LIMITES E CONTINUIDADE Marina Vargas R. P. Gonçalvesa a Departamento 1 de Matemática, Universidade Federal do Paraná, [email protected], http:// www.estruturas.ufpr.br NOÇÃO INTUITIVA DE LIMITE Considere a função f (x) = x2 − 1. Esta função está definida para todo x ∈ IR, isto é, qualquer que seja o número real x0 , o valor de f (x0 ) está bem definido. Exemplo 1.1 Seja x0 = 2, então f (x0 ) = f (2) = 22 − 1 = 3. Dizemos que a imagem de x0 = 2 é o valor f (2) = 3. Graficamente: Figure 1 x2 − 1 . Esta função está definida ∀x ∈ IR − {1}. Isto x−1 significa que não podemos estabelecer uma imagem quando x assume o valor 1. Considere agora uma outra função g(x) = 12 − 1 0 = ??? 1−1 0 Quando dividimos a por b, procuramos um número real c tal que bc resulte em a. g(1) = a = c ⇔ bc = a b . 0 Se fizermos = x ⇔ 0 · x = 0, para qualquer valor de x ∈ IR, isto é, infinitos valores de x. Por isso 0 dizemos que há uma indeterminação no valor para o valor de x. 1 Como a variável x não pode assumir o valor 1 na função g, vamos estudar o comportamento desta função quando x está muito próximo de 1, em outras palavras, queremos responder a seguinte pergunta: Qual o comportamento da função g quando x assume valores muito próximos (numa vizinhança pequena) de 1, porém diferente de 1? A princípio, o estudo do limite visa estabelecer o comportamento de uma função em uma vizinhança de um ponto (que pode ou não pertencer ao seu domínio). No caso da função f , qualquer valor atribuído a x pode determinar um valor de imagem. Mas na função g, existe o ponto x = 1 que gera a indeterminação. Assim, vamos estudar a vizinhança de 1 para a função x2 − 1 . x−1 Primeiramente precisamos lembrar que podemos nos aproximar de x = 1 pelos dois lados, ou seja: Aproximar pela Esquerda Aproximar pela Direita Figure 2 1.1 Tabelas de Aproximação As tabelas de aproximações são utilizadas para aproximar o valor da imagem de uma função (se existir) quando a variável x se aproxima de um determinado ponto. Atribuindo a x valores cada vez mais próximos de 1 pela esquerda e pela direira, ou seja, menores que 1 e depois, maiores que 1, obteremos: x 0 0,5 0,75 0,9 0,99 0,999 0,9999 Tabela A. g(x) 1 1,5 1,75 1,9 1,99 1,999 1,9999 x g(x) 2 3 1,5 1,25 1,1 2,5 2,25 2,1 1,01 1,001 2,01 2,001 1,0001 Tabela B. 2,001 Observe que podemos tornar g(x) tão próximo de 2 quanto desejarmos, bastando para isso tomarmos x suficientemente próximo de 1. Desta forma, podemos convencionar: "O limite da função g(x) quando x se aproxima de (tende a) 1 é igaul a 2". Notação: x2 − 1 = 2. x→1 x − 1 lim g(x) = 2 ou lim x→1 Os dois tipos de aproximações que vemos nas tabelas A e B são chamadas de limites laterais. • Quando x tende a 1 por valores menores do que 1 (tabela A), dizemos que x tende a 1 pela esquerda, e denotamos simbolicamente por x → 1− . Temos então que: lim− g(x) = 2 ou lim− x→1 x→1 x2 − 1 = 2. x−1 • Quando x tende a 1 por valores maiores do que 1 (tabela B), dizemos que x tende a 1 pela direita, e denotamos simbolicamente por x → 1+ . Temos então que: lim+ g(x) = 2 ou lim+ x→1 1.2 x→1 x2 − 1 = 2. x−1 Definição intuitiva de limite (para um caso geral) Seja f uma função definida num intervalo I ⊂ IR contendo a, exceto possivelvente no próprio a. Dizemos que o limite de f (x) quando x se aproxima de a é L ∈ IR, e escrevemos lim f (x) = L, se, e x→a somente se, os limites laterias à esquerda e à direita de a são iguais à L, isto é, lim− f (x) = lim+ f (x) = x→a x→a L. Caso contrário, dizemos que o limite não existe, em símbolo @ lim f (x). x→a Com relação a g(x) = x2 − 1 , podemos concluir, pela definição, que: x−1 x2 − 1 lim =2 x→2 x − 1 porque os limites laterais lim− x→2 1.3 x2 − 1 x2 − 1 = lim+ =2 x→2 x − 1 x−1 Cálculo de uma indeterminação do tipo 0 0 x2 − 1 . x→1 x−1 Observe que substituindo x por 1 na função obtemos uma indeterminação matemática. Devemos então simplificar a expressão da função g e depois fazer a substituição direta. Exemplo 1.2 Determine lim g(x), onde g(x) = • g(x) = x2 − 1 (x − 1)(x + 1) = = x − 1, ∀x 6= 1. Então: x−1 (x − 1) x2 − 1 (x − 1)(x + 1) = lim = lim (x + 1) = 2 x→1 x − 1 x→1 x→1 (x − 1) • lim g(x) = lim x→1 Logo, chegamos a mesma conclusão da análise feita pelas tabelas de aproximações, porém de uma forma bem mais rápida e sistemática. √ x−1 Exemplo 1.3 Determine lim 2 (Observe que há indeterminação matemática.) x→1 x − 1 x3 − 8 (Observe que há indeterminação no ponto x = 2). x→2 3x2 − 12 Exemplo 1.4 Determine lim 2x3 + 3x − 5 . Vamos resolver este limite usando Briot-Ruffini. x→1 4x2 − 3x − 1 Exemplo 1.5 Determine lim Teorema 1.1 (Teorema de D’Alembert). Um polinômio f (x) é divisível por (x − a), a ∈ IR, se e somente se a é uma raiz de f (x), isto é, f (a) = 0. f (x) = (x − a)q(x) + r(x) Assim, f (a) = 0 ⇔ r(a) = 0. Como o ponto x = 1 anula os polinômios do numerador e denominador, então ambos são divisíveis por (x − 1). Assim 2x3 + 3x − 5 lim 2 = lim x→1 4x − 3x + 1 x→1 1.4 2x3 +3x−5 (x−1) 4x2 −3x−1 (x−1) = 2x2 + 2x + 5 9 = 4x + 1 5 Algumas fórmulas que auxiliam as simplificações nos cálculos dos limites a) Quadrado da soma: (a + b)2 = a2 + 2ab + b2 b) Quadrado da diferença: (a − b)2 = a2 − 2ab + b2 c) Produto da soma pela diferença: (a + b)(a − b) = a2 − b2 d) Cubo da soma: (a + b)3 = a3 + 3a2 b + 3ab2 + b3 e) Cubo da diferença: (a − b)3 = a3 − 3a2 b + 3ab2 − b3 √ √ √ √ f) Conjugado de a − b é a + b √ √ √ √ √ 3 3 g) Conjugado de 3 a − 3 b é a2 + 3 ab + b2 Proposição 1.1 Se lim f (x) = L1 e lim f (x) = L2 , então L1 = l2 . Se o limite de uma função num x→→a x→a ponto existe, então ele é único. 1.5 Principais propriedades dos limites Se lim f (x) e lim g(x) existem, e k ∈ IR, então: x→a x→a a) lim [f (x) ± g(x)] = lim f (x) ± lim g(x) x→a x→a x→a b) lim kf (x) = k lim f (x) x→a x→a c) lim [f (x) · g(x)] = lim f (x) · lim g(x) x→a x→a d)lim x→a x→a limx→a f (x) f (x) = g(x) lim g(x) x→a e) limx→a k = k 2 LISTA DE EXERCÍCIOS 1. Aplicando as propriedades, encontre os limites abaixo: 3x2 − 8 (a) lim = x→0 x − 2 (b) lim (3x2 − 5x + 2) = x→2 (c) lim (x5 − 6x4 + 7) = x→0 (d) lim (x − 1)2 (x + 1) = x→3 x+3 = 5−x x+1 = lim x→2 x + 2 x2 − 1 lim = x→1 x − 1 x2 − x − 6 lim 2 = x→2 x + 3x + 2 √ x−2 lim = x→4 x − 4 x2 − 9 lim = x→3 x − 3 x2 + 4x − 5 lim = x→1 x2 − 1 √ x−1 lim = x→1 x − 1 √ x−2 lim = x→4 x − 4 (e) lim x→5 (f) (g) (h) (i) (j) (k) (l) (m)