentes. 2.3 FANTASIAS Uma fantasia evidente, presente no suicida, é a crença de pós-vida, ou seja, da vida que poderá encontrar após o suicídio, e que pode ser melhor do que a atual. Exemplo disso são os homens-bomba, citados anteriormente. É clara a importância da visão do pós-vida no fenômeno do suicídio. Se por um lado, existe a fuga do desespero, a agressão ao outro, a obediência a valores culturais e outras motivações, por outro existe a atração das crenças do que está do lado de lá do que vem depois, do pós-vida. (BROMBERG, 1996, p. 84) Cassorla (1991 apud BROMBERG, 1996, p. 85), distinguem-se as fantasias inconscientes que o suicida pode apresentar, tais como: [...] em três grandes grupos: 1) uma vida cheia de paz, onde são reencontrados os entes queridos que já morreram; 2) agressão e vingança contra inimigos reais e imaginários, com a possibilidade no pós-morte de ver como ficaram as pessoas vivas e 3) a própria punição por sentimentos de culpa, provocados por sentimentos, pensamentos ou ações proibidos pela moral aceita pelo suicida. O autor fala também dos suicídios heróicos e religiosos em defesa do país ou da fé, pra os quais a crença é de que existiram recompensas e prêmios após a vida. (p. 85) 22 Para Cassorla (1992, p. 67-68), a pessoa se mata, porque deseja outra forma de vida, fantasiada, na terra ou em outro mundo; mas na verdade, essa outra forma de vida está em sua mente. Nessa outra vida, ela encontra amor ou proteção, vinga-se dos inimigos, pune-se por seus pecados ou reencontra pessoas. Existirão, portanto, tantas fantasias ou tantos complexos de fantasias suicidas quanto de pessoas que assim agem ou pensam. “Subjacente ao ato suicida existe a fantasia de outra vida, de um paraíso, de encontro com Deus, de outro mundo cheio de riquezas, ou delícias, de reencontro com pessoas queridas que morreram. [...] Essas fantasias todas são, quase sempre, inconscientes”. O suicídio e o comportamento suicida sempre existiram. O que muda ao longo de diferentes épocas é a forma como esse ato é encarado. Em alguns países e culturas, ele pode ser tolerado e, em outros, condenados pela lei ou pela religião. Já em outras culturas, pode ser aceito. Mas o importante a ser lembrado é que o ato de se matar pode estar ligado ao transtorno que o indivíduo possa ter, tal como depressão, delírios, obsessão e psicose. E também à inabilidade do indivíduo de lidar com perdas significativas ou situações de crise, fantasias da pós-morte e fanatismos religiosos. Sendo assim, o ato suicida não deve ser simplesmente condenado, mas compreendido. Através do peso da descrição de morrer, pode estar a interpretação de eventos capaz de justificar esse ato extremo. 23 3 TRANSTORNOS DE HUMOR Os sintomas depressivos no Episódio Depressivo Grave, associados a outros transtornos psicológicos, favorecem o aumento do risco de suicídio, pois o mesmo é maior em pacientes com transtorno depressivo. Transtornos de humor, como os episódios depressivos; transtorno bipolar e persistente têm sido indícios agravantes para o suicídio. A depressão pode ser considerada como um dos mais prevalentes dos transtornos, atingindo uma parcela significativa da população mundial. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS, 2001, p. 14, 27, 53 apud BAPTISTA, 2004, p.65 ), [...] 450 milhões de pessoas atualmente, em todo o mundo, sofrem de algum tipo de transtorno mental, neurobiológico ou problemas psicossociais. A depressão grave enquanto transtorno mental, ocupa o status da principal causa de incapacitação, respondendo por 12% do total de afastamentos de atividades profissionais e educacionais, 12% são em detrimento de diagnóstico de depressão, provocando um impacto econômico muito grande nas sociedades. Por ser considerado um transtorno de etiologia multifatorial, a depressão apresenta diversas variáveis, responsáveis pelo seu início e seu desenvolvimento. Dentre os grupos de variáveis consideradas como fundamentais na depressão, encontram-se: as variáveis biológicas, tais como fatores endocrinológicos e influências genéticas, evolução, estrutura e química do cérebro; variáveis psicológicas, como, por exemplo: os estressores durante a vida, os traumas, o desamparo adquirido, a forma como o indivíduo percebe o mundo e sua maneira de resolver os problemas, as memórias; e as variáveis socioculturais, ou seja, os papéis sociais, as expectativas, a definição de normalidade pela cultura, a estrutura e o suporte familiar pela cultura, a estrutura e suporte familiar e social, dentre outras. (WEISSMAN; OLFSON, 1995; MYERS, 1999 apud BAPTISTA, 2004) Existem fatores de risco que levam o indivíduo à depressão. Baptista (1999a apud BAPTISTA, 2004), através de levantamento bibliográfico, aponta alguns dos prováveis 24 fatores, como sendo: histórico de depressão, ser mulher, viver em uma família disfuncional, baixa educação dos pais, grande número de eventos estressantes, pouco suporte social, baixa autoestima, baixa competência intelectual tanto para mulher quanto para o homem, problemas de saúde, técnicas de enfrentamento das situações reduzidas, excessiva interdependência pessoal, morte prematura de um dos pais, fatores genéticos, superproteção familiar na infância etc. Segundo o Código Internacional de Doenças (CID-10, 1993), sintomas como alteração da vida social e sofrimento (este último, como: sentir-se triste, durante a maior parte do dia; perder o prazer ou o interesse em atividades rotineiras; desesperança; diminuição ou queda total da libido; perder peso ou ganhar peso; dormir demais ou de menos; irritabilidade; sentirse cansado e sem energia; sentir-se inútil, culpado, sendo um peso na vida dos familiares; ansiedade alta; dificuldade de concentração e de memória; ter pensamentos frequentes de morte e suicídio) são utilizados para caracterizar uma depressão. Ressalta-se, no entanto, que tais sintomas devem estar presentes por duas ou mais semanas no indivíduo. Eles são importantíssimos para servir de alerta à família. Quando detectados no início, as chances de recuperação do indivíduo com ideações suicidas são enormes, sendo ainda mais eficazes quando existe o acompanhamento de um psicólogo ou de um profissional da saúde. Para Seligma (1997, p. 73, 87 apud BAPTISTA, 2004, p. 35): “Poucos distúrbios psicológicos são tão corrosivos e provocam tamanho sofrimento como a depressão grave”. Geralmente, mais de um transtorno é detectado entre as pessoas que tentam suicídio. Depressões moderadas e graves, com ou sem sintomas psicóticos, em caso de transtorno afetivo bipolar ou com presença de risco de suicídio importante, devem ser tratadas com o auxílio do psicólogo, de preferência com a equipe multiprofissional, viabilizando a associação de psicoterapia, terapia ocupacional, serviço de hospitalidade diurna e até noturna (dependendo do caso). 25 3.1 EPISÓDIO DEPRESSIVO O episódio depressivo pode ser diferenciado entre leve, moderado ou grave, dependendo da particularidade de cada caso. Ele corresponde apenas a uma questão da intensidade com a qual se apresentam os episódios, e como os mesmos evidenciam essas situações. De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10, 1993), para caracterizar um episódio depressivo leve, o indivíduo deve apresentar, no mínimo, quatro destes sintomas: humor rebaixado, perda de interesse e prazer, fatigabilidade, concentração e atenção reduzidas, autoestima e autoconfiança diminuídas, ideias de culpa e inutilidade, apetite minimizado, sono perturbado; todos devem se fazer presentes por, no mínimo, duas semanas. Em um episódio depressivo moderado, o indivíduo apresenta três ou quatro dos sintomas anteriores, porém tem dificuldades consideráveis em continuar as atividades sociais, laborativas ou domésticas. Já no episódio depressivo grave, a pessoa apresenta sintomas, tais como angústia e agitação, perda de autoestima e sentimentos de inutilidade ou culpa (podendo estar presente em todos os níveis de episódios depressivos). Eles são proeminentes e o suicídio é um perigo marcante nos casos particularmente graves. Quanto mais elevado os episódios depressivos, mais graves os sintomas, e mais difícil se continuar a vida e as atividades rotineiras. Segundo a 10ª Revisão da Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (1993), entre as descrições clínicas de episódios depressivos, situados no Código Internacional de Doenças, são caracterizados vários tipos de episódios depressivos, como o episódio depressivo leve, episódio depressivo moderado, episódio depressivo grave com e sem sintomas psicóticos, episódio depressivo recorrente, incluindo transtorno bipolar, transtorno persistente de humor, ciclotimia e distimia. Observa-se: O indivíduo usualmente sofre de humor reprimido, perda de interesse e prazer e energia reduzida levando a uma fatigabilidade aumentada e atividade diminuída. Cansaço marcante após esforços apenas leves é comum. Outros sintomas comuns são: concentração e atenção reduzidas; autoestima e autoconfiança reduzidas; idéias de culpa e inutilidade (mesmo em um tipo leve de episódio); visões desoladas e 26 pessimistas do futuro; ideias ou atos autolesivos ou suicídio; sono perturbado; apetite diminuído. O episódio depressivo leve é caracterizado por sintomas como humor reprimido e perda de interesse; por isso, a dificuldade em se realizar as atividades rotineiras (por exemplo, levar a criança à escola, ir para o trabalho). No CID-10 (1993), encontra-se no F32. Apesar de a presença de tais sintomas, o paciente provavelmente será capaz de desempenhar a maior parte das atividades. Um indivíduo com um episódio depressivo leve está usualmente angustiado pelos sintomas e tem alguma dificuldade em continuar com o trabalho do dia-a-dia e as atividades sociais, mas provavelmente não irá parar suas funções completamente. (CID-10, 1993, p. 119) No episódio depressivo moderado, geralmente, estão presentes os sintomas do episódio depressivo leve, seguido de muita dificuldade para continuar a desempenhar as atividades de rotina. O indivíduo possui um quadro de humor deprimido, perda de interesse, falta de energia e apresenta dificuldade em executar suas funções. Está classificado, no CID-10 (1993), como F.32.1, no qual “um indivíduo com episódio depressivo, moderadamente grave, usualmente terá dificuldade considerável em continuar com atividades sociais, e laborativas ou domésticas”. O episódio depressivo grave se encontra no F32.2 e é caracterizado como aquele em que [...] o paciente usualmente apresenta angústia ou agitação considerável, a menos que retardo seja um aspecto marcante. Perda de autoestima ou sentimentos de inutilidade ou culpa, provavelmente, são proeminentes e o suicídio é um perigo marcante nos casos particularmente graves. Presume-se aqui, que a síndrome somática estará quase sempre presente em um episódio depressivo grave. (CID-10, 1993, p. 120121) Nos anos 1960, os cérebros de vítimas de suicídio passaram a ser estudados como um método para se compreender a depressão. Acreditava-se que a maior parte das pessoas que cometiam 27 suicídio sofria de transtorno depressivo maior (MANN; ARANGO, 1992 apud BAPTISTA, 2004, p. 85). Embora sejam observadas variações nos dados epidemiológicos de suicídio entre pacientes deprimidos, estima-se que entre 10% e 30% dos indivíduos com depressão apresentam comportamento suicida durante a vida (BALDES; SARINI, 1996; GUIMARÃES, 1999 apud BAPTISTA, 2004, p. 85). Essa taxa atinge a casa dos 80% quando são consideradas as ideações suicidas. (MOORE; BONA, 2001 apud BAPTISTA, 2004, p. 85) O episódio depressivo grave com sintomas psicóticos corresponde à descrição de um episódio depressivo grave (F32.2), acompanhado de alucinações, ideias delirantes, lentidão psicomotora, seguido da impossibilidade de execução das atividades rotineiras. É enorme o risco de suicídio e desidratação. No CID-10 (1993), é classificado como F.32.3, caracterizado por: Delírios, alucinações ou estupor depressivo [...]. Os delírios usualmente envolvem ideias de pecado, pobreza, ou desastres iminentes, pelos quais o paciente pode assumir a responsabilidade. Alucinações auditivas ou olfativas são usualmente de vozes difamatórias ou acusativas, ou de sujeira apodrecida ou carne em decomposição. (CID-10, 1993, p. 121) O Transtorno Depressivo Recorrente se caracteriza pela ocorrência repetida de episódios depressivos. O primeiro episódio pode ocorrer em qualquer idade, mesmo na infância, podendo durar semanas ou alguns meses. Segundo o CID-10 (1993): “A idade de início e a gravidade, duração e frequência dos episódios de depressão são todas altamente variáveis”. O transtorno é caracterizado por episódios repetidos de depressão, como especificada em episódio depressivo [leve (F.32.1) ou grave (F.32 e F32. 3)] sem qualquer história de episódios independentes de elevação do humor e hiperatividade que preencham os critérios para mania (F.30.1 e F.30.2). (CID-10, 1993, p. 122) O Transtorno Bipolar é caracterizado pela variação extrema do humor entre uma fase maníaca e outra hipomaníaca; ora hiperatividade e vasta imaginação, ora fase de depressão, com lentidão para realizar atividades e para expressar ideias; ansiedade; e tristeza. 28 Esse transtorno é caracterizado por episódios depressivos repetidos (isto é, pelo menos dois) nos quais o humor e os níveis de atividade do paciente estão significativamente perturbados; esta alteração consiste em algumas ocasiões de uma elevação do humor e aumento de energia e atividade (mania ou hipomania) e em outras de um rebaixamento do humor e diminuição de energia e atividade (depressão). (CID-10, 1993, p. 114) O Transtorno Persistente de Humor, segundo o CID-10 (1993), são transtornos habitualmente flutuantes, nos quais os episódios individuais não são suficientemente graves para justificar um diagnóstico de episódio maníaco ou de episódio depressivo leve. Podem durar por anos, e, por vezes, durante a maior parte da vida adulta do paciente. Dentre os Transtornos de Humor Persistente estão incluídas a Ciclotimia e Distimia. A instabilidade do humor é o que caracteriza a Ciclotimia. Ela é marcada por períodos de depressão e de euforia. Segundo o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV, 2000), o indivíduo com essa doença pode experimentar lapsos de euforia, ter aumento de energia e dormir menos. Isso normalmente é seguido por uma fase de depressão, em que pensamentos de negatividade e tristeza advêm sem nenhuma razão. A dificuldade em lidar com os lapsos e as alternações de humor dificulta a vida do paciente. O maior tempo em que ele está livre dos sintomas dura aproximadamente dois meses. Tais sintomas causam significantes problemas no trabalho, na vida social ou privada. No CID-10 (1993, p. 126-127), a Ciclotimia é caracterizada como: Uma instabilidade persistente de humor, envolvendo numerosos períodos de depressão e elação leves. Essa instabilidade usualmente se desenvolve no início da vida adulta e segue um curso crônico, embora às vezes o humor possa ser normal e estável por meses. As oscilações do humor são usualmente percebidas pelo indivíduo como não relacionadas a eventos de vida. Na Distimia, por sua vez, o aspecto essencial é uma depressão de humor muito duradoura, ocorrendo de forma crônica, com a persistência de tristeza por, no mínimo, dois anos, o que prevalece na maior parte do dia. A Distimia pode deixar o indivíduo com a sensação de que 29 esse é o seu jeito normal de ser, com dizeres como "sempre fui desse jeito”. Segundo o CID10 (1993, p. 128): Os pacientes usualmente têm períodos de dias ou semanas quando descrevem a si mesmos como estando bem, mas na maior parte do tempo (com frequência por meses) sentem-se cansados e deprimidos; tudo é um esforço e nada é desfrutável. Eles se preocupam e se queixam, dormem mal e sentem-se inadequados, mas são usualmente capazes de lidar com as exigências básicas do dia-a-dia. A distimia, portanto, tem muito em comum com os conceitos de neurose depressiva e depressão neurótica. Observa-se que os transtornos de humor são evidentes quando se trata de suicídio, principalmente a depressão, que assola todo o mundo como uma pandemia desde meados do século passado. Fawcett et al. (1987 apud PIETRO; TAVARES, 2005, p. 150) ressaltam que: [...] a taxa de suicídio entre depressivos é maior do que entre outros grupos diagnósticos psiquiátricos (3,5-4,5 vezes) e muito superiores à incidência na população geral (22-36 vezes). Os autores afirmam que pacientes com distúrbio afetivo maior que cometem suicídio mostram características clínicas significativamente diferentes de pacientes com o mesmo diagnóstico que não tiram a própria vida. Destacam-se, entre tais características, intensos sentimentos de desesperança, perda da reatividade do humor e história de poucas amizades na adolescência. Há evidências de que a população de pacientes deprimidos que tenta suicídio teve poucos episódios anteriores de depressão maior (menos de três episódios). Nota-se que a morte por suicídio passou a ocupar a terceira posição entre as causas mais frequentes de falecimento na população de 15 a 44 anos de idade, em alguns países, como no Japão e nos países da Europa. O grupo de maior risco, tradicionalmente, é o idoso do sexo masculino. Contudo, os índices de suicídio têm aumentado entre pessoas jovens. Atualmente, os jovens representam o grupo de maior risco em 30 países. (OMS, 2000 apud PIETRO; TAVARES, 2005) O DSM-IV (2000), na seção relativa aos Transtornos do Humor, inclui aqueles transtornos que têm como propriedade predominante uma perturbação de humor, sendo de grande interesse o Transtorno Depressivo Maior. O episódio depressivo maior apresenta como características do episódio as citadas a seguir: 30 A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é um período mínimo de duas semanas, durante as quais há um humor deprimido ou perda de interesse ou prazer por quase todas as atividades. Em crianças e adolescentes, o humor pode ser irritável ao invés de triste. O indivíduo também deve experimentar pelo menos quatro sintomas adicionais, extraídos de uma lista que inclui: alterações no apetite ou peso, no sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimentos de desvalia ou culpa; dificuldade para pensar, concentrar-se ou tomar decisões, ou pensamentos recorrentes sobre morte ou ideação suicida, planos ou tentativas de suicídio. (DSM-IV, 2000, p. 306) Um diagnóstico de Episódio Depressivo Maior não é feito se os sintomas satisfazem os critérios para um Episódio Misto (Critério B). Um episódio Misto é caracterizado pela ocorrência de sintomas de um Episódio Maníaco e de um Episódio Depressivo Maior, quase todos os dias por pelo menos uma semana. (DSM-IV, 2000, p. 308) O grau de prejuízo associado com um Episódio Depressivo Maior varia, mas mesmo nos casos leves deve haver um sofrimento clinicamente significativo ou alguma interferência no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes (Critérios B). Se o prejuízo é severo, a pessoa pode perder a capacidade de funcionar social ou profissionalmente. Em casos extremos, pode haver incapacidade de exercer os mínimos cuidados pessoais (por ex., alimentar-se ou vestir-se) ou de manter uma higiene pessoal mínima. (DSM-IV, 2000, p. 308) De acordo com o DSM-IV (2000, p. 325), as características descritivas são: O Transtorno Depressivo Maior está associado com uma alta mortalidade. Os indivíduos com Transtorno Depressivo Maior severo que morrem por suicídio chegam a 15%. Evidências epidemiológicas também sugerem que o índice de mortalidade em indivíduos com mais de 55 anos com Transtorno Depressivo Maior pode ser maior. Os indivíduos vistos em contextos médicos gerais, aqueles com Transtorno Depressivo Maior têm mais dor e doença física e uma redução do funcionamento físico, social e de papéis. O curso do Transtorno Depressivo Maior se apresenta, em conformidade com o DSM-IV (2000, p. 326), da seguinte maneira: O Transtorno Depressivo Maior pode começar em qualquer idade, situando-se uma média em torno dos 25 anos. Dados epidemiológicos sugerem que a idade de início está abaixando para aqueles nascidos mais recentemente. O curso do Transtorno Depressivo Maior, Recorrente, é uma variável. Alguns indivíduos têm episódios isolados, separados por muitos anos sem quaisquer sintomas depressivos, enquanto outros têm agrupamentos de episódios e outros, ainda, têm episódios progressivamente frequentes à medida que envelhecem. Algumas evidências sugerem 31 que os períodos de remissão em geral duram mais tempo no curso inicial do transtorno. [...] Os episódios de Transtorno Depressivo Maior frequentemente se seguem a um estressor psicossocial severo, como a morte de um ente querido ou divórcio. Os estudos sugerem que eventos psicossociais (estressores) podem exercer um papel mais significativo na precipitação do primeiro ou segundo episódio de Transtorno Depressivo Maior e ter um papel menor no inicio de episódios subsequentes. Condições médicas gerais crônicas e Dependência de Substância (particularmente de Álcool ou Cocaína) podem contribuir para o início ou exacerbação do Transtorno Depressivo Maior. Os critérios para 296.2x Transtorno Depressivo Maior, Episódio Único, são: A. Presença de um único Episódio Depressivo Maior. B. O Episódio Depressivo Maior não é melhor explicado por um Transtorno Esquizoafetivo nem está sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico sem outra Especificação. C. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco. (DSM-IV, 2000, p. 328) Segundo o DSM-IV (2000, p. 328), os critérios para 296.3x Transtorno Depressivo Maior, Recorrente, são: A. Presença de dois ou mais Episódios Depressivos Maiores. B. Os Episódios Depressivos Maiores não são melhor explicados por Transtorno Esquizoafetivo nem está sobreposto a Esquizofrenia, Transtorno Esquizofreniforme, Transtorno Delirante ou Transtorno Psicótico Sem Outra Especificação. C. Jamais houve um Episódio Maníaco, um Episódio Misto ou um Episódio Hipomaníaco. Os especificadores de Gravidade/Psicótico/de Remissão, aplicados ao Episódio Depressivo Maior, para DSM-IV (2000, p. 360), são: 32 .x1-Leve: Poucos sintomas (se existem) excedendo aqueles exigidos para o diagnóstico, e os sintomas resultam apenas em pequeno prejuízo no funcionamento ocupacional, em atividades sociais habituais ou relacionamento com outros. .x2-Moderado: Sintomas de prejuízo funcional entre “leve” e “severo”. .x3-Severo Sem Aspectos Psicóticos: Diversos sintomas excedendo aqueles necessários para fazer o diagnóstico e os sintomas que interferem acentuadamente no funcionamento ocupacional, em atividades habituais ou relacionamentos com outros. .x4-Severo com Aspectos Psicóticos: Delírios ou alucinações. Se possível, especificar se os aspectos psicóticos são congruentes ou incongruentes com o humor. Aspectos Psicóticos Congruentes com o Humor: Delírios ou alucinações cujo conteúdo é inteiramente coerente com os temas depressivos típicos de inadequação pessoal, culpa, doença, morte, niilismo ou punição merecida. Aspectos Psicóticos Incongruentes com o Humor: Delírios ou alucinações cujo conteúdo não envolve os temas depressivos típicos de inadequação pessoal, culpa, doença, morte, niilismo ou punição merecida. Estão incluídos sintomas tais como delírios persecutórios (não diretamente relacionados aos temas depressivos), inserção de pensamentos, irradiação de pensamentos e delírios de controle. .x5-Em Remissão Parcial: Presença de sintomas de um Episódio Depressivo Maior, porém não são satisfeitos todos os critérios ou existe um período sem quaisquer sintomas significativos de Episódio Depressivo Maior que dura menos de dois meses após o término de um Episódio Depressivo Maior. (Se o Episódio Depressivo Maior esteve sobreposto a um Transtorno Distímico, o diagnóstico isolado de Transtorno Distímico é dado apenas quando não mais são satisfeitos todos os critérios para um Episodio Depressivo Maior). .x6-Em Remissão Completa: Durante os últimos dois meses, ausência de sinais ou sintomas significativos da perturbação. .x0-Inespecificado. Sendo possível também aplicar ao Episódio Depressivo Maior os especificadores com Características Catatônicas, com Características Melancólicas, com Características Atípicas, com início no Pós-Parto. Porém, é maior o interesse sobre o Episódio Depressivo Maior com Características Melancólicas, apresentado abaixo: A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior, Com Características Melancólicas, é a perda de interesses ou prazer por todas ou quase todas as atividades ou falta de reatividade a estímulos habitualmente agradáveis. O humor depressivo do indivíduo não melhora, mesmo temporariamente, quando alguma coisa boa coisa acontece (Critério A). Além disso, pelo menos três dos seguintes sintomas estão presentes: uma qualidade distinta de humor depressivo, depressão regularmente pior pela manhã, despertar muito cedo pela manhã, retardo ou agitação psicomotora, anorexia ou perda de peso significativa, ou culpa excessiva ou inadequada (Critério B). (DSM-IV, 2000, p. 365) 33 3.2 EPISÓDIO DEPRESSIVO GRAVE E MELANCOLIA Segundo Greenberg, Stiglin e Finkelstein (1993a); Murray e Lopez (1996); Pincus e Pettit (2001) (apud MATOS, 2006), a depressão vem sendo considerada uma epidemia, devido ao aumento do número de casos em todo o mundo. Apesar disso, na maioria das vezes, o transtorno depressivo não é diagnosticado, comprometendo a qualidade de vida dos pacientes em função da cronicidade do quadro. Na melancolia, estado que hoje se denomina depressão, Freud (1996 apud BAPTISTA, 2004) distinguiu os seguintes aspectos: desânimo profundo, cessação do interesse para o mundo externo, perda da capacidade de amar, inibição de toda atividade e diminuição dos sentimentos de autoestima. Um componente constitucional deve contribuir para a formação dos sintomas, porque as mesmas causas podem produzir luto em alguns indivíduos e, em outros, melancolia. Nessa última, a pessoa tenta anular a perda, mas a agrava pela introjeção, que é o mecanismo psíquico usado para instalar o objeto dentro de seu próprio ego. Entretanto, ao perder o objeto amado, o sujeito pode estar consciente de quem ele perdeu, mas não tem notícia do que ele perdeu. Segundo Klein, (1947 apud MATOS, 2006), o quadro da depressão melancólica vem acompanhado por ideação de suicídio, pelas idéias de culpa e de ruína, e pelas distorções senso-perceptivas-corporais da realidade externa. A incorporação e a introjeção são os protótipos da identificação, que ocorrem no quadro, e são vividas como uma ação corporal de ingerir, devorar e guardar dentro de si. Para Matos (2006, p. 178): [...] Na depressão melancólica o paciente não reage aos estímulos positivos que procedem do meio externo. Ao contrário, há uma tendência da piora do quadro pelo desenvolvimento ou agravamento subsequente de ideias de culpa e de ruína. Na prática clínica, observa–se que o paciente sofre e se sente desmoralizado por não poder corresponder à expectativa dos parentes e amigos, que o estimulam a reagir. Isso faz aumentar, nele, a certeza de não merecer o amor dessas pessoas, bem como do afastamento e da perda desses objetos. A convicção que se abate é de tal ordem que podem surgir ideias delirantes. O isolamento do paciente e a sua impermeabilidade, ao meio externo, se solidificam e as manifestações de carinho e apreço não mais o atingem, culminando por dirimir qualquer esperança de vida. Os profissionais envolvidos no tratamento experimentam um difícil sentimento de impotência frente ao quadro. 34 As tentativas de suicídio e o suicídio podem ocorrer também devido à melancolia por causa da perda, principalmente a conjugal, que leva o indivíduo ao luto do objeto perdido e à depressão. Melancolia ou depressão grave ocorrem em pessoas com uma disposição patológica, quando os mesmos sintomas do luto normal vêm acompanhados de um rebaixamento da autoestima, com auto recriminação e expectativas de punição. Nem sempre é claro aquilo que foi perdido, pode não ter havido uma morte concreta. Ocorre, segundo Freud, um empobrecimento do Ego, que se torna vazio, desprezível com necessidade de ser castigado. Parece, neste caso, que o prazer é derivado da situação de sofrimento. Há sentimentos ambivalentes e muita culpa. O ódio que deveria ser dirigido ao outro que abandonou, volta-se para dentro, num caso mais extremo há o suicídio, quando o indivíduo, ao tentar destruir esta parte negativa, destrói o todo. (BROMBERG et al., 1996, p. 16-17) Está ligado a um estado geral de extrema depressão, de tristeza exagerada, que faz com que o doente já não aprecie sadiamente as relações que tem com ele as pessoas e as coisas que o cercam. Não sente nenhuma atração pelos prazeres; enxerga tudo sombrio. A vida lhe parece aborrecida ou dolorosa. (DURKHEIM, 2000, p. 41) O doente se mata para fugir de um perigo ou de uma vergonha imaginários, ou para obedecer a uma ordem misteriosa que recebeu de cima, etc. Segundo Freud (1996 apud BAPTISTA, 2004), o rebaixamento da autoestima é uma condição exclusiva da melancolia. Tal fato se dá como consequência do movimento da libido, anteriormente ligada ao objeto perdido, mas que, por um processo semelhante, perde sua mobilidade e, em vez de investir em outros objetos, é transformado em identificação com o objeto perdido. O que se observa, então, é que as auto-injúrias e os auto-ataques são, na realidade, dirigidos ao objeto, que desaba sobre o ego como uma sombra. O suicida então não estaria matando-se; seu alvo seria outro objeto que, por estar introjetado e identificado em seu próprio ego, teria suas ações destrutivas voltadas para ele mesmo. 35 Os pacientes melancólicos se comportam como se, de fato, fossem os objetos de investimento perdidos. Com isso, o ego passa a ser sentido como um objeto mau, tornando-se uma vítima do superego. (JACOBSON, 1971 apud BAPTISTA, 2004) As crenças irracionais e as atitudes disfuncionais, relacionadas aos aspectos depressivos e suicidas, aumentam a possibilidade de suicídio, já que pacientes depressivos e suicidas tenderiam a distorcer a realidade, de acordo com as falhas cognitivas. (MARIS, 2002 apud BAPTISTA, 2004) Nesse contexto, a melancolia é um transtorno psicológico em que o indivíduo perde o desejo de viver. Manifestando-se de várias formas, é um estado de depressão sem causa definida, em que o indivíduo apresenta muita ambivalência em relação ao objeto, amando-o e odiando-o simultaneamente. Pessoas tomadas pela melancolia falam de si próprias como sendo inúteis, incapazes de fazer algo bom, tanto para elas quanto para o outro. Sendo caracterizado um transtorno psíquico muito sério, a melancolia deve ser tratada com bastante cuidado e cautela. 36 4 AUTÓPSIA PSICOLÓGICA EM CASOS DE SUICÍDIO A partir da organização de informações obtidas pela autópsia psicológica, serão apresentados, a seguir, dois casos ilustrativos de pessoas que cometeram suicídio. Trata-se de casos reais; por isso, a importância da autópsia psicológica na pesquisa de sintomas que sinalizam o suicídio, para que se possa identificar e avaliar indivíduos que também correm risco de se matar. A entrevista semi-estruturada é um meio de compreensão do contexto de risco de suicídio. Segundo Halm e Marks et al. (apud RODRIGUES, 2009), a técnica e a investigação usadas neste capítulo serão o método retrospectivo ou autópsia psicológica. Nele, serão enumerados dados acerca das variadas formas de suicídio, o que possibilita compreender os fatores estatisticamente ligados à depressão grave. É de fundamental relevância levantar a história atual e pregressa dos comportamentos suicidas, incluindo ideações, atuações autodestrutivas e aspectos correlacionados. Tavares (2000a apud RODRIGUES, 2009), coloca que um dos instrumentos mais usados pelos profissionais de saúde é a entrevista clínica, a qual favorece, de forma ampla, informações sobre tentativas de suicídio e sobre seus riscos, permitindo uma análise da presença e da associação de fatores de risco e proteção ao suicídio. De acordo com Cunha (2000), a autópsia psicológica foi desenvolvida, no final da década de 1950, nos Estados Unidos, no Centro de Prevenção de Suicídio (CPS). O programa visava prevenir futuramente o comportamento suicida, utilizando o método de autópsia psicológica, e estabelecer a intencionalidade de sua ação, esclarecendo as causas da morte. Assim, a avaliação retrospectiva pode ser eficaz, pois: Esta análise retrospectiva tem possibilitado identificar comunicações prévias da intenção de se matar do falecido. Sabe-se, assim, que 75% (LITMAN, 1996) ou 90% (SHEIDMAN, 1994) dos casos comunicam previamente a intenção suicida a 37 familiares e amigos, o que demonstra que, num significativo número de casos, o suicídio não é resultado de um ato repentino e impulsivo, e sim de um plano premeditado, desenvolvido gradativamente. (CUNHA, 2000, p. 196-197) A avaliação retrospectiva possibilita então, observar pistas diretas ou indiretas relacionadas àquele comportamento letal que estava por vir, permitindo, através do método que se convencionou chamar autópsia psicológica, compreender os aspectos psicológicos de uma morte específica, esclarecendo o modo da morte, refletindo a intenção letal ou não do falecido. (CUNHA, 2000, p. 197) Nesse contexto, a função do psicólogo é a de coletar dados, através da autópsia psicológica, para diferenciar a morte por suicídio, compreender a intenção de autodestruição e comprovar a natureza psicológica da ação. A autópsia psicológica se configura como uma estratégia de avaliação retrospectiva, que tem como finalidade reconstruir a biografia da pessoa falecida por meio de entrevista com terceiros (cônjuges, filhos, pais, amigos, professores, médicos, etc.) e da análise de documentos (pessoais, policiais, acadêmicos, hospitalares, auto da necropsia, etc.). (CUNHA, 2000) Existem quatro questões básicas a serem respondidas na autópsia psicológica: “Por quê?”, “Como?”, “De quê?” e “ O quê?”. E há quatro constructos subjacentes à estratégia da autópsia psicológica: motivação, intencionalidade, letalidade e precipitadores e/ou estressores. A motivação poderá ser compreendida pela identificação das razões psicológicas para morrer, enraizadas na conduta, no pensamento, no estilo de vida e na personalidade como um todo. A avaliação do grau de lucidez, ou seja, do papel consciente do próprio indivíduo, no planejamento, na preparação e na objetivação da ação autodestrutiva, estabelecerá a intenção do sujeito. O grau de letalidade será medido através da identificação da escolha do método. Os preciptadores e/ou estressores são os fatos ou circunstâncias que acionaram o último empurrão para o suicídio. (CUNHA, 2000, p. 197-198) Para Durkheim (1982 apud PONCE, 2008, p. 14), o termo suicídio se refere a todas as causas de morte causadas por uma ação da própria vítima, com a ciência do resultado. Além disso, há uma série de fatores precipitantes relacionados ao suicídio, como problemas domésticos, perda do emprego, dificuldades financeiras e legais, doenças crônicas e alcoolismo. (KLERMAN, 1987; PIRKOLA et al., 2000 apud PONCE, 2008, p. 14) 38 A OMS (apud RODRIGUES, 2009), ratifica que a depressão é um preditor particularmente significativo entre os idosos e os adolescentes. Estima-se que cerca de 50% das pessoas que morrem por suicídio possuem, ao menos, uma tentativa prévia. Aqueles que têm história de tentativa, tendem a fazer uma inusitada letal nas seguintes. Já Batistoni (2010), traz à tona a ideia de que o aumento da vulnerabilidade à depressão e a diminuição da resiliência física na velhice guardam relação próxima com doenças, incapacidade física, isolamento social, eventos estressantes e diminuição no senso de bemestar. Dessa maneira, as tentativas de suicídio entre idosos tendem a ser mais letais, pois eles são pessoas que apresentam maior vulnerabilidade física, maior acesso a medicamentos e são mais isolados socialmente. Além disso, são menos propensos a tomarem decisões impulsivas. (KUTCHER; CHIHIL, 2007 apud RODRIGUES, 2009) Sob o mesmo ponto de vista, a OMS (apud RODRIGUES, 2009) alerta que os índices de suicídios têm tendência a aumentar com o envelhecimento, ainda mais quando associado a doenças físicas, que causam comprometimento funcional e cognitivo, dependência de terceiros; agravam o quadro depressivo; e maximizam o risco de suicídio. A incapacidade física, o isolamento social, as grandes mudanças em regras ou condições sociais, a aposentadoria e a depressão (gerando grande sentimento de desvalia), geralmente não diagnosticados, podem aumentar a probabilidade de suicídio. Estudos como o de Mann et al. (1996 apud PONCE, 2008, p. 14), Demonstram que juntamente com a intoxicação alcoólica logo antes, as tentativas de suicídios de alcoólatras deprimidos apresentam impulsividade e aumento de consumo de álcool na véspera, encontram uma relação dose-resposta, na qual quanto maior o consumo de álcool, maior a prevalência de comportamentos suicidas. 39 O uso abusivo do álcool ou sua dependência pode acarretar uma reação desinibida que facilita a hostilidade e os impulsos suicidas (FREMOUW; COLS, 1990; MELEIRO, 1997 apud RODRIGUES, 2009). O consumo de álcool está relacionado a 50% das mortes por suicídio, principalmente durante os estágios mais avançados da depressão, nos quais o alcoólatra fica com o humor deprimido. A vivência de perdas reais ou imaginárias, como por exemplo, a morte de um ente querido, é um estressor que pode também desencadear ou intensificar a vivência de um quadro depressivo e, em muitos casos, o suicídio. (MELEIRO, 1997; TAVARES; COLS, 2007 apud RODRIGUES, 2009) A comunicação suicida pode ocorrer de maneira direta ou indireta e inclui expressões de desesperança e intolerância à dor física e emocional. Essa comunicação pode ser verbal ou não-verbal, como por meio de aquisição de objetos que configuram métodos de suicídio. É importante ficar alerta a esses indícios, os quais podem chegar a uma tentativa letal. (WASSERMAN, 2001; MELEIRO, 1997 apud RODRIGUES, 2009) O uso do método para suicidar está ligado à aceitação cultural, à letalidade e à fantasia da morte. No Brasil, o método mais usado é o enforcamento, para ambos os sexos, seguido por arma de fogo e por ingestão de pesticida. (OMS, 2006 apud RODRIGUES, 2009) Segundo Hasley e Cols (2008 apud RODRIGUES, 2009), vêm se expandindo os conhecimentos acerca dos fatores relacionados ao risco de suicídio; porém, os modelos desenvolvidos, até hoje, para avaliar esses fatores e para prever o suicídio, possuem grandes limitações – e isso quando são usados. Em Maringá (PR), considerando o período de 1978 a 1998, o enforcamento foi o método mais empregado por ambos os sexos. No que se refere às taxas de tentativas de suicídio, destaca-se que muitas tentativas podem não chegar ao atendimento hospitalar por serem de baixo grau de letalidade. (PORDEUS, 2009, p. 1738) 40 As taxas de suicídio são maiores no sexo masculino em todos os países da América Latina, oscilando entre 6 e 10 por 100.000 no sexo masculino e 2 a 4 por 100.000 no sexo feminino. Diferenças entre os sexos apontam que os homens cometem mais suicídio; entretanto, as tentativas são mais comuns entre as mulheres, como demonstrados na literatura. (PORDEUS, 2009, p. 1737) Um dos principais fatores de risco para suicídio é a história de uma ou mais tentativas de suicídio não-fatais. Pesquisas já identificaram que a chance de suicídio aumenta quando há mais de uma tentativa anterior e acrescentaram que a tendência à repetição, nos dois anos seguintes à tentativa, é mais frequente entre os jovens. Estes achados reforçam a necessidade de acompanhamento psicológico das vítimas em anos subsequentes à ocorrência. (PORDEUS, 2009, p. 1737) A maioria das pessoas que comete suicídio apresenta um transtorno mental diagnosticável, sendo os transtornos de humor os mais comuns. Dentre eles, está a depressão grave, chegando ao quadro melancólico. Esses pacientes devem ter um monitoramento constante, principalmente no início do tratamento. (OMS, 2000 apud RODRIGUES, 2009) 4.1 ANÁLISE DOS ESTUDOS DE CASOS Em cada caso será feita uma observação da história de comportamento suicida e dos elementos que compõem o risco de suicídio. Espera-se que a apresentação desses casos possa contribuir para a compreensão do contexto de risco do suicídio, para o planejamento terapêutico e para a intervenção em estado de depressão grave. Serão apresentados dois relatos de caso de pessoas que se suicidaram, cujas informações foram obtidas com seus familiares. Pode-se observar e analisar a utilidade e a relevância da escuta e do acolhimento na prevenção do contexto de risco do suicídio, no planejamento terapêutico e na intervenção em crise. O processo de escolha de informações se baseia na literatura obtida, juntamente aos relatos dos familiares. A mudança de comportamento do suicidado, antes do suicídio, foi bastante enfatizado pelos familiares, sendo citados ainda o isolamento e a tristeza profunda como uma das mudanças 41 comportamentais identificadas. Nos dois casos, houve várias tentativas anteriores ao suicídio. Vale destacar que ambos ocorreram em residências próprias. 4.1.1 Caso ilustrativo 1: Dados da filha do suicidado Nome: H. F. Sexo: Feminino Estado Civil: Casada Profissão: Serviços Gerais Cidade (de residência): Santo Antônio/Barra de São Francisco Dados do suicidado Nome: C. F. Sexo: Masculino Idade: 63 anos Estado Civil: Casado No de filhos: 8 filhos Profissão: Lavrador/Aposentado Cidade (de residência): Santo Antônio/Barra de São Francisco Naturalidade: Vila Pavão Religião: Luterana, descendente de Alemão; depois frequentou a Igreja Católica; depois parou de ir à Igreja; apenas ouvia a “missa no rádio”, em casa. Tentativas de suicídio: Houve muitas tentativas de suicídio, usando cordas e arame para enforcar-se (C. F. amarrava as cordas em um arame, para a sustentação do corpo, pois como o mesmo relatava aos filhos, a corda sozinha não era suficiente para o feito). Na última tentativa, alcançou a morte, usando esse método. 42 Relato do caso: A família de C. F., de origem alemã, tem como diferencial a introspecção e demonstra pouco carinho uns com os outros. Todos os irmãos de C. F. são alcoólatras. C. F. aprendeu a escrever apenas seu nome. Desde jovem, dizia que gostaria de se suicidar. Sempre foi depressivo, mas isso nunca foi diagnosticado por nenhum profissional. A esposa de C. F. relata que sua cunhada (irmã de C. F.) também cometeu suicídio, quando ainda na juventude, por ser mãe solteira. Aos oito meses de gestação, ela diluiu pedra de anil em água e tomou a solução, o que acarretou a morte de seu bebê e posteriormente, a sua – um ano após. A família culpou C. F. pela morte da irmã, uma vez que a pedra de anil pertencia a ele. Após esse acontecimento, C. F. mudou seu comportamento e passou a se isolar, apresentando sentimentos de desvalia. Dizia e repetia sempre: “Antes morrer do que ter de passar a vida acamado”. Falava que sua rotina era muito amarga e que não deseja viver. Apresentou comunicação suicida desde quando se casou com a mãe de H. F, aos 20 anos de idade. Falava com frequência em suicídio. Comprava cordas, mas a família as jogava fora para que não se repetissem as tentativas de morte. C. F. era hipertenso; usava remédios regularmente; bebia muito; e chegou até a sofrer um acidente, porque estava em estado de alcoolismo elevado. Era muito agressivo, deprimido e tinha poucos amigos. Falava que, às vezes, “a cabeça ficava cheia de pensamentos ruins” e que não conseguia dormir. Tentou abusar sexualmente de todas as suas filhas. No entanto, não se sabe se tentou abusar dos meninos, pois nenhum deles conversou com as irmãs sobre tal fato. Sua filha H. F. sofreu tentativas de abuso do pai, desde criança, mas, aos 11 anos, conseguiu ir trabalhar e morar na casa de outra família. H. F. disse que sempre que seu pai a olhava, fazia-o com “olhos de desejo”. Ela relatou que vivia uma rotina difícil, de fuga dos assédios do pai. Alguns meses antes do suicídio, C. F. deixou indícios de que iria se matar. Vendeu suas terras para ir morar perto de sua filha, pois ele e sua esposa precisavam de cuidados. Ele sempre afirmava que sua esposa iria mudar para outro bairro e que ele iria para outro lugar (insinuando um suicídio). Comprou material de construção e falou que era para seu túmulo. Foi à missa com a família e lá se despediu dos seus amigos, dizendo que “seria a última vez que iria à Igreja”. A família desacreditou deste aviso. Só hoje, depois do ocorrido, puderam observar que de tratou de uma despedida. No dia do suicídio (10 de fevereiro de 2007), C. F. 43 comprou muitos pães e salame, dizendo que a família iria comê-los naquele final de semana (segundo a irmã, em cidade de interior, é comum, em velórios, a família do falecido servir pão com salame às pessoas). Abraçou os netos, o que chamou muita atenção, pois nunca foi carinhoso com os mesmos. A esposa saiu, ficando em casa H. F. e seu irmão. A filha fez a faxina nos cômodos e foi limpar o quintal. Enquanto isso, o pai, sozinho dentro de casa, enforcou-se com corda, dentro de seu quarto. Quando sua esposa retornou e deparou-se com a cena, tentou se matar também, sendo acalmada imediatamente pela filha. Depois de certo tempo, essa tentativa se repetiu. A filha, que estava com a mãe, no dia do suicídio, tornou-se uma pessoa muito ansiosa. H. F. não expressa nenhum sentimento de dor ao falar da morte do pai. Com base nos elementos descritos acima, pode-se verificar que eventos de vida, ao longo do desenvolvimento da estrutura de C. F., parecem ter provocado vulnerabilidade, gerando intolerância aos sentimentos de frustração e embotamento. C. F. possuía uma rede social quase escassa e pouco interesse em aprofundar suas relações interpessoais. Com recursos internos inadequados para lidar com estressores, vivenciou conflitos familiares, os quais provocaram sentimentos de vergonha e desesperança. O conjunto de fatores de risco e o transtorno de humor de C. F. desencadearam ideações suicidas persistentes. O comportamento suicida de C. F. está relacionado a um processo depressivo grave, sem tratamento e com falta de recursos internos para lidar com estressores. Essas dificuldades parecem ter sido agravadas por conflitos e por uma dinâmica familiar afetiva distante, gerando, assim, dificuldades interpessoais e isolamento. C. F. não realizou nenhum processo terapêutico e nem fez uso de medicamentos, pois se negava a procurar um profissional que o auxiliasse. Sempre se recusou o tratamento com Psicólogo, ou Psiquiatra, agravando assim, ainda mais seu quadro depressivo. Caso tivesse recebido assistência Psicológica e/ou Psiquiátrica poderia ter tido uma prevenção. 44 Esta entrevista retrospectiva forneceu muitas informações sobre a vida de C. F. e sobre os motivos para que o mesmo cometesse o suicídio, ligados à depressão grave, iniciada pela morte de sua irmã e experienciada até seu último dia de vida. 4.1.2 Caso ilustrativo 2: Dados do esposo da suicidada Nome: J. F. A. Sexo: Masculino Estado Civil: Viúvo N° de filhos: 7 filhos Profissão: Lavrador/Aposentado Cidade (de residência): Santo Antônio/Barra de São Francisco Dados da suicidada Nome: M. R. de A. Sexo: Feminino Idade: 60 anos Estado Civil: Casada/há 41 anos No de filhos: 7 filhos Profissão: Lavradora/Aposentada Cidade (de residência): Guararema/Nova Venécia Naturalidade: Vargem Alegre/Barra de São Francisco Religião: Católica, descendente de alemão Tentativas de suicídio: Houve muitas tentativas de suicídio, usando corda, faca, remédio e um pedaço de edredom (tipo de cobertor, colcha). M. R. de A. alcançou seu objetivo de suicídio apenas com o edredom. 45 Relato do caso: A família de M. R. de A. contou para o esposo que, desde adolescente, a mesma falava em se suicidar. Casou-se aos 22 anos. Segundo o marido, viviam muito bem, tendo, às vezes, uns momentos de “nervosismo”, mas nada fora do normal. M. R. de A. não sabia ler nem escrever; aprendeu apenas a escrever seu nome. Ficou aproximadamente oito anos falando em suicídio e o marido sempre escondeu os objetos com os quais ela tentava se suicidar, buscando protegê-la. Nesse período, ficou sem trabalhar, o que aumentou seu sentimento de desvalia. A data em que M. R. de A. tentou suicídio corresponde ao início de sua doença nos olhos (catarata). Foi perdendo sua visão de forma gradativa, ao ponto de não enxergar mais. Além disso, teve seus netos recolhidos pelo Conselho Tutelar. Por não ter possuído condições de cuidar deles e por ter ficado distante dos mesmos, agravou-se seu estado de saúde. M. R. de A. levantava no meio da noite para limpar a casa. Isso incomodava ao marido, que logo a levou ao neurologista. Em sua consulta, realizou o eletroencefalograma, obtendo resultando negativo para doença neurológica. Foi encaminhada para o psiquiatra, na alegação de que estava com depressão. O médico prescreveu Domatril (50 cap. de 20 mm), dizendo ser o remédio para os “nervos”. M. R. de A. também fazia uso de medicamento para controlar a pressão arterial. Não havendo mudanças e melhoras em seu comportamento, o marido levou-a em outro psiquiatra, na cidade de Governador Valadares, o qual a recomendou como medicação: Diazepan, Dromatil e Rivotril. Ela fez revisões a cada dois meses. Após os medicamentos, apresentou um quadro de sono mais estável; porém, ainda se manifestava a tristeza. O marido alega que antes de a esposa se casar com ele, nunca havia fumado. Após alguns anos juntos passou a fumar com intensidade, principalmente nos momentos de desequilíbrio emocional. M. R. de A. se tornou uma pessoa agressiva. No entanto, durante sua última semana de vida, ela nem sequer fumou; alimentou-se muito mal e só permanecia deitada, chegando a atingir um quadro melancólico extremo. No dia em que M. R. de A. se suicidou (30 de novembro de 2010), acordou junto ao marido. O mesmo saiu para trabalhar, em Barra de São Francisco. Ela acordou, fez café, despediu-se 46 do esposo (que saíra para trabalhar), tomou banho, penteou os cabelos e depois amarrou o edredom no caibro da casa. Colocou-o em seu pescoço, ajoelhou-se e forçou o corpo para baixo, até chegar à morte. A filha do casal chegou a casa, porém, a mãe já estava morta. Os vizinhos chamaram a polícia. Na certidão de óbito de M. R. de A., estava o seguinte relato em motivo de morte: anexia cerebral, insuficiência respiratória aguda e ação externa na região cervical. Através das informações que o esposo de M. R. de A. forneceu, verifica-se que eventos de vida, relacionados a problemas de saúde, provocaram uma vulnerabilidade, que gerou uma intolerância aos sentimentos de frustração e agressividade. Quando M. R. de A. iniciou o tratamento para os olhos, teve diminuído seu ciclo social, ficando cada vez mais deprimida e com sentimentos de desvalia, principalmente após perder a visão. Vivenciou também conflitos em relação à família, o qual se sentiu impossibilitada de resolver, aumentando seu sentimento de desesperança e fraqueza diante desses acontecimentos. A depressão grave e o conjunto de fatores de risco indicavam ideação suicida persistente. Sem um tratamento terapêutico adequado e com a falta de recursos internos para lidar com tanta angústia, tais dificuldades agravaram, ao ponto de M. R. de A., em sua última semana de vida, não conseguir expressar nada mais que seu desejo de morte, sem nenhuma reação agressiva. Sem qualquer acompanhamento psicoterapêutico, não desenvolveu mecanismos de defesas para aceitar suas perdas. Segundo Rodrigues (2009), a avaliação do risco de suicídio é um grande desafio no contexto da saúde pública e, para que ocorram essa prevenção e manejo da crise suicida, os profissionais da área da saúde, que possuem posição privilegiada para identificar sinais de alerta, têm bastante responsabilidade. Acredita-se que deveriam ser proficientes nessa prática e deveriam colocar, em sua rotina, a avaliação básica de fatores de risco e de proteção, como no caso de M. R. de A., que sempre mostrou um quadro de depressão grave e cogitou ideia de suicídio frequentemente. 47 Em conformidade com o marido de M. R. de A., o psiquiatra nunca pediu um acompanhamento psicológico de sua paciente, o que se acredita que seria de grande ajuda. Entende-se, a partir desses relatos, que a depressão grave, seguida de suicídio, é um assunto social de grande relevância para a saúde pública e necessita ser encarado no planejamento das ações do SUS e em todos os níveis de gestão. Apesar das elevadas taxas de suicídio, no Brasil, é possível enfrentá-las em suas especificidades e em seus significados, tratando-as como parte do conjunto das novas formas de adoecimento, associadas às condições e ao estilo de vida. 48 5 O PAPEL DO PSICÓLOGO NA PREVENÇÃO DE CASOS DE SUICÍDIO O profissional de psicologia deve estar atento à questão do suicídio, pois pode exercer um papel fundamental na sua compreensão e na sua prevenção, tanto como um agente desmistificador, quanto no espaço terapêutico, onde o suicida expressa sua dor e conduz-se ao autoextermínio. Cardoso (IV, p. 7), em uma entrevista a Revista Psique, afirma que: No caso do suicídio, o termo “prevenção” adquire um significado diferente, porque não se trata de um processo preventivo qualquer. A trajetória inclui a identificação de sinais verbais e não-verbais sutis que já indicam certa gravidade no quadro de quem os expressa e é preciso agir rapidamente. Ou seja, não se trata de evitar uma “doença” antes que ela apareça, e sim de estancar um processo já em evolução. Sabe-se que uma das características pessoais do suicida são o isolamento e a dificuldade de expressar os sentimentos que lhe causam dor. Baptista (2004, p. 13-14) cita tais traços pessoais: Algumas características pessoais (dificuldades interpessoais) também podem estar diretamente ligadas ao aumento de chance de um ato suicida, como, por exemplo, dificuldade em fazer amigos, crueldade frequente dos amigos para com o indivíduo, dificuldade em dividir aspectos da vida com os amigos, raiva ou discussão frequente com os pares, isolamento/ solidão, falta de amigos próximos, ou relacionamentos pobres (superficiais). [...] inabilidade do grupo com tentativa em pedir auxílio, o que significaria que as pessoas que tentam suicídio também podem apresentar uma grande dificuldade em dividir seus problemas com outras pessoas, que poderiam auxiliá-las no solucionamento destes. Cardoso (IV, p. 7), na Revista Psiqué, descreve a importância de o doente falar aquilo que o incomoda: 49 Como ajudar nesses casos? Se aproximando da pessoa, conversando abertamente e a encaminhando a um tratamento adequado. De início, o indicado é tentar entender onde dói, o que incomoda, o porquê do indivíduo não enxergar outras saídas. Em seguida, procure ampliar suas percepções, apontando para opções que ele não consegue ver. No Brasil, o trabalho do Centro de Valorização da Vida, CVV, merece todos os méritos pela boa iniciativa de salvar vidas. Trata-se de uma equipe de voluntários que atende de forma sigilosa pessoas que geralmente não têm os que ouçam ou não se sentem à vontade para conversar com amigos e familiares. A entidade está espalhada por todo Brasil. No ano passado, o CVV recebeu 1.120.226 ligações em todo território nacional. O Manual para Profissionais da Saúde em Atenção Primária (DEPARTAMENTO DE SAÚDE MENTAL, 2000, p. 14-15) faz recomendações em relação ao contato do profissional com o paciente, em caso de tentativa de suicídio: O contato inicial com o suicida é muito importante. Frequentemente o contato ocorre numa clínica, casa ou espaço público, onde pode ser difícil ter uma conversa particular. 1. O primeiro passo é achar um lugar adequado onde uma conversa tranquila possa ser mantida com privacidade razoável. 2. O próximo passo é reservar o tempo necessário. Pessoas com ideação suicida usualmente necessitam de mais tempo para deixarem de se achar um fardo e precisase estar preparado mentalmente para lhes dar atenção. 3. A tarefa mais importante é ouvi-las efetivamente. Conseguir esse contato e ouvir é por si só o maior passo para reduzir o nível de desespero suicida. Como se comunicar: pessoa (empatia); Dar mensagens não-verbais de aceitação e respeito; respeito pelas opiniões e valores da pessoa; Conversar honestamente e com autenticidade; Mostrar sua preocupação, c sentimentos da pessoa. Como não se comunicar: coloca numa posição de inferioridade; Fazer comentários invasivos e pouco claros; Fazer pergunta indiscreta. Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de nãojulgamento é fundamental para facilitar a comunicação. A melhor maneira de saber se uma pessoa tem pensamentos suicidas é perguntá-la, ao contrário do que se acredita. Porém, segundo o Manual para Profissionais da Saúde em Atenção Primária (DEPARTAMENTO DE SAÚDE MENTAL, 2000, p. 18), há uma forma adequada de se fazer isso: 50 Como perguntar? Não é fácil perguntar para uma pessoa sobre sua ideação suicida. Ajuda se você chegar no tópico gradualmente. Algumas questões úteis são: Você se sente triste? mais a pena ser vivida? Você sente como se estivesse cometendo suicídio? Quando perguntar? Quando a pessoa tem o sentimento de estar sendo compreendida; Quando a pessoa está confortável falando sobre seus sentimentos; Quando a pessoa está falando sobre sentimentos negativos de solidão, desamparo, etc. O que perguntar? 1. Descobrir se a pessoa tem um plano definido para cometer suicídio: Você fez algum plano para acabar com sua vida? Você tem uma idéia de como você vai fazêlo? 2. Descobrir se a pessoa tem os meios para se matar: Você tem pílulas, uma arma, inseticida, ou ou 3. Descobrir se a pessoa fixou uma data: Você decidiu quando você planeja ê está planejando fazê-lo? Dentre os principais distúrbios apresentados e/ou assistidos em ambulatórios de especialidades médicas, que recebem assistência psicológica, encontra-se a depressão. Sabendo que pessoas deprimidas são suicidas em potencial, o psicólogo deve estar atento a esse grupo de pacientes. (BAPTISTA, 2004) Baptista (2004, p. 127, 130) descreve como o profissional da psicologia deve atuar no cenário hospitalar, onde são recebidos pacientes com sintomas de depressão e com tentativas de suicídio: Desde a inserção do psicólogo em saúde geral e especial em hospitais gerais brasileiros na década de 60, Gorayeb (2001) ressalta que não existiam ainda modelos claros para serem seguidos. O autor recomenda que, em ambientes médicos, o psicólogo deve efetuar uma análise das relações funcionais do ambiente e das demandas que são esperadas do psicólogo pela equipe de saúde e pacientes. [...] Recomendam que o profissional de Psicologia reconheça a doença física em questão e rotina do tratamento, com objetivo de ser o interlocutor entre a equipe de saúde e o paciente. Chamam a atenção para na maior parte das vezes a atuação ser voltada para alívio dos sintomas. A psicologia da saúde e a psiquiatria de ligação podem implementar serviços bem estruturados e eficazes para o acompanhamento de paciente com sintomas de depressão e tentativas de suicídio (BAPTISTA; DIAS, 2003). Da mesma forma, os profissionais de saúde dos diferentes ambientes médicos, em hospital geral, devem ter clareza dos pacientes que apresentam maiores fatores de risco para suicídio e priorizar atendimentos diferenciais para tais casos. 51 O Manual para Profissionais da Saúde em Atenção Primária ((DEPARTAMENTO DE SAÚDE MENTAL, 2000, p. 7-8) também traz dados sobre a relação da depressão e o uso de álcool com o suicídio: Depressão é o diagnóstico mais comum em suicídios consumados. Todos sentem-se deprimidos, tristes, solitários e instáveis de tempos em tempos, mas marcadamente esses sentimentos passam. Contudo, quando os sentimentos são persistentes e interferem na vida normal, usual da pessoa, eles tornam-se sentimentos depressivos e levam a um de transtorno depressivo. Cerca de um terço dos casos de suicídio estão ligados à dependência do álcool; 10% das pessoas dependentes de álcool terminam sua vida pelo suicídio; no momento do ato suicida, muitos se apresentam sob a influência do álcool. Segundo Nunes (1988) apud Baptista (2004, p. 129): [...] os profissionais de saúde mental devem criar serviços de emergência nos hospitais gerais, com intervenção e tratamento específico, dentro de uma visão completa de homem, ou seja, levando-se em considerações os aspectos bioquímicos, psicológicos e sociais. Baptista (2004, p. 127) ainda afirma que: Sem sombra de dúvidas, uma atuação para o alívio ou resolução dos sintomas em tais contextos faz-se importante, sobretudo os sintomas afetivos (tristeza, desalento, labilidade emocional entre outros), pelo profissional de Psicologia. Porém, uma atuação precisa sobre os sintomas cognitivos (expectativas negativas, indecisão, culpabilidade), além de sintomas comportamentais/motivacionais (passividades, esquiva, déficits, perda da motivação etc.), deve ser orientada junto ao paciente, familiares e equipe de saúde para prevenção da piora do quadro, além de uma intervenção focal imediata em quadro depressivos. 52 5.1 Prevenção Segundo Grandin et al. (2001 apud BAPTISTA, 2004), o suicídio é um problema sério e complexo de saúde pública e, apenas nos últimos anos, é que os profissionais vêm estudando e compreendendo melhor esse fenômeno. Maris, Berman e Maltsberger (BAPTISTA, 2004, p. 19), citam características e condições que funcionariam como predispositores interacionais (psiquiátricos, biológico-genéticos, psicológicos, sociais, econômicos e culturais) nos casos de suicídio: Na prevenção primária, algumas características seriam: ter historia de depressão ou esquizofrenia, história de suicídio na família, ter tido pais punitivos, viver em um ambiente de violência social. Na prevenção secundária: ingestão de álcool e abuso de drogas, transtorno depressivo, impulsividade, inflexibilidade cognitiva, idéias de suicídio, isolamento, separação/perturbação conjugal, problemas no trabalho. O último nível aponta as seguintes características: tratamento hospitalar, já ter tido uma tentativa de suicídio, episódio depressivo, baixas metabólito de serotonina, excesso de consumo de álcool, problemas de saúde, desesperança, perda de pessoas queridas, aposentadoria. Tais características podem auxiliar os profissionais de saúde no diagnóstico precoce de suicidas em potencial. Maris (2002 apud BAPTISTA, 2004) relata que a prevenção de suicídio deveria abarcar outras áreas diretamente relacionadas com a saúde mental, como, por exemplo, equidade social, redução de pobreza nos países, redução de violência, quer social quer dentro das próprias famílias, além de programas de promoção de saúde física, como exercícios e dietas. De acordo com Tavares et al. (2004, p. 234), não existe, no Brasil, uma ação coordenada, coerente, integrada e hierárquica das iniciativas em Saúde Mental, muito menos na área de prevenção das tentativas de suicídio. De modo que: Grande parte do que conduz à ineficácia em Saúde Mental se refere aos problemas de organização do trabalho, da falta de integração dos diversos serviços e da informação, e da falta de uma organização hierárquica das ações com base nas 53 noções de risco e eficácia. A prevenção do suicídio ainda não é prioridade, ou mesmo consta das políticas institucionais brasileiras. Tavares et al. (2004) descrevem que o Programa de Saúde Mental, Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio foi criado com o objetivo de pesquisar e implementar novas estratégias em Saúde Mental, oferecendo estruturas de apoio e de intervenção que privilegiam a prevenção com grupos de risco e a atuação nos momentos de crise com risco, de autoextermínio. O referido programa, em 1999, passou a oferecer serviços de apoio à crise, com o acolhimento de pacientes e de suas famílias, após tentativa de suicídio, em prontosocorro da rede pública do Distrito Federal. Tavares et.al. (2004, p. 234-235) propõem, no Programa de Saúde Mental, Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio, a prevenção, que ocorre em três estágios: prevenção primária, secundária e terciária: Na prevenção primária intervêm-se antes que o problema esteja configurado, evitando assim que haja o risco de acontecer. É a forma de prevenção mais abrangente, com a meta de atingir a população geral, elegendo focos de ação prioritários que são abordados por lideranças ou agentes multiplicadores que, devidamente treinados, atuam como veículos das ações preventivas. A prevenção primária se fundamenta nas perspectivas de educação, informação e formação de consciência, e presta-se mais facilmente às abordagens comunitárias e em grupos. Ainda em conformidade com Tavares et al. (2004, p. 235-238): O foco dessa vertente do trabalho deve facilitar o acesso da população mais desfavorecida, instrumentalizando pequenas comunidades, prefeituras, organismos governamentais e não governamentais para formarem lideranças e agentes locais de saúde capazes de criarem estruturas de apoio em suas comunidades de origem. Uma estratégia dessa ordem é a criação de oficinas de saúde e de grupos de apoio, de autoajuda, e multifamiliares. Podem-se incentivar lideranças naturais na comunidade e oferecer treinamento como forma de ampliar o alcance das ações em Saúde Mental. Nas escolas está um dos grupos de alto risco: os adolescentes e os adultos jovens. E lá, a atuação preventiva deve ser prioridade. O risco de morte de jovens em transição (entre 15 e 25 anos) não está relacionado a questões médicas ou biológicas, e sim a comportamentos de risco, que são a fonte dos problemas mais graves que colocam em risco estes jovens. 54 Um dos meios de prevenção primária de grande eficácia trata-se do controle de acesso ao método, ou seja, medidas que tornam mais difícil o acesso aos métodos letais. Por exemplo, reduzindo e controlando o porte de armas, controlando a venda de venenos e pesticidas ou impedindo ou dificultando o acesso a lugares altos. O risco de suicídio é cinco vezes maior em residências onde existem armas de fogo. Profissionais que têm acesso a métodos letais (policiais e as forças armadas; médicos, inclusive estudantes; pessoas nas fazendas, etc.) estão mais vulneráveis ao risco. A prevenção secundária é assim chamada por atuar em situações nas quais estão presentes indicadores de risco de médio e longo prazo, que requerem atenção: Visa a prevenir o aumento do risco, quando o risco já se encontra configurado; visa também prevenir suas conseqüências mais danosas pela intervenção que busca reduzir o impacto de características reconhecidas de risco e aumentar a influência de fatores de proteção relevantes. Pessoas alvo de modelos de prevenção secundária são consideradas de maior risco, em comparação às pessoas alvo de prevenção primária, por terem vulnerabilidades ou características associadas ao risco já identificadas (TAVARES et al., 2004, p. 238-239) Na prevenção secundária, o risco é reconhecido e almeja-se a prevenção de danos. Por exemplo, jovens com depressão, que experimentam drogas ou que vivem em situações de violência ou de conflitos intensos, irão exigir alguma forma de acompanhamento e apoio. (TAVARES et al., 2004) De acordo com Tavares et. al (2004, p. 248, 252), entende-se por prevenção terciária todo tipo de tratamento empregado para reverter uma condição ou um quadro mórbido instalado, de natureza biológica ou psicológica. Em relação ao suicídio, a prevenção terciária está voltada para situações nas quais o sujeito identificado está em risco, que pode ser iminente, de curto, médio ou longo prazo. Referem-se ao tratamento de casos de risco iminente ou de curto prazo como intervenção em crise (IC). E nela, visam, em primeiro lugar, prevenir as conseqüências mais danosas do risco para, em um segundo momento, encaminhar o sujeito para aprimorar sua capacidade de enfrentamento das dificuldades e de superação das vulnerabilidades que compõem o risco de médio ou longo prazo (psicoterapia). Para caso dos pacientes de Saúde Mental é importante que a equipe de atendimento tenha treinamento adequado para o diagnóstico e tratamento do risco, 55 principalmente do risco de curto prazo e para o efetivo encaminhamento do paciente para tratamento da vulnerabilidade que o predispôs à tentativa. Ainda nas tentativas de suicídio, é importante que exista uma equipe de transição de cuidados, para acolher e avaliar o paciente enquanto ele recebe os primeiros cuidados médicos e para garantir o seu efetivo atendimento na rede de Saúde Mental. Segundo Tavares et. al 2004 pessoas que, em função de seu exercício profissional, estão em contato cotidiano com populações de risco, deveriam ser capacitadas para lidar com esse público. Professores, profissionais de saúde, policiais, agentes prisionais, entre outros, estão diretamente em contato com populações de risco. A atuação destes como agentes de prevenção potencializa e amplia a abrangência do trabalho de profissionais especializados. O treinamento deve focalizar a identificação, a organização de ações locais de apoio e o encaminhamento da população em risco, visando evitar o desenvolvimento da fase crítica da crise, onde as respostas das pessoas são, em geral, desadaptativas e de graves conseqüências. (p.254) Ao considerar o fenômeno do suicídio como um grave problema de saúde pública, que afeta toda a sociedade e que pode ser prevenido, a Portaria n.2 2.5421GM, de 22 de dezembro de 2005 (MINISTÉRIO DA SAÚDE), institui Grupo de Trabalho, com o objetivo de elaborar e de implantar a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. No âmbito do Ministério da Saúde, essa estratégia, com a participação de outras instituições, resolve: No Art. I ~ Instituir, no âmbito do Ministério da Saúde, Grupo de Trabalho com o objetivo de elaborar e implantar a Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. Art. 2 ~ Definir que o Grupo de Trabalho de que trata o artigo l ~ desta Portaria será representado pelas instituições/órgãos a seguir relacionados e atuará sob a coordenação da Secretaria de Atenção à Saúde/Departamento de Ações Programáticas Estratégicas -Área Técnica de Saúde Mental. Sendo que no Art. 32 Estabelecer que o Grupo de Trabalho terá 60 (sessenta) dias, a contar da publicação desta Portaria, para apresentar proposta para implantação da Estratégia Nacional de Prevenção ao Suicídio. A portaria N~ 1.876, de 14 de agosto de 2006 (MINISTÉRIO DA SAÚDE), institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio. Tal portaria desenvolve estratégias de promoção de qualidade de vida, de educação, de proteção e de recuperação da saúde, e de prevenção de danos. E estratégias de informação, de comunicação e de sensibilização da sociedade de que o 56 suicídio é um problema de saúde pública, que pode ser prevenido. Também organiza linha de cuidados integrais (promoção, prevenção, tratamento e recuperação), em todos os níveis de atenção, garantindo o acesso às diferentes modalidades terapêuticas. Além disso, fomenta e executa projetos estratégicos, fundamentados em estudos de custo-efetividade, eficácia e qualidade, bem como em processos de organização da rede de atenção e intervenções, nos casos de tentativas de suicídio. Sendo o psicólogo um profissional que atua juntamente com as equipes multidisciplinares, recebe a problemática do paciente potencialmente suicida, oferecendo uma escuta especializada. De acordo com o Programa de Saúde Mental, Intervenção em Crise e Prevenção do Suicídio e com a Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio, pode-se trabalhar com esses pacientes a fim de promover qualidade de vida para todos. 57 6 CONCLUSÃO A partir da análise dos estudos de caso e da revisão de literatura, evidenciou-se a influência que o episódio depressivo grave exerce sobre o indivíduo. Fatores religiosos; posição social; fracasso pessoal, profissional, escolar; alcoolismo; uso abusivo de drogas maximizam a predisposição à depressão, mas, ainda assim, sem motivo ou causa única, o episódio depressivo, aqui em destaque, é um dos mais sérios agravantes ao suicídio. Segundo a OMS, estima-se que mais de 10.000 pessoas ao dia recorrem à prática suicida como mecanismo de tirar a vida, de maneira voluntária, alcançando seu objetivo somente a décima parte delas. Um dos componentes centrais de quase todos os suicídios é a depressão em estado grave. Acredita-se que uma de cada quatro pessoas, que sofrem de depressão profunda, pratica uma tentativa de suicídio. A depressão é um transtorno que se apresenta em qualquer idade e tem como característica a sensação de tristeza, a qual resulta ao sujeito um decaimento emocional significativo. A depressão, iniciada como uma sensação de tristeza, transforma-se em doença física e psicológica, afetando pensamentos, sentimentos e comportamentos. É um transtorno que ocasiona modificações comportamentais ao convencimento do menor valor que o indivíduo tem, como pessoa, ou à racionalização equivocada diante das magistrais possibilidades que tem na vida. O suicídio por motivo de depressão grave não costuma ser espontâneo ou impulsivo. No episódio depressivo grave, o suicídio costuma ser elaborado em detalhes, com escolha do meio de se matar, hora e local do ato. A maior parte dos suicidados por tal tipo de depressão, deixam cartas com conteúdos de despedidas, pedidos de desculpas, explicação, entre outros. É algo premeditado, e consciente. 58 A partir do momento em que a depressão afeta a vida do indivíduo, o mesmo terá de possuir os meios necessários para poder continuar suas atividades diárias, buscando formas de não se comprometer ainda mais, para que possa ser evitado o ato do suicídio. Quando o indivíduo começa a exprimir vontades que o levarão à morte, deve-se levá-lo a sério, pois é grande o número daqueles que acabam cumprindo esse propósito. Sinais de isolamento, busca de solidão, tristezas, melancolias, que condizem com prantos frequentes, são mostras exteriores da existência desse padecimento. Para tal, o atendimento psicológico é de tamanha importância. O tratamento de pacientes suicidas exige profunda compreensão de suas motivações básicas e variadas. Portanto, o profissional deve ser bastante competente e capacitado, profundamente ligado ao seu eixo. O ato suicida pode também despertar, no terapeuta, seu próprio desejo de morte. 59 REFERÊNCIAS BAPTISTA, Makilim Nunes. 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