O MERCADO DE CRÉDITOS DE CARBONO E O DIREITO FUNDAMENTAL A UM MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO: UM ESTUDO DE DIREITO COMPARADO Gustavo Noronha de Ávila Priscila de Azevedo Ramos Atualmente não se ignora que as grandes indústrias abarcam a maior responsabilidade pelos danos ambientais causados a poluição do ar. Isso ocorre, em grande medida, dado o desenvolvimento industrial desenfreado, sem o mínimo controle dos danos causados ao meio ambiente, fato esse que torna a revolução industrial insustentável a longo prazo, haja vista os impactos ambientais irreparáveis desencadeados pelas ações predatórias promovidas. Um dos maiores problemas mundiais enfrentados pelo meio ambiente é o efeito estufa formado pelo aquecimento global, sendo os maiores contribuintes para o agravamento dessa problemática as indústrias, nessa mesma linha vale transcrever: “A problemática da mudança do clima tem origem na revolução industrial, quando em virtude de ações predatórias do ser humano – também denominadas ações antrópidas -, principalmente representada pela queima dos combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) em usinas termoelétricas e indústrias, veículos em circulação e sistemas domésticos de aquecimento, aumentaram-se e emissão e a concentração da atmosfera de gases de efeito estufa (GEE).”1 A partir da década de 1980 os prejuízos causados pelos impactos ambientais pelas indústrias eram tão alarmantes que houve a necessidade de uma conscientização global na busca de soluções que amenizassem as degradações ambientais originadas do efeito estufa. 1 SISTER, Gabriel. Mercado de Carbono e o Protocolo de Quioto. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. p. 1. Com o mesmo objetivo que era reduzir a emissão de gases na atmosfera os paísesmembros das Nações Unidas trouxeram algumas alternativas, dentre elas a proposta atualmente registrada como Protocolo de Quioto. A proposta deste tratado está sustentada na realização de projetos que visem à redução de emissões de gases poluentes, dentre os quais os mais comuns são o gás carbônico e o gás metano, que livremente emitidos contribuem para o aquecimento global. Partindo do compromisso firmado em l997 por diversos países de reduzir a emissão desses gases, nasceu o "mercado de créditos de carbono". O princípio é razoavelmente simples: os países mais poluidores adquirem "créditos" gerados pela redução da poluição em países menos desenvolvidos, como forma de compensação de suas emissões. Na prática, o que se tem é a compra do “direito de poluir”2 As agências de proteção ambiental reguladoras emitem certificados autorizando emissões de toneladas de dióxido de enxofre, monóxido de carbono e outros gases poluentes. Inicialmente, selecionam-se indústrias que mais poluem no País e a partir daí são estabelecidas metas para a redução de suas emissões. As empresas recebem bônus negociáveis na proporção de suas responsabilidades. Cada bônus, cotado em dólares, equivale a uma tonelada de poluentes. Quem não cumpre as metas de redução progressiva estabelecidas por lei, tem que comprar certificados das empresas mais bem sucedidas. O sistema tem a vantagem de permitir que cada empresa estabeleça seu próprio ritmo de adequação às leis ambientais. Estes certificados podem ser comercializados através das Bolsas de Valores e de Mercadorias, como o exemplo do Clean Air de 1970, e os contratos na bolsa estadunidense.3 Desta forma, face ao crescimento e expansão deste mercado que pretende compatibilizar o necessário desenvolvimento econômico com a imprescindível preservação 2 Veja-se, neste sentido: EL KHALILI, Amyra. O que são créditos de carbono? Disponível em: http://www.ambientebrasil.com.br/composer.php3?base=./noticias/index.php3&conteudo=./noticias/amyra/cr editos.html Acesso em 15 de Agosto de 2008. 3 Ibidem, idem. ambiental, é visto como fundamental o estudo das legislações estrangeiras que possam orientar também o legislador pátrio no seu poder-dever de preservar o direito fundamental a um meio ambiente ecologicamente equilibrado.