Economia do carbono Nos dias de hoje, continuamos a assistir ao consumo anárquico de combustíveis fósseis (petróleo e carvão) que aliado à desflorestação, nos conduziram ao estado alarmante de degradação do meio Ambiente em que actualmente nos encontramos. O efeito de estufa, provocado pelo aumento de dióxido de carbono (CO2) e de outros poluentes na atmosfera, que se traduz num aquecimento global do Planeta é disso um exemplo. As alterações climáticas provocadas, são consideradas uma das mais sérias ameaças ambientais a nível global com importantes impactes negativos nos ecossistemas, na qualidade da água, na saúde humana e em sectores-chave da actividade económica em zonas costeiras como a pesca, aquacultura, turismo e agricultura, muito vulneráveis a estas alterações. Para tentar contrariar esta tendência foi estabelecido pela comunidade internacional em finais de 1997 o Protocolo de Quioto. O conjunto de países que o subscreveram comprometeram-se a reduzir até 2012 as suas emissões em 5,2% em relação aos níveis de 1990, cabendo à UE uma diminuição de 8%. A Portugal, para compensar o atraso estrutural da sua economia, foi concedido emitir globalmente mais 27% no mesmo período, valor que actualmente já ultrapassou em todos os sectores de actividade. Para fazer face a este descalabro do sistema de desenvolvimento económico, cujo cenário tende a agravar-se se não se agir, a comunidade internacional resolveu abordar esta problemática através de instrumentos flexíveis, com vista à redução das emissões de dióxido de carbono. Um desses instrumentos é a implementação de um sistema de comércio de direitos de emissão destes gases de efeito de estufa, ou seja, uma Bolsa de Valores de Carbono, que atribui valores monetários a cada tonelada emitida. Ao nível da UE, está previsto este sistema arrancar em 2005 e englobará cerca de 5000 empresas europeias (das quais 300 portuguesas) dos sectores da energia e indústria, responsáveis por quase 50% de todas as emissões europeias. Além de reduzir significativamente os custos de implementação dos compromissos assumidos em Quioto, constitui ainda uma boa aprendizagem prática dos sectores económicos e dos Estados-membros para o arranque em 2008 do sistema internacional de comércio de emissões. Este sistema consiste basicamente em permitir que as empresas após obterem uma licença individual e quantitativa das emissões a que “têm direito” com base no seu histórico de emissões, possam vender ou comprar “direitos de poluição”, em função da maior ou menor eficiência das tecnologias de que dispõem, que lhes permita cumprir as exigências ambientais. Estes mecanismos de trocas comerciais de poluição, embora não sejam, por si só, panaceia para os problemas das alterações climáticas, constituem no entanto, uma mensagem de modernização das tecnologias menos eficientes em termos energéticos, de investigação na área de novos combustíveis e novos motores, de estímulo às energias renováveis alternativas, em suma, promover a eficiência energética. Neste novo contexto de economia do carbono, todas as empresas vão ter de repercutir no preço final dos seus produtos o custo das externalidades do aquecimento global do planeta, que a subida do nível da água dos oceanos e consequente destruição do litoral provocam. Por outras palavras, o valor da tonelada do carbono será um custo a integrar a composição do preço de qualquer produto ou serviço. Assim, quem produzir o mesmo, com menos emissões, terá vantagens competitivas. As estimativas para o valor da tonelada de carbono apontam para 26,5 euros em 2005, o que para o nosso país, que está longe de ter iniciado o “trabalho de casa”, se irá traduzir na mais que provável compra de direitos de emissões, cuja factura pode chegar aos 550 milhões de euros por ano. A solução é agir, pois além de ser social e ambientalmente criminoso, é economicamente ruinoso. Alexandra Leitão Jornal de Notícias, 29 Dezembro 2003